Há menos vinho a ser produzido, mas qualidade é melhor. Empresas apostam nas vendas online

Do Douro ao Alentejo a produção de vinho oscilou ente as várias regiões. Se no Norte a produção poderá cair 20%, no Minho, Alentejo e Algarve a produção poderá aumentar entre 5% a 10%.

Apesar de o consumo de vinho até ter aumentado durante o Grande Confinamento, o setor vinhateiro foi, tal como a generalidade das áreas, afetado pela pandemia. A paragem da restauração fez cair as vendas, enquanto os produtores também foram obrigados a parar. Este ano, a produção de vinho em Portugal deverá diminuir cerca de 3%, mas nem todas as regiões terão quebras. E com o online e enoturismo a manterem as empresas à tona, a recuperação poderá trazer sucesso, incluindo vinhos de qualidade superior.

Os dados provisórios do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) indicam que Douro, Terras do Dão, Trás-os-Montes e Terras de Cister, serão as regiões mais afetadas, com reduções estimadas entre os 20 a 35% este ano, em comparação à campanha do ano passado. Por outro lado, Minho (+9%), Alentejo (+5%), Tejo (+5%) e Lisboa (+5%) poderão até apresentar subidas no volume, com aumentos previsíveis superiores a 45 mil hectolitros.

De Norte a Sul, cada região tem as suas particularidades. O terroir, a dispersão geográfica das vinhas, as diferentes castas, as condições meteorológicas ao longo do ciclo, a exposição solar e os tratamentos conduzem a situações muito díspares entre as diferentes regiões vitivinícolas e as perspetivas são divergentes.

“É um ano complicado para todos devido à situação que estamos a viver, o que teve reflexos grandes nas vendas e é transversal. 2019 foi uma colheita muito boa na região do Douro, mas para este ano prevê-se uma quebra de produção entre os 15 e 20% nessa região. O ano vitícola assim o ditou, foi um ano difícil, tivemos uma primavera com bastante chuva e temperaturas amenas e tivemos duas doenças que são as mais atípicas da região: o míldio e o oídio. Só aí há uma quebra”, explica ao ECO, Manuel Lobo, enólogo da Quinta do Crasto, localizada na margem direita do Rio Douro.

Em sentido contrário, a Quinta da Plansel e a Casa Santos Lima esperam um ano melhor, quer em produção, quer em volume de negócios. “Este ano vamos ter uma melhor colheita que o ano passado. As previsões é que a produção aumentará entre 5% a de 10% em comparação ao período homologo e a qualidade vai ser superior. Este ano vai ser fabuloso para a Quinta da Plansel”, destaca a enóloga e administradora da Quinta da Plansel, Dorina Lindemann.

Este ano prevê-se uma quebra de produção entre os 15 e 20% na região do Douro.

Manuel Lobo

Enólogo da Quinta do Crasto

Na Casa Santos Lima, o aumento de produção poderá ser até um pouco superior. “Se as condições se mantiverem favoráveis, prevemos aumentos de produção entre os 10% e 15% em todas as regiões, com exceção do Douro onde o aumento poderá não ser tão acentuado”, conta Vasco Martins, diretor financeiro da Casa Santos Lima, que que trabalha direta ou indiretamente nas regiões de Lisboa, Algarve, Alentejo, Douro e Vinhos Verdes.

À semelhança da Quinta da Plansel e da Casa Santos Lima, as Quintas de Melgaço, situada na região demarcada dos Vinhos Verdes, a produção de vinho também será superior. “Estima-se um acréscimo de produção entre 5% a 10% em relação ao ano anterior, conta ao ECO, o administrador delegado da Quintas de Melgaço, Pedro Soares.

Apesar de haver regiões a produzir mais, a previsão para o país é negativa

Fonte: Instituto da Vinha e do Vinho (IVV)

Vendas caem e empresas apostam no online para minimizar prejuízos

Com o país confinado durante quase dois meses, os restaurantes, hotéis, cafés e bares foram obrigados a fechar portas o que provocou perdas brutais no setor da restauração e consequentemente no consumo de vinho. “Na comercialização, o efeito do vírus teve maior impacto junto dos agentes económicos, nomeadamente naqueles que escoam a maioria da sua produção através do canal Horeca, que reduziu a atividade com o fecho dos restaurantes e hotéis”, constata o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho, Bernardo Gouvêa.

Um desses exemplos é as Quintas de Melgaço que depende especialmente do mercado nacional, uma vez que exportam apenas 10% da produção. “Temos uma presença bastante forte no Canal Horeca e sentimos bastante a quebra, principalmente no consumo no sul do pais. Em abril e maio tivemos uma quebra de vendas superiores a 20%”, refere o administrador das Quintas de Melgaço. Da mesma forma na Quinta do Crasto, ” a partir de março as vendas começaram a baixar, sendo que no mês de junho a quebra é de 19%”, conta o enólogo da Quinta do Crasto, Manuel Lobo.

Até para a Quinta da Plansel, que espera um “fabuloso 2020”, viu as suas vendas do Canal Horeca a “caíram drasticamente em abril”. “Foi o único mês que tivemos quebras de faturação, mas já conseguimos recuperar tudo através da exportação, garrafeiras, lojas online e pequenas superfícies”, diz

Temos uma presença bastante forte no Canal Horeca e sentimos bastante a quebra, principalmente no consumo no sul do pais.

Pedro Soares

Administrador das Quintas de Melgaço

“A Covid-19 afetou o setor de forma diferenciada. As empresas muito dependentes do canal Horeca atravessam um período difícil tanto pela quebras das vendas como pela dificuldade na cobrança. Por outro lado, as empresas, com clientes na distribuição moderna, como é o caso da Casa Santos Lima, beneficiaram de uma maior procura de vinho para consumo domestico. Nós nunca parou de produzir, não recorremos ao lay-off e contratamos inclusive novos colaboradores”, explica o diretor financeiro da Casa Santos Lima.

Com as superfícies fechadas e o risco de contaminação, os consumidores optaram pelas compras online e as marcas tiverem que readaptar-se à tendência. Para contornar a quebra no consumo muitas empresas direcionaram o seu esforço para as lojas online. “Alguns agentes económicos conseguiram aumentar as vendas no exterior e outros iniciaram ou expandiram as vendas online”, destaca Bernardo Gouvêa, presidente do IVV.

Para uns parte da recuperação passou pelo canal online, para outros pelo enoturismo, que é o caso das Quintas de Melgaço. “Apostamos fortemente no enoturismo e foi uma agradável surpresa, mais que os canais online. Foi a primeira vez que implementámos enoturismo nas Quintas de Melgaço, iniciamos em julho e está a ter um feedback muito bom”, destaca o administrador, Pedro Soares.

A pandemia da Covid-19 não afetou todas as empresas da mesma forma e a Carlos Santos Lima, tal como a Quinta da Plansel, foram exceção à regra. “Nos primeiros sete meses do ano aumentamos em 30% o volume de faturação, quando comparado com igual período o ano passado”, destaca com orgulho Vasco Martins, diretor financeiro da Casa Santos Lima. A Quinta da Plansel, também viu em junho o seu volume de negócios aumentar em comparação à faturação do último ano”, refere Dorina Lindemann.

“Estamos a respirar com mais facilidade”, suspira de alívio a administradora e enóloga quinta localizada em Montemor-o-Novo.

Em ano de pandemia, a qualidade será superior

Apesar do golpe na produção e nas vendas, nem tudo são más notícias. O número de produtos certificados também aumentou. A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, adiantou que “na região do Tejo os produtos certificados durante o primeiro semestre aumentaram 75%. Foram dez milhões de litros de vinho que foram certificados, isto demonstra um grande potencial de crescimento”, referiu a ministra em declarações à RTP, após uma visita a uma adega cooperativa na região do Tejo.

Para a ministra da Agricultura uma das prioridades é garantir que o preço da uva não baixe. “Quisemos garantir que o preço da uva não baixava e que os pequenos produtores iriam ter continuidade, tivemos especial atenção às adegas cooperativas que sabemos que são um motor muito importante de um setor que é determinante para a vitalidade do nosso país, sendo nós o nono país a nível mundial que mais exporta”, destaca Maria do Céu Antunes.

Feitas as contas a pequenos e grandes produtores nas várias regiões do país, a expetativa é que a produção global se situe em 6,3 milhões de hectolitros, segundo o Instituto da Vinha e do Vinho. Mas se a quantidade desce, a qualidade vai subir. “A qualidade, que se espera ser muito boa, também está associada às condições climáticas registadas este ano, que, apesar da sua instabilidade, permitiu às uvas apresentarem um bom estado fitossanitário e a que a chuva de agosto veio fazer ultrapassar alguma desidratação que já se observava, sendo ouro sobre azul para a sua maturação final”, explica ao ECO o presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), Bernardo Gouvêa.

O enólogo da Quinta do Crasto corrobora a ideia do presidente do IVV e destaca que os últimos dois meses foram muito quentes e secos e que “algumas videiras já estavam em stress hibrido e a necessitar de água”. Mas “como tivemos alguma chuva em agosto foi excelente, é um alento para as videiras começarem a retomar as energias necessárias para amadurecerem bem as uvas”, diz Manuel Lobo.

A qualidade, que se espera ser muito boa, também está associada às condições climáticas registadas este ano, que, apesar da sua instabilidade, permitiu às uvas apresentarem um bom estado fitossanitário.

Bernardo Gouvêa

Presidente do Instituto da Vinha e do Vinho

Face às condições climáticas favoráveis, a Quinta da Plansel e a Quinta do Crasto estão confiantes em relação à qualidade do vinho. “A qualidade vai ser superior. Este ano vai ser fabuloso para a Quinta da Plansel, refere com orgulho a enóloga e administradora. O enólogo da Quinta do Crasto confessa que a nível da qualidade “tem grandes expectativas que será um bom ano”.

Para a Casa Santos Lima, que emprega mais de 180 funcionários a tempo inteiro, a qualidade também será de “muito boa qualidade”. “O ano de 2019 foi uma colheita de muito boa qualidade, prevê um ano de 2020 de igual qualidade“, prevê o diretor financeiro. A administrador das Quintas de Melgaço corrobora a ideia do administrador da Casa Santos Lima e destaca que “a qualidade na região do Minho vai ser muito boa e será equivalente à do ano anterior”.

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