Supervisão: Constâncio defende uma terceira via

  • Marta Santos Silva
  • 10 Março 2017

O Governo quer um novo regulador para a política macroprudencial. Constâncio defendeu, no ano passado, que esta deve ser definida juntamente com a monetária. Mas o modelo atual também não é o ideal.

A política macroprudencial é complementar à política monetária e deve ser decidida pelos bancos centrais. É, pelo menos, esta a opinião de Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que defendeu esse ponto de vista numa conferência em abril de 2016.

É uma perspetiva que poderá contrariar a intenção do Governo de criar um novo regulador que se ocupará não só da resolução de bancos mas também da política macroprudencial, que se prende com a resiliência do sistema financeiro. No entanto, Constâncio também poderá não ser favorável ao modelo atual em Portugal, já que o Banco de Portugal se ocupa da política macroprudencial ao mesmo tempo que da supervisão microprudencial, ou seja, das instituições individuais.

Na sua intervenção de 26 de abril sobre política macroprudencial, Vítor Constâncio afirmou que “os bancos centrais devem ter responsabilidades em ambas as áreas”, a da política monetária e a da política macroprudencial, “mesmo que não estejam envolvidos na supervisão microprudencial”. E apresenta vários motivos: a maior sensibilidade dos bancos centrais aos objetivos da estabilização macrofinanceira, a informação mais aprofundada que essas instituições detêm sobre os mercados financeiros e a economia, e o facto de a política monetária dever trabalhar numa cooperação próxima com a macroprudencial.

"A política macroprudencial é complementar à política monetária e deve partilhar do mesmo estatuto enquanto domínio político. Os bancos centrais devem ter responsabilidades em ambas as áreas políticas.”

Vítor Constâncio

Vice-presidente do BCE

Visto que Portugal pertence ao euro, a política monetária é decidida pelo BCE, onde o Governador do Banco de Portugal tem assento, mas Constâncio destaca que a política macroprudencial, por sua vez, deve ser específica a cada Estado, já que “os ciclos financeiros não estão totalmente sincronizados em cada país”. Para a política monetária e a macroprudencial estarem juntas, como o vice-presidente do BCE defende nesta intervenção, a opção portuguesa atual parece estar correta, em que o banco central, o Banco de Portugal, se ocupa da segunda e tem uma voz na primeira. O novo regulador que o Governo pretende criar, além da resolução de bancos, definiria a política macroprudencial, o que a separaria mais da política monetária.

No entanto, Vítor Constâncio também tece críticas a um modelo que junte a política macroprudencial, que procura tornar o sistema financeiro mais resiliente a choques e minimizar a probabilidade de os riscos presentes se materializarem, à supervisão microprudencial, que assegura a solidez financeira das instituições individuais, banco a banco. Para Constâncio, as duas áreas serem tratadas pela mesma instituição pode gerar um problema: “os objetivos de supervisão concentram-se em evitar o stress nos bancos individuais”, podendo ignorar o sistema financeiro como um todo.

Em Portugal, o banco central concentra em si a política monetária coordenada pelo BCE, a política macroprudencial e também a supervisão microprudencial, criando este último o conflito de interesses de que falava Vítor Constâncio em 2016. O novo regulador que o Governo pretende criar, anunciado esta quinta-feira pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, no Parlamento, passaria a ocupar-se da política macroprudencial, o que faria com que esta e a supervisão das instituições individuais deixassem de estar juntas na mesma instituição, mas afastá-la-ia da política monetária.

Qual o modelo ideal para Constâncio?

Então, qual é um bom modelo para Vítor Constâncio? “Nesta perspetiva, a estrutura institucional do Reino Unido é, na minha opinião, a mais adequada”, afirmou o vice-presidente do BCE. No Reino Unido, o banco central, o Banco de Inglaterra, controla a política monetária e também a estabilidade financeira do sistema, procurando reduzir os riscos sistémicos, enquanto uma outra entidade, a Financial Services Authority (FSA), se ocupa da supervisão do setor dos serviços financeiros, regulando não só os bancos individuais como outras instituições e empresas nesta área.

Se, em Portugal, a política monetária e a política macroprudencial permanecessem no Banco de Portugal, para serem definidas conjuntamente, então seria a supervisão microprudencial que, para se ajustar a este modelo, deveria ser controlada por uma outra instituição, independente do controlo do sistema financeiro como um todo. Por exemplo, essa supervisão poderia cair no âmbito da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Não é este o modelo que o Governo propõe, mas para já o Banco Central Europeu aguarda mais informações, sem se pronunciar diretamente. “É uma prerrogativa de Portugal organizar as suas autoridades de regulação, supervisão e resolução”, respondeu ao ECO o gabinete de imprensa do BCE. Os diferentes países europeus têm modelos diferentes de estruturação destes poderes, e um porta-voz da Comissão Europeia disse ao ECO que, embora ainda aguardem os pormenores da proposta do Executivo de António Costa, “em termos gerais, veremos de bom grado quaisquer reformas para melhorar ainda mais a eficiência das estruturas de supervisão nacionais”.

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Airbnb já vale o equivalente a três EDP

A plataforma especializada em alojamento de curta duração acaba de angariar mil milhões de dólares numa ronda de financiamento. Empresa passa a estar avaliada e 31 mil milhões de dólares.

O Airbnb acaba de concluir uma ronda de financiamento, operação onde conseguiu angariar mil milhões de dólares. Este valor eleva para 31 mil milhões de dólares a avaliação da plataforma especializada em arrendamento de curta duração, o equivalente ao valor de mercado de três EDP, que vale cerca de 10,4 mil milhões de euros.

O fecho desta operação foi confirmado à Reuters por uma fonte da empresa que não se quis identificar. O Airbnb terá angariado 447,85 milhões de dólares em novo financiamento, sendo que a empresa anunciou em setembro do ano passado que já tinha captado cerca de 555 milhões através desta mesma ronda. Os mil milhões de dólares resultam da soma destas duas quantias. A empresa recusou identificar os novos investidores que injetaram capital na Airbnb, mas a Alphabet (casa mãe do Google) terá sido um deles.

A conclusão com sucesso desta operação poderá adiar as perspetivas de uma dispersão em bolsa do capital do Airbnb, numa altura em que a plataforma de arrendamento já é a segunda maior empresa privada nos EUA, logo a seguir à Uber, segundo mostram dados da CB Insights. De salientar que o Airbnb tem sido referido como um dos principais candidatos a avançar com um IPO (oferta pública inicial, na sigla inglesa).

Os resultados empresariais alcançados são incentivadores a uma participação dos investidores numa eventual dispersão em bolsa. O Airbnb tornou-se rentável na segunda metade do ano passado, em termos de EBITDA, contrariando a tendência de muitas das empresas do setor. A empresa está em plena expansão, operando já em mais de 65 mil cidades.

O valor angariado na ronda de financiamento agora concluída terá como destino expandir a sua atividade para outras áreas de negócio, como os circuitos turísticos e o arrendamento de habitações de luxo. A China é um dos principais focos de aposta do Airbnb.

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CGD: Costa ainda não sabe o que vai ao défice

A CGD vai revelar os maiores prejuízos de sempre, penalizada pelas elevadas imparidades que terá em 2016. A forma como irão impactar no défice ainda é uma dúvida. DG Comp já deu luz verde ao programa.

Depois do Conselho Europeu, António Costa afirmou que ainda não sabe a que défice vão ser contabilizadas as imparidades reconhecidas em 2016 pela CGD. Ao todo, são em torno de 2,8 mil milhões de euros, tal como noticiou o ECO. Em declarações à SIC Notícias, o primeiro-ministro reafirmou que a decisão final é do INE e do Eurostat, apesar de — na sua opinião — o “normal” seria distribuir as imparidades pelos diferentes anos a que correspondem, o que faria com que o impacto no défice de 2016 fosse menor. A Direção-Geral da Concorrência da União Europeia já deu luz verde ao programa de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos.

“Essa é uma questão que terá primeiro de ser respondida pelo Instituto Nacional de Estatística e o Eurostat: saber a que anos vão ser imputados este esforço de recapitalização visto que o critério que vigora atualmente — como se sabe os critérios são sempre relativamente móveis — é que só conta para o défice a parte da recapitalização que serve para cobrir perdas passadas”, começa por dizer o primeiro-ministro. É na mobilidade dos critérios que António Costa aposta: o líder do Governo acredita que as imparidades vão ser diluídas por vários anos.

O reforço de capital é uma aplicação e, por isso, não conta para efeitos de défice. Ora, sendo estas imparidades distribuídas por vários anos, o critério normal deveria ser distribuir o esforço pelos diferentes anos a que correspondem as imparidades, mas pode ser que seja outro o critério fixado pelas autoridades estatísticas. Desse ponto de vista nós aguardamos”, esclarece Costa. Ou seja, a dúvida mantém-se e só será esclarecida mais tarde quando o instituto estatístico europeu se pronunciar sobre o défice português e o possível impacto desta operação.

Contudo, o primeiro-ministro está confiante de que Portugal vai sair do Procedimento por Défices Excessivos independentemente de qual for a decisão final do Eurostat. “Mas gostaria de recordar que a Comissão Europeia já no ano passado transmitiu que para efeitos de apreciação do PDE não consideraria as despesas com o reforço da situação do sistema financeira“, afirmou António Costa referindo que não tem indicação de alteração da Comissão desta parte. Segundo o ministro das Finanças, o défice de 2016 foi de 2,1%, mas a primeira estimativa só será divulgada no final deste mês pelo INE.

Costa disse ainda que o problema da Caixa resolvido hoje trata também parte do problema do crédito malparado que existe em Portugal, um dos três desequilíbrios excessivos relevantes apontados pela Comissão Europeia no último relatório que fez à situação portuguesa.

Em agosto do ano passado, o primeiro-ministro tinha garantido que a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos “não atinge défice nenhum”. Em declarações à RTP, à margem do Encontro de Líderes Socialistas Europeus, António Costa disse que, “como se sabe, quando foi tomada a decisão sobre a não aplicação de sanções [por parte da Comissão Europeia], foi dito que o défice deve ser de 2,5%” em 2016, “sem que qualquer tipo de ajuda à banca fosse contabilizado”.

Diferença do reforço de capital “não é significativa”

“Na revisão que a nova administração fez relativamente ao exercício de reconhecimento de imparidades que ainda tinha sido feito pela administração de António Domingues é ligeiramente inferior e, portanto, aquilo que foi apurado como valor final de reconhecimento de imparidades e necessidades de capital é ligeiramente inferior aquilo que tínhamos previsto anteriormente“, afirmou António Costa. Em causa está uma diferença entre o programa que já tinha sido aprovado por Bruxelas e aqueles que se verificam agora com o fecho efetivo do exercício da Caixa: as imparidades passaram de mais de três mil milhões de euros para 2,8 mil milhões de euros, o que fará diminuir a injeção de dinheiros públicos na CGD.

“A diferença não é significativa em termos relativos“, respondeu António Costa sobre o plano de recapitalização, remetendo mais esclarecimentos para a conferência de imprensa de Paulo Macedo, o presidente executivo da CGD, às 17h30. Nesta apresentação, Macedo já contará com a luz verde da DG Comp para avançar com a segunda fase da recapitalização da CGD, que passará pela injeção de dinheiros públicos mas também pela emissão de dívida de elevada subordinação que será colocada junto de investidores privados.

Offshores, Theresa May e a Declaração de Roma

António Costa recusou-se a fazer comentários sobre o pedido do PSD para chamar Mário Centeno a responder a perguntar dos deputados sobre a polémica dos offshores. Já sobre a política da União Europeia, o primeiro-ministro disse que iria falar com Theresa May em breve, dado que foi impossível, por questões de agenda, combinar um encontro durante o Conselho Europeu.

Um dos temas do encontro dos chefes de Estado da União Europeia foi a discussão sobre o que estará escrito na declaração de Roma. “O draft não foi propriamente discutido na sua redação”, afirmou Costa, referindo que, no entanto, Portugal fez três exigências para o documento:

  1. Uma clara referência à necessidade de aprofundar a União Económica e Monetária, “base essencial para novos avanços do projeto europeu”, disse Costa;
  2. Dar um maior ênfase para o tema da inovação, “fator essencial para a economia”, classificou o primeiro-ministro;
  3. Uma referência expressa quer à defesa dos direitos humanos quer à igualdade de género.

(Notícia atualizada às 13h41)

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Nova supervisão? Bruxelas e BCE esperam para ver

  • Margarida Peixoto
  • 10 Março 2017

Tanto a Comissão Europeia como o Banco Central Europeu estão expectantes em relação ao novo modelo de supervisão que o Governo português quer implementar. Mas à partida, nada contra.

Mário Centeno, ministro das Finanças, anunciou esta quinta-feira no Parlamento que o Governo quer criar uma nova entidade de supervisão.PAULA NUNES / ECO

As autoridades europeias estão à espera de mais detalhes sobre o modelo de supervisão financeira que o Governo português quer implementar. Mas nem o Banco Central Europeu, nem a Comissão Europeia levantam, à partida, objeções ao que já se conhece das intenções do ministro das Finanças, Mário Centeno.

A informação que há em Portugal sobre o novo modelo de supervisão é a que haverá em Bruxelas: pouca. “A Comissão ainda não viu os detalhes destas reformas planeadas, por isso não podemos ainda dar a nossa avaliação”, garantiu um porta-voz comunitário, ao ECO. “Mas em termos gerais, veremos de bom grado quaisquer reformas para melhorar ainda mais a eficiência das estruturas de supervisão nacionais”, acrescentou.

"A Comissão ainda não viu os detalhes destas reformas planeadas, por isso não podemos ainda dar a nossa avaliação. Mas em termos gerais, veremos de bom grado quaisquer reformas para melhorar ainda mais a eficiência das estruturas de supervisão nacionais.”

Comissão Europeia

Porta-voz da Comissão

Da parte do Banco Central Europeu, a abertura para acolher reformas também é visível. “É uma prerrogativa de Portugal organizar as suas autoridades de regulação, supervisão e resolução”, frisou o gabinete de imprensa do BCE. “Trabalhamos de perto com todas as autoridades nacionais responsáveis da zona euro”, somou ainda o organismo liderado por Mario Draghi.

"É uma prerrogativa de Portugal organizar as suas autoridades de regulação, supervisão e resolução. Trabalhamos de perto com todas as autoridades nacionais responsáveis da zona euro.”

Banco Central Europeu

Gabinete de imprensa

Em causa está o anúncio feito esta quinta-feira, pelo ministro das Finanças português, de que o Executivo está a trabalhar na criação de uma nova entidade de supervisão que será a responsável pela supervisão macroprudencial e pelos poderes de resolução bancária. Esta entidade beneficiará ainda da contribuição obrigatória e regular de informação por parte do Banco de Portugal, da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.

Na prática, esta nova entidade esvazia alguns dos poderes do Banco de Portugal e fica acima dos três reguladores.

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Offshores: PSD quer chamar Centeno ao Parlamento

O PSD considera que a grande maioria das declarações omissas ocorreu durante o mandato do atual Governo e quer chamar o ministro das Finanças ao Parlamento para se justificar.

O PSD quer chamar o ministro das Finanças ao Parlamento para se explicar a propósito da polémica dos offshores, considerando que a grande maioria das transferências omissas deveriam ter sido fiscalizadas pelo Governo do PS.

“Recebemos um documento oficial que confirma que 18 das 20 transferências só poderiam ser fiscalizadas pelo atual Governo” afirmou esta quarta-feira de manhã o deputado do PSD Leitão Amaro em declarações aos jornalistas no Parlamento, especificando que sete dessas transferências chegaram ao Fisco depois das legislativas e que quatro delas correspondem a declarações que só chegaram em 2016.

Com base nesses dados recolhidos, o PSD pretende agora chamar o ministro das Finanças a prestar declarações perante os deputados. “Depois das imprudentes declarações do primeiro-ministro, vamos chamar o ministro das Finanças“, disse Leitão Amado. Em causa estão os dez mil milhões de euros em transferências para offshores respeitantes ao período de 2012- 2014 que não foram fiscalizadas pelo Fisco.

O deputado social-democrata disse ainda que o PSD “não está e não vai tirar conclusões precipitadas” até à audição da Inspeção Geral das Finanças. “Não venho fazer insinuações sobre a causa ou a responsabilidade das transferências para offshores“, acrescentou ainda Leitão Amaro.

O PS reagiu prontamente à pretensão do PSD em chamar Mário Centeno ao Parlamento, bem como à tentativa de atribuir responsabilidades ao atual governo relativamente à fiscalização dos valores transferidos para os offshores que foram alvo de apagão. Em declarações aos jornalistas logo a seguir à declaração do PSD, o deputado Eurico Brilhante Dias afirmou que “há limites para a criação de factos alternativos que distorcem a realidade e a verdade”, considerando “não podemos aplicar na vida política portuguesa o velho adágio popular ‘com a verdade me enganas'”.

“Os 10 mil milhões de euros transferidos para offshores, foram transferidos durante o período de 2011 a 2014 integralmente, sublinho, integralmente, durante a vigência do 19º governo constitucional, o governo do PSD/CDS”, frisou Eurico Brilhante Dias. E especificou que três das declarações que dizem respeito a 2012, 2013 e 2014 totalizam 80% das transferências: a de 2012 que não foi escrutinada que foi entregue apenas em 2016, com pelo menos três anos de atraso.

“Se isto é um adequado escrutínio das transferências para offshores durante a vigência do governo PSD/CDS, nós obviamente discordamos. Querer atirar de forma pouco séria responsabilidades para o governo que hoje está em funções é uma manobra política que o partido socialista está a denunciar e que não se calará”, afirmou o deputado socialista. E acrescentou ainda que “querer confundir aquela que é uma integral responsabilidade do PSD/CDS, com responsabilidades do atual governo é querer misturar o que não é misturável”.

Eurico Brilhante Dias afirmou que as declarações têm de ser entregues até ao ano seguinte, explicando que as declarações de 2014 tinham de ser entregues até 31 de julho de 2015 e que se estas “não chegaram não foi por acaso de omissão e que o governo só tomou posse em novembro de 2015. “O PS não vai transigir deste aspeto”, acrescentou.

Já relativamente à intenção do PSD em chamar Mário Centeno a prestar esclarecimentos, o responsável do partido do governo diz que “o PS não tem por norma votar contra audições de membros do governo“.

(Notícia atualizada às 12h:49 com mais informação)

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Os grandes números dos prejuízos da CGD

A CGD fecha um ciclo... para arrancar outro, com capital para puxar pela economia. Apresenta os maiores prejuízos de sempre, após imparidades recorde. E recebe capital, mas menos que o previsto.

A Caixa Geral Depósitos (CGD) vai apresentar os piores resultados de sempre. O banco público terá prejuízos de quase dois mil milhões de euros, penalizada pelas imparidades em torno dos três mil milhões. É um resultado negativo, mas não tanto quanto o que estava previsto no plano de recapitalização, o que vai permitir ao Estado poupar alguns milhões com a injeção de capital. Conheça os números.

2,5 mil milhões… Almofada encolhe

O plano de negócios negociado em Bruxelas, e que já tinha uma aprovação condicional, apontava para um aumento de capital em dinheiro até 2,7 mil milhões de euros. Mas o valor final não deverá ser tão elevado. Tendo em conta os prejuízos inferiores ao teto máximo, o Estado deverá injetar entre 2,5 e 2,6 mil milhões de euros na CGD.

Paulo Macedo gostaria de manter o valor de injeção de capital público nos 2,7 mil milhões de euros inicialmente previsto, mas não deverá conseguir. O presidente executivo do banco público queria esse valor mais elevado porque isso significaria uma “almofada” de capital suplementar. E, ao mesmo tempo, rácios de solvabilidade mais confortáveis.

Além dos 2,5 a 2,6 mil milhões de euros de injeção de capitais públicos, com o plano formalmente aprovado pela DGComp – e pelo BCE -, estão reunidas as condições para que a CGD avance para a emissão de 500 milhões de euros de obrigações de elevada subordinação junto dos investidores privados.

Prejuízos recorde? Sim, mas…

O valor da injeção pública será menor porque os resultados negativos do banco vão ser os piores de sempre… mas não serão tão avultados quanto o que poderiam ser. No plano de recapitalização da CGD, tendo em conta a necessidade de reconhecer imparidades avultadas, o banco estatal poderia apresentar prejuízos de três mil milhões de euros.

Prejuízos recorde na CGD

Fonte: CGD

Ao que o ECO apurou, o banco liderado por Paulo Macedo vai apresentar resultados líquidos negativos de 1,9 mil milhões de euros tendo em conta que as imparidades finais não foram tão expressivas quanto o que previsto. Ainda assim, os resultados líquidos serão tão negativos quanto os prejuízos acumulados nos últimos cinco anos. O pior resultado alguma vez apresentado pelo banco público era, até agora, foi em 2013, ano em que perdeu 575 milhões de euros.

O banco estatal Já tinha registado prejuízos de 488 milhões de euros em 2011, sendo que em 2012 também apresentou um valor negativo. E nos últimos dois anos a tendência negativa manteve-se. No total, perdeu em cinco anos cerca de 1,9 mil milhões de euros, num período em que todo o setor financeiro nacional foi penalizado pelas elevadas perdas com o crédito malparado.

Imparidades aquém dos três mil milhões

Serão as imparidades que vão atirar o banco agora liderado por Paulo Macedo para o pior resultado da sua história… ainda que abaixo dos dois mil milhões de euros. No plano negociado com Bruxelas, a CGD deverá apresentar um nível de imparidades entre os 3,1 e os 3,3 mil milhões de euros, mas esse montante acabou revisto em baixa.

De acordo com a informação obtida pelo ECO, Paulo Macedo fechou o plano – cujos números assentavam nas contas de junho – e chegou a um valor no final de 2016 ligeiramente inferior, em torno dos 2,8 mil milhões de euros de imparidades, dos quais 2,4 mil milhões de crédito.

A maior “fatia” destas imparidades vai ser reconhecida no quarto trimestre do ano passado. Até ao final dos primeiros nove meses do ano passado, a CGD já tinha registado imparidades no valor de 412,1 milhões de euros.

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Novidades da Bentley… do SUV ao elétrico

A marca britânica mostrou desde modelos de requintado luxo off-road, mas também automóveis de elevado desempenho em estrada. E não faltou uma "bomba" elétrica.

A Bentley tem novidades. E esteve em Genebra, na Suíça, para desvendá-las pela primeira vez ao público. Mostrou desde modelos de requintado luxo off-road, mas também automóveis de elevado desempenho em estrada (incluindo o quatro lugares mais rápido do mundo). Entre as novidades há ainda uma “bomba” elétrica, o EXP 12 Speed 6e.

O quatro lugares mais rápido do mundo

Com uma velocidade máxima de 336 km/h e uma aceleração 0-100 km/h em 3,5 segundos, o novo Continental Supersports é o carro de quatro lugares mais rápido e mais potente do mundo. Mas se este o Supersports conquistou esse título, o Supersports Convertible é o descapotável de quatro lugares mais rápido de todos. Estão ambos equipados com um motor W12 que debita uma potência de 710 cv.

Além do coupé, a marca apresentou também o seu “irmão” soft-top – o Continental Supersports Convertible – passa a ser “o descapotável de quatro lugares mais rápido no mundo”, segundo a marca. Acelera dos 0-100 km/h em 3,9 segundos e atinge uma velocidade máxima de 330 km/h.

Carros feitos por artesões

Ao mesmo tempo que apresentou carros muito rápidos, a marca revelou ainda dois modelos especiais concebidos pela Mulliner. Por um lado, o Bentayga Mulliner com “uma parte dianteira personalizada e um interior mais luxuoso e pleno de requinte criado, como sempre, pelos artesões da marca de Crewe“, diz a marca.

Além deste, a Bentley apresentou o Mulsanne Hallmark Series by Mulliner, uma edição limitada a 50 unidades (versões Silver e Gold) e inspirada nos melhores metais preciosos e materiais de luxo utilizados pelos mais reputados joalheiros”, destaca.

No clube dos 3… 20 km/h

Outra estreia da fabricante britânica foi o Flying Spur W12 S. O que tem de especial? É, diz a marca, “o primeiro Bentley de quatro portas a ultrapassar uma velocidade máxima superior a 320 km/h, oferecendo uma experiência mais desportiva aos proprietários que pretendem um modelo mais potente, binário mais elevado e capacidade de resposta de exceção”.

E a “bomba” elétrica

Por último, o mais aguardado… o protótipo EXP 12 Speed 6e. Um automóvel com que a Bentley pretende revolucionar o segmento dos veículos elétricos de luxo. À parte dos desempenhos, a marca aposta numa rápida recarga das baterias sem fios e oferece um serviço de manutenção a bordo através da internet.

“O protótipo EXP 12 Speed 6e servirá para saber a opinião dos clientes e do público em geral com vista a definir a futura estratégia de luxo da Bentley”, diz a marca, notando que o primeiro passo na mobilidade elétrica será dado pelo Bentayga, em 2018.

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Inflação acelera para 1,6% com ajuda do ‘fat tax’

  • Marta Santos Silva
  • 10 Março 2017

A inflação continua a aumentar em Portugal, empurrada pelo aumento dos preços das bebidas não alcoólicas e produtos alimentares. Já nos setores do lazer e das comunicações os preços subiram menos.

A inflação aumentou 1,6% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano anterior, uma aceleração mais forte do que a sentida em janeiro, quando o valor se ficou em 1,3%.

O valor, divulgado esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), foi empurrado pela variação mais intensa no setor dos produtos alimentares não transformados e bebidas não alcoólicas, onde o aumento foi de 3,9%, no mês em que entrou em vigor o novo imposto sobre os refrigerantes.

O novo imposto sobre os refrigerantes, que foi alcunhado fat tax, entrou em vigor no dia 1 de fevereiro, sendo cobrado a uma taxa de entre 0,5% e 1,2%. No entanto, só passa a ser exigido que todas as bebidas afetadas por este imposto sejam vendidas com esta taxa a partir de 1 de abril, para haver dois meses em que os comerciantes podem esgotar o stock que já tivessem anteriormente.

O índice de preços ao consumidor, que é o principal indicador para medir a inflação, mede diferenças nos preços para adquirir bens e serviços. Em fevereiro, registou-se um aumento maior do que em janeiro em setores como o alimentício e o dos transportes, mas também houve algumas áreas onde a tendência foi de abrandamento ou mesmo de diminuição. A maior queda de preços foi no setor do vestuário e calçado, onde a variação foi negativa em 1,8%, devido ao pico da época de saldos em fevereiro.

Nos doze meses até fevereiro de 2017, a inflação aumentou em média 0,7%, uma taxa que é igual se não se tiverem em conta os produtos alimentares não transformados e energéticos.

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Deutsche Bank analisa fechar operação em Portugal, Espanha e Bélgica

Portugal, Espanha e Bélgica são os três mercados nos quais o Deutsche Bank está a estudar encerrar a sua actividade, avança a Reuters. Notícias surge um dia depois de se falar na venda.

O Deutsche Bank está a analisar a possibilidade de fechar atividade em Portugal, Espanha e Bélgica, revelam fontes do banco citadas pela Reuters. Esta opção enquadra-se no amplo movimento de reestruturação que o banco está a levar a cabo na sequência do anúncio de aumento de capital de oito mil milhões de euros.

A notícia é avançada esta manhã pelo jornal espanhol CincoDías (acesso livre/ conteúdo em espanhol), um dia depois de o El Confidencial ter revelado (acesso livre/ conteúdo em espanhol) que o Deutsche Bank estava a avaliar vender as suas filiais em Portugal e Espanha. O ECO tentou contactar o Deutsche Bank em Portugal mas ainda sem sucesso.

A decisão, segundo as informações avançadas pela Reuters, visa responder às inquietações dos investidores do banco alemão por falta de rentabilidade das unidades de negócio implementadas em mercados que não são considerados estratégicos como é o caso de Portugal, Espanha e Bélgica. Segundo as mesmas fontes citadas pela agência noticiosa, a presença do Deutsche Bank em Itália não está em causa.

Com o aumento de capital e a venda em bolsa de uma participação minoritária da sua gestora de ativos, que tem 719 mil milhões de euros de ativos sob gestão, o Deutsche Bank espera conseguir manter o Postbank, que lhe traz 14 milhões de clientes no seu mercado principal, a Alemanha.

A decisão final sobre o futuro da da entidade em Portugal, Espanha e Bélgica será tomada num curto espaço de tempo, tal como em novembro, quando decidiu fechar a unidade de corretagem na Polónia, recorda da Europa Press, também no âmbito do plano de reestruturação do banco, a braços com o fraco rendimento que estava a ser gerado na bolsa de valores de Varsóvia.

Recorde-se que, em Portugal, a sucursal do Deutsche Bank está, há vários meses, em processo de reestruturação. No final do ano passado estava previsto o encerramento de 15 agências, a abertura de seis centros de investimento e a saída de alguns trabalhadores, segundo avançou à Lusa, em setembro de 2016 o presidente do banco. Bernardo Meyrelles explicou que este plano de reestruturação foi pensado durante mais de um ano.

O Deutsche Bank tem cerca de 400 trabalhadores em Portugal, com 50 balcões, e, de acordo com Meyrelles, as 15 dependências que vão encerrar vão concentrar-se, sobretudo, em Lisboa e no Porto. Mas na altura não revelou o número de pessoas que podiam vir a ser afetadas.

Em Espanha, o banco tem cerca de 230 agências em todo o país, 2.500 trabalhadores e 700 mil clientes, entre os quais existe uma percentagem muito significativa de PME exportadoras — o banco tem uma quota de 6,5% deste mercado. Em 2015, o último exercício sobre o qual existe informação disponível, a filial espanhola do Deutsche Bank ganhou 91,4 milhões de euros contra os 1,8 milhões que perdeu em 2014.

O CincoDías admite a possibilidade de que a decisão relativamente a estes três mercados seja tomada antes da emissão de 687,5 milhões de novas ações que prevê realizar para aumentar o capital. Os títulos poderão começar a ser subscritos a partir de 21 de março até 6 de abril.

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Parceiros voltam ao debate: extensão de aumentos salariais será mais rápida

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 10 Março 2017

Na última reunião de concertação social, Vieira da Silva prometeu apresentar no próximo encontro uma proposta de "simplificação do processo” e de “redução dos tempos” das portarias de extensão.

O Governo quer acelerar a publicação das portarias de extensão e o tema — que gera consensos entre patrões e sindicatos — volta hoje à mesa da concertação social.

As portarias de extensão alargam a todas as empresas e trabalhadores de um setor as condições negociadas em contratação coletiva. Numa primeira fase, estas condições — que podem abranger a organização do tempo de trabalho ou o aumento dos salários mínimos praticados em cada categoria profissional — só abrangem trabalhadores e empresas filiadas nas associações que negoceiam a convenção coletiva. Só mais tarde, através de portaria de extensão, estas condições acabam por abranger todo o setor. A extensão resulta assim de um ato administrativo do Governo.

No final da última reunião de concertação social, o ministro do Trabalho disse que é possível “simplificar” os critérios tidos em conta para a publicação destas portarias e prometeu para o próximo encontro — hoje — “uma proposta de simplificação do processo” e de “redução dos tempos”.

Confederações sindicais e patronais sempre defenderam a publicação de portarias de extensão e criticaram o Executivo de Passos Coelho quando este restringiu a figura — que acabou depois por ser desbloqueada. Mas agora há uma questão que separa patrões e sindicatos: a retroatividade de cláusulas pecuniárias, que abrangem, por exemplo, os aumentos dos salários mínimos.

O que diz a resolução do Conselho de Ministros sobre o tema é que, no máximo, estas normas só podem ser retroativas ao primeiro dia do mês da publicação da portaria de extensão. Porém, estas portarias podem ser emitidas muito depois de publicada a convenção coletiva cujas normas vão ser estendidas. A UGT já disse que o hiato temporal chega a ser de dois anos. As centrais sindicais querem efeitos retroativos mas os patrões contestam essa solução se abarcar “vários meses”, conforme já indicou a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP).

Já Vieira da Silva sublinha que a aceleração da publicação de portarias pretende precisamente evitar este problema: “quanto mais curto é o período [de publicação], menos relevância tem o problema da retroatividade”, disse aos jornalistas no final da última reunião com os parceiros sociais. Mas deixou detalhes para mais tarde: a questão volta ao debate hoje.

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Portarias de extensão: conheça os argumentos a favor e contra

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 10 Março 2017

Tema volta à concertação. Parceiros defendem portarias de extensão mas troika contestava. Conheça os prós e contras pela voz do ministro Vieira da Silva e do ex- secretário de Estado Pedro Martins.

O Governo já disse que quer acelerar a publicação de portarias de extensão e o tema volta hoje à mesa da concertação social. E neste ponto, tanto patrões como sindicatos estão de acordo — todos defendem a emissão destas portarias, que têm efeitos na abrangência de aumentos salariais e de outras condições de trabalho negociadas entre patrões e sindicatos.

Mas fora da concertação social, o tópico não é assim tão consensual. A troika contestava a extensão quase automática de convenções coletivas e o Executivo de Passos Coelho começou por restringir fortemente esta figura. Em 2012, uma resolução do Conselho de Ministros veio definir um conjunto de critérios apertados que deviam ser tidos em conta para a publicação de portarias de extensão. Já em 2014, e depois de fortes críticas dos parceiros sociais, os critérios acabaram por ser significativamente alargados.

Agora, o Governo de António Costa promete uma “simplificação do processo” e a “redução dos tempos” de publicação. Isto também para reduzir a distância entre o momento em que é publicada a convenção coletiva e a portaria que estende os seus efeitos, evitando assim o problema que os parceiros levantam em torno da retroatividade dos aumentos salariais negociados.

As portarias de extensão alargam a todo o setor as condições de trabalho negociadas em contratação coletiva, ou seja, entre patrões e associações sindicais. Em causa podem estar várias matérias, nomeadamente a organização do tempo de trabalho ou os salários mínimos a praticar em cada categoria profissional. Num primeiro momento, os acordos que resultam da negociação coletiva só abrangem trabalhadores e empregadores filiados nas associações subscritoras mas depois, através das portarias de extensão, estas condições são alargadas a todo o setor.

Em que divergem as duas visões sobre os méritos desta figura? O ECO falou com o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, e com o ex-secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins.

Prós

Regras iguais para todos. As portarias de extensão têm a “vantagem de estabilização e normalização das relações laborais”, defende o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social ao ECO. E esta é uma questão que pode ser vista de dois prismas, “num plano mais imediato e noutro mais estratégico”.

No “plano imediato”, há uma dimensão de “equidade e normalidade das relações de trabalho, que faz com que pessoas que trabalham lado a lado, ou com funções relativamente similares, tenham enquadramentos normativos também similares”. No fundo, estas portarias pretendem garantir que a lei “é aplicada de forma equitativa a todos os trabalhadores”, diz Vieira da Silva.

Concorrência justa. Os patrões têm vindo a argumentar que as portarias de extensão mitigam o risco de concorrência desleal. É que, sem extensão, há empregadores que podem praticar condições abaixo das negociadas em contratação coletiva — basta que não estejam filiados nas estruturas que negoceiam os acordos. “Desleal” não será a palavra escolhida por Vieira da Silva, que no final da última reunião de concertação social falou de “concorrência menos leal”.

“São situações legais, mas em que as normas aplicáveis são distintas e portanto há utilização desse tipo de enquadramento para retirar vantagens competitivas que não são as mais relevantes do ponto de vista estratégico para as empresas e para o país”, nota agora o ministro.

Vieira da Silva retira assim das portarias de extensão uma vantagem de “dimensão económica”, que passa pela “concorrência justa”: “garantir que num fator importante para a competitividade das empresas, o terreno de jogo em que se colocam tem basicamente as mesmas regras”.

Estímulo à contratação coletiva. Se é verdade que as portarias de extensão existem porque previamente há negociação coletiva, também é verdade que “a possibilidade de extensão é um instrumento que estimula a negociação coletiva”, regista o ministro do Trabalho.

Se os empregadores negoceiam apenas para uma parte “do universo competitivo”, terão “menos disponibilidade para a negociação”, acrescenta. No fundo, é uma relação de causa-efeito: “fraca negociação coletiva provoca pouca capacidade de extensão e a escassez da extensão influencia negativamente a disponibilidade dos parceiros para negociar”.

Também os parceiros sociais já justificaram a paralisação da contratação coletiva com as restrições que existiam ao nível das portarias de extensão.

Mas para o antigo secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins, não foi a ausência de portarias de extensão — mas sim a crise — que travou a contratação coletiva. “A crise era enorme e as empresas não estavam em condições de ter níveis salariais mais elevados”, diz o professor, acrescentando que seria um “contrassenso” o Governo obrigar depois as restantes empresas “a pagar mais aos seus trabalhadores”.

Contras

Foi com Pedro Silva Martins a ocupar o cargo de secretário de Estado do Emprego, durante o Governo de Passos Coelho, que as portarias de extensão conheceram um travão. Começaram por ser bloqueadas e, no final de 2012, foram introduzidos critérios de representatividade que restringiram a sua emissão.

O antigo governante garante que vê aspetos positivos e negativos nesta figura mas recorda que Portugal atravessava um período de crise quando as limitações foram introduzidas. “Os aspetos potencialmente negativos mantêm-se” mas poderão agora ser “menos significativos”, diz.

Num estudo de julho de 2016 para o FMI, chamado “No Extension without Representation? Evidence from a Natural Experiment in Collective Bargaining”, Pedro Martins e Alexander Hijzen concluíam que estas portarias tiveram um efeito negativo no crescimento do emprego em 2010-2011, sendo as consequências adversas sentidas sobretudo por empresas que não participam diretamente na contratação coletiva.

Condições desadequadas. Para o professor do Queen Mary College, Universidade de Londres, a grande “contraindicação” das portarias de extensão é “a possibilidade daquilo que umas empresas e sindicatos decidem não ser apropriado para outras empresas e seus trabalhadores”.

Isto pode exigir adaptações às empresas: “poderão não contratar ou não investir em determinadas áreas” ou até, em casos mais extremos e menos frequentes, conduzir ao encerramento e ao desemprego, refere.

Reduzir a concorrência. Noutra perspetiva, as portarias de extensão podem ser vistas como “um mecanismo para reduzir a concorrência no setor”, vinca o antigo governante. Como? Negociando determinadas condições de trabalho, nomeadamente salariais, que acabem por prejudicar empresas fora desta órbita de negociação.

“Se empresas que são líderes no setor podem obrigar outras a prescindir daquilo que lhes dá competitividade, isso pode levar a ganhos de mercado para essas empresas que acabam por ter esse poder junto das mais pequenas”, diz. Mas isso tem acontecido efetivamente em Portugal? “Penso que ao longo dos últimos anos tem havido casos em que isso tenha acontecido, de outra forma é difícil perceber toda a atenção e destaque que muitas associações sindicais e patronais têm colocado na matéria”, responde o professor.

Vieira da Silva discorda: “Não há evidência empírica que eu conheça; obviamente que nos modelos teóricos é sempre possível encontrar relações, a solidez dessas relações é que pode ser contestada”, sublinha.

Pedro Martins nota ainda que a contratação coletiva em si deveria oferecer vantagens a ambas as partes, trabalhadores e empresas: “é difícil de compreender esta lógica de que se a empresa está fora do contrato coletivo, sem portaria de extensão vai ter vantagem concorrencial; não devia ser assim, as empresas fora deveriam sim estar em desvantagem”, argumenta.

Sindicalização. Para Pedro Silva Martins, a extensão de convenções coletivas deve estar ligada à representatividade das associações que as negoceiam. Daí os critérios introduzidos inicialmente, que só permitiam a extensão de acordos assinados por empregadores que representassem mais de metade dos trabalhadores do setor. Foi este critério restritivo que levantou forte contestação entre parceiros. Acabou depois por ser significativamente alargado.

“Em última análise, se as associações sindicais e patronais têm bons níveis de representatividade, isto é, se os trabalhadores e empresas se inscrevem nos sindicatos e nas associações patronais, então a portaria de extensão é desnecessária”. No lado sindical, a situação é mais preocupante, repara. E isto “pode desvirtuar o diálogo social”, acrescenta o professor.

“Sabendo que há uma portaria de extensão, o incentivo para se inscrever no sindicato pode ser bastante fraco”, diz Pedro Martins, apontando para declarações do líder da UGT. Em abril de 2016, Carlos Silva deu a entender que só os sindicalizados deveriam ser abrangidos pelos direitos estabelecidos na contratação coletiva, tal como avançou o Jornal de Negócios. Isto apesar de a UGT ter sempre defendido a publicação de portarias — ainda recentemente o fez em entrevista ao ECO.

Este “é um problema real, que merece reflexão”, diz, por seu turno, Vieira da Silva. Mas “a resposta a esse problema não é a inexistência da extensão, porque a dimensão dos problemas gerados pelo desequilíbrio dessa inexistência ou pela fragilidade da negociação é muito maior”, salienta. E como o ministro acredita que as portarias de extensão incentivam a contração coletiva, deixa a pergunta: “alguém acredita que restringindo as portarias, com o efeito de desincentivo à negociação, vamos ter um aumento da sindicalização e da dimensão associativa?” E responde: “tenho dúvidas, o que acontecerá é que haverá muito mais individualização das relações de trabalho” e “o campo das relações de trabalho será muito mais desigual e muito menos leal”.

Dificuldade de desvinculação. Embora a lei permita que as empresas ou trabalhadores se oponham à extensão, a “probabilidade muito reduzida de a contestação ser aceite” torna “praticamente inútil algum esforço”, diz Pedro Martins. Já o ministro do Trabalho diz que a contestação à extensão “não é muito representativa”: a crítica vem sobretudo de fora, salienta.

Por outro lado, Pedro Martins admite que não ficaria surpreendido se descobrisse que “uma percentagem significativa de empresas acaba por não cumprir o que resulta da portaria de extensão”, por desconhecimento ou porque “há uma perspetiva partilhada entre empresa e trabalhador de que a empresa atravessa dificuldades”.

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Versão do terminal do Barreiro deixa Setúbal em alerta

  • ECO
  • 10 Março 2017

Em comunicado, a Comunidade Portuária de Setúbal veio mostrar a sua preocupação quanto às alterações que vão ter lugar no Terminal de Contentores do Barreiro, após declarações de Lídia Sequeira.

As declarações mais recentes da Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, e da presidente dos portos de Lisboa, Sesimbra e Setúbal, Lídia Sequeira, estão a preocupar a Comunidade Portuária de Setúbal (CPS) que veio esta sexta-feira apresentar, em comunicado, as “legítimas preocupações e muitas reservas quanto aos objetivos do projeto” decorrentes das declarações das duas responsáveis acerca do projeto da transformação do Terminal de Contentores do Barreiro (TCB)

Uma das declarações em causa foi aquela em que, segundo a CPS, Lídia Sequeira afirmou que o projeto da transformação do TCB em versão “terminal de contentores de águas profundas” para a atual “Plataforma Multimodal do Barreiro” (TMB) teria “condições de criar uma plataforma logístico industrial para dinamizar a economia da Península de Setúbal e em particular o Barreiro (…) em concessão tipo BOT”, ou seja, a concessão da obra a um agente privado que a financia e depois fica com o direito de exploração da infraestrutura durante um longo período.

“Se estamos a falar de uma nova infraestrutura para a exclusiva movimentação de contentores, mesmo como investimento em capacidade excedentária, incluindo dragagens, quer de primeiro estabelecimento, quer as de manutenção, mas desde que assumida integralmente por capitais privados e sem prestação de garantias do Estado, nada obstará à sua prossecução”, defendeu a CPS no comunicado.

Porém, se a situação se alterar e “o conceito evoluir para um terminal tipo multiusos, possibilitando a movimentação de outras cargas adstritas ao mesmo “hinterland” que já assiste ao porto de Setúbal”, então a CPS estará “na primeira linha para “contrariar” o projeto”. A comunidade defende que Setúbal “tem já uma capacidade disponível ainda muito longe da saturação, ampliando mais ainda a sua oferta após as obras de aprofundamento da barra e canais de manobras previstas para se iniciarem ainda durante o corrente ano” e as previstas para uma segunda fase, colocando-o em paridade muito semelhante ao atual paradigma TMB.

“Com a agravante que as obras de Setúbal terão custos à volta dos 25,2 milhões de euros (metade dos quais provenientes de fundos comunitários) enquanto o projeto Barreiro aponta para valores astronómicos na ordem dos 600 milhões de euros, desconhecendo-se ainda o que poderá vir a ser gasto, e por quem, em acessibilidades, para além dos 600 mil euros, entretanto, já em curso para estudos e levantamentos da obra, por conta do Estado”, alerta ainda o comunicado.

A comunidade invoca ainda a “Estratégia para o Aumento da Competitividade Portuária”, no que respeita ao investimento estimado para o período 2016-2026, versus crescimento da carga, segundo os quais “o porto de Setúbal apenas necessita de 5,6 milhões de euros por cada milhão de toneladas de crescimento, enquanto o mesmo rácio para Lisboa é de 133,2 milhões de euros, ou seja, quase 24 vezes mais investimento para obter níveis de crescimento similares”, avisa a CPS.

A comunidade defende, desta forma, que o aumento da competitividade dos portos portugueses “deverá assentar em critérios de racionalidade e sustentabilidade no investimento, quer público, quer privado, privilegiando-se sempre a rigorosa gestão dos recursos disponíveis”. Quando os critérios assentam em outros objetivos, “defendendo aparentemente interesses de âmbito regional, ainda que legítimos”, avisam que podem pôr-se em causa os equilíbrios de todo o sistema logístico-portuário, enquanto recursos efetivamente complementares nas suas diversas valências. “Declina-se, por isso, a multiplicação de infraestruturas equivalentes, privilegiando-se definitivamente o foco na competitividade, na eficácia e nas respostas concretas às necessidades do mercado real, sem utopias ou desfasamentos de cenários com muitos “estudos encomendados” que normalmente nos arrastam para o mundo da fantasia”, termina o comunicado.

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