Mais receitas, mais lucros. Media estão a dar a volta à crise?

As empresas de comunicação social aumentaram os lucros e as receitas no primeiro semestre e o mercado da publicidade ganhou fôlego, sobretudo no digital. Além disso, estão menos endividadas.

As três empresas de media cotadas na bolsa nacional melhoraram as contas no primeiro semestre.

O setor da comunicação social está a recuperar em Portugal, pelo menos a avaliar pelos resultados apresentados pelos três grupos de media cotados na bolsa de Lisboa, relativos ao primeiro semestre deste ano. Cofina, Impresa e Media Capital conseguiram aumentar os lucros e as receitas, ao mesmo tempo que reduziram a dívida na ordem das centenas de milhões de euros. O mercado da publicidade está novamente a crescer, mas as receitas de circulação na imprensa em papel continuam a cair.

No geral, as empresas que detêm a SIC, a TVI e o Correio da Manhã registaram crescimentos expressivos nos lucros. A Media Capital, que detém a maior quota de mercado com a TVI, foi a que lucrou maisviu o resultado líquido subir 26% em termos homólogos, para os 10,5 milhões de euros. Isto depois da venda falhada do grupo à Altice, dona da operadora Meo.

Já a concorrente Imprensa IPR 0,00% , dona da SIC, lucrou 2,51 milhões de euros, uma subida expressiva face aos 35 mil euros que tinha obtido no mesmo período em 2017. No entanto, o valor deve ser visto à luz da venda do portefólio de revistas ao empresário Luís Delgado, no início deste ano, por 10,2 milhões de euros.

A Impresa tem levado a cabo um ambicioso plano de reestruturação. Depois de vender as revistas, vai juntar a SIC no mesmo espaço do semanário Expresso. Recentemente, vendeu esse edifício ao Novo Banco, encaixando 24,2 milhões de euros com a operação. De seguida, alugou-o por dez anos e vai pagar uma renda mensal. A venda vai ajudar a financiar a expansão daquele espaço e a liquidar um empréstimo obrigacionista que vence nos próximos meses.

Também a Cofina CFN 0,00% , dona do Correio da Manhã e da CMTV, foi capaz de multiplicar os lucros nos primeiros seis meses de 2018. O grupo mais do que triplicou o resultado líquido, para os 2,6 milhões de euros, algo que explica com os bons resultados com o negócio da televisão. Aliás, foi um dos dois pontos destacados num comunicado à CMVM: por um lado, o “excelente desempenho do segmento de televisão” com a CMTV e, por outro, “os resultados do processo de reestruturação, que se estão a materializar no crescimento da rentabilidade do segmento de imprensa”.

Cofina ultrapassa Impresa nos lucros do primeiro semestre

Fonte: Empresas

O EBITDA consolidado (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) das três empresas também melhorou significativamente. O da Impresa subiu 69,2% para 10,2 milhões de euros; o da Media Capital cresceu 12% para 19,4 milhões de euros e o da Cofina aumentou 24,3% para sete milhões de euros.

As três empresas também foram capazes de gerar mais dinheiro no semestre, sobretudo a Media Capital MCP 0,00% . A dona da TVI obteve rendimentos de 86,7 milhões de euros, uma subida homóloga de 10%. A Cofina melhorou as receitas em 2,1%, para 44,9 milhões de euros. A Impresa também subiu as receitas, mas timidamente: cresceram 0,2% para 86,8 milhões de euros, segundo os mais recentes resultados reportados à CMVM.

Publicidade a ganhar fôlego. Cresce mais no digital

Numa altura em que a Google e o Facebook ainda detêm a “fatia” esmagadora do mercado, o negócio da publicidade deu mais receitas à Impresa e Media Capital. Só com este segmento de negócio, a dona da SIC gerou 55,4 milhões de euros, mais 2,3% do que há um ano. Já a dona da TVI aumentou os rendimentos com publicidade em 3%, para 58,6 milhões de euros. A Cofina,e em contrapartida, viu estas receitas encolherem em 3,3%.

O crescimento evidencia que o mercado publicitário voltou a ganhar fôlego, mas a Media Capital destaca ainda um pormenor: os anunciantes estão a voltar-se cada vez mais para o digital. “Na área digital, o semestre ficou pautado por uma forte melhoria dos resultados a nível de audiências e receitas. Na comparação com o período homólogo, o número de visitas, páginas vistas e vídeos visionados subiu 21%, 18% e 46%, respetivamente, contribuindo decisivamente para os 19% de crescimento da publicidade” neste segmento, sublinha a companhia liderada por Rosa Cullell.

No caso dos dois maiores grupos de media portugueses, a esmagadora maioria das receitas com publicidade ainda são geradas com a televisão. E os canais da SIC, neste campo, são mais rentáveis: a Impresa registou receitas com publicidade na TV na ordem dos 48,6 milhões de euros, enquanto a Media Capital ficou nos 48 milhões.

O crescimento é mais acelerado no caso da dona da TVI e vale a pena notar que, no global, as receitas da Impresa com televisão caíram 2% no semestre. A explicar esta queda está o fim de alguns programas, como o A Vida nas CartasJuntos à Tarde, levando a dona da SIC a uma queda de 31,8% nas receitas com os IVRs, as chamadas de valor acrescentado.

Na área digital, o semestre ficou pautado por uma forte melhoria dos resultados (…), contribuindo decisivamente para os 19% de crescimento da publicidade.

Media Capital

Apesar de a Cofina destacar “o importante contributo” da CMTV para os resultados do grupo, e apesar de deter o jornal com maior circulação no país, as receitas com publicidade caíram 3,3% para 7,8 milhões de euros. Também foi visível uma queda nas receitas de circulação de jornais, que deslizaram 7,4% no semestre, para 10,8 milhões de euros.

Queda semelhante, mas menos expressiva, teve a Impresa, que ainda detém títulos como o Expresso: viu as receitas de circulação caírem 1,2% no semestre, para 4,6 milhões de euros. A tendência é de queda numa altura em que o negócio da imprensa em papel tem vindo a perder fôlego com o crescimento do digital.

Já a Media Capital não detém revistas ou jornais no seu portefólio, mas detém rádios. E as receitas com a rádio cresceram 4%, para os 9,5 milhões de euros. A empresa detém, por exemplo, a Comercial, e tem vindo a conseguir um bom retorno com este negócio. Só os rendimentos com publicidade cresceram 3%, para os 9,1 milhões de euros.

Indicadores reportados pelas empresas no final do primeiro semestre

(Variações calculadas em termos homólogos)

Despesas ainda pesam. Mas a dívida cai

A rubrica das despesas é menos “convergente” entre os três principais grupos. Impresa e Cofina, que têm planos de reestruturação, reduziram os gastos no semestre: os custos da primeira caíram 4,9% para 76,6 milhões de euros, enquanto os da segunda reduziram-se em 1,2% para 37,9 milhões de euros. Em sentido inverso, a Media Capital tem vindo a reduzir esta rubrica, mas viu as despesas subirem 9% este semestre, para os 67,4 milhões de euros.

Um último fator de relevo é a dívida. E a conclusão é a de que as empresas de media cotadas na bolsa portuguesa estão menos endividadas do que há um ano, na ordem das centenas de milhões de euros.

A dívida da Impresa continua a ser a mais elevada, mas caiu 1,8% no semestre, para os 185,7 milhões de euros. Já a da Media Capital foi a que mais encolheu: caiu 22% para os 74,1 milhões de euros. A dona do Correio da Manhã e Jornal de Negócios recuou 5,7% em termos homólogos, para os 47,3 milhões de euros.

O que dizem os analistas? Ainda há crise

Face aos mais recentes resultados da Impresa, os analistas do CaixaBank BPI notam que o segundo trimestre deverá ser o melhor trimestre do grupo durante este ano, “por causa do efeito do Mundial e do Rock in Rio”.

Antecipam ainda uma estagnação ou queda do mercado publicitário em julho e um aumento das despesas com a reestruturação neste segundo semestre do ano. “Isto será causado pela transferência de pessoal no novo edifício e, também, as novas tecnologias que estão a ser implementadas vão reduzir o número de funcionários, o que deverá acontecer antes do final do ano”, lê-se numa nota a que o ECO teve acesso.

"No segmento de negócio de imprensa, as receitas de circulação e publicidade [da Cofina] continuam a cair.”

Helena Barbosa

Analista do CaixaBI

Em relação à Cofina, os analistas do CaixaBI destacam o desempenho da CMTV: “A CMTV tem registado subidas constantes nos níveis de audiências, sendo o canal com maior audiência no cabo e o quarto maior canal, atrás dos canais TVISIC RTP1, os quais são transmitidos em sinal aberto”, indica a analista Helena Barbosa numa nota de research a que o ECO teve acesso.

“A Cofina apresentou um crescimento significativo dos resultados suportado no desempenho do canal CMTV e na redução dos custos operacionais na sequência do processo de reestruturação levado a cabo no ano passado”, refere ainda a analista. Em contrapartida, conclui: “No segmento de negócio de imprensa, as receitas de circulação e publicidade continuam a cair”.

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