Primo de Ricardo Salgado vai gerir carteira de 9.000 imóveis vendidos pelo Novo Banco

A Finsolutia, uma sociedade liderada por Nuno Espírito Santo Silva, primo de Ricardo Salgado, vai gerir juntamente com a Hipoges a carteira de 9.000 imóveis que o Novo Banco vendeu ao grupo Anchorage.

A Finsolutia, fundada e presidida por Nuno Espírito Santo Silva, primo do antigo líder do Banco Espírito Santo (BES) Ricardo Salgado, é uma das duas entidades que vai gerir a carteira de 9.000 imóveis que os americanos do Anchorage Capital Group adquiriram recentemente ao Novo Banco por mais de 700 milhões de euros, sabe o ECO.

Com a transação prestes a ficar fechada, algo que deverá acontecer até final do ano, está prevista a criação de uma plataforma para onde vão ser transferidos os 8.726 imóveis alienados há um mês pelo Novo Banco por 716,7 milhões de euros ao fundo de private equity americano Anchorage. Esta carteira, designada “Projeto Viriato”, é composta sobretudo por propriedades com usos residencial, incluindo estacionamentos, industrial, comercial e terrenos.

Ao que o ECO apurou, a gestão deste portfólio ficou a cargo da Lace Investment Partners, que delegou, por sua vez, a gestão da carteira em duas entidades: a Finsolutia e a Hipoges, duas sociedades com experiência na gestão de ativos na Península Ibérica. O Novo Banco, confrontado pelo ECO, diz que apenas negociou a venda da carteira com o grupo Anchorage, a única entidade com quem contactou diretamente neste processo. E terá sido a Anchorage e a Lace Investment a contratar aqueles duas sociedades.

A Finsolutia é uma sociedade que presta serviços de gestão e recuperação de créditos que nasceu em 2007, em resultado de uma joint-venture entre o UBS Investment Bank, o Espírito Santo Investimento e a Ongoing Strategy Investments. Tem como CEO Nuno Espírito Santo Silva, que conta no seu currículo com várias funções nas últimas duas décadas em entidades do universo Espírito Santo, nomeadamente no BES, BESI e ES Capital, segundo o seu currículo apresentado no seu LinkedIn. Nuno Espírito Santo Silva é primo de Ricardo Salgado, antigo líder do BES que foi alvo de uma medida de resolução em 2014.

Contactado pelo ECO no dia 26 de outubro para confirmar esta informação, Nuno Espírito Santo Silva disse: “Não posso confirmar. Desconheço. Não somos parte envolvida na transação. O que eu li no comunicado é que era entre a Anchorage e a Lace Investment Partners. Não tenho nada para comentar. O Novo Banco fez um comunicado e não sei mais nada do que isso.” Entretanto, o ECO voltou a contactar esta semana Nuno Espírito Santo Silva, mas não esteve disponível.

Quanto à Hipoges, fundada em 2008, gere atualmente ativos avaliados em mais de 12.000 milhões de euros, 3.000 milhões dos quais em Portugal. Ao ECO, o administrador António Nogueira Leite confirmou a informação de que a Hipoges vai gerir aquela carteira de imóveis que pertenciam ao Novo Banco.

A Hipoges foi adquirida no ano passado pelo fundo KKR, que tem vários investimentos em Portugal e que se encontra, inclusivamente, entre os candidatos selecionados pelo Novo Banco para ficaram com a maior carteira de malparado (NPL, non perfoming loans) que alguma vez esteve à venda no mercado nacional, um total de 1.700 milhões de empréstimos problemáticos. Os outros dois candidatos que estão na corrida pelo “Projeto Nata” são o Deutsche Bank e a Cerberus Capital Management.

28 trabalhadores do Novo Banco com rescisão à vista

Com a alienação da carteira, também um grupo de 28 trabalhadores do departamento de gestão imobiliária do Novo Banco vai transitar para a nova empresa, quase metade da força de trabalho daquele departamento. São trabalhadores com experiência e conhecimento na gestão daquele conjunto de imóveis.

Nas últimas semanas, o banco reuniu com aquele departamento para comunicar quais os trabalhadores que permaneceriam e quais iriam ser integrados nos quadros da nova empresa. Para quem fosse integrado na nova empresa, após a rescisão do contrato com o Novo Banco, há a garantia de que não pode ser despedido por um período de cinco anos. Adicionalmente, apesar da transferência para uma nova empresa, vão manter o mesmo nível salarial que têm atualmente no banco, embora continuem a existir entre trabalhadores muitas dúvidas sobre o futuro que lhes espera na outra empresa.

“Após a concretização da venda à Anchorage Capital Group, a gestão da carteira das 8.726 propriedades será realizada pela Lace Investment Partners e uma equipa de servicers de referência em Portugal na gestão deste tipo de ativos, que irão incorporar nos seus quadros até 30 colaboradores do Novo Banco, que saem com rescisões por mútuo acordo ou por reformas antecipadas“, disse fonte oficial do banco ao ECO.

“Estes colaboradores, que já geriam esta carteira de ativos no Novo Banco, beneficiam adicionalmente dos pacotes em vigor para rescisões amigáveis com o Novo Banco e terão ainda a garantia de um contrato de cinco anos com a nova gestora. Com a venda da carteira Viriato, o departamento gestão imobiliária não será afetado além da saídas referidas”, acrescentou a instituição.

Após a venda do portefólio de imóveis, o Novo Banco prepara-se para alienar uma importante carteira de malparado, no valor de 1.700 milhões de euros, com KKR, Deutche Bank e Cerebrus na corrida. Para a instituição detida em 75% pelo Lone Star e 25% pelo Fundo de Resolução, a venda desta carteira de empréstimos problemáticos representa “mais um importante passo no processo de desinvestimento de ativos não estratégicos, prosseguindo a sua estratégia de foco no negócio bancário”, segundo afirmou António Ramalho recentemente.

O banco “aguarda agora que [as instituições] façam as suas análises da carteira com toda a precisão para fazerem as suas propostas até ao início de dezembro”, isto para que a operação fique concluída antes do final do ano, adiantou o presidente do Novo Banco na conferência “O Futuro do Dinheiro”, organizado pelo Dinheiro Vivo e TSF.

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A startup do último dia do Web Summit é…

A sul-africana Physio in a box, promete transformá-lo num fisioterapeuta caso se lesione. Toda a magia está dentro de uma caixa, fácil de transportar, acompanhada por uma app que trata do diagnóstico.

A startup do último dia do Web Summit promete dar-lhe uma ajuda na fisioterapia em caso de lesão. Está tudo dentro de uma pequena caixa que custa apenas 24 euros.

Cerca de 30% das lesões são no tornozelo, conta-nos Monali Kamffer, fundadora da Physio in a box. É da África do Sul que vem a ideia de numa caixa de pequenas dimensões, ter disponível todas as ferramentas necessárias para tratar da sua própria lesão.

Por enquanto a Physio in a box foca-se em lesões no tornozelo, as mais comuns, de acordo com as pesquisas que as fundadoras fizeram.

Fisioterapeuta de profissão, Monali Kamffer é agora uma fazedora por ter notado no decorrer da sua experiência profissional que muitos dos seus pacientes tinham lesões que se agravavam por falta de diagnóstico atempado ou simplesmente por falta de tratamento adequado. E foram essas duas lacunas que deram asas à sua imaginação, fazendo-a criar a Physio in a box.

Compreendendo que muitas pessoas não têm muito tempo nem dinheiro para despender em fisioterapia, a fundadora da Physio in a box decidiu educar em massa, com uma simples caixa, que será acompanhada por uma app que por sua vez ajudará cada pessoa lesionada a fazer o seu próprio diagnóstico, acompanhando-o em cada fase do processo.

É perfeito para desportistas mas também para qualquer um, pois todos estamos expostos a eventuais lesões. E imagine que se lesiona num local remoto? A empresa pretende alargar o projeto a muito mais zonas do corpo no futuro e, neste Web Summit, apostou em aumentar a visibilidade da marca, admitindo que os próximos passos são a expansão para o mercado europeu e norte-americano.

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Confiança da Fed não chega. Petróleo em “bear market” penaliza Wall Street

Os preços do petróleo estão a ser pressionados pelo aumento da oferta e já acumulam uma desvalorização superior a 20% desde o último máximo, atingido em outubro.

A Reserva Federal vê uma economia a crescer a “ritmo forte” e está preparada para aumentar os juros de forma gradual, mas a confiança do banco central não chegou para animar os mercados acionistas. As bolsas norte-americanas encerraram a sessão desta quinta-feira em queda, depois de o petróleo negociado em Nova Iorque ter entrado no chamado “bear market.

O índice de referência S&P 500 desvalorizou 0,25%, para os 2.806,84 pontos. Já o tecnológico Nasdaq recuou 0,53%, para os 7.530,88 pontos, enquanto o Dow Jones contrariou a tendência e manteve-se acima da linha de água, ao valorizar 0,04%, para os 26.191,42 pontos.

A penalizar os mercados esteve o setor energético, numa altura em que o preço do petróleo regista quebras expressivas. O barril de West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, desvalorizou perto de 1,8%, para a casa dos 60 dólares, e entrou em bear market, já que acumula uma desvalorização superior a 20% desde o último preço máximo, registado a 3 de outubro. Isto depois de ter sido avançado que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) terão aumentado a produção, agravando o desequilíbrio entre a procura e a oferta.

Este desempenho dos preços do petróleo levou o índice que reúne as maiores empresas do setor energético a desvalorizar mais de 2% nesta sessão, penalizando, por sua vez, as principais bolsas.

Os mercados seguiram, assim, indiferentes aos sinais positivos transmitidos esta quinta-feira pela Fed. A instituição liderada por Jerome Powell decidiu manter inalterada a taxa dos fundos federais, entre 2% e 2,25%, mas reforçou que as taxas de juro deverão aumentar de forma gradual, num ritmo que seja “consistente com a expansão sustentada da atividade económica”.

Para o banco central, “a atividade económica tem vindo a crescer a um ritmo forte”, ao mesmo tempo que o emprego regista uma evolução positiva. A Fed nota ainda que o desemprego caiu e os riscos parecem estar “mais ou menos equilibrados”.

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Fed mantém juros e defende aumentos graduais

No mês de dezembro poderá acontecer a quarta subida dos juros este ano, motivada pelo crescimento económico e pelo aumento dos salários.

O Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) da Fed manteve a taxa dos fundos federais inalterada, entre 2% e 2,25%. A decisão desta quinta-feira do banco central dos Estados Unidos da América (EUA) já era esperada pela maioria dos analistas e pelo mercado.

No mês de dezembro poderá acontecer a quarta subida dos juros este ano, motivada pelo crescimento económico e pelo aumento dos salários. Segundo a Reserva Federal, as taxas de juros deverão aumentar de maneira gradual, o que seria “consistente com a expansão sustentada da atividade económica”.

De acordo com o banco central dos EUA, “a atividade económica tem vindo a crescer a um ritmo forte”, escreve a agência Reuters (conteúdo em inglês, acesso livre). O emprego, da mesma forma, tem registado uma evolução positiva.

Em linhas gerais, o anúncio da Fed refletiu poucas mudanças nas perspetivas do banco dos EUA para a economia, desde a última reunião, em setembro. A inflação permaneceu perto da meta de 2%, o desemprego caiu e os riscos parecem estar “mais ou menos equilibrados”.

Depois de cerca de uma década sem mexer nos juros — que se mantiveram em mínimos históricos entre 0% e 0,25% — desde finais de 2015, a Fed já elevou oito vezes os juros. O primeiro aumento foi em dezembro desse ano, 25 pontos base.

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Pedro Castro Almeida passa a CEO do Santander Totta. Vieira Monteiro será chairman

Há mudanças na administração do Santander Totta, previstas para janeiro. Vieira Monteiro passa a chairman e Pedro Castro Almeida será o novo presidente executivo.

Pedro Castro Almeida, atualmente administrador executivo do Santander Totta, vai passar a presidente executivo do banco. O atual CEO, António Vieira Monteiro, passará a ocupar o cargo de chairman da instituição financeira. A informação, adiantada pelo Jornal Económico e Jornal de Negócios, consta de um comunicado interno que começou a circular esta quinta-feira, segundo confirmou o ECO.

Ao que o ECO apurou, a informação já foi comunicada ao Banco Central Europeu (BCE) e a administração do Santander Totta espera que, uma vez aprovadas pelos reguladores do setor financeiro, estas mudanças possam produzir efeitos a partir de janeiro de 2019.

Pedro Castro Almeida foi presidente do Santander Totta Seguros durante sete anos, entre 2005 e 2012. Desde 2007 que é membro do conselho de administração do banco. Atualmente, é responsável pela rede de empresas e negócio tradicional, bem como pela gestão de ativos e seguros.

António Vieira Monteiro abandona o cargo de presidente executivo, que assumiu em 2012, depois de dois mandatos à frente do Santander Totta.

Notícia atualizada às 20h03 com mais informações.

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REN vê lucros crescerem 2,3%. Portgás ajuda

A REN- Redes Energéticas Nacionais reportou lucros de 91 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Consolidação da Portgás impulsiona EBITDA.

A REN- Redes Energéticas Nacionais fechou os primeiros nove meses do ano com lucros de 90,9 milhões de euros, um crescimento de 2,3% face ao período homólogo do ano anterior, informou esta quinta-feira a empresa liderada por Rodrigo Costa, em comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A empresa assinala que apesar do resultado líquido ter beneficiado do sólido desempenho financeiro que melhorou 2,3% para -43,5 milhões de euros, beneficiando de um menor custo médio da dívida, foi penalizado pelo aumento das amortizações (13,4 milhões de euros com a integração da Portgás), e pela manutenção do imposto extraordinário do setor energético (25,4 milhões de euros em 2018 e 125 milhões em cinco anos). Excluindo os efeitos extraordinários, o resultado líquido recorrente foi de 112,5 milhões de euros.

O resultado bruto de exploração (EBITDA) aumentou 3,8% para os 378,4 milhões de euros, impulsionado pela consolidação da Portgás com um impacto de 31,8 milhões de euros e pelo aumento da contribuição dos custos operacionais (OPEX) cujo impacto foi de 8 milhões de euros e ainda pela venda do negócio de GPL à Energyco (4 milhões de euros).

A REN destaca ainda que “a Portgás contribuiu ainda para um aumento de 460,5 milhões de euros no RAB (base de ativos regulados) médio, que atingiu 3.835,2 milhões de euros, versus 3.462,5 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2017″.

Os custos operacionais (OPEX) aumentaram 14,9% para 91,5 milhões de euros, refletindo a operação de aquisição da Portgás. Excluindo esta operação, o OPEX teria diminuiu 4%.

A dívida líquida abateu 4,1% para os 2643,8 milhões de euros face a dezembro de 2017.

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Neste Web Summit, a tecnologia desceu um pouco mais à terra

Muita coisa se passou no setor desde a última edição do Web Summit, em 2017. Um ano depois, o evento ajudou o meio tecnológico a estar mais ciente de que também existem problemas na tecnologia.

Esta edição do Web Summit ajudou o meio tecnológico a descer um pouco à terra.David Fitzgerald/Web Summit via Sportsfile

Do que foi feito este Web Summit? No ano passado, a resposta foi “inteligência artificial”. E este ano? Após quatro dias de visitas a stands, de entrevistas a empreendedores e de intervenções de centenas de oradores, a ideia que ficou foi a de que o ecossistema está cada vez mais consciente de que é preciso ter mão nele. Não num sentido de travar a inovação mas de assegurar algum controlo para que esta se mantenha nos devidos eixos.

Muita água correu por debaixo da ponte desde a edição anterior do Web Summit, o que só prova o quão dinâmico pode ser o setor da tecnologia. Em 2017, por esta altura, o mundo delirava por criptomoedas, robôs e tecnologias preditivas que, com base em dados, sabem o que uma pessoa quer, mesmo antes de que ela própria. Mas, desde então, houve o ataque ao Facebook. O ataque ao Google+. E, pois claro, o escândalo da Cambridge Analytica.

Por isso, o mundo de hoje é diferente do de ontem. Muitos já torcem o nariz quando ouvem falar de produtos tecnológicos que usem os dados pessoais dos utilizadores para fazer negócio (uma dessas pessoas foi Tim Cook, presidente executivo da Apple). E isso notou-se bem neste Web Summit: não faltaram pedidos de regulação às redes sociais (nem mesmo um novo contrato), que estão a ser usadas lá fora por gente mal-intencionada para destabilizar eleições e minar a democracia. Ora, em contexto de redes sociais, a palavra “regulação” faz tremer qualquer gestor. Que o diga Mark Zuckerberg.

Um deles partiu de uma voz de peso. Raffi Krikorian, administrador tecnológico do Comité Nacional Democrata (DNC), não hesitou quando foi abordado no palco principal acerca dessa hipótese: “Sim, eu quero mais regulação às redes sociais”, atirou. Além disso, defendeu que o problema da propagação de informação nestas plataformas “não se resolve com algoritmos” mas com pessoas: “É preciso ter humanos a trabalhar neste problema. Temos de fazer com que se pareça mais com o mundo real.” Uma crítica clara a empresas como o Facebook e o Twitter.

Parece uma opinião pouco popular numa conferência de tecnologia, onde se criam aplicações para tudo e algoritmos para mais alguma coisa. Mas esta edição do Web Summit ajudou o meio tecnológico a descer um pouco à terra.

Esta foi a terceira edição do Web Summit em Lisboa. Inicialmente, o evento era organizado em Dublin.Web Summit/Flickr

De Sophia à Cambridge Analytica

Veja-se o exemplo da robô Sophia, que ficou famosa no ano passado e até já figurou nas televisões dos portugueses ao lado de Cristiano Ronaldo, numa campanha da Meo. Durante uma conferência de imprensa neste Web Summit, em que os jornalistas foram convidados a perguntarem coisas à Sophia, a demonstração correu bem pior do que o ano passado. Falando para a robô, um jornalista disse que já a tinha entrevistado no passado e perguntou-lhe: “Lembras-te de mim?”.

Poderiam ter acontecido duas coisas de seguida: a Sophia responder que sim, recordar momentos dessa entrevista e provar ser tão inteligente como tem sido pintada; ou, em contrapartida, mostrar que, muito provavelmente, ainda estamos longe da singularity. Pior: não só a robô não respondeu, como não respondeu à maioria das questões devido a “problemas técnicos”.

A Altice Portugal, dona da Meo, apressou-se a meter água na fervura: emitiu um comunicado onde indica que “a robô Sophia usa internet fixa” e o que aconteceu naquela conferência de imprensa foi “um problema de conexão do cabo de rede fixa ao computador portátil que opera o robô”.

Mas, se dúvidas restam de que este Web Summit ajudou o meio a descer à terra, importa referir que uma das apresentações que mais público atraiu ao palco principal foi a de Christopher Wylie, o antigo diretor de pesquisa da Cambridge Analytica. Trata-se do homem que denunciou à imprensa o roubo de dados pessoais de 87 milhões de utilizadores do Facebook para ajudar a eleger políticos — entre eles, Donald Trump, que é atualmente o Presidente dos Estados Unidos.

E o que disse? Numa referência a outro whistleblower (Edward Snowden), Christopher Wylie afirmou que o estratega de Trump, Steve Bannon, “estava a tentar criar a sua própria NSA” com recurso aos dados obtidos pela Cambridge Analytica. A NSA é a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, conhecida pelas práticas duvidosas de vigilância em massa da população, muito para lá das fronteiras norte-americanas.

Vale a pena terminar reiterando o ponto com que iniciámos este artigo: se tanta coisa mudou de 2017 a esta parte, o que será do mundo em 2019? O Brasil elegeu Jair Bolsonaro, após meses e meses de notícias falsas a circularem no WhatsApp, e vêm aí mais eleições — na Europa e mesmo em Portugal. A tecnologia continuará a ter um papel preponderante na sociedade e os reguladores vão ditar, nos próximos meses, se as grandes empresas tecnológicas vão continuar a engordar sem limites, ou se vão ter de puxar o travão à força. Ou se até os cidadãos — nós — seguiremos os desafios lançados pelo Presidente da República, nas suas notas finais no encerramento da conferência: usar a tecnologia ao serviço da liberdade, da tolerância e da paz.

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A tarde num minuto

Não teve tempo de ler as notícias esta tarde? Fizemos um best of das mais relevantes para que fique a par de tudo o que se passou, num minuto.

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Provisões para revisão dos CMEC penalizam contas da EDP. Lucro derrapa 74%

A elétrica constituiu uma provisão de 285 milhões de euros para fazer face à revisão dos CMEC que foi feita pelo Governo em agosto deste ano.

A EDP alcançou lucros de 297 milhões de euros no conjunto dos nove primeiros meses do ano, o que representa uma quebra de 74% face a igual período do ano passado. A penalizar as contas da elétrica está, sobretudo, a provisão de 285 milhões de euros que a empresa constituiu para fazer face à revisão dos custos de manutenção do equilíbrio contratual (os chamados CMEC), que foi feita pelo Governo no final de agosto deste ano e que já levou a EDP a rever em baixa as estimativas de resultados para 2018.

Os resultados foram comunicados, esta quinta-feira, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A justificar os resultados estão dois fatores extraordinários. Por um lado, os lucros dos primeiros nove meses do ano passado tinham sido impulsionados pela venda da Naturgas, um negócio que trouxe uma mais-valia de cerca de 560 milhões de euros para EDP.

Por outro lado, a revisão dos CMEC está a penalizar as contas da EDP. Em agosto passado, um despacho assinado pelo então secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, quantificou em 285 milhões de euros a alegada sobrecompensação da EDP quanto ao cálculo dos CMEC. O despacho prevê ainda a possibilidade de serem exigidos à EDP até 72,9 milhões de euros, relativos a uma alegada sobrecompensação das centrais a operar em regime de CMEC. A EDP constituiu, assim, provisões neste exato valor de 285 milhões de euros, ainda que mantenha a intenção de contestar em tribunal a decisão do Governo.

Excluindo estes efeitos recorrentes, o resultado líquido da EDP teria sido de 570 milhões no acumulado de janeiro a setembro, o que representaria uma subida de 2%. A contribuir para esta evolução esteve o crescimento da atividade no Brasil e a melhoria de mercado na Península Ibérica. Já as alterações regulatórias em Portugal e a performance da EDP Renováveis impediram ganhos mais expressivos, aponta a empresa.

O EBITDA (resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização) também registou uma quebra acentuada de 26%, totalizando 2,4 mil milhões de euros no final de setembro. Excluindo os efeitos não recorrentes, acrescenta a EDP, o EBITDA teria caído em 6% em termos homólogos, “totalmente em linha com o efeito cambial”.

Já a dívida líquida ascendia a 14,5 mil milhões de euros no final de setembro, valor que representa um aumento de 4% face aos 13,9 mil milhões que eram registados em dezembro do ano passado.

(Notícia atualizada pela última vez às 18h39 com mais informação).

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“Conseguimos” mas é preciso mais. Marcelo renova desafios no encerramento do Web Summit

Presidente da República voltou ao palco principal do Web Summit um ano depois com mais três desafios. "Conseguimos", disse Marcelo.

Marcelo Rebelo de Sousa na sessão de encerramento do Web Summit em 2018.Web Summit

E, um ano depois, o Presidente da República voltou a deixar três desafios no encerramento do palco principal do Web Summit. Se, na edição do ano passado, Marcelo dava nota de que o país merecia continuidade mas teria de trabalhar para manter o evento em Portugal, esta quinta-feira o Presidente da República direcionou o discurso para o poder da tecnologia quando bem usada.

“Como vamos ter o Web Summit por mais dez anos, temos de pensar no que queremos fazer. Proponho, como primeiro desafio, que todos os anos façamos melhor e diferente. Temos de criar aqui uma plataforma e não só um evento temporário de quatro dias”, alertou o Presidente da República.

O Chefe de Estado sublinhou, em segundo lugar, o papel que cada um dos 70 mil participantes do maior evento de tecnologia e empreendedorismo do mundo tem na sociedade que integra. “Cheguei agora de uma reunião com refugiados: não devemos esquecer-nos do resto da sociedade. Não devemos deixar ninguém para trás. A educação digital é uma coisa importante”, disse.

Em terceiro lugar e, de acordo com Marcelo, o desafio “mais complicado e importante”, passa por reforçar o digital como plataforma para o exercício da liberdade.

O digital é sobre liberdade, diálogo e tolerância. No resto do mundo vemos modelos de fechamento. O desafio é usar a tecnologia para a paz, para a tolerância. Essa é a mudança. Porque esta onda que está a atravessar o mundo é o oposto à revolução tecnológica. Temos de lutar pelos valores dos princípios da liberdade, para a paz. Essa é a mensagem. Têm de levar essa mensagem para o mundo, não guardem essa mensagem só para vocês. Ajudem a criar um melhor mundo”, disse o Presidente da República.

Marcelo Rebelo de Sousa fechou, com o seu discurso, o quarto e último dia de Web Summit. O evento regressa em 2019 para a quarta edição em Lisboa. Este ano, reuniu quase 70 mil participantes na capital portuguesa gerando, de acordo com o Turismo da cidade, um retorno de 300 milhões.

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“Não pedi a ninguém que registasse a minha presença no Parlamento”, garante José Silvano do PSD

José Silvano já reagiu à polémica sobre as presenças e faltas no Parlamento: “Quem não deve, não teme. Sou um homem honrado”, diz José Silvano, numa declaração à imprensa sem direito a perguntas.

José Silvano já reagiu à polémica sobre as presenças e faltas no Parlamento: “Quem não deve, não teme. Sou um homem honrado”, diz o deputado e secretário-geral do PSD, numa declaração à imprensa, sem direito a perguntas.

“Nunca ninguém me apontou qualquer irregularidade. Todos perceberão que sou o primeiro a querer ver esta questão rapidamente esclarecida. Não registei a minha presença, nem mandei ninguém registar. E sou eu próprio que reclamo publicamente que a PGR abra um processo de investigações se este processo não ficar esclarecido“, declarou o social-democrata.

O deputado adianta que nunca imaginou que este processo pudesse tomar a proporção que tomou e que atinge a sua honra.

Em causa está o facto de estar envolvido na polémica sobre falsas presenças em plenários do Parlamento. Segundo noticiou o Expresso, José Silvano, de acordo com o registo oficial das sessões plenárias da Assembleia da República, não tem qualquer falta nas 13 reuniões plenárias realizadas no mês de outubro, apesar de em pelo menos um dos dias ter estado ausente, conforme o próprio secretário-geral do PSD admitiu em declarações ao jornal.

Caso disso foi a tarde de 18 de outubro, dia em que o dirigente do PSD esteve no distrito de Vila Real ao lado de Rui Rio, cumprindo um programa de reuniões que teve início às 15h30 — a mesma hora do plenário. Contudo, alguém registou a sua presença logo no início da sessão plenária, quando passavam poucos minutos das três da tarde.

Além de as passwords não expirarem, os serviços da AR informaram que “a password do Senhor Deputado José Silvano terá sido utilizada por pessoa diferente do Senhor Deputado, enquanto este se encontrava ausente do Plenário”.

Também esta quarta-feira, dia 7 de novembro, o deputado assinou a folha de presença da comissão eventual para a Transparência, mas não assistiu à reunião. José Silvano chegou à hora do início da reunião, 14h00, assinou a lista de presenças e deixou a sala onde decorreu a reunião, que se prolongou até cerca das 16h00, sem sequer chegar a sentar-se, e não mais voltou.

Questionado pela Lusa e pela Sábado, nos corredores da Assembleia da República, sobre os motivos da sua ausência da reunião, Silvano disse apenas que esteve a fazer trabalho político, sem querer especificar qual. Instado a explicar como pode ter sido usada a sua password para registar presenças em plenário em dias anteriores em que esteve ausente, José Silvano considerou “não ter mais nada a explicar” e disse estar “de consciência tranquila e com energia para continuar”.

A Procuradoria-Geral da República já tinha anunciado que se encontra a analisar o caso, para decidir “se há algum procedimento a desencadear no âmbito das competências do Ministério Público”.

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Ivo Rosa permite que Sócrates guarde quadros apreendidos

As obras de arte apreendidas no âmbito da Operação Marquês poderão voltar ao ex-primeiro-ministro, segundo despacho de Ivo Rosa. Sócrates terá agora cinco dias para decidir se quer guardá-las.

José Sócrates poderá ter de volta as obras de arte que lhe foram apreendidas na altura da sua detenção, avaliadas em quase 200 mil euros, avança o jornal Observador. Ivo Rosa, juiz de instrução da Operação Marquês, deu permissão ao ex-primeiro-ministro para guardar os quadros na condição de fiel depositário, até ao final do processo, no despacho de abertura de instrução.

Foi o próprio Ministério Público que propôs devolver as obras, ainda antes de o processo ter sido sorteado para instrução. O procurador Rosário Teixeira pedia ao futuro juiz de instrução uma posição sobre o destino dos quadros, referindo que José Sócrates poderia ser fiel depositário, isto é, poderia guardar as obras até a decisão do processo.

Em torno das obras, que Sócrates alega não serem todas suas e que foram compradas por Carlos Santos Silva, também arguido do processo, falta perceber se foram adquiridas com dinheiro de contas da Suíça, cuja origem as autoridades acreditam serem de crimes de corrupção.

O ex-primeiro-ministro terá agora cinco dias para se pronunciar sobre se concorda ou não com a guarda das obras, depois de Ivo Rosa ter aceitado notificá-lo. O juiz também acedeu a outro pedido do Ministério Público, nomeadamente na recusa em arrolar o juiz Carlos Alexandre como testemunha, como pedido pelas defesas de Sócrates e de Armando Vara, no requerimento de abertura de instrução.

No despacho de abertura de instrução deste megaprocesso, o juiz marcou já as primeiras datas para ouvir as testemunhas. A primeira testemunha a ser ouvida será o arguido Armando Vara, arrolado como testemunha da própria filha que também é arguida no processo, Bárbara Vara, a 29 de novembro deste ano de 2018. As restantes inquirições estão marcadas para arrancar em janeiro do próximo ano.

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