Há empresas a dar já apoios ao teletrabalho. Mas como se calculam?

A lei laboral diz que, em teletrabalho, o empregador deve cobrir o acréscimo dos custos dos trabalhadores, mas não diz como. Empresas dividem-se entre subsídios fixos e apoios com base na faturação.

Em plena pandemia, a Liberty decidiu propor aos seus trabalhadores passarem a exercer as suas funções, de forma definitiva, “a partir de qualquer lugar”. Mais de 99% deles disseram “sim” e a seguradora já lhes prometeu um subsídio anual para cobrir as despesas implicadas nesta nova realidade. Como a Liberty, há vários outros empregadores em Portugal que estão pagar apoios aos teletrabalhadores, mesmo nos casos em que o trabalho à distância resulta não de opção dos próprios, mas da crise sanitária. A lei dita que devem fazê-lo, mas não sinaliza como devem calcular esse valor. Os advogados ouvidos pelo ECO dividem-se em várias soluções, do apuramento baseado nas despesas do empregador ao cálculo a partir do consumo médio dos portugueses e dos preços de mercado.

No mês em que foram identificados os primeiros casos de Covid-19 em Portugal, a adoção do teletrabalho tornou-se obrigatória. Corria, então, março de 2020 e para muitos esta foi a primeira experiência de trabalho à distância. No primeiro trimestre vivido inteiramente nessa nova realidade (de abril e junho de 2020), mais de um milhão de trabalhadores portugueses exerceram as suas funções em casa, indica o Instituto Nacional de Estatística. Destes, 91,2% disseram que a razão principal para terem trabalhado em casa foi a pandemia de coronavírus.

Nos meses que se seguiram, o universo de portugueses nessa situação diminuiu, à boleia do desconfinamento, mantendo-se, ainda assim, acima do que se verificava antes da crise sanitária.

Ao ECO, a ex-ministra do Trabalho e atual diretora do Centro das Atividades para os Trabalhadores da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Helena André, dizia que a pandemia estava, então, a proporcionar a “maior experiência da história da humanidade” de teletrabalho. E a par dessa explosão do trabalho remoto, surgiram várias dúvidas e motivos de debate, como o acréscimo das despesas implicado nesta modalidade.

Em fevereiro de 2021, o Governo quebrou o silêncio e explicou que entende, com base no Código do Trabalho, que cabe ao empregador cobrir as despesas relacionadas com a internet e com o telefone. Não disse, no entanto, como deve ser calculado o acréscimo em causa e a lei laboral também não o esclarece. Mais recentemente, a ministra do Trabalho atirou essa questão para a negociação coletiva, mais uma vez não resolvendo a dúvida que se coloca, há mais de um ano, às empresas que se têm visto forçadas a adotar o teletrabalho por causa da Covid-19.

É o caso da Liberty, que em plena pandemia, e à semelhança de vários outros empregadores no plano internacional, foi mais longe e propôs aos seus trabalhadores a adoção definitiva do trabalho “a partir de qualquer lugar”, com o objetivo de se tornar a primeira companhia de seguros 100% digital. Este mês, a empresa anunciou que mais de 99% dos empregadores disseram “sim” a essa proposta, estando-lhes agora prometido um subsídio anual fixo de 660 euros para cobrir as despesas implicadas na nova realidade.

“Este subsídio mensal pretende atenuar as despesas relacionadas com o trabalho digital que os nossos colaboradores possam ter. O montante teve em consideração o potencial aumento das despesas mensais dos colaboradores por estarem a trabalhar de casa”, explica ao ECO Beatriz Ortega, responsável pela área de Employee Experience na empresa em causa.

Sem orientações da parte do Executivo ou da legislação laboral, a Liberty decidiu fixar esse subsídio a partir das “principais contas domésticas, consumo e preços”, considerando também para esse fim a “poupança por parte do trabalhador neste modelo”, com viagens diárias e alimentação, por exemplo.

Aliás, quando há um ano os trabalhadores foram mandados, obrigatoriamente, para casa, esta empresa garantiu-lhes portáteis e outros dispositivos tecnológicos, além de 460 euros “para adaptarem a sua casa e espaço de trabalho para, à distância, poderem continuar a exercer as mesmas funções”, aos quais se somam 200 euros para “eventuais situações que [os trabalhadores] tivessem de resolver durante os meses de teletrabalho“.

Como a Liberty, também a Outsystems decidiu garantir aos seus trabalhadores um apoio adicional, desde o primeiro momento em que o teletrabalho se tornou obrigatório. Em conversa com o ECO, Alexandra Líbano Monteiro, diretora de recursos humanos da empresa em questão, explica que, num primeiro momento, foram assegurados dois grandes cheques: 500 euros para preparar as casas para a nova realidade — “achámos que tínhamos condições de investir na qualidade de vida das nossas pessoas”, diz — e um apoio variável para cobrir as despesas da internet.

Ao contrário da Liberty, a Outsystems está a preferir calcular esse subsídio com base na faturação, fixando como valor máximo de 50 euros por mês (600 euros por ano). A plataforma digital que os trabalhadores usam para apresentar as faturas para esse fim já não era novidade quando a pandemia bateu à porta, pelo que era este o caminho (o cálculo com base na faturação) que “casava melhor com os procedimentos internos da empresa”.

Segundo conta ao ECO Alexandra Líbano Monteiro, o teletrabalho veio para ficar na Outsystems, ainda que, no futuro, a empresa queira também fixar vindas ocasionais dos trabalhadores aos escritórios. E nesse futuro poderá estar também uma comparticipação de outras despesas, como energia e água, admite a responsável, dizendo que as políticas estão a ser reavaliadas e que há certos benefícios (como o subsídio de transporte) que poderão ser repensados.

Apoio fixo ou variável?

Tal como a Liberty e a Outsystems, há vários outros empregadores em Portugal que têm apoiado os seus teletrabalhadores, mesmo nos casos em que a adoção do trabalho remoto não seja opção da própria empresa, mas uma obrigação decorrente da crise sanitária. Continua, contudo, a faltar uma regra sobre como calcular essas comparticipações e ajudas.

“O Código do Trabalho não nos dá nenhuma pista concreta ou pragmática nesse sentido“, garante Pedro da Quitéria Faria, advogado da Antas da Cunha Ecija & Associados. “O Código do Trabalho não dá resposta a esta questão, pelo que caberá a cada empresa definir o valor do subsídio ou a forma de cálculo do mesmo“, confirma Gonçalo Delicado, advogado da Abreu Advogados.

Segundo conta ao ECO Pedro da Quitéria Faria, a maioria das empresas que acompanha decidiu-se pelo “pagamento de um subsídio fixo e transitório”, o que “reduz o ímpeto litigante por parte do trabalhador”. Não dando a legislação nenhuma pista sobre esse subsídio, explica que a fixação deverá ter em conta o apuramento médio dos acréscimos das despesas dos trabalhadores — que poderá partir da faturação do trabalhador –, mas também fatores como a zona geográfica e os preços aí praticados, os pacotes de internet e comunicação anteriores ao teletrabalho ou até os preços médios de mercado.

Já Gonçalo Delicado sublinha que, caso o empregador opte por um subsídio fixo, deve ter em conta “uma métrica que seja aplicável a todos os trabalhadores”. “Calcular este subsídio com base nos custos do escritório pode ser uma solução, mas é preciso levar em consideração que a realidade de um escritório pode não ser igual à realidade da casa do trabalhador”, diz, defendendo que “o bom senso deverá sempre presidir na tomada de decisões“.

O advogado da Abreu indica que, dos casos que lhe chegaram às mãos, parece-lhe que “as empresas estão a optar por um subsídio mensal, igual para todos os trabalhadores, para suportar o acréscimo de despesas para o trabalhador decorrentes da prestação da atividade em teletrabalho”.

Também Joana de Sá e Luís Gonçalves Lira, da PRA – Raposo, Sá Miranda & Associados, revelam que, das empresas que têm acompanhado, a opção predominante tem sido pela atribuição de um subsídio “em concreto e uniforme”, dependendo essa matéria da dimensão da empresa e do acordo que foi estabelecido com cada trabalhador.

Parece, portanto, que apesar da apresentação de faturas ser a solução talvez mais sensível à situação de cada trabalhador, as empresas têm optado pela fixação de um valor fixo. “Conhecendo a realidade das empresas, não é uma expectativa realista que consigam fazer a análise e o cálculo das faturas todos os meses“, explica Filipa Sá Silva, jurista da RSN Advogados, que salienta, contudo, que há várias empresas que nem sequer estão a fazer esses pagamentos.

Também para Rui Valente, da Garrigues, obrigar as empresas a pagar apoios com base na faturação seria um “trabalho de Hércules”, cujo resultado nunca seria “claro”, “dado que toda essa faturação reflete o acréscimo global de despesas eventualmente apurado pela presença em casa de todo o agregado familiar do trabalhador”. Isto além de levantar questões ao nível do tratamento dos dados pessoais. O advogado sublinha, por isso, que esta matéria merece regulamentação específica.

Do mesmo modo, para José Pedro Anacoreta, da PLMJ, o apuramento do acréscimo dos gastos por via das faturas é “muito difícil de quantificar e provar“. O advogado sugere, em alternativa, que se fixe um valor mensal máximo isento de imposto, à semelhança do que já hoje acontece com o subsídio de refeição. “A empresa pagaria aquilo que pudesse”, diz, em conversa com o ECO.

Enquanto não há esse mecanismo, José Pedro Anacoreta adianta que um subsídio para cobrir as despesas implicadas no teletrabalho deve ter por base os valores de mercado, como o consumo médio de energia por pessoa e o custo de uma ligação à internet. “Acho que conseguimos chegar a um valor razoável”.

Por outro lado, Sílvia S. Cristóvão e Maria Carolina Guerreiro, da Pares Advogados, defendem que o empregador deve partir, em alternativa, dos custos apresentados pela generalidade dos trabalhadores, além dos preços de mercado. Ainda assim, avisam: “Do nosso conhecimento as empresas têm optado por fornecer os meios de comunicação e pago diretamente as despesas às operadoras, sendo que existe um elevado leque de empresas que não se encontra a custear as despesas dos trabalhadores“.

PCP quer subsídio fixo de 11 euros por dia para teletrabalhadores

Enquanto o Governo atira a discussão para a negociação coletiva, no Parlamento, Bloco de Esquerda e PCP já apresentaram propostas sobre as despesas implicadas no teletrabalho.

No caso dos bloquistas, a proposta entregue na Assembleia da República esclarece que os empregadores devem mesmo pagar as despesas inerentes ao trabalho à distância (há quem entende que a lei laboral não é clara quanto a isso), nomeadamente telecomunicações, água, energia e “outros custos conexos com o exercício das funções”. O BE não define, contudo, como deve ser feito ou calculado esse pagamento.

Aos jornalistas, o deputado José Soeiro sublinhou que essa abertura quanto ao cálculo serve para permitir a sua adaptação às diversas situações e setores. O bloquista sugeriu que esse apuramento poderá partir das faturas do trabalhador ou poderá ser fixado um subsídio para o efeito, sendo ambas soluções “válidas”.

O PCP é mais assertivo e quer que o Código do Trabalho passe a ditar que, em teletrabalho, os trabalhadores têm direito a um subsídio equivalente a 2,5% do Indexante dos Apoios Sociais (IAS), ou seja, cerca de 11 euros por dia. Isto para cobrir os “gastos acrescidos” com comunicações, eletricidade e água, entre outros, implicados no trabalho à distância.

Também o PS, PSD e PAN deverão apresentar propostas para regular o teletrabalho, mas ainda não é certo quando avançarão. No Livro Verde sobre o Futuro do Trabalho, o Governo entende que há necessidade de melhorar essa regulação, mas também ainda não foi indicado quando tal será feito.

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Rui Rio critica alegada “inação” da GNR em agressão a jornalista da TVI

  • Lusa
  • 27 Abril 2021

“Se o relato da TVI é rigoroso, então, a inação dos elementos da GNR é intolerável”, refere Rui Rio, na sua conta de Twitter.

O presidente do PSD considerou “intolerável” a alegada “inação dos elementos da GNR” durante a agressão a um repórter de imagem da TVI, na segunda-feira, considerando que deveria haver um processo de averiguações.

“Se o relato da TVI é rigoroso, então, a inação dos elementos da GNR é intolerável”, escreveu Rui Rio na rede social Twitter, ao início da noite desta terça-feira.

O ‘tweet’ é acompanhado de um link para uma notícia da TVI24, que dá conta de que a GNR esclareceu “a posição do guarda sobre as agressões” ao repórter de imagem daquele órgão de comunicação social, no recinto do Moreirense, depois do final do jogo com o FC Porto.

De acordo com a TVI, a GNR explicou que o militar a quem o jornalista pediu ajuda “não presenciou as agressões”, mas “rapidamente” tentou “acalmar os ânimos”.

A publicação do dirigente social-democrata no Twitter acrescenta que “ver um bandalho a agredir um cidadão e não interferir de imediato para o evitar – agravado com o facto de se tratar de um crime público – exige um processo de averiguações”.

O Ministério Público vai abrir um inquérito à agressão a um repórter de imagem da TVI, ocorrida depois do jogo entre o Moreirensee e o FC Porto, confirmou hoje à Lusa fonte oficial da PGR.

Na segunda-feira, depois do encontro da 29.ª jornada do campeonato, que terminou empatado 1-1, um jornalista foi agredido nas imediações do estádio do Moreirense, em Moreira de Cónegos, de acordo com imagens transmitidas pelo próprio canal de televisão.

Além da TVI, várias entidades, como a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o Sindicato dos Jornalistas (SJ), a Associação dos Jornalistas de Desporto (CNID), a Associação Nacional de Agentes de Futebol (ANAF) e a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), juntamente com os clubes Sporting e Benfica, repudiaram a agressão.

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Wall Street em terreno misto à espera dos resultados

Após fecharem em máximos históricos na sessão anterior, os principais índices norte-americanos fecharam sem rumo definido numa sessão de espera pelos resultados das gigantes tecnológicas.

Os principais índices norte-americanos fecharam esta terça-feira sem rumo, numa altura em que os investidores aguardam os resultados de algumas gigantes tecnológicas, como a Microsoft e a Alphabet, e mais orientações da Reserva Federal sobre o futuro da política monetária. Já a Tesla caiu 4,5%, apesar de ter apresentado resultados que superaram as expectativas.

O Nasdaq cedeu 0,34%, para 14.090,22 pontos, e o S&P 500 desvalorizou 0,02%, para 4.186,72 pontos, ao passo que o Dow Jones subiu 0,01%, para 33.984,93 pontos. No dia anterior, o S&P 500 e o Nasdaq fecharam em níveis recorde, com o índice tecnológico a completar a recuperação desde a correção de 11% iniciada em fevereiro.

Esta segunda-feira, após o fecho da negociação, a Tesla revelou os resultados e, apesar de ter superado ligeiramente as expectativas dos analistas relativamente à receita no trimestre, as ações da fabricante de automóveis elétricos desvalorizaram 4,5% nesta sessão. A receita da Tesla foi impulsionada pela venda de créditos ambientais a outras fabricantes de automóveis e a liquidação de parte da posição em bitcoin. No total, o lucro foi de 438 milhões de dólares, o valor trimestral mais elevado de sempre da empresa.

Após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, as ações da Microsoft desceram quase 4% e os títulos da Alphabet, a dona da Google, valorizaram 5% na negociação dos futuros, depois do fecho da sessão. No caso da Microsoft, as vendas da área de cloud até subiram, mas os resultados não surpreenderam pela positiva. No caso da Alphabet, a empresa bateu as expectativas e anunciou um programa de recompra de ações no valor de 50 mil milhões de dólares. Nota ainda para a Starbucks que caiu 2,7% também depois da divulgação dos resultados em que aumentou a previsão do lucro anual.

Segundo os dados da Refinitiv IBES, citados pela Reuters, os lucros das cotadas do S&P 500 deverão crescer 34,3% no primeiro trimestre, em termos homólogos. De acordo com os dados da FactSet, citados pela CNBC, das cotadas que já revelaram resultados — o equivalente a cerca de um terço do S&P 500 –, 84% revelaram-se uma surpresa positiva em termos de lucros.

A expectativa dos economistas é que os EUA tenham uma retoma forte por causa do rápido processo de vacinação e os apoios orçamentais e monetários sem precedentes dados pela Administração Biden e pela Fed de Jerome Powell. Na quarta-feira, a Reserva Federal termina a reunião de dois dias sobre a política monetária, mas não é expectável nenhuma mudança prática. No entanto, os investidores aguardam qualquer indicação sobre a evolução da inflação e os riscos do sistema financeiro criados pela subida exponencial de alguns ativos financeiros.

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Cinquenta municípios esperam alteração das condições para gerirem centros de saúde

  • Lusa
  • 27 Abril 2021

Até ao final de março, 20 municípios assumiram competências na área da Saúde. Outros 50 aguardam alterações ao protocolo de transferência de competências.

Cinquenta municípios estão à espera de alterações aos termos dos acordos de transferência de competências na área da saúde, propostos pelo Governo, para começarem a gerir centros de saúde, ​​​​​​revelou esta terça-feira o secretário de Estado das Autarquias Locais.

Até ao final de março, apenas 20 municípios assumiram competências na área da Saúde, que implica, entre outras tarefas, a gestão dos Centros de Saúde por estas autarquias.

Segundo um documento a que a Lusa teve então acesso, a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) contestou alguns dos termos dos autos de transferência de competências nesta área por, entre outros, preverem que as Administrações Regionais de Saúde pudessem retirar aos municípios os centros de saúde, caso considerassem a existência de má gestão pelos municípios.

Esta era uma condição que estava a inibir muitas destas autarquias de assumirem as competências, por considerarem que não estão sob a tutela nem têm de reportar às ARS, era salientado no documento.

São cerca de 50 [autos de transferência] e não foram assinados por isto mesmo. Por causa do auto, que tinha lá uma terminologia que a ANMP e alguns autarcas acharam inadequada”, revelou, no parlamento, o secretário de Estado das Autarquias Locais, Jorge Botelho, realçando que outros 20 municípios “aceitaram o protocolo tal como está”.

O responsável salientou que “neste momento está a ser trabalhada uma proposta de alteração deste documento, que, obviamente, tem que ser consensualizado com a Saúde”, para que estes protocolos sejam assinados.

O secretário de Estado e a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, que tutela as autarquias, foram ouvidos no parlamento na comissão parlamentar de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local.

Alexandra Leitão considerou que “a transferência de competências está agora a entrar em velocidade de cruzeiro”, com a maioria das competências previstas “a ser exercida pelas autarquias locais”.

Saúde, Educação, Cultura e Ação Social, que serão obrigatórias em 31 de março de 2022, “também registaram avanços importantes”, sublinhou.

Em 2021, para as áreas da Cultura, Educação e Saúde estão previstas transferências financeiras superiores a 325 milhões de euros e para a Ação Social mais 60 milhões.

No caso da Ação Social, o último diploma de descentralização a ser publicado, os municípios estão na fase de receberem os documentos com os valores que lhes cabem na divisão do bolo total, para que aceitem ou recusem esta competência.

Segundo Jorge Botelho, as verbas propostas aos municípios correspondem às verbas que são atualmente investidas pela Administração Central na área em causa.

“Percebo as resistências de algumas câmaras, obviamente, mas da mesma forma que algumas câmaras decidiram não aceitar, como é seu poder fazer agora, também temos conhecimento de que há muitas câmaras que já decidiram aceitar as competências da Ação Social pelo mesmo processo, pela consulta ao mesmo ficheiro e pela mesma tipologia de processo. Eu diria que são dinâmicas locais e que a oportunidade da aceitação da competência será obviamente generalizada em março de 2022”, sublinhou Jorge Botelho.

Segundo a ministra, na Educação, mais de um terço dos municípios já solicitaram a constituição de comissões para a transferência de competências e mais de 150 municípios já aceitaram exercer essas competências.

Destes 150, há 14 municípios que exercem as competências de Educação “ao abrigo de contratos interadministrativos e outros ao abrigo de contratos de execução, até à data da sua caducidade”.

“Na Cultura, passámos de nove autos celebrados com oito municípios para 35 autos em fase final de elaboração para assinatura com 32 municípios”, sublinhou Alexandra Leitão.

A governante destacou também que está a ser trabalhada uma solução com a SIBS para que “haja as referências multibanco para que os municípios possam exercer plenamente a transferência de competências em matéria de estacionamento”.

Segundo a ministra, foram assinados cinco protocolos com municípios para a instalação e transferência de Lojas de Cidadão, “70% dos municípios solicitaram comissões para a transferência de competências em matéria de habitação, 45% em matéria de áreas portuárias, 55% em matéria de cultura e 68% dos municípios estão a formalizar a construção das comissões nas áreas protegidas”.

Na área da Habitação, foram assinados acordos de colaboração com cerca de 40 municípios, no âmbito do Programa 1º Direito, que visa promover soluções habitacionais para as famílias mais carenciadas e sem alternativa habitacional.

Alexandra Leitão apontou ainda transferências de competências de 82 municípios para 735 freguesias, num valor de cerca de 60 milhões de euros.

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Allianz faz parceria com Sea Shepherd Global na limpeza dos oceanos

  • ECO Seguros
  • 27 Abril 2021

A nova parceria da Allianz tem duração inicial de dois anos e inclui seguro para tripulação e equipamento nas operações de limpeza de redes e outros plásticos no Mediterrâneo e costas de Itália.

 

O grupo Allianz aliou-se à organização internacional de conservação da biodiversidade marítima Sea Shepherd Global. A aliança é concretizada através de quatro empresas do grupo alemão no financiamento da embarcação, tripulação e equipamento do Sea Eagle, navio recentemente adquirido pela Sea Shepherd para operar no combate à poluição marinha por resíduos plásticos.

A nova parceria da Allianz tem duração inicial de dois anos e inclui o seguro para riscos (da tripulação e equipamento) nas operações de limpeza no Mediterrâneo e nas costas de Itália, nomeadamente a recolha de redes de pesca deixadas ilegalmente no mar e eliminação de outro lixo existente no fundo marinho, detalha a seguradora germânica em comunicado.

“Com proteção marinha orientada, 80% dos habitats de espécies animais e vegetais ameaçadas poderiam ser protegidas. Oceanos saudáveis também desempenham um papel na absorção de emissões climáticas nocivas. Como empresa responsável, queremos trabalhar com a Sea Shepherd para apoiar a conservação marinha eficaz”, diz Barbara Karuth-Zelle, Membro do Conselho de Gestão de Operações e TI da Allianz SE, também apaixonada por mergulho.

Entre cinco e 12 toneladas de plástico e 640 mil toneladas de redes de pesca são deixados nos oceanos todos os anos, enquanto dois terços dos oceanos do planeta já se encontram em situação de sobrepesca, refere a Allianz citando informação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Investigadores estimam o valor acrescentado dos oceanos do planeta em 24 biliões de dólares gerados através do turismo, comércio e alimentação, e outras atividades.

No âmbito de projetos de defesa da biodiversidade, em particular pela conservação de espécies ameaçadas de extinção, e promoção de práticas de pesca sustentáveis, a Allianz espera contribuir para travar a deterioração de ecossistemas em perigo, uma ameaça que também significa riscos económicos e de saúde para milhões de pessoas, sustenta a companhia.

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Accenture: Seguradoras inovam ou perdem 5% das receitas

  • ECO Seguros
  • 27 Abril 2021

O setor deve acelerar a resposta à mudança de hábitos de consumo, adaptar-se e recuperar resiliência. A consultora sugere 4 áreas chave incontornáveis para as seguradoras nos próximos 5 anos.

A indústria global de seguros crescerá em 1,4 biliões de dólares (trillions na aceção anglo-saxónica) entre 2020 e 2025, apesar das atuais condições de recessão e dos modelos que apontam risco ascendente. Para captar uma parte deste crescimento e defender o seu lugar na cadeia de valor dos seguros, as incumbentes da indústria seguradora devem inovar, adverte o Insurance Revenue Landscape 2025: Innovate for Resilience, relatório de pesquisa divulgada pela Accenture, consultora global de tecnologia e estratégia.

A pesquisa analisou as mudanças em curso na economia, tendências demográficas e o cenário de alterações climáticas e o que estas realidades podem constituir de oportunidades de faturação para as seguradoras. A recomendação surge logo no título do documento: “Inovar para a resiliência”.

Só no Reino Unido, “os seguros digitais e a distribuição por canais digitais vão retirar 8,3 mil milhões de libras esterlinas à receita agregada das seguradoras que não conseguirem acompanhar o ritmo da mudança tecnológica até 2025″, segundo antecipa o estudo.

Em vez de renovarem produtos contratados junto de seguradoras tradicionais, os clientes estão cada vez mais exigentes em termos digitais, dispondo de mais coberturas de ofertas tecnológicas, tais como a solução “pay per mile” (UBI usage based insurance), que se afirma no ramo auto, e as ofertas de serviços de saúde conectados, que poderiam custar às seguradoras 3,5 mil milhões de libras esterlinas em perda de receitas, estima a pesquisa.

Desenvolvendo a potencial perda de receita por parte das seguradoras britânicas tradicionais, o estudo aponta outros 4,8 mil milhões de libras, atualmente transacionados através dos canais tradicionais e que serão capturadas por concorrentes que oferecem experiências de distribuição digital, uma vez que os clientes optam por adquirir cada vez mais seguros através de plataformas online, adianta a análise da Accenture.

Jamie Althorp, responsável pelo setor de seguros na Accenture UK e Irlanda, afirma que a resiliência tem sido uma vantagem do lado das seguradoras britânicas, mas adverte: “devem fazer mais para acompanhar a rápida evolução de hábitos dos clientes”.

Segundo projeta a consultora, a indústria de seguros do Reino Unido crescerá de 274 mil milhões, em 2020, até cerca de 298 mil milhões de libras no fim de 2025. Isto supõe uma taxa de crescimento anual composta em torno de 1,4%, ou seja, ao mesmo ritmo que outras organizações, como a IDC, preveem que o investimento direto global na transformação digital cresça em três anos.

Para o período de 5 anos projetado na análise da Accenture, a indústria global de seguros crescerá de 4,9 biliões para 6 biliões de dólares, uma taxa de crescimento anual composta de 3,5%.

O relatório aponta 4 áreas chave de inovação em torno das quais o setor de seguros não irá descolar nos próximos cinco anos e que deve aproveitar como geradoras de novas receitas:

Saúde e bem estar, produtos e serviços do ramo Vida que representam 120 mil milhões de dólares de negócio junto de consumidores seniores;

Economia colaborativa, alterações climáticas e ameaças cibernéticas representam, em conjunto, 115 mil milhões de dólares de faturação em novos produtos e coberturas;

Integração de soluções inteligentes em equipamentos e bens tradicionalmente protegidos por seguros P&C (Property & Casualty), ou seja, do ramo não Vida;

Transferência de prémios para canais de distribuição alternativos, como grandes plataformas tecnológicas, fabricantes de bens de consumo, retalhistas de venda direta e até insurtechs.

As seguradoras terão de inovar nestas áreas para ganhar vantagens competitivas no novo normal dos padrões de consumo, ao mesmo tempo que adaptam as respetivas carteiras de negócios e produtos para serem mais resilientes na mudança, sugere a pesquisa.

Com a inclinação dos consumidores para a utilização dos canais digitais e plataformas de terceiras partes, as seguradoras que resistirem à mudança perderão 5% da sua receita. Focarem-se na inovação orientada para dados (data-driven) ajudará as seguradoras a capacitarem-se para estratégias de negócio mais resilientes, explica o relatório.

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INE suspende uso da Cloudflare, mas garante que site dos Censos é seguro

O Instituto Nacional de Estatística decidiu suspender os serviços da Cloudflare perante dúvidas que surgiram sobre a segurança do site dos Censos. Mas garante que site é seguro.

Perante as dúvidas levantadas nos últimos dias, e apesar de garantir que o site do Censos 2021 é seguro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) decidiu suspender “totalmente” a subscrição dos serviços da tecnológica norte-americana Cloudflare para que “não subsistam quaisquer dúvidas no âmbito da segurança da informação”. A polémica foi criada por um post numa rede social que levou à intervenção da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) junto do INE.

“Tendo sido o INE contactado a 26 de abril pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), que suscitou dúvidas relativamente ao enquadramento jurídico da subscrição de serviços de desempenho e segurança no âmbito da operação censitária com a empresa Cloudflare, decidiu o INE suspender totalmente a subscrição destes serviços para que não subsistam quaisquer dúvidas no âmbito da segurança da informação“, escreve o gabinete de estatística num comunicado divulgado esta terça-feira à noite.

O Conselho Diretivo do INE garante que, apesar desta decisão, “a plataforma de recolha dos Censos 2021 é segura, assim como as restantes opções tecnológicas do mesmo âmbito em toda atividade do INE”, tendo estas opções sido escrutinadas por parte do Gabinete Nacional de Segurança (GMS)/Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS). “O INE mantém e afirma que a sua abordagem respeita os requisitos de segurança e constitui a melhor opção para o sucesso da operação em tempo útil, desempenho dos serviços e face às ameaças globais expectáveis“, assegura.

O Instituto Nacional de Estatística esclarece que a suspensão dos serviços da Cloudflare não vai afetar a segurança do site do Censos 2021, “continuando a ser assegurada a total proteção dos dados pessoais”. Além disso, o método de resposta por parte da população mantém-se, ainda que admita uma “diminuição da rapidez de acesso ao site de recolha dos Censos“. O inquérito é de preenchimento obrigatório e deve ser entregue no site preferencialmente até 3 de maio.

“O INE reafirma que esta opção de recolha – ou seja, a resposta pela internet – é a mais adequada, em particular face ao momento que estamos a viver de saúde pública”, argumenta o INE no comunicado, assinalando que a recolha tem tido “sucesso” até ao momento.

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Chubb tem novo responsável de linhas financeiras em Espanha e Portugal

  • ECO Seguros
  • 27 Abril 2021

Nomeação reforça subscrição de linhas financeiras de grandes contas no mercado ibérico. Nos EUA, Chubb Ltd falhou na investida para comprar a seguradora The Hartford.

Sergio Carrascal foi nomeado para assumir, na Chubb, as funções de Senior Financial Underwriter major accounts em Espanha e Portugal, anunciou a seguradora norte-americana. A nomeação tem efeitos imediatos e visa “reforçar o desenvolvimento de linhas de negócio consolidadas e importantes“, entre as quais, instituições financeiras, Responsabilidade Civil D&O (administradores e gestores), Ciberriscos e Responsabilidade Civil Profissional no segmento grandes clientes da carteira Chubb.

Carrascal vai ficar sediado em Madrid e reportar a Jesús Pérez, major accounts Segment Leader, Spain & Portugal.

“O ramo linhas financeiras é de grande importância para a Chubb e investimos durante muitos anos na construção de uma vasta gama de produtos para esta linha de negócio. Sergio traz amplitude e profundidade de conhecimento que nos ajudará a desenvolver ainda mais estes produtos e a compreender e satisfazer ainda mais eficazmente as necessidades dos nossos clientes de grandes contas”, referiu Jesús Pérez citado no comunicado da companhia.

Sergio acumula 10 anos de experiência profissional. Após ter iniciado carreira na ACE European (atualmente Chubb), passou pela QBE, também na área de subscrição em linhas financeiras, e transita agora da Berkley España.

Do outro lado do Atlântico, a Chubb divulgou um comunicado em que assume e lamenta o fracasso da recente tentativa de consolidação, por aquisição da The Hartford por montante superior a 23 mil milhões de dólares. A 23 de março, cerca de uma semana depois de acusar receção da proposta de fusão, a administração da visada anunciou rejeição da oferta não solicitada, afirmando que a abordagem (e condições) avançadas pela Chubb “não servem os melhores interesses dos seus acionistas”.

Cerca de um mês depois de rejeitada a aproximação, a Chubb Limited assume, em nota dirigida aos organismos de regulação, desapontamento com a decisão da visada, mas resigna-se.

Afirmando ter apresentado proposta justa e que a operação seria estrategicamente vantajosa para as duas companhias, a Chubb reitera que, apesar do fracasso na tentativa de aquisição, continua disciplinadamente na posição de potencial compradora.

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Alterações climáticas podem destruir 6% da economia portuguesa

  • ECO Seguros
  • 27 Abril 2021

Eventos meteorológicos extremos, causando inundações e seca, e impacto no turismo e agricultura constituem cenário de perdas a que Portugal se deve adaptar.

O Swiss Re Institute testou 48 países a cenários de stress para aferir o impacto da mudança climática em cada um. São três os cenários climáticos, com níveis de gravidade variáveis, que serviram para calcular a posição de cada uma dessas economias que, em conjunto, representam 90% do pib mundial num novo índice de resiliência às alterações climáticas com alcance temporal até meio do século.

Na Terra inteira, supondo incremento de 2°C no aquecimento global até 2048, o impacto das alterações climáticas é estimado em 11% do PIB mundial, assume o relatório. “O risco climático é um risco sistémico e só poderá ser abordado globalmente”, afirma Jérôme Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re, citado no relatório.

Portugal é quarto no New Climate Economics Index, à frente de países como, por exemplo, Canadá e Noruega, e que comparativamente apresentam risco mais elevado de exposição à subida do nível das águas do mar.

No cenário severo, principal referência do estudo que modela outros dois cenários alternativos, considerando que a temperatura suba 2%, o impacto negativo (perdas económicas) para Portugal em resultado das alterações climáticas corresponderão a 6,2% da riqueza nacional (pib). Caso o país cumpra a metas do Acordo de Paris, o impacto negativo terá sido atenuado em 4% no final do horizonte temporal.

Em função da ponderação de variáveis agregadas que concorrem para o 4º lugar da geral – impactos no produto interno bruto; risco meteorológico extremo; capacidade de adaptação -, Portugal obtém uma pontuação de 15,9 (quanto mais baixa for a pontuação menor é a gravidade da exposição à mudança climática). No ranking global Portugal é apenas precedido pela Finlândia (1º, com 11,3 de pontuação), Suíça (2º, com 11,6) e Áustria (3º, a pontuar 15,1), seguindo-se Canadá (16).

A lista das 10 melhores pontuações completa-se com Noruega (17,4), EUA (17,9), Suécia (os mesmos 17,9), Dinamarca (18,8) e Alemanha (19,4). Em cada uma das métricas do estudo, à medida que vai subindo pontuação, mais preocupante se apresenta a situação de um país (ou dos riscos físicos e económicos analisados), correspondendo também a cores que tendem mais para o encarnado na infografia do relatório.

No mapa das ameaças, a situação de Portugal é agravada pela exposição a eventos meteorológicos extremos associados a condições de humidade severa e à subida do nível do mar (fatores potencialmente causadores de cheias e galgamentos costeiros), constituindo variáveis físicas que atiram Portugal para posição 30 do índice, a mesma em que o país fica quando analisado o impacto das alterações climáticas no turismo (receitas de exportação). Logo a seguir, em termos de gravidade, surge o impacto medido sobre a produtividade agrícola.

Figurando na metade inferior do índice no que respeita aos riscos de seca e inundações, a posição de Portugal em termos da capacidade de adaptação às alterações climáticas (ações e medidas de mitigação dos riscos), necessidade realçada há poucos dias pelo ministro Matos Fernandes (Ambiente e Ação Climática) desce face ao lugar no índice geral. Na adaptação à incerteza e impacto das mudanças no clima, o ranking de risco climático do Swiss Re Institute coloca Portugal em 10º lugar entre os 48 analisados.

No mundo, se nada for feito para mitigar os riscos e considerando uma subida de 3,2°C na temperatura do planeta, a estimativa do impacto das alterações climáticas corresponderá a perder 18% do PIB global. Com aumento de 2,6°C e algumas medidas, as perdas pesariam 14% do produto global e, por fim, verificando-se 2°C de aquecimento até 2048, o impacto estimado é de 11% do PIB mundial. Este último é o cenário de referência para o alerta deixado no estudo, considerando que a trajetória de aumento da temperatura global se mantém nos próximos 30 anos e que, tanto o Acordo de Paris como o objetivo de zero emissões falhem.

Segundo explica a Agência Portuguesa do Ambiente, o Acordo de Paris (adotado em dezembro de 2015 e em vigor desde novembro de 2016) visa alcançar a descarbonização das economias mundiais e estabelece como um dos seus objetivos de longo prazo limitar o aumento da temperatura média global a níveis bem abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais e prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, reconhecendo que isso reduzirá significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas.

Antes de trabalhar para conseguir a recente aprovação da Lei do Clima da UE, o Governo aprovou, em agosto de 2019, o Programa de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas. O decreto explica os objetivos estabelecidos.

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Joana Marques Vidal favorável à criminalização do enriquecimento injustificado proposta por juízes

  • Lusa
  • 27 Abril 2021

Joana Marques Vidal alerta que “mais do que criar leis”, na área da criminalidade económica e financeira, é essencial “mais efetividade do modelo atual”.

A ex-procuradora-geral da República (PGR) Joana Marques Vidal afirmou esta terça-feira concordar totalmente com a proposta de criminalização do enriquecimento injustificado, apresentada pela associação de juízes.

Estou integralmente de acordo com a proposta do enriquecimento injustificado apresentada pela associação de juizes“, afirmou Joana Marques Vidal numa intervenção no Webinar “A eficácia e a celeridade da prevenção, da deteção e da repressão da corrupção”, organizado pela plataforma do Crescimento Sustentável.

A associação dos juízes apresentou a proposta sobre o enriquecimento injustificado o ano passado e esta está atualmente na esfera da discussão política.

Outro assunto atual é a eventual criação de tribunais especializados, tendo Joana Marques Vidal, que atualmente desempenha funções de procuradora-geral adjunta (PGA) no Tribunal Constitucional, admitido essa possibilidade não para crimes específicos, mas para a área da criminalidade económica e financeira.

Joana Marques Vidal referiu também que o Ministério Público deve “olhar com muita atenção” para a forma como está a fazer a investigação na área da criminalidade económica e financeira e que “mais do que criar leis” é essencial “mais efetividade do modelo atual” pedindo mais e melhores instrumentos disponíveis para os investigadores.

“Com as pessoas que temos poderíamos fazer melhor”, observou, defendendo uma maior especialização dos magistrados.

A única referência que Joana Marques Vidal fez ao processo Operação Marquês, em que é arguido o ex-primeiro ministro José Sócrates, foi para dizer que a acusação “demorou quatro anos e não oito anos”, lembrando que entre a acusação e o início da instrução decorreram dois anos e outros dois até à sua conclusão.

Ainda sobre os megaprocessos, a magistrada apontou como exemplo o processo BES, “que está há cerca de nove meses à espera de uma tradução”, ressalvando que, quando se fala em excesso de tempo é necessário “olhar para toda a estrutura envolvida”.

“Não se pode conceber que haja processos destes sem que, desde o início, haja uma preocupação com todas as estruturas”, frisou.

Outra das preocupações manifestadas pela magistrada em relação à investigação da corrupção e crimes conexos, cada vez mais complexos e sofisticados, é a inevitável transição digital, com a disponibilização de ferramentas mais avançadas, exemplificando com a “análise e cruzamento de informação” ou a “transcrição imediata de voz para escrita”.

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Quase mil pessoas detidas por desobediência desde início da pandemia

  • Lusa
  • 27 Abril 2021

Quase 1.000 pessoas foram detidas pela PSP e GNR desde o início da pandemia, um terço das quais por desobediência ao confinamento obrigatório, de acordo com o Ministério da Administração Interna.

Quase 1.000 pessoas foram detidas pela PSP e GNR desde o início da pandemia, em março de 2020, um terço das quais por desobediência ao confinamento obrigatório, segundo dados do Ministério da Administração Interna (MAI).

Os dados foram enviados à agência Lusa no dia em que o Presidente da República decidiu não renovar o estado de emergência, que foi inicialmente decretado em 08 de novembro de 2020 para combater a pandemia de Covid-19 e depois sucessivamente renovado por períodos de 15 dias.

Segundo o MAI, as 979 detenções por desobediência foram feitas entre 19 de março de 2020, quando entrou em vigor o primeiro período de estado de emergência, e 15 de abril deste ano, tendo ainda a PSP e a GNR, durante esse período, encerrado 3.980 estabelecimentos comerciais.

Os dados do MAI revelam também que a Guarda Nacional Republicana e a Polícia de Segurança Pública aplicaram, entre 27 de junho de 2020 e 15 de abril deste ano, 52.173 contraordenações, 46.010 (cerca de 88%) das quais desde 15 de janeiro, quando o país entrou no segundo confinamento.

Os autos estão registados desde 27 de junho do ano passado porque foi quando entrou em vigor o decreto-lei que estabelece o regime de contraordenações para fazer face à pandemia.

A maioria das contraordenações está relacionada com os incumprimentos do dever geral de recolhimento domiciliário (27.089) e limitação de circulação entre concelhos (7.751).

As forças de segurança contabilizaram também 5.121 contraordenações por consumo de álcool na rua, 3.512 por não utilização de máscara na rua e espaços públicos, 1.192 por incumprimento de horário de funcionamento e 1.297 por incumprimentos do uso obrigatório de máscara nas salas de espetáculos ou estabelecimentos públicos.

Foram ainda levantados 846 autos por incumprimento do uso obrigatório de máscara nos transportes públicos e 57 por recusa em realizar o teste SARS-CoV-2.

Desde que começou a pandemia em Portugal, em março de 2020, o estado de emergência foi renovado 15 vezes e, entre maio e início de novembro de 2020, vigorou por três vezes a situação de calamidade, por outras três a situação de contingência e por duas vezes a situação de alerta, em alguns casos apenas em algumas regiões.

Nos primeiros três períodos de estado de emergência, que corresponderam ao primeiro confinamento, entre 19 de março e 02 de maio de 2020, foram detidas 125 pessoas por desobediência ao confinamento obrigatório e encerrados 2.418 estabelecimentos.

Desde 15 de janeiro deste ano, quando começou o segundo confinamento e se registou o maior número de mortos e casos diários de Covid-19, foram detidas 266 pessoas por desobediência ao confinamento obrigatório e encerrados 563 estabelecimentos.

O atual período de estado de emergência termina na sexta-feira.

Inicialmente as medidas restritivas, como o recolher obrigatório durante a noite e ao fim de semana, limitavam-se aos concelhos que apresentavam maior risco, mas em 15 de janeiro surgiram novas regras, como o confinamento geral.

Desde o início da pandemia Portugal já contabilizou 834.991 casos confirmados de infeção com o coronavírus SARS-CoV-2 e 16.970 óbitos relacionados com a Covid-19, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

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Marcelo anuncia fim do Estado de Emergência

O Presidência da República confirmou esta terça-feira à noite que não vai propor a renovação do Estado de Emergência, após 15 renovações.

O Presidente da República falou ao país esta terça-feira à noite, depois de ouvir os partidos sobre o possível fim do estado de emergência, para anunciar que não haverá uma renovação, após 15 estados de emergência. Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro, António Costa, já tinham expressado a vontade de que este fosse o último estado de emergência.

Decidi não renovar o estado de emergência“, anunciou o Presidente da República, justificando a decisão com a redução do número de mortes, dos internados em enfermaria e cuidados intensivos, assim como a redução do Rt (indicador de contágio) e a estabilização do número de infetado (a incidência da pandemia). “Pesou também o avanço em testes e, ainda mais importante, em vacinação, que saúdo e incentivo“, afirmou.

Além disso, Marcelo notou que já decorreram várias semanas desde a reabertura das escolas ou da Páscoa, momentos de possível aumento do contágio. “Pesou ainda o que significaria como reconhecimento do consistente e disciplinado sacrifício de milhões de portugueses desde novembro e mais intensamente desde janeiro e também como sinal de esperança mobilizadora para o muito que nos espera”, acrescentou.

Apesar desta decisão, Marcelo quis deixar um alerta ao povo português: “Não estamos numa época livre de Covid, livre de vírus. Podemos infetar os nossos contactos e permitir que a doença continue a transmitir-se. Enfrentámos ademais o risco de novas variantes”, as quais podem resistir à vacina contra a Covid-19, disse, pedindo a todos uma “preocupação preventiva”. “Cada passo é baseado na confiança coletiva e temos de poder contar com cada um de nós“, sublinhou.

“O passo por mim hoje dado é baseado na confiança”, disse Marcelo, notando que “há que manter ou adotar todas as medidas consideradas indispensáveis para impedir recuos, retrocessos, regressos a um passado que não desejámos”.

O fim do estado de emergência, o qual vinha a ser renovado desde novembro do ano passado, não é irreversível: “Se necessário for, não hesitarei em avançar com um novo estado de emergência se o presente passo não deparar com a resposta baseada na confiança essencial para todos nós“, avisou.

O Presidente da República aproveitou esta curta mensagem aos portugueses para deixar um agradecimento aos cientistas, em especial aos epidemiologistas e especialistas em saúde pública. “Os mais heróis dos heróis desta pandemia”, classificou.

Marcelo Rebelo de Sousa elogiou ainda os portugueses por “um ano e dois meses de corajosa e disciplinada resistência”. “Sei que cada abertura implica mais responsabilidade e que os tempos próximos serão ainda muito exigentes. Eu acredito na vossa sensatez e solidariedade numa luta que é de todos. Nessa luta temos de poder contar com cada um de nós. Cada português conta e vai contar porque cada português sabe que é Portugal”, concluiu.

O estado de emergência terminará na próxima sexta-feira, 30 de abril, pelas 23h59.

(Notícia atualizada às 20h16 com mais informação)

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