O dia em direto nos mercados e na economia – 3 de fevereiro

  • ECO
  • 3 Fevereiro 2023

Ao longo desta sexta-feira, 3 de fevereiro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Comissão Europeia pressiona avanço do comboio rápido Portugal-Espanha

Dona da transportadora espanhola Iryo pretende fazer comboios rápidos entre Corunha e Lisboa e entre as capitais ibéricas. Foi selecionada entre dez projetos-pilotos transfronteiriços na Europa.

A Comissão Europeia quer que Portugal e Espanha estejam ligadas por comboios rápidos até ao final desta década. Os dois países ibéricos integram um dos dez projetos-piloto de ligações transfronteiriças selecionados esta semana pela Direção-Geral da Mobilidade e dos Transportes (DG-Move). Para pôr pressão, foi selecionado um projecto-piloto para a ligação ferroviária entre Lisboa e Madrid e entre Lisboa e a cidade da Corunha.

A proposta ferroviária para a Península Ibérica foi apresentada pela empresa Ilsa, que opera comboios de alta velocidade em Espanha através da marca Iryo. A empresa conta com três acionistas: a companhia ferroviária estatal Trenitalia (45%) e as empresas privadas espanholas Air Nostrum (31%) e Globalvia (24%).

Na ordem dos projetos, a iniciativa da Iryo está em nono lugar, sem data concreta. Contudo, todas as propostas têm de ser postas em marcha até dezembro de 2029, indicou ao ECO fonte comunitária. Em Espanha, os comboios da Iryo funcionam apenas em linhas de alta velocidade de bitola europeia e podem atingir uma velocidade máxima de 360 km/hora.

Exemplo de comboio da Iryo em Espanha.

A empresa, para já, não revela que comboios poderá pôr a circular entre Portugal e Espanha, onde as ligações de alta velocidade serão construídas em bitola ibérica. A situação pode ser resolvida com a compra de material circulante com eixos telescópicos — para funcionar nos dois tipos de linhas — ou então exclusivamente na medida dos carris ibéricos.

Para apoiar os projetos, a Comissão Europeia vai “facilitar a coordenação e os contactos, ajudar a clarificar a compatibilidade das iniciativas com a legislação da União Europeia, ajudar a identificar ferramentas que podem favorecer o projeto-piloto” e ainda “promover o projeto-piloto”, detalha fonte comunitária.

A Iryo “agradece o apoio da Comissão Europeia”, que “é muito importante para permitir a viabilidade dos serviços e ultrapassar os atuais obstáculos”, refere ao ECO fonte oficial da empresa hispano-italiana. Entre as dificuldades identificadas, destaque para a necessidade de Portugal e Espanha apresentarem um “projeto conjunto de desenvolvimento das infraestruturas”. A empresa também espera que o projeto “ajude a promover a verdadeira liberalização do mercado ferroviário português”, com a “entrada de novos operadores”, que poderá proporcionar “ganhos para os passageiros”.

A transportadora privada recorda ainda que, em agosto de 2022, aderiu à plataforma Corredor Sudoeste Ibérico, que defende a criação de um comboio de alta velocidade entre Lisboa e Madrid a partir de 2028.

Portugal focado no Eixo Atlântico

O Governo português tem focado as apresentações da alta velocidade no Eixo Atlântico, através da construção das linhas Porto-Lisboa e Porto-Vigo. O plano atual prevê a construção da nova linha Porto-Lisboa em duas fases. A fase 1, entre Porto e Soure, vai custar 2,95 mil milhões de euros, dos quais mil milhões serão provenientes de fundos europeus. Esta fase será dividida em duas: Porto-Aveiro (Oiã), por 1,65 mil milhões de euros; e Aveiro-Soure, por 1,3 mil milhões de euros. As obras começam em 2024 e deverão ficar concluídas no final de 2028, permitindo comboios Lisboa-Porto em 1h59, sem paragens.

Na fase 2, entre Soure e Carregado, as obras deverão começar em 2026 e acabar e 2030. Depois dos trabalhos concluídos, será possível viajar entre Lisboa e Porto em uma hora e 19 minutos (sem paragens).

Calendário do projeto da nova linha Porto-Lisboa, nas fases 1 e 2.

Na fase 3, depois de 2030, será feita a ligação entre Carregado e Lisboa. Quando esta fase estiver concluída, a viagem Porto-Lisboa de comboio irá demorar uma hora e 15 minutos

Também até 2030 pretende-se construir um novo troço entre Braga e Valença, sem paragens intermédias. O custo desta obra é de 1,25 mil milhões de euros e ainda depende das obras do lado de Espanha, sobretudo da saída sul da estação de Vigo. A deslocação entre Porto e Vigo passa a durar uma hora, reduzindo em mais de uma hora o tempo atual de viagem.

Depois de 2030, o Governo pretende construir a ligação ferroviária entre o aeroporto Sá Carneiro e a estação de Nine, no valor de 350 milhões de euros. Nessa altura, o comboio entre Porto e Vigo passará a demorar apenas 48 minutos. A ligação entre Porto e Corunha poderá ser feita em duas horas e 23 minutos.

Tempos de percurso entre Aeroporto Sá Carneiro e outros destinos antes e depois da nova linha Lisboa-Porto-Vigo.

Quanto à ligação Lisboa-Madrid, o único troço de alta velocidade do lado português terá 90 quilómetros, entre Évora e Elvas, e ficará pronto entre o final de 2023 e o início de 2024; do lado espanhol apenas está pronto um troço de 150 quilómetros entre Badajoz e Plasencia – embora sem eletrificação. Em 2024, o melhor tempo de viagem entre Lisboa e Madrid será de cinco horas e 30 minutos, mais lento do que o carro e o avião. Por causa disto, as ordens dos Economistas e dos Engenheiros vieram questionar os planos para a ligação sobre carris entre as duas capitais ibéricas.

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Um raio-x ao setor da Educação em seis gráficos

Do Orçamento na Educação ao número de professores reformados, passando pelo ensino público e privado, o ECO preparou um raio-X ao setor, tendo por base seis indicadores. 

A Educação tem estado no “olho do furacão” numa altura em que Governo e sindicatos discutem o modelo de colocação e vinculação dos professores e que as greves e os protestos se acumulam. Do Orçamento na Educação ao número de professores reformados, o ECO preparou um raio-X ao setor, tendo por base seis indicadores.

Orçamento da Educação aumentou, em média, quase 4% por ano desde 2015

O Orçamento do Estado (OE) para a Educação previsto para 2023 ascende a 6.933,3 milhões de euros, a que acrescem 1.019,6 milhões de euros para o fundo de descentralização. Contas feitas, o valor ascende a 7.952,9 milhões de euros. Desde 2015, ano em que António Costa assumiu as rédeas do Governo, o OE para a Educação beneficia de uma subida acumulada de 36% “em termos de despesa total e 44% em termos de despesa efetiva”, segundo consta na nota explicativa que acompanhou o relatório do OE2023. Nos últimos oito anos, o Orçamento para a Educação aumentou, em média, 3,9% por ano.

Fonte: Nota explicativa do OE2023

 

Média de entrada para Educação Básica é baixa e vagas não são preenchidas na totalidade

A pouca atratividade na carreira docente tem levado cada vez menos jovens a ingressarem por esta atividade profissional. Para se ser professor no pré-escolar, ensino básico e secundário é necessário ter, em determinadas especialidades, o mestrado. Os mestrados nas especialidades de educação pré-Escolar e de ensino do 1.º ciclo do ensino básico têm como requisito de ingresso a licenciatura em Educação Básica.

Em 2021, último ano em que há dados disponíveis, a nota mínima para entrar em educação básica foi de 10,74 valores, uma ligeira subida face aos 9,85 valores do ano anterior. Já a nota máxima foi de 15,75 valores (contra os 14,52 valores em 2020), segundo os dados disponibilizados pelo relatório do Conselho Nacional de Educação (CNE), divulgado na semana passada. Se olharmos apenas para as classificações mínimas de entrada no curso de educação básica desde 2012, é possível constatar que houve pelo menos dois anos em que a nota mínima foi de 9,5 valores e apenas três vezes superou os 10 valores (em 2014, 2018 e 2021).

Fonte: CNE (Escala de 0-20 valores)

Em 2021, houve 840 vagas para ingressar no curso de educação básica, isto é, menos 28 do que em 2020. No ano de análise foram colocados 788 alunos, dos quais 638 na 1.ª fase de concurso nacional, 140 na 2.ª fase e 10 na 3.ª fase. Contas feitas, ficaram 52 vagas por preencher.

No que toca à primeira fase de concurso, as mulheres representavam a quase totalidade dos candidatos (93,7%) e os homens 6,3%. Dos 638 colocados na 1.ª fase, cerca de um quarto (25,4%) tinha 14 valores como nota de entrada, 22,4% tinha uma classificação de 15 valores e 17,4% uma classificação de 13 valores.

Por cada 100 professores no público há 15 no privado

O envelhecimento da classe docente e a pouca atratividade na carreira está a acentuar o problema de falta de professores em Portugal. No ano letivo 2020/2021 havia 17.064 professores do pré-escolar (9.919 no ensino público e 7.145 no ensino privado), 30.986 professores no 1.º ciclo (27.491 no público e 3.495 no privado), 23.554 professores no 2.º ciclo (21.215 no público e 2.339 no privado) e 78.523 ensino secundário (71.892 no público e 6.631 no privado). Contas feitas, nesse ano havia mais de 130 mil professores a lecionar no ensino público e mais de 19 mil no ensino privado. Ou seja, por cada 100 professores no público há 15 no privado.

Na última década, o número de professores do pré-escolar e dos ensinos básico e secundário diminuiu até ao ano letivo 2015/16, observando-se, a partir daí um aumento do número de docentes no ensino público (ainda que com algumas oscilações nos 1.º e 2.º ciclos). Já no ensino privado, a quebra ocorreu até 2017/18, existindo a partir desse ano letivo um aumento, exceto no 2º e 3º ciclos e ensino secundário.

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Ainda assim, quando se compara o número de professores do 2.º ciclo e do ensino secundário no ano letivo de 2020/21 com o número de docentes nesses mesmos níveis de ensino no ano letivo 2011/2012, a quebra de docentes é notória, quer no ensino público, quer no privado: menos 7.204 professores a lecionar no 2.º ciclo e menos 572 no ensino privado; menos 3.561 docentes a lecionar no ensino secundário no ensino público e menos 1.441 no privado.

Por regiões, a região Norte é onde se concentram o maior número de professores, o que se justifica com o facto de esta região ter também o maior número de estabelecimentos de ensino e de alunos. Nesta região, 5.673 dão aulas ao pré-escolar (dos quais 3.590 no público e 2.083 no privado), 10.214 ao 1.º ciclo (9.325 no público e 889 no privado), 7.912 no 2.º ciclo (7.224 no público e 688 no privado) e 26.795 ao ensino secundário (24.439 no público e 2.356 no privado). Contas feitas, no ano letivo 2020/21 havia 44.578 professores dar aulas em escolas públicas no Norte e 6.016 em colégios privados.

No que toca especificamente ao ensino público, depois do Norte, segue-se a Área Metropolitana de Lisboa (AML) e o Centro, onde se excetua o pré-escolar, dado que o Centro ultrapassa a AML neste âmbito. Já no ensino privado, é na AML que se observa o maior número de professores em todos os níveis e ciclos de ensino, seguida pelo Norte e Centro.

Número de professores ainda abaixo de 2018/2019

De acordo com as regras em vigor, qualquer professor que celebre três contratos anuais (de setembro a agosto), com horário completo (22 horas letivas) e sem interrupções, tem direito a vinculação, isto apesar de em Portugal demorar, em média, 16 anos a entrar nos quadros. Esta “norma-travão” era anteriormente de cinco anos, sendo que com esta alteração houve 14.500 docentes a entrar para os quadros nos últimos sete anos.

Este é um dos principais pontos de contestação por parte dos sindicatos dos professores, que apontam que há atualmente mais de 20 mil professores contratados a lecionar em escolas públicas. Inicialmente, o Ministério da Educação tinha proposto vincular todos os professores que já acumularam 1.095 dias de serviço (ponderados em equivalente a tempo integral) e que tivessem um horário completo este ano letivo, mas na última reunião foi mais longe e deixou cair a obrigatoriedade de terem um horário completo.

Por outro lado, para aqueles que não têm horário completo, o Governo propôs avançar com um processo de vinculação dinâmica, permitindo a que os docentes entrem para os quadros à medida que obtêm um horário completo.

Fonte: Nota explicativa do OE2023

O número de professores vinculados subiu até 2018/19, ano letivo em que atingiu os 3.477 docentes vinculados, de acordo com a nota explicativa que acompanhou o relatório do Orçamento do Estado para 2023. Depois disso, nos primeiros anos de pandemia houve uma quebra significativa (566 docentes vinculados no ano letivo 2019/2020 e 898 no ano letivo 2020/2021). Já para este ano (sem ter em conta a nova proposta), o Governo estimava vincular 3.287 professores, um valor ainda abaixo do ano letivo 2018/2019 (menos 190). De sublinhar que se a proposta do Ministério da Educação avançar, este ano letivo o Executivo irá vincular um número mais de três vezes superior ao estimado.

Só 17% dos docentes estão no topo da carreira

A carreira de docente tem dez escalões, com uma duração média de quatro anos cada um (exceto o quinto escalão, que tem a duração de dois anos). Para efeitos de progressão entre escalões, os professores têm de cumprir três requisitos: tempo de serviço nesse escalão, um conjunto de horas de formação e uma avaliação mínima de “Bom”.

Mas só 25% de todos os professores avaliados em cada escola podem ter “Muito Bom” ou “Excelente”, independentemente do escalão. Este modelo de avaliação de professores já foi criticado pela OCDE por contar apenas para a progressão na carreira, não contribuindo para a melhoria do sistema de ensino, segundo a organização. Esta é, aliás, a base de uma das reivindicações dos sindicatos dos professores, que pedem o fim das quotas na avaliação.

Fonte: CNE

Os professores do ensino público precisam, em média, de ter cerca de 39 anos de serviço e 62 anos de idade, para atingir o 10,º escalão, isto é o topo da carreira, e onde a remuneração média mensal bruta é de 3.473,19 euros. Os dados indicam ainda que os professores no 1.º escalão têm, em média, 47 anos de idade e 16 anos de serviço.

No ano letivo 2021/2022, havia apenas 0,1% dos professores no 1.º escalão, sendo que no último estavam 17% dos docentes, de acordo com o relatório do CNE. Mas a percentagem mais elevada encontra-se no 4.º escalão: havendo cerca de um quarto dos professores (25,4%) neste patamar. Já no 5.º escalão encontram-se apenas 6,3% dos professores. No 6.º escalão estão 15,3% dos professores, enquanto no 7.º escalão essa percentagem cai para 9,2%. De sublinhar que esse fosso deve-se, em parte, ao facto de haver quotas e vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões.

De acordo com o último relatório Education at a Glance 2022, da OCDE, “os professores portugueses são dos que precisam de mais anos de serviço para atingir o topo da carreira. Portugal é também um dos países onde o salário de início de carreira, dos professores do 3º ciclo do ensino básico e ensino secundário, é inferior à média da OCDE e o salário de topo é superior à média”, indica ainda o relatório.

Em sete anos, número de professores reformados quase triplicou

O envelhecimento da classe docente e a pouca atratividade na carreira está a acentuar o problema de falta de professores em Portugal. Após um decréscimo acentuado, na sequência da alteração das condições de aposentação, o número de professores reformados tem vindo a aumentar nos últimos sete anos (desde 2015/16). Em 2021/22 (último ano em que há dados disponíveis) houve, pelo menos, 1.847 professores a pedirem a reforma, contudo, este número deverá ser superior já que inclui apenas os que viram a sua situação publicada em Diário da República até 31 de agosto de 2022. Ainda assim é quase o triplo do número de professores que se reformaram no primeiro ano de governo de António Costa, em 2015/2016.

Fonte: CNE

E se a Norte é a região com o maior número de professores também lidera no número de professores reformados: foram 6.398 nos últimos 10 anos. Segue-se Lisboa (4.847), a região Centro (4.379), o Alentejo (1.091) e o Algarve (697). Já a análise por grupos de recrutamento revela que o maior número de aposentações ocorreu no 1.º ciclo do ensino básico, seguida pelos professores de Educação Visual e Tecnológica e por Matemática e Ciências da Natureza.

Os dados indicam que mais de um quinto (22%) dos professores do ensino público no Continente têm 60 ou mais anos, pelo que o CNE alerta que “isto significa que nos próximos seis ou sete anos estes docentes poderão sair do sistema educativo”, o que vai acentuar a falta de professores.

(Se está a aceder a este artigo através das apps clique aqui para ver os gráficos)

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Preços das casas desaceleram em metade das maiores cidades do país

No terceiro trimestre de 2022, houve uma desaceleração dos preços da habitação em 12 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes. Guimarães e Porto com maiores travões.

No terceiro trimestre de 2022, os preços das casas subiram 13,5%, mas observou-se uma desaceleração, já que a subida tinha sido de 17,8% no trimestre anterior. Esta tendência de abrandamento estendeu-se a metade dos municípios com mais de 100 mil habitantes. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), foi em Guimarães e Porto onde os preços mais desaceleraram. Lisboa assistiu a uma “ligeira aceleração”.

Entre julho e setembro do ano passado, o preço mediano de alojamentos familiares em Portugal subiu 13,5% para 1.492 euros por metro quadrado. Mas esta subida representa um abrandamento, já que no trimestre anterior o aumento tinha sido de 17,8%, refere o INE.

No mesmo período, houve uma desaceleração dos preços da habitação em 12 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes (sete no segundo trimestre de 2022). Aqui, destacam-se com decréscimos mais acentuados que o registado no país (-4,3 pontos percentuais) Guimarães (-8,3 p.p.), onde o metro quadrado (1.115 euros) passou de uma subida de 10,9% no segundo trimestre para 2,6% no terceiro.

Atrás surge o Porto, com uma desaceleração de 6,5 pontos percentuais. O metro quadrado, que está atualmente nos 2.603 euros, subiu 12% no terceiro trimestre, depois de ter subido 18,5% no segundo.

Em Leiria (-4,6 pontos percentuais), o metro quadrado passou de um aumento de 23% para 18,4%, estando atualmente nos 1.294 euros; e Loures, com a mesma desaceleração, passou de uma subida de 16% para uma subida de 11,4% no terceiro trimestre. O metro quadrado custa 2.273 euros.

Destaque ainda para Braga, cujo metro quadrado custa 1.348 euros. Depois de uma subida de 17,5% no segundo trimestre, deu-se uma desaceleração para 13,1% (-4,4 pontos percentuais) no terceiro trimestre.

Já no sentido oposto, houve um aumento da taxa de variação homóloga entre o segundo e o terceiro trimestre em 11 municípios, evidenciando-se a Maia, onde os preços aceleraram 12,7 pontos percentuais — passaram de um aumento de 13,4% para 26,1% no terceiro trimestre — para 1.689 euros o metro quadrado. Em Matosinhos a aceleração foi de 12,1 pontos percentuais — aumento de 9,8% para 21,9% — com o metro quadrado nos 2.258 euros.

Em Lisboa registou-se uma ligeira aceleração (+0,7 pontos percentuais). O metro quadrado está atualmente nos 3.882 euros, tendo passado de um aumento de 7,6% no segundo trimestre para uma subida de 8,3% no terceiro trimestre.

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Ordens Profissionais. Constitucionalistas e Ordens concordam com decisão de Marcelo

Marcelo enviou para o Constitucional para fiscalização preventiva o decreto relativo às associações públicas profissionais. Constitucionalistas e Ordem concordam com decisão do Chefe de Estado.

Marcelo Rebelo de Sousa enviou, na quarta-feira, para o Tribunal Constitucional (TC) um pedido de fiscalização preventiva da Lei das Associações Públicas, aprovada a 22 de dezembro pela Assembleia da República. No requerimento, o Chefe de Estado despiu, por alguns momentos, a pele de Presidente da República que deu lugar ao constitucionalista e professor de direito que é e avisou os juízes do Palácio Ratton, ao referir uma provável violação dos princípios da igualdade, da proporcionalidade, da autorregulação e da democraticidade das associações profissionais – todos previstos na Constituição da República Portuguesa (CRP).

Marcelo enviou o diploma cinco dias depois de o ter recebido do Parlamento. Agora, o TC tem 25 dias, que terminam a 27 de fevereiro, para se pronunciar sobre este pedido.

Marcelo Rebelo de Sousa relembrou que o regime das associações públicas profissionais é “muito próprio”, sublinhando a existência do princípio da autorregulação das associações profissionais que devem reger-se por “princípios democráticos internos, dotados de órgãos próprios e eleitos pelos seus associados”. Relembra ainda o artigo 267º da CRP que define que “as associações públicas só podem ser constituídas para satisfação de necessidades específicas e que não podem ser constituídas como sindicatos” e ainda o artigo 165º, 1, alínea s) — que não é de todo uma questão menor — e que estipula a reserva relativa que a Assembleia da República tem em matérias de associações públicas. E invoca ainda o artigo 47º que estipula a liberdade de todos no acesso à profissão. Por isso, e mantendo a tónica sempre no princípio da autorregulação, a criação de um órgão de supervisão, de um provedor, de um órgão disciplinar e de um júri para avaliação no estágio, todos eles com entidades externas à profissão, “violam esse mesmo princípio”.

Bem como a criação de um regime de incompatibilidades absolutas relativamente ao exercício de funções dirigentes na função pública, deixando de lado o regime de avaliar essas incompatibilidades em cada caso concreto, que viola o princípio da proporcionalidade, ao criar-se esta “restrição desproporcionada”. Marcelo vai mais longe ao dar o exemplo de um diretor de serviço de um hospital público do SNS ficar impedido de ter funções em órgãos diretivos na Ordem dos Médicos. O que não acontece com um médico do serviço de um hospital privado, violando assim também o princípio da igualdade.

Decisão e argumentação que já lhe valeram muitos elogios, quer da parte das Ordens Profissionais, quer da parte de dois juristas contactados pelo ECO.

Jorge Bacelar Gouveia, constitucionalista, defende que, “do ponto de vista jurídico, além da contradição de haver uma lei que protege uma profissão permitir que a mesma se “misture” com outras profissões, sendo certo que a Lei-Quadro, prevista na CRP, só se justifica na defesa dos seus interesses próprios, há uma óbvia inconstitucionalidade na desfiguração da especialização funcional da advocacia com a criação de sociedades multidisciplinares que até podem ser geridas por pessoas externas a tais profissões. Não se esqueça também que o seu estatuto de agente da justiça está previsto no art. 208º da CRP, este conferindo-lhe imunidades e garantias próprias de substancialidade profissional como se deve lembrar finalmente que aquelas soluções suscitam dúvidas de constitucionalidade se se considerar o direito à escolha de profissão – e o seu subsequente exercício com uma identidade funcional – que está previsto no art. 47º, nº 1, da CRP, sendo mesmo um crime constante no Código Penal a usurpação de funções”.

José Luís Moreira da Silva, presidente da Associação das Sociedades de Advogados em Portugal (ASAP) e sócio da SRS Legal, congratula-se com a decisão do Chefe de Estado e admite que esta nova lei “pode pôr em causa as imunidades dos advogados, na medida em que o poder disciplinar deixa de estar auto-regulado e passa a ser hétero-regulado, por a maioria dos membros que exercem a função disciplinar dos advogados não são advogados”. O advogado sustenta ainda que a inconstitucionalidade pode ser, ao invés, também ser sustentada pela “eventual não conformidade com o artigo 267.º, n.º 4 da Constituição em que as associações públicas só podem ser constituídas para a satisfação de necessidades específicas, não podem exercer funções próprias das associações sindicais e têm organização interna baseada no respeito dos direitos dos seus membros e na formação democrática dos seus órgãos”. O advogado relembra que esta norma, introduzida em 1997, na altura em que Moreira da Silva fazia parte da Comissão de revisão constitucional e que aprovou esta mesma regra, “vem garantir o respeito pela auto-organização das associações publicas, incluindo as profissionais, o que poderá estar posto em causa pela nova lei, ao impor membros não eleitos pelos profissionais de cada Ordem, que têm de escolher membros fora da classe profissional. Tenho muitas dúvidas se não se esta a violar esta norma da Constituição, ao poder por em causa o respeito dos membros e a formação democrática dos órgãos”.

E o que dizem as Ordens Profissionais?

O diploma já nasceu torto, com praticamente todas as Ordens Profissionais a mostrarem-se frontalmente contra esta proposta que nasceu do PS e do PAN, aprovado em votação final global com votos favoráveis de PS, Iniciativa Liberal e PAN e votos contra de PSD, Chega e PCP e abstenções de BE e Livre. Segundo dados do Conselho Nacional das Ordens Profissionais (CNOP), existem atualmente em Portugal 20 ordens profissionais, tendo as duas últimas sido criadas em 2019, a Ordem dos Fisioterapeutas e a Ordem das Assistentes Sociais. Estas ordens regulam a atividade de mais de 430 mil profissionais.

Ao ECO, já depois do envio do diploma para o TC, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, considerou esta decisão de Marcelo de positiva e acrescenta: “Tal como a Ordem dos Médicos já tinha referido e alertado, o diploma apresentado pela AR não respeita a essência das associações públicas profissionais no âmbito da auto-regulação e ultrapassa limites em questões fundamentais que não são aceitáveis”.

A recem eleita bastonária dos Advogados, Fernanda de Almeida Pinheiro, relembrou que “o Conselho Nacional das Ordens Profissionais fez chegar ao PR as suas preocupações com as alterações que se pretendem implementar com a Lei das Associações Públicas Profissionais. E, aparentemente o senhor Presidente foi sensível aos argumentos e agora esperamos que o TC se pronuncie de forma favorável às pretensões apresentadas. A OA acredita que as questões da autorregulação, da multidisciplinariedade e da forma de remuneração dos estágios, entre outras, têm que ser necessariamente alteradas, sob pena de uma ingerência inadmissível do poder político na gestão das ordens públicas profissionais”, disse a também advogada.

Ana Rita Cavaco, bastonária dos Enfermeiros, defende que a posição da Ordem está nos pontos, precisamente, em que o PR também teve dúvidas. “Quando fomos ouvidos na AR, focamo-nos muito nesses pontos até porque a Ordem dos Enfermeiros não tem nenhuma barreira de acesso à profissão. Isso de facto foi o que Bruxelas chamou a atenção relativamente ao que poderia ser um entrave e que não deveria existir nas Ordens profissionais. O que achamos que aconteceu é que o Governo usou as barreiras de acesso e essas recomendações e aproveitou para ir muito mais longe e pôr o pé em cima das Ordens profissionais, sobretudo como a nossa que é incómoda”.

A bastonária defende que este diploma “é uma tentativa de controlar a liberdade das Ordens ao introduzir comissários políticos que serão pagos pelos profissionais, já que não temos dinheiro do erário público. Marcelo rebelo de Sousa fez bem em enviar o diploma para o TC, já que este é mais um ataque à democracia e à forma dos profissionais se poderem regular livremente. Não esquecer que fazemos um trabalho essencial na parte disciplinar e que outros não podem fazer. Como é que um advogado ou assistente social vai avaliar a boa ou má prática profissional de um enfermeiro?”.

Também a Ordem dos Farmacêuticos congratulou-se com a decisão do Presidente da Republica. “Espero que esta medida permita criar as condições para que possa haver alterações significativas à lei no sentido de eliminar o espírito intrusivo e controlador dos orgãos de regulação da profissões. Esta nova lei deve resultar numa melhoria para a sociedade e não é claramente o que resulta da versão da lei que foi aprovada”, disse o bastonário, Helder Mota Filipe.

Já o Conselho Nacional das Ordens Profissionais (CNOP) — que agrega todas as Ordens Profissionais do país — logo na altura da aprovação do diploma, criticou a manutenção de “aspetos não coerentes”, como o órgão de supervisão. O presidente do CNOP, António Mendonça — também ele bastonário da Ordem dos Economistas — referiu que a principal atribuição das ordens ser a defesa dos interesses gerais dos destinatários dos serviços acabou diluída no projeto de revisão apresentado pelo PS.

“Era crítico manter-se essa atribuição das ordens exatamente para reforçar que estas não são meros organismos de defesa corporativa dos interesses dos seus membros, como alguns agentes políticos pretendem incutir na opinião pública”, indica o memorando.

“Daí se impor, nesse texto final neste dia aprovado, que o órgão de supervisão tenha uma maioria de membros não pertencentes à ordem, que o Provedor dos Destinatários dos Serviços, obrigatoriamente remunerado quando o não são a esmagadora maioria dos outros titulares de órgãos sociais, também não seja membro da ordem, que o Conselho Disciplinar, órgão encarregado de apreciar a adequação de práticas profissionais, integre membros que, por não serem membros da ordem, não exercem a profissão, que os júris de exame de estágios profissionais, integrem vogais desligados do exercício da profissão por não serem, necessariamente, membros da ordem”, indica a CNOP.

Outra das reivindicações do CNOP e que foram atendidas neste texto final – adianta o documento – foi “a de não se impor um longo período de nojo a dirigentes sindicais para poderem exercer cargos nas ordens, mas, contraditoriamente, mantém-se, nesse mesmo texto final, como sendo uma incompatibilidade para o exercício desses mesmos cargos associativos o desempenho de quaisquer funções dirigentes na função pública, quando, em algumas ordens, por exemplo as da saúde, elevado número dos seus membros exercem funções dirigentes nas unidades de saúde do SNS”.

O caso “da existência de um órgão de supervisão, quando a atividade das ordens é escrutinada por uma miríade de entidades, desde logo o Governo que sobre elas exerce uma tutela inspetiva” é um dos aspetos considerados negativos.

“A obrigatória adoção de soluções organizativas únicas, como se todas as vinte ordens existentes fossem idênticas na sua dimensão e no contexto em que se inserem, a rigidez de soluções normativas que desnecessariamente coartam a possibilidade da Assembleia da República, quando chamada a aprovar as alterações aos estatutos dessas mesmas 20 ordens, poder encontrar as soluções mais adequadas e especificas para cada uma dessas associações públicas”, são outras questões suscitadas.

No entender do CNOP, há depois soluções que “não se vislumbra como possam vir a ser operacionalizadas“, como por exemplo, o da obrigatoriedade, que é imposta no texto final aprovado, de 40% dos membros do órgão de supervisão, serem necessariamente professores do ensino superior, só que não podendo estar inscritos na ordem, mas que serão, contudo, eleitos pelos membros dessa mesma ordem”.

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Banco Montepio: resultados históricos e “a sombra” da consolidação

CEO alertou trabalhadores para perda de quota no crédito à habitação. Pedro Leitão disse que banco não pode baixar dos 6%, sob pena de ficar à mercê de um mercado pressionado para consolidar.

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio.DR

O Banco Montepio prepara-se para anunciar resultados históricos relativos a 2022, mas a perda de quota de mercado no crédito à habitação no segundo semestre do ano passado fez disparar as “sirenes” junto de Pedro Leitão. Numa mensagem interna, a que o ECO teve acesso, o presidente do banco alertou os trabalhadores para não se cruzar uma “linha vermelha” de quota abaixo dos 6%, pois deixaria a instituição à mercê de um mercado em que as autoridades estão a pressionar intensamente para consolidar.

Numa comunicação em que fazia um balanço do ano passado, Pedro Leitão falou numa “distração” em relação à perda de quota de mercado que tem de ser corrigida rapidamente e que todos têm de contribuir – de resto, a instituição acabou de recuperar uma campanha de crédito da casa que teve sucesso no passado, apresentando agora o spread mínimo mais competitivo do setor, de apenas 0,8%, como resposta à concorrência e no sentido de reforçar a sua posição no mercado, que se situará à volta dos 6,5%. Em Portugal, o mercado é dominado por cinco bancos: Caixa, BCP, Santander, Novobanco e BPI detêm mais de 70% de quota.

Pedro Leitão considerou inaceitável que apenas um terço dos 239 balcões tenha acrescentado à carteira de crédito à habitação. E estabeleceu de seguida “uma linha vermelha” que o banco não pode ultrapassar: “Num mercado maduro, onde a escala é muito importante, quotas de mercado abaixo dos 6% são sirenes e linhas vermelhas que não nos podem deixar indiferentes”, afirmou.

O “reparo” foi depois enquadrado no seio do que tem sido dito, publicamente, por altos responsáveis dos reguladores da banca quanto à necessidade de o setor europeu consolidar, com os bancos grandes a absorverem os mais pequenos. Por cá, foi o próprio governador do Banco de Portugal quem trouxe o tema à baila. Mário Centeno vê a consolidação da banca portuguesa como “absolutamente crucial”, sendo “inevitável que mercado tenha consciência disso”, segundo afirmou em entrevista à agência Reuters no final do ano passado.

"Num mercado maduro, onde a escala é muito importante, quotas de mercado abaixo dos 6% são sirenes e linhas vermelhas que não nos podem deixar indiferentes.”

Pedro Leitão

CEO do Banco Montepio

“É público como agentes do BCE e com responsabilidades na relação da banca europeia dizem que ficariam mais tranquilos se houvesse bancos maiores e, portanto, maior consolidação no setor. A consolidação para um banco com 6% ou 7% de quota de mercado, enfim… Temos capacidade de ir a jogo. Abaixo disso tudo fica mais difícil, abaixo disso estamos na linha vermelha”, sinalizou o presidente executivo do banco detido pela Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), cujos estatutos protegem a instituição financeira de abordagens da concorrência. Ainda assim, a consolidação não deixa de ser um “tema de sombras” para Pedro Leitão.

No fim, Pedro Leitão instou a sua equipa a lutar para “inverter a tendência de queda de quota de mercado, essencialmente no crédito à habitação”.

Sobre estas declarações de Pedro Leitão, o banco, que está a concluir um processo de saídas de centenas de trabalhadores, diz oficialmente que: “Apesar de a banca ser um setor com uma pressão regulatória externa para a consolidação, com a nossa dimensão, penetração de mercado e relevância nos segmentos onde operamos, esse [consolidação] é um cenário que não se coloca”.

Banco na perspetiva de resultado histórico

Fonte: Banco Montepio

Por outro lado, rejeitou fazer qualquer observação sobre os resultados históricos obtidos no ano passado. “Serão comunicados brevemente”, responde fonte oficial.

Nos primeiros nove meses do ano, o Banco Montepio teve um lucro de 23,9 milhões de euros, beneficiando em grande medida das menores dotações para imparidades e provisões, apesar do impacto negativo da venda do Finibanco Angola. Bastava fechar o ano com o resultado obtido até setembro para ter os maiores lucros da década – apenas superado pelos 45 milhões em 2011.

Redução de capital levanta dúvidas

O banco tem agendado para o próximo dia 10 uma assembleia geral para aprovar a redução de capital em 1,2 mil milhões de euros. Cada ação de um euro passará a valer 0,50 euros.

A operação foi aprovada no final do ano pela assembleia de representantes da AMMG, a acionista do banco, mas alguns membros saíram da sala no momento de votação em protesto contra aquela decisão.

“Recusámos participar na votação por entendermos que, por razões jurídicas, éticas e de defesa do mutualismo, os atuais dirigentes da AMMG devem explicar de uma forma detalhada aos associados o que implicam estas perdas de 1,325 mil milhões de euros“, adiantam os representantes eleitos pela Lista C nas últimas eleições, que pretendiam que a proposta fosse votada em assembleia geral de associados. O comunicado é assinado por Ana Drago, Josué Caldeira, Carlos Areal, Marta Silva e Viriato Silva.

Segundo afirmam, “a operação de engenharia financeira” vai reduzir para cerca de metade o valor do capital social do Banco Montepio, “composto pelas poupanças dos associados que foram aplicadas no banco” e visa “‘limpar’ os enormes prejuízos acumulados em “resultados transitados” em anos anteriores. Alegam ainda que vai abrir portas à distribuição de prémios de gestão aos administradores do banco, enquanto “se esfumam as poupanças dos associados”.

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Zmar avança com despejos. Espanhola Sunny Resorts negoceia compra

50 proprietários de casas de madeira do Zmar foram notificados para sair. Cadeia espanhola está na reta final para comprar o parque, mas há ainda 140 proprietários a reclamar indemnizações.

Os proprietários de cerca de 50 casas de madeira que estão instaladas no Zmar Eco Campo Resort, em Odemira, foram notificados para desocupar aquele parque de campismo. O ECO sabe que a espanhola Sunny Resorts está na reta final para fechar a compra do Zmar, em processo de insolvência, por um valor que rondará os dez milhões de euros. Mas tem ainda de enfrentar outros 140 proprietários, que viram os seus contratos reconhecidos pelo tribunal e que, por isso, estão a reclamar indemnizações na ordem dos 30 mil euros cada um.

O Zmar nasceu em 2009, na Herdade A-de-Mateus, pelas mãos de Francisco de Mello Breyner, da família Espírito Santo. São 270 casas de madeira, das quais 190 pertencem a proprietários privados. Em 2021, a Multiparques a Céu Aberto, empresa que gere o parque, foi declarada insolvente.

No final de janeiro, 50 proprietários (de um total de 190) de casas de madeira instaladas no Zmar foram notificados para abandonar o espaço num prazo de 60 dias. “A Multiparques cedeu temporariamente a V. Exa. a utilização do referido alvéolo [parcela de terreno] para utilização e instalação de um equipamento móvel de alojamento, mediante o pagamento de uma retribuição mensal”, lê-se na carta a que o ECO teve acesso.

“Pelo presente fazemos cessar, com efeitos imediatos, o contrato”, refere o documento, assinado por Pedro Pidwell, nomeado administrador de insolvência da Multiparques. “Por outras palavras, uma vez que deixa de ser possível que a insolvente [Multiparques] cumpra a prestação principal a que se obrigou — isto é, a de ceder o uso temporário de um concreto alvéolo — tal determina igualmente a cessação do contrato”.

Assim, foi dado aos proprietários um prazo de 60 dias (a contar da data de receção da carta em questão) para retirarem o “equipamento móvel do alvéolo” e “quaisquer outros bens que se encontrem no alvéolo e/ou no Zmar”. Caso não o façam, o administrador de insolvência afirma que irá “recorrer a todos os mecanismos legais e contratuais”.

O ECO sabe que já há proprietários a retirar as casas do parque e que não terão direito a qualquer indemnização. Estes 50 proprietários têm imóveis numa zona do parque que está classificada como campismo, ou seja, onde legalmente só podem estar tendas. Mas, tal como foi noticiado em 2021 pelo Público, a maioria das 270 casas de madeira do Zmar foi vendida sem nunca ter tido qualquer licença.

E, de facto, na carta enviada a estes 50 proprietários, é isso que Pedro Pidwell argumenta. “A Câmara de Odemira fez saber que a desocupação efetiva por parte de todos os ‘UL Campers’ é condicionante para o processo de licenciamento do Zmar”.

“Esta realidade, superveniente à celebração e execução do contrato, e que nos é alheia, torna impossível a manutenção da vigência do contrato e determina, de forma permanente e absoluta, a impossibilidade de a Multiparques continuar a disponibilizar o respetivo alvéolo”, lê-se.

Em declarações ao ECO, o presidente da Câmara de Odemira diz que a autarquia está apenas a “fazer cumprir a lei”. “Não é nossa vontade [tirar as pessoas do parque] como parece querer dizer esse parágrafo. A Câmara cumpre a lei”, diz Hélder Guerreiro. “Foram detetadas algumas inconformidades, designadamente no número de bungalows, que é superior ao permitido”, nota.

O ECO tentou contactar Pedro Pidwell para obter mais esclarecimentos, mas até à publicação desta notícia não obteve qualquer resposta.

Sunny Resorts tem já um projeto em Portugal

O ECO sabe que foi feito um processo de venda organizado do Zmar, que tem cerca de 420 credores a reclamar mais de 40 milhões de euros. Foram selecionadas as três propostas e a mais bem posicionada é a da espanhola Sunny Resorts SL, que rondará os dez milhões de euros. O objetivo da Sunny é reconstruir totalmente aquele parque de campismo e, naturalmente, é mais vantajoso não ter lá ninguém.

A Sunny Resorts, que até ao início de 2019 se chamava Global Bevezan, foi criada em 2018 e tem David Escudero Cuesta como CEO, de acordo com a informação disponível na imprensa espanhola. A empresa dedica-se à construção, gestão e venda de resorts e parques de campismo, tanto em Espanha como em Portugal, de forma direta ou através de investimentos noutras empresas do setor.

Ohai Resort, Nazaré.D.R.

Em março de 2019, a presidência da empresa passou a ser assumida por Pelayo Cortina Koplowitz, filho de Alicia Koplowitz, 7.ª Marquesa de Bellavista e magnata espanhola, com uma fortuna avaliada em 2,7 mil milhões de euros, de acordo com a Forbes.

A Sunny Resorts é detida pela luxemburguesa Ilanga Investments SARL, de acordo com o jornal espanhol El Diario, e tem já um projeto em Portugal, o parque de campismo Ohai Resort, na Nazaré, depois de ter adquirido a sociedade Vale Paraíso Empreendimentos Turísticos em 2019, que explora o parque de campismo, por cerca de seis milhões de euros.

De acordo com o Boletín Oficial del Registro Mercantil, a Sunny Resorts foi dissolvida a 19 de dezembro, tendo sido reativada a 24 de janeiro. No mesmo dia foi feita uma redução de capital de cerca de 200 mil euros.

140 proprietários a reclamarem indemnizações de 30 mil euros

Mas a cadeia espanhola tem pela frente um obstáculo. Ou melhor, 140. É que, apesar de estarem a ser despejados 50 proprietários, há ainda 140 proprietários de casas de madeira, cujos contratos foram reconhecidos pelo tribunal e, por isso, não podem ser mandados embora.

O ECO contactou Nuno Silva Vieira, advogado que representa estas 140 pessoas, mas este escusou-se a fazer comentários. Contudo, o ECO conseguiu apurar junto de alguns proprietários, que preferiram não ser identificados, que estes vão tentar um entendimento com a Sunny Resorts.

Este entendimento será sempre na base de uma indemnização, explicaram. O valor destas indemnizações tem por base os contratos que têm atualmente em vigor, o investimento feito na casa e a expectativa de lucros a médio prazo (na ordem dos sete anos), uma vez que os imóveis podiam ser alugados para fins turísticos durante o ano. O valor que cada um destes proprietários está a exigir ronda os 30 mil euros.

Apesar da tentativa de acordo com a massa insolvente, só por um valor que os proprietários considerarem justo é que abandonarão o parque de campismo, uma vez que não abdicam de ser indemnizados. Na falta de um acordo, a Sunny poderá adquirir na mesma o Zmar, mas com estas 140 casas lá instaladas.

420 credores a reclamar mais de 40 milhões de euros

O Zmar nasceu pelas mãos de Francisco de Mello Breyner, da família Espírito Santo, primo de Ricardo Salgado, com o objetivo de criar “campismo de luxo” no Alentejo, diz o Nascer do Sol. Foi o Banco Espírito Santo (BES) que financiou, de forma direta ou indireta, mais de 30 milhões destinados à construção do parque, diz o Público. São 81 hectares de terreno, inseridos na Reserva Agrícola Nacional (RAN) e na Reserva Ecológica Nacional (REN).

O parque tem moradias e bungalows construídos com pinho de florestas certificadas da Finlândia — foi o primeiro parque de campismo ecológico do país — para uso misto (compra ou arrendamento para férias).

Das áreas comuns fazem parte duas piscinas — uma exterior com 100 metros e uma interior com ondas –, um centro de estar com spa e ginásio, balneários, centro médico e centro de lazer. Há ainda um parque infantil de cinco hectares, uma quinta pedagógica com animais, um observatório, um restaurante e um supermercado. O investimento foi de cerca de 25 milhões de euros.

Em 2019, mais de metade do capital do Zmar foi vendido em leilão por 2,62 milhões de euros. Estas ações tinham sido postas à venda pela Cravex, com um valor base de cerca de 3,25 milhões de euros, que tinha a decorrer um processo de insolvência. Na altura, fonte do Zmar adiantou à Lusa que o leilão acontecia devido a uma “possível mudança de um acionista” da Multiparques, rejeitando qualquer hipótese de insolvência do próprio parque.

Contudo, em 2020, de acordo com o Jornal de Negócios, o Zmar passou a ser controlado pelos norte-americanos da KKR. A KKR começou por ser apenas credora do Zmar, quando adquiriu ao Novobanco uma carteira de malparado, onde se incluía os 7,3 milhões que o banco tinha a haver na Cravex. Como a oferta máxima do leilão tinha ficado abaixo dos 3,25 milhões pedidos, a KKR rejeitou os 2,62 milhões e uma subsidiária acabou por pagar mais.

No verão de 2020, em plena pandemia, o Zmar pôs à venda algumas das 280 casas de madeira. As casas estavam instaladas em terrenos com cerca de 200 metros quadrados e os preços iam dos 44 mil euros (mais IVA) para uma casa com dois quartos até 74 mil euros (sem IVA) para villas com dois quartos e piscina privativa que, na altura, estavam a ser construídas junto ao lago. Quando os proprietários não estivessem a usufruir as habitações, o Zmar explorava-as turisticamente, oferecendo a rentabilidade do investimento.

O Zmar entrou em insolvência a 10 de março de 2021, a pedido da sociedade Ares Lusitani (detida a 100% pela HipoGes), com uma participação de 56,6% na Multiparques. São cerca de 420 credores a reclamar créditos de mais de 40 milhões de euros. O parque estava encerrado pela falta de licenciamento e previa-se que abrisse portas em maio de 2021, mas o processo encontrou um obstáculo trazido pela pandemia.

Em abril desse ano, ainda durante a pandemia, o Governo avançou com uma requisição civil para instalar temporariamente no Zmar trabalhadores agrícolas infetados com Covid, a maioria imigrantes. Foi interposta uma providência cautelar por parte de 120 proprietários, tendo o tribunal acabado por suspender a requisição civil do Governo. Atualmente, disse o presidente da Câmara de Odemira ao ECO, já não há imigrantes a viver no parque.

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5 coisas que vão marcar o dia

Continuam as apresentações de resultados, com o BPI e CaixaBank. São conhecidos dados sobre os preços na produção industrial e sobre o desemprego nos EUA.

No último dia da semana continuam as apresentações de resultados dos bancos, chegando a vez do BPI e do CaixaBank. Já nas Finanças, a equipa de Fernando Medina vai reunir com o grupo de trabalho para a resolução dos lesados do Banif. Serão também conhecidos dados estatísticos, na Europa, sobre os preços na produção industrial e nos EUA sobre o desemprego.

BPI e CaixaBank apresentam resultados anuais

O BPI vai apresentar os resultados anuais esta sexta-feira. Nos primeiros nove meses do ano, o banco registou um lucro de 286 milhões de euros, 18% acima do verificado em termos homólogos de 2021. João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, refere que “a atividade em Portugal contribuiu com 159 milhões de euros para os resultados”, que corresponde a um aumento de 25% em relação a mesmo período homólogo de 2021. Está também marcada para este dia a apresentação de resultados do CaixaBank de 2022,

Finanças reúnem com grupo de trabalho para lesados do Banif

A equipa do Ministério das Finanças vai reunir com o Grupo de Trabalho para a Resolução dos Lesados do Banif na tarde desta sexta-feira. Este grupo de trabalho tem como objetivo a criação das condições para a constituição de um Fundo de Recuperação de Créditos no âmbito da CMVM de forma a ressarcir os lesados do Banif.

Como evoluem os preços na produção industrial?

O Eurostat divulga esta sexta-feira dados sobre os preços na produção industrial no mercado doméstico, referentes ao mês de dezembro do ano passado. Numa altura em que a inflação tem vindo a abrandar, apesar de se manter elevada, será possível perceber se tal se está a refletir nos custos na indústria. O gabinete de estatísticas publica também dados sobre a manufaturação em 2020.

Dados do desemprego nos EUA mexem com Wall Street

Serão conhecidos esta sexta-feira vários indicadores da economia norte-americana que vão mexer com os mercados, com destaque para os dados sobre o desemprego. Os investidores vão digerir dados sobre a média de horas semanais, o rendimento médio por hora e a taxa de desemprego ao longo do mês de janeiro, o que dará também para tirar a temperatura ao mercado laboral e aos efeitos da desaceleração económica.

Termina cimeira entre a União Europeia e a Ucrânia

Chega ao fim a cimeira entre a União Europeia e a Ucrânia, depois de um primeiro dia marcado por apelos a uma adesão rápida da Ucrânia ao bloco comunitário. No encontro vão marcar presença o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. No entanto, os chefes de Estado e de governo dos Estados-membros não vão à cimeira.

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CEO da TAP com direito a bónus até três milhões

  • ECO
  • 3 Fevereiro 2023

Christine Ourmiére-Widener poderá receber um prémio de até três milhões de euros pelo cumprimento do plano de reestruturação da TAP. Contrato geral aprovado em Assembleia Geral, mas não o prémio.

A presidente executiva da TAP, Christine Ourmiére-Widener, confirmou no Parlamento que teria direito a um prémio de desempenho no final de 2025, mas recusou-se a divulgar o seu valor. Depois, o Correio da Manhã revelou que o bónus seria de dois milhões e agora há mais pormenores deste acordo que será escrutinado na Comissão Parlamentar de Inquérito: O Jornal Económico e a CNN revelam que a gestora poderá receber até três milhões de euros se cumprir o plano de reestruturação da companhia.

Christine Ourmiére-Widener tem um salário bruto de cerca de 500 mil euros, mas devido aos cortes salariais no âmbito do plano de reestruturação, aufere 375 mil euros. E tem, além disso, direito a um prémio de desempenho que poderá atingir os três milhões de euros. Mas, segundo o JE e confirmado pela CNN, há uma alínea no contrato que determina a aprovação do bónus em assembleia geral, e poderá estar em causa a legalidade da acordo. É que o valor específico do prémio não terá passado pela aprovação da AG, escreve o JE, mas, segundo a CNN, a assembleia geral aprovou mesmo o acordo global.

Segundo revelou a CNN Portugal, a contratação da Christine Ourmières-Widener foi levada a assembleia geral e aprovada com conhecimento das condições remuneratórias, mas o prémio não terá sido oficialmente ratificado. Em causa está, acrescenta, um contrato de administração válido para o mandato de quatro anos, contrato esse que remete para um outro contrato de gestão com os objetivos do mandato.

Estes novos dados são revelados quando já está aprovada a Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP, que será presidida por um deputado socialista. O PS vai indicar Jorge Seguro Sanches para presidir à comissão que foi proposta pelo Bloco de Esquerda, anunciou o líder parlamentar do partido, Eurico Brilhante Dias.

“Gostaria de anunciar que indicaremos para presidir à comissão parlamentar de inquérito Jorge Seguro Sanches e que o coordenador do PS nessa comissão será o deputado Carlos Pereira”, anunciou o líder parlamentar socialista em declarações aos jornalistas no parlamento após uma reunião do Grupo Parlamentar do PS.

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Advogados do Benfica acusam “terceiros” de aceder ao processo que está em segredo de Justiça

Rui Patrício, João Medeiros e Paulo Saragoça da Matta emitem comunicado em que assumem ser estranho o processo que envolve SAD do Benfica ter sido consultado por "terceiros".

O processo que envolve a SAD do Benfica, Rui Costa e Luís Filipe Vieira encontra-se “sujeito a segredo de justiça dito externo”. Pelo que “não podemos, e em qualquer caso não quereríamos pela mesma razão, divulgar atos processuais, divulgação essa que pode, aliás, constituir ilícito criminal”. As palavras são do trio de advogados do clube dos encarnados (João Medeiros, sócio da VdA, Paulo Saragoça da Matta, sócio da DLA Piper e Rui Patrício, sócio da Morais Leitão), num comunicado enviado às redações.

A resposta surge depois do grupo de advogados ter ficado surpreendido por ter sido aceite a consulta do processo por “terceiros estranhos ao processo”. E depois da equipa de advogados ter recebido vários contactos, nomeadamente de jornalistas, “no sentido de apurar se já procedemos à consulta e, em caso afirmativo, de que elementos e qual o teor dos mesmos”.

Mas o ‘recado’ não era para a comunicação social e sim para o Futebol Clube do Porto. Recorde-se que causou estranheza aos advogados encarnados o facto de os representantes jurídicos do FC Porto, que se constituiu assistente neste megaprocesso, terem dado a entender que já teriam consultado o referido processo quando o mesmo acesso fora negado anteriormente à defesa e aos próprios arguidos. Agora, a defesa da SAD do Benfica vem garantir que já têm acesso ao processo mas deixam o alerta: a divulgação de matéria constante no mesmo é crime de violação de segredo de Justiça.

Em causa o megaprocesso em que a SAD foi constituída arguida no passado dia 3 de janeiro, tal como os seus principais administradores Rui Costa, presidente, e Domingos Soares de Oliveira, co-CEO, bem como Luís Filipe Vieira, ex-presidente, José Eduardo Moniz e Nuno Gaioso, ex-administradores. As autoridades investigam alegados crimes de corrupção desportiva. O objetivo deste megaprocesso e da constituição de arguidos poderá passar por evitar possíveis prescrições, uma vez que algumas destas investigações decorrem há anos.

“Cabe deixar inequívoco que — além dos deveres deontológicos a que estamos adstritos — temos a informação de que o processo se encontra sujeito a segredo de justiça dito externo, pelo que não podemos, e em qualquer caso não quereríamos pela mesma razão, divulgar atos processuais”, explica o comunicado, assinado pelos advogados João Medeiros, Paulo Saragoça da Mata e Rui Patrício.

Paulo Saragoça da Matta, João Medeiros e Rui Patrício, advogados da SAD do BenficaHugo Amaral/ECO

No final de janeiro, durante as alegações finais do processo dos ’emails’, Nuno Brandão, advogado de Francisco J. Marques, afirmou que causídicos ligados ao FC Porto já tinham consultado o processo, o que surpreendeu os representantes dos ‘encarnados’. Alguns dados alegadamente referentes à acusação foram também já divulgados na comunicação social.

O clube confirmou que a Benfica SAD e membros do Conselho de Administração do mandato 2016-2020 que ainda se encontram atualmente em funções foram constituídos arguidos no dia 3 de janeiro.

A confirmação surgiu depois de o Diário de Notícias avançar que, “em causa, supostamente, estará um processo em que se investigam os crimes emergentes dos emails pirateados ao Benfica e onde foram juntos outros processos, como o dos ‘vouchers’ e o ‘mala ciao’”.

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Ucrânia merece começar este ano a discutir adesão à UE, diz Zelensky

  • Lusa
  • 2 Fevereiro 2023

A Comissão Europeia classificou a visita como um "símbolo forte" do apoio europeu à Ucrânia "diante da agressão injustificada da Rússia".

O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, afirmou esta quinta-feira que o seu país, invadido pela Rússia em 2022, ganhou o mérito de iniciar conversações “este ano” com vista à entrada na União Europeia (UE). “Acho que a Ucrânia merece iniciar negociações sobre a sua adesão à UE este ano“, disse o chefe de estado ucraniano, na véspera da cimeira de alto nível em Kiev entre as autoridades ucranianas, representadas por Zelensky, e de Bruxelas, com as presenças da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Von der Leyen garantiu à Ucrânia o total apoio da UE, tendo chegado a Kiev acompanhada por 15 comissários e também pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. A Comissão classificou a visita como um “símbolo forte” do apoio europeu à Ucrânia “diante da agressão injustificada da Rússia”.

O Conselho da UE adotou esta quinta o sétimo pacote de assistência militar à Ucrânia, no valor de 500 milhões de euros, e uma verba de 45 milhões para financiar a Missão de Assistência Militar. Segundo um comunicado do Conselho, o sétimo pacote de assistência às Forças Armadas da Ucrânia, disponibilizado através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz (MEAP), foi hoje adotado em Bruxelas no âmbito da cimeira entre a UE e a Ucrânia, na sexta-feira, em Kiev, e eleva o contributo europeu para os 3,6 mil milhões de euros.

Os Estados-membros deram ainda luz verde a uma nova verba de 45 milhões de euros para financiar a Missão de Assistência Militar da UE (UEMAM Ucrânia) e que se destina a “fornecer o equipamento e materiais não letais necessários, bem como os serviços de apoio às atividades de formação”. A UE conta também adotar o décimo pacote de sanções à Rússia até 24 de fevereiro, data em que se assinala um ano desde o início da invasão da Ucrânia, anunciou hoje a presidente da Comissão Europeia em Kiev.

Numa conferência de imprensa conjunta com o Presidente ucraniano, por ocasião da reunião entre o colégio da Comissão Europeia e o governo ucraniano hoje celebrada em Kiev, Ursula von der Leyen garantiu que a UE vai continuar a fazer o Presidente russo, Vladimir Putin, pagar pela sua guerra atroz, com a adoção de novas sanções ainda este mês.

“Antes de Rússia começar a guerra, alertámos muito claramente sobre os custos económicos enormes que iríamos impor em caso de invasão, e hoje a Rússia está a pagar um preço elevado, à medida que as nossas sanções estão a asfixiar a sua economia”, apontou a presidente do executivo comunitário.

O Parlamento Europeu, por sua vez, aprovou hoje uma deliberação que exorta a União Europeia (UE) a concretizar a adesão da Ucrânia e a avançar com o novo pacote de sanções à Rússia. O texto foi aprovado com 489 votos a favor, 36 contra e 49 abstenções. A adesão da Ucrânia à UE alimenta discórdia entre os Estados-membros, mas na cimeira bilateral a Comissão quer alicerçar o compromisso com a integração e mostrar apoio inequívoco perante a Rússia, segundo fonte europeia.

A ambição da Ucrânia é clara: aderir ao bloco comunitário até 2026. Ainda que, do lado da UE, a integração não esteja em causa, o prazo certamente será outro, segundo reforçou hoje fonte europeia durante uma antecipação da cimeira de sexta-feira em Kiev, capital do país que foi invadido pela Rússia há quase um ano.

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EUA apoiam participação de russos e bielorrussos nos Jogos Olímpicos de Paris 2024

  • Lusa
  • 2 Fevereiro 2023

Porta-voz da Casa Branca diz, no entanto, que a participação dos atletas terá de ser a título neutro, sem “bandeiras, emblemas ou hinos”.

Os Estados Unidos posicionaram-se esta quinta-feira a favor da participação de atletas russos e bielorrussos nos Jogos Olímpicos Paris2024, mas sob bandeira neutra e sem qualquer demonstração dos símbolos daqueles países, segundo a porta-voz da Casa Branca.

Karine Jean-Pierre explicou que deve ser “absolutamente claro que não representam Rússia e Bielorrússia” e lembrou que os Estados Unidos apoiaram a suspensão das federações destes dois países, mas a participação dos atletas a título neutro, sem “bandeiras, emblemas ou hinos”.

Apesar dos repetidos apelos da Ucrânia para que os desportistas russos e bielorrussos sejam banidos dos Jogos de Paris2024, o Comité Olímpico Internacional (COI) disse em 25 de janeiro que vai “estudar” a possibilidade de permitir a sua participação, competindo estes sob uma bandeira neutra.

O tópico, sobre o qual o Comité Olímpico de Portugal (COP) se pronunciou a favor, em linha com a decisão do COI, tem gerado debate na comunidade desportiva internacional, com estados a favor e outros contra, nesta última fação estando a Ucrânia, invadida pela Rússia, mas também outros estados bálticos e a Polónia.

A autarca de Paris, Anne Hidalgo, está em sintonia com o COI, enquanto o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, exigiu ao seu homólogo francês que interdite a presença de atletas dos países cúmplices na agressão militar, que começou em 24 de fevereiro de 2022.

O comité organizador de Paris2024 não tem poder de decisão e o COI recordou que a “autoridade única” na matéria cabe às federações internacionais.

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