Matemática favorece coligação PSD/CDS, mas há dúvidas na frente política
O PSD decide esta terça-feira se alinha numa coligação pré-eleitoral com o CDS. A matemática dá razões para haver uma aliança, mas na frente política há dúvidas entre os especialistas.
O Conselho Nacional do PSD reúne-se esta terça-feira às 21h para decidir se o PSD vai apresentar-se às eleições de 30 de janeiro em coligação com o CDS: volta a famosa AD (Aliança Democrática) ou não? Rui Rio, que saiu reforçado da disputa com Paulo Rangel, já fez acordos com os centristas nas autárquicas e nos Açores, mas há divergências internas sobre se o deve fazer nas legislativas. Em termos matemáticos há vantagens, mas em termos políticos há dúvidas.
Este fim de semana Rui Rio confirmou que o PSD vai decidir esta terça-feira, mas não revelou para onde se inclina: “A minha opinião, se quero coligação ou não, dou-a na Comissão Nacional”, disse. Em cima da mesa estará não só a “eventual proposta sobre participação em coligação eleitoral de âmbito nacional”, segundo a convocatória da reunião, mas também a “proposta da Comissão Política Nacional sobre a lista de candidatos”, outro tema polémico por causa da divergência com as estruturais locais do partido pró-Rangel.
Mesmo essa discussão das listas — que têm de ser entregues a 20 de dezembro, mas devem ficar decididas até 17 de dezembro, dia em que arranca o Congresso do PSD — dependerá da decisão de entrar ou não numa coligação nacional com o CDS uma vez que se avançar terá de haver negociações sobre a ordem dos candidatos social-democratas e centristas nas listas. Sem dúvidas estão já os órgãos regionais dos dois partidos: tanto nos Açores como na Madeira os dois partidos irão coligados, sendo que no caso açoriano entra também o PPM, partido que está no Governo de José Manuel Bolieiro.
Do ponto de vista matemático, o método de Hondt, que converte votos em mandatos em cada círculo eleitoral, tendencialmente, favorece os partidos (ou coligações) maiores, logo o PSD e o CDS juntos conseguem traduzir mais votos em deputados eleitos do que separados. Os politólogos confirmam essa tese: “Há uma maior probabilidade de haver uma maior conversão de votos em mandatos“, nota André Freire, referindo que no sistema eleitoral português “juntar forças é uma vantagem“. Paula Espírito Santo corrobora, mas alerta que não se sabe atualmente qual é o peso do CDS.
Essa é uma das dúvidas que estará na cabeça dos conselheiros do PSD quando se pronunciarem sobre uma coligação pré-eleitoral. “No plano político, será mais vantajoso para o CDS do que para o PSD face aos valores atuais das sondagens“, diz a politóloga e professora do ISCSP, assinalando que a coligação protege o atual líder do CDS uma vez que “não se vai expor tanto à contagem de votos e ao peso efetivo do CDS”. Já o professor do ISCTE admite que esta aliança possa “virar-se contra o PSD dado que pode ser que CDS acrescente pouco”.
Por outro lado, além de “somar mais” pelo método de Hondt, uma coligação pré-eleitoral pode dar um “élan” à frente de direita contra o PS, ainda que Freire note que tal seria mais expressiva se incluísse a Iniciativa Liberal. Porém, reconhece que esta AD criaria uma “dinâmica e mobilização” à direita, dando um “sinal político de que é capaz de se entender”, ao contrário da esquerda (a crer pelo passado recente). Paula Espírito Santo antecipa que uma coligação PSD/CDS podia prevenir a dispersão de votos entre outras forças políticas como a Iniciativa Liberal e o Chega — com quem Rio nega fazer Governo — e traria um “reforço geral da direita”.
CDS está para o PSD como o PEV está para o PCP?
Apesar de esta coligação ser frequente, está longe de ser consensual nos dois partidos. Telmo Correia, líder parlamentar do CDS que é crítico do atual líder, disse que o partido arrisca-se a ser um “satélite” do PSD como o PEV é do PCP ao “mendigar uma coligação”. Na campanha das eleições internas, Paulo Rangel disse ter uma “posição de princípio” contrária à formação de coligações pré-eleitorais. Mesmo a comissão política nacional do PSD está maioritariamente contra, segundo o Observador.
Do lado de Francisco Rodrigues dos Santos, a abertura para uma coligação pré-eleitoral é maior. Na campanha autárquica, ainda antes de o Orçamento chumbar, tinha dito que esperava que os dois partidos pudessem “juntos ir embalados para derrotar o PS a nível nacional e dar uma governação de centro-direita”. O líder centrista chegou a ter marcado um encontro em outubro, logo após o chumbo do Orçamento, com Rui Rio — especulando-se sobre se iam falar da coligação pré-eleitoral –, mas este foi adiado.
Já Rio tinha dito, sobre uma potencial coligação com o CDS, que “tendencialmente estaria mais para sim do que para não”, mas este fim de semana fez declarações que podem sugerir o contrário. “Se nós formos disputar agora o eleitorado do CDS, do Chega e da IL [Iniciativa Liberal], ali estão meia dúzia de votos. Não sei como é que se ganham eleições com aquela meia dúzia de votos, ainda por cima correndo o risco de perder alguma coisa ao centro“, disse, dando como certa a aposta do PSD nos eleitores de centro para roubar votos ao PS.
No passado, a coligação entre os dois partidos foi a forma mais utilizada para a direita governar em Portugal, à exceção das maiorias absolutas de Cavaco Silva. Os exemplos mais recentes são as autárquicas, principalmente em Lisboa com Carlos Moedas (PSD/CDS/Aliança/MPT/PPM) e em Coimbra com José Manuel Silva (PSD/CDS/PPM/Aliança/RIR/Volt). Antes disso, nos Açores não houve uma coligação pré-eleitoral, mas avançou-se para um entendimento pós-eleitoral que agora leva os partidos a juntarem-se novamente para as legislativas.
A última coligação pré-eleitoral entre o PSD e CDS de âmbito nacional foi em 2015. Nessas legislativas, a coligação Portugal À Frente, após quatro anos de austeridade sob a intervenção da troika, conseguiu vencer as eleições com mais de 37% dos votos. Antes disso, para encontrar uma coligação pré-eleitoral nas legislativas é preciso recuar à criação da AD em 1979 com Francisco Sá Carneiro (PSD), Diogo Freitas do Amaral (CDS) e Gonçalo Ribeiro Telles (PPM). Nas europeias houve coligação pré-eleitoral em 2004 e 2014 (duas derrotas face ao PS).
Quanto a coligações pós-eleitorais, o PSD e o CDS uniram-se em 2002 para formar Governo sob a liderança de Durão Barroso e em 2011 com Pedro Passos Coelho. Salvo surpresas, face aos números atuais das sondagens, dificilmente bastará os votos do CDS para viabilizar um Governo do PSD no Parlamento, sendo necessários também os da Iniciativa Liberal e os do Chega, os dois partidos que entraram no hemiciclo em 2019 e que se prevê que cresçam.
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