Nas notícias lá fora: impostos, inflação e gás

  • ECO
  • 23 Junho 2022

Volkswagen vai reduzir em 24% o horário de trabalho e cortar em 12% salários dos funcionários da sua maior fábrica no Brasil. Alemanha prepara-se para ativar a fase 2 do seu plano de gás de emergência

O Presidente dos EUA, Joe Biden, propôs que o Congresso federal suspenda os impostos sobre gasolina e gasóleo durante três meses. O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, defendeu que a política monetária “prudente” que o país adotou vai prevenir uma situação de inflação elevada, como a registada nos Estados Unidos ou nos países europeus. Um reflexo é a subida dos preços das matérias-primas necessárias para a produção de veículos elétricos que duplicaram em dois anos.

The Washington Post

Biden quer Congresso e Estados a aliviar preços de gasolina e gasóleo

O Presidente dos EUA, Joe Biden, propôs que o Congresso federal suspenda os impostos sobre gasolina e gasóleo durante três meses, o que já motivou reações de dúvida da parte de congressistas. O Presidente democrata também apelou aos Estados para que suspendessem os seus próprios impostos ou providenciassem medidas de alívio similares. Biden fez ainda um ataque à indústria petrolífera, por dar prioridade aos lucros em vez da produção. A concretização da sua proposta para aliviar o fardo fiscal dos consumidores depende das ações dos congressistas federais em Washington e das várias câmaras estaduais.

Leia a notícia completa no The Washington Post (acesso livre, conteúdo em inglês)

South China Morning Post

Política monetária prudente evita inflação elevada na China

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, defendeu que a política monetária “prudente” que o país adotou vai prevenir uma situação de inflação elevada, como a registada nos Estados Unidos ou nos países europeus. Li justificou assim a recusa de Pequim em adotar políticas de flexibilização monetária em larga escala, apesar de a economia nacional, que já estava em desaceleração, ter sofrido impacto adicional, devido às restritivas medidas de prevenção epidémica, no âmbito da política de ‘zero casos’ de Covid-19. “Implementamos uma política monetária prudente e não imprimimos quantias excessivas de dinheiro nos últimos anos. Um dos motivos mais importantes foi evitar a inflação e deixar espaço para enfrentar desafios futuros”, disse. O índice de preços ao consumidor (IPC) da China registou uma subida homóloga de 1,5%, entre janeiro e maio, abaixo do limite oficial do Governo para este ano, de “cerca de 3%”.

Leia a notícia completa no South China Morning Post (acesso livre, conteúdo em inglês)

Reuters

Alemanha prestes a entrar na segunda fase do plano de gás de emergência

Face ao possível corte de fornecimento de gás russo, a Alemanha prepara-se para ativar esta quinta-feira a fase 2 do seu plano de gás de emergência. Porém, ainda não será acionada uma cláusula que permite que os serviços públicos transmitam aos clientes os custos de energia em ascensão, segundo fontes familiarizadas com o assunto. Desde o final de março, a maior economia europeia encontra-se na fase 1 do seu plano de emergência, que inclui uma monitorização mais rigorosa dos fluxos diários de gás.

Leia a notícia completa na Reuters (acesso pago, conteúdo em inglês)

Folha de S. Paulo

Volkswagen reduz salários e horário de trabalho na principal fábrica no Brasil

A Volkswagen vai reduzir em 24% o horário de trabalho e cortar em 12% os salários dos funcionários da principal fábrica da construtora automóvel alemã no Brasil a partir de julho. A medida foi acertada entre a Volkswagen e o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, devido à falta de peças para a produção de automóveis, causada pela crise mundial no abastecimento de semicondutores. A principal fábrica da Volkswagen no Brasil está localizada no município de São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, onde, segundo o sindicato, trabalham cerca de 8.200 pessoas, das quais 4.500 na área de produção, que vai ser diretamente afetada. Inicialmente, a empresa pretendia suspender um dos turnos de produção, mas, devido ao impacto, acabou por negociar a redução da jornada de trabalho.

Leia a notícia completa na Folha de S. Paulo (acesso livre)

CNBC

Custo das matérias-primas para veículos elétricos mais do que duplicou em dois anos

Os preços das matérias-primas necessárias para a produção de veículos elétricos subiram mais do dobro em dois anos, segundo um estudo da empresa norte-americana AlixPartners. Materiais como cobalto, níquel e lítio, necessários para produzir baterias elétricas, aumentaram 144% desde março de 2020. Na base do aumento, o preço médio das matérias-primas de um veículo elétrico está agora em 8.255 dólares, quando em março de 2021 era de 3.381. Só os custos de materiais específicos passaram de dois mil dólares por veículo elétrico para 4.500. O aumento dos preços destes materiais está a alargar a distância entre os custos dos veículos elétricos e os de combustão, que também estão a sofrer aumentos dos preços das matérias-primas.

Leia a notícia completa na CNBC (acesso livre, conteúdo em inglês)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Reembolsados 57,3 milhões de euros de IUC cobrado em excesso

  • ECO
  • 23 Junho 2022

Com a mudança da lei há dois anos, Estado, câmaras municipais e regiões autónomas reembolsaram mais de 57 milhões de euros de Imposto Único de Circulação cobrado em excesso.

Desde 2020, ano em que entrou em vigor a nova fórmula de cálculo do Imposto Único de Circulação (IUC), Estado, câmaras municipais e regiões autónomas já devolveram aos contribuintes, pelo menos, 57,3 milhões de euros cobrados em excesso, noticia o Público (acesso condicionado).

Só no primeiro ano de reembolsos, a Autoridade Tributária devolveu 15 milhões de euros, mas desconhece-se o valor do IUC que fica nos cofres das autarquias e das regiões autónomas, que arrecadam parte deste imposto. As câmaras ficam com o IUC cobrado aos veículos de categorias A, E, F e G e com 70% da componente de cilindrada dos veículos de categoria B (ligeiros matriculados depois de 2007). O Estado fica com os restantes 30% desta componente e mais os 100% da componente de CO2 dos veículos da categoria B. Quando os veículos taxados estão registados nas regiões autónomas, a parte do Estado fica nos cofres regionais.

Portugal foi obrigado a corrigir o código do IUC em 2019, de forma a acabar com a discriminação dos veículos em segunda mão com matrícula estrangeira anterior a 2007 e importados para Portugal depois desse ano. A alteração aconteceu depois de o Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE) ter dado razão, em 2018, a um contribuinte de Coimbra que, em 2013, importara um carro de 1966 do Reino Unido.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Lisboa em queda penalizada pelo setor energético

Cotadas do setor energético estão a penalizar o índice, com destaque para a Galp Energia que cai 2%.

A bolsa de Lisboa está novamente em terreno negativo, com praticamente todas as cotadas em queda. A penalizar o índice estão os títulos do setor energético, com destaque para a Galp Energia que perde 2%, numa altura em que o preço do petróleo está em queda.

O PSI está a recuar 0,54% para 5.889,73 pontos, acompanhando a tendência de perdas do resto da Europa, no dia em que o índice de referência do Velho Continente, Stoxx-600, cai 0,77% para 402,64 pontos.

Em Lisboa, as maiores descidas cabem ao setor energético. A Galp Energia desvaloriza 2,07% para 10,865 euros, no dia em que o preço do petróleo cai 2% nos mercados internacionais. A EDP Renováveis perde 0,64% para 21,62 euros.

Ainda nas perdas, destaque para a Altri, que desliza 1,2% para 6,17 euros, prolongando as descidas dos últimos dias. A Navigator recua 1,21% para 3,378 euros e a Sonae desvaloriza 0,81% para 1,104 euros. O BCP abriu a subir mas segue agora a cair 2,09% para 0,1769 euros.

Os CTT estão a recuar 1,6% para 3,08 euros, no dia em que a empresa dos correios revelou o plano estratégico para os próximos três anos.

No lado oposto, a impedir uma queda mais acentuada do índice, está a EDP, que soma 0,3% para 4,355 euros, a Jerónimo Martins, que avança 0,05% para 18,94 euros, e a Nos, que ganha 0,1% para 3,824 euros.

(Notícia atualizada às 9h41 com novas cotações)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Hoje nas notícias: IUC, fraude no FSE e universidades

  • ECO
  • 23 Junho 2022

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

Após a mudança da lei, já foram devolvidos mais de 57 milhões de euros de Imposto Único de Circulação (IUC) cobrado em excesso a carros importados em segunda mão. Um grupo empresarial que apresentou 113 projetos entre 2008 e 2014 no âmbito do quadro do Programa Operacional Potencial Humano (POPH) e do Pró-Emprego arrecadou 36,4 milhões de euros, 7,6 milhões dos quais foram obtidos de forma fraudulenta. Vai arrancar um gasoduto para hidrogénio verde em Sines até 2025, num investimento de 28,5 milhões de euros. Conheça as notícias em destaque na imprensa nacional esta quinta-feira.

Contribuintes já receberam 57,3 milhões de euros de IUC cobrado em excesso

Desde 2020, ano em que entrou em vigor a nova fórmula de cálculo do Imposto Único de Circulação (IUC), Estado, câmaras municipais e regiões autónomas já devolveram aos contribuintes, pelo menos, 57,3 milhões de euros cobrados em excesso. Em 2019, Portugal foi obrigado a corrigir o código do IUC de forma a acabar com a discriminação dos veículos em segunda mão com matrícula estrangeira anterior a 2007 e importados para Portugal depois desse ano.

Leia a notícia completa no Público (acesso condicionado)

 

Formação com fraude de 7,6 milhões de euros no Fundo Social Europeu

Um grupo empresarial dedicado à formação e à consultoria em tecnologias de informação apresentou, em sete anos, 113 projetos no âmbito do quadro do Programa Operacional Potencial Humano (POPH) e do Pró-Emprego, angariando mais de 36,4 milhões de euros pagos pelo Fundo Social Europeu (FSE). Porém, pelo menos 7,6 milhões foram obtidos de forma fraudulenta através do programa, que era o maior de sempre até à chegada do PRR.

Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago)

Universidades fecham portas a estudantes do ensino profissional

Pelo terceiro ano consecutivo, está a decorrer o concurso especial de acesso ao Ensino Superior para diplomados de cursos profissionais, existindo 506 cursos. No entanto, 75% desta oferta é assegurada por politécnicos, já que apenas sete instituições universitárias abriram vagas para esta via de acesso.

Leia a notícia completa no Jornal de Notícias (acesso pago)

Gasoduto para hidrogénio verde arranca em Sines até 2025

O consórcio H2 Green Valley, liderado pela REN, vai investir 28,5 milhões de euros para construir em Sines, até 2025, os primeiros dez quilómetros de um novo gasoduto que transportará hidrogénio verde. Trata-se de um dos 51 projetos escolhidos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Segundo o IAPMEI, o valor total divide-se em 20,8 milhões para investimento na parte produtiva e outros 6,9 milhões para apostar em Investigação e Desenvolvimento.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago)

Segundo ex-administrador do BPP poderá ser preso até ao final do ano

O Tribunal da Relação de Lisboa rejeitou os recursos de Paulo Guichard e de Salvador Fezas Vital no chamado caso do embaixador e manteve as penas de prisão efetiva de três anos, decididas pela primeira instância em setembro de 2021 para os dois ex-administradores do Banco Privado Português (BPP) pela prática do crime de burla qualificada. Os dois arguidos só poderão recorrer para o Tribunal Constitucional.

Leia a notícia completa no Observador (acesso pago)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

DCIAP faz 42 buscas em todo o país no âmbito do QREN

  • Lusa e ECO
  • 23 Junho 2022

Factos "em investigação são suscetíveis de consubstanciar os crimes de fraude na obtenção de subsídio e fraude fiscal qualificada” no âmbito do Quadro de Referência Estratégia Nacional (QREN).

O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) anunciou esta quarta-feira que estão a decorrer 42 buscas em vários locais do país, designadamente, em Lisboa, Porto, Braga e Aveiro, no âmbito do Quadro de Referência Estratégia Nacional (QREN).

Segundo o DCIAP, os factos “em investigação são suscetíveis de consubstanciar os crimes de fraude na obtenção de subsídio e fraude fiscal qualificada”. “Estão em causa apoios solicitados por dez sociedades que integram um grande grupo empresarial, no referido âmbito do QREN, através de, pelo menos, 113 projetos aprovados no quadro do Programa Operacional Potencial Humano (POPH) e do PRO-EMPREGO”, adianta em comunicado.

O DCIAP refere ainda que “os projetos foram executados entre os anos de 2008 e 2014 e cofinanciados pelo Fundo Social Europeu, com o valor imputado de 36.477.778,54 euros, suportados por 153.117 despesas submetidas a financiamento”. Segundo o Correio da Manhã (acesso pago), pelo menos 7,6 milhões terão sido obtidos de forma fraudulenta.

“As diligências, que decorrem em residências e em sociedades, são realizadas pela referida equipa, por sete peritos do NAT e por quatro magistrados do Ministério Público do DCIAP”, salienta.

O processo, de acordo com o DCIAP, teve origem numa participação do Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF), compreendendo projetos no âmbito do QREN. “Foram identificadas despesas de fornecedores, pessoas singulares e cedência de pessoal com indícios de fraude, a confirmar em sede de inquérito, e que ascenderam a 7.638.062,09 euros, ou seja, cerca de 21% do total das despesas submetidas a cofinanciamento”, indica.

O DCIAP lembra que o inquérito encontra-se em segredo de justiça externo. As 42 buscas acontecem no âmbito de um inquérito dirigido pelo Ministério Público do DCIAP cuja investigação se encontra a cargo de uma equipa mista constituída por inspetores e peritos da PJ e da Direção de Serviços de Investigação da Fraude e de Ações Especiais (DSIFAE), com o apoio de membros do Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) da Procuradoria-Geral da República.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Grandes marcas de calçado desportivo desviam encomendas da Ásia para Portugal

Dificuldades logísticas, subida dos custos de transporte e tendência para cadeias de abastecimento mais curtas fazem disparar procura da indústria portuguesa para a produção de calçado desportivo.

A indústria portuguesa está a ter uma “procura brutal” por parte de grandes clientes americanos, franceses, italianos, alemães ou suecos no segmento do calçado desportivo e que se tem feito sentir sobretudo na zona de Felgueiras, que está especializada neste tipo de produção, com o presidente da associação do setor (APICCAPS) a falar de uma “deslocalização nítida da China e de outros países asiáticos”.

Em declarações ao ECO, Luís Onofre sublinha que este desvio das encomendas é provocado “não só pelas circunstâncias da pandemia” de Covid-19, que estão a levar muitas marcas a optar pelo fornecimento mais próximo (nearshoring) para encurtar a cadeia de abastecimento aos mercados europeus, como pelo aumento do preço e as atuais complicações na área logística e dos transportes.

“Os custos que acarretam são enormíssimos e compensa produzir na Europa. É um segmento [casual] que está a começar a voltar. (…) Há uma procura de Portugal pela qualidade, pela rapidez da entrega, pelas circunstâncias atuais. Porque hoje em dia os prazos para as entregas têm de ser mais curtos e cada vez mais a moda é efémera. E Portugal consegue fazer tanto séries pequenas como grandes produções”, descreve o empresário.

Luís Onofre, presidente da APICCAPSRicardo Castelo

No caso da Darita, que trabalha sobretudo em regime de private label e exporta 90% dos artigos para países como os Países Baixos, a Alemanha, o Reino Unido ou a França, é precisamente essa transferência de produção dos países do Oriente para Portugal que faz com que as vendas estejam já a superar os registos anteriores à pandemia. Filipe Mora conta ao ECO que tem “casos de clientes que faziam cá 10% e 90% no outro lado, e agora estão a passar para cá 50%” devido ao acréscimo de custos nesses mercados mais longínquos.

Até porque, recorda o porta-voz desta empresa de Guimarães, onde emprega cerca de uma centena de pessoas, “o que os faz estar lá é o preço, pois a nível de qualidade gostam mais de cá”. Fundada há 31 anos, a Darita é detida pela família Fernandes – o negócio passou do fundador para os dois filhos, e a terceira geração já está a entrar –, está a desenvolver a marca própria Friendly Fire e faturou perto de cinco milhões de euros no ano passado, com calçado de homem e de senhora.

Temos casos de clientes que faziam cá 10% e 90% no outro lado [Ásia], e agora estão a passar para Portugal 50% da produção.

Filipe Mora

Porta-voz da Darita

O maior problema desta empresa familiar minhota, aliás extensível a outras indústrias, é a “falta de gente para trabalhar”. “Precisávamos de mão-de-obra qualificada, que isso não existe, para trabalhar o calçado no dia-a-dia. E quando aparecem mais encomendas, como é o caso, temos de meter mais gente. Algumas pessoas saem por idade [para a reforma] e temos de contratar novas. Essas pessoas que fomos obrigados a admitir vão aprender, mas demora o seu tempo”, desabafa Filipe Mora. A APICCAPS estima que faltam 2.500 a 3.000 trabalhadores no setor.

Filipe Mora, responsável administrativo da DaritaJoão Saramago

Da fábrica da Joseli, que fatura 15 milhões de euros e exporta 99% da produção, chega também a confirmação de que “há muitas marcas grandes, key players, que no último ano procuraram Portugal, movendo as suas produções da China, do Vietname e da Índia”. “Ou tentaram. Uns conseguiram, outros não. É um dos motivos pelo qual a maior parte das empresas está lotada e tem a capacidade produtiva preenchida a 100%, sobretudo aqui na zona de Felgueiras”, corrige João Pinto, responsável do departamento comercial da empresa criada em 2003, fundada e dirigida por José Carlos Teixeira, em declarações ao ECO.

Mas nem tudo são boas notícias. É que “ao virem para Portugal e encherem o mercado de trabalho, isso afetou os fornecedores [das fábricas] que não conseguem entregar os produtos a tempo”. O gestor calcula que, em alguns casos, os prazos de entrega triplicaram, mesmo que cerca de 80% dos materiais utilizados sejam comprados em Portugal. “Até podemos ter mais encomendas, mas só conseguimos produzi-las passados três ou quatro meses devido a estes problemas de escassez e aumentos dos preços das matérias-primas”, como solas, borrachas ou termoplásticos.

Há muitas marcas grandes que no último ano procuraram Portugal, movendo as suas produções da China, do Vietname e da Índia. (…) Encherem o mercado de trabalho e isso afetou os fornecedores, que não conseguem entregar os produtos a tempo.

João Pinto

Comercial da Joseli

João Pinto considera que esta procura pode ser “relevante para empresas que têm necessidades imediatas de preencher produções”, mas é menos interessante para quem tem a produção praticamente completa — como é o caso da Joseli, que também fabrica calçado clássico e botas, mas é mais forte nos sneakers –, uma vez que obrigaria a pôr de parte clientes com quem trabalha há muitos anos. E porque teme que esta seja uma procura “para duas ou três estações e depois, quando as coisas voltarem ao normal, esses clientes voltem para os países onde produziam anteriormente”.

Seja esporádico ou tenha vindo para ficar, este movimento teve outra consequência para a empresa felgueirense, que emprega 240 pessoas, produz 80% a 90% para private label e promove as marcas próprias Pretty Love (senhora) e Jooze (homem). Esse disparo da procura estrangeira tornou a subcontratação no país mais cara e, “para colmatar este problema e reduzir a dependência externa”, a estratégia da Joseli passou pela compra de duas empresas de costura em Felgueiras e em Guimarães, subindo assim o efetivo de 180 para 240 pessoas.

De acordo com o boletim trimestral de conjuntura editado pela APICCAPS, em parceria com o Centro de Estudos da Universidade Católica do Porto, depois de um primeiro trimestre em que foram exportados 21 milhões de pares de sapatos no valor de 493 milhões de euros (+25,2% em termos homólogos), as preocupações dos empresários estão agora “centradas no abastecimento de fatores de produção, em especial no preço e disponibilidade de matérias-primas, e na escassez de mão-de-obra para responder à forte procura”.

Volatilidade deixa fábricas de pé atrás

No caso particular do calçado desportivo, que tem vindo a ganhar adeptos e a trilhar uma tendência de crescimento, no final desta década prevê-se que esta indústria possa valer 165 mil milhões de dólares (153,6 mil milhões de euros), um aumento de 50% em relação aos 109 mil milhões de dólares (101,5 mil milhões de euros) que representava em 2020. A estimativa consta do relatório Athletic Footwear Market, elaborado pela Allied Market Research, sublinhando que esta procura por sneakers irá crescer até 2030 devido à popularização da prática desportiva e à democratização do seu uso em ambientes mais formais.

Especializada neste tipo de calçado desportivo, com uma faturação anual de 18 milhões de euros e quase 200 trabalhadores ao serviço, também a Celita conseguiu clientes novos que “estavam com alguns problemas em termos logísticos e com o custo dos transportes [da Ásia para a Europa] que disparou de forma incrível”. Em declarações ao ECO, o presidente executivo, Paulo Martins, sustenta que, na perspetiva dessas marcas, “financeiramente até pode não ser tão vantajoso quanto isso, mas numa altura difícil correm menos riscos com uma produção mais próxima e muitas delas deslocaram-se” para Portugal.

Paulo Martins, CEO da Celita

“Tínhamos espaço para mais um ou outro cliente, mas muito pouco. Não podíamos [aceitar muito mais]. Porque temos uma capacidade de produção instalada, temos a nossa clientela que temos de satisfazer primeiro e só depois os outros. Planos para expandir a produção? Neste momento não. Sempre tivemos alguma prudência nos investimentos. Este aumento da procura em Portugal pode eventualmente ser passageiro, para resolver alguns problemas de momento e, as coisas estabilizando, voltar ao normal”, resume o proprietário da exportadora de Guimarães, que detém a marca Ambitious e que, na sequência da guerra na Ucrânia, viu desaparecer o mercado russo em que estava “a “desenvolver algumas ações para começar a crescer”.

Tínhamos espaço para mais um ou outro cliente, mas muito pouco. (…) Planos para expandir a produção? Neste momento não. Sempre tivemos alguma prudência nos investimentos. Este aumento da procura em Portugal pode eventualmente ser passageiro.

Paulo Martins

CEO da Celita

A Calsuave sentiu pouco esse efeito porque quase não produz para outras marcas – a marca própria Suave chega a mais de três dezenas de países em todo o mundo –, mas sabe igualmente que vários grupos internacionais “encharcaram” a indústria portuguesa. “As marcas viraram-se para a Europa, mas isso é volátil, não é por aí que se deve ir. Encheram as fábricas de trabalho porque não têm hipótese de fazer noutro lado, mas quando tiverem hipótese, voltam para lá”, antecipa José Moura, responsável comercial da empresa vimaranense criada em 1993 e especializada em calçado de conforto.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Sindicatos dos médicos rejeitam proposta mas Governo avança com pagamento de 50 euros para horas extraordinárias

  • Lusa
  • 23 Junho 2022

Reunião entre Governo e sindicatos dos médicos terminou sem acordo, mas Executivo vai propor o pagamento de 50 euros à hora para as horas suplementares.

A reunião entre o Ministério da Saúde e os sindicatos dos médicos terminou sem acordo, mas o Governo vai avançar com o pagamento de 50 euros à hora para as horas suplementares, adiantou esta quarta-feira a ministra Marta Temido.

“O Governo apresentou uma proposta com o valor de 50 euros à hora para as horas suplementares, para além das horas que constituem o limite legal de 150 horas que são realizadas por estes profissionais de saúde. (…) Não foi entendimento dos sindicatos que esta proposta fosse uma solução suficiente”, referiu Marta Temido, em declarações aos jornalistas, após a reunião com as estruturas sindicais.

A responsável pela pasta da Saúde frisou, no entanto, que o Governo não podia deixar de “dar passos” no sentido de resolver o encerramento de urgências de ginecologia e obstetrícia de hospitais de vários pontos do país nos últimos dias, por dificuldades em assegurar escalas de médicos.

“Esta questão com que estamos a ser confrontados não é nova, mas não teve nenhuma resposta cabal até agora, de haver dois regimes de trabalho em serviços de urgência muitas vezes assegurado pelo mesmo prestador (…) mas que gera sentimento de injustiça, insegurança e intranquilidade. O Governo, apesar disso, vai fazer o normativo necessário em enquadrar esta solução que pôs em cima da mesa transitoriamente”, destacou.

A tutela pretende que este regime transitório não ultrapasse a necessidade de um ano de vigência, vincou Marta Temido, adiantando que “durante essa vigência poderá naturalmente este regime ser substituído por um regime mais favorável, que venha a ser negociado e que resulta das negociações sindicais”. Marta Temido sublinhou que os sindicatos suscitaram ao governo a necessidade de serem adotadas “medidas estruturais”.

A Ministra da Saúde explicou que essa é também a intenção do Governo e que as negociações têm um calendário de 180 dias e está prevista a primeira reunião para 13 de julho. Temido insistiu que o Governo reforçou às estruturas sindicais a necessidade de encetar esse processo negocial, tendo em vista as “modificações estruturais” que garantam a resposta aos problemas. E adiantou que o Governo apresentou três propostas para estes problemas, todas com “um enquadramento remuneratório”.

“[Foi apresentada] uma resposta estrutural que se prende com a necessidade de negociar um regime de dedicação plena, que como se sabe era um objetivo do programa do Governo (…) e é uma abordagem estrutural para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Outra resposta é o tema do trabalho realizado em contexto do serviço urgência e uma vez mais o funcionamento da rede de serviços de saúde, e outro tema as normas de organização e disciplina do trabalho médico”, apontou a ministra.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Petróleo continua em queda com investidores a avaliarem risco de recessão na economia

Presidente da Fed diz que banco central está totalmente comprometido em controlar os preços, mesmo que isso represente um risco de uma desaceleração económica.

Os preços do petróleo continuam em queda, numa altura em que os investidores temem que uma recessão na economia norte-americana diminua a procura mundial por ouro negro.

Às 7h15 de Lisboa, o preço do barril de brent, cotado em Londres e que serve de referência às importações nacionais, está a desvalorizar 1,1% para 110,51 dólares, enquanto o WTI, cotado em Nova Iorque, perde 1,3% para 104,81 dólares. Esta quarta-feira, as quedas passaram os 6%.

Os preços do petróleo nos Estados Unidos caíram abaixo dos 102 dólares por barril esta quarta-feira, o que representa uma queda de 22% nas últimas duas semanas, e encaixando na definição de um mercado em baixa — bearmarket. Apesar disso, a matéria-prima está a subir cerca de 40% este ano.

Há cada vez mais analistas e acreditarem que as tentativas da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) para conter a subida da inflação com aumentos agressivos das taxas de juros podem não produzir o objetivo pretendido, levando, na verdade, a uma recessão da economia norte-americana dentro de um ano ou um ano e meio.

Isto depois de o presidente da Fed ter dito esta quarta-feira que o banco central não está a tentar uma recessão para deter a inflação, mas está, sim, totalmente comprometido em controlar os preços, mesmo que isso represente um risco de uma desaceleração económica.

“Os mercados de petróleo permaneceram sob pressão, uma vez que os investidores continuam preocupados com o facto de os aumentos das taxas [de juro] nos Estados Unidos impedirem a recuperação da economia e diminuírem a procura por petróleo”, diz Kazuhiko Saito, analista-chefe da Fujitomi Securities, citado pela Reuters.

No meio disto tudo, Joe Biden está num braço de ferro com a indústria petrolífera dos Estados Unidos e, esta quarta-feira, pediu uma suspensão de três meses do imposto federal sobre a gasolina, de forma a combater os preços recordes. Contudo, a oposição de parlamentares do seu próprio partido acredita que o pedido poderá nunca ser atendido, diz a Reuters.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Parlamento espera concluir nova lei das telecoms até ao fim de julho

Coordenador do grupo que está a transpor diploma europeu avançou que os trabalhos no Parlamento deverão estar concluídos até ao final do mês que vem. Bruxelas pôs Portugal em tribunal por atraso.

O grupo responsável por transpor a nova lei europeia das telecomunicações espera concluir o trabalho no Parlamento até ao final de julho, disse esta quarta-feira à noite o deputado Hugo Costa, que está a coordenar os trabalhos.

A estimativa é relevante na medida em que Portugal está a ser alvo de um processo da Comissão Europeia no tribunal europeu, por ter falhado a transposição do Código Europeu das Comunicações Eletrónicas (CECE) dentro do prazo regular. A transposição deveria ter sido concluída até 20 de dezembro de 2020, mas o Governo entregou a proposta de lei já fora do prazo e os trabalhos foram interrompidos pela dissolução da Assembleia da República e convocação de eleições antecipadas.

Inserido na comissão de economia, o grupo de trabalho das comunicações eletrónicas tem estado a reunir os pareceres dos vários stakeholders, incluindo o porta-voz das operadoras, Pedro Mota Soares, secretário-geral da Apritel, que foi ouvido esta quarta-feira. Esta quinta deverá ouvir representantes da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC).

Os trabalhos decorrem assim em contrarrelógio, ainda que o país faça parte de uma lista extensa de outros Estados-membros que ainda não transpuseram o CECE. O diploma tem especial complexidade por poder representar alterações importantes na atual Lei das Comunicações Eletrónicas, o enquadramento legal das operadoras de telecomunicações e que regula coisas como as fidelizações.

Em 1 de junho, o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, disse aos deputados no Parlamento que o Governo está disponível para alterar a proposta de lei. O governante foi criticado por outros partidos por ter apresentado a mesma proposta que na legislatura anterior e, ainda assim, ter pedido celeridade aos parlamentares.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Mudar de funções ou de empresa pode aumentar até 45% o salário

Algumas mudanças de trabalho dão origem a saltos salariais até 45%. Os rendimentos das pessoas ao longo da vida não são obrigatoriamente ditados pela formação académica.

A chave para a mobilidade ascendente dos trabalhadores é a mudança frequente de funções e o desenvolvimento das suas competências ao longo da sua carreira. Cada pessoa, em média, muda de função a cada dois ou quatro anos e, apesar de nem todas as mudanças produzirem aumentos salariais, algumas resultam em salários, em média, entre 30% e 45% mais elevados. Para aumentar os rendimentos ao longo da vida, a mudança é (ainda mais) fundamental para as pessoas que começam em posições de baixa remuneração, revela o novo relatório do McKinsey Global Institute (MGI) e da prática de People & Organizational Performance da McKinsey & Company, a que a Pessoas teve acesso.

“O mercado de trabalho é cada vez mais global e o estudo, que inclui quatro milhões de inquiridos, demonstra que o peso da experiência é muito similar em todas as economias desenvolvidas estudadas, motivo pelo qual podemos aplicar as mesmas conclusões à realidade portuguesa. Portanto, também em Portugal a experiência de trabalho representa uma parcela elevada do valor do capital humano. Cabe ao tecido empresarial português garantir as condições para o desenvolvimento e acumulação de competências dos seus trabalhadores, caso contrário estes acabarão por procurar uma nova empresa para encontrar a aprendizagem e o desenvolvimento que pretendem, tal como indicam os dados globais do estudo da McKinsey”, comenta André Osório, diretor do Client Capabilities Hub da McKinsey.

As mudanças mais arrojadas são aquelas que são capazes de proporcionar um maior crescimento nos rendimentos. “Com cada mudança de função, após um primeiro emprego, isolámos a quota-parte de novas competências necessárias para esse novo cargo, de forma a determinar a ‘distância de competências’ da mudança. A distância média de competências por cada nova função é de 25% ou mais. Isto implica que muitas pessoas têm capacidades latentes e o potencial para aprenderem competências adicionais”, explica a consultora.

Estar aberto a candidatos não convencionais pode acrescentar novas dimensões a uma organização. Criar uma grande experiência para os trabalhadores pode ser um antídoto para a ‘Grande Demissão’.

André Osório

Diretor do Client Capabilities Hub da McKinsey

Pessoas com mobilidade ascendente nos Estados Unidos e na Índia fizeram mudanças com uma distância média de competências de 30% a 40%. Aqueles que se mantiveram estáveis tiveram uma média de apenas 20% a 30%. As mudanças arrojadas envolvem empregadores que contratam pessoas com competências menos comprovadas e trabalhadores que procuram oportunidades para se desenvolverem, esclarece a McKinsey & Company.

“Com 80% das mudanças de emprego envolvendo pessoas que se deslocam para novos empregadores, a mobilidade é um facto da vida. Mas não é razão para evitar investir em ajudar as pessoas a aprender e a crescer no trabalho”, salienta André Osório. “Uma vez que a deslocação de pessoas de alto desempenho é natural, a chave para os empregadores passa por tornar-se parte ativa deste fluxo. Para serem reconhecidos como empregadores de eleição, as empresas precisam de ser grandes organizações de aprendizagem, com uma formação eficaz no local de trabalho que as ajude a solidificar as suas competências.”

“Os rendimentos das pessoas ao longo da vida não são obrigatoriamente ditados pela educação”

O capital humano constitui cerca de dois terços da média de valorização da pessoa, e a experiência no trabalho contribui com metade desse valor, medido em rendimentos ao longo da vida. A experiência profissional representa cerca de metade do rendimento médio de uma pessoa, muitas vezes até mais, no caso de pessoas com menor escolaridade. Significa isto que, em Portugal, apesar de partimos de níveis de escolaridade baixos, os salários baixos não são inevitáveis.

Conclui-se, assim, que as pessoas que começam em empregos com baixos salários, sem licenciatura, tendem assim a ser mais dependentes da experiência. Este fator é responsável por 65% a 75% dos rendimentos ao longo da vida de alguém que começa como empregado de balcão nos Estados Unidos, por exemplo, em comparação com 35% para quem começa como médico.

“Os rendimentos das pessoas ao longo da vida não são obrigatoriamente ditados pela sua educação. Quem começa numa posição que podemos considerar de desvantagem, devido à falta de qualificações, pode recuperar terreno através da acumulação de competências. E aqui as empresas têm um papel importante a desempenhar para ajudar as pessoas a alcançar este objetivo”, afirma André Osório.

André Osório é o diretor do Client Capabilities Hub da McKinsey.

O tempo passado no início de carreira numa organização altamente eficiente é um fator decisivo para os trabalhadores, mas o investimento das empresas na formação não se deve limitar ao início de carreira, alerta a consultora no estudo. “Hoje em dia, as carreiras têm de ter um plano de formação contínua, uma responsabilidade que deve partir das próprias empresas. Com a valorização constante do capital humano, é possível evitar um cenário de salários baixos”, explica o responsável.

Os rendimentos das pessoas ao longo da vida não são obrigatoriamente ditados pela sua educação. Quem começa numa posição que podemos considerar de desvantagem, devido à falta de qualificações, pode recuperar terreno através da acumulação de competências. E aqui as empresas têm um papel importante a desempenhar para ajudar as pessoas a alcançar este objetivo.

André Osório

Diretor do Client Capabilities Hub da McKinsey

Outra das conclusões é que a experiência de trabalho é particularmente importante para os trabalhadores que mudam para escalões de rendimentos mais elevados ao longo da sua carreira. “Um terço dos trabalhadores na Alemanha, no Reino Unido e nos EUA, e um quarto na Índia, sobem um ou mais quintis em comparação com os seus pontos de partida”, pode ler-se.

A experiência representa, assim, 60% a 80% dos rendimentos ao longo da vida deste grupo móvel ascendente (contra 35% a 55% para aqueles cujos rendimentos se mantêm estáveis ou descem).

Estar aberto a candidatos não convencionais. O “antídoto” para a Grande Demissão

Para melhor o perfil do talento e os próprios salários, André Osório aconselha os empregadores a desafiarem o status quo na forma como preenchem as funções em aberto. “As empresas precisam de avaliar os candidatos não só tendo em conta as suas atuais responsabilidades, mas também as suas competências transferíveis, as suas capacidades intrínsecas, e o seu potencial de sucesso em novas funções. Estar aberto a candidatos não convencionais pode acrescentar novas dimensões a uma organização. Criar uma grande experiência para os trabalhadores pode ser um antídoto para a ‘Grande Demissão'”, defende o diretor do Client Capabilities Hub da McKinsey.

Outra forma de nutrir o talento é criar as condições para, além de empregadores, as empresas serem grandes organizações de aprendizagem, com uma formação eficaz no local de trabalho que ajude o talento a solidificar as suas competências.

Da parte dos profissionais, de acordo com um outro estudo da McKinsey sobre as competências do futuro do trabalho, aconselha-se um foco no desenvolvimento das suas competências digitais, visto que aumentam em mais de 40% a probabilidade de obter salários altos, pelo menos no curto prazo.

“Todas estas ações conjugadas poderão elevar o perfil salarial para o nível do perfil de talento existente”, conclui o responsável.

As empresas precisam de avaliar os candidatos não só tendo em conta as suas atuais responsabilidades, mas também as suas competências transferíveis, as suas capacidades intrínsecas, e o seu potencial de sucesso em novas funções. Estar aberto a candidatos não convencionais pode acrescentar novas dimensões a uma organização. Criar uma grande experiência para os trabalhadores pode ser um antídoto para a ‘Grande Demissão’.

André Osório

Diretor do Client Capabilities Hub da McKinsey

O relatório “Human capital at work: The value of experience” utilizou um conjunto de dados para analisar histórias de trabalho do mundo real (com base em dados longitudinais de quatro milhões de perfis profissionais completamente desidentificados da Alemanha, Índia, EUA e Reino Unido) e dezenas de milhares de ofertas de emprego, para traçar trajetórias de carreira, analisando as competências específicas necessárias em cada função e como a mudança para novos cargos afetou os rendimentos dos profissionais.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Portugal é o 9º país da União Europeia que mais recorre aos tribunais

O CSM apela a que se "desmistifique" a ideia da lentidão da Justiça. Presidente do Supremo apela a uma revisão das leis penais para evitar alguns atrasos dos tribunais.

Desde 2019 — o ano anterior à pandemia — que se registou uma diminuição de cerca de 55 mil processos parados, os tribunais portugueses passaram a ter uma taxa de resolução de cerca de 100% (os que entram são em mesmo número dos que são resolvidos) e o tempo médio de resolução é de 200 dias (menos de um ano). No total nacional, desde 2019 até 31 de maio deste ano, estão pendentes nos tribunais menos 55.782 processos, o que corresponde a uma diminuição de 16.2% das pendências (ver quadro abaixo).

Os dados são do Conselho Superior da Magistratura (CSM), e não incluem os processos dos Tribunais Administrativos e Fiscais (TAF) já que estes pertencem a outro Conselho Superior. No encontro, organizado para jornalistas, estiveram presentes Henrique Araújo, presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e do CSM e José Sousa Lameira, vice-presidente do CSM.

“A ideia da lentidão da Justiça é desmentida pelos dados apresentados”, diz José Sousa Lameira. “Não podemos avaliar o retrato da justiça portuguesa por um ou dois megaprocessos. De uma vez por todas, temos de acabar com a ideia de que a lentidão da Justiça é um entrave ao desenvolvimento económico”, concluiu.

Já o presidente do STJ, Henrique Araújo, sublinhou que o CSM “não tem nada a esconder, quer ser um órgão transparente e a prestação de contas é essencial” e concordou com José Lameiras, dizendo que “seria bom se se desmistificasse a ideia da morosidade da Justiça, muitas vezes partilhadas na opinião pública por altos representantes da nação”.

No passado dia 17 de junho, o Presidente da República afirmou que a lentidão da Justiça é um “ponto fraco” da democracia ao ser questionado sobre o facto de aquela ainda não ter concluído sobre a responsabilidade dos incêndios de Pedrógão Grande. “A Justiça tem o tempo que conhecemos em Portugal. Uma parte da matéria foi apreciada, outra parte ainda não foi apreciada e está em apreciação. Infelizmente, nós sabemos que a Justiça, em casos múltiplos, tem demorado cinco, 10, 15 anos, 20 anos. É realmente um ponto fraco da nossa democracia a lentidão da Justiça”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Os mesmos dados apresentados pelo CSM mostram ainda que Portugal é também o 9º país mais litigioso (que recorre mais aos tribunais) no total dos 27 da UE (ver quadro em baixo). No primeiro lugar da tabela está a Roménia e no último, como o menos litigioso, está a Finlândia.

No mesmo encontro, o presidente do STJ admitiu existirem, de facto, alguns atrasos na Justiça mas justificou que a culpa não é nem dos juízes, nem dos tribunais mas sim de quem tem o poder legislativo e executivo. Ou seja: Governo e Parlamento. “O excesso de garantias de defesa concedidas aos arguidos da criminalidade económico-financeira faz com que estes suspeitos consigam interpor recursos quase por tudo e por nada”. Aproveitou para defender uma revisão do Código de Processo Penal.

Segundo o CSM, em 2019 Portugal tinha conseguido atingir a terceira melhor taxa de resolução processual da União Europeia. Mas em 2020 desceu para o 15º lugar, devido à interrupção dos julgamentos durante a pandemia – o que, de acordo com a apresentação feita, não aconteceu em todos os países-membros, já que as regras de estado de emergência não foram iguais em todos os Estados-membros.

 

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Apoio ao cabaz alimentar prolongado. Saiba quem terá direito

Cerca de um milhão de famílias vai receber outra vez o apoio de 60 euros criado para fazer face aos efeitos do aumento dos preços dos bens alimentares.

Com os preços dos bens a manterem uma trajetória ascendente, como notou até o Instituto Nacional de Estatística, o Governo decidiu prolongar o apoio de 60 euros às famílias mais carenciadas, abrangendo cerca de um milhão de agregados.

Este apoio começou por se destinar apenas àqueles abrangidos pela tarifa social de eletricidade, mas acabou por ser alargado aos beneficiários de outras prestações sociais mínimas.

Foram 762.320 os agregados familiares que receberam o cheque dos 60 euros no passado dia 29 de abril, apenas concentrando os beneficiários da tarifa social. Com o alargamento, no final de maio o cheque chegou a mais 280 mil famílias, perfazendo assim cerca de um milhão de agregados familiares contemplados. O apoio concedido até agora representou uma despesa total superior a 60 milhões de euros.

Após a criação da medida, o Governo nunca se comprometeu com o seu prolongamento. No entanto, no início desta semana, António Costa já tinha sinalizado que o Governo iria anunciar “brevemente” mais medidas de apoio ao rendimento das famílias para combater os efeitos da inflação. Em maio, a inflação fixou-se nos 8%, o valor mais alto desde 1993.

No debate de ontem no Parlamento, o primeiro-ministro explicou que o Conselho de Ministros desta quinta-feira aprovará que a medida extraordinária de apoio ao cabaz alimentar vigorará por mais três meses, ou seja, com mais 60 euros a ser pagos às pessoas que beneficiam da tarifa social de eletricidade e a todos os beneficiários das prestações mínimas”.

A frase do primeiro-ministro dava a entender que o apoio seria pago durante mais três meses, mas esta manhã fonte oficial do gabinete de António Costa explicou explicou ao ECO que afinal, o apoio de 60 euros só vai ser pago durante mais um mês e não “por mais três meses” como dizia ontem o chefe do Governo.

O prolongamento do apoio será aprovado em Conselho de Ministros esta quinta-feira, altura em que será possível conhecer mais detalhes. Por agora, é já possível identificar alguns pormenores do apoio ao cabaz alimentar.

Afinal, quem tem direito a este apoio?

Além dos beneficiários da Tarifa Social de Eletricidade, o apoio vai também ser pago às famílias em que pelo menos um dos membros do agregado familiar seja beneficiário de uma prestação social mínima, ou em que uma das crianças seja titular de abono de família do 1.º ou 2.º escalão e em que o apuramento do rendimento de referência do agregado familiar corresponde a situações de pobreza extrema, de acordo com a Segurança Social.

O que são as prestações sociais mínimas?

“São consideradas prestações sociais mínimas, para o efeito, o complemento solidário para idosos; o rendimento social de inserção; pensão social de invalidez do regime especial de proteção na invalidez; complemento da prestação social para a inclusão; a pensão social de velhice e subsídio social de desemprego”, pode ler-se na página da Segurança Social.

É preciso pedir o apoio?

Não. A atribuição do apoio é automática, pelo que quem cumprir os critérios definidos nesta medida não deverá ter de fazer nenhum pedido.

Como é feito o pagamento?

O apoio é pago pela Segurança Social, por transferência bancária ou através de vale postal. A Segurança Social recomenda a atualizar os dados da conta bancária para que o pagamento possa ser feito por transferência bancária, “para maior celeridade”.

Para registar o IBAN, se ainda não o tiver feito, poderá ir à Segurança Social Direta, no menu “Perfil”, opção “Conta bancária”.

Quando vai ser pago o apoio?

Ainda não são conhecidas datas exatas para o pagamento do apoio, mas primeiro-ministro indicou que será prolongado por três meses, pelo que o cheque irá chegar uma vez por mês às famílias abrangidas.

(Atualização: Na versão inicial desta notícia, o ECO apresentava um custo previsto para esta medida de 250 milhões de euros, tendo em conta o que disse ontem o primeiro-ministro que afirmou que o apoio “vigorará por mais três meses”. Afinal, fonte do gabinete do primeiro-ministro explicou esta quinta-feira ao ECO que o apoio de 60 euros só vai ser pago durante mais um mês e não “por mais três meses” como dizia ontem o chefe do Governo. O custo da medida será assim, de apenas mais 60 milhões de euros).

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.