Caixa paga mais do que BCP para vender dívida no mercado
Banco público pagou um cupão superior ao que o BCP pagou para emitir dívida subordinada AT2 e o resultado surpreendeu os analistas. Isto após ter mudado o sindicato bancário face à última operação.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) pagou mais do que o BCP para emitir dívida subordinada (Tier II) e o resultado não deixou de surpreender o mercado, que esperava que a melhor capacidade de crédito do banco público se materializasse num cupão mais baixo do que veio realmente a pagar. Os investidores exigiram ao banco liderado por Paulo Macedo um cupão de 5,75% para comprar 500 milhões de euros em obrigações subordinadas a dez anos, numa operação concluída esta quinta-feira e que permitiu fechar o plano de recapitalização acordado com a Comissão Europeia.
Embora este resultado compare muito favoravelmente com o cupão de 10,75% da emissão de dívida AT1 realizada pela CGD em março de 2017 (o que é explicado, em primeira linha, pelo diferente nível de risco entre AT1 e AT2), e o próprio banco destaque as poupanças com juros que vai obter, a verdade é que o BCP conseguiu um melhor negócio em novembro passado: pagou um cupão de 4,5% para emitir títulos AT2 (iguais ao que a CGD emitiu esta semana) num montante de 300 milhões.
Analistas consultados pelo ECO não esconderam que a operação desta semana do banco público foi feita num ambiente de mercado menos propício. Ainda assim, não deixaram de manifestar alguma surpresa pelo facto de a CGD ter pago um cupão que é 1,25 pontos percentuais acima do cupão pago pelo BCP há sete meses, pois consideram que o banco do Estado goza um melhor perfil de crédito do que o BCP e, nessa medida, devia ter pago um cupão mais baixo do que aquele que veio a pagar. Não aconteceu.
Além disso, no que toca à avaliação de risco da dívida emitida através de medium term notes, as duas instituições financeiras apresentam ratings iguais (risco igual): tanto à CGD como ao BCP estão atribuídos ratings de “B3” pela agência Moody’s.
Banco muda sindicato
Para esta emissão, Paulo Macedo contou com o apoio de um sindicato bancário diferente daquele que organizou a emissão de AT1 em 2017. Algo que não é habitual tendo em conta que as duas emissões fizeram parte da mesma operação de recapitalização do banco público com recurso ao mercado — factor essencial para que a injeção de 3,9 mil milhões de euros do Estado não fosse considerada uma ajuda pública por parte da DG-Comp. Não sendo normal mudar de equipa a meio do jogo, o que se passou?
Ao que o ECO apurou, o cupão de 10,75% pago em março de 2017 foi considerado elevado face às expectativas iniciais de uma taxa de uma taxa de juro que se sabia que ia ficar acima de 9%. O resultado final gerou tal desconforto que houve necessidade de mudar de bancos para esta segunda emissão que iria fechar o capítulo da recapitalização da CGD.
Há pouco mais de um ano, Barclays, Citigroup, Deutsche Bank e CaixaBI foram as entidades responsáveis pela organização e arranjo de toda a operação de financiamento com dívida AT1, roadshow incluído.
Desta feita, apenas o CaixaBI — o banco de investimento da CGD — se manteve num sindicato que contou um apoio mais alargado com os bancos BNP Paribas, Bank of America Merrill Lynch, Credit Agricole, Credit Suisse e Unicredit.
Contactado pelo ECO sobre as mudanças, fonte oficial do banco explicou que “nestes processos de emissão de dívida, e para a seleção dos bancos, a CGD avalia a relação global com os mesmos e o seu suporte às diferentes atividades que foram desenvolvidas”.
“Sendo por natureza limitado o número de bancos a selecionar para cada operação de emissão de dívida, uma das formas de reconhecer o relacionamento global com um número alargado de bancos de investimento é promover a sua rotação neste tipo de operações“, indicou a mesma fonte. “Está foi aliás a prática desde sempre adotada na Caixa”, frisou ainda.
(Notícia atualizada às 14h33 com rating dos dois bancos)
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