Administração da Caixa “recusa entregar plano de reestruturação em detalhe”
O sindicato dos trabalhadores da CGD acredita que existe uma versão oficial do plano de reestruturação assinado com Bruxelas, que é pública, e outra cujos detalhes não são conhecidos.
A administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) recusa partilhar com os trabalhadores a versão completa e detalhada do plano de reestruturação acordado entre o Governo e a Comissão Europeia em 2016, apesar da insistência. O Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD (STEC) acredita, por isso, que há duas versões deste plano, que implicou uma recapitalização de 5 mil milhões de euros e prevê o despedimento de mais de dois mil trabalhadores: a oficial, que é pública, e uma outra que não é pública.
“O que recebemos da administração não reflete todo o plano de reestruturação e tudo o que está subjacente à recapitalização. Somos levados a crer que há um plano oficial assinado com Bruxelas, que é público, e outro que é privado”, disse o presidente do sindicato, João Lopes, que foi ouvido, esta tarde, na Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa (COFMA), no Parlamento.
O responsável garante ainda que a administração liderada por Paulo Macedo recusa entregar este plano em detalhe. “Objetivamente, recusa, nunca o entregou. Não explica porque é que não o entrega. Paulo Macedo tem uma frase lapidar quando pedimos que entregue o documento: os senhores sabem muito bem o que diz o plano de reestruturação“.
Sobre a administração, João Lopes critica ainda que não há “preocupação em ganhar a confiança das pessoas”, para levá-las a “enfrentar os desafios” que aí vêm. “Não temos a quem nos dirigir”, refere o sindicalista.
O plano de reestruturação do banco público prevê a redução de, pelo menos, 2.200 trabalhadores até 2020, para que a Caixa fique com cerca de 6.650 funcionários. Por outro lado, terá de reduzir o número de agências, atualmente de 651, para um máximo de 490 balcões. O objetivo é cortar os custos operacionais em 20%, totalizando cerca de 720 milhões de euros em 2020.
Caixa tem balcões só com duas pessoas
Uma das consequências desta redução do número de trabalhadores e de agências é a deterioração do serviço, apontou também João Lopes. “Se a empresa tem de reduzir pessoal porque essa é uma condição imposta por Bruxelas, é evidente que falta gente nos balcões e o serviço de atendimento tem prejuízo”, admitiu. “Temos balcões com duas ou três pessoas. Até no plano da segurança isto pode ser uma questão muito complicada“, acrescentou.
O responsável reconhece que o plano de recapitalização foi essencial para evitar que a Caixa fechasse, mas critica a aceitação das condições impostas pela Comissão Europeia. “Há um conjunto de condições de Bruxelas que, a serem cumpridas com regra e esquadro, chegamos a 2020 e não temos uma Caixa, temos uma caixinha“, apontou.
Assim, considera, há questões que devem ser renegociadas, a começar pelos ativos que o banco está a ser obrigado a vender. Ao mesmo tempo, deve insistir-se em algumas soluções que estão a ser trabalhadas, mas que estão atrasadas. “A ideia de negociar com as juntas de freguesia a abertura de um espaço da CGD nas juntas serve porque, aí, já não seria considerada uma agência. Mas esse tipo de trabalho está atrasado”.
CGD não informa trabalhadores se pedido de rescisão foi aceite
Por outro lado, há um clima de incerteza entre os trabalhadores. Isto porque não é a administração que convida diretamente os trabalhadores a saírem, antes abrindo-lhes a porta para, por iniciativa própria, aderirem aos programas de reformas antecipadas ou de rescisões por mútuo acordo. Só que os trabalhadores que tentam aderir a estes programas mas não são aceites não estão a ser avisados pela administração.
“Não há igualdade plena na forma como isto é tratado. Por um lado, as pessoas são convidadas a aderir aos programas. Mas a CGD reserva-se o direito de aceitar uns e recusar outros, o que cria um problema porque, a partir do momento em que a pessoa carrega no botão para aderir a um programa, porque foi convidado a fazê-lo, a sua cabeça fica virada. Faz as suas contas, traça o seu futuro e dizem-lhe que, afinal, não é possível”, conta João Lopes.
No ano passado, acrescenta, a administração “não dava qualquer informação à pessoa de que tinha recusado a sua tentativa de adesão ao programa de reformas ou de rescisão, ou porque é que tinha recusado. As pessoas viviam meses e meses de angústia”.
Depois do alerta do sindicato para esta situação, a administração comprometeu-se com um prazo de três meses para avisar os trabalhadores se foram, ou não, aceites nos programas de reforma ou de rescisão.
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