Relatório da audição de Centeno aprovado. Só falta Conselho de Ministros nomear

O Parlamento aprovou o relatório da audição de Centeno para governador do Banco de Portugal, passando o processo para o lado do Conselho de Ministros. A nomeação oficial poderá chegar amanhã.

Os deputados da comissão de orçamento e finanças aprovaram esta quarta-feira o relatório descritivo da audição de Mário Centeno, o nome indicado pelo Governo para governador do Banco de Portugal. Após ter sido rejeitada a providência cautelar interposta pela Iniciativa Liberal, Centeno só precisa da nomeação oficial do Conselho de Ministros de amanhã para suceder a Carlos Costa.

Apenas o PS votou a favor do documento, que mereceu o voto contra do BE, do CDS, do deputado do PSD Álvaro Almeida, da Iniciativa Liberal e do PAN e a abstenção do PCP e do PSD, segundo o Expresso (acesso pago). Esta marca assim a primeira vez que há votos negativos a um indigitado ao Banco de Portugal no Parlamento.

Durante o debate que antecedeu esta votação, deputados de vários partidos precisaram que o seu voto contra não visa o conteúdo do relatório, mas o facto de não concordarem com a escolha de Mário Centeno para ocupar aquelas funções depois de ter sido ministro das Finanças.

O relatório tinha sido entregue à comissão esta segunda-feira pelo deputado do PS, João Paulo Correia. O documento tem 61 páginas em que se transcreve as intervenções da audição, mas não avalia se Centeno cumpre ou não os critérios definidos na lei relativamente à figura do governador, isto é, “comprovada idoneidade, capacidade e experiência de gestão, bem como domínio de conhecimento nas áreas bancária e monetária”.

Neste audição e nomeação, o Parlamento não tem poder vinculativo para chumbar o nome indicado pelo Governo, ainda que PSD, BE, PCP, CDS, PAN e Iniciativa Liberal sejam contra esta nomeação — apenas o PS mostrou apoio. Contudo, na votação do relatório, caso este tivesse considerações, essa discordância poderia tornar-se visível na votação. Ao ser um relatório apenas descritivo, a votação acabou por escapar a essas divergências.

A elaboração do relatório é uma obrigação que consta da lei orgânica do Banco de Portugal: há uma audição por parte da comissão competente da Assembleia da República, neste caso a comissão de orçamento e finanças (COF), e depois deve ser elaborado um “relatório descritivo”, que não é vinculativo. Neste caso, são 26.596 palavras que se dividem entre referências à lei orgânica do Banco de Portugal, à metodologia da audição, a dois anexos — a carta de António Costa a indicar Centeno e o currículo do candidato — e ainda uma parte de conclusões meramente formais.

Feita a votação do relatório, o Governo poderá oficializar a nomeação no Conselho de Ministros esta quinta-feira dado que Mário Centeno já deixou de ser presidente do Eurogrupo esta segunda-feira, dia em que começa o mandato de Paschal Donohoe. Isto porque o tribunal também já afastou o único potencial obstáculo a esta nomeação: a providência cautelar interposta por João Cotrim Figueiredo, o presidente e deputado único da Iniciativa Liberal, foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Administrativo que se declarou “incompetente” para a avaliar.

Ainda hoje de manhã, numa audição no Parlamento, o novo ministro das Finanças e ex-secretário de Estado do Orçamento de Mário Centeno defendeu a sua nomeação: “Ninguém tem dúvidas da seriedade e independência com que vai exercer as funções“. João Leão disse ainda que “o Governo fica muito contente que Mário Centeno tenha aceitado ser indicado para ser governador do Banco de Portugal”, argumentando que trará um “valor acrescentado muito grande para Portugal”.

(Notícia atualizada com mais informações às 17h15)

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Grupo Espírito Santo era “castelo de cartas falido há muito tempo”, diz Mariana Mortágua

A deputada do BE Mariana Mortágua, que participou na comissão de inquérito à queda do BES, diz que o Grupo Espírito Santo (GES) era um "castelo de cartas falido há muito tempo".

Mariana Mortágua considera que a história da queda do Banco Espírito Santo (BES) “é também a história da economia portuguesa nos últimos 20 anos”. Segundo a deputada bloquista, “o grupo era um castelo de cartas, estava falido há muito tempo” e “Ricardo Salgado e pessoas mais próximas foram-se enredando numa rede de fraudes para conseguir ir sustentando financeiramente o grupo”.

Em declarações à SIC Notícias, a deputada não quis comentar em concreto a acusação do Ministério Público conhecida esta semana, por não a ter lido ainda (tem mais de 4.000 páginas). Mas, referindo-se à comissão de inquérito levada a cabo no Parlamento, e na qual participou, a bloquista garantiu que “não só é verdadeira” como alguns dos alegados crimes terão ficado provados. “Foi-nos contado pelo contabilista de Ricardo Salgado a forma como manipulou as contas da Espírito Santo International”, exemplificou.

“Para além desta pirâmide, deste castelo de cartas alimentado em fraude, em crimes económicos, o BES era mais do que isso. Era o grupo do regime. Há pouco falávamos de como há uns anos Ricardo Salgado era incontestado por políticos, comunicação social, jornalistas. Tal como os gestores que estão a ser acusados por outras práticas”, criticou, falando em “fraude estrutural” no país que engloba ainda outros dossiês quentes da Justiça, como “ligações ao setor da construção”, “como bancos portugueses ajudaram bancos angolanos a branquear capital”, entre outros.

“Foram seis longos anos. Na verdade, todos os dias, todos os meses, são muito longos quando se espera uma acusação e que se faça justiça. E é muito importante que a justiça seja feita neste caso. Falamos de um dos maiores grupos económicos portugueses, diria o maior”, rematou a deputada do BE.

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Investidores internacionais pedem revisão da suspensão de rendas fixas nos centros comerciais

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Nove investidores internacionais enviaram uma carta ao primeiro-ministro e Presidente da República a pedirem a revisão da medida de suspensão de rendas fixas nos centros comerciais.

Nove investidores internacionais, entre os quais o fundo APG, que comprou a Brisa, enviaram uma carta ao primeiro-ministro e Presidente da República a pedirem a revisão da medida de suspensão de rendas fixas nos centros comerciais.

O parlamento aprovou em 3 de julho uma proposta do PCP para o cancelamento do pagamento de rendas mínimas dos lojistas de centros comerciais até março de 2021.

“Acreditamos em Portugal, na sua economia e no talento da sua força de trabalho. É por isso – e porque sentimos confiança – que investimos neste país, que aplicamos aqui os fundos que nos são confiados pelos aforradores que representamos”, referem os investidores, numa carta aos decisores políticos, entre outros, a que a Lusa teve hoje acesso.

“Desde 2015, investidores, seguradoras, fundos imobiliários e de pensão estrangeiros investiram em imobiliário comercial português 10,5 mil milhões de euros, dos quais 2,7 mil milhões de euros em centros comerciais, uma indústria de excelência, que modernizou (revolucionou) o comércio no país e se destacou internacionalmente pela sua capacidade de inovação, granjeando inúmeros prémios e distinções”, prosseguem a APG Asset Management, AM Alpha KVG, Commerz Real, Ceetrus, DWS, Klépierre, Light House, Mitiska Reim e Merlin Properties.

“Depositamos neste setor a confiança que nos transmite uma história de sucesso com quase quatro décadas” e “orgulhamo-nos do seu contributo significativo para a criação de emprego (mais de 100 mil pessoas de forma direta e 200 mil de forma indireta) e para a coesão territorial”, salientam, na carta enviada na terça-feira ao primeiro-ministro, Presidente da República, ministro da Economia, líderes dos grupos parlamentares e à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

No entanto, “tudo isto é agora colocado em causa pelo regime excecional que suspende o pagamento de rendas fixas nos centros comerciais”, medida que é “o contrário de tudo aquilo que é necessário neste momento: é uma medida desproporcional, desequilibrada, mal avaliada e radical. Hipoteca toda a cadeia de valor desta indústria, mas também destrói um dos ativos mais importantes de Portugal e da sua economia: a sua reputação enquanto país seguro para investir”, apontam os investidores, onde se inclui a APG (gestora de ativos da ABP, o fundo de pensões dos funcionários públicos e do setor da educação dos Países Baixos), que integra o consórcio que comprou a Brisa.

“A ingerência do Estado na relação contratual entre dois privados, inédita na União Europeia, abre um precedente gravíssimo”, criticam, apontando que, “a partir de agora” é preciso “ter em mente que os contratos podem, a qualquer momento e de forma absolutamente discricionária, ser alterados por intervenção legislativa”.

Os investidores consideram que “esta decisão política cria um contexto de enorme incerteza“.

Defendem a necessidade de “legislar com conhecimento, ponderação e equilíbrio, sobretudo em momentos desafiantes como o atual” e que é “impreterível que se criem condições para que todos os agentes económicos possam recuperar a sua atividade de forma sustentável”.

Nesse sentido, “apelamos para que o Presidente da República, o Governo e o parlamento revejam esta medida”, pois “queremos continuar a investir em Portugal e a contribuir para a necessária e urgente recuperação económica pós-pandemia” e “sem confiança, não poderemos fazê-lo”, concluem na missiva.

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Estados Unidos vão impor restrições de visto a vários responsáveis da Huawei

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Imposições serão impostas aos responsáveis de empresas que derem "apoio material a regimes que cometem violações aos direitos humanos em todo o mundo".

Os Estados Unidos vão impor restrições aos vistos a vários responsáveis do gigante chinês de telecomunicações Huawei, acusado por Washington de potencial espionagem em benefício de Pequim, anunciou esta quarta-feira o secretário de Estado norte-americano.

Segundo Mike Pompeo, que falava numa conferência de imprensa, as restrições afetam não só responsáveis da Huawei como também de outras empresas chinesas que concedam “apoio material” aos governos de todo o mundo que cometam violações aos direitos humanos.

“O Departamento de Estado [norte-americano] vai impor restrições aos vistos a vários funcionários de empresas tecnológicas chinesas, como a Huawei, por darem apoio material a regimes que cometem violações aos direitos humanos em todo o mundo”, sublinhou Mike Pompeo.

O chefe da diplomacia norte-americana, por outro lado, saudou a decisão do Governo britânico de cortar os laços com a empresa chinesa e anunciou que visitará o Reino Unido e a Dinamarca na próxima semana.

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Ventilador produzido em Portugal recebe autorização de utilização do Infarmed

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

O ventilador Atena recebeu na terça-feira a autorização do Infarmed para o seu uso em contexto hospitalar na luta contra a covid-19, anunciou o CEiiA.

O ventilador produzido em Portugal designado Atena recebeu na terça-feira a autorização do Infarmed para o seu uso em contexto hospitalar na luta contra a covid-19, anunciou hoje o CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento, em Matosinhos.

Numa publicação na rede social Facebook, o CEiiA avança hoje que o Atena foi “autorizado pelo Infarmed para uso no âmbito do procedimento da covid-19”.

“Foi com humanidade, resiliência, paixão e entrega que a comunidade 4Life, através do CEiiA, desenvolveu e produziu em 45 dias o ventilador Atena e recebeu ontem (14 de julho) autorização especial do INFARMED para o seu uso em contexto covid-19”, revela.

Para o centro, este é um “passo importante” para a distribuição nacional e internacional daquele ventilador médico invasivo para dar suporte ao tratamento de doentes com falência respiratória aguda provocada pela covid-19 produzido em Portugal.

“Um momento histórico que valida definitivamente a nossa capacidade para desenvolver e produzir novos produtos críticos para a soberania do país”, adianta o CEiiA.

O ventilador, produzido em 45 dias pelo CEiiA, no âmbito da comunidade 4Life, juntou o conhecimento médico especializado, empresas, universidades e o apoio financeiro de mecenas e de milhares de portugueses.

O equipamento, que foi distinguido entre 349 iniciativas no concurso ‘express’ do programa Caixaimpulse da Fundação da Caixa, conta com o apoio da Clarke Modet para a obtenção da Propriedade Intelectual e Industrial, anunciado pela empresa no dia 21 de maio.

A primeira fase do projeto já foi concluída, com a entrega de 100 unidades que passaram nos ensaios pré-clínicos, e na segunda fase a previsão do CEiiA é produzir mais 400 unidades até setembro.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 578 mil mortos e infetou mais de 13,34 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.676 pessoas das 47.426 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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Acusação no BES é “boa notícia”, diz Marcelo. “Mais vale tarde que nunca”

 Apesar de o processo ainda ter demorado o seu tempo a chegar a este ponto, Marcelo Rebelo de Sousa defende que "mais vale tarde que nunca".

O Presidente da República reitera que a acusação apresentada pelo Ministério Público no âmbito do processo principal do designado “Universo Espírito Santo” é “uma boa notícia”. Apesar de o processo ainda ter demorado o seu tempo a chegar a este ponto, Marcelo Rebelo de Sousa defende que “mais vale tarde que nunca”.

Marcelo defende que “estamos a viver um bom período para a justiça portuguesa”. O “caso Tancos já foi para julgamento, a Operação marques está para despacho final sobre a instrução, que determina ou não envio para julgamento, a apresentação da acusação no caso BES é uma boa notícia”, enumera, em declarações transmitidas pelas televisões.

Perante o facto de que a acusação surge seis anos depois da queda do BES, Marcelo aponta que “tudo pode ser mais cedo, e é sempre o desejável, ou mais tarde”, sendo que tal por vezes acontece devido à colaboração com outros países. Ainda assim, defende que “mais vale tarde que nunca”, uma expressão que se aplica “ao caso BES e ao seu desejado julgamento”, bem como aos restantes casos que mencionou, do Marquês e de Tancos.

Para o Presidente, todos estes desenvolvimentos acontecerem “no espaço de alguns meses é muito positivo porque portugueses assim acreditam mais na Justiça”. “É muito importante que a justiça criminal, civil e fiscal, e administrativa sejam uma realidade na qual os portugueses possam acreditar”, acrescentou Marcelo.

O Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal deduziu acusação contra 25 arguidos, 18 pessoas singulares e 7 pessoas coletivas, nacionais e estrangeiras, no âmbito do processo principal do designado “Universo Espírito Santo”. Ricardo Salgado foi acusado de associação criminosa e corrupção.

(Notícia atualizada às 16h00)

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Lesados do BES vão colocar centenas de ações a exigir indemnizações por danos morais a Ricardo Salgado

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Mais de 1.000 lesados do BES/GES vão colocar centenas de ações cíveis na justiça a exigir indemnizações por danos morais às pessoas e entidades acusadas no caso BES, sobretudo a Ricardo Salgado.

Mais de mil lesados do BES/GES vão colocar centenas de ações cíveis na justiça a exigir indemnizações por danos morais às pessoas e entidades acusadas no caso BES, sobretudo a Ricardo Salgado, disse o advogado Nuno Vieira.

Na terça-feira, o Ministério Público acusou 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no âmbito do processo BES/Universo Espírito Santo, em que a figura central é o ex-banqueiro Ricardo Salgado (acusado de 65 crimes).

Nuno Vieira explicou à Lusa que os clientes lesados que não se constituíram assistentes do processo-crime têm 20 dias para o fazer após o despacho de acusação, o que tendo em conta as férias judiciais prolonga o prazo para meados de setembro, ou para se constituírem demandantes cíveis.

Segundo afirmou, alguns clientes seus irão constituir-se assistentes “para auxiliar o juiz de instrução na obtenção de provas” e que entre 1.300 a 1.500 pessoas que representa irão constituir-se como demandantes cíveis.

Os pedidos de indemnização por danos morais serão individuais, esperando o advogado colocar 500 a 600 pedidos na justiça em nome de 1.300 a 1.500 pessoas. Uma vez que havia contas bancárias em nome de várias pessoas, por cada conta é apenas colocada uma ação.

Questionado sobre quanto exigirá cada lesado, Nuno Vieira considerou que o “dano moral em Portugal é maltratado” e que não aceitará pagamentos de danos morais na ordem dos 15 mil euros por pessoa como tem acontecido noutros processos e que para isso vai “recorrer a inovações probatórias”.

Quanto às entidades e pessoas a que os lesados pedirão indemnizações, tal dependerá do grau de culpabilidade que em cada caso atribuem, mas Ricardo Salgado será a pessoa a quem atribuem maior grau de culpa e, logo, a quem exigirão mais indemnizações.

Os lesados que colocarão ações são emigrantes na Venezuela, França, mas também lesados do papel comercial.

Segundo explicou Nuno vieira, apesar de estes últimos terem cedido ao fundo de recuperação de créditos os direitos judiciais no caso BES (para receberem as indemnizações compensatórias) mantêm a possibilidade de exigirem indemnizações por danos morais, já que este é um direito irrenunciável.

Nuno Vieira disse ainda que, apesar de a totalidade do caso BES poder demorar muitos anos nos tribunais, a indemnização cível pode acontecer logo após a sentença em primeira instância “porque um eventual recurso dos arguidos não suspende o pagamento indemnização”.

Inicialmente, as ações serão colocadas junto do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e assim que for deduzido o despacho de pronúncia serão distribuídas a um juiz da unidade de tribunais de Lisboa.

O Ministério Público acusou na terça-feira 18 pessoas e sete empresas por vários crimes económico-financeiros e algumas das quais por associação criminosa, no âmbito do processo BES/Universo Espírito Santo, em que a figura central é o ex-banqueiro Ricardo Salgado.

Segundo uma nota da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi deduzida acusação por associação criminosa e por corrupção ativa e passiva no setor privado, de falsificação de documentos, de infidelidade, de manipulação de mercado, de branqueamento e de burla qualificada contra direitos patrimoniais de pessoas singulares e coletivas.

Em causa nesta complexa investigação, do DCIAP, “está um valor superior a onze mil e oitocentos milhões de euros”, em consequência dos crimes imputados, e prejuízos causados.

A PGR refere também que o processo principal BES/GES “agrega 242 inquéritos que foram sendo apensados, abrangendo queixas deduzidas por mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro”.

Foram acionadas medidas de garantia patrimonial por via de arrestos e apreensões.

Já a defesa de Ricardo Salgado considerou que a acusação “falsifica” a história do BES, sublinhando que o antigo banqueiro “não praticou qualquer crime” e que enquanto “esteve no BES não houve lesados”.

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FCT Nova lança cursos de verão gratuitos para alunos do ensino secundário

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Nova lançou cursos de verão em biomédica, física ou matemática para alunos do ensino secundário. Decorrem entre julho e setembro, online, e são gratuitos.

A FCT Nova – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa está a promover cursos de verão online, durante os meses de julho e setembro, em engenharia biomédica, física ou matemática para alunos do ensino secundário. Os cursos são gratuitos e lecionados à distância. As vagas são limitadas e as inscrições estão abertas.

“O curso de verão de engenharia biomédica, por exemplo, permite realizar experiências científicas que dão respostas a perguntas: ‘como se para uma hemorragia no espaço?’, ou ‘o que tem a ver a rotação da Terra com o facto de as águas dos oceanos não se misturarem?’. Já o Math Nova Open Day, um dia completo dedicado à matemática e aos seus percursos e saídas profissionais, conta com várias apresentações e palestras, entre elas a que questiona ‘Como dividir por 3 usando apenas a divisão por 2?'”, explica a faculdade em comunicado.

Os cursos são gratuitos mas têm vagas limitadas e implicam uma inscrição. O Verão com Engenharia Biomédica decorre de 20 a 24 de julho, o Verão com Física de 20 a 21 de julho, o Math Nova Open Day a 22 de julho, a IV Escola de Verão do Núcleo de Química Aplicada entre 27 e 31 de julho e o Estágio “Ciência Viva”: Engenharia Informática no Verão, decorre de forma presencial de 20 a 31 de julho.

Além destes programas de verão para pré-universitários, os vários departamentos e unidades de investigação da FCT Nova também estão a promover cursos específicos para alunos de licenciatura, mestrado e doutoramento. É o caso do Curso de Iniciação à Investigação em Ciências Biomoleculares Aplicadas, promovido pela UCIBIO – Unidade de ciências biomoleculares aplicadas, da Iniciação à Investigação em Química Verde”, do LAQV – Laboratório Associado para a Química Verde, ou da Física Nuclear Aplicada, promovido pelo LIBPhys — Laboratório de Instrumentação, Engenharia Biomédica e Física das Radiações.

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São estes os argumentos do DCIAP para acusar Salgado da derrocada do BES

Em mais de 4 mil páginas, o procurador José Ranito elenca as razões para a imputação de 65 crimes ao ex-líder do BES. Conheça aqui as razões mais fortes apresentadas pelo Ministério Público.

Ricardo Salgado é o primeiro banqueiro a ser acusado de associação criminosa. Um dos crimes económicos mais graves previsto no nosso Código Penal, com pena de prisão que pode ir até oito anos. O processo abrange 242 inquéritos, com queixas de mais de 300 pessoas, e que teve por objeto a investigação de dados patrimoniais de um conjunto de empresas daquele grupo financeiro.

Segundo o despacho (longo) de acusação, a que o ECO teve acesso, em 4117 páginas foram várias as razões ara imputar a Ricardo Salgado a responsabilidade ao nível de uma rede organizada de crimes económicos que acabou a resultar na queda e colapso do GES, no Verão de 2014.

Mas que argumentos deu então o procurador do DCIAP, José Ranito, no despacho de acusação a que o ECO teve acesso, para imputar mais de 60 crimes ao ex-líder do BES por mais de 20 anos?

  • “Ricardo Salgado logrou apropriar-se de património de terceiros no âmbito do negócio financeiro do Grupo, onde fez circular dívida das entidades não financeiras, independentemente da legitimidade para o exercício dessa atividade, ou das condições patrimoniais destas empresas”.
  • O GES apresentou-se publicamente imune às sucessivas crises financeiras, globais e nacionais, usando as suas entidades bancárias, e o negócio destas com os seus clientes, como fonte incessante e crescente de liquidez”.
  • Ricardo Salgado foi o responsável por uma estrutura de governo da parte financeira do GES “assente em conflito de interesses, em que o seu prevaleceu, e com organismos de controlo inoperantes, quer externos quer internos, a quem sonegou informação elementar sobre o modo como organizou o negócio bancário, e nele recrutou, a soldo, um conjunto de funcionários que foram posicionados para os seus desígnios criminosos”.
  • “O GES financeiro foi sendo crescentemente contaminado com a venda de papel comercial e obtenção de empréstimos sem adesão ao valor cobrado nas transações, quer com clientes – que foram atraídos para estes investimentos pelo juro que lhes era prometido (cada vez menos comportável para as emitentes, como era do desconhecimento público), e porque confiavam na normalidade da atividade bancária”.
  • “A proporção dos problemas criados por Ricardo Salgado, mais do que um impacto na estrutura do capital do GES financeiro, teve consequências reputacionais com danos irresolúveis a nível da liquidez necessária ao exercício da atividade bancária, como aliás se demonstrou em julho de 2014″.
  • “Ricardo Salgado foi responsável pela “produção sistemática e sucessiva de demonstrações financeiras falsas, que foram divulgadas a acionistas, credores, auditores de empresas do GES, supervisores, nacionais e estrangeiros”, em vez de suscitar a intervenção judicial para resolver a questão, que por essa via seria tornada pública”.
  • “Na realidade, pelo menos desde 2009, a holding de topo do GES, para o ramo financeiro e não financeiro, a ESI (Espírito Santo International), estava insolvente, como foi do conhecimento de um núcleo muito restrito de pessoas. Apurou-se, pelo menos, que José Castella, Francisco Machado da Cruz e elementos da empresa de contabilidade do GES domiciliada na Suíça sabiam os reais contornos da dimensão do problema, em valores de várias centenas de milhões de euros, e que em dezembro de 2013 era superior a 2,7 mil milhões de euros de capitais próprios negativos”.
  • “Ricardo Salgado conseguiu continuar a encontrar interessados em investir na ESI e assegurar o governo da área financeira do GES, onde aquela holding tinha posições de controlo, dizendo que a ESI apresentava capitais próprios positivos, sempre na ordem das centenas de milhões de euros”.
  • O principal arguido “construiu na sua visão do GES, também, um ramo de atividade cuja pertença ocultou, na Suíça, que nomeou de EUROFIN e que logrou credenciar como gestora de ativos e como corretora.
  • “Conjuntamente com Amílcar Pires, com o departamento financeiro do BES (DFME) e com funcionários que posicionou na EUROFIN, Ricardo Salgado criou sob a administração da EUROFIN um conjunto de veículos cuja existência e atividade foi ocultada ao mercado, auditores e supervisores, que foram responsáveis por desviar dinheiro do negócio do BES – numa operativa ruinosa para o banco, na venda de dívida própria aos seus clientes – e destinado aos fins por si pretendidos: cobertura de perdas irrecuperáveis, manutenção de negócios inviáveis, e distribuição de dinheiro pelos que o coadjuvavam nos atos criminosos que eram praticados no seio do GES financeiro”.
  • “O esquema de financiamento oculto da EUROFIN com o prejuízo do BES, aquando do pedido de auxílio externo de Portugal em 2011, assumiu proporções ruinosas pela alteração das condições financeiras e escassez de liquidez no mercado, tornando cada vez mais oneroso o desvio inicial de verbas que, para não ser detetado, exigiu sucessivas emissões de dívida para serem colocadas no circuito fraudulento de captação de recursos do BES”.
  • “Recusando-se a assumir as consequências dos seus atos, Ricardo Salgado implementou um processo de ilusão a auditores e supervisores, fazendo crer a possibilidade de injeção de capital nas holdings de topo do Grupo não financeiro, o que não era verídico”.
  • “No final de julho de 2014 esta prática havia causado prejuízos ao BES em valores que atingiram praticamente os 3 mil milhões de euros. Em 2013, pretendendo capturar liquidez fora do GES, designadamente no Grupo SEMAPA, liderado por Pedro Queiroz Pereira, numa tentativa de assumir controlo parcial deste Grupo, Ricardo Salgado originou um conflito que daria conhecimento ao líder de outra instituição financeira portuguesa, Fernando Ulrich, dos problemas de solvabilidade do GES”.
  • Ricardo Salgado “minou todo o discurso com informação falsa, quer sobre os factos pretéritos que contribuíam para o estado do GES, quer sobre a implementação das decisões impostas para resolver ou minimizar os impactos dessa realidade”.

 

 

 

 

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Vacina contra a Covid-19 e lucros do Goldman Sachs animam Wall Street

Sinais promissores da vacina experimental para a Covid-19 que está a ser desenvolvida pela Moderna e resultados acima do esperado do Goldman Sachs impulsionam os índices norte-americanos.

As principais bolsas norte-americanas negoceiam esta quarta-feira em alta, prolongando os ganhos da última sessão. Os sinais promissores da vacina contra o coronavírus, que está a ser desenvolvida pela Moderna, e resultados acima do esperado divulgados pelo Goldman Sachs animam os investidores em Wall Street.

Os resultados preliminares da primeira fase do estudo que a Moderna e o National Institutes of Health estão a desenvolver revelam que todos os voluntários para testar a vacina contra a Covid-19 apresentaram respostas imunes ao vírus. Perante os resultados, a empresa de biotecnologia norte-americana pretende avançar com ensaios clínicos de maior dimensão, considerados decisivos para o desenvolvimento da vacina. As ações da Moderna avançam 8,76% para os 81,61 dólares.

Além dos desenvolvimentos do combate ao vírus, os investidores estão focados na earnings season. O Goldman Sachs anunciou lucros de 13,3 mil milhões de dólares (cerca de 11,6 mil milhões de euros) no segundo trimestre do ano. Os resultados superaram largamente as expectativas dos analistas e os títulos do banco avançam 3,43% para os 221,33 dólares.

Perante este cenário, os principais índices em Wall Street registam ganhos. O índice de referência, o S&P 500, sobe 1,07% para 3.231,82 pontos. Igual tendência está a ser registada pelo industrial Dow Jones, que avança 1,36% para 27.003,77 pontos, e pelo tecnológico Nasdaq, que valoriza 0,78% para 10.570,58 pontos.

Nota ainda para a Apple, que sobe 1,97% para os 395,87 dólares, depois de vencer um recurso apresentado contra a Comissão Europeia, que tinha forçado a Irlanda a cobrar 13,1 mil milhões de euros em impostos à tecnológica por considerar que este montante lhe era devido. A anulação da decisão de Bruxelas foi tomada esta quarta-feira pelo Tribunal de Justiça da União Europeia.

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Câmaras vão ter apoio de 20 milhões para criar espaços de cowork

Governo está a dar apoios para que as empresas do litoral contratem colaboradores em regime de teletrabalho, colocando-os no interior. E tem 20 milhões para criarem espaços de cowork no interior.

Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial, em entrevista ao ECO - 06JUL20

“O teletrabalho pode ter certos inconvenientes, nomeadamente não distinguir o espaço da habitação do espaço de trabalho e a desmotivação que isso pode causar”. A afirmação é da ministra da Coesão que defende a necessidade de existirem espaços de teletrabalho. Para isso, o Executivo vai criar um apoio de 20 milhões de euros para ajudar as câmaras a criarem espaços de cowork.

Com o incentivo que o Governo está a dar para que as empresas do litoral contratem colaboradores em regime de teletrabalho, colocando-os no interior, é necessário criar as condições para que essa seja uma verdadeira opção. O programa +Co3so Emprego dá às empresas um apoio a fundo perdido equivalente a 2,5 Indexantes de Apoios Sociais para as incentivar a contratar novo colaboradores. O trabalhador receberá 1.097,03 euros — um salário que poderá ser superior desde que a empresa esteja disposta a pagar mais — enquanto a empresa recebe esse valor acrescidos dos 23,75% da Taxa Social única (TSU) mais 40% destes dois custos sob forma de incentivo à contratação. Este apoio é válido por três anos.

Este apoio destina-se aos três primeiros postos de trabalho criados. Nos restantes três, o incentivo desce para o equivalente a dois IAS e até ao limite de dez colabores desce mais 0,5 IAS. Nestes casos, ao fim de três anos, a empresa recebe um apoio que ronda os 41 mil euros. A medida já constava do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), com um custo previsto de 20 milhões de euros. Também neste caso se aplica uma majoração de mais 0,5 IAS para as novas empresas (até cinco anos), famílias monoparentais, deficientes, refugiados, sem abrigo, vítimas de violência doméstica, beneficiários do Rendimento Social de Inserção.

“Não estamos a criar medidas dispersas. Abrimos o apoio ao investimento, depois apoios à contratação para todo o território, mas com majoração para o interior, e apoios para empresas que contratem no litoral, mas coloquem os trabalhadores em teletrabalho no interior. Agora vamos trabalhar com as autarquias e com outras entidades que tenham espaços de trabalho – coworking”, explica ao ECO, Ana Abrunhosa.

Temos uma medida que prevê um apoio de 20 milhões para adaptar esses espaços de trabalho”, acrescenta, uma medida que surge no âmbito do programa +Co3so Emprego e já estava prevista no Programa de Estabilização Económica e Social (PEES). “Será também dado apoio à implementação/melhoria de condições de trabalho através da criação (com envolvimento contínuo dos municípios e infraestruturas tecnológicas) de
espaços especialmente desenhados para a prática de teletrabalho, designadamente em sistema de coworking, com base em infraestruturas de base tecnológica (designadamente Parques Tecnológicos). Prevê-se que a implementação destes espaços tenha elevado potencial de captação dos novos nómadas digitais e de millennials, entre outros, promovendo a prática do teletrabalho, em especial nas cidades do interior. Os espaços de coworking/teletrabalho visam reduzir as desvantagens do teletrabalho, nomeadamente o isolamento, fator frequente de desmotivação. Por outro lado, estimulam a partilha de experiências, ideias, bem como constituem fator de estímulo à economia local”, pode ler-se no documento aprovado a 6 de junho.

O teletrabalho é algo que tem de ser muito bem pensado porque exige uma forma completamente diferente de trabalhar e da própria organização, porque os colaboradores passam a trabalhar por objetivos”, frisa a responsável pelos programas operacionais regionais, responsáveis pelo financiamento das medidas lançadas esta quarta-feira.

“A existência de espaços de teletrabalho em que a pessoa possa estar com outras pessoas, na mesma condição, é uma medida que até se pode fazer com recursos pouco significativos em termos de montante, mas significativos em termos de impacto”, defende Ana Abrunhosa.

“É trabalhar com as autarquias, ver espaços de acolhimento que já têm, as infraestruturas tecnológicas, e depois criar as condições para a pessoa poder estar lá em teletrabalho. São espaços de coworking e muitas vezes de fertilização cruzada, porque as pessoas quando se conhecem começam a trocar ideias”, afirma a ministra da Coesão, concluindo que se trata de “espaços muito ricos”.

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Empresas que contratarem vão ter ajuda a pagar salários

Ao longo de 3 anos, com 90 milhões a fundo perdido, o Governo quer ajudar empresas a criar 1.600 novos empregos. Apoio paga às empresas o salário, a TSU e um incentivo de 40% com limite de 10 pessoas.

A ideia não é nova, mas as regras são. A partir desta quarta-feira, as empresas vão dispor de 90 milhões de euros para contratar novos colaboradores, embora o Governo admita que se o programa tiver sucesso, o montante possa ser reforçado. Os apoios do programa +Co3so Emprego, podem ascender, no máximo, a 2.280 euros por trabalhador durante três anos, mas essa majoração apenas está disponível para as empresas do interior, constituídas há cinco anos, de empreendedorismo social e empresários da diáspora. Com esta medida, o Governo espera apoiar, a fundo perdido, a criação de 1.600 novos postos de trabalho.

“Os apoios antes eram só para micro e pequenas empresas, agora passam a ser também para médias. No passado eram só para novas empresas, agora são para empresas que já existem e queiram contratar. Se for no litoral têm um apoio menor, se for no interior será maior”, explica ao ECO a ministra da Coesão. Ana Abrunhosa sublinha ainda que os apoios se destinam a quem queira fazer contratações por conta de outrem, mas também para a criação do próprio negócio, à semelhança do que já acontecia no passado.

Assim, as empresas de todo o território continental (as ilhas estão excluídas) podem obter um apoio que varia entre 760,24 euros e 2.280,71, dependendo do valor do salário em causa (ver tabela em baixo). Este montante que as empresas podem receber contempla o valor do salário, os encargos com a Segurança Social a cargo do empregador (TSU) e um incentivo adicional pela contratação de 40% desses custos. O nível de apoio varia consoante o tipo de empresas, a sua localização, a idade, mas também do número de trabalhadores contratados.

Vejamos um exemplo. Uma empresa situada no Porto, por exemplo, se contratar até três colaboradores poderá receber 1.520,48 euros por cada um, ou seja, o suficiente para poder pagar um salário equivalente a dois IAS (o Indexante de Apoios Sociais vale 438,81 euros), a TSU de 23,75% e o incentivo de 40%. “Mas as empresas podem e devem pagar mais”, lembra Ana Abrunhosa, frisando que “o valor de referência já é interessante” e, por isso, visa incentivar a contratação de pessoas mais qualificadas.

Mas se a mesma empresa optar por contratar seis pessoas, pelas três primeiras recebe o apoio referente aos dois IAS, mas pelas três seguintes esse montante reduz-se para 1,5 IAS. Neste caso a empresa recebe mensalmente 1.140,35 euros. Já se a contratação chegar aos dez colaboradores, pelos quatro últimos o apoio em causa é de 760,23 euros, o correspondente aos encargos referentes a um IAS, os 23,75% da Taxa Social Única, acrescidos sempre do incentivo de 40%.

Estes montantes são alvo de uma majoração, ou seja aumentam, se a empresa em causa contratar “pessoas em situação especial, como por exemplo, membros de famílias monoparentais, deficientes, refugiados, sem abrigo (porque infelizmente há pessoas qualificadas nesta situação), vítimas de violência doméstica ou beneficiários do Rendimento Social de Inserção”, acrescenta a ministra da Coesão. Nesses casos, os três primeiros postos de trabalho recebem um apoio de 1.900,60 euros, correspondente a 2,5 IAS. Esta majoração é extensível às novas empresas (até cinco anos).

São ainda alvo desta majoração os postos de trabalho que resultem de investimentos feitos pela diáspora. “Criámos a figura do investidor da diáspora que também tem a majoração. A ideia é que os lusodescendentes e a comunidade da diáspora sejam também incluídos nos avisos da inovação e de apoio à contratação, porque nos apercebemos que há muitos empresários da diáspora com vontade de investir e, por isso, fizemos aqui uma parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiro”, explica Ana Abrunhosa.

Os montantes dos apoios sobem para as atividades da economia social — Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), associações e fundações, cooperativas, associações mutualistas, misericórdias, entre outros — que passam a ser elegíveis. Nestes casos, independentemente da localização geográfica, o apoio para as três primeiras contratações é equivalente a três IAS — 2.280,71 euros, diminuindo progressivamente até aos dois IAS. Ou seja, o montante a receber, com com incentivo e encargos para a Segurança Social, oscila entre 2.280,71 por mês e 1.520,48 euros. “O apoio à contratação de emprego qualificado foi uma novidade porque verificámos que as entidades da economia social têm um problema que a pandemia mostrou — a necessidade de darem respostas mais inovadoras e qualificadas. E isso só se faz com pessoas qualificadas”, sublinha Ana Abrunhosa.

Este apoio, cujos concursos abrem esta quarta-feira, privilegia ainda as empresas do interior. Nestes casos, os três primeiros postos de trabalho recebem um apoio correspondente a 2,5 IAS (1.900 euros) que descem até 1,5 IAS até ao limite do apoio (dez pessoas). Também nestes casos existe uma majoração para as “pessoas em situação especial” que também beneficiam dessa majoração no caso do emprego urbano e para novas empresas (até cinco anos).

Para beneficiar deste apoio as empresas têm de celebrar contratos sem termo e “tem de haver um acréscimo líquido de postos de trabalho para evitar que a empresa despeça para poder contratar com apoios”, frisa Ana Abrunhosa. “Portanto, o que vamos considerar é o número de trabalhadores que a empresa tinha antes, num horizonte temporal que estamos a definir, para evitar as situações de empresas que despedem para depois voltar a contratar para ter acesso aos apoios”. A responsável garante que a medida é de fácil fiscalização, porque os pagamentos às empresas são feitos com base no local de trabalho do colaborador que consta dos mapas da Segurança Social.

“Não conseguimos fazer a mudança de paradigma, entrar no mercado internacional, valorizar as nossas produções se não tivermos trabalhadores qualificados. E a política de salários baixos não é uma política de competitividade. Daí que os nossos valores de referência são acima do que são os valores tradicionais no passado”, defende a ministra da Coesão.

Empresas do litoral que contratem em teletrabalho no interior têm mais apoios

Outra das novidades do programa sucessor do Sistema de Incentivos ao Emprego e Empreendedorismo (SI2E) é majorar a criação de emprego por empresas do litoral, mas que coloquem os colaboradores no interior, em regime de teletrabalho. Vão ter o mesmo apoio que têm as empresas do interior, mas com uma majoração de 0,5 IAS. Ou seja, em vez de receberem um apoio correspondente a dois IAS pelos primeiros três trabalhadores tem um apoio de 2,5 IAS.

“Isto não significa que o trabalhador tenha de lá estar sempre, pode vir a reuniões, estar alguns dias no litoral”, explica Ana Abrunhosa. “Isto é um conceito muito atual de teletrabalho”, acrescenta. Esta possibilidade já tinha sido avançada pela própria, ao ECO, em fevereiro, aquando da abertura dos vales inovação para as microempresas do interior.

A medida já constava do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), com um custo previsto de 20 milhões de euros. Nestes casos, ao fim de três anos a empresa poderá receber um apoio que ronda os 68 mil euros ou 41 mil, de acordo com o número de trabalhadores contratados. Também neste caso se aplica a majoração de mais 0,5 IAS para as novas empresas (até cinco anos), famílias monoparentais, deficientes, refugiados, sem abrigo, vítimas de violência doméstica, beneficiários do Rendimento Social de Inserção.

Ana Abrunhosa, Ministra da Coesão Territorial, em entrevista ao ECO - 06JUL20
“A política de salários baixos não é uma política de competitividade”, diz a ministra da Coesão, Ana Abrunhosa.Hugo Amaral/ECO

A ministra explicou que este apoio, que visa “valorizar o interior”, “está integrado com outras medidas”, como “o apoio ao investimento para o interior através de avisos dedicados”. “Essas empresas não só beneficiam do apoio ao investimento como podem beneficiar do apoio à contratação, através desta medida”. “A única forma de contrariar a tendência de desertificação nos territórios do interior é ter pessoas no interior. Para estarem lá têm de ter trabalho e para terem trabalho tem de haver empresas. Portanto, o que fizemos foi avisos dedicados para projetos de investimento no interior, seja para empresas que lá estejam e que queiram aumentar a sua capacidade ou internacionalizar-se ou para novas empresas. Tivemos uma procura muito interessante e continuamos a ter nestes avisos”, garante a ministra da Coesão.

No balanço feito ao ECO, a responsável revela que o concurso de inovação produtiva só para os territórios do interior teve 113 candidaturas com intenções de investimento de 400 milhões e um fundo solicitado de 300 milhões e uma previsão de criar mais de dois mil postos de trabalho. “E estas candidaturas foram submetidas em plena fase de pandemia. O aviso estava previsto abrir no final de março, tivemos solicitações e só fechou em meados de abril, já em situação de pandemia gravíssima”, sublinha. “Fizemos um questionário antes de começar análise, para saber se mantinham as intenções de investimento e a esmagadora maioria mantém as intenções de investimento”, acrescentou ainda Ana Abrunhosa.

Expectativa cautelosa, mas otimista

Quem financia estes apoios a fundo perdido são os programas operacionais regionais do Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve, com o Fundo Social Europeu, e a gestão vai ser entregue aos Grupos de Ação Local (GAL), evitando uma gestão bicéfala do SI2E, no qual os investimentos a partir de um determinado montante passavam a ser da responsabilidade das Comunidades Intermunicipais (CIM). Porquê? “A ideia é uma ação mais próxima dos promotores e haver um único interlocutor”, justifica a ministra. Eles estão muito animados”, garante.

É esse entusiasmo que deixa Ana Abrunhosa expectante quanto ao sucesso da medida. “É uma expectativa cautelosa, mas otimista”, diz a ministra da Coesão. “Num contexto de desemprego, mas também num contexto em que as empresas lutam por manter os postos de trabalho, seria um sucesso se conseguíssemos que estas verbas fossem absorvidas rapidamente”, reconhece a responsável que tem sob a sua tutela a gestão dos programas operacionais regionais, a braços com dificuldades de execução do Fundo Social Europeu.

O +Co3so Emprego, que viu o seu lançamento atrasado por causa da pandemia de coronavírus, vai usar os custos simplificados: “Os custos elegíveis são calculados de acordo com um método predefinido, com base nas realizações (outputs), resultados ou algumas outras despesas e deixa de ser necessário rastrear cada euro de despesas cofinanciadas até chegar aos documentos comprovativos individuais”, como enunciam as Orientações sobre as Opções de Custos Simplificados.

Pandemia atrasa apoios à mobilidade

Na lógica de atrair trabalhadores para o interior, o Executivo criou um apoio à mobilidade que é pago diretamente às famílias que se mudem do litoral. No entanto, o lançamento da medida foi atrasado pela pandemia, reconheceu Ana Abrunhosa.

“É um incentivo à mobilidade geográfica e à fixação de pessoas nos territórios do interior”, que é pago diretamente às famílias. “A família tem de se candidatar na plataforma online do IEFP. Somos nós que o financiamos. O apoio se for um agregado familiar que vá de uma área metropolitana no litoral para o interior, é no máximo de 4.800 euros e se for de alguém que esteja no estrangeiro – não apenas as pessoas que saíram, mas também quem queira vir, independentemente, de terem ou não nacionalidade portuguesa — o apoio é de 7.679 euros”, explicou Ana Abrunhosa ao ECO.

Atrair estrangeiros tem sido a solução para muitas empresas do interior, nomeadamente na área do agroalimentar e das TIC. “Na Altran, no Fundão, a maior parte dos jovens engenheiros que tem vieram de fora; no cluster de aeronáutica, em Évora, muitos dos jovens que lá estão vieram do estrangeiro”, exemplifica Ana Abrunhosa. “É mais fácil a uma pessoa que vem do exterior, e não faz uma diferença entre Lisboa e o interior, porque são distâncias muito curtas, sobretudo para as pessoas em idades que têm filhos ou que estão a constituir família”, reconhece.

Por outro lado, o perfil das empresas que procuram o interior, são normalmente, empresas que já têm boas experiências em Portugal, revela um estudo da Aicep. “Já estão na Maia, Porto, Lisboa e agora querem expandir-se, mas manter-se em Portugal e vão para o interior. Têm uma boa experiência com a realidade portuguesa, com pessoas formadas em Portugal e de viver e trabalhar em Portugal. Essas ou conseguem atrair pessoas que estão no litoral ou trazem pessoas que estão noutros países”, remata a ministra da Coesão lembrando que este incentivo, cujas candidaturas deverão abrir em breve de acordo com o Jornal de Notícias, pode ser determinante.

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