Montijo: Há medidas mitigadoras do impacto ambiental que são “absurdas”, diz presidente do conselho de administração da ANA

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

Sobre os atrasos na decisão de avançar a opção do Montijo, o presidente da ANA responsabilizou diretamente o anterior ministro Pedro Marques, que “andou a empatar sem tomar uma decisão".

O presidente do Conselho de Administração da ANA considerou que há medidas “absurdas” entre as propostas da Associação Portuguesa do Ambiente (APA) para mitigar o impacto ambiental do aeroporto no Montijo.

“Há medidas absurdas que a APA propõe. As companhias aéreas terem de financiar os barcos da Transtejo não tem sentido, quem vai pagar na realidade são as taxas dos passageiros”, afirmou José Luís Arnaut, em entrevista à Antena 1/Jornal de Negócios.

O advogado criticou ainda a medida de a ANA – Aeroportos de Portugal ter de construir parte da pista por estacas. “Não tem cabimento nenhum, em vez de haver um aterro, ter de fazer 300 metros de pista por estaca, que custa mais cerca de 40 milhões de euros, porque a velocidade a que a terra é posta no aterro pode fazer estragos nos caranguejos que não têm tempo de fugir”, disse.

Questionado sobre a gestora aeroportuária irá propor alternativas, disse que ainda estão a estudar as medidas de momento. Contudo, apesar de criticar algumas das 159 medidas propostas, afirmou Arnaut que a empresa irá levar a cabo as medidas de mitigação de impacto ambiental. “A política da Vinci é respeitar as medidas estritamente ambientais, criar condições de respeito dessas medidas e fazer o investimento em conformidade”, disse.

O gestor considerou mesmo que neste processo “há razoabilidade por parte da APA” assim como por parte de “todos os intervenientes” e que a partir do momento em que a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) deu parecer positivo “cria condições para que [o aeroporto] possa acontecer”.

Sobre os atrasos na decisão de avançar a opção do Montijo, como aeroporto complementar ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, o presidente da ANA responsabilizou diretamente o anterior ministro Pedro Marques, considerando que “andou a empatar sem tomar uma decisão”. “Em três meses com o ministro Pedro Nuno Santos recuperámos três anos perdidos”, elogiou, por seu lado, este governante, considerando que se as coisas tivessem andado de modo célere “hoje já poderiam estar os ‘caterpillares’ a funcionar no Montijo”.

“Estamos a perder cerca de milhão e meio de passageiros por ano, se não vêm para Portugal vão para outro lado. Perderam-se três anos de investimento, mas vamos recuperar”, afirmou. O prazo para a ANA analisar as medidas de mitigação propostas na Declaração de Impacte Ambiental (DIA) do futuro aeroporto do Montijo foi prorrogado até 20 de dezembro.

A DIA deu ao projeto um parecer favorável condicionado, considerando que as principais preocupações ambientais relacionadas com a construção do aeroporto no Montijo são avifauna, ruído e mobilidade e propôs a aplicação de 159 medidas de mitigação e de compensação. Como medida de mitigação no âmbito da mobilidade, o documento prevê que o promotor, a ANA Aeroportos, deva incluir a aquisição de dois novos navios para a Transtejo, num valor de até dez milhões de euros.

Ao nível da avifauna, a APA refere que foi estimado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a afetação pelo novo aeroporto de cerca de 2.500 hectares utilizados para nidificação e alimentação das diferentes espécies de avifauna que ocorrem no estuário do Tejo, pelo que “são impostas medidas como áreas de compensação física com a extensão de 1.600 hectares e a constituição de um mecanismo financeiro para a gestão da área afetada, a gerir pelo ICNF e pago pelo proponente (ANA) com um montante inicial de cerca de 7,2 milhões de euros e uma contribuição anual na casa dos 200 mil euros”.

Já sobre o ruído, a DIA salienta que o facto de o aeroporto do Montijo passar a ser um aeroporto comercial vai aumentar “significativamente o nível de exposição ao ruído das populações afetadas”, o que obriga a medidas de minimização como apoio financeiro a medidas de isolamento acústico das casas particulares e edifícios públicos, “num valor estimado entre 15-20 milhões de euros (em edifícios públicos e privados)”.

A 8 de janeiro, a ANA e o Estado assinaram o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o atual aeroporto de Lisboa (Aeroporto Humberto Delgado) e transformar a base aérea do Montijo num novo aeroporto.

CTP apela para que ANA encurte prazo de resposta às medidas do impacto ambiental

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) afirma já ter sensibilizado a ANA para que encurte o prazo de 20 de dezembro que tem para dar resposta às medidas mitigadoras do impacto ambiental para o aeroporto do Montijo.

“O que eu pedi à ANA foi ‘encurtem o mais possível este prazo de 20 de dezembro’ porque cada vez que falamos num prazo tudo pára”, disse Francisco Calheiros à Lusa. O prazo para a ANA analisar as medidas de mitigação propostas na Declaração de Impacte Ambiental (DIA) do futuro aeroporto do Montijo foi prorrogado até 20 de dezembro.

Questionado se continua cético na abertura do aeroporto do Montijo em 2022, Francisco Calheiros reafirma não acreditar. “Já não acredito em 2022. Mantenho a minha frase: ainda não vi os ‘caterpillars’ no Montijo e só quando lá estiverem é que acredito. As obras do Montijo são 36 meses. Nós [empresários do turismo] não podemos ter feito tudo bem para trás e os turistas agora não poderem vir por não terem aeroporto”, reforçou.

(Notícia atualizada às 18h01 com mais informação)

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IPO da Saudi Aramco arrancou. Estes são os grandes números da operação

Pode ser a maior oferta pública inicial de sempre, mas ainda há dúvidas sobre o que esperar da operação. Quantas ações vão ser vendidas? E o preço? São dúvidas que persistem.

Depois de muita espera, a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da petrolífera estatal saudita vai mesmo arrancar. O “tiro” de partida para a primeira venda de ações da Saudi Aramco foi dado este domingo, permitindo aos investidores ganharem exposição àquela que é a empresa mais lucrativa do mundo.

São vários os argumentos para investir nos títulos da companhia saudita, destacando-se, claro, o valor dos dividendos que promete libertar nos próximos anos. Mas também há outros que aconselham cautela.

Fique a conhecer os grandes números da operação:

0,5%

Este é um dos poucos números conhecidos. A Saudi Aramco vai dispersar parte do capital e há uma percentagem reservada a pequenos investidores. O prospeto da operação, com mais de 650 páginas, foi publicado pelo regulador no fim de semana passado sem preço nem número de ações a vender. Sabe-se que será vendido 0,5% do capital da petrolífera estatal a investidores de retalho, enquanto a parte que é reservada a institucionais ainda não é conhecida e vai depender dos negócios que tenham sido fechados no roadshow que decorreu até à semana passada.

2 biliões

Outra dúvida é a avaliação da empresa. O príncipe Mohammed bin Salman aponta para uma avaliação de dois biliões de dólares, o que significaria que aforradores poderiam ficar com dez mil milhões de dólares em ações. No entanto, e apesar de as avaliações dos bancos serem muito díspares (com uma diferença superior a um bilião de dólares entre as mais otimistas e as mais conservadoras), quase todos indicam que a estimativa é demasiado elevada. O mercado espera que a avaliação ronde os 1,5 biliões, o que lhe conferirá, ainda assim, o título de cotada mais valiosa do mundo, à frente da Microsoft ou da Apple.

25 mil milhões

Este é outro número chave. Dependendo do preço a que cada ação seja vendida no IPO e da percentagem de capital disperso, esta pode ser a maior oferta inicial de sempre (ou não). O lugar é atualmente atribuído à chinesa Alibaba, que em 2014 fez um IPO de 25 mil milhões de dólares. Atendendo à avaliação feita pelo reino de dois biliões de dólares, se for admitido à negociação apenas 1% do capital, corresponde a 20 mil milhões e falha essa meta. Já 2% correspondem 40 mil milhões de dólares, dando-lhe o título de recordista.

Maiores IPO de sempre

Fonte: Refinitiv

100 mil milhões

Para aguçar o apetite dos investidores, a Arábia Saudita está disposta a pagar um dividendo anual de 100 mil milhões de dólares. Segundo avançou o Financial Times, os bancos encarregues de lançar a operação foram informados de que a remuneração aos acionistas poderia ser muito superior do que a promessa de um dividendo mínimo anual de 75 mil milhões de dólares ao longo dos próximos cinco anos.

68,2 mil milhões

E há razões para os potenciais acionistas esperarem uma remuneração atrativa. Em 2018, a petrolífera lucrou 111 mil milhões de dólares em 2018 e recebeu o título de empresa mais rentável do mundo. Apesar de este ano não estar a ser tão favorável, é ainda assim muito positivo. Os lucros recuaram 18% nos primeiros nove meses de 2019, mas atingiram os 68,2 mil milhões de dólares, o que supera a empresa cotada com maiores lucros, a Apple.

6 e 12 meses

Depois do IPO, a estreia na bolsa saudita está prevista para 11 de dezembro. A expectativa é que a Arábia Saudita coloque as ações da Saudi Aramco também noutras bolsas internacionais, incluindo Nova Iorque, Hong Kong e Tóquio. No entanto, há dois períodos diferentes de lockup, que poderão travar mudanças imediatas. Após ser cotada em bolsa, não poderão ser colocados mais títulos em negociação durante um período de seis meses e não poderão ser emitidas novas ações ao longo de 12 meses.

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Esta companhia aérea produz ferramentas para reparar os aviões a partir de garrafas de plástico

KLM Royal Dutch Airlines é a 1ª companhia aérea do mundo a reciclar garrafas PET para produzir ferramentas de reparação e manutenção das suas aeronaves.

A KLM Royal Dutch Airlines é a primeira companhia aérea do mundo a reciclar garrafas PET para produzir ferramentas de reparação e manutenção das suas aeronaves. No final de cada voo as garrafas vazias são recolhidas e transformadas em filamento que é o material usado nas impressoras 3D. Através deste processo as garrafas de água vazias que iam parar ao lixo, muitas vezes ao oceano, vão ser parte integrante de um equipamento impresso em 3D, poupando tempo e dinheiro à empresa.

Da mesma maneira que as impressoras normais utilizam tinta, as impressoras 3D utilizam filamento. A KLM costumava comprar esse material a fornecedores externos. Depois de terem implementado esta medida, as garrafas de plástico vazias usadas nos voos são entregues a uma empresa de reciclagem, que as converte em grãos de plástico de alta qualidade, o principal material do filamento. As toneladas de garrafas de plástico que são retiradas todos os anos dos aviões no aeroporto Schiphol de Amesterdão são, assim, transformadas nesse material usado nas impressoras 3D.

“Estamos continuamente a investir em produtos e processos sustentáveis e inovadores. Para os nossos clientes, para a sociedade e para os nossos próprios funcionários. É fantástico ver como somos capazes de produzir produtos úteis a partir de resíduos”, afirmou Ton Dortmans, vice-presidente executivo, em comunicado.

Desde o momento que a KLM começou a fornecer garrafas PET como matéria-prima, o custo desse filamento caiu de 60 euros o quilo para apenas 17 euros. O departamento de engenharia da KLM (Engineering & Maintenance) já utiliza, há algum tempo, impressoras 3D para acelerar os processos de reparação e manutenção. Segundo o comunicado, atualmente a Engineering & Maintenance utiliza diariamente cerca de um quilo e meio de filamento de alta qualidade.

Em 2018, a KLM reduziu os resíduos em 9%, mas a missão ainda agora começou. A companhia aérea quer reduzir o volume de seus resíduos em 50% no período de dez anos, em relação aos níveis de 2011. O objetivo é produzir menos resíduos e tornar o processo circular.

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Petrolífera saudita Aramco coloca participação de 1,5% em bolsa

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

Esta operação deverá trazer entre 24 e 25,5 mil milhões de dólares (entre 21,8 e 23 mil milhões de euros), avaliando a empresa saudita em cerca de 1,7 biliões de dólares.

A gigante petrolífera saudita Aramco anunciou este domingo que vai colocar 1,5% do seu capital social na bolsa de Riade, uma operação que avalia a empresa em cerca de 1,7 biliões de dólares (1,54 biliões de euros).

“A primeira oferta incidirá sobre 1,5% das ações da empresa”, disse a Aramco, num comunicado em que se afirma que a faixa do preço das ações foi fixada entre os oito e os 8,5 dólares norte-americanos. Esta operação deverá trazer entre 24 e 25,5 mil milhões de dólares (entre 21,8 e 23 mil milhões de euros).

A empresa afirma ter 200 mil milhões de ações regulares, pelo que uma participação de 1,5% na empresa seria cerca de três mil milhões de ações. Assim, a participação de 1,5%, ao preço máximo (8,5 dólares) permitirá captar 25,5 biliões de dólares, e ao preço mínimo permitirá captar 24 mil milhões de dólares. Isso colocaria a avaliação global da empresa entre 1,6 e 1,7 biliões de dólares norte-americanos.

A petrolífera estatal saudita Aramco, a empresa com mais lucros do mundo, iniciou hoje a subscrição de ações, no âmbito da sua entrada em bolsa. A subscrição de ações por investidores privados termina em 28 de novembro, que serão unicamente da Arábia Saudita por decisão da empresa, e até 4 de dezembro segue-se a subscrição para investidores institucionais. No dia 4 de dezembro será anunciado qual será o preço final da oferta.

Primeiro exportador mundial de crude, a Arábia Saudita tentou introduzir em bolsa a Aramco pela primeira vez em 2018, antes de recuar devido às condições de mercado consideradas desfavoráveis, avançando agora essa operação. Tudo isto acontecerá na bolsa Tadawul, o mercado bolsista de Riade, que tem 12 anos e será o único em que estarão cotadas as ações da Aramco.

O príncipe herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman, espera que a empresa petrolífera venha a ser reavaliada, aumentando consideravelmente o valor, o que pode permitir a Riade empreender novos investimentos. Mais de vinte bancos, entre eles J.P. Morgan, BofA Merrill Lynch, Deutsche Bank, Credit Agricole Morgan Stanley e Santander formam parte da lista da entidades que participam na colocação desta oferta.

Os sauditas esperam captar capital de grandes públicos internacionais, especialmente da Rússia e da China. Contudo, persistem dúvidas sobre o futuro da empresa que produz 10% do crude mundial, depois de Aramco ter sofrido em setembro vários ataques com drones e mísseis contra as suas instalações.

Os ataques foram reivindicados pelos rebeldes Huthis do Iémen, que criticam o apoio da Arábia Saudita ao Governo de Abdo Rabu Mansur Hadi na guerra nesse país, enquanto Riad responsabilizou o Irão. A entrada em bolsa da Aramco terá de mudar de forma significativa a política de informação da empresa, habitualmente opaca, que terá de passar a dar explicações a investidores e acionistas.

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Fim do financiamento do BEI ao gás será grande desafio para as petrolíferas

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

A Woodmackenzie considera que as novas regras do Banco Europeu de Investimento (BEI) que excluem financiamentos a projetos de gás vão abrandar a procura por esta fonte de energia.

A consultora Woodmackenzie considera que as novas regras do Banco Europeu de Investimento (BEI) que excluem financiamentos a projetos de gás vão ser um grande desafio para as empresas e abrandar a procura desta fonte de energia.

“O novo critério de financiamento do BEI vai tornar muito difícil o financiamento de projetos de gás, e sublinha que o gás está cada vez mais nos holofotes do debate sobre o clima”, disse o diretor de pesquisa da Woodmackenzie, Nicholas Browne.

Numa nota enviada aos clientes, a que a Lusa teve acesso, Browne escreve que “as notícias e o escrutínio político sobre os efeitos do gás na poluição vão intensificar-se” e acrescenta que “isso pode aumentar o risco de a opinião pública se virar para o gás natural da mesma forma que se focou no carvão, na maioria dos países”.

Se isto acontecer, aponta, “a taxa de crescimento da procura de gás natural liquefeito e de gás pode abrandar, o que seria um grande desafio estratégico para as empresas que identificaram o gás como o principal motor do crescimento”.

Moçambique será um dos países mais atentos à evolução do debate político sobre este tema, já que conta com as reservas de gás natural para potenciar o crescimento económico, que pode aumentar a dois dígitos já na próxima década, segundo as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), devido aos grandes investimentos neste setor no centro e norte do país.

Não há um consenso na indústria petrolífera sobre como ou se as empresas devem agir para mitigar este risco; há alguns organismos, como a Iniciativa do Clima no Gás e Petróleo que procura reduções voluntárias entre os seus membros, e há outras entidades governamentais que estão a procurar introduzir mais transparência”, acrescentou o analista.

No entanto, concluiu, “se as medidas voluntárias não forem suficientes, medidas mais restritivas do ponto de vista ambiental, como esta do BEI, podem ser introduzidas por pressões dos acionistas”.

O BEI anunciou na quinta-feira que vai deixar de financiar os projetos ligados aos combustíveis fósseis, incluindo o gás, a começar em 2022. “Depois de uma longa discussão, chegámos a um compromisso para acabar com o financiamento pelo banco de projetos ligados às energias fósseis (…), incluindo o gás, a partir do fim de 20121””, indicou o BEI, em comunicado.

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5G já é mais popular do que o 4G em Portugal

Os portugueses já pesquisam mais por 5G do que 4G no Google. A inversão deu-se em outubro, segundo dados do Google Trends, consultados pelo ECO.

Os portugueses já se interessam mais pelo 5G do que pelo 4G. Este é um sinal de que a tecnologia continua a ganhar popularidade no país, à medida que as operadoras e o Estado se preparam para a nova geração de rede de comunicações.

Dados do Google Trends, consultados pelo ECO, mostram que a inversão na popularidade das duas tecnologias deu-se no mês de outubro, altura em que o motor de busca passou a registar mais pesquisas por 5G do que por 4G em Portugal. Este fenómeno fica evidente ao analisar os dados dos últimos cinco anos, como mostra o gráfico acima.

O gráfico permite medir o pulso ao interesse dos utilizadores do motor de busca em determinados termos ou assuntos. Não mostra a quantidade exata de pesquisas, mas o interesse em cada um dos dois termos. E o 5G já ganha.

Esta informação pública permite também saber quais as regiões de Portugal em que mais se pesquisa por 5G no Google. Analisando por cidade, Lisboa e Porto é onde há mais interesse, também por serem as cidades do país com o maior número de pessoas. Mas olhando para as sub-regiões, o cenário é diferente: o pódio é ocupado, respetivamente, pelos distritos de Évora, Aveiro e pela Madeira, seguidos de Setúbal e Castelo Branco.

Entre os principais termos pesquisados está “tecnologia 5G” e “o que é o 5G”. Este é um indício de que, apesar da popularidade do 5G, muitos portugueses ainda não sabem exatamente o que significa e qual o impacto desta tecnologia nas suas vidas.

O país caminha em direção à quinta geração de rede de comunicações, sendo intenção da Comissão Europeia que haja, pelo menos, uma cidade com cobertura 5G em cada Estado-membro da União Europeia em 2020. Gradualmente, espera-se que o 5G substitua o 4G e que permita velocidades de acesso à internet muito mais rápidas do que as atuais, bem como um número sobejamente maior de dispositivos conectados.

Em Portugal, a Anacom pretende começar a leiloar as licenças a partir de abril de 2020, de forma a permitir que as operadoras lancem o 5G em Portugal. Contudo, o processo está a causa polémica, devido a desentendimentos entre o regulador e as empresas de telecomunicações.

As aplicações do 5G são diversas e estendem-se da medicina à arquitetura e ao entretenimento. Espera-se ainda que seja ainda um desbloqueador da nova era da indústria, com máquinas de alta precisão automáticas ou controladas remotamente, por exemplo.

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Secretário de Estado do Desporto quer construir Pavilhão do Gelo em Lisboa ainda “nesta legislatura”

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto acredita que ainda nesta legislatura vai ser construído um Pavilhão do Gelo, em Lisboa, para a prática de desportos.

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto manifestou a convicção de que ainda nesta legislatura vai ser construído um Pavilhão do Gelo para a prática de desportos.

“O Pavilhão do Gelo tenho a certeza que vai acontecer nesta legislatura”, disse João Paulo Rebelo, na gala da Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDIP). Segundo o governante, as negociações têm em vista a localização em Lisboa e o seu papel tem sido o “de intermediação, nomeadamente entre a FDIP e o município de Lisboa”, no que toca à “negociação dos espaços e ultrapassagem de alguns constrangimentos, para que essa possa ser uma realidade o mais breve possível”.

De acordo com o governante, a infraestrutura será apoiada “com financiamento público também”, embora sublinhe que a FDIP “hoje tem alguma receita acrescida”, na sequência da decisão do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) de atribuir à federação receitas provenientes de apostas em modalidades como o hóquei no gelo. O presidente da FDIP, Pedro Farromba, espera que o primeiro pavilhão em Portugal com estas características “seja possível no próximo ano”.

Na gala anual, onde a federação premiou os campeões nacionais da última temporada, Pedro Farromba anunciou a candidatura a um outro equipamento para desportos no gelo: uma pista amovível, a instalar por cima das piscinas das Penhas da Saúde, Covilhã, que FDIP passou a explorar no último verão. A candidatura, que contempla também uma cobertura, foi feita ao Turismo de Portugal, no âmbito da Linha Apoio à Valorização Turística do Interior, e está orçada em cerca de 400 mil euros.

O presidente da federação considera a estrutura “uma valência diferenciadora” na Serra da Estrela, que permite a quem está na zona, nomeadamente aos turistas, “experimentar outras coisas”. No local está projetada a prática de hóquei, patinagem artística, curling, apoio à patinagem de pessoas com deficiência e também a realização de espetáculos, por exemplo para as escolas, “para dinamizar o espaço”.

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Governo “deve retribuir ao turismo” o que setor tem feito por Portugal

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

"Sem turismo forte e competitivo não vamos ter crescimento económico, não vai haver redução do desemprego e não há criação de riqueza", disse o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) disse este domingo que o Governo “deve retribuir ao turismo” o que o setor tem feito pelo país, acatando, nomeadamente, algumas das reivindicações ao nível fiscal.

Sem turismo forte e competitivo não vamos ter crescimento económico, não vai haver redução do desemprego e não há criação de riqueza como tivemos nestes últimos quatro anos com a grande participação do turismo”, afirmou Francisco Calheiros, durante o 45.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que decorre este fim de semana no Funchal.

A CTP foi uma das confederações setoriais que entregou aos candidatos às eleições legislativas, e depois ao Governo eleito, um documento com várias reivindicações, nomeadamente a nível fiscal. “E nesse sentido, a nossa opinião é que o Governo deve retribuir ao turismo aquilo que ele tem feito por Portugal. Por duas razões muito simples: a primeira, porque o turismo merece e a segunda, porque o país agradece”, reforçou Francisco Calheiros.

O presidente da CTP reiterou, perante os cerca de 750 participantes do congresso da APAVT, que Portugal vive “uma fadiga fiscal”. À Lusa, Francisco Calheiros também tinha considerado no congresso que a “fadiga fiscal, de uma forma geral, acontece em tudo, quer sejam nos impostos indiretos como diretos”, mas que no turismo “existem algumas questões muito específicas como a dedutibilidade do IVA”.

“Um evento em Vigo [Espanha] custa menos 23% do quem Elvas. Estamos num mundo global, mas depois no que toca à fiscalidade não há globalidade. Sendo só atravessar uma fronteira não posso ter uma vantagem menos competitiva de 23%. Essa é uma questão determinante”, referiu, acrescentando: “Depois há a questão do IVA no golfe. Não são os portugueses que pagam esse IVA, são os estrangeiros que escolhem e temos defendido muito uma fiscalidade mais friendly [amiga] do turismo”.

O responsável pela CTP adiantou que a confederação está “totalmente disponível” para se “sentar com a tutela e lhe apresentar” as suas ideias nesta matéria. “Mas há uma ideia que tem de ficar e não se pode estar sempre a afunilar só para o turismo: a carga fiscal em Portugal é grande“, sublinhou.

Na quinta-feira, a secretária de Estado do Turismo disse que um desafio do setor que tutela é a capacidade de investimento, admitindo que “as empresas agudizam a nível fiscal” e garantindo que obter um sistema mais justo será agarrado “com assertividade”. “[Um] grande desafio prende-se com a capacidade de investimento. Falamos das empresas, das parcerias público-privadas, mas é mais do que notório que as empresas agudizam a nível fiscal“, afirmou Rita Marques, observando que “o ministro da Economia tem referido a necessidade, que está no Programa do Governo, de procedermos ao alívio fiscal”.

“Isto é especialmente importante quer para as famílias, quer para os empresários, termos um sistema fiscal mais justo que possa potenciar maior investimento também no Turismo”, concluiu a governante.

Agências de viagens apelam para que setor se una “como um todo” e trace um caminho

O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) apelou para que as associações dos vários segmentos do turismo se “unam como um todo” e se “empenhem num trabalho de matriz comum”. “O setor [turístico] soube reagir como mais ninguém no último ciclo de crescimento, mas não é tão óbvio que esteja a saber agir com igual capacidade e efetividade, em direção a uma estratégia vencedora”, começou por dizer Pedro Costa Ferreira, no encerramento dos painéis de trabalho do Congresso da APAVT.

Por isso, Pedro Costa Ferreira, que há muito admite que o setor vive “um fim de ciclo”, defendeu que o turismo, “como um todo, tem de se unir e fazer, em lugar de se desculpar nos erros dos outros, na inabilidade da gestão pública ou nas circunstâncias de todos”.

O presidente da APAVT considera que este é um dos grandes desafios que o setor vai enfrentar na escolha de uma estratégia comum para os próximos anos. “Este é o espírito da nossa associação e este é, também, o grande desafio que se ergue perante todos nós. APAVT, AHRESP [Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal], APECATE [Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos], ALEP [Associação do Alojamento Local em Portugal], AHP [Associação da Hotelaria de Portugal], CTP [Confederação do Turismo de Portugal], entre tantas outras, não bastará mais focarmo-nos no que não está bem e nos penaliza“, reforçou.

A obrigação e o dever destas associações é organizarem-se e “empenharem-se numa visão de conjunto e, sobretudo, num trabalho de matriz comum”, declarou. “O setor das agências de viagens tem de encontrar novos modelos de associação e interação, que garantam maior produtividade e competitividade”, acrescentou perante os cerca de 750 participantes do congresso de todos as áreas do turismo.

Pedro Costa Ferreira referiu que as agências de viagens precisam “de mais capacidade de acumulação de capital e de investimento”, lembrando que são empresas, “maioritariamente, pequenas e médias”, e que terão “possibilidade de atenuar este constrangimento em modelos de associação e partilha” nos quais possam implementar estratégias com maior efetividade.

Precisamos de pensar a oferta turística em lugar de nos focarmos apenas na sua promoção. Mas tal só será possível, numa lógica de cooperação entre stackholders e numa lógica de partilha de territórios”, referiu.

Tal como no seu discurso de abertura, o presidente da APAVT voltou a apontar a importância de “trazer o turismo para a centralidade da economia e espalhar os benefícios do turismo por todo o país”. Um objetivo que só será “atingível numa lógica de conjunto, em oposição aos egoísmos que proliferam nas quintas associativas e empresariais que abundam” em Portugal, concluiu.

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Governo quer ter a primeira refinaria de lítio da Europa… no Porto de Leixões

  • ECO
  • 17 Novembro 2019

João Galamba não garante que Portugal venha a ter mais minas de lítio, mas acredita que poderá convencer empresas europeias a trazer para cá uma refinaria.

O secretário de Estado da Energia não garante que Portugal venha a ter mais minas de lítio, mas acredita que o estudo ambiental venha a ser aprovado e, nessa altura, poderá convencer empresas europeias a trazer para território nacional uma refinaria. Isto porque, atualmente, não há na Europa nenhuma refinaria para a produção deste material.

“Queremos dar um passo em frente, instalar a refinação e isso também nos posiciona para atrair investimentos em fábricas de baterias, ou de cátodos, ou de powerwalls. Se já se sabe que quem vai ficar com as fábricas de baterias para carros elétricos é o centro da Europa, isso não me preocupa muito. Só temos de garantir que na cadeia do lítio temos cá o elemento com maior valor acrescentado e que é a produção de hidróxido de lítio“, disse João Galamba, em entrevista ao Público (acesso pago).

Para o governante, a ideia passa por apostar no Porto de Leixões, devido à proximidade com as zonas onde poderá ser feita a extração, mas também porque faz sentido instalar a refinaria onde esta também possa receber concentrados de lítio de outros projetos mineiros internacionais. “Este é que é o nosso projeto e a dimensão extrativa da nossa estratégia está diretamente relacionada com isso”, explica.

De acordo com o secretário de Estado, a Comissão Europeia está a discutir a criação dos critérios europeus que irão definir quem pode ser fornecedor nesta cadeia. “Quando as pessoas dizem que o nosso lítio é mais caro do que o chileno, por exemplo, isso não interessa para nada. Na China, na Austrália ou na América do Sul até podem produzir lítio a um terço do valor em Portugal, mas, se não cumprirem os standards, não podem ser fornecedores da União Europeia“, justificou.

No futuro concurso para prospeção e pesquisa nas nove áreas identificadas pelo Governo, ficará também expresso que a valorização do lítio é feita em território nacional, cumprindo uma de três hipóteses: ou constrói uma refinaria, ou se associa a um consórcio para construir, ou fornece a uma que já existe. “Nós não podemos exigir nem à Savannah nem à Lusorecursos que construam uma refinaria. Os contratos de exploração que eles têm são contratos mineiros”, disse.

“Mas podemos garantir que todos os pedidos de prospeção e pesquisa que nos chegaram, e os que vamos lançar em concurso, vão cumprir esses critérios”, rematou.

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Situação da zona euro é “mais sólida que em 2008”, diz Trichet

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

Para o ex-presidente do BCE, "é inegável o facto de estarmos numa posição mais sólida do que em 2008". Contudo, "devemos manter-nos vigilantes".

O antigo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, considera que “é inegável” que a zona euro está numa “posição mais sólida que em 2008”, quando estalou a última grande crise financeira, mas é preciso manter a “vigilância”.

É inegável o facto de estarmos numa posição mais sólida do que em 2008, quando tive de enfrentar o colapso do Lehman Brothers”, afirmou Trichet, em entrevista à Lusa, defendendo, no entanto, que isso não permite ser complacente.

“Devemos manter-nos vigilantes porque mesmo numa situação mais forte, podemos ter de lidar com choques vindos do resto do mundo”, disse o antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE).

O economista francês referiu que existe hoje o “choque decorrente da redução no comércio internacional”, com impacto no abrandamento do crescimento económico global que afeta o crescimento económico da zona euro. E referiu também que a zona euro pode ter de lidar com outros fenómenos, como “um drama nas economias emergentes ou uma grande recessão nos Estados Unidos”. “Isso seria certamente um choque para nós. E a resiliência é absolutamente essencial nessas circunstâncias”, salientou.

“Podemos ter surpresas vindas de vários pontos da economia e do sistema financeiro à escala global e devemos continuar o trabalho árduo ao nível da Europa e de cada país individualmente”, frisou o antigo presidente do BCE.

Questionado sobre o que pode a zona euro fazer para estar melhor preparada para enfrentar potenciais choques, Trichet apontou a união bancária e a união do mercado de capitais como pontos “muito importantes para reforçar a solidariedade e a coesão na zona euro”.

O economista frisou também que são necessárias “boas decisões para reforçar a resiliência”, quer ao nível da zona euro, quer ao nível interno de cada país, destacando a importância de um procedimento de equilíbrio económico, que monitorize a competitividade de cada economia da zona euro. Na entrevista à Lusa, defendeu ainda que as posições do Parlamento Europeu sejam “a última palavra em caso de decisões muito difíceis na zona euro porque isso iria reforçar a responsabilidade democrática da zona euro”.

Questionado sobre se considera que o poder de artilharia do BCE diminuiu, depois das medidas de política monetária não convencionais que têm vindo a ser aplicadas, Trichet respondeu que “pensa que não”, apesar de admitir que “muitas decisões foram tomadas” e muitas com caráter acomodatício. “É óbvio que muito já foi feito e que não se pode contar apenas com os bancos centrais como o único parceiro ativo”, frisou, salientando que é necessário no futuro “muita participação ativa de Governos, poderes executivos de modo geral, deputados” ao nível das medidas orçamentais e reformas estruturais.

“E também precisamos que todos os outros parceiros, incluindo o setor privado, preparem o caminho para sairmos de uma situação que é anormal”, com uma inflação anormalmente baixa, referiu.

O antigo presidente do BCE disse ainda acreditar que, se for necessário tomar decisões extraordinárias para enfrentar “circunstâncias muito difíceis”, os bancos centrais assim o farão, referindo-se tanto ao BCE, como ao Banco do Japão ou à Reserva Federal norte-americana (Fed).

Sobre uma possível descida do objetivo do BCE para a inflação na zona euro, atualmente “abaixo mas próximo de 2%”, como sugeriu recentemente o governador do banco central austríaco, Robert Holzmann, Trichet respondeu não gostar de mudanças na definição da estabilidade de preços, por um lado, pelo facto de os bancos centrais serem “pilares da estabilidade a médio e longo prazo” e existirem para “ancorar expectativas”.

Por outro lado, o economista francês realçou que, antes da última grande crise financeira, apenas o BCE tinha esta meta para a inflação, mas, “desde a crise e por causa da crise”, também a Fed e o Banco do Japão decidiram juntar-se ao grupo que considera os 2% como a definição da estabilidade de preços. “Considero que foi uma muito importante demonstração de convergência conceptual dos principais bancos centrais como consequência da crise”, declarou.

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“Europa não pode deixar que sejam EUA e China a tomar as decisões”, diz Trichet

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

"Somos a economia aberta mais importante do ponto de vista do comércio global (...) e devemos defender ferozmente o nosso interesse", disse o ex-presidente do BCE.

O antigo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, considera que a Europa deve defender “ferozmente” os seus interesses no comércio global e não pode deixar que as decisões sejam tomadas apenas pelos Estados Unidos e China.

Não podemos deixar que as decisões sejam tomadas pelos Estados Unidos e pela China sozinhos. Somos a economia aberta mais importante do ponto de vista do comércio global, somos o mercado mais importante do mundo no que diz respeito ao comércio global, e devemos defender ferozmente o nosso interesse”, afirmou o antigo presidente do BCE, em entrevista à Lusa.

Questionado sobre como pode uma economia como a portuguesa, muito aberta ao exterior, proteger-se de riscos internacionais, o economista francês disse que é importante “ser flexível” e parte de um “conjunto mais amplo e coeso de países e economias”, frisando que Portugal é uma pequena economia, mas integrada na zona euro.

Trichet disse ainda que se trata, na verdade, de um problema da União Europeia (UE) no seu conjunto. “A UE no seu conjunto e a zona euro são mais abertas ao comércio internacional do que os Estados Unidos da América. Posso até dizer que somos duas vezes mais abertos ao comércio internacional em termos de volume de exportações e importações tendo em conta o PIB”.

Trichet acrescentou que a UE está também duas vezes mais integrada nas cadeias globais de valor que os Estados Unidos, o que faz com que o protecionismo norte-americano contra a China, mas também contra a Europa, “constitua um perigo muito importante” para os europeus. “Porque somos duas vezes mais vulneráveis que os Estados Unidos a uma diminuição do comércio global, a uma diminuição das nossas exportações”, salientou.

Questionado sobre o Brexit, Trichet manifestou-se convicto de que “foi um erro”. “Não é do interesse do Reino Unido e creio que também não é do interesse da Europa”, afirmou, admitindo que alguns franceses pensam que, uma vez que o Reino Unido não embarcou verdadeiramente no processo de integração da UE, não partilhando totalmente a visão histórica de longo prazo, talvez fosse melhor sair.

Contudo, o antigo presidente do BCE frisou não pensar dessa forma e considerou ser “realmente uma pena” a saída do Reino Unido da UE, com impacto na “influência da Europa como um todo e também na sua capacidade de ser uma voz forte no cenário global”.

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BCE salvou o euro em 2010 e “Portugal sabe bem disso”, diz Trichet

  • Lusa
  • 17 Novembro 2019

"Salvei o euro em 2010 e Portugal sabe bem disso, porque comprei títulos de dívida portuguesa na altura, quando houve uma especulação devastadora", disse o ex-presidente do BCE.

Jean-Claude Trichet, antigo presidente do BCE, afirma que, juntamente com a sua equipa, salvou o euro em 2010, quando comprou títulos de dívida de Portugal, Grécia e Irlanda, na altura alvos de uma “especulação devastadora” nos mercados.

“Salvei o euro [juntamente com a minha equipa], em 2010, e Portugal sabe bem disso, porque comprei títulos de dívida portuguesa na altura, quando houve uma especulação devastadora” contra Portugal, a Grécia e a Irlanda, afirmou o antigo presidente do BCE em entrevista à Lusa, à margem da conferência “O euro 20 anos depois: a estreia, o presente e as aspirações para o futuro”, que decorreu no Museu do Dinheiro, em Lisboa, na sexta-feira.

Naquela altura, Portugal era um dos países da zona euro que estava na mira dos mercados financeiros, com os juros das obrigações portuguesas a registar máximos históricos, reflexo do risco percecionado em relação ao país.

Em novembro de 2010, os juros da dívida portuguesa a dez anos superaram os 7% no mercado secundário, um máximo histórico, e o nível a partir do qual o então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, tinha apontado, numa entrevista ao Expresso, como a barreira com a qual se começava a colocar a hipótese de recorrer ao resgate do fundo europeu e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em abril de 2011, Portugal pediu ajuda financeira externa.

Na entrevista à Lusa, o antigo presidente do BCE recordou que, na altura, “o mercado de Nova Iorque estava convencido de que o euro iria desaparecer e que a zona euro seria desmantelada”.

“Tivemos de lidar com a grande crise desencadeada pela falência do Lehman Brothers nos Estados Unidos e tomar uma série de decisões extraordinárias”, que passaram pela compra de obrigações do Tesouro de Portugal, da Grécia e da Irlanda, recordou o economista francês, adiantando que foram, naquela altura, “decisões muito ousadas” e “muito criticadas”.

Trichet respondia quando questionado sobre os oito anos do mandato do seu sucessor, Mario Draghi, considerado por muitos o “salvador do euro” pelo conjunto de medidas que tomou, e que cedeu lugar na liderança do BCE a Christine Lagarde, que tomou posse a 1 de novembro. O antigo presidente do BCE disse que “vê uma grande continuidade nos esforços” empreendidos por si e por Draghi “para manter o empreendimento histórico do euro e da Europa no seu conjunto”. “Porque o euro está na vanguarda da construção europeia”, disse.

Questionado sobre se Draghi deixou uma herança pesada a Christine Lagarde, perante as divergências no seio do BCE sobre as medidas de estímulo à economia da zona euro, Trichet considerou que “não”. “Na altura em que eu era presidente do BCE tive a demissão de dois colegas que não estavam satisfeitos com as decisões que tomámos”, recordou, acrescentando que “é normal nem todos os membros do Conselho de Governadores estarem de acordo” e que é algo que acontece “em todos os bancos centrais”.

“É muito frequente haver diferentes pontos de vista na Reserva Federal ou no Banco de Inglaterra ou no Banco do Japão”, acrescentou, frisando que, apesar do presidente do BCE ser aquele que “apresenta as decisões a todos os cidadãos, aos mercados e à opinião pública”, tendo, por isso, maior visibilidade, as decisões são tomadas pela maioria dos membros do conselho de governadores.

Sobre a nova presidente do BCE, Christine Lagarde, o economista francês sublinhou que “a continuidade é muito importante”. “Tenho a certeza que Christine Lagarde manterá a continuidade das decisões que foram tomadas no tempo de Mario Draghi, da mesma forma que existiu uma continuidade entre o meu mandato e o de Draghi”, defendeu.

Questionado sobre se acredita que Lagarde conseguirá aquilo que nem ele nem Mario Draghi conseguiram — convencer os Governos da zona euro de que é preciso atuarem a favor da economia da zona euro e não apenas o BCE –, Trichet manifestou-se convicto de que existe um consenso nesse sentido, que inclui Lagarde.

O antigo presidente do BCE disse ser “óbvio” que o banco central não pode ser a única entidade sempre disponível para agir, mas que “também é óbvio que não é fácil para os outros parceiros, incluindo governos, deputados e outros poderes executivos tomar decisões neste domínio”.

Jean-Claude Trichet foi o segundo presidente do BCE, entre 2003 e 2011, depois do holandês Wim Duisenberg, que foi o primeiro presidente da instituição, e é atualmente presidente do Conselho de Administração do Bruegel, um ‘think tank’ europeu especializado em economia.

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