Mais sobreendividados recorrem à Deco. Mas chegam mais cedo
Até outubro, o Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da Deco recebeu 26.180 pedidos de ajuda de pessoas com dificuldades no pagamento dos créditos. São mais 100 pessoas face ao período homólogo.
A situação económica do país melhorou, mas o número de pessoas com dificuldade em cumprir o pagamento dos créditos não segue a mesma tendência. Este ano, chegaram ao Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS) da Deco mais 100 pedidos de ajuda face ao mesmo período de 2017. Mas o balanço não é totalmente negativo. Os pedidos de apoio chegam mais cedo àquele gabinete.
Na data em que se celebra o Dia Mundial da Poupança, a associação de consumidores divulga que até outubro, 26.180 famílias recorreram ao GAS em busca de apoio para resolverem as suas situações de sobreendividamento. Este número representa um aumento de 100 face aos 26.080 pedidos acolhidos por aquele gabinete no mesmo período do ano passado. E compara ainda com um ano de 2017 em que o número total de pedidos de ajuda tinha encolhido face ao ano anterior: 29.000 face aos 29.530 registados em 2016.
Pedidos de ajuda crescem entre 2017 e 2018
“A nossa perceção é que há uma maior pressão de pedidos de ajuda e estamos a sentir muitas solicitações nos últimos meses”, começa por dizer Natália Nunes, coordenadora do GAS. A especialista da Deco alerta ainda que “estes dados podem parecer um pouco contraditórios”, atendendo à melhoria de indicadores como a redução do desemprego, mas salienta que atualmente “existem outras causas” por detrás dos casos de sobreendividamento.
"A nossa perceção é que há uma maior pressão de pedidos de ajuda e estamos a sentir muitas solicitações nos últimos meses.”
“Desde logo, a deterioração das condições laborais, como os contratos precários e a termo, com impacto negativo no rendimento das famílias”, começa por justificar, acrescentando ainda uma realidade que ganhou relevância no conjunto de situações mais referidas pelos consumidores queixosos. Nomeadamente, os negócios e investimentos malsucedidos que estão na base de 6% dos pedidos de apoio acolhidos nos primeiros dez meses do ano.
Histórico de pedidos de ajuda
Fonte: Deco
“São pessoas que confrontadas com o desemprego tentaram criar o seu próprio negócio, mas acabaram por entrar em dificuldade”, explica Natália Nunes que salienta ainda o aumento dos casos relacionados com a perda de rendimento resultante da passagem à reforma: 2% do número total de casos.
Contudo, na liderança dos pedidos de ajuda mantêm-se as situações de desemprego que estão por detrás de 20% dos pedidos de apoio, ainda assim abaixo dos 30,1% registados no ano passado. Por sua vez, a deterioração das condições de trabalho são a segunda causa, representando 19% das situações, o que compara com 23,4% dos casos em 2017.
Pedidos de ajuda chegam mais cedo
Mas os dados do GAS também dão sinais positivos. Especificamente, o aumento de casos em que os pedidos de ajuda chegam ainda antes da entrada em situações de incumprimento. Do total de pedidos de ajuda recebidos, 51% diziam respeito a famílias que ainda mantinham os créditos regularizados. Trata-se da proporção mais elevada desde pelo menos 2011, o primeiro do histórico disponibilizado por aquele gabinete. Nesse ano eram apenas 29% os casos semelhantes, enquanto que em 2017 a proporção foi de 45%.
"A informação que as pessoas têm poderá ser determinante, bem como o facto de ser uma matéria tão debatida, no sentido de as levar a procurarem ajuda mais cedo.”
Natália Nunes vê essa situação como o resultado de uma maior consciência das famílias relativamente aos riscos associados ao sobreendividamento. “Acredito que seja esse o caso. A informação que as pessoas têm poderá ser determinante, bem como o facto de ser uma matéria tão debatida, no sentido de as levar a procurarem ajuda mais cedo“, diz a esse propósito, salientando contudo que a “pressão da banca também pode ter esse efeito.
Regresso ao passado à vista?
Entre os dados compilados pelo GAS também é notório o “peso dos excessos” cometidos antes da crise financeira, especificamente no que respeita ao crédito à habitação. Cada processo aberto por aquele gabinete tem associado, em média, cinco créditos, sendo um deles para a compra de casa, dois créditos pessoais e dois relacionados com cartões de crédito.
Contudo, no que respeita ao crédito à habitação, quase quatro em cada dez processos (39%) dizem respeito a contratos celebrados no período entre 2006 e 2010, altura em que os bancos tinham a torneira do crédito bem aberta.
"Para nós que estamos particularmente preocupados com o crédito à habitação, e apesar dos juros historicamente baixos, é preocupante ver que temos situações que dizem respeito a empréstimos realizados no ano passado.”
Mas Natália Nunes já encontra alguns sinais de alerta associados aos empréstimos realizados mais recentemente, tanto para a compra de casa, como para consumo. “Para nós que estamos particularmente preocupados com o crédito à habitação, e apesar dos juros historicamente baixos, é preocupante ver que temos situações que dizem respeito a empréstimos realizados no ano passado”. Do total de processos de 2018 da Deco, 4% dizem respeito a créditos à habitação celebrados no ano passado.
A especialista não avança um número, mas alerta que no caso do crédito pessoal a proporção é ainda mais elevada. Neste âmbito revela especial preocupação com os empréstimos disponibilizados online. “Estamos a assistir a novas formas de contratação que nos podem trazer problemas nos próximos tempos“, avisa.
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