Caixa financiou Berardo sem qualquer parecer da direção risco
A Caixa financiou Joe Berardo entre 2007 e 2012 em operações que não tiveram qualquer parecer de risco. Neste período também foram realizadas duas reestruturações sem intervenção da direção de risco.
Foi Mariana Mortágua quem expôs a situação: entre 2007 e 2012, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) concedeu créditos e reestruturou dívida de Joe Berardo sem que a direção geral de risco (DGR) do banco se tivesse pronunciado sobre as operações. O antigo diretor do risco do banco público confirmou a informação no Parlamento.
Em causa estão dois créditos (um de um milhão e outro de 38 milhões) e duas reestruturações associadas à Metalgest e à Fundação Berardo em 2008 e 2009. São operações em que não existe parecer de risco, contou a deputada do Bloco de Esquerda. “Confirma-se que não houve a intervenção da direção geral de risco durante esse período”, afirmou José Rui Gomes na II comissão de inquérito à recapitalização da CGD e aos atos de gestão, depois de consultar uma lista com os pareceres que emitiu durante o período em que lá trabalhou.
Como o ECO avançou, José Rui Gomes liderou o departamento do risco da CGD entre 2010 e 2017, mas trabalhou naquela direção desde a sua criação, em 2000, pela mão de Vasco D’Orey, estando atualmente no BNU Macau.
Não era obrigatória haver parecer da direção geral de risco? “Era sim, senhora deputada”, respondeu José Rui Gomes. Retorquiu a deputada: “Houve aqui irregularidades. Houve explicações para isso?”. “Não foi dada nenhuma explicação”, disse o antigo diretor do banco.
"No que respeita à nossa atividade da DGR, não tivemos qualquer perceção de que [Berardo] fosse um cliente especial. Os únicos tratamentos especiais que dávamos na direção de risco era relativo a urgências.”
Um dos financiamentos a Joe Berardo foi citado esta quinta-feira, nomeadamente o empréstimo de um milhão de euros. Cecília Meireles (CDS) contou a história por detrás desta operação: a Caixa emprestou o dinheiro a pedido do BCP para que o comendador liquidasse uma dívida no Santander.
Questionado por Paulo Sá, do PCP, sobre se o banco dava tratamento especial a Joe Berardo, José Rui Gomes respondeu que não. “No que respeita à nossa atividade da DGR, não tivemos qualquer perceção de que fosse um cliente especial. Os únicos tratamentos especiais que dávamos na direção de risco era relativo a urgências”, esclareceu, contrariando as afirmações de Eduardo Paz Ferreira, da comissão de auditoria, que disse na mesma sede que o empresário madeirense era tratado de forma diferente na CGD.
José Rui Gomes afirmou ainda que está de consciência tranquila com o seu trabalho. “Sentimo-nos de consciência tranquila sempre que desempenhamos as funções da melhor forma que sabemos. Sempre foi esse o sentimento”, frisou.
Se está de consciência tranquila, quem falhou? “Quem falhou? Não lhe sei responder. Não podemos ficar indiferentes àquilo que aconteceu no país, com uma redução abrupta do PIB e com os haircuts que tiveram de ser feitos. Todos os dias éramos bombardeados com reduções de valores de colaterais, que tiveram impacto na carteira da Caixa. As imparidades existiram e resultaram em grande parte da evolução macroeconómica”, afirmou.
(Notícia atualizada às 17h43)
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