CTT: Há menos correio, mas o banco está “carregado e a encher todos os dias”
Luís Pereira Coutinho equiparou o Banco CTT a "um 'pipeline' carregado e a encher todos os dias". Projeto é aposta a longo prazo dos correios, perante o tráfego postal em evidente declínio.
Banco, banco e mais banco. O setor financeiro é a nova paixão dos CTT CTT 0,00% , uma empresa histórica cujo negócio principal, a entrega de correspondência, começa agora a vacilar. É como um dominó: os portugueses estão mais tecnológicos e enviam menos cartas; o Estado, que é um dos principais clientes da empresa, também está mais tecnológico e envia menos cartas; e os CTT, que suportam toda esta cadeia, entregam, lá está, menos cartas. As contas, essas, derraparam, ainda que sem o efeito da decisão do Governo de passar a notificar os cidadãos por e-mail.
A redução do tráfego de correio acentuou-se no quarto trimestre do ano passado, facto que a empresa já tinha justificado com o impacto dos feriados nesse período. Chegou aos 4,2% no ano todo e o número acertou em cheio nas contas da firma, que lucrou bem menos do que em 2015: 62,2 milhões de euros, contra os 72,1 milhões há dois anos, uma redução de 13,7%. Para comparação, enquanto a empresa despachou 814,7 milhões de objetos de correio endereçado em 2015, no ano passado já só o fez com 780,2 milhões de objetos.
Será uma tendência para continuar? Nim. Na conferência de apresentação de resultados, Francisco de Lacerda reconheceu a “realidade” da desaceleração do setor postal, mas recordou que “um trimestre não é suficiente para avaliar as tendências” e que é preciso “alargar o período e depois extrapolar”. “Vivemos com esta tendência de 3% a 5% de queda já antes da privatização. Recentemente começou-se a sentir mais a transição [para o digital]. E há mais concorrência agora do que há dois anos, quando não havia praticamente nenhuma”, disse o presidente executivo.
Questionado sobre a existência de um plano B para lidar com a tal realidade, Lacerda disse: “Não há propriamente um plano B. Há é uma estratégia que está a ser posta em prática.” É aqui que entra o Banco CTT.
Não há propriamente um plano B [para a quebra no tráfego de correio]. Há é uma estratégia que está a ser posta em prática.”
“Um pipeline carregado e a encher todos os dias”
Lançado em 2016, o Banco CTT ainda não dá lucro. É natural: nos primeiros anos, o projeto tem custos. Custos que, segundo André Gorjão Costa, chefe máximo da divisão financeira da empresa, passam por investimentos em “campanhas publicitárias” e na abertura das lojas. “Representam sempre gastos”. No total, o Banco CTT fechou o ano com 202 balcões em todo o país.
Neste curto período de vida, “o foco do banco foi a captação de clientes, manutenção das despesas do projeto e lançamento gradual da oferta de produtos”, indicou Francisco de Lacerda. O mais recente foi o crédito à habitação, com um spread acima da média do mercado de 1,75%, como o ECO noticiou em janeiro.
“Temos tido uma adesão ao crédito habitação em linha com a que tivemos no lançamento de outros produtos. Temos tido uma enorme procura, sendo que no que toca a crédito à habitação, demora sempre mais tempo. O que temos neste momento é um pipeline bastante carregado e a encher todos os dias”, disse Luís Pereira Coutinho, responsável pelo Banco CTT. Acrescentou ainda que “a atividade que é feita nos simuladores é crescente e muito forte”: “Estamos muito entusiasmados”, rematou.
Segundo o relatório de contas dos CTT, os rendimentos operacionais gerados com o Banco CTT atingiram 961.700 euros. Soma 105 mil clientes e 74 mil contas de depósitos à ordem. Os depósitos ultrapassaram já a meta dos 250 milhões de euros.
Apresentados estes dados, André Gorjão Costa indicou: “A nossa política de dividendos não e só alcançada com o resultado do ano. O nosso balanço sólido permite-nos manter a política de dividendos a que nos tínhamos comprometido.” A empresa propôs ao board pagar 48 cêntimos de dividendo por cada título, num total de 72 milhões de euros. A ser aprovado, o valor será pago aos acionistas no próximo dia 19 de maio.
Este é o retrato de um “difícil ano de 2016” para os CTT. Para o futuro, a empresa tem o objetivo de atingir “rendimentos operacionais crescentes e sustentáveis”. Espera-se que os “negócios em crescimento”, nomeadamente o banco e o serviço de expresso e encomendas, compensem a “esperada queda nos rendimentos de correio” que o aumento de preços não pôde colmatar de forma integral.
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