Montepio avaliado em 1.600 milhões de euros, diz estudo da Santa Casa

Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, admite que o Montepio vale menos do que o que diz a Mutualista. Vai ficar com 1%, mas nomeia dois administradores.

Edmundo Martinho, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), admite que o Montepio vale menos do que o que diz a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG). O estudo encomendado ao Haitong aponta para um valor de 1.600 a 1.700 milhões de euros. A SCML vai comprar 1%, mas nomeia dois administradores não executivos para o banco liderado por Carlos Tavares.

“O estudo [encomendado ao Haitong] diz que o Montepio tem um valor um pouco abaixo do que diz a AMMG“, liderada por Tomás Correia, refere Edmundo Martinho, em entrevista à SIC Notícias. “O estudo aponta para um valor entre 1.600 e 1.700 milhões de euros”, revelou o responsável máximo pela SCML, revelando um valor que até agora era desconhecido. A AMMG avalia o banco em pouco mais de 1.800 milhões.

A SCML vai investir entre “18 a 20 milhões de euros” no Montepio, reiterou o provedor. Este valor será pago por 1% do Montepio, o que avalia a instituição acima daquela que foi a avaliação feita pelo banco de investimento que a SCML contratou. A par da SCML deverão entrar outras misericórdias, bem como IPSS, que, contudo, apontam para investimentos simbólicos, apenas para passarem a mensagem de que querem um banco social.

“O estudo era uma das condições para a SCML entrar” no capital do banco. E o “estudo recomenda prudência no investimento“, diz Edmundo Martinho. Essa prudência traduz-se na “forma como entramos, nos montantes que se investem”, diz. Mas “não fez recuar” a SCML, acrescenta, salientando que a “SCML sempre disse que não ia além dos 10%”, sendo que os 200 milhões aventados nunca estiveram em cima da mesa.

"O estudo [encomendado ao Haitong] diz que o Montepio tem um valor um pouco abaixo do que diz a AMMG. Aponta para um valor entre 1.600 e 1.700 milhões de euros.”

Edmundo Martinho

Provedor da SCML

“Prudência é assumir 1%” do Montepio, remata, salientando que “este tipo de intervenção no banco não é uma originalidade”. Edmundo Martinho revela que a SCML já “investiu mais de 20 milhões noutros bancos”. “E quando foi a privatização dos CTT, a SCML investiu 40 milhões”, conta. Com este 1%, a SCML vai ter dois administradores não executivos no banco.

“A SCML tem de assegurar que [este investimento] não compromete o papel da SCML”, salientou, isto depois de as críticas feitas pelo presidente do PSD, Rui Rio, que acusou a instituição de utilizar dinheiro dos pobres para limpar as perdas da banca. “Não compromete. Estamos a viver um momento de investimento sem paralelo. A capacidade de investimento não será afetada com este negócio”, remata.

“O Montepio não precisa [de aumentar o capital]. Os rácios do Montepio comparam todos com os outros bancos. Banco não está numa situação de fragilidade”, diz, acrescentando que não é um investimento da dimensão que a SCML vai realizar que “salva um banco”. E também “não é com este valor que que a SCML vai meter-se no negócio da banca”.

Edmundo Martinho, que admite que este “é um negócio mal visto pela sociedade”, defende-o no sentido de criar um banco social, mas também o vê como um investimento, ainda que não tenha o objetivo de lucro rápido.

“O entendimento da SCML é que [a compra de uma posição no Montepio] é um investimento. A SCML não está disponível para entrar e vender amanhã com mais-valias”, diz. Mas há a “perspetiva de que estamos numa circunstância em que a SCML quer garantir a rentabilização dos ativos, investindo 3%” dos ativos totais.

(Notícia atualizada às 19h59 com mais informação)

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Santa Casa confirma que pode investir até 30 milhões no Montepio

  • ECO
  • 23 Março 2018

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Edmundo Martinho, confirmou que a instituição vai mesmo entrar no capital do banco Montepio nas próximas semanas.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai mesmo entrar no capital da Caixa Económica do Montepio Geral, confirmou o provedor da instituição, Edmundo Martinho, em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias. O provedor da SCML adiantou que o negócio será fechado nas próximas semanas e “entrará numa dimensão que está em linha com o que a própria associação mutualista decidiu na semana passada de autorizar a direção da mutualista a alienar até 2% do seu capital”.

A Santa Casa não vai entrar sozinha neste negócio, sendo esperado que as outras misericórdias e IPSS ajudem a subscrever os 2% de capital a alienar. Mas continuam a persistir dúvidas sobre o valor do cheque que a Santa Casa vai passar. Tomás Correia disse, em entrevista à RTP3, que esse valor seria simbólico. A é “participação simbólica, porque representa o nosso empenho neste projeto, mas não é assim, tão simbólica no valor”, frisa Edmundo Martinho.

O provedor da Santa Casa explica o racional do negócio. “Estamos a falar de uma percentagem que andará nos 3 ou 4% no máximo dos ativos da Santa Casa, o que significa dizer que é muito seguro do ponto de vista do investimento, que não põe em causa nenhum dos investimentos avultadíssimos que temos previstos para Lisboa.”

Ora, os ativos da Santa Casa rondavam os 743 milhões de euros em 2016. Se o contributo da Misericórdia for de 3% dos ativos, o investimento rondará os 22 milhões de euros. Se for até aos 4%, pode chegar a 30 milhões de euros. Questionado sobre a diferença face aos 20 milhões de que se tem falado o provedor desvalorizou. “Foram-se fazendo sucessivas afirmações sobre montantes. Falava-se de 200 milhões de euros, falava-se sei lá de quê. Fomos mantendo sempre um silêncio prudente sobre isto. E porquê? Porque é o tipo de intervenção que exige muita ponderação, muita prudência e muito estudo”, detalhou.

Em declarações à TSF e ao DN, Edmundo Martinho lamentou que “ao longo do processo se tenham falado em valores irreais e que se tenham especulado diversos aspetos do negócio” e garantiu que a entrada no banco “é um investimento” que, “além de ser afetivo, é também financeiro porque permite que a Santa Casa consolide a sua posição e possa retirar daí benefícios que se traduzam eles próprios em capacidade acrescida de intervir”.

O provedor da SCML sublinhou que este “negócio não é um subsídio, não é um apoio, é um investimento”. “É nesse ponto de vista que o entendemos e é nessa lógica que vamos avançar”, disse. Edmundo Martinho destacou também que esta “intervenção de natureza financeira ficará por uma percentagem muito baixa dos ativos” da Santa Casa. “A participação simbólica” vai, contudo, “permitir à Santa Casa ter representantes não executivos nos órgãos sociais da Caixa Económica Montepio Geral e também escolher, em conjunto com a Associação Mutualista, o presidente da Mesa da Assembleia Geral”, disse.

Desde o ano passado que tem sido falada a hipótese de a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), entidade tutelada pelo Governo, entrar no capital do banco Montepio Geral. A Caixa Económica Montepio Geral é detida na totalidade pela Associação Mutualista Montepio Geral.

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Santa Casa põe 20 milhões no Montepio. Quem paga os outros 30?

  • Rita Atalaia
  • 22 Março 2018

A Santa Casa de Lisboa vai entrar no Montepio. E conta com a contribuição das misericórdias e IPSS. Mas estas entidades dizem que só vão pôr mil euros, cada. Então, de onde virá o dinheiro?

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) vai entrar no Montepio. Mas conta com a contribuição das outras misericórdias e IPSS para alcançar o investimento necessário: até 48 milhões por 2% da instituição financeira agora liderada por Carlos Tavares. A SCML investirá 20 milhões de euros, mas as restantes instituições dizem que vão dar contributos meramente simbólicos. Então, de onde vêm os restantes quase 30 milhões?

A participação de 2% na Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) vai custar entre 45 milhões e 48 milhões de euros às “largas instituições que já manifestaram interesse”, afirmou o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia, numa entrevista à RTP3. Mas o responsável pelo dona do Montepio não chegou a indicar com quanto é que cada instituição participará, deixando em aberto o montante com que a SCML entrará no banco.

Segundo o jornal i, a Santa Casa vai avançar com um investimento inicial de 20 milhões de euros por 1% do capital do Montepio. Os restantes 30 milhões (pelos outros 1%) serão colocados pelas misericórdias e IPSS que queiram participar. Isto numa contribuição que pode variar entre os mil e os 10 mil euros.

Mas, ao que o ECO apurou, os interessados em participar nesta operação são poucos e, mesmo os que decidam entrar, só o farão com o mínimo possível: mil euros. Tanto as misericórdias como as IPSS revelam que serão entradas residuais para marcar uma posição política de que é preciso criar um banco de economia social em Portugal, como já acontece nos outros países da Europa.

“O investimento [das misericórdias] pode variar entre os mil e os 10.000 euros. Se multiplicar 1.000 euros por 400 misericórdias, estamos a falar de 400 mil euros. Isto se todas entrassem… mas penso que se entrar metade já é um número fantástico. Se entrarem 200 misericórdias estamos a falar de 200 mil euros“, afirmou o presidente da União das Misericórdias em entrevista ao ECO. “Quem entrar, vai entrar com mil euros”, garante Manuel Lemos, salientando, por isso, que este investimento não servirá para salvar o banco.

"Estou absolutamente convencido de que não estamos a falar de valores desse género porque as IPSS não têm fundos. É possível que haja entradas simbólicas de mil euros. E não da parte de todas as IPSS, apenas de algumas. É rigorosamente impossível chegar a esse valor.”

Lino Maia

Presidente da Confederação das Instituições de Solidariedade

Então de onde virão 30 milhões para comprar 1% do Montepio? Serão as IPSS? É “rigorosamente impossível” que as IPSS invistam esse montante Montepio, garantiu o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), a entidade que representa as 2.970 IPSS em Portugal. Em entrevista ao ECO, Lino Maia referiu que as poucas entidades que decidirem entrar, em conjunto com a SCML, devem entrar com apenas mil euros, cada. O mesmo montante das misericórdias.

O montante indicado pelo presidente Tomás Correia em entrevista à TSF (45 a 48 milhões de euros) é uma mera estimativa. Não está ainda definido o montante com que cada instituição, individualmente, participará, incluindo a SCML. Por tal, qualquer montante que possa ser avançado pela comunicação social para cada instituição individualmente é desconhecido da Associação Mutualista Montepio.

Associação Mutualista Montepio Geral

Coloca-se, então, a questão: se as IPSS e as misericórdias não chegarem aos 30 milhões que estão a ser avançados, será a Santa Casa a colocar o remanescente? “Deve ser”, diz Manuel Lemos, da União das Misericórdias. Já Lino Maia recusou-se a falar sobre o assunto, uma vez que a SCML não está sob a alçada da confederação, “é pública”. Da parte da Santa Casa, apenas se sabe que a entrada no capital será gradual, sem adiantar valores.

Questionada pelo ECO, a dona do Montepio esclarece que a “Associação Mutualista Montepio definiu que transmitirá uma posição até 2% do capital da CEMG às instituições da economia social”, mas o “montante indicado pelo presidente Tomás Correia em entrevista à TSF (45 a 48 milhões de euros) é uma mera estimativa”. É que ainda “não está ainda definido o montante com que cada Instituição, individualmente, participará, incluindo a SCML. Por tal, qualquer montante que possa ser avançado pela comunicação social para cada instituição individualmente é desconhecido da Associação Mutualista Montepio”.

O investimento total e quanto é que cada instituição vai colocar no banco devem ficar definidos nas próximas semanas, quando se vai delinear a operação. “Dentro de duas ou três semanas, a Santa Casa terá entrado no capital da Caixa Económica. Não sei qual a participação exata porque será a Santa Casa que decidirá”, disse Tomás Correia na entrevista à RTP3. Uma semana depois destas declarações, tanto a União das Misericórdias como a CNIS dizem ainda não terem qualquer indicação de um prazo para cada misericórdia e IPSS mostrarem interesse.

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José Morgado no ECO24: “Não sei o que é um banco social”

José Morgado saiu esta terça-feira da presidência do Montepio e hoje dá uma entrevista exclusiva ao ECO24. Admite a erosão nas relações com Tomás Correia e afirma que não sabe o que é um banco social.

É a primeira entrevista de José Félix Morgado, no dia seguinte à cessação de funções como presidente da Caixa Económica Montepio Geral, e antes do fim do mandato, que ocorreria dentro de um ano. Ao programa ECO24 – que é transmitido esta noite às 23h15 na TVI24 – o gestor afirma que cumpriu a sua missão neste dois anos, a separação entre o acionista, a Associação Mutualista, e o banco. “É natural que tenha criado uma erosão entre o conselho de administração e o acionista [liderado por Tomás Correia], é natural que ao fim de algum tempo tenha o resultado que foi a interrupção do mandato”, afirma. Mas admite que, em função da ideia que foi revelada publicamente por Tomás Correia para o futuro do Montepio, não sabe o que é um “banco social”.

O Montepio é uma casa arrumada, afirma José Félix Morgado, e é isso que o novo presidente, Carlos Tavares, vai encontrar, garante. O gestor que entrou em agosto de 2015 na presidência do banco recorda que entrou no banco com prejuízos e que em 2017 voltou aos lucros. “A Caixa Económica entrou mais tarde nesta crise, mas saiu mais cedo”, diz, e assegura que os resultados são sustentáveis. “Sou responsável pelos resultados até ontem, depende agora do novo conselho”, acrescenta, e elogia o seu sucessor, Carlos Tavares.

O gestor considera que será positivo para o Montepio a entrada de novos acionistas, porque em caso de necessidade, não está dependente apenas de um dono, mas afirma que “a entrada de acionistas que subscrevem meia dúzia de ações não tem peso”. E considera que os novos acionistas, como a Santa Casa, têm de ter uma percentagem de capital relevante, acima dos 5%. “Não apenas a Santa Casa”, mas vários com percentagens equivalentes.

José Félix Morgado responde também às questões relacionadas com uma operação que ficou conhecida como “Vogais Dinâmicas” e que teria sido desenhada por si para melhorar as contas do banco em 2016. O gestor rejeita esta informação, e remete-a para o necessidade de recuperar créditos vencidos, mas confirma que a operação não chegou a avançar.

Veja esta noite na TVI24, a partir das 23h15, a entrevista exclusiva de José Felix Morgado no programa ECO24, uma parceria entre o ECO e a TVI.

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Félix Morgado na despedida do Montepio: “É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso”

Na carta de despedida, Félix Morgado bateu com estrondo com a porta: "É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso".

José Félix Morgado já se despediu dos trabalhadores do banco Montepio e a mensagem que deixou esta quarta-feira não podia ser mais clara em relação à tensão com o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia.

“Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores. Teria sido mais fácil acomodar pedidos ou ceder a promessas. É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso. Esse foi o caminho que escolhi há muito e do qual não me afasto. Como vos disse ‘é preciso deixar rasto’, e por isso deixo também este testemunho de firmeza nos princípios e de desapego a interesses pessoais”, escreveu o agora ex-CEO do Montepio na carta de despedida a que o ECO teve acesso.

Em nenhum momento Félix Morgado especifica o destinatário desta mensagem. Mas, nas entrelinhas, é fácil de perceber o mau estar com Tomás Correia, tal como o ECO já dava conta em dezembro, quando o presidente da mutualista anunciou a saída do gestor num almoço de Natal com os quadros do grupo. Na altura, várias fontes confidenciaram ao ECO que a saída de Félix Morgado resultaram de diferenças insanáveis entre ambos no que toca à composição da administração do banco. Além disso, Félix Morgado discordava da ideia de transformar o Montepio num banco social — que vai acontecer com a entrada da Santa Casa e de outras instituições sociais.

“Sei que a grande maioria de vós comunga dessa postura de vida”, prossegue Félix Morgado na mensagem enviada aos trabalhadores no dia a seguir à sua saída do banco — para o seu lugar foi nomeado Carlos Tavares. “Estou, por isso, confiante no futuro que todos vós continuarão a construir em conjunto com o vosso novo Conselho de Administração. Unam-se em torno desta vossa liderança, com confiança, com a mesma entrega e com o mesmo compromisso que já demonstraram. Juntos continuarão a construir o futuro da Caixa Económica Montepio”, sublinha ainda.

"Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores. Teria sido mais fácil acomodar pedidos ou ceder a promessas. É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso. ”

José Félix Morgado

Antigo presidente do Montepio

“Cumpri a missão que me foi confiada”

Félix Morgado sai o Montepio com o sentimento de dever cumprido e agradece o trabalho conjunto de quase três anos que permitiu “devolver ao Montepio a reputação, notoriedade e rentabilidade que são os pilares da sustentabilidade“.

“Como sabem, não acredito em projetos pessoais. Cada passo, cada degrau, cada concretização, ganhámo-los em equipa. E não há nada mais objetivo do que os indicadores económicos e financeiros que definimos em 2015 – antes de iniciar estes trabalho de recuperação – e que cumprimos”, explica o gestor. “E, quer alguns queiram, quer não, eles são positivos. Devemos, por esse motivo, estar orgulhosos e de consciência tranquila, não dando importância aos poucos que procuram menosprezar o nosso trabalho coletivo destes quase três anos. De facto “quem fala não faz, não sabe fazer””, refere.

"Quer alguns queiram, quer não, os resultados são positivos. Devemos, por esse motivo, estar orgulhosos e de consciência tranquila, não dando importância aos poucos que procuram menosprezar o nosso trabalho coletivo destes quase três anos. De facto, “quem fala não faz, não sabe fazer”.”

José Félix Morgado

Antigo presidente do Montepio

Lembra ainda que foram pedidos sacrifícios aos trabalhadores “nas atualizações salariais e progressão de carreira”, mas ressalva que a recuperação do banco abre agora “a possibilidade de uma maior partilha dos resultados que se deve iniciar já em 2018”.

“Partilhando com todos os meus seis colegas de Conselho, e com todos vós, cumpri a missão que me foi confiada“, destaca Félix Morgado na hora da sua saída.

(Notícia atualizada às 13h48 com mais informação)

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Morgado sai do Montepio. Carlos Tavares recebe casa quase arrumada

  • Rita Atalaia
  • 20 Março 2018

Félix Morgado está de saída. Entrega a Carlos Tavares, o novo presidente do Montepio, um banco com lucros, rácios fortes e a confiança dos depositantes. Mas ainda há desafios a superar.

José Félix Morgado está de saída do Montepio, mas deixa a sua marca. O gestor entrou na instituição financeira da Associação Mutualista em 2015 e encontrou um banco com prejuízos de várias centenas de milhões e rácios de capital fracos. Agora, dois anos depois, Morgado sai, mas deixa a casa quase arrumada. Conseguiu limpar prejuízos e reforçar rácios. Mas também travar uma quebra dos depósitos, provocada pelos receios dos investidores em torno da solvabilidade da instituição. Caberá agora a Carlos Tavares gerir um banco com novos acionistas, mas também com um problema do passado: o malparado.

“A difícil conjuntura económica internacional e nacional vivida no exercício de 2015 condicionou fortemente o desenvolvimento da atividade bancária devido, nomeadamente, à volatilidade dos mercados a par dos crescentes requisitos regulatórios e da envolvente do setor.” Esta era a mensagem deixada por Félix Morgado, presidente do Montepio, nos resultados de 2015. Um ano marcado por prejuízos de 243,4 milhões e rácios de capital a rondarem os 9%.

"A difícil conjuntura económica internacional e nacional vivida no exercício de 2015 condicionou fortemente o desenvolvimento da atividade bancária devido, nomeadamente, à volatilidade dos mercados a par dos crescentes requisitos regulatórios e da envolvente do setor.”

Félix Morgado

Mensagem do CEO nos resultados de 2015

Mas, passo a passo, Félix Morgado começou a preparar o banco para regressar aos bons resultados. No ano seguinte, o gestor já foi capaz de entregar um relatório onde ainda revelava um prejuízo, mas mais reduzido (86,5 milhões). Mas também uma margem financeira mais forte, com uma aposta no aumento das comissões como fonte de geração de receitas. Mas os frutos do trabalho do gestor ficaram à vista quando o banco apresentou lucros de 30 milhões em 2017, num ano de melhoria evidente na vertente comercial: isto é, aumentou as receitas. E muito.

De prejuízos a lucros, em menos de um mandato

Fonte: Resultados do Montepio | Nota: Valores em milhões de euros

 

E os rácios? Foram reforçados

Com os resultados a passarem de negativo para positivo, os rácios de capital foram melhorando. Mas decisivo para que o banco fosse fortalecido foi mesmo o aumento de capital de 250 milhões de euros, totalmente subscrito pelo único acionista, a Mutualista. Uma operação, realizada no ano passado, que permitiu elevar os rácios de capital da Caixa Económica para “o nível dos demais bancos do sistema com melhores rácios de capital”, garantiu então Félix Morgado.

Mas Félix Morgado foi ainda mais longe, afirmando ao ECO que este reforço serviu “para acabar com as dúvidas” perante a instituição. O presidente executivo da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) revelou que este reforço respondeu “não só às exigências do regulador, como também às recomendações”, o que permitiu, além de reforçar os rácios, travar uma fuga de depósitos. Em 2016, os depósitos caíram de 12.969 milhões de euros no ano anterior para 12.468 milhões de euros. Um montante que cresceu para 12.561 milhões no final de 2017.

 

Malparado continua a ser um desafio

Apesar de ter conseguido colocar o banco novamente a dar lucros, com rácios reforçados e ter recuperado a confiança dos depositantes, há um desafio que ainda tem de ser superado, mas já por Carlos Tavares: o elevado nível de malparado no balanço da instituição financeira. No final de 2017, o rácio de crédito em incumprimento era de 9,8%, uma melhoria face aos 11,5% registados no final de 2016.

“O banco revelou uma melhoria muito significativa dos rácios de capital depois da injeção de capital por parte da Associação Mutualista, em junho de 2017”, afirmou a DBRS no final do ano passado. Mas, “embora este rácio esteja agora em linha com a maioria dos bancos portugueses”, o mesmo não acontece com o malparado. “O nível de Non-Performing Assets continua mais elevado em relação aos pares e vulnerável à capacidade do banco de avançar com reduções suficientes” destes ativos em incumprimento.

Um futuro com mais acionistas

Carlos Tavares terá de lidar com o malparado naquele que, agora, será um banco social. Com a Oferta Pública de Aquisição lançada pela Associação sobre as unidades de participação do Montepio que estavam em bolsa, deu-se “um importante passo para dar corpo à estratégia de tornar a CEMG na Instituição Financeira da Economia Social, podendo assim contribuir ativamente para o desenvolvimento do nosso país”, afirmou, então, Tomás Correia.

Para conseguir garantir a criação de um banco de economia social, o Montepio terá novos acionistas. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e as restantes misericórdias e IPSS vão ficar com 2% do banco por 50 milhões, uma entrada no capital que deverá ser gradual, como confirmou fonte oficial da Santa Casa ao ECO.

Agora, será necessário fazer uma boa gestão do malparado de forma a que este não comprometa uma das métricas que Tomás Correia definiu para a administração: gerir o banco no sentido de continuar a apresentar resultados positivos de forma a dar dividendos aos seus donos, seja a Mutualista, sejam as misericórdias ou as IPSS. O presidente da Associação Mutualista pede uma “remuneração adequada”.

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Três conselheiros da Associação Mutualista Montepio manifestaram-se contra a borla fiscal

Três conselheiros expressaram a sua oposição à solução contabilística que permitiu que a Associação lucrasse 500 milhões de euros de forma artificial em 2017 e que implicou o fim da isenção de IRC.

Três conselheiros da Associação Mutualista Montepio expressaram a sua oposição às contas de 2017, as quais beneficiaram de um rearranjo fiscal que levou a instituição a passar de uma situação de capitais próprios negativos de 250 milhões de euros em 2016 para uma situação líquida positiva no ano passado.

Segundo apurou o ECO, a reunião desta segunda-feira do conselho geral da Associação Mutualista, que serviu para a apreciação final das contas de 2017, teve momentos de alguma tensão quando alguns dos conselheiros — uma minoria — deram voz às suas reservas quanto ao fim da isenção de IRC que permitiu a Associação Mutualista pudesse recorrer a um mecanismo previsto na lei e que possibilita que prejuízos e outros encargos possam ser transformados em ativos.

Sem esta “borla” contabilística, a Associação Mutualista teria fechado 2017 com prejuízos de 280 milhões de euros — ao invés, apresentou um lucro superior a 500 milhões. Por outro lado, foi graças aos chamados ativos por impostos diferidos no valor de 808 milhões de euros que a instituição passou de capitais próprios negativos de 250 milhões em 2016 para uma situação de capitais próprios positivos de 500 milhões. Em contrapartida, vai ter de começar a pagar impostos.

“Em rigor, as contas estão corretas. Não há nenhuma ilegalidade”, disse uma fonte ao ECO. “Mas o que eles colocam em causa é a gestão. Alguns destes conselheiros lutaram no passado para manter a isenção fiscal, ainda no tempo de Eduardo Catroga como ministro das Finanças. E percebe-se por que razão não estão contentes com esta solução”, confidenciou esta fonte.

Em rigor, as contas estão corretas. Não há nenhuma ilegalidade. Mas o que eles colocam em causa é a gestão. Alguns destes conselheiros lutaram no passado para manter a isenção fiscal, ainda no tempo de Eduardo Catroga como ministro das Finanças. E percebe-se por que razão não estão contentes com esta solução.

Fonte próxima

São 23 os membros do Conselho Geral da Associação Mutualistas. Mas na reunião desta segunda-feira só terão estado presentes 22 conselheiros. Esta reunião não tem o poder de chumbar os resultados, mas apenas fazer uma avaliação e apreciação dos resultados.

As contas consolidadas de 2016 e as contas individuais de 2017 vão ser aprovadas pela Assembleia Geral de associados que terá lugar no próximo dia 28 de março.

A Associação Mutualista só avançou para esta solução contabilística depois de ter perguntado à Autoridade Tributária, em janeiro, se tinha deixado de cumprir os requisitos de isenção de impostos. A informação vinculativa pedida ao Fisco permitiu esclarecer que a instituição já não observava um dos critérios do Código de IRC que permite que IPSS estejam isentas e, por isso, a mutualista vai começar a pagar impostos.

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Carlos Tavares inicia funções no Montepio na quarta. Félix Morgado despede-se esta terça

Nova administração da Caixa Económica Montepio inicia funções já esta quarta-feira. Ou seja, Félix Morgado e a sua equipa abandonam o banco já esta terça.

Carlos Tavares e a sua equipa iniciam funções na Caixa Económica Montepio Geral já a partir desta quarta-feira, apurou o ECO. Ou seja, o presidente cessante desde dezembro do ano passado, José Félix Morgado, tem esta terça-feira o seu último dia à frente do banco.

Os novos administradores, incluindo o novo chairman e CEO Carlos Tavares, foram apresentados esta segunda-feira aos quadros diretores da Caixa Económica num almoço presidido por Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio.

Da nova administração fazem parte ainda Nuno Mota Pinto (vindo do Banco Mundial e inicialmente indicado para presidente do banco), Carlos Leiria Pinto, José Mateus, Pedro Alves, Helena Costa Pina e Pedro Ventaneira. Já como administradores não executivos foram nomeados Amadeu Paiva, Rui Heitor, Luís Guimarães, Vítor Martins e Manuel Teixeira.

Carlos Tavares chega ao Montepio já desvinculado da Caixa Geral de Depósitos — onde era assessor. Ao ECO, fonte oficial do banco estatal afirmou que “Carlos Tavares não será quadro da CGD quando tomar posse no Montepio”, o acontece esta quarta-feira.

O antigo presidente do regulador da bolsa assume funções no Montepio com a missão de colocar o banco a remunerar adequadamente os seus acionistas — que passarão a ser vários com a entrada da Santa Casa e outras instituições no capital do Montepio.

A Carta de Missão foi divulgada pela Associação Mutualista esta segunda-feira e, dentro de um conjunto de objetivos, a Caixa Económica terá de privilegiar as suas relações com as instituições sociais e dar ênfase ao papel dos seus balcões como canal prioritário na comercialização dos produtos mutualistas da associação — isto apesar da distinção entre aquilo que é a atividade do banco e a atividade da mutualista.

Por outro lado, a nova equipa terá de potenciar eventuais sinergias entre as várias atividades e negócios do grupo e promover alianças com outras instituições de solidariedade social nos mercados internacionais onde se encontra.

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Tomás Correia pede a Carlos Tavares que “remunere adequadamente” a dona do Montepio

Carlos Tavares já sabe a missão que o espera à frente do Montepio. Tomás Correia pretende que a nova administração tenha presente que o banco terá de "remunerar adequadamente" os seus acionistas.

Carlos Tavares e a sua equipa estão prestes a iniciar funções na Caixa Económica Montepio Geral e já sabem qual a missão que os espera. A Associação Mutualista quer que o banco “remunere adequadamente o(s) seu(s) acionista(s) com caráter estável e sustentável”.

A mutualista liderada por Tomás Correia divulgou esta segunda-feira a Carta de Missão que a nova administração da Caixa Económica terá de seguir no próximo mandato e que terá Carlos Tavares como chairman e CEO numa fase inicial. Dentro dos vários objetivos elencados pelo ainda único acionista do Montepio, a nova equipa terá de ter “presente que enquanto instituição de crédito terá de remunerar adequadamente o(s) seu(s) acionista(s) com caráter estável e sustentado”.

Mas os dividendos aos vários acionistas são apenas uma parte da missão da “nova” Caixa Económica, que em breve terá a Santa Casa e outras instituições sociais no seu capital, num investimento a rondar os 48 milhões de euros, como avançou o ECO.

São dez os pontos enumerados pela Associação Mutualista para o trabalho que terá de ser desenvolvido por Carlos Tavares e pelo recém-eleito conselho de administração que ele vai liderar, naquilo que é considerado o “último passo de um processo de renovação do seu quadro jurídico de atuação e de relacionamento acionista”.

A Caixa Económica terá de atribuir “particular destaque às instituições da economia social e empreendedores sociais, de base local, regional e nacional”, distinguindo os braços de banca comercial da banca de investimento. Será no seio desta nova estrutura do banco que Carlos Tavares terá de procurar e aprofundar sinergias nas suas atividades, “sem prejuízo da segregação de funções exigida pela regulamentação aplicável”.

Aliás, apesar desta separação entre aquilo que é banco e mutualista, é salientado o papel dos balcões da Caixa Económica como “canal privilegiado de distribuição da oferta das diferentes organizações do Grupo Montepio, com especial destaque para a distribuição de produtos mutualistas disponibilizados pelo Montepio Geral – Associação Mutualista (…), sempre no respeito estrito das disposições legais e regulamentares aplicáveis”.

Segundo o plano de atividades para 2018, a Caixa Económica terá de colocar nos seus clientes 970 milhões de euros em produtos mutualistas, um montante que os sindicatos consideram elevado e vai adicionar pressão sobre os trabalhadores do banco.

Alianças internacionais

Sem grande grau de detalhe, a Associação Mutualista deixa ainda a ideia de que, apesar de a prioridade do banco ser o mercado doméstico, Carlos Tavares deverá potenciar alianças com instituições internacionais, sobretudo nos países lusófonos.

“Sendo a prioridade da Caixa Económica o mercado doméstico, deverá ser acautelada uma gestão prudente das participações internacionais já existentes – designadamente nos países lusófonos – privilegiando possíveis alianças com instituições internacionais com filosofia semelhante, designadamente dos setores cooperativo e da economia social”, lê-se na Carta de Missão.

(Notícia atualizada às 16h40 com mais informação)

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Santa Casa fica com menos de 2% do Montepio. Entra nas próximas duas a três semanas

O presidente da Associação Mutualista Montepio diz que é "uma coincidência" que fim da isenção de impostos aconteça num momento em que vai usufruir de créditos fiscais.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa deverá concluir o processo de entrada no capital da Caixa Económica Montepio “nas próximas duas a três semanas”, confirmou o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia. A participação da instituição será inferior a 2% do banco, já que essa a participação será detida em conjunto com outras instituições sociais. O valor do investimento rondará os 48 milhões de euros, tal como o ECO já tinha avançado.

“Dentro de duas ou três semanas, a Santa Casa terá entrado no capital da Caixa Económica. Não sei qual a participação exata porque será a Santa Casa que decidirá”, disse Tomás Correia em entrevista à RTP3, esta quinta-feira. “Do lado do capital vai ter algo simbólico, mas a aposta do projeto é grande. É tão simbólico que, no Montepio, decidimos que se avançaria com a possibilidade de ceder a todas as instituições de economia social até 2% do capital do banco”, acrescentou.

O responsável confirmou ainda a notícia do ECO: a participação de 2% na Caixa Económica vai custar entre 45 milhões e 48 milhões de euros às “largas instituições que já manifestaram interesse”.

"Dentro de duas ou três semanas, a Santa Casa terá entrado no capital da Caixa Económica. Não sei qual a participação exata porque será a Santa Casa que decidirá.”

Tomás Correia

Presidente da Associação Mutualista Montepio

Apesar da abertura do banco às instituições da economia social, Tomás Correia declarou que o Montepio não está à venda. Mas está estabilizado? “Mesmo com toda a avalanche de desinformação, a Caixa Económica cá está. Há sempre coisas a corrigir. Mas o rácio de capita core tier I de 13,5% compara muito bem com o que se passa no sistema financeiro”, destacou o responsável.

Quanto à escolha de Carlos Tavares para presidente do Montepio, Tomás Correia garante que foi ele que falou com o ex-presidente da CMVM e o nome foi “aprovado pelos órgãos sociais”. Tomás Correias confirmou ainda que Tavares “será presidente e executivo”, tal como o ECO avançou, “nos próximos seus meses”. E depois? O presidente da dona do Montepio não responde.

A Batalha de Aljubarrota

Na mesma entrevista, Tomás Correia esclareceu que “não negociou com nenhum ministro nem com o Governo os créditos fiscais” de 808 milhões de euros que permitiram à instituição sair de um buraco de capitais próprios negativos em 2016. Diz que foi uma “coincidência” que o fim da isenção de impostos tenha acontecido no momento em que vai começar a usufruir desses créditos fiscais. E recusa a ideia de que a solução tenha servido para esconder os problemas da mutualista.

“A Associação nunca esteve na situação de falência técnica. Há uma ideia errada de que se apuram essas situações de insolvência a partir de contas consolidadas”, frisou o responsável, adiantando que “o problema que tem levado a Associação Mutualista a ter resultados negativos está resolvido“.

Falando num “caudal de notícias” negativas para a mutualista, Tomás Correia diz que travou “nos últimos quatro anos uma autêntica Batalha de Aljubarrota” que “poucos teriam capacidade de resistir”. Aliás, lembrou que os resgates de 1.000 milhões de euros observados nos produtos mutualistas em 2017 resultaram das “notícias especulativas” em torno da situação da associação e que provocaram a desconfiança dos seus associados.

(Notícia atualizada às 23h13)

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Reforço da Mutualista avalia Montepio Seguros em 197 milhões

  • Rita Atalaia
  • 15 Março 2018

A compra de uma posição inferior a 1% por 1,5 milhões de euros avalia o ramo segurador num valor abaixo do implícito na proposta dos chineses da CEFC.

A Associação Mutualista comprou à Futuro – Sociedade Gestora de Fundos de Pensões, empresa do grupo Montepio, uma participação no Montepio Seguros inferior a 1% por 1,5 milhões, revela o relatório consolidado de 2016 da entidade liderada por Tomás Correia. Um reforço que avalia o ramo segurador em 197 milhões, abaixo da avaliação que deverá ser atribuída ao negócio na entrada dos chineses da CEFC China Energy, de 250 milhões.

A Associação Mutualista reforçou a sua posição nos seguros do Montepio, passando a ter 99,73% de interesse económico após esta transação.

"A aquisição, à Futuro – Sociedade Gestora de Fundos de Pensões (SGFP), SA, da participação que esta detinha no capital social do Montepio Seguros SGPS, S.A., no montante de 1.500 milhares de euros.”

Associação Mutualista Montepio Geral

Esta compra de 0,76% por 1,5 milhões de euros avalia o Montepio Seguros em 197 milhões. Isto numa altura em que está em cima da mesa um aumento de capital no ramo segurador no valor de 150 milhões, a ser totalmente subscrito pela CEFC China Energy , que deverá passar a deter 60% dos seguros. Nestes termos, o negócio segurador da mutualista estaria avaliado em cerca de 250 milhões de euros.

Menos prejuízos, mas ainda no vermelho

O Montepio Seguros conseguiu reduzir os prejuízos, de acordo com as contas consolidadas da Associação Mutualista. O ramo segurador registou um desempenho negativo de 7,2 milhões de euros, “traduzindo uma recuperação de 15,1 milhões de euros, face a -22,3 milhões de euros obtidos em 2015”, explica a dona do Montepio.

Mas esta melhoria deve ser temporária. Tal como o Público (acesso condicionado) tinha avançado, o Montepio Seguros deverá fechar o exercício de 2017 com prejuízos de 20 milhões de euros, com esta deterioração das contas a pôr em risco a venda ao grupo chinês.

Ao ECO, a CEFC China Energy reforçou o interesse nesta compra, garantindo que “não há obstáculos” e que esta operação “está a seguir os procedimentos regulatórios e legais”. Isto depois de se ter avançado que as negociações estariam suspensas, já que a CEFC China Energy teria concentrado os seus esforços noutra oportunidade de investimento em Portugal: a Partex.

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Banco de Portugal aprova Carlos Tavares no Montepio

Banco central já aprovou os nomes para a administração do banco Montepio, mas a lista está ainda incompleta e faltam administradores não executivos. Carlos Tavares acumula a função de chairman e CEO.

O Banco de Portugal (BdP) já aprovou a nova administração da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) liderada por Carlos Tavares, mas a equipa ainda está incompleta, apurou o ECO junto de fontes que acompanham este processo. O banco central tem a responsabilidade de avaliar a idoneidade dos candidatos a administradores de instituições financeiras e, neste caso, o processo acabou por arrastar-se porque alguns dos nomes propostos pela Associação Mutualista Montepio, acionista único do banco, foram chumbados.

Como o ECO já tinha avançado, Carlos Tavares vai acumular os cargos de presidente do conselho de administração e de presidente executivo do Montepio Geral. A partir de agora, será feito um trabalho de seleção de um presidente executivo, já que o Banco de Portugal, como o BCE, não permite a acumulação de funções durante um período superior a seis meses. Já Nuno Mota Pinto, indicado inicialmente por Tomás Correia para as funções de CEO do banco, será “despromovido” a administrador executivo. Isto devido ao perfil do ex-administrador do Banco Mundial para aquilo que é o negócio core da Caixa Económica Montepio: o retalho.

Mota Pinto não será o único administrador do Banco Mundial a vir para o Montepio. Carlos Leiria Pinto, que está numa sociedade do universo desta entidade multilateral, é outro dos nomes que vai integrar a administração. O administrador financeiro será João Carlos Mateus, que já estava no banco como diretor. A restante equipa executiva conta com Pedro Ventaneira, antigo diretor de risco do banco Haitong, e Helena Soares Moura, jurista da seguradora Ageas. Contactado pelo ECO, ainda não foi possível obter uma resposta do BdP.

A notícia não é apenas a concessão de registos, mas os nomes que Tomás Correia queria indicar e não passaram o crivo do Portugal. Além da ‘despromoção’ de Mota Pinto, o chairman Francisco Fonseca da Silva ficou pelo caminho, assim como Pedro Alves, responsável do Centro Corporativo da Associação Mutualista e que Tomás Correia tentou ‘meter’ na equipa de José Félix Morgado, o CEO que agora vai sair do banco. Finalmente, um diretor do Novo Banco, José Rosete, também estava na equipa inicialmente indicada, mas acabou por ficar fora de equipa agora aprovada.

Apesar de o banco liderado por Carlos Costa já ter aprovado estes nomes, a lista continua incompleta porque faltam alguns administradores não executivos. Tanto do lado da Associação Mutualista, como do BdP, há o consenso de que não vale a pena fechar a lista sem que os nomes apresentem total credibilidade e confiança dos responsáveis.

Passaram-se quase três meses desde que Tomás Correia anunciou que a atual administração liderada por José Félix Morgado estava de saída. Embora não coloque em causa o normal funcionamento do banco, este atraso tem impedido a Caixa Económica de avançar com outras operações de relevo, seja a venda de carteiras de crédito, seja a emissão de títulos de dívida de alta subordinação, como exigido pelo Banco Central Europeu.

A decisão é tomada numa altura em que o regulador ainda aguarda para saber como será a estrutura acionista do Montepio. Ou seja, se a Santa Casa vai, ou não, avançar com a compra de uma participação na instituição financeira. Um investimento que, juntamente com outras misericórdias, deverá ser de 50 milhões de euros por 2% do capital no banco, como avançou o ECO.

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