5 coisas que tem de saber antes de abrirem os mercados

O Brexit continua entre obstáculos, desta vez com a batata quente a passar das mãos da Câmara dos Lordes para a dos Comuns. Em Portugal esperam-se os dados das exportações e os resultados da Sonaecom.

O grande acontecimento desta semana é o novo encontro da Reserva Federal onde se prevê que os governadores aumentem a taxa de juro novamente, depois da subida em dezembro. Os dados do emprego nos EUA ajudam a que isso aconteça, tal como mostrou o relatório da sexta-feira passada. Na Zona Euro, Draghi continuará com a política expansionista, pelo menos até ao final do ano. O governador do BCE irá falar hoje em Frankfurt.

Como estão as exportações de bens?

Eis que chegam as primeiras estatísticas sobre o comércio internacional de bens de 2017. Os dados referem-se a janeiro e vão ser divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística esta segunda-feira. Este vai ser o primeiro sinal para apurar se as exportadoras já sentem o efeito negativo do petróleo, continuando a degradação do saldo comercial verificada no ano passado. Ou se, por outro lado, a recuperação económica na Zona Euro pode influenciar de forma positiva as exportações portuguesas. Em 2016, as exportações de bens tiveram o pior crescimento (0,9%) desde 2009. As importações subiram mais (1,2%), o que levou a um agravamento do saldo comercial de bens.

Sonaecom presta contas

Esta segunda-feira vão ser apresentados os resultados consolidados de 2016 referentes à atividade da empresa. A Sonaecom é uma sub-holding do grupo Sonae que está mais presente nas áreas de tecnologia, media e telecomunicações. Esta empresa controla a Zopt — entidade partilhada com a empresária angolana Isabel dos Santos — que, por sua vez, tem o controlo da operadora de telecomunicações NOS. No início do mês a NOS divulgou os seus resultados do ano passado, revelando ter tido mais lucros e clientes. São várias as empresas onde esta sub-holding do grupo Sonae tem participações, nomeadamente a Feedzai e a Outsystems.

Brexit pendente novamente no Parlamento

Theresa May está em contrarrelógio para cumprir a sua promessa de acionar o artigo 50 — que permitirá iniciar as negociações relativas à saída do Reino Unido da União Europeia — até ao final de março. Neste momento as dificuldades encontram-se no Parlamento inglês. O draft da lei que autoriza a primeira-ministra britânica a dar o pontapé de partida no processo vai voltar esta segunda-feira à Câmara dos Comuns, a câmara baixa. Os deputados terão de decidir se aceitam ou não as mudanças feitas pela Câmara dos Lordes, a câmara alta para a qual não há eleições, tal como a proteção dos cidadãos europeus a viver no Reino Unido. Tem de existir acordo para que a lei passe em ambas as câmaras.

Draghi fala em Frankfurt

É da cidade que acolhe o Banco Central Europeu que o presidente da instituição vai falar esta segunda-feira. A conferência, em conjunto com a faculdade norte-americana MIT Sloan School of Management, vai debruçar-se sobre a inovação e o empreendedorismo na Zona Euro. Esta quinta-feira, o BCE reuniu para decidir manter inalterada a taxa de juro. Draghi disse não haver motivos para alarme em relação ao travão na compra de dívida portuguesa. Além disso, reafirmou que os estímulos vão continuar até final do ano porque a inflação continuará aquém do objetivo do banco central.

Fed atualiza perspetivas para emprego

O relatório sobre o emprego nos Estados Unidos provou que o mercado de trabalho continua forte. Segundo a Bloomberg, estes dados mostram que o indicador da Reserva Federal sobre a evolução das condições do mercado de trabalho tem ficado aquém do que se tem verificado na realidade. Esta segunda-feira, a Fed vai atualizar o “U.S. labor market conditions index”, revelando se está mais confiante no emprego dos EUA. Este pode ser mais um indicador daquilo que os investidores já esperam na sua maioria: Janet Yellen, a presidente da Fed, vai querer aumentar a taxa de juro nas reuniões que ocorrem esta semana.

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João da Costa Pinto, o economista que foi tudo no Banco de Portugal

  • Helena Garrido
  • 13 Março 2017

João António Morais da Costa Pinto, 71 anos, costuma dizer que no Banco de Portugal só não foi contínuo e governador.

Começou como estagiário e, entre várias interrupções para desempenhar outras funções no setor financeiro, chegou a vice-governador em 1994. Economista com uma carreira no domínio financeiro, viveu profissionalmente a experiência da liberalização da banca, da abertura das fronteiras aos movimentos de capitais na última década do século XX e da construção e lançamento do euro.

Desde outubro de 2014 é presidente do Conselho de Auditoria do Banco de Portugal e liderou, a convite do governador Carlos Costa, o grupo que avaliou a atuação do banco central na supervisão do BES. Atualmente é ainda administrador da Fundação Oriente, cargo que ocupa desde o início de 2015. Tem uma forte ligação à Ásia, como se pode ver por um dos seus livros favoritos — “Quando a China mandar no Mundo” — , e que nasce das funções que desempenhou em Macau, entre 1981 e 1984, a convite do então presidente Ramalho Eanes e quando Almeida e Costa (1932-2010) foi governador daquele território. Ali, em Macau, assumiu as funções de secretário adjunto da economia e finanças.

João da Costa Pinto, como é conhecido, nasceu em Vila Nova de Tazém, no distrito da Guarda, a 9 de dezembro de 1945. Fez os estudos secundários em Viseu e licenciou-se na Faculdade de Economia do Porto. Entra para o Banco de Portugal em 1973. Quando regressa de Macau, em 1984, está Portugal a caminho de entrar para a CEE. Acompanhará a liberalização do setor bancário da segunda metade da década de 80 e dos movimentos de capitais dos anos 90 entre cargos na banca e no Banco de Portugal.

Em 1988 assume a presidência do então Banco Nacional Ultramarino (BNU), uma instituição que tinha estatuto de emissor monetário em Macau, de onde sai em 1992, sendo substituído em finais de 1992 por Carlos Tavares, ex-presidente da CMVM e que apresentou recentemente a proposta de mudança da arquitetura da supervisão em Portugal. O BNU acaba por ser integrado na CGD desaparecendo.

Costa Pinto regressa ao Banco de Portugal em junho de 1994 como vice-governador de António de Sousa, que assume a liderança na mesma altura. O Banco tinha vivido em 1993, sob o consulado de Miguel Beleza, governador, e António Borges (1949-2013), vice-governador, uma das suas primeiras histórias de conflito com o Governo, designadamente com o então ministro das Finanças Jorge Braga de Macedo. Perspetivas diferentes quanto à velocidade a que se devia abrir as fronteiras aos movimentos de capital – com o Governo de Cavaco Silva a querer que fosse mais rápido, estiveram na origem desse conflito.

Ficará pouco tempo como vice-governador. João da Costa Pinto demite-se pouco mais de um ano depois e é substituído em janeiro de 1996 por Luís Campos e Cunha, acabando por ter sido também apanhado pelo conflito que opôs na altura Braga de Macedo a António Borges. Regressa mais tarde ao sistema financeiro e lidera a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo a partir de 2002 de onde sairá em janeiro de 2013.

Em finais de 2014 regressa ao Banco de Portugal mas como presidente do Conselho de Auditoria numa equipa que conta com Ana Paula Serra e o revisor oficial de contas António Gonçalves Monteiro. Um novo desafio o espera, quando o governador do Banco de Portugal o convida para presidir a uma equipa que para avaliar a actuação da supervisão no caso BES. O relatório produzido com mais de 600 páginas não foi divulgado, ficando apenas a conhecer-se as recomendações.

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Caso CGD: “Não foi só no BES que houve má gestão”

Marques Mendes quer que sejam esclarecidas as causas dos prejuízos da Caixa e pergunta pela auditoria forense prometida há um ano. O Novo Banco e o caso das offshores também merecem um comentário.

Marques Mendes quer que sejam esclarecidas as causas dos prejuízos da Caixa e pergunta pela auditoria forense prometida há um ano. O Novo Banco e o caso das offshores também merecem um comentário.

Na semana em que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) apresentou prejuízos históricos de 1.859,5 milhões de euros e anunciou ter reconhecido imparidades de três mil milhões de euros, Marques Mendes diz que “tal como aconteceu no BPN e no BES é preciso esclarecer os prejuízos na Caixa”, nomeadamente saber quem deu os créditos no passado [que geraram essas imparidades] e que garantias foram prestadas por esses créditos.

“A verdade é inconveniente, mas não foi apenas no BES que houve má gestão, também houve no banco público”, diz Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC.

E aproveita para questionar “onde está a auditoria forense que foi prometida há um ano?”. Remata dizendo que os “portugueses pagam e logo têm direito a saber”.

Lone Star coloca prazo para comprar o Novo Banco

Sobre o Novo Banco, Marques Mendes diz que o processo de venda “está na reta final” e que “já é claro que vai ser vendido à Lone Star”.

Afirma que os norte-americanos ficarão com 75% do capital, sendo que o Estado (diretamente ou através do Fundo de Resolução) ficará com o remanescente, embora essa situação de ficar com parte do capital esteja a causar incómodo em Bruxelas, junto da Direção Geral da Concorrência que “vai impor condições”.

Acrescenta que, por imposição da Lone Star e da necessidade de movimentar dinheiro, foi imposto pelos norte-americanos um prazo até 31 de março para fechar o negócio. Mas o comentador da SIC garante que “já estamos na fase de discutir o contrato”.

Offshores: “Caso é um incómodo para o CDS e PSD”

Sobre a polémica das offshores, Mendes diz que o caso “é um incómodo para o PSD e para o CDS. É um incómodo para o próprio Paulo Núncio. Pode ser uma mera coincidência, mas é desagradável”.

O jornal Público diz hoje que o ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, esteve ligado ao registo de cerca de 120 novas sociedades na Zona Franca da Madeira. O dado poderia não ter qualquer relevância, não fosse José Azevedo Pereira, ex-diretor geral do Fisco, ter contado aos deputados da Assembleia da República que as únicas dúvidas que se colocaram ao então secretário de Estado — na hora de decidir se publicava as estatísticas de transferências para offshores — estarem relacionadas, precisamente, com os fluxos de capitais saídos da Madeira.

Marques Mendes diz que “toda a gente tem o seu passado” profissional, mas recorda que sempre criticou a decisão de não publicação das estatísticas. “Até pelo passado, ele [Paulo Núncio] não deveria ter nenhuma posição na matéria. A haver aquela decisão [de não publicação de estatísticas], não deveria ser tomada por ele, mas por outra pessoa no Governo”, conclui.

 

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Viarco: a mais pequena fábrica de lápis do mundo

O edifício está velho a implorar por obras. Lá dentro há prensas de 1907, vestígios de grafiti por toda a parte e toda a produção é feita de forma artesanal. Ainda assim a Viarco fatura 750 mil euros.

Entrar na fábrica da Viarco é um regresso ao passado. A Viarco é uma empresa feita de história. História porque os lápis ali produzidos são “relíquias” tão familiares dos portugueses mas também porque cada máquina, cada canto da fábrica nos transporta para tempos mais distantes. E história ainda porque o edifício está todo por recuperar mas mantém o charme de outrora. “Uma fábrica velhinha do tempo da Revolução Industrial”, diz entre risos, José Vieira, o dono da empresa.

Numa altura em que se discute a industria 4.0, na Viarco tudo é produzido… artesanalmente. Há sujidade nas mãos, nas caras, no chão, nas paredes…há grafite em toda a parte, mas há também muita dedicação a um ofício que poucos acreditavam ser ainda possível. E tudo é inexplicavelmente cativante. Mas vamos por partes.

A Viarco tem mais de um século de vida, foi criada em 1907 ainda com a designação Fábrica Portuguesa de Lápis. Em 1936, Manoel Vieira de Araújo, bisavô de José Vieira — na altura um industrial experiente do ramo da chapelaria e figura importante em S. João da Madeira — compra a empresa. Em 1936, regista a marca Viarco para, cinco anos mais tarde, a deslocalizar para São João da Madeira, para as instalações que ainda hoje mantém.

Mas os tempos áureos foram-se esbatendo com o tempo. A concorrência foi-se tornando mais feroz e, a Viarco perdendo o fulgor de outros tempos. Em 2008, perde também o seu principal cliente à época — o Continente, responsável por 30% do negócio. A par disso, os diversos membros da família não se entendiam quanto ao rumo a dar à fabrica de lápis e fechar portas começava a fazer algum sentido. Mas José Vieira e a mulher Ana, ambos trabalhadores da Viarco, arregaçaram as mangas e ficaram com a empresa. O mesmo é dizer, com 250 mil euros de passivo. E esse não era o único problema que o casal tinha de enfrentar: em 2011, Portugal atravessava uma série crise financeira que culminou com a entrada da troika no país.

José Vieira diz que “foram tempos difíceis”. “O nosso entendimento era que a Viarco era mais do que um negócio. Era preciso olhar para isto como património que se pode transformar num negócio e os outros ramos da família não tinham essa visão“.

Mais de 70% do negócio da Viarco assentava “naquilo que era o regresso às aulas — um milhão de caixas de lápis –, e no fornecimento ao Estado. Quando isso desaparece o negócio desmorona”.

“Era preciso produzir produtos inovadores, iniciar o processo de internacionalização, desenvolver contactos com o exterior”, diz José Vieira, para quem a única certeza “era a de que tínhamos competências para produzir coisas absolutamente espetaculares”.

Temos um ateliê com artistas, uma série de relacionamentos com as indústrias criativas desde o design, a arte, a fotografia. E percebíamos que, quando fazíamos produtos com essas características, podiam ser vendidos em qualquer parte do mundo, sem precisarmos sequer de fazer muito marketing, e sem haver a nostalgia dos lápis da escola primária que se coloca aqui em Portugal.

José Vieira

Viarco

Mas de que produtos estamos a falar?

O dono da Viarco não se faz rogado e remata: “Estamos a falar de uma coisa que começa numa aguarela de graffiti e que foi o primeiro produto a entrar na nossa linha de art graf, uma linha destinada a artistas. Mas que funciona também muito bem como prenda para dar aos arquitetos e, sobretudo, é um produto que está ligado a uma fábrica que é uma espécie de janela para a revolução industrial”.

Hoje a linha art graf pesa cerca de 30% das contas da Viarco.

Uma fábrica…quase museu

“A nossa fábrica não é um museu, mas tem peças de museu dentro da fábrica”, afirma José Vieira com um misto de orgulho e de esperança de um dia conseguir construir ali um verdadeiro museu. “Quando recebemos cá artistas ou os nossos distribuidores, e eles se apercebem que há alto desenvolvimento e alta criatividade num ambiente tão atrasado, isso ainda concede mais valor ao produto”.

Mas a alta criatividade não se estende apenas ao produto. As máquinas são muitas vezes adaptadas à produção de lápis. É o caso de antigos moinhos de café que hoje trituram graffiti. O que estimula a criatividade mas atrasa a produção. E as que não são adaptadas são de…1907.

"Quando recebemos cá artistas ou os nossos distribuidores, e eles se apercebem que há alto desenvolvimento e alta criatividade num ambiente tão atrasado, isso ainda concede mais valor ao produto.”

José Vieira

Dono e administrador da Viarco

O processo produtivo assenta em premissas um pouco diferentes da gestão moderna: “Há uma ideia, vamos ver se essa ideia funciona, se é passível de se fazer e quando é que se faz, e quanto é que o consumidor está disposto a pagar. Não estamos minimamente preocupados com o custo porque todo o nosso desenvolvimento é muito manual, é muito artesanal”.

Talvez por isso, José Vieira diz que há espaço para experimentar. “Podemos testar coisas absurdas porque isso pode ser o início de uma ideia genial e de um processo genial”.

A Viarco não tem um plano anual de trabalho definido. Ali, o trabalho é feito ao ritmo que aparece. “Temos um conjunto de equipamentos e uma linha de montagem e trabalhamos em função daquilo que é preciso fazer. Por isso podemos estar todos uma semana inteira a fazer lápis e, na semana seguinte, começarmos a fazer outra coisa”.

Hoje a Viarco fatura 750 mil euros — mais do que duplicou face a 2011 — e emprega 24 pessoas. E perto de 50% do volume de negócio é oriundo do mercado externo. Estados Unidos, Coreia do Sul, Austrália, Inglaterra, França, Dinamarca, Espanha, Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica, Taiwan, China são alguns dos países para onde a Viarco exporta.

Apesar de estar vocacionada para o mercado externo, a Viarco não desvaloriza o mercado nacional, sobretudo com produtos personalizados. “Sempre aconteceu, se calhar um dia até podemos contar a história (a nossa) através dos rótulos publicitários”.

E ainda que, na entrada da Viarco, os rótulos antigos nos façam viajar até outros tempos, hoje a realidade é outra: a empresa produz peças para todo o mundo e, considera José Vieira, tem “um potencial de expansão enorme”. “Fazemos o que os outros não fazem, tanto fazemos lápis grossos como finos”. A aposta na diversificação de produtos tem sido outro dos fatores-chave do êxito: “Quanto mais disperso estiver o risco, melhor”.

Assim é natural encontrar lápis ‘made in’ Portugal, ‘made in Viarco’, em museus como o MoMa, em Nova Iorque, ou o Guggenheim, em Bilbao.

Turismo Industrial

Enquanto o sonho de fazer do complexo onde está a fábrica um museu não se concretiza, a Viarco embarcou noutras aventuras, mais concretamente no roteiro de turismo industrial da S. João da Madeira.

“S. João da Madeira tem um produto que mais nenhuma cidade do nosso país tem: vende entradas na indústria”, diz José Vieira, a rir.

Mas como surgiu este projeto? José Vieira explica: “Estamos no concelho mais pequeno da Europa, não temos serra nem mar, não temos arquitetura. Pois bem: para atrair turistas, S. João da Madeira organizou-se e criou um produto turístico: visitas organizadas às fábricas”.

A Viarco, porque a maior parte das visitas são de estudantes, lidera a lista de visitas. Do programa constam empresas como a Helsar, a Evereste, a Molaflex, a cordoaria nacional de pelo, entre outras.

Para José Vieira, este projeto “permite transformar a fábrica num instrumento de comunicação”. “Põe-nos em contacto com cerca de 30 a 40 mil pessoas — o número de visitantes que já passaram pela Viarco, desde o início do projeto — e ajuda-nos a estabelecer relações emocionais”, esclarece.

Futuro?

José diz que sempre que imagina a reconstrução do espaço pensa em tudo… um museu é certo. “Temos coisas na fábrica que têm de desaparecer da produção porque estão a ocupar espaço. Temos um decantador que deve ter sido ali colocado nos anos 40 e que servia para moer graffiti. Hoje é um cangalho que está a ocupar um espaço terrível mas, para sair dali tem que ser bem tratado, tínhamos que fazer um centro museológico.”

Mas se a longo prazo, José Vieira consegue imaginar a Viarco, num futuro menos distante não é tão fácil: “Consigo imaginar muitas coisas, mas não consigo imaginar o que isto será porque nós temos tantas oportunidades, tantos projetos, tantas possibilidades neste momento em cima da mesa que não sei… A única coisa que sei é que temos muita confiança naquilo que estamos a fazer”.

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Chocolate: subir o preço ou cortar no tamanho? Que subam os preços

  • Margarida Peixoto
  • 12 Março 2017

Um estudo do YouGov, feito com consumidores britânicos, sugere que no que toca a doces é preferível subir o preço do que cortar no tamanho.

O que escolhia: pagar mais pelo seu chocolate favorito, ou vê-lo encolher? Um estudo do YouGov — uma comunidade de análises de mercado e sondagens — indica que os consumidores preferem ver o preço subir, a comprar doces mais pequenos. O estudo foi desenvolvido para o mercado britânico.

A braços com uma campanha contra a obesidade — o Reino Unido é o quarto país da Europa com maior incidência da doença — várias marcas de chocolate optaram por diminuir o tamanho dos seus produtos, conta o YouGov.

Foi o caso dos chocolates Toblerone vendidos no Reino Unido (encolheram 15%), dos Maltesers (14,2%) e dos chocolates Tetley (6,25%), que mantiveram os preços mas diminuíram os tamanhos. É aquilo a que se pode chamar uma “shrinkflation“, isto é, o custo dos produtos sobe não porque o seu preço aumentou, mas antes porque o seu tamanho encolheu.

Contudo, o inquérito do YouGov mostra que os consumidores britânicos preferem pagar mais, a comer menos quantidade do seu doce favorito. Perante a pergunta direta, 46% respondeu que preferia pagar mais, 36% preferia ver o tamanho encolher e pagar o mesmo, enquanto 17% responderam não saber.

O inquérito permite também concluir que se for preciso diminuir o tamanho dos doces, o limite dos consumidores parece ser uma redução de 15%, já que 35% dos inquiridos garantem que deixariam de comprar o produto perante uma redução desta dimensão.

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Bloco de Esquerda traz “Plano B para a Europa” a Lisboa

  • Lusa
  • 12 Março 2017

Próxima cimeira da iniciativa para pensar a Europa vai decorrer em Lisboa. Líder parlamentar do BE recusa uma solução de Europa a várias velocidades.

A próxima Cimeira para um “Plano B para a Europa”, iniciativa de que o Bloco de Esquerda (BE) faz parte, vai realizar-se em Lisboa, em outubro, disse este domingo à agência Lusa o líder parlamentar do BE.

Pedro Filipe Soares, que falava a partir de Roma, disse que o encontro de outubro, na capital portuguesa, servirá para assinalar “os 10 anos do Tratado de Lisboa e de todas as promessas falhadas desse tratado, as promessas de inclusão e de resposta ao défice democrático”.

A iniciativa “Plano B para a Europa” junta representantes de movimentos e partidos europeus como o Parti de Gauche francês, o Die Linke alemão, a Sinistra Italiana, o Partido da Esquerda da Suécia, o espanhol Podemos, e o grego Caminho da Liberdade, entre outros, por “uma alternativa política à austeridade na Europa”.

A Cimeira do “Plano B para a Europa” que decorreu em Roma durante este fim de semana constituiu “uma espécie de registo alternativo dos 60 anos do Tratado de Roma”, afirmou à Lusa o líder parlamentar do BE, defendendo que “a União Europeia está a ir contra os pressupostos de solidariedade e de avanço civilizacional” desse tratado.

"[Os cenários apresentados pela Comissão Europeia] desembocam todos numa Europa a várias velocidades, o que é um ataque à ideia de convergência que norteava aquele que se dizia ser o espírito do Tratado de Roma.”

Pedro Filipe Soares

Líder da bancada parlamentar do BE

Segundo Pedro Filipe Soares, os cinco cenários apresentados no início deste mês pela Comissão Europeia “desembocam todos numa Europa a várias velocidades, o que é um ataque à ideia de convergência que norteava aquele que se dizia ser o espírito do Tratado de Roma”.

No seu entender, tem-se assistido a uma “maior concentração de poderes em forças não eleitas e falta de solidariedade” na União Europeia, que mostra “incapacidade de responder às crises económica e social”, ao mesmo tempo que parece ganhar peso “uma vertente militarista”.

“A Europa ou é de convergência ou vai no caminho do seu desmantelamento”, sustentou, dizendo que o BE se baterá por “um caminho alternativo”, baseado “nos valores do progresso e do Estado social, contra o retrocesso da Comissão Europeia e do Conselho Europeu”.

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Seis hackathons de norte a sul. Para mudar o mundo

  • Juliana Nogueira Santos
  • 12 Março 2017

Se é programador e não perde uma boa maratona de hacking, o ECO deixa-lhe seis propostas que não pode perder.

Programar mais de 24 horas seguidas por uma causa maior? Também se faz por cá e há hackathons para todos os gostos. Deixamos seis propostas cujas soluções vão abarcar âmbitos tão distintos como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas ou a influência digital nas marcas.

InfluxTrust Global Hackathon

Quando? 10 a 12 de março

Onde? HOOD, Lisboa

Porquê? Os programadores vão estar 48 horas a escrever código sem parar, em nome dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Mas não será só em Lisboa que as teclas vão bater, sendo que são nove as cidades envolvidas neste projeto, desde o Bahrein até ao Rio de Janeiro. No caso específico lisboeta, os hackers vão se focar no nono objetivo, que trata a “Indústria, inovação e infraestruturas.”

Lisbon Green Hackathon

Quando? 11 e 12 de março

Onde? Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Porquê? Nesta segunda edição do Lisbon Green Hackathon, quinze equipas de quatro elementos cada vão passar 24 horas a desenvolver um protótipo que dê solução aos problemas energéticos e ambientais lançados pelos organizadores. Os prémios vão ser entregues ao projeto com mais impacto ambiental, ao melhor “green hack” e à melhor ideia empresarial. Este último terá direito a incubação virtual e dez horas de mentoria no TecLabs.

Hackathon FCT NOVA

Quando? 25 e 26 de março

Onde? Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Costa da Caparica

Porquê? Os estudantes da FCT vão ter neste hackathon uma oportunidade para treinarem as suas capacidades de programação e resolução de problemas. O tema é livre, pelo que todos terão liberdade total para criar os seus projetos.

I-COM Data Science Hackathons

Quando? 21 a 25 de abril

Onde? Porto

Porquê? Usando Data Science, os programadores terão de responder aos desafios propostos por várias marcas. A tecnológica Intel quer saber qual o impacto das discussões nas redes sociais, dos indicadores de saúde das marcas e da eficácia da publicidade nas compras de computadores. A Unilever propõe soluções no âmbito do impacto da informação digital e do passa palavra nas marcas sustentáveis.

Hack for Good

Quando? 24 e 25 de junho

Onde? Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Porquê? Apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, este hackathon tem como objetivo principal criar uma ligação entre o setor tecnológico e o setor social. O tema desta segunda edição será a crise dos refugiados e os hackers terão de encontrar soluções no âmbito da infraestrutura, da educação, da identidade, da saúde e da inclusão.

Surf & Code Camp – React Edition

Quando? 30 de outubro a 5 de novembro

Onde? Cascais

Porquê? Há melhor combinação que treinar a mente e o corpo? Neste evento, os participantes poderão aprender a surfar e a programar e nos dois últimos dias terão de mostrar as suas novas competências num hackathon. As seis noites vão ser passadas no Nice Way Hostel.

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Holanda “pagará o preço”, ameaça Erdogan

  • Margarida Peixoto
  • 12 Março 2017

A crise diplomática entre a Holanda e a Turquia escalou este domingo com ameaças do presidente turco. O Governo de Ancara já desafiou os países europeus a tomar partido contra os holandeses.

A Holanda “pagará o preço”, prometeu Recep Tayyip Erdogan, este domingo. “Eles não sabem nada sobre política ou diplomacia internacional. Eles estão muito nervosos e são cobardes, são resquícios dos nazis, fascistas”, acusou o presidente da Turquia, num discurso perante uma multidão, garantindo retaliações.

“Podem banir o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros tanto quanto queiram. Vamos ver como é que os vossos aviões entram na Turquia de agora em diante. Estamos a falar de voos diplomáticos, e não de passageiros“, somou ainda Erdogan.

A crise diplomática entre a Holanda e a Turquia estalou este sábado, quando o Governo de Amesterdão recusou a autorização ao chefe da diplomacia turca para aterrar em solo holandês. Mevlut Cavusoglu tinha planeado um discurso de campanha direcionado aos turcos residentes no país, a favor do alargamento dos poderes constitucionais de Erdogan — uma questão que a Turquia vai referendar a 16 de abril.

Segundo explica o jornal The Guardian, o Executivo holandês não quis autorizar a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros turco para não colidir com as eleições legislativas holandesas, agendadas para a próxima semana. Sem questões económicas a motivar preocupações de maior, a campanha eleitoral tem debatido mais os temas da imigração, dos valores holandeses e o sucesso da integração da Holanda na União Europeia.

Na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores holandês, Bert Koenders, já tinha dito que o seu país “de nenhuma maneira” facilitaria a visita do ministro Mevlut Cavusoglu. “Não vamos participar numa visita de um funcionário do Governo turco que quer conduzir uma campanha política para um referendo”, disse Koenders, citado pela Lusa.

Apesar desta decisão, a ministra turca da Família, Fatma Betül Sayan Kaya, entrou de carro na Holanda, através da fronteira com a Alemanha, para uma reunião política no consulado de Roterdão, desafiando assim a decisão das autoridades holandesas. Kaya foi escoltada pela polícia, durante a madrugada, de volta até à fronteira.

"Queremos reduzir [a crise], mas se os turcos insistem em agudizar a tensão, responderemos adequadamente.”

Mark Rutte

Primeiro-ministro holandês

No rescaldo destes acontecimentos, as declarações do governo turco têm sido duras. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Ancara já exigiu um pedido de desculpas e desafiou os países Europeus a tomar posição. Em declarações aos jornalistas, em França, o chefe da diplomacia turca disse que esperava para ver se os países Europeus iriam criticar o “ato fascista” da Holanda, relata a Reuters.

Mevlut Cavusoglu também acusou o Governo holandês de violar a Convenção de Viena: “O nosso encarregado de negócios consular e a nossa ministra não puderam entrar no seu próprio consulado. Além disso, o cônsul, que estava lá dentro, não pôde sair, não lhe deram autorização. Isto é uma violação total da Convenção de Viena”, disse, citado pela Lusa.

Mark Rutte, primeiro-ministro holandês, disse querer acalmar a tensão. Citado pela Lusa, Rutte garantiu que falou “oito vezes” pelo telefone, durante a noite passada, com a liderança turca. Mas também avisou: “Queremos reduzir [a crise], mas se os turcos insistem em agudizar a tensão, responderemos adequadamente.”

Dinamarca também pediu à Turquia para adiar visita

O ministro dos Negócios Estrangeiros tinha desafiado os países europeus a tomar partido na crise diplomática turca. A Dinamarca parece ter sido o primeiro país europeu a responder ao desafio. Perante a crise diplomática, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke, pediu este domingo ao chefe do governo turco, Binali Yildririm, para adiar também a visita à Dinamarca que tinha planeada para este mês.

"Tal visita não poderia acontecer tendo em conta os atuais ataques da Turquia contra a Holanda. Por isso, propus ao meu colega turco que adie a sua visita.”

Lars Lokke

Primeiro-ministro dinamarquês

“Tal visita não poderia acontecer tendo em conta os atuais ataques da Turquia contra a Holanda. Por isso, propus ao meu colega turco que adie a sua visita”, revelou o primeiro-ministro dinamarquês num comunicado, citado pela Agence France Press.

O cancelamento de comícios políticos turcos na Europa não é um exclusivo holandês. Nos últimos dias, houve também cidades alemãs a impedir este tipo de manifestações.

(Notícia atualizada às 16h33)

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Os cinco cisnes negros para a dívida nacional

No máximo, podem atirar o país para um novo resgate da troika. No mínimo, podem aumentar os custos de financiamento, com implicações para os contribuintes. Quais cinco cisnes negros que nos ameaçam?

Cada ida ao mercado está a tornar-se cada vez mais onerosa para os cofres do Estado. Portugal voltou esta semana a financiar-se a um custo bem mais elevado, refletindo os momentos de tensão tem protagonizado nos mercados secundários de dívida desde o início do ano. Nas últimas semanas, os juros da dívida portuguesa fixaram máximos desde o tempo da troika. Os investidores internacionais têm identificados os riscos e ameaças que podem desestabilizar Portugal. Que podem atirar o país para um novo resgate financeiro.

Caixa e o setor bancário

É o tema do momento para as principais agências de rating. São sobretudo as fragilidades no setor financeiro que estão a impedir uma melhoria da notação financeira do soberano. E há sobretudo duas razões para isso. Chamam-se: Caixa Geral de Depósitos (CGD) e Novo Banco, cujos dossiês podem penalizar as contas públicas e impedir a saída de Portugal do Procedimento por Défices Excessivos (PDE).

Em relação ao banco público, o plano de recapitalização de 5,2 mil milhões em curso prevê uma injeção de capitais públicos no valor de 2,7 mil milhões de euros. Se o Governo confia que esta injeção cumpre as regras europeias e não constitui uma ajuda do Estado — leitura esta partilhada pela Comissão Europeia –, existe ainda assim o risco de os prejuízos da CGD desde 2012 até 2016, de perto de 1,2 mil milhões de euros, serem somados ao défice.

Adicionalmente, parte do plano passa pela emissão de dívida subordinada no montante de 1.000 milhões de euros, num contexto de deterioração da perceção de risco de Portugal da parte dos mercados. A operação, à qual se juntou o Presidente da República, já arrancou.

Sobre o banco de transição que resultou da resolução aplicada ao BES, cujo processo balanceia entre uma venda por valores baixos e uma nacionalização, o último aviso da Fitch foi claro: “Um novo problema no setor financeiro que exija um apoio financeiro substancial do Estado” poderá por si só determinar um cortar do rating de Portugal.

“A recapitalização da Caixa Geral de Depósitos ainda está em curso e não vi ainda progressos na parte crucial, isto é, na venda de obrigações subordinadas em duas tranches de 500 milhões de euros. A venda do Novo Banco pode (muito bem) implicar garantias do Estado, com implicações de crédito negativas”, diz David Schnautz, especialista do Commerzbank.

Aperto do BCE

É um dos maiores receios do mercado e os alemães estão a pressionar para que isso acontece mais cedo do que o esperado. Se a instituição liderada por Mario Draghi parar de comprar dívida pública dos governos da Zona Euro, o que está previsto para acontecer no final deste ano, os juros vão começar a subir. Com particular incidência no mercado português de obrigações. Sem o chamado efeito BCE, Portugal estaria neste momento com juros bastante mais elevados, acima de 5,5%.

“As compras de ativos da parte do BCE têm sido um fator chave para manter os juros baixos”, lembra Ciaran O’Hagan, diretor de estratégia de dívida do Société Générale. “Mas não vai continuar para sempre”, alerta.

"As compras de ativos da parte do BCE têm sido um fator chave para manter os juros baixos. Mas não vai continuar para sempre.”

Ciaran O'Hagan

Diretor de estratégia de dívida do Société Générale

O BCE tem estado a comprar obrigações dos países desde dezembro de 2015 como forma de incentivar os preços na região. A taxa de inflação subjacente — sem contar com os produtos energéticos — ainda continua longe do objetivo de Mario Draghi, que prometeu manter o programa de estímulos caso a evolução dos preços seja uma ameaça à retoma económica.

Entretanto, se as atas da reunião de janeiro mostraram que os responsáveis estão cientes que o plano pode não estar a ser eficaz e admitiram mesmo aliviar algumas regras no sentido de alargar o alvo da bazuca, Mario Draghi adiantou esta quinta-feira que não vê razões de alarme em relação ao travão nas compras de dívida nacional.

“O programa de compra de ativos no setor público continua em curso. Tanto no tempo como em volume. Não temos razões para estar preocupados neste momento”, declarou o presidente do BCE.

O BCE decidiu em dezembro prolongar as aquisições de obrigações públicas até final de 2017, prevendo baixar o ritmo de aquisição dos 80 mil milhões mensais para os 60 mil milhões a partir de abril. Ainda assim, o Conselho de Governadores manteve o limite de compras por emitente/emissão nos 33%, uma decisão que acabou por penalizar sobretudo Portugal, que tem menos obrigações elegíveis para o programa do BCE. Em fevereiro, a autoridade voltou a travar a fundo na compra de dívida nacional para um mínimo histórico.

Para O’Hagan, há uma ironia no meio disto tudo: “O fim das compras de dívida dos outros países poderá, ironicamente, ajudar as obrigações portuguesas, dado que o BCE já está a comprar dívida portuguesa em quantidades reduzidas”. Uma circunstância que permitiria baixar o prémio de risco de Portugal — medido pela diferença entre os juros portugueses face aos juros dos outros países.

Falta de crescimento

O Produto Interno Bruto (PIB) Portugal cresceu 1,4% em 2016. Em 2017, a atividade económica deverá crescer ligeiramente menos, à volta de 1,5%. Mas há fatores externos que poderão afetar o ritmo de produção de riqueza no país e colocar sérias dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida portuguesa, que supera os 130% do PIB.

“O ambiente de lento crescimento também deverá ser fator na avaliação dos preços dos ativos. Contudo, os riscos para as obrigações portuguesas são provavelmente assimétricos: um crescimento melhor do que o esperado é bom, claro, mas pior do que o esperado é realmente mau dado que pode levantar receios acerca da sustentabilidade da dívida portuguesa”, salienta David Schnautz.

Para O’Hagan, “um elevado crescimento na Europa é o que Portugal precisa mais…”. Algo que poderá vir a não acontecer com a região a sofrer com o impacto do Brexit, sublinha Miguel Luzarraga, do JPMorgan Asset Management: “O Reino Unido vai registar um abrandamento acentuado em 2017, mas não entrará em recessão. Admitimos que o impacto económico do Brexit será negativo, mas não o suficiente para desencadear uma redução do crescimento económico na economia global. Porém, devemos estar em alerta em relação ao impacto no consumidor de uma alta na inflação num ambiente em que muitos negócios e investimentos são colocados em espera”.

Rating no lixo

Boas notícias na frente económica e na banca possibilitariam uma melhoria da notação financeira da dívida nacional, com reflexos na redução dos custos de financiamento da República. No entanto, as principais agências de rating mundiais estão longe de perspetivar bons tempos para Portugal e, por isso, têm resistido a melhorar a sua visão para o perfil de crédito do país.

Para Portugal, mais do que Moody’s, Standard & Poor’s ou Fitch, as três principais agências de rating, interessa é a opinião da DBRS. Sem ela, o país estaria entregue ao seu destino que, provavelmente, passaria por um novo resgate financeiro internacional.

"Um downgrade pode retirar Portugal do acesso ao mercado e desencadear um segundo resgate — o outlook estável da DBRS torna improvável que isso aconteça no decorrer deste ano, mas, obviamente, isso depende de muitas variáveis.”

David Schnautz

Estratego do Commerzbank

Aquela agência canadiana tem segurado Portugal ao manter a dívida portuguesa num nível acima de lixo, circunstância que permite que as obrigações nacionais estejam qualificadas para o programa de compra do BCE. Já a Moody’s e a Fitch continuam a qualificar empréstimos dos mercados ao Governo como “investimento especulativo”. Mas se isso pesa nos custos de financiamento que o Tesouro português tem de suportar sempre que vai ao mercado, sem a avaliação (mais positiva) da DBRS, Portugal não teria sequer acesso aos mercados.

“Uma melhoria do rating seria ‘simpático’, mas o ponto crucial é a opinião da DBRS, por causa do quantitative easing e na utilização das obrigações portuguesa pelo BCE nas operações de financiamento bancário. Pelo contrário, um downgrade pode retirar Portugal do acesso ao mercado e desencadear um segundo resgate — o outlook estável da DBRS torna improvável que isso aconteça no decorrer deste ano, mas obviamente isso depende de muitas variáveis”.

Riscos políticos

Portugal até pode cumprir com distinção os seus trabalhos de casa (isto é, resolver os problemas no setor financeiro e crescer a olhos vistos) e, mesmo assim, os investidores olharem com desconfiança para as obrigações portuguesas. Trump, Brexit e eleições em toda a Europa (França, Alemanha e Holanda) são fatores políticos que podem levar os investidores a tirarem as suas fichas do jogo. E a penalizar Portugal ainda mais.

Miguel Luzarraga considera que há mais riscos hoje do que há um ano, mas assume relativo otimismo. “A reflação nos EUA tem um impacto mais positivo do que negativo na economia global, contribuindo para um crescimento económico mais célere e para o fim dos receios com a deflação. (…) A incerteza política na Zona Euro não deverá transformar-se numa renovada crise existencial para a região da moeda única, dado que não deverá haver surpresas nas eleições holandesas, francesas e alemãs”, referiu o gestor do JPMorgan.

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Ford Fiesta ST… agora com 200 cv

A Ford aproveitou o palco do Salão de Genebra para fazer estremecer a audiência. Apresentou a terceira geração do Fiesta ST, um pocket rocket com 200 cv.

É pequeno, mas tem uma alma grande. A Ford acaba de apresentar a terceira geração do Fiesta ST, o primeiro modelo da Ford Performance animado por um motor de três cilindros que tem uns módicos 200 cv. É um pocket rocket que chega às estradas no arranque do próximo ano.

O novo motor Ford EcoBoost de 1,5 litros desenvolve uma potência máxima de 200 cv e 290 Nm de binário, tendo um valor anunciado de 6,7 segundos na aceleração dos 0 aos 100 km/h“, refere a marca, que introduziu neste utilitário de elevado desempenho muita inovação para melhorar a experiência de condução.

“Entre as diversas inovações adotadas, incluem-se uma nova combinação coletor de admissão/injeção direta de combustível, um sofisticado sistema de sobrealimentação (turbo), e a nova inovadora tecnologia de desativação de cilindros, que proporciona elevada potência e agilidade juntamente com baixos níveis de emissões de Co 2″, acrescenta.

A potência está lá, mas os condutores vão poder escolher entre vários modos de condução. “Os novos modos de condução permitem configurar a gestão do motor, direção e controlo de estabilidade nos parâmetros (modos) Normal, Sport e Track com vista a uma experiência de prazer de condução otimizada”, nota.

“Os Modos de Condução selecionáveis e o novo motor EcoBoost oferecem uma combinação sem precedentes entre performance e economia de combustível, sendo que este novo modelo vai proporcionar a experiência de condução mais versátil, divertida, envolvente e gratificante de sempre num Fiesta ST”, diz Joe Bakaj, vice-presidente de desenvolvimento de produto da Ford Europa.

 

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Um guia para a maior feira de turismo do país

Mais de 75 mil visitantes, três mil reuniões de negócios agendadas, quatro mil ofertas de emprego e outras novidade. Assim vai ser a 29.ª edição da BTL.

Está prestes a arrancar a maior feira de turismo do país. Durante cinco dias, de 15 a 19 de março, a Feira Internacional de Lisboa (FIL) vai receber a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL). Com ela, chegam mais de 75 mil visitantes, milhares de reuniões de negócios, muitas ofertas de emprego e algumas novidades. Ponto por ponto, eis o que se vai passar na BTL.

Mais de 75 mil visitantes em novo ano de recordes

É a 29ª edição da BTL e a organização “prevê superar todas as expectativas”, refere ao ECO Fátima Vila Maior, diretora de áreas de feiras da FIL e responsável pela BTL. “Nestes cinco dias, prevemos ultrapassar os 75 mil visitantes atingidos em 2016, tendo em conta o crescente interesse por parte dos portugueses em viajar mais e também da captação, pela parte dos nossos operadores e do programa de Hosted Buyers, de compradores internacionais”.

O reforço do “papel como a maior feira de turismo em Portugal” vai ser feito num ano em que, provavelmente, vão ser batidos novos recordes. “A tendência aponta claramente para o crescimento dos diversos mercados e da sua contribuição para a economia portuguesa”, aponta Fátima Vila Maior. “Os mercados tradicionais continuam a ser os principais emissores de turistas estrangeiros para Portugal, mas alguns mercados que têm estado a emergir também se têm revelado como potenciais apostas na captação de turistas internacionais”.

Três mil reuniões de negócios

Do lado dos negócios, o programa de Hosted Buyers, que promove o contacto entre as empresas expositoras e compradores internacionais, já conta com cerca de três mil reuniões agendadas e deverá trazer cerca de 400 compradores internacionais.

“Este ano, os hotéis parceiros puderam convidar os compradores internacionais a participarem no programa e, para além disso, foram feitas melhorias na plataforma de agendamento das reuniões que está disponível, pela primeira vez, através de telemóvel”, detalha a responsável da feira.

Quatro mil ofertas de emprego para um setor ainda pouco qualificado

Outro dos focos da edição deste ano vai ser a empregabilidade no setor. A feira vai contar com um espaço dedicado à Bolsa de Empregabilidade em Turismo, nos dias 17 e 18 de março, numa parceria com o Fórum Turismo 2.1, que vai contar com mais de quatro mil ofertas de trabalho. O espaço vai facilitar o contacto entre empresas e estudantes, que poderão esclarecer dúvidas sobre as práticas, desafios e constrangimentos existentes no setor.

O fórum conta, para já, com 25 empresas com ofertas de trabalho disponíveis, entre as quais os grupos Pestana, Vila Galé, Sana, Hoti Hotéis, Sheraton e Accor Hotels.

Fátima Vila Maior lembra que o setor criou mais de 20 mil postos de trabalho de 2015 para 2016, mas reconhece “o desafio da qualificação dos profissionais do setor“. A responsável sublinha que “há que tentar perceber se, de facto, estamos a conseguir formar profissionais qualificados em número necessário tendo em conta o crescimento do turismo” e destaca a importância do investimento na formação.

“Não só porque a área do turismo obriga à adaptação e atualização dos conhecimentos, mas também porque este é um tópico decisivo para a criação de estabilidade empresarial”.

Madeira e Viseu em destaque

A Madeira é o destino nacional convidado deste ano e, por isso, os visitantes da feira vão encontrar várias promoções para o arquipélago.

Viseu é a cidade nacional convidada, pelo “aumento da notoriedade e da reputação” que tem conseguido no mercado interno. Esta é também uma forma de apresentar aos visitantes alternativas às grandes cidades.

Aposta nos adultos de amanhã

Este ano, a BTL conta com uma novidade: o programa Kids Route, através do qual a organização quer dar a conhecer às crianças dos 6 aos 12 anos as várias regiões do país.

“A aposta nas crianças revelou-se essencial, já que estas são os adultos de amanhã e representam o futuro de todos nós. Tal como os outros setores, também o turismo depende dos mais novos para evoluir e continuar a criar propostas de valor que destaquem o nosso país”, explica Fátima Vila Maior.

Entre as atividades que vão ser promovidas pelas entidades regionais de turismo, contam-se jogos tradicionais, jogos de vídeo e interativos, caças ao tesouro, puzzles e quebra-cabeças, para dar a conhecer Portugal aos mais novos.

Espaço para startups e espaço para network

Outras novidades serão os espaços para startups e para network. Nos dias reservados ao público profissional (15 e 16 de março), as startups do setor do turismo vão poder apresentar os seus produtos e serviços e entrar em contacto com alguns dos principais operadores do mercado nacional e internacional. Em parceria com o Turismo de Portugal, a BTL vai ainda apresentar cerca de 30 startups dedicadas a projetos turísticos. No fim de semana, os visitantes poderão conhecer estas ideias no espaço dedicado ao empreendedorismo.

A BTL vai ainda contar com um novo espaço de network, o BTL Village, que também irá funcionar nos dias exclusivos para profissionais. O espaço foi criado, sobretudo, para empresas fora do setor do turismo, como seguradoras, bancos e consultoras, que queiram marcar presença na feira.

Dos 2,5 aos cinco euros

A feira decorre de 15 a 19 de março, mas só estará aberta ao público em geral a partir de dia 17 (os dois primeiros dias são exclusivos para os profissionais).

Os bilhetes custam cinco euros para o público em geral e dez euros para os profissionais. Para jovens, estudantes e seniores, o custo é de 2,5 euros, e gratuito para crianças até aos dez anos.

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Banca quase duplica corte no número de trabalhadores em 2016

  • Lusa
  • 12 Março 2017

A Lusa fez as contas ao número de trabalhadores que foram dispensados, no ano passado, dos cinco maiores bancos. Novo Banco está na dianteira.

O Novo Banco foi, entre os cinco maiores com operação em Portugal, o que dispensou mais trabalhadores em 2016.Paula Nunes / ECO

Mais de 2.000 trabalhadores saíram em 2016 dos cinco principais bancos a operar em Portugal, quase o dobro dos cortes de postos de trabalho feitos em 2015, de acordo com as contas feitas pela Lusa.

Depois de na passada sexta-feira a Caixa Geral de Depósitos ter divulgado os resultados de 2016, com prejuízos históricos de 1.859 milhões de euros, é possível fazer as contas ao número de postos de trabalho cortados o ano passado dos principais bancos, ainda que o Novo Banco ainda não tenha apresentado contas.

Contudo, os dados indicam que foi mesmo no Novo Banco que houve mais saídas de trabalhadores em 2016, uma vez que só até setembro do ano passado tinha reduzido o número de funcionários em 1.062.

Estes trabalhadores saíram da instituição que resultou da resolução do ex-Banco Espírito Santo (BES) através de reformas antecipadas, rescisões por mútuo acordo e despedimento coletivo (que envolveu quase 40 pessoas). A Lusa noticiou já este mês que a maior parte das pessoas abrangidas pelo despedimento puseram ações em tribunal pedindo a sua impugnação.

A seguir ao Novo Banco, o banco com maior redução de pessoal foi o BPI, com 392 rescisões com trabalhadores na operação em Portugal, seguindo-se a Caixa Geral de Depósitos com 297 saídas, o Santander Totta com menos 200 pessoas e o BCP com 126 saídas de trabalhadores.

Fonte: Lusa

No total, dos dados até agora conhecidos, em 2016, saíram 2.077 trabalhadores dos cinco principais bancos, que representam cerca de 80% do sistema financeiro português. Este número é quase o dobro dos cortes de trabalhadores registados em 2015, quando saíram 1.133 funcionários no conjunto de CGD, BCP, Novo Banco, BPI e Santander Totta. Então, o maior corte foi na CGD (448 trabalhadores), seguindo-se BCP (336), Novo Banco (261), BPI (63) e Santander Totta (25).

Quanto a agências, em 2016, foram fechadas mais de 200 dos cinco principais bancos. O BCP fechou 53 balcões, o BPI e o Novo Banco 52 cada um (neste último as contas foram feitas face ao estimado pelo banco) e a CGD fechou 47 agências em 2016. Já o Santander Totta fundiu cerca de 80 unidades da rede comercial.

Nos últimos anos, os bancos têm vindo a “emagrecer” consideravelmente as suas estruturas, com cortes de trabalhadores e agências, com o objetivo de reduzir custos e melhorar resultados que estão muito pressionados. Este processo vai continuar nos próximos anos.

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