De Guindos: um político e ex-líder do Lehman Brothers no BCE
Escolhido para vice-presidente do BCE pelo Eurogrupo, Luis de Guindos não é uma opção consensual nas instituições europeias - muitos, incluindo Draghi, são contra um político no lugar de Constâncio.
Luis De Guindos é o ministro das Finanças espanhol e, a partir do Conselho Europeu no final desta semana, deve ser escolhido como o sucessor de Vítor Constâncio como vice-presidente do Banco Central Europeu, após ter sido eleito pelo Eurogrupo. É a primeira vez que o grupo de ministros das Finanças da Zona Euro escolhe um dos seus próprios membros para o banco central que regula a estabilidade financeira da união monetária, e nem todos estão satisfeitos com isso.
Havia dois candidatos, um dos quais era o favorito do Parlamento Europeu — Philip Lane, governador do banco central irlandês — mas no dia da escolha no Eurogrupo a Irlanda decidiu retirar o nome de Lane da corrida. “Fiquei a saber há uns minutos que o candidato irlandês já não participará”, disse Mário Centeno, enquanto presidente do Eurogrupo, antes de entrar na reunião desta segunda-feira. “Isso deixa-nos Luis De Guindos como o candidato a vice-presidente do BCE”. Pouco tempo depois, um comunicado anunciava já essa escolha unânime.
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De Guindos tem 58 anos e é o ministro das Finanças de Mariano Rajoy desde 2011, tendo guiado as finanças do país através do conturbado período pós-crise. No entanto, antes disso De Guindos era o líder do braço ibérico do Lehman Brothers, cujo colapso teve um papel importante no desencadeamento da crise de 2008, e também trabalhou na consultora PriceWaterhouseCoopers. Não é o perfil habitual de um membro do Banco Central Europeu, assinala a Bloomberg: os seis membros do quadro executivo do BCE costumam ser escolhidos pela sua experiência em bancos centrais e trabalho académico, o que não é o caso do ministro espanhol.
As críticas têm chegado principalmente do Parlamento Europeu, onde os eurodeputados, cujo parecer não é vinculativo, preferiram o irlandês a De Guindos. O alemão Sven Giegold, por exemplo, do grupo dos Verdes, afirmou, citado pelo Público espanhol, que “não deveria ser aceitável que um representante do Eurogrupo passe diretamente para o conselho do BCE”, esclarecendo que “a independência deve ser o símbolo distintivo de quem pertence” à instituição.
Para o Eurogrupo, segundo fontes diplomáticas europeias que falaram ao mesmo jornal, procura-se um perfil político, mas para o BCE quer-se “uma trajetória técnica, de banqueiro central”. O Politico escreve que o próprio Mario Draghi se opõe “ferozmente” a um político no banco central, além de não gostar pessoalmente de De Guindos. Draghi não tem voto na matéria, mas pode opinar junto dos seus próximos, assinala o jornal de política europeia. Isto porque, afinal, a escolha é política e ligada aos governos europeus. A escolha de um espanhol para o lugar de Vítor Constâncio assegura que se mantém o equilíbrio Norte-Sul da Europa e que o sucessor de Draghi já em 2019 pode ser o presidente do banco central alemão, o Bundesbank, Jens Weidmann.
Para Pierre Moscovici, comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, não existem dúvidas de que De Guindos é um bom candidato ao lugar. À entrada da reunião do Eurogrupo onde a decisão foi tomada, Moscovici disse aos jornalistas: “É um homem competente, que aplicará a sua experiência nas suas novas funções”. E sobre o facto de ser um político, sem experiência com bancos centrais? Moscovici não recuou: “Essencialmente, os políticos são pessoas. Estou certo de que o meu amigo De Guindos, que lutou pelo setor bancário espanhol, que esteve connosco enquanto enfrentámos a crise grega, conseguirá aprender e fazer um bom trabalho enquanto vice-presidente do Banco Central Europeu”.
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