Draghi responde a Schäuble sobre programa de compras: “Seja paciente”
As políticas BCE também beneficiam os alemães, sublinhou Mario Draghi, e procuram uma recuperação sustentável para toda a zona euro. O presidente do banco central pediu "paciência" ao ministro alemão.
Schäuble e os alemães têm de ser “pacientes”, disse esta quinta-feira Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), na conferência de imprensa em que anunciou que as taxas de juro se manterão inalteradas. Questionado acerca das declarações recentes do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que apelara a que o BCE mudasse a sua política monetária, Draghi rejeitou que existisse intenção de o fazer e pediu paciência.
“Foram declarações muito compreensíveis”, concedeu Mario Draghi. “Mas as taxas baixas são necessárias agora para termos taxas altas no futuro. A recuperação da zona euro é do interesse de todos, incluindo da Alemanha”. E concluiu com um apelo: “Uma resposta sincera seria: sejam pacientes”.
O presidente do BCE justificou em parte a decisão de manter os juros e de não começar a reduzir o programa de compra de dívida soberana do banco central da zona euro com a vontade de que a recuperação do valor da inflação, que se pretende próximo de 2%, deve acontecer de forma aproximadamente equivalente nos vários países da zona euro. Uma recuperação o mais homogénea possível é do interesse da Alemanha como dos restantes países, afirmou, sublinhando que “à medida que a recuperação se tornar mais firme, as taxas reais vão subir”.
A recuperação conjunta da zona euro está entre as preocupações do BCE, com Mario Draghi a afirmar que o corpo governativo do banco central está atento às heterogeneidades registadas na inflação dos diferentes países. “Existem, mas podem ser geridas”, afirmou o presidente. “Temos visto, em todo o caso, que as divergências têm diminuído nos últimos dois ou três anos, e vão continuar a fazê-lo”.
A energia preocupa mas o trajeto é positivo
Outra preocupação do BCE que o faz manter as taxas de juro e o programa de compra de dívida soberana largamente inalterados desde a decisão de dezembro prende-se com os valores da inflação da energia, que justificam em grande medida o aumento da inflação headline.
“As condições para a transmissão da nossa política monetária melhoraram. Mas isto não significa que possamos descontrair. Estamos conscientes de que teremos de continuar a manter este apoio monetário extraordinário de forma a atingir o nosso objetivo. Sabemos que [o aumento da inflação] é principalmente movido pela energia e neste momento decidimos ignorá-la”, afirmou Draghi.
O desafio para os próximos meses vai ser perceber se o aumento da inflação headline, movido principalmente pela energia, se vai traduzir num aumento generalizado.
No geral, no entanto, o BCE está satisfeito com o resultado das suas medidas, que vêm refletidas nos dados da inflação, que aumentou na zona euro de 0,6% em novembro para 1,1% em dezembro de 2016, assim como na criação de mais de 4,5 milhões de empregos nos últimos anos, que atribuem em parte às suas políticas. “Será o único fator? Provavelmente não. Mas é um dos mais evidentes resultados da nossa política que, por si só, procura a estabilidade dos preços”, esclareceu Draghi.
Também houve tempo para falar de Donald Trump e do Brexit, mas em ambos os casos Mario Draghi deu o mesmo comentário: é “demasiado cedo” para falar. “Prefiro comentar medidas a declarações”, afirmou.
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