Luís Montenegro é candidato à liderança do PSD por “uma questão de coerência e convicção”
O ex-líder da bancada parlamentar do PSD anunciou, numa entrevista televisiva, que vai entrar na corrida à liderança do partido. Garante não estar fragilizado pelo caso das viagens ao Euro 2016.
Luís Montenegro é candidato à presidência do PSD. O anúncio foi feito pelo próprio numa entrevista à SIC, emitida esta quarta-feira à noite, inaugurando a corrida pela liderança do partido, numa altura em que existem dúvidas sobre se Rui Rio tenciona recandidatar-se — ou mesmo manter-se — na presidência.
“Cada um tem de assumir as suas responsabilidades e eu assumo a minha. Serei candidato nas próximas eleições diretas que serão convocadas nas próximas semanas”, disse Luís Montenegro, por “uma questão de coerência e convicção”, sublinhou. “O resultado que o PSD obteve no passado domingo [6 de outubro] foi um mau resultado. A estratégia política falhou, como já tinha sido evidenciado nas Europeias, e agora com um resultado que já não tínhamos há 36 anos, muito mau, que deixa ao PSD muito pouco espaço”, explicou.
A notícia da candidatura de Luís Montenegro não é uma surpresa. Esta terça-feira, fontes do partido disseram à imprensa que o antigo líder da bancada parlamentar de Pedro Passos Coelho iria anunciar que está na corrida. Montenegro, que tem estado ausente da vida política nos últimos meses, para frequentar um curso de liderança em França, já terá reunido o apoio de Pedro Duarte, um dos principais opositores internos do atual presidente. “A minha reflexão tem muito tempo”, garantiu esta quarta-feira.
Em janeiro, Montenegro tinha desafiado Rui Rio a convocar eleições diretas, mas o presidente do partido decidiu pedir uma moção de confiança, que foi aprovada, tendo sobrevivido à investida. Meses depois, Montenegro volta a avançar, apesar de garantir que não tem qualquer “guerra pessoal” com Rui Rio. “O PSD tornou-se um partido subalterno do PS. O PS não quer fazer reformas estruturais. O Dr. António Costa não é um reformista”, garantiu. “O PSD colou-se ao PS, mostrou disponibilidade permanente que nunca teve, e o PS nunca deu ou pediu”, afirmou, numa alusão aos acordos assinados entre o Governo e o PSD em matérias de fundos estruturais e descentralização.
Serei candidato nas próximas eleições diretas que serão convocadas nas próximas semanas.
“PSD não pode ser o maior dos pequeninos. Tem de ser o maior dos grandes”
Na entrevista à SIC, o novo candidato à liderança do PSD também apresentou uma estratégia de posicionamento do partido tendo em conta a nova composição do Parlamento. “Dos 226 mandatos atribuídos [faltam quatro], 142 são de partidos da esquerda, centro esquerda ou esquerda mais radical e 84 são do centro político, centro direita, CDS, Iniciativa Liberal e Chega. O espaço político tem 142 de um lado e 84 do outro”, disse. Por isso, questionou: “O PSD vai querer ocupar um espaço que tem tanta gente?”
“Quero um partido vocacionado para ser maioritário. Não pode ser o maior dos pequeninos. Tem de ser o maior dos grandes”, atirou Luís Montenegro, reconhecendo, porém, que esse é um objetivo “difícil de alcançar”. Por isso, não rejeita alianças políticas à direita, exceto com a extrema-direita, representada agora na Assembleia da República (AR) pelo Chega. “O Chega [de André Ventura] não entra nestas contas, porque tem um programa incompatível e inconciliável com o nosso”, rematou.
Montenegro garante que não está fragilizado pelas viagens pagas ao Euro 2016
O tema das viagens ao Euro 2016 a França — que fizeram de Luís Montenegro um arguido num processo criminal por alegados recebimentos indevidos de vantagens — também foi abordado na entrevista. Questionado sobre se não está fragilizado por estas suspeitas, Montenegro respondeu: “De maneira nenhuma”.
“Estou de consciência absolutamente tranquila e seguro de que não cometi nenhum crime. Há um inquérito há três anos para saber se fui ao Euro, como é que fui ao Euro… eu não cometi nenhum crime e não vou deixar de exercer nenhum dos meus direitos cívicos e políticos”, garantiu. De seguida, sublinhou: “Jamais serei condenado pela prática dos crimes que me foram imputados”, rematou. Prometeu ainda: “Não pedi a suspensão provisória do processo, nem nunca o farei”.
Questionado sobre o que defende relativamente ao lugar no partido dos que têm estatuto de arguidos, acusados ou condenados, Montenegro reconheceu a “total pertinência” da pergunta. E sublinhou que “não e possível dar uma resposta simples”: “Há casos e casos”. Com a acusação, “podem haver razões para a suspensão do mandato, se esta estiver relacionada com o exercício de funções, porque isso deixa a pessoa em causa com um espaço de interação muito limitado”, indicou.
Eu não cometi nenhum crime e não vou deixar de exercer nenhum dos meus direitos cívicos e políticos.
Permanência de Rui Rio continua a ser incógnita
A entrevista também permitiu um elogio tímido de Luís Montenegro a Rui Rio, que admitiu que se o atual presidente se tivesse comportado nos últimos dois anos como se comportou nestas últimas semanas, poderia ter vencido as eleições. No entanto, “o resultado destas eleições provou que António Costa era batível”, considerou, tendo o PSD sido “incapaz” de canalizar para o partido os votos daqueles que não desejavam ver o PS com uma maioria absoluta, defendeu.
Na noite eleitoral, após conhecer os resultados das eleições, Rui Rio reconheceu que o PSD “não atingiu o seu principal objetivo, que era ter mais um voto e mais um deputado que o PS”. Porém, considerou o resultado “positivo” tendo em conta as “circunstâncias e a hecatombe” que se previa, afirmou. “Ouvi comentadores a dizer que o resultado é um desastre para o PSD. Não há desastre”, garantiu.
Já esta quinta-feira, David Justino, vice-presidente do partido, admitiu que “não é óbvio” que Rui Rio se vá recandidatar à presidência do PSD, fazendo depender a decisão da “vontade” e da “circunstância pessoal” do social-democrata. “Acho que o Dr. Rio, como já é reconhecido e característico da sua forma de atuar, não vai expressar-se quando existe este coro autêntico de apresentação de candidaturas, de críticas, de ataques”, afirmou, em declarações à TSF.
São várias as vozes internas no partido que têm pedido uma nova liderança no PSD, mas está longe de ser certo que Montenegro seja o candidato preferencial para o cargo. Na terça-feira, Aníbal Cavaco Silva, ex-Presidente da República, mostrou-se entristecido com o resultado do PSD nas legislativas e apelou à mobilização dos militantes que se afastaram (ou foram afastados) pela atual liderança. Numa declaração escrita à Lusa, o ex-chefe de Estado mencionou especificamente o nome da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.
(Notícia atualizada pela última vez às 21h52)
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