Casos de legionella no hospital S. Francisco Xavier sobem para 41
Subiu para 41 o número de casos confirmados de legionella no Hospital São Francisco Xavier. Cinco doentes estão nos cuidados intensivos.
O número de casos de doença dos legionários detetados no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa subiu para 41, avança, esta quinta-feira, a RTP3.
A última atualização deste surto de legionella dá conta de que, dos doentes infetados, cinco estão nos cuidados intensivos, sendo que dois destes são colaboradores do hospital. Todos os infetados com a bactéria têm doenças já existentes, indica a DGS.
Na passada terça-feira, a diretora do Centro Hospitalar de Lisboa Oriental, Rita Perez, já tinha garantido que tinha havido “uma deteção precoce do problema” e tinha tentado dar altas precoces aos doentes para evitar mais contágios. A responsável revelou que foram feitos testes a todos os doentes do São Francisco Xavier que apresentavam sintomas e já foram chamados colaboradores para reforçar as equipas.
O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, elogiou a rapidez da resposta das autoridades competentes e o facto de o foco da infeções estar identificado e controlado, ou seja, o sistema de água do Hospital São Francisco Xavier, disse Graça Freitas. “É um caso que tem muita relevância”, admitiu o responsável pela pasta da Saúde, quando questionado sobre um dos casos mais graves de doença do legionário em meios hospitalares. “Não vou dizer que nada falhou. Não tenho a certeza. E falhar significa um determinado tipo de avaliação técnica, um determinado tipo de procedimento”, especificou Adalberto Campos Fernandes, em declarações transmitidas pela RTP3.
Não vou dizer que nada falhou. Não tenho a certeza.
“Os relatórios pedidos não são para preencher calendário“, alertou o ministro, explicando que vão ser apuradas responsabilidades. “Os relatórios são para apurar efetivamente aquilo que aconteceu: se se deveu a um imponderável de natureza técnica ou climática e ambiental, ou a algum procedimento que deveria ter sido feito e não feito. É isso que tem de ser avaliado com isenção, ponderação e independência”, sublinhou.
O ministro da Saúde precisou que os técnicos “de elevada competência” lhe garantiram que “a fonte emissora está anulada e controlado” e, por isso, “o risco para eclosão de novos casos está anulado”.
Questionado sobre se mantém a confiança na administração do hospital, Adalberto Campos Fernandes disse: “Vou responder com aquilo que é a minha obrigação enquanto ministro da saúde. Tenho toda a confiança na administração do Hospital Lisboa Ocidental, até ao momento em que tiver provas ou factos que me evidenciam que perca essa confiança“, remetendo assim para os resultados dos relatórios que estão a ser elaborados.
Partidos exigem esclarecimentos
O PCP, entretanto, veio exigir que o ministro da Saúde vá ao Parlamento explicar o caso de legionella no hospital S. Francisco Xavier, que considera colocar em “evidência a falta de investimento” no controlo da doença. A deteção dos casos de legionella “coloca, mais uma vez, em evidência a falta de investimento numa área fundamental para a saúde pública que é o controlo desta doença”, refere o PCP, num comunicado divulgado este domingo. A situação “é ainda mais preocupante, quando anteriormente se verificaram situações semelhantes em outras unidades hospitalares”, apontam os comunistas, acrescentando que “a gravidade e dimensão deste caso está ainda longe de ser conhecida”.
Adalberto Campos Fernandes na conferência de imprensa desta tarde de domingo demonstrou toda a disponibilidade para esclarecer o Parlamento, mas considera que “é precipitado” dizer que a causa do problema é escassez de recursos ou condições infraestruturais, como diz o PCP. “Não parece haver nenhuma evidência sobre isso, o Hospital tem obra recentes, todo o sistema de circulação de água foi recentemente substituído e renovado”, disse o ministro. “Arriscaria a dizer mais na área do procedimento e menos do equipamento”, acrescentou, deixando para os técnicos o apuramento factual.
Já o PSD quer reunir com administração do S. Francisco Xavier e saber causas do surto de legionella. “Não estamos sossegados com as notícias que têm chegado”, vincou o deputado social-democrata Miguel Santos, em declarações à agência Lusa. E concretizou: “Espero que isto não resulte da falta de financiamento, que não tenha como causa a incapacidade para responder positivamente, fazer prevenções, análises”.
O PSD vai pedir na segunda-feira para se reunir no dia seguinte com a administração do hospital, com Miguel Santos a lamentar que as audições parlamentares com membros do Governo “pouco ou nada adiantam” em casos como este. “O ministro da Saúde, em variadíssimos casos tem acontecido, tem um conjunto de partidos que apoiam o Governo que lhe cobrem as costas, e não se conseguem esclarecimentos transparentes e cabais”, frisou o parlamentar do PSD
Autoridades admitem que números podem aumentar
No balanço anterior, o boletim dava conta de 19 casos incluíam 12 pessoas com idades entre os 70 e os 89 anos, quatro pessoas dos 50 aos 69, duas pessoas com mais de 90 anos e uma pessoa com 44 anos, funcionário do próprio hospital São Francisco Xavier.
Em conferência de imprensa às 18h00 deste sábado, a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, tinha dado conta de 18 casos detetados no São Francisco Xavier desde o dia 31 de outubro. Graça Freitas admitiu, no entanto, que este número poderia aumentar, tendo em conta o período de incubação de dez dias da doença e o facto de as medidas de contenção terem sido tomadas depois de conhecidos os primeiros casos.
“Podem [aumentar] por uma razão muito simples. O período de incubação — em que a pessoa teve contacto com o micro-organismo, o vírus ou uma bactéria, mas que ainda não tem sintomas — no caso da doença dos legionários pode ir até 10 dias. Não é frequente, mas pode acontecer. As medidas que foram tomadas farão efeito daqui para a frente, mas obviamente que não atuam retrospetivamente”, disse Graça Freitas.
Estas declarações foram feitas um pouco depois de ter sido emitido um comunicado onde dava conta da existência de 15 casos confirmados.
“Na sequência da investigação epidemiológica, de forma a avaliar a situação, recolheram-se amostras em vários pontos dos circuitos de água do Hospital de São Francisco Xavier. Estas amostras foram analisadas no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e revelaram a presença de legionella. Pelo princípio da precaução foram tomadas as medidas adequadas para interromper a possível fonte de transmissão”.
No mesmo comunicado, a DGS informa que, “de forma a facilitar a implementação das medidas de controlo, o INEM irá redirecionar temporariamente para outras instituições hospitalares os doentes mais graves que se destinariam ao Serviço de Urgência do Hospital de São Francisco Xavier, que se irá manter aberto para os restantes doentes”.
A doença tem sintomas como tosse, calafrios, dificuldades respiratórias, dores musculares, febre alta ou sintomas gastrointestinais como diarreia e vómitos, sendo transmitida pela inalação de aerossóis contaminados com a bactéria e não através da ingestão de água. “A infeção, apesar de poder ser grave, tem tratamento efetivo”, segundo a DGS.
Direção-Geral de Saúde diz que “nada falhou” na prevenção
A diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, garante que “nada falhou” na prevenção e nas medidas de controlo da infeção com a bactéria “Legionella” no Hospital São Francisco Xavier. “Não falhou nada. (…) Há um equilíbrio entre o que conseguimos fazer para contrariar a Natureza e a própria Natureza”, disse hoje a responsável em conferência de imprensa, em Lisboa, acrescentando que “nem sempre as melhores medidas conseguem contrariar esta dinâmica das bactérias”.
Graça Freitas explicou que o Hospital São Francisco Xavier “tem um programa de vigilância rigoroso” para controlar bactérias na rede de água”, mas que “mesmo assim elas conseguiram encontrar condições para se desenvolver”.
Mas sublinhou que foi feito “tudo o que é importante”: “primeiro, tratar os doentes, detetar a situação, perceber se há um surto, tomar medidas corretivas e quebrar a cadeia de transmissão”.
A presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), Rita Pérez, especificou que o São Francisco Xavier faz análises regulares aos pontos críticos para este tipo de bactérias e que as mais recentes, de outubro, deram negativo. “O Hospital tem o seu plano de prevenção para estes eventuais casos. São feitas análises: umas de 15 em 15 dias, outras de mês a mês e outras de três em três meses. Todas elas no mesmo sentido. Nos pontos mais críticos são feitas de 15 em 15 dias, que são as tais torres de refrigeração. (…) Nas análises aos pontos mais críticos, as últimas são de outubro, e deram negativo”, disse Rita Pérez.
Marcelo vai a São Francisco Xavier para se inteirar da situação
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deslocou-se esta noite ao Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa, “para se informar sobre os casos de ‘legionella’ surgidos nos últimos dias”, indica Belém.
De acordo com uma nota publicada na página Internet da Presidência da República, a visita de Marcelo à unidade hospitalar deu-se após contacto com o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes.
“Recebido pela diretora-geral de Saúde e pelos principais dirigentes daquele estabelecimento hospitalar, foi exposto ao Presidente da República todo o trabalho desenvolvido no acompanhamento dos pacientes, a dedicação e competência dos profissionais envolvidos para enfrentar os referidos casos”, é referido na nota.
Legionella causou 12 mortos e mais de 400 infetados em três anos em Portugal
A doença dos legionários provocou nos últimos três anos 12 mortos e mais de 400 infetados, em Portugal. O caso mais grave foi o surto registado em novembro de 2014 no concelho de Vila Franca de Xira, responsável por 12 mortos e 375 doentes, dos quais quase metade teve de ser assistidos em cuidados intensivos. A doença teve origem numa torre de arrefecimento da empresa Adubos de Portugal.
Três anos depois, o processo ainda corre na Justiça. A empresa Adubos de Portugal e a multinacional General Electric foram constituídas arguidas, pelos crimes de infração de regras de construção, assim como sete pessoas, acusadas dos crimes de infração de regras de construção (conservação) e ofensas à integridade física por negligência.
Francisco George, que deixou o cargo de diretor-geral de Saúde em outubro, admitiu recentemente numa entrevista que, ao longo dos 12 anos enquanto autoridade de saúde, foi este o caso que lhe tirou o sono. Mas, apesar do susto, houve consequências positivas: foi possível investigar com rapidez o que estava a causar o surto e mostrou-se que “Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde fantástico”, considerou.
No verão de 2015, foram notificados 16 casos de pessoas com ‘legionella’ no Grande Porto, dois dos quais foram adquiridos durante viagens ao estrangeiro. Destes, cinco foram internados em hospitais do Porto.
Já este ano, as autoridades confirmaram cinco doentes, “todos trabalhadores” da empresa Sakthi Portugal, na Maia. O hospital da Horta, na ilha do Faial (Açores), teve de ser encerrado duas vezes em sete meses, devido à deteção da bactéria na canalização, mas sem registo de infeções. Em novembro do ano passado, um hotel em Faro foi encerrado depois de terem sido detetados quatro casos. No mês anterior, três pessoas foram infetadas no Centro Hospitalar de Gaia/Espinho. Em Chaves, uma unidade hoteleira foi fechada em junho do ano passado, na sequência da deteção de um caso, e em outubro novamente, depois da notificação de um outro caso, o que levou a administração a decidir antecipar obras, estimadas em cinco milhões de euros.
Nos últimos três anos, a bactéria foi detetada, mas sem causar infeções, em hospitais (Régua, Bragança) e no centro de saúde de Vila Real de Santo António), em piscinas municipais (Arouca, Castro Marim), num hotel no Porto, num parque de campismo em Peniche ou numa fábrica em Sines.
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