Rios Amorim: “É preciso um verdadeiro plano florestal”
O presidente da Corticeira Amorim defende um reordenamento do território. E quer "um verdadeiro plano florestal", mas os resultados vão demorar anos.
A tragédia de Pedrógão Grande trouxe a reforma do setor florestal para a ordem do dia. António Rios Amorim, presidente da Corticeira Amorim, líder mundial de produtos de cortiça, não tem dúvidas que é preciso repensar o reordenamento do território. É preciso fazê-lo já, mas os resultados vão demorar anos.
Em declarações ao ECO, Rios Amorim relembra que “nada daquilo que fizermos agora tem consequências nos próximos tempos, mas sim daqui a cinco, sete, eventualmente dez anos”. “Estamos hoje a ter o ‘fruto’ das decisões de há uns anos atrás”, sublinha o presidente da Corticeira, em reação aos incêndios que estão a lavrar em Portugal.
No entanto acrescenta que é preciso “definir estratégias a longo prazo“. Este reordenamento, continua Rios Amorim, “está dependente das políticas públicas, e por muito que os privados possam fazer, nada do que é feito nesta área depende dos privados… Isto é assim em Portugal e em qualquer outro país”.
"É necessário fazer um verdadeiro plano florestal e este tipo de orientação deve implicar que existam compatibilidades entre as espécies.”
Rios Amorim insiste que “qualquer decisão que seja tomada agora só terá impacto daqui a uns dez anos. Mas é preciso que algo seja feito, creio que já estava a ser feito algo, agora pode ser que estas circunstâncias trágicas intensifiquem [a adoção de medidas]. É preciso que seja feito um processo de reflexão”.
O presidente da Corticeira salienta que “é necessário fazer um verdadeiro plano florestal e este tipo de orientação deve implicar que existam compatibilidades entre as espécies“.
Para isso é preciso “redefinir áreas geográficas, fazer menos monocultura e apostar em culturas mistas. Precisamos de uma floresta mais sustentável e até mais rentável“.
Para Rios Amorim, o “sobreiro tem um papel relevante, na medida em que é uma árvore nativa, adaptável às condições do solo e que não convive com densidades elevadas”. Mas apesar de defender o sobreiro, o patrão da Corticeira não deixa de dizer que “as três fileiras florestais [pinheiro, eucalipto e sobreiro] têm toda a legitimidade para existir e terem maiores densidades”.
"As três fileiras florestais [pinheiro, eucalipto e sobreiro] têm toda a legitimidade para existir.”
Mas sobre o sobreiro, a espécie que conhece melhor, adianta: “o seu papel é mais visível porque é uma árvore nativa. Cerca de 90% é de natureza espontânea“. Ainda assim, a mão humana pode dar uma ajuda e é por isso que a empresa de Mozelos tem vindo “a dar pistas e projetos e, depois da aposta na indústria e no mercado, tem agora uma aposta na fileira florestal”. Até porque a separação entre floresta e indústria é cada vez mais reduzida.
E é no âmbito dessa aposta, bem como para combater a falta de matéria-prima, que a empresa incentiva o sistema de rega gota a gota no montado. De resto, a Corticeira assinou um protocolo com uma dezena de produtores de cortiça para a plantação de 500 hectares de montado de regadio, num investimento suportado pela líder mundial do setor.
Rio Amorim adianta que o principal objetivo não é encurtar o ciclo produtivo do sobreiro, mas sim reduzir o ciclo inicial dos atuais 25 anos para oito a dez anos, na primeira extração cuja cortiça é considerada de pior qualidade. “A partir do primeiro ciclo as árvores crescem ao seu ritmo no seu ecossistema”, refere.
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