O relatório sobre as tendências de compras empresariais da Amazon Business prevê um aumento no orçamento e nos investimentos em tecnologia

  • Servimedia
  • 15 Novembro 2023

Mostra que os diretores das áreas de compras estão dispostos a investir em novas tecnologias, incluindo a IA, para melhorar a eficiência e suas capacidades.

A Amazon Business (NASDAQ: AMZN) publicou o seu relatório sobre o estado das compras empresariais da Amazon Business (“State of Procurement Report 2024”), que explica que a maioria das equipas de compras espera que seus orçamentos aumentem no próximo ano e muitos gestores estão avaliando como investir mais em ferramentas e tecnologias para oferecer uma maior otimização e uma abordagem mais estratégica das compras empresariais.

O relatório destaca as tendências de compras empresariais (B2B) e as perspetivas globais em torno das necessidades, prioridades e desafios de compras. Ele também inclui opiniões do setor público, serviços financeiros, saúde, medicina, indústrias farmacêutica e de manufatura, e setores como hotelaria, restaurantes, varejo, tecnologia e telecomunicações; bem como perspetivas de compradores na Espanha, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.

O documento mostra que mais da metade (53%) dos entrevistados esperam que seus orçamentos aumentem em 2024. Após um ano focado na redução de custos relacionados às compras empresariais, os responsáveis pelas compras agora planejam usar os fundos economizados para investir em estratégias que otimizem seus processos de compra e permitam que eles operem de forma mais estratégica, sendo a eficiência e a complexidade das compras o principal desafio que enfrentam atualmente. Entre os entrevistados, 98% afirmam que planejam investir em ferramentas de análise de dados, automação e inteligência artificial (IA) nos próximos anos.

“Estamos a entrar numa nova era de compras inteligentes para empresas, onde os gestores estão a compreender o impacto que a gestão de compras pode ter na eficiência e no sucesso geral da empresa”, disse Alexandre Gagnon, vice-presidente da Amazon Business Worldwide.

“Na Amazon Business, desenvolvemos soluções escaláveis para clientes e resolvemos seus maiores desafios nas compras, e não poderia estar mais animado com a evolução do campo de compras empresariais. Para 2024, a função de compras agora é interdisciplinar e abrange áreas operacionais e estratégicas, pois os compradores estão planejando investir mais em tecnologia e otimização, ao mesmo tempo em que preparam suas empresas e organizações para o futuro. Em última análise, as compras empresariais não apenas mantêm as operações em funcionamento, mas também desempenham um papel essencial no alcance de objetivos-chave para a organização, e com processos de compra inteligentes, as empresas têm soluções de fornecimento que servem como alavanca para o crescimento”, acrescentou.

À medida que as compras se expandem dentro das empresas e organizações, os gerentes são obrigados a encontrar maneiras de otimizar seus processos para dedicar mais tempo e recursos a seus desafios estratégicos.

O relatório também revela que 95% dos responsáveis reconhecem que há espaço para a otimização das compras; 85% dos entrevistados afirmam que a dificuldade de encontrar fornecedores com práticas sustentáveis dificulta que suas empresas estabeleçam ou alcancem objetivos estratégicos de sustentabilidade nas suas compras, e 81% dos entrevistados têm a obrigação de comprar de fornecedores certificados, que podem incluir empresas sustentáveis, locais ou pertencentes a grupos desfavorecidos. Entre aqueles que não têm essas obrigações, 40% ainda consideram os aspetos ambientais, sociais e de governança dos fornecedores. Apesar do desejo de fazer compras responsáveis (85%), a dificuldade em encontrar fornecedores sustentáveis ​​obstaculiza os objetivos de sustentabilidade.

A Amazon Business está empenhada em equipar seus seis milhões de clientes empresariais, um número que continua aumentando, e que inclui desde grandes multinacionais até autónomos, com ferramentas de compras empresariais inteligentes, que podem ajudar a reconfigurar os processos organizacionais, fortalecer os esforços de compra e, em última análise, garantir que os processos de compra estejam mais preparados para o imprevisível.

Através de uma série de serviços oferecidos pela Amazon Business, como análise e compra guiada, organizações de todos os tamanhos podem reduzir custos e melhorar sua eficiência para alcançar seus objetivos-chave. Além disso, a Amazon Business simplifica o processo de busca e compra de produtos com certificações de sustentabilidade ao colaborar com parceiros confiáveis, como a Carbon Neutral Certified pela SCS Global Services, Bluesign, Blue Angel e BIFMA LEVEL.

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Euronext já disponibiliza dados ESG das cotadas portuguesas

A Euronext tornou-se a primeira bolsa de valores a disponibilizar os dados ESG dos seus emitentes num formato padronizado.

No site da Euronext, no qual podem ser consultados os perfis das empresas cotadas na bolsa de Lisboa, há a partir desta quarta-feira um novo separador, com o rótulo ESG. A sigla, que remete para ambiente (E, de environment, em inglês), social (S) e governança (G), introduz um novo espaço no site, criado para que os investidores possam consultar, de forma harmonizada, os dados que cada uma das cotadas tem para partilhar debaixo de cada um destes três “chapéus”.

Com isto, a Euronext tornou-se a primeira bolsa de valores a disponibilizar os dados ESG dos seus emitentes num formato padronizado. “Esta iniciativa contribui para aumentar a transparência nos mercados financeiros e para a democratização do acesso a dados ESG confiáveis”, explica a dona da bolsa de Lisboa, que considera estar a colocar “os dados não financeiros no mesmo patamar dos dados financeiros”.

A Euronext não vê esta ferramenta como mais um peso para as empresas cotadas, além do peso que a regulação lhes impõe. Esta é uma forma de dar visibilidade ao trabalho que as empresas já terão de apresentar nos seus relatórios, ao mesmo tempo que “aumenta a transparência nos mercados financeiros e visa combater o greenwashing”, indicou a Euronext no momento do anúncio desta iniciativa, no início de setembro.

Cerca de 30 indicadores-chave de ESG foram analisados tendo como base os relatórios anuais dos emitentes e outras publicações, pela Euronext e pelo respetivo parceiro de dados. Os emitentes tiveram seis semanas para rever e enriquecer os seus perfis para os terem prontos para publicação.

“Os dados incluem ainda informações sobre a elegibilidade e alinhamento do volume de negócios, despesas operacionais e despesas de capital das empresas com a Taxonomia da UE”, acrescenta fonte oficial da Euronext.

Cada vez mais dados ESG. Grandes empresas ganham

As empresas de grande capitalização são as que mais partilham os seus dados: são responsáveis por 39% do volume de dados disponível, embora representem apenas 20% das empresas emitentes no universo Euronext.

De acordo com a Euronext, “a tendência é clara: os emitentes estão a aumentar o nível de divulgações de ESG”. Considerando todas as geografias onde o grupo Euronext está presente, contam-se 27% mais dados em 2022 em comparação com 2020. O maior salto verificou-se nos dados sobre a Diferença Salarial de Género, que aumentaram 52% em volume. Também dados relacionados com as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) dispararam, neste caso 30%.

A título de exemplo, podem consultar-se, para cada empresa, as emissões de gases de efeito estufa (âmbito 1, 2, 3), intensidade de emissões de gases de efeito estufa, pegada de carbono, diversidade de género nos conselhos de administração, diferença salarial de género, intensidade energética, emissões para a água, resíduos perigosos e participação no consumo e produção de energia não renovável.

Percentagem de empresas que reportaram sobre os indicadores mencionados

No caso das empresas portuguesas, a diversidade de género no conselho de administração destaca-se como um dos indicadores mais reportados, enquanto, no extremo oposto, está o reporte das emissões para a água, que é feito por apenas 3% das empresas.

Posto este ponto de partida, o que acontece daqui para a frente? “A Euronext continuará a enriquecer este serviço com base nas necessidades dos emitentes e investidores e nas evoluções regulatórias. Uma parte fundamental da estratégia de ESG da Euronext é continuar a desenvolver produtos e serviços projetados para capacitar empresas na sua busca por objetivos ESG e para canalizar investimentos para projetos sustentáveis”, indica a dona da bolsa lisboeta.

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Mais de 80% das empresas alertam que contratar trabalhadores adequados requer cada vez mais tempo

Mais de metade das empresas já antevê que preencher vagas será mais difícil no futuro próximo. Escassez de talento prejudica produtividade e competitividade, alertam empregadores.

A escassez de trabalhadores é (e deverá continuar a ser no próximo ano) um do principais desafios do mercado de trabalho português. Tanto que mais de oito em cada dez empresas alertam que encontrar os profissionais adequados requer cada vez mais tempo, o que resulta num agravamento dos custos e prejudica a produtividade.

E mais de metade dos empregadores já projetam que será mais difícil preencher as vagas de emprego disponíveis no futuro próximo. Este retrato é feito pela Randstad no estudo “Tendências de recursos humanos 2023-2024”, que o ECO consultou em primeira mão.

“Apesar da desaceleração económica e da incerteza global sobre algumas variáveis económicas e sociais, Portugal encontra-se num bom momento em relação ao mercado de trabalho“, começa por sublinhar a empresa de recursos humanos, que explica que, entre as empresas ouvidas, a previsão global é de um “ligeiramente agravamento” da situação económica do país, mas de estabilização no emprego.

Incertezas à parte, os empregadores estão, portanto, abertos a manter os empregos e até a crescer as equipas, mas encontrar os trabalhadores adequados para essas oportunidades está a revelar-se cada vez mais desafiante: 82,1% das empresas ouvidas consideram que encontrar os profissionais adequados requer cada vez mais tempo e 54% pensam que, num futuro próximo, será ainda mais difícil preencher as vagas.

Tal desafio é especialmente significativo à medida que se aumenta o grau de qualificação dos profissionais procurados.

Quanto maior a qualificação dos profissionais, maior é a probabilidade de existência de dificuldades para preencher as posições. Cerca de 59% das empresas tiveram dificuldades em preencher vagas, quando o profissional que procuravam era altamente qualificado, enquanto esta dificuldade é reduzida para metade (28,5%) quando se trata de profissionais pouco qualificados”, detalha a Randstad.

E neste âmbito, tem aplicação a famosa máxima “tempo é dinheiro“. É que os processos de recrutamento mais longos fazem crescer os custos, salienta o estudo que será divulgado esta quarta-feira. Além disso, as empresas ouvidas assinalam que a escassez de talento tem um “impacto negativo sobre variáveis estratégicas, como a competitividade, a produtividade e a capacidade de satisfazer as necessidades dos clientes“.

Já no que diz respeito aos motivos por detrás destas dificuldades tão significativas na procura de trabalhadores, o estudo aponta três grandes fatores: salários, escassez de mãos e concorrência.

Em detalhe, 62% das empresas consideram que a oferta de salários pouco competitivos explica as dificuldades na atração dos melhores profissionais. Já 50,4% apontam a escassez de profissionais com qualificações necessárias. E 35,8% destacam a alta concorrência no setor em que se inserem.

Mas apesar de o salário ser a principal razão da fraca atração de trabalhadores, não é a aposta nos ordenados a estratégia mais comum para contrariar a escassez de talento, mostra o “Tendências de recursos humanos 2023-2024”. Antes, são as políticas de flexibilidade as mais populares: mais de metade das empresas referem, por exemplo, o teletrabalho e o trabalho híbrido como forma de responder à dificuldade na contratação.

A segunda estratégia mais comum é a melhoria dos benefícios oferecidos, seguindo-se o reforço da empresa enquanto marca empregadora. Só em quarto lugar aparece, portanto, o aumento dos salários iniciais, estratégia que tem sido adotada por cerca de três em cada dez empregadores.

Neste cenário, a retenção de talento ganha, então, outra importância, tornando-se “crucial”, assinala a Randstad, que fala numa “guerra por profissionais qualificados“.

Empresas apostam na flexibilidade, mas trabalhadores valorizam mais oportunidades de crescimento

Ainda que não ter os profissionais certos possa prejudicar os negócios, as empresas portuguesas continuam a não estar alinhadas a 100%, quanto aos benefícios que oferecem aos trabalhadores e aqueles que estes procuram, revela o estudo da Randstad.

Vamos aos dados. Do lado das empresas, o benefício mais oferecido é a flexibilidade no trabalho (53,5%), seguindo-se o seguro de saúde (48,8%), um bom ambiente de trabalho (42,6%), dispositivos eletrónicos (24,8%) e ações de formação (também 24,8%).

Em contraste, do lado dos profissionais, quase 70% votaram nas oportunidades de crescimento como benefício mais relevante e 66,7% referiram os aumentos salários. Ainda assim, a flexibilidade, o bom ambiente de trabalho e o seguro de saúde também são valorizados pelos trabalhadores.

“Podemos observar que existe um equilíbrio entre o que os colaboradores querem e o que as empresas oferecem em alguns dos benefícios profissionais como a flexibilidade, um bom ambiente de trabalho e o seguro de saúde. Mas existem outros benefícios que devem ser revistos pelas empresas se quiserem ser mais competitivas na atração e retenção do talento, tais como as oportunidades de crescimento e os aumentos salariais”, recomenda a Randstad.

Por outro lado, no que diz respeito especificamente à flexibilidade laboral (o que inclui, por exemplo, trabalho remoto, horários flexíveis e férias flexíveis), 55% dos profissionais pensa que as medidas de aplicadas nesse sentido não são eficazes.

“Sabemos que as medidas de flexibilidade podem contribuir para a produtividade e eficiência dos profissionais. No entanto, as empresas devem medir a eficácia das medidas que realmente são aplicadas“, avisa a referida empresa de recursos humanos.

Transformação digital promete marcar futuro do trabalho

No estudo que será conhecido esta quarta-feira, é deixado claro que a transformação digital e a inovação tecnológica são dois fatores que vão marcar (e muito) o futuro do mercado de trabalho, na visão das empresas.

A inteligência artificial aparece como um grande desafio e oportunidade para as empresas e profissionais, já que vai transformar tarefas e processos”, sublinha a Randstad. E mais de metade das pessoas acredita que esta tecnologia irá impulsionar o seu crescimento profissional, em vez de eliminar o seu emprego.

Com base neste cenário, no que concerne às competências mais procuradas nas contratações futuras, realça-se que a orientação para os resultados e a capacidade de adaptação são as competências mais exigidas pelas empresas (43,8%; 43,1% respetivamente). A boa notícia é que, entre os profissionais, são também estas as competências consideradas mais estratégicas, havendo, portanto, um alinhamento entre a procura e a oferta.

Para realizar esta análise, foi feito um inquérito tanto a empresas como a profissionais. “Relativamente à amostra deste estudo, existe uma diversidade setorial, com 6% a 14% de resultados de cada setor. Para além disto, 36% das empresas da amostra têm menos de 50 colaboradores, o que destaca a importância das pequenas e médias empresas no mercado de trabalho nacional“, remata a Randstad.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 15 Novembro 2023

Dia fica marcado pelas previsões económicas de outono da Comissão Europeia, para Portugal e o restante bloco europeu. Por cá, indicadores do INE e contas da Sonae marcam a agenda.

Esta quarta-feira fica marcada por mais uma ronda de resultados, desta vez, da Sonae, isto num dia em que a Comissão Europeia divulga as previsões económicas de outono para o bloco europeu e o Reino Unido dá conta da taxa de inflação registada em outubro. Por cá, destaque para a reunião entre Governo e sindicatos da função pública e a divulgação de indicadores sobre a evolução do fluxo de emprego.

Bruxelas divulga previsões económicas de outono

A Comissão Europeia prepara-se para divulgar esta manhã as previsões económicas de outono dos 27 Estados-membros. Nas previsões económicas de primavera, o executivo de Ursula von der Leyen reviu em alta as previsões para o crescimento da economia portuguesa para mais do dobro. Espera agora que o PIB avance 2,4% em 2023, depois de em fevereiro ter antecipado uma subida de 1%.

Reino Unido divulga dados da inflação

Depois dos Estados Unidos, é a vez do Reino Unido publicar novas estatísticas da inflação. Em setembro, a taxa de inflação permaneceu estável em 6,7%, mantendo-se nos mínimos de 18 meses alcançados em agosto e desafiando as expectativas do mercado de um ligeiro abrandamento para 6.6%.

Sonae apresenta contas

A dona dos supermercados Continente Modelo prepara-se para apresentar os resultados dos últimos nove meses. A expectativa é alta depois de os resultados do primeiro semestre terem revelado que a Sonae registou quebras de 41,6% relativamente ao período homólogo, traduzindo-se num lucro de 69 milhões de euros.

Governo reúne com sindicatos da Função Pública

A secretária de Estado da Administração Pública, Inês Ramires, vai reunir-se com os sindicatos da Função Pública para fechar a revisão do sistema de avaliação. Esta é uma das prioridades que Governo demissionário quer concluir antes de entrar em modo de gestão, uma vez que vai permitir uma progressão de carreiras mais rápida. O encontro, marcado para as 14h30.

INE apresenta dados do emprego

Esta quarta-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) vai divulgar dados sobre a evolução do fluxo do emprego no terceiro trimestre. No segundo trimestre, do total de pessoas que estavam desempregadas no primeiro trimestre de 2023, 50,7% permaneceram nesse estado no segundo trimestre de 2023. Desse valor, apenas, 30,7% transitaram para o emprego.

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Dos transportes à habitação, os 7 números do orçamento para Lisboa em 2024

Transportes e habitação estão no topo do orçamento de 1,3 mil milhões de euros da câmara de Lisboa para 2024. Anacoreta Correia diz mesmo que a habitação tem "o maior investimento de sempre".

A mobilidade com uma dotação de 289 milhões de euros e a habitação com 150 milhões de euros – “o maior investimento de sempre”– são as áreas que surgem logo à cabeça do orçamento da Câmara Municipal de Lisboa para 2024. A autarquia, liderada por Carlos Moedas, tem 1,3 mil milhões de euros inscritos no orçamento de 2024 e está apostada em apoiar os jovens até aos 35 anos que comprem casa até ao valor de 300 mil euros com a isenção do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT).

A área dos “transportes públicos é, sem dúvida, o maior investimento da câmara de Lisboa e da Carris, de 165 milhões de euros entre 2024 e 2027”, sublinhou o vice-presidente Filipe Anacoreta Correia, esta terça-feira, durante a apresentação do orçamento para 2024. Este responsável pela pasta das Finanças antecipa “que, até 2027, 87% da frota esteja descarbonizada”.

Sendo a mobilidade uma área estratégica para o município, estão previstos dois novos parques dissuasores e “parques Navegante”. Estarão disponíveis 1.965 novos lugares de estacionamento gratuitos para os utilizadores do Passe Navegante e em sete localizações diferentes: Pontinha Sul, Azinhaga da Cidade, Ameixoeira, Telheiras Poente, Telheiras Nascente, Avenida de Pádua e Colégio Militar.

O prolongamento da linha do Elétrico 15 até ao Jamor (Oeiras) já em 2024, uma nova ligação entre Santa Apolónia e Parque Tejo e um elétrico rápido para a Alta de Lisboa são mais algumas das medidas municipais. A expansão da rede de bicicletas partilhadas Gira, com 19 novas ciclovias, para chegar a todas as freguesias da cidade, ou seja, mais 36 estações, é outra cartada deste orçamento.

Com “o maior investimento de sempre da história de Lisboa”, garante Anacoreta Correia, surge a habitação com uma dotação de 150 milhões de euros, “um acréscimo de mais de 41,5% face a 2023”, para a construção de novas casas. Entre as medidas-chave da autarquia estão a construção de novas casas, o aumento dos apoios do programa renda segura e do subsídio municipal de arrendamento. Em carteira estão, assim, novos projetos de habitação na Quinta do Ferro (São Vicente), Casal do Pinto (Beato) e renda acessível do Lumiar.

A continuação de devolução de IRS, num total de cerca de 57 milhões de euros, também faz parte dos planos municipais. Para a cultura o município reservou 62 milhões de euros e a saúde outros 9,1 milhões de euros com a construção dos dois novos centros de saúde de Sapadores-Graça e Alcântara, além do lançamento de um projeto pioneiro nos bairros sociais, com a criação de um gabinete de atendimento médico e de enfermagem.

Esta proposta de orçamento municipal vai a votos do Executivo a 29 de novembro para depois, a 12 de dezembro, ter o aval final da Assembleia Municipal.

Conheça os 7 números mais importantes do orçamento da câmara de Lisboa

  • 289 milhões de euros para a área da mobilidade (183 milhões de euros – Carris, 74 milhões – EMEL, 14,9 milhões para passes gratuitos, 4,9 milhões para AML e 12,5 milhões para outros projetos);
  • 150 milhões de euros para a área da habitação com a construção de novas casas;
  • 4,2 milhões de euros para Programa Renda Segura (2,6 milhões de euros) e o Subsídio Municipal de Arrendamento (1,6 milhões);
  • 62 milhões de euros para a Cultura, mais 13% do que os 55 milhões de euros inscritos no orçamento de 2023 (reabertura do MUDE – Museu do Design e do Teatro Variedades; inauguração do Pavilhão Azul, com a coleção Julião Sarmento, e mais três salas da rede Teatro em Cada Bairro. Obras na Biblioteca Lobo Antunes, do Espaço Atlântida, e reconversão do Teatro Aberto)
  • 67 milhões de euros para o Plano Geral de drenagem (resiliência a cheias, reaproveitamento de água e bacias antipoluição;
  • 57 milhões de euros de devolução de IRS aos lisboetas;
  • 9,1 milhões de euros para a área da Saúde (programa Plano de Saúde 65+ orçado em 1,6 milhões)

 

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Comunicação de crise: A vitimização como estratégia?

António Cunha Vaz, João Tocha, Luís Paixão Martins, Maria Domingas Carvalhosa e Vítor Cunha avaliam a comunicação de António Costa e os protagonistas da semana.

Na última terça-feira, por volta das 14 horas, grande parte do país terá estado colado a um ecrã para assistir, em direto, às declarações de António Costa, o desde então primeiro-ministro demissionário. A semana parecia ter começado como todas as outras. O espaço mediático era ocupado com a guerra em Gaza, o novembro negro nas urgências ou as discussões do Orçamento de Estado. E eis que terça-feira os portugueses acordaram com o início daquela que se veio a chamar Operação Influencer, com os acontecimentos, e as suas consequências, a sucederem-se a um ritmo quase frenético nestes últimos dias.

Com o país mergulhado numa crise política, eleições marcadas para 10 de março e novos candidatos à liderança do PS, se as eleições fossem este domingo, o partido agora disputado por Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro perdia a maioria absoluta. Mantinha-se, no entanto, à frente nas intenções de voto, de acordo com a sondagem realizada pela Aximage para a TVI e CNN Portugal. Como dizia nos ecrãs da CNN o consultor Luís Paixão Martins, responsável pela última campanha de António Costa, estamos perante um empate técnico.

Quando observei o anúncio público da instalação do data center realizado pelo primeiro-ministro a leitura da sua linguagem corporal e da oralidade fizeram-me comentar que ele não estava muito firme naquele anúncio.

João Tocha

CEO da F5C

A crise, do ponto de vista da comunicação, está a ser bem gerida? A opinião não é unânime entre os especialistas ouvidos pelo +M e que aceitaram comentar o tema. “António Costa esteve muito bem quando apresentou a sua demissão, perante a nota do gabinete de imprensa da PGR. Depois, fez uma segunda intervenção que teve aspetos positivos, quando esclarece a importância de projetos de investimento pelos quais se bateu para que se concretizassem em Portugal. Já no que se refere às declarações sobre Lacerda Machado, foi um momento de emoção e de nervosismo que não deveria ter sucedido. Quanto aos dois visados que lhe eram próximos deveria ter aplicado a presunção de inocência dos mesmos e aguardado por mais informações”, começa por comentar João Tocha, fundador e CEO da F5C.

O especialista em comunicação política aponta como “falha grave” de António Costa a não exoneração e retirada de confiança ao ministro João Galamba, “que há muito se tornou um fator de turbulência e de problemas para o executivo”.

“Quando observei o anúncio público da instalação do data center realizado pelo primeiro-ministro a leitura da sua linguagem corporal e da oralidade fizeram-me comentar que ele não estava muito firme naquele anúncio”, recorda João Tocha.

António Cunha Vaz, CEO da agora H/Advisors CV&A, avalia a estratégia do ainda primeiro-ministro como acertada – “dentro do possível” – e o resultado como mau – “como tinha que ser”.

“A estratégia foi a possível. Era difícil ser diferente. Com a contínua publicitação de investigações em curso – que às vezes prejudicam e outras beneficiam os possíveis prevaricadores – só se pode reagir”, comenta o fundador da CV&A. “Muito fez o primeiro-ministro na contenção de danos”, com “as surpresas a que tem sido sujeito, no que à atuação dos membros do Governo – lato senso”, diz.

Por outro lado, António Cunha Vaz acredita que habitual boa comunicação de António Costa “fê-lo beneficiar da indulgência dos jornalistas”. “Nenhum o questionou sobre se era mesmo apenas por causa do último parágrafo do comunicado da PGR que se demitia”, concretiza. “Daqui por diante o PM demonstrou que é mestre”. E terá tido “ajudas”: “o dinheiro encontrado, a má imagem pública de Galamba e Escária, a crucificação sem nexo de Diogo Lacerda Machado porque é seu amigo e não por possivelmente ter feito algo menos próprio – recorde-se que a acusação de corrupção caiu -, enfim…”

Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom, diz que nesta última semana, a comunicação do Governo se baseou essencialmente, e de uma forma institucional, nas intervenções do primeiro-ministro. A responsável aponta ainda algumas intervenções do agora ex-ministro, João Galamba, nomeadamente na audição parlamentar conjunta entre a Comissão de Orçamento e Finanças e a Comissão de Economia Obras Públicas, Planeamento e Habitação no âmbito da apreciação do OE para 2024, mas, em síntese, “o Governo não se ouviu“.

Os dois momentos de comunicação do governo tiveram um impacto invulgar apenas explicável pelo alarme social provocado pelas fugas de informação do Ministério Público”, começa por comentar Luís Paixão Martins. A segunda dessas comunicações, no sábado, foi acompanhada por cerca de 3 milhões de cidadãos durante perto de uma hora, contextualiza. “Foi um contraponto importante face à narrativa generalizada da bolha mediática e contribuiu para que se compreendesse melhor a decisão do primeiro juiz chamado a intervir no caso Influencer”, diz o consultor.

Era importante que se compreendesse que atrair o investimento estrangeiro e facilitar a vida às iniciativas empresariais é uma prioridade do atual governo e que, devendo ser investigados e julgados eventuais atos ilegais, não se pode confundir a nuvem por juno”, conclui Luís Paixão Martins.

Com esta intervenção o PM construiu toda a sua narrativa e criou o posicionamento que pretendia: o de vítima, perseguido por acusações que desconhecia e que, face à sua seriedade, obviamente, não deixaria que o país mantivesse um PM sobre o qual pairava uma sombra criminal.

Maria Domingas Carvalhosa

CEO da Wisdom

Relativamente à comunicação de António Costa, Maria Domingas Carvalhosa considera “que a sua estratégia foi muito bem delineada, quer em termos de escolha de timings, de tom e de mensagem”.

Com esta intervenção o primeiro-ministro construiu toda a sua narrativa e criou o posicionamento que pretendia: o de vítima, perseguido por acusações que desconhecia e que, face à sua seriedade, obviamente, não deixaria que o país mantivesse um primeiro-ministro sobre o qual pairava uma sombra criminal. Embora não se saiba qual é”, concretiza Maria Domingas Carvalhosa.

Já Vítor Cunha, administrador da JLM&Associados, lembra que “não há boa comunicação de mau produto, nem há bom produto apenas pela boa comunicação”. “Pode-se tentar desafiar a sorte e o destino, mas não se pode escapar ao destino“, diz o especialista em comunicação, citando Jorge de Sena: “Esta cabeça evanescente resistiu: nem deusa nem mulher, apenas ciência de que nada nos livra de nós mesmos.” (Cabecinha romana de Milreu)

A habitual boa comunicação de António Costa “fê-lo beneficiar da indulgência dos jornalistas” “Daqui por diante o PM demonstrou que é mestre”. E terá tido “ajudas”: “o dinheiro encontrado, a má imagem pública de Galamba e Escária, a crucificação sem nexo de Diogo Lacerda Machado porque é seu amigo e não por possivelmente ter feito algo menos próprio – recorde-se que a acusação de corrupção caiu -, enfim…

António Cunha Vaz

CEO da H/Advisors CV&A

Vítor Cunha aponta como ponto mais negativo desta semana a conferência de imprensa de sábado, que correu mal, “apesar de o primeiro-ministro ter razão quando defende a necessidade de permanente ponderação de interesses e valores na decisão pública”. “Estranho“, prossegue, é o primeiro-ministro ter tirado ilações em relação à sua legitimidade, mas não as ter estendido ao ministro Galamba. “Erro de perceção mútua? Estranha esta obsessão pelo jovem guerreiro“, comenta o administrador da JLM&A.

O maior erro de estratégia, para António Cunha Vaz, foi “apresentar-se ao Presidente da República um nome para primeiro-ministro interino que não o poderia ser – isto se se pensasse que não seriam convocadas eleições”, o que terá sido feito para “não interferir nas eleições internas do partido”

O ponto “ligeiramente positivo“, mas “a contar com a comunicação social a reagir a quente e sem tempo para preparar perguntas”, foi “a conferência a expressar a desilusão com o chefe de gabinete e a trazer a família à liça. Arrependimento, vergonha alheia e agradecimento”, enumera António Cunha Vaz.

Considerado “mau” é o que Vítor Cunha apelida de “manipulação do caso Mário Centeno”, que “parece um desespero e a insistência um disparate que enfraquece o governador e destapa mentiras”. Mas há pior, o “muito mau”: “O momento de maior infelicidade não foi o de em tempos ter reconhecido um amigo, mas agora não ter amigos”.

Como positivo, em termos de comunicação, Vítor Cunha nomeia o pedido de desculpas. “Já se percebeu que um pedido de desculpas gera sempre compreensão e emoção: transforma o intocável em humano, o senhor em servo, aproxima-o do povo errante”, enfatiza.

Já se percebeu que um pedido de desculpas gera sempre compreensão e emoção: transforma o intocável em humano, o senhor em servo, aproxima-o do povo errante.

Vítor Cunha

Administrador da JLM&Associados

Maria Domingas Carvalhosa destaca outros pontos e momentos. Como maior erro, e é de comunicação que falamos, a responsável aponta o facto de António Costa, na intervenção de sábado, ter escolhido o Palácio de S. Bento. “Não se pode fazer uma comunicação ao país com aquele conteúdo e forma: as palavras não eram para aquele momento, muito menos para aquele local. Dito isto, podia e devia ter passado aquela mensagem, noutro cenário, aos jornalistas”.

Tão ou mais grave, a atuação da Procuradoria-Geral da República. “Não se pode falar em erros de comunicação sem falar da comunicação da PGR. O país está ‘de pantanas’ e merece que a Justiça esclareça, dentro dos limites legais, o que está em jogo”, aponta a fundadora da Wisdom.

Em sentido oposto, os pontos mais positivos da comunicação de António Costa foram “o controlo da narrativa e a criação da perceção do respeito institucional pela sua função”, considera.

Com a crise política instalada, e uma escalada para a judicial e económica com contornos imprevisíveis, João Tocha acredita que os próximos passos de António Costa serão “uma tentativa para voltar a mostrar que é um político consistente”. O CEO da F5C antecipa que o ainda primeiro-ministro tentará mostrar “que foi apanhado numa teia de agendas político mediáticas de terceiros e que quis garantir um governo de maioria até ao fim do mandato, com uma personalidade tecnicamente conceituada como primeiro-ministro”.

Nas vésperas do alarme social da Operação Influencer jantei com o Dr. Rui Rio e, na oportunidade, o antigo presidente do PSD contou-me da mágoa com que tinha ficado de não ter conseguido reformar o sistema de justiça. É uma ironia evocar-se que tal não foi possível porque António Costa quis manter a autonomia do Ministério Público.

Luís Paixão Martins

Consultor de comunicação

Não sabemos se vai sair mais alguma coisa, qual a próxima escuta a ser divulgada, se a PGR vai falar. Tudo isso terá influência nas decisões a tomar“, admite Maria Domingas Carvalhosa, na opinião de quem é difícil tentar antever os próximos passos.

Vítor Cunha é mais contundente, não é possível tentar antecipar, em termos de comunicação, os movimentos do Governo e em especial do ainda primeiro-ministro. “A previsibilidade é um luxo a que apenas bruxos, astrólogos e comentadores podem aspirar”, comenta com ironia.

No ‘filme’ desta desta última semana, na opinião de João Tocha, a melhor e a pior nota são dadas a António Costa. “Porque foi digno na sua demissão, a melhor nota. Porque não demitiu Galamba, a pior nota”, classifica.

Maria Domingas Carvalhosa atribui, “por razões óbvias”, a melhor nota a António Costa e a pior a João Galamba.

Vítor Cunha retira da equação o ex-ministro e acrescenta os candidatos à liderança do PS e o governador do Banco de Portugal. “António Costa pareceu algo desorientado, José Luís Carneiro trouxe uma nova autenticidade e Pedro Nuno Santos é um poço de energia“. Quanto a Mário Centeno, é “um caso de estudo e pesquisa”, com as declarações ao FT ainda por explicar.

António Cunha Vaz também classifica Mário Centeno, ex-aequo, com o Ministério público, com a pior nota da semana. A melhor vai para Marcelo Rebelo de Sousa, “ao desmentir Mário Centeno”.

Luís Paixão Martins não avalia os protagonistas da semana, mas deixa uma última nota de cariz pessoal: “Impressiona-me que haja acusados do crime de oferta de vantagem indevida pessoas que pagaram um par de refeições partilhadas com membros do governo. Para mim, trata-se da infeliz demonstração do irrealismo em que vive o sistema de justiça”.

“Nas vésperas do alarme social da Operação Influencer jantei com o Dr. Rui Rio e, na oportunidade, o antigo presidente do PSD contou-me da mágoa com que tinha ficado de não ter conseguido reformar o sistema de justiça. É uma ironia evocar-se que tal não foi possível porque António Costa quis manter a autonomia do Ministério Público”, conclui o consultor de comunicação, até “recentemente” contratado pelo PS.

 

(artigo atualizado às 10h30 com declarações de António Cunha Vaz e Luís Paixão Martins)

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Juiz diz que não há prevaricação na escuta que envolve João Tiago Silveira

No despacho de decisão das medidas de coação, o juiz de instrução considera que, no pedido de Galamba e de Rui Oliveira Neves a João Tiago Silveira, não há nenhum indício de "prevaricação".

Na lista de arguidos da chamada ‘Operação Influencer‘ está João Tiago Silveira, ex-secretário de Estado e porta-voz do PS no tempo de José Sócrates, e sócio da Morais Leitão, e que estaria a preparar um decreto-lei para simplificar o licenciamento no âmbito do urbanismo, ordenamento do território e indústria, para o próprio Governo, de acordo com os interesses da empresa Start Campus. Mas esta tese do MP ‘cai por terra’ no despacho de medidas de coação do juiz de instrução criminal.

Pelo menos esta era a tese do Ministério Público no despacho de indiciação. Mas o juiz de instrução, Nuno Dias Costa, no despacho relativo às medidas de coação, não concorda e diz que na “promoção do Ministério Público não são descritos factos que integrem o tipo de crime de prevaricação”. No que, concretamente, está identificado pelo MP como ‘Simplex industrial, “importa ter presente que não é alegado qualquer facto de onde se extraia que João Galamba atuou em conluio com Rui de Oliveira Neves e João Tiago Silveira, o sentido de ser feito o que estes combinaram entre os dois”, diz o magistrado.

Explicando que, apesar de entender que tal combinação se destinava “a permitir que a necessidade de licenciamento camarário fosse contornada”, não estamos perante o caso “de haver corrupção para ser produzida uma lei à medida da sociedade arguida – Start Campus – tanto que nem foi o alegado pelo Ministério Público”.

Paulo de Sá e Cunha (à esquerda) é o advogado de João Tiago Silveira.

Diz o Ministério Público, no despacho de indiciação que o ECO consultou no capítulo que chama de “Simplex” industrial”, que “antes de ser submetido a Conselho de Ministros, tal diploma foi preparado, do ponto de vista jurídico, pelo arguido João Tiago Silveira”.

Mas os procuradores do DCIAP acreditam que a iniciativa nasceu da cabeça de João Galamba – arguido no processo e atual ministro das Infraestruturas –, que terá “tomado conhecimento do regime legal que estava em vias de ser aprovado e com o propósito de beneficiar indevidamente os interesses da Start Campus”.

Assim, para conseguir esse objetivo, no dia 12 de Outubro de 2023, Galamba contactou Diogo Lacerda Machado, consultor na empresa, e pediu-lhe que a Start Campus lhe enviasse informação com as normas do data center em questão, “para assim inserir tais normas no diploma”.

E aqui entra em cena Rui de Oliveira Neves que pede ao colega de escritório, João Tiago Silveira, que fizesse as tais alterações, “o que este aceitou fazer”, diz o despacho do DCIAP. Mas o magistrado Nuno Dias Costa não vê crime neste comportamento.

Morais Leitão cria comissão interna para averiguações

Na sexta-feira, a Morais Leitão anunciou a suspensão dos sócios da Morais Leitão, com efeitos imediatos, a pedido destes.

João Tiago Silveira pediu essa suspensão para se dedicar inteiramente ao processo e à sua defesa. E Rui de Oliveira Neves terá enviado uma carta para o escritório liderado por Nuno Galvão Teles, a pedir a sua suspensão de funções no escritório.

O escritório está a fazer já uma averiguação interna “rigorosa” relativamente aos factos constantes na indiciação do Ministério Público. Também pedida por João Tiago Silveira. A comissão será composta por três sócios e vai “levantar toda a informação para esclarecimento dos factos” e foi constituída de forma imediata após as buscas ao escritório.

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Portugal “mantém-se uma escolha atrativa” para negócios do lítio e hidrogénio, apesar das investigações

Apesar do reboliço em que mergulhara as áreas do hidrogénio e lítio em Portugal, o E3G continua a considerá-las atrativas para investimento. Estratégias verdes podem ajudar a diminuir desconfiança.

O centro de investigação europeu E3G, que já havia alertado para o risco de Portugal colher apenas parte dos ganhos do hidrogénio e lítio caso não melhorasse a respetiva estratégia, reconhece “turbulência” em torno destas áreas no âmbito dos casos judiciais que implicam membros do Governo e derrubaram o primeiro-ministro. No entanto, defende que Portugal se mantém atrativo e que o reforço das estruturas de governança na estratégia verde poderia ajudar a manter o país no radar dos investidores.

Para Artur Patuleia, sócio sénior do E3G, baseado em Portugal, Portugal é “uma das mais promissoras localizações” para investimento em tecnologia limpa e negócios digitais, e “um país crítico para as ambições de competitividade global da Europa”. Isto, devido ao “acesso privilegiado” às renováveis de baixo custo, vastas reservas de lítio e a posição geográfica estratégica para a cadeia de valor.

No entanto, tendo em conta a “competição a nível global” para projetos de tecnologias limpas e digitais, “é importante que Portugal se prepare para continuar a atrair estes projetos”, com boa estrutura de governança e fortes capacidades da administração pública, defende a mesma entidade.

Potenciais investidores irão com certeza lançar um novo olhar, mais aprofundado, sobre as respetivas opções mas, no final do dia, a conclusão será que Portugal leva a lei e a transição energética seriamente, e portanto mantém-se uma escolha atrativa“, defende. Neste sentido, Artur Patuleia não prevê que os objetivos e metas definidos pelo pais no âmbito do Plano Nacional de Energia e Clima sejam afetados pelos eventos recentes. “É improvável”, indica o consultor.

Ainda assim, o mesmo responsável acrescenta que “uma estratégia verde é essencial”, já que poderiam, neste âmbito, ser “definidas estruturas de governança e políticas públicas para atrair investimento e criar mais previsibilidade e transparência nas fases de licenciamento e implementação de novos projetos”, sugere Patuleia. Espera que, desta forma, Portugal consiga atrair indústrias de alto valor acrescentado nas cadeias de valor do lítio e hidrogénio.

Neste sentido, o E3G destaca que a Estratégia Industrial Verde portuguesa “tem de ser apresentada” até fevereiro, de acordo com a Lei do Clima. Além disso, “tendo em conta o interesse global de investidores nas áreas da energia limpa e do digital, e com a turbulência em Portugal em torno de projetos destas áreas, é importante que Portugal não adie a apresentação de tal peça legislativa crítica”, recomenda.

Dois projetos de lítio, um de hidrogénio e outro de um centro de dados estão debaixo de holofotes na sequência de uma investigação do Ministério Público, que ditou várias buscas na manhã da passada terça-feira e culminou na demissão do primeiro-ministro português, António Costa. Em causa, segundo o comunicado partilhado pelo Ministério Público, com factos relacionados com “as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas)”, “um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines – apresentado por consórcio que se candidatou ao estatuto de Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu (IPCEI)” – e “o projeto de construção de “data center” desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade “Start Campus”.

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IGCP ignora crise política junto dos investidores

Uma semana após a queda do primeiro-ministro, a bolsa ainda não recuperou e o risco da dívida não acompanhou a baixa dos pares. Crise política passou ao lado da agência que gere a dívida pública.

Se fossemos um investidor internacional e consultássemos a última apresentação institucional do IGCP relativa a novembro, pensaríamos que Portugal estaria a viver uma situação política tranquila. Mas é tudo menos isso que tem acontecido no país nos últimos dias.

Desde terça-feira da semana passada, uma investigação judicial por conta de suspeitas de corrupção em grandes projetos de investimento envolvendo altos cargos do governo precipitou a demissão do primeiro-ministro, atirando o país para eleições antecipadas em março do próximo ano.

No meio desta crise política, também o próprio governador do Banco de Portugal ficou sob pressão perante o convite de António Costa para “considerar a possibilidade de liderar” um novo governo. Pelo meio houve uma confrontação com o Presidente. A oposição está a questionar as condições de independência de Mário Centeno à frente do supervisor, algo que estará na mira do comité de ética do Banco Central Europeu (BCE).

Todos estes acontecimentos estão a ter amplo destaque não só na imprensa nacional, como nos media internacionais, desde logo as principais agências financeiras como a Bloomberg e a Reuters, ou jornais de grande influência como o Financial Times, mas parecem ter passado ao lado da agência portuguesa responsável pela gestão da dívida pública.

Pelo menos, a apresentação do IGCP relativa a novembro e divulgada esta terça-feira, uma semana depois da demissão de António Costa, ignora a crise política que se instalou no país.

Pelo contrário, a agência continua a indicar (ver slide 4) que o país goza de uma “situação política estável”, com “um Governo apoiado por uma maioria no Parlamento”, uma informação que já vinha nos anteriores relatórios e que estará certamente por atualizar.

Slide 4 da apresentação aos investidores de novembro.IGCP

 

A apresentação aos investidores é atualizada mensalmente e dá conta dos principais números e tendências da economia do país junto dos mercados que compram dívida portuguesa. Questionado pelo ECO, a agência liderada por Miguel Martín não respondeu até a publicação deste artigo.

Bolsa ainda recupera, dívida não segue pares

Os analistas consideram que, depois de um primeiro embate muito negativo, a crise política não está a ter um grande impacto na perceção dos investidores. Mas, uma semana depois da notícia das investigações que levaram à demissão do primeiro-ministro, as contas ainda são desfavoráveis.

PSI ainda recupera

Fonte: Reuters

No dia em que Costa se demitiu, a 7 de novembro, o principal índice bolsista português tombou mais de 2,5%, na pior sessão em meses, com a capitalização bolsista das 16 empresas do PSI a cair 1,7 mil milhões de euros. Desde então, a bolsa tem estado a recuperar, mas ainda não totalmente: encerrou a sessão desta terça-feira nos 6.339,99 pontos, ainda 1% abaixo do nível em que fechou na sessão de dia 6 (antes da crise).

No mercado de dívida, embora a yield das obrigações portuguesas a 10 anos registe um recuo de 12 pontos base desde segunda-feira da semana passada, o prémio de risco em relação à Alemanha agravou de forma ligeira, enquanto os pares Espanha e Itália tiveram reduções dos juros mais acentuadas.

Prémio de risco não acompanha pares

Fonte: Reuters; Spread em relação à dívida alemã a 10 anos

“Não obstante a demissão do primeiro-ministro ter sido um evento disruptivo para a vida política, ao nível económico no curto prazo, as consequências são limitadas, tendo em conta a decisão do Presidente da República em manter o executivo até pelo menos ser aprovado o Orçamento de Estado”, disse Mário Martins, analista da ActivTrades.

João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, notou que o maior risco para os mercados e investidores poderá vir da instabilidade e da incerteza que possam sair dos resultados das eleições de 10 de março.

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Portos “entupidos” ameaçam fornecimento de trigo à indústria alimentar. Pão e massas vão ficar mais caros

Silos cheios em Leixões e Lisboa condicionam descarregamento de navios com matéria-prima para fabricar pão, bolos, massas, bolachas ou cereais de pequeno-almoço. Custos terão “reflexos" nos preços.

É mais uma “tempestade perfeita” a ameaçar a indústria alimentar em Portugal. Depois do disparo dos custos logísticos na sequência da pandemia e do risco de virem a faltar os cereais após o início da guerra da Ucrânia, agora é a sobrelotação dos silos portuários em Leixões e no terminal do Beato (Lisboa) que ameaça o abastecimento de trigo para o fabrico de pão, produtos de pastelaria, massas, bolachas ou cereais de pequeno-almoço. Os industriais do setor afastam, para já, a necessidade de “limitar as vendas”, mas advertem ao ECO que o aumento dos custos “vai ter necessariamente reflexos no preço de venda dos produtos”.

Em causa está sobretudo a chegada nas últimas semanas aos portos portugueses de navios de grandes dimensões com carregamentos de milho, soja e outras matérias-primas destinadas às rações animais. Devido aos maiores constrangimentos à importação da Ucrânia — embora nas últimas semanas tenham saído alguns pelos corredores alternativos abertos pela União Europeia, o que acrescenta pressão nestas infraestruturas –, esses produtos estão a vir de origens mais longínquas, como Brasil, Canadá ou África do Sul. E em maiores quantidades, o que está a “entupir os armazéns portuários”, relata Luís Ramos, presidente da APIM.

“Com esta sobrelotação em Leixões e no Beato, quando chegam de França os nossos barcos mais pequenos com trigo panificável ou trigo duro [usado nas massas] não têm espaço em silo e os barcos inclusivamente não podem acostar – porque não vão ocupar cais se não podem manobrar. E ficam ao largo a aguardar vez para descarregar, com custos muito significativos para a indústria. Corremos o risco de eventualmente faltar o cereal e de não haver farinha para fazer pão, bolachas ou massas alimentícias porque a capacidade de armazenagem nas fábricas é muito reduzida e estamos habituados a fazer uma rotação quase semanal de navios”, dramatiza o porta-voz da associação empresarial.

Corremos o risco de eventualmente faltar o cereal e de não haver farinha para fazer pão, bolachas ou massas alimentícias porque a capacidade de armazenagem nas fábricas é muito reduzida e estamos habituados a fazer uma rotação quase semanal de navios.

Luís Ramos

Presidente da APIM (indústria de moagem)

Até ao final do ano, com o aproximar do período natalício em que o consumo cresce, a expectativa dos industriais é que o trânsito dos navios aumente. E se as condições de descarga se mantiverem “limitadas”, os industriais acenam com o “risco de ter de refletir isto no preço”. “Mas o pior que pode acontecer é poder haver mesmo falta de cereal e termos de limitar as vendas. Isso é algo que não queremos. Nem queremos inflamar o mercado e que os clientes desatem a correr [às lojas] com receio que acabe a farinha e que não haja pão. Não estamos nessa situação”, contextualiza Luís Ramos, que é também administrador da Germen e do grupo Better Foods.

Pedro Moreira da Silva, CEO da Cerealis, confirma ao ECO esta “situação crítica” nos principais portos portugueses, em que “estas infraestruturas estão completamente cheias, chegando ao ponto de não ser possível descarregar barcos que estão a chegar todas as semanas”. “Esta situação já está a gerar sobrecustos logísticos e de sobre-estadias dos navios, que se irão repercutir no aumento do custo industrial”, completa o líder do grupo nortenho que detém as marcas Milaneza ou Nacional. Cada dia de atraso de um cargueiro na descarga poderá custar entre 20 a 30 mil euros, calcula o gestor, “o que se somará aos custos de logística acrescida que a falta de armazenagem vai provocar”.

Estas infraestruturas (Lisboa, Leixões e Aveiro) estão completamente cheias, chegando ao ponto de não ser possível descarregar barcos que estão a chegar todas as semanas. Esta situação já está a gerar sobrecustos logísticos e de sobre-estadias dos navios que se irão repercutir no aumento do custo industrial.

Pedro Moreira da Silva

CEO da Cerealis

Além disso, há outras nuvens a pairar sobre esta indústria alimentar, como o da subida “relevante” dos preços do trigo duro durante o verão, como o ECO noticiou em agosto, na sequência das más colheitas em Espanha e França e da redução a produção do Canadá, e que “obviamente terá impacto no preço das massas de 2024”, confirma agora o presidente executivo da Cerealis, que tem fábricas na Maia, Porto, Trofa, Coimbra e Lisboa.

Por outro lado, começam a surgir outros dados que vão onerar ainda mais os fatores de produção, desde logo uma “subida muito significativa dos custos totais de energia”. “As tarifas de eletricidade vão, aparentemente, subir de forma muito relevante numa altura em que as estimativas de custos da energia (elétrica e gás) vão também subir”, sustenta o filho de Carlos Moreira da Silva, dono da BA Glass, que há dois anos, em parceria com a família Silva Domingues, comprou este que é um dos maiores grupos nacionais do setor alimentar.

Reservar espaço nos silos para alimentação humana

Admitindo serem “contas por alto” e que podem pecar por defeito, o líder da APIM contabiliza que, entre o trigo mole (panificável) e o trigo duro (usado no fabrico das massas), as fábricas deste setor precisam de consumir mais de 3.000 toneladas de cereal por dia. Com a indústria nacional a depender em mais de 90% da importação de cereais, esta organização já alertou o Governo para a urgência de aumentar a capacidade de armazenamento nos portos e adaptar estas infraestruturas às “necessidades da indústria”, sob pena de terem de continuar a “fazer estas ginásticas” em situações de crise como a atual.

Luís Ramos dá o exemplo de Leixões, onde se mantém há cerca de um mês um navio que trouxe 40 mil toneladas de milho brasileiro sem conseguir descarregar a totalidade da carga, que equivale a 40% da capacidade total do silo concessionado à SDL. Ao mesmo tempo, um navio com trigo, que em condições normais ficaria apenas dois dias neste porto, não havendo espaço neste armazém temporário, está há mais de uma semana a descarregar faseada e diretamente para as fábricas, “com custos muito significativos para a indústria”.

É que a alternativa de desviar as mercadorias para outros portos também é pouco viável, quer em termos logísticos, quer financeiros. A Norte, o Porto de Aveiro está igualmente “cheio com produtos sobretudo para a alimentação animal”. Já Viana do Castelo e Marín (Galiza) não estão habituados nem preparados para este tipo de operações e o abastecimento às fábricas do Grande Porto, neste caso, obrigaria a indústria a suportar “custos avultados”.

A solução mais imediata, sugere o representante das moagens de trigo e dos produtores de massas, bolachas e cereais de pequeno-almoço, que diz estar em contacto com o Ministério da Agricultura e da Alimentação – a tutela não respondeu às questões do ECO –, seria “reservar uma parte do espaço nos silos exclusivamente para os cereais destinos à alimentação humana”. “É o Governo que pode regular isto e estabelecer prioridades, em função do consumo. Acho que a alimentação animal não é prioritária face à humana”, acrescenta Luís Ramos, salvaguardando que “não [quer] um conflito com os homens das rações, mas é uma questão de acautelar as prioridades e ter isso em conta”.

Indústria de rações “aproveita as oportunidades do mercado”

Sem querer comentar diretamente esta proposta e lembrando que a gestão dos silos segue a lógica de “first come, first serve e, por isso, “têm de esperar pela saída de matéria-prima para entrar outra”, Jaime Piçarra, secretário-geral da associação que representa os produtores de alimentos para animais (IACA), reconhece que “a APIM tem razão e, como os silos estão cheios, neste pico não há a rotação que havia anteriormente, em condições normais”. No entanto, nota que também os industriais das rações estão a suportar os “sobrecustos” de ter os seus barcos à espera, o que “significa um produto final mais caro”.

Depois destas experiências e desta volatilidade, seria importante aumentar a área de armazenagem, promover uma maior rotatividade e, se calhar, a capacidade de as empresas terem mais espaço em casa para fazerem stock.

Jaime Piçarra

Secretário-geral da IACA (indústria de alimentos compostos para animais)

No início da guerra na Ucrânia, uma grande produtora de cereais, “ficou evidente a fragilidade nacional” no que toca a estas matérias-primas. E ainda em fevereiro deste ano, devido a uma greve às horas extraordinárias na Silopor, a gestora dos terminais da Trafaria e do Beato, em Lisboa, advertiu que o país só tinha stocks para 15 dias. Neste momento, o cenário é o oposto, com o porta-voz da IACA a falar numa “questão de aproveitar as oportunidades do mercado”. É que não só estão a chegar neste momento os cereais que foram encomendados pelas empresas noutras origens mais distantes, como carregamentos de milho da Ucrânia via rotas alternativas abertas pela UE, após a ameaça russa ao acordo dos cereais.

Confirmando que os silos estão cheios com milho e soja para a alimentação animal, mas que a indicação que têm da gestora é que “estão a sair bem e com regularidade” para as fábricas, Jaime Piçarra concorda que “depois destas experiências e desta volatilidade, seria importante promover uma maior rotatividade e a aumentar capacidade de as empresas terem mais espaço em casa para fazerem stock”. É que o investimento em novos silos, pelo menos na região de Lisboa, continua a ter o “problema de fundo” de a Silopor, uma empresa de capitais públicos, estar em liquidação há mais de 20 anos.

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As marcas, as bandas e a curadoria musical

  • Conteúdo Patrocinado
  • 15 Novembro 2023

Este é um texto sobre comunicação de marketing, sobre emissores e recetores, sobre pessoas que queremos que nos oiçam.

Uma opinião profissional sobre como ligar com eficácia, marcas a músicas. Comecemos pelo princípio, pela definição de curador; “aquele que cuida melhor, guarda e protege, que é encarregado pela organização e manutenção; designação comummente associada às artes e exposições.” A curadoria musical é, aos dias de hoje, uma realidade do mundo da comunicação, em mercados maduros, como o inglês, americano ou brasileiro. É um processo de escolha, por entre uma diversidade de opções estéticas sonoras disponíveis, a partir de uma pesquisa musical, para definir as que mais se adequam a expressar uma mensagem para uma marca.

Por isto, cada vez mais a curadoria musical está na vida dos marketeers e invariavelmente dos consumidores. Claro que todos podemos e devemos fazer as nossas “curadorias musicais”, playlists ou programações, mas sabemos que, em boa verdade, a maioria das pessoas as prefere receber já feitas; organizadas em função do momento ou temática tal e etc.… por isto também, alguém as faz (emissor), a pensar nesse alguém que as quer (recetor). Quando se trata de comunicar através da música, ligar profissionalmente uma marca à música, importa consultar quem se dedica a fazer o trabalho, de forma profissional, apaixonada, criativa e com foco nos objetivos a que cada marca propõe responder; profissionais com capacidade para descobrir novos caminhos, territórios e formatos musicais de comunicação.

A curadoria musical para marcas pressupõe, para além do gosto pessoal, alguém do outro lado para quem esta é pensada, construída com um determinado objetivo. Claro que é legítimo pensar que se temos uma marca que toca imensas pessoas, chamamos um músico “imensas pessoas” e já está! Mas isso existe? Sim, claro, mas nunca nada nos toca assim… Se a música tem que ir ao encontro de um momento específico, hábitos ou mudança deles, idades, tendências, ou ambientes específicos oscilantes num período de tempo, coitado daquele que toca tudo, e afinal toca muito para pouco ou muito para nada. E um desperdício financeiro.

O curador musical será sempre uma espécie de garimpeiro, no meio de tanta música que passa nos dias de hoje, das diferentes formas e plataformas, dos diversos acessos e valores, de forma a conseguir descobrir as “melhores pepitas”, para recomendar / usar nos projetos a realizar. Só com conhecimento profundo, destes dois mundos se consegue com eficácia, desenhar e celebrar projetos win-win, capazes de fidelizar públicos. Por isto, a curadoria musical (music branding) muito mais que alinhar, programar bandas ou tocar músicas – é comunicar! E saber deixar o gosto pessoal musical, para as pessoas.

Luís de Carvalho, Founder da Bands and Brands

 

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PS deixa cair aumento do IUC para carros anteriores a 2007. Regime dos residentes não habituais vai mesmo acabar

Apesar da insistência do ministro das Finanças, a bancada parlamentar do PS decidiu anular o agravamento do imposto. O fim do regime dos residentes não habituais é para manter, no entanto.

Afinal, a penalização do Imposto Único de Circulação (IUC) para viaturas anteriores a julho de 2007, que tanta contestação social tem gerado, vai mesmo cair. Esta terça-feira à noite, pouco antes da meia-noite, a bancada do PS decidiu apresentar uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2024 (OE2024) que anula a medida. O grupo parlamentar esteve mais de seis horas em reunião intermitente, desde as 17h30, sobretudo para decidir que posição tomar em relação ao IUC. E o desfecho não foi consensual, sabe o ECO, mas vai ao encontro das reivindicações de todos os partidos da oposição. De resto, a petição eletrónica pública contra o aumento do imposto já reuniu mais de 400 mil assinaturas.

Horas antes, o aumento do imposto tinha sido defendido com unhas e dentes pelo ministro das Finanças, durante uma audição no Parlamento no âmbito da discussão na especialidade do OE 2024. “O Governo sustenta a proposta que fez quanto a um aumento máximo de 25 euros por ano”, afirmou Fernando Medina, esta terça-feira, na audição parlamentar sobre o Orçamento do Estado para 2024, antes de o PS tomar uma decisão final sobre o tema.

O fim do regime dos residentes não-habituais é, contudo, para manter, sabe o ECO.

Recorde-se que o prazo limite para a entrega de proposta de alteração ao OE foi adiada duas vezes, primeiro das 18h para as 21h desta terça-feira e depois para as 23h45.

Até às 00h38, o site do Parlamento registou 1.864 iniciativas, um novo recorde, apesar de o Governo estar demissionário. De recordar que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, optou por viabilizar o OE para 2024 e só depois publicar o decreto que exonera o Governo, a sequência do pedido de demissão do primeiro-ministro, António Costa, assim que soube que estaria envolvido nas investigações do Ministério Público por causa de suspeições de corrupção relacionadas com negócios do lítio, hidrogénio verde e com o centro de dados de Sines, no âmbito da Operação Influencer.

A proposta do PS de eliminação do aumento do IUC, que estaria, ainda assim, condicionada a uma subida máxima de 25 euros por ano, já deu entrada na página da Assembleia da República. Na nota explicativa, os deputados socialistas reconhecem que “o veículo ligeiro é em muitos casos ainda a principal forma de deslocação para o trabalho ou para deslocação até ao meio de transporte público mais próximo, principalmente fora das principais cidades do país e em zonas de média e baixa densidade, onde a oferta de transportes públicos é reduzida e desadequada às necessidades diárias de mobilidade”.

“Nestes casos, em que o carro é uma absoluta necessidade, acresce o facto de muitos cidadãos não terem meios financeiros para a substituição por um veículo mais recente. Assim, considera-se importante por uma questão de justiça social e proteção dos cidadãos com maior vulnerabilidade económica, retificar a proposta de OE neste sentido”, de acordo com a propostas de anulação do aumento do IUC e que vai ao encontro das exigências do partidos da oposição.

A decisão não foi fácil. A pressão para manter o agravamento do IUC com um teto anual de 25 euros era elevada, mas a direção da bancada, liderada por Eurico Brilhante Dias, acabou por concluir que não fazia sentido manter a medida, uma vez que estava desenhada para vários anos, estando o Pais à beira da umas eleições antecipadas. De resto, o conselheiro de Estado do Presidente da República, ex-líder do PSD e comentador da SIC, Luís Marques Mendes, já tinha avançado no domingo à noite que o PS deveria deixar cair a medida para não ter ” uma dor de cabeça na campanha eleitoral”.

O aumento do IUC para três milhões de carros e 500 mil motociclos com matrícula entre 1981 e julho de 2007, proposto pelo Governo, tem por base a inclusão da componente do CO2, ainda que, no momento da compra, estas viaturas tenham pago um Imposto sobre Veículos (ISV) mais elevado. O Executivo contava encaixar 84 milhões de euros por ano com esta penalização que iria compensar a perda de receita de 72,4 milhões de euros com os descontos de 30% nas portagens das ex-SCTUT (sem custos para o utilizador) da A22 Algarve, A23 IP e Beira Interior, A24 Interior Norte, A25 Beira Litoral e Beira Alta, A4 Trasmontana e Túnel do Marão, e A13 e A13-1 Pinhal Interior.

De salientar que o agravamento do IUC nos veículos a gasóleo anteriores a julho de 2007 poderia chegar a 1746% nos próximos anos, segundo contas do ECO.

Fim do regime para residentes não habituais é para manter

Já o regime dos residentes não habituais, que dá benesses fiscais a empresas e pensionistas estrangeiros, é mesmo para eliminar. O PS não vai travar a intenção do Governo. Este regime permite aos trabalhadores, com atividades consideradas de elevado valor acrescentado, pagarem uma taxa especial, mais baixa, de 20% de IRS sobre os rendimentos das categorias A (trabalho por conta de outrem) e B (trabalho independente). Já os reformados pagam uma taxa de 10% de IRS sobre as suas pensões.

A medida tem gerado contestação, mas o PS vai manter a proposta do Governo que apena dá isenções fiscais para a atração de emprego qualificado e de investimento na área das Ciências e Tecnologias de Informação.

De salientar que o Relatório Global sobre Evasão Fiscal 2024 do Observatório Fiscal da União Europeia (UE) concluiu que o regime fiscal português para pensionistas estrangeiros que queiram viver no nosso país é quarto mais prejudicial para o Estado entre os países da UE.

Em 2022, segundo os últimos números, a despesa fiscal do regime de IRS dos residentes não habituais cresceu 18,5%, para os 1.507,9 milhões de euros. Dois anos antes antes, o valor totalizava 972,2 milhões de euros e, em 2021, atingia os 1.271,8 milhões, de acordo com o relatório da despesa fiscal enviado este ano ao Parlamento.

Esta terça-feira, um manifesto assinado por 59 subscritores, incluindo gestores e ex-governantes, defende que o racional apresentado para o fim do regime fiscal do residente não habitual (RNH) previsto no Orçamento do Estado para 2024 não foi “comprovado”.

No documento, os subscritores recordaram que, “nos últimos anos, Portugal conseguiu atrair investimento estrangeiro relevante” e que “tal só foi possível graças ao crescente capital de confiança na economia portuguesa”, dando exemplo de investimentos como “a fábrica de baterias elétricas da CALB ou o projeto de semicondutores da SK Hynix”. Segundo o documento, “este contexto positivo requer uma análise ponderada de todos os instrumentos eficazes para atrair capital exterior, gerador de emprego altamente qualificado”, destacando que o regime do residente não habitual integra-se “numa estratégia fiscal assente nos atuais paradigmas da competitividade global”.

(Notícia atualizada às 01h58)

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