Políticos são os principais responsáveis pela crise da democracia, conclui estudo

  • Lusa
  • 31 Maio 2019

A crise das democracias em Portugal e na Europa está diretamente relacionada com problemas sociais como o desemprego e a maior responsabilidade é das elites políticas.

A crise das democracias em Portugal e na Europa está diretamente relacionada com problemas sociais como o desemprego e a maior responsabilidade é das elites políticas, conclui um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos a divulgar sábado.

Os níveis de desconfiança face às instituições democráticas nacionais e europeias, tal como de insatisfação com a democracia, estão diretamente associados ao aumento do desemprego, dos níveis de pobreza e das desigualdades sociais, assim como aos débeis níveis de desempenho e crescimento da economia”, conclui o estudo sobre Cultura Política e Democracia na Europa do Sul, coordenado pelo professor Tiago Fernandes, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa.

Os autores do documento, que será publicado em livro pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, concluem que “a grande recessão de 2007-2014 gerou uma grave crise social e política nas democracias da Europa do Sul” e “com o decorrente aumento das desigualdades, gerou-se nestes países uma crise democrática, visível no exponencial aumento dos protestos por parte dos cidadãos e no simultâneo decréscimo da confiança nas instituições”.

A crise da confiança em Portugal, Espanha, França, Itália e na Grécia está claramente ligada à incapacidade de os governos das democracias nacionais e da União Europeia gerarem prosperidade, emprego e segurança económica para o cidadão comum, nos últimos 30 anos. A era da globalização trouxe, assim, consequências nefastas para a relação dos cidadãos com os regimes democráticos, nesta região”, sublinham.

Outra das conclusões é a de que “a existência de partidos fortes e com fortes ligações a organizações da sociedade civil é um fator decisivo na criação de confiança”. “Sempre que os partidos políticos forem dotados de estruturas nacionais e locais fortes, a coesão legislativa for elevada, e as suas posições políticas forem claras e programáticas, mais fácil será o estabelecimento de laços duradouros entre os partidos e os cidadãos e, por conseguinte, maior será a confiança nas instituições e no processo democrático em geral”.

Mas, segundo os autores, “não é tanto a participação cidadã autónoma na sociedade civil ou partidos descentralizados e abertos que favorecem os laços de confiança entre cidadãos e democracia, mas antes a capacidade de os partidos e organizações da sociedade civil estabelecerem alianças políticas e canais de comunicação e colaboração regulares”.

O estudo indica, por outro lado, que a corrupção tem igualmente “efeitos consideráveis” na crise de confiança que afeta as democracias ocidentais. “O índice de corrupção tem um efeito causal direto na diminuição da confiança dos cidadãos e parece ter-se tornado mais prejudicial para os níveis de confiança na democracia após o advento da crise”, aponta.

Os autores alertam que “quando os atores políticos usam os benefícios dos cargos políticos que ocupam, bem como o acesso privilegiado aos recursos do Estado para fins privados, instala-se uma crise de confiança”. “Os resultados parecem demonstrar que a responsabilidade da crise das democracias cabe na maior parte dos casos às elites políticas e não às massas”, acentuam.

Por último, os investigadores concluem que “a confiança e o apoio à União Europeia estão positivamente relacionados com o contexto nacional dos países”. “Há duas dimensões de caráter nacional que determinam a confiança e o apoio à UE: a existência de instituições que permitam um debate alargado acerca de políticas públicas e a existência de elevados níveis de soberania nacional no contexto do sistema internacional. Paradoxalmente, o apoio à democracia a nível supranacional é tanto maior quanto maior for o grau de democracia a nível nacional”, sublinham.

Dividido em três secções – a confiança nas instituições políticas nacionais, como o parlamento, o governo, os partidos políticos, a justiça e os sindicatos (secção 1); a satisfação com a democracia e o interesse pela política (secção 2); e a identificação, confiança e satisfação com a União Europeia (secção 3) -, o documento destaca que as causas explicativas da cultura política e da crise da confiança nas democracias contemporâneas são, fundamentalmente, políticas.

O objetivo foi dar resposta a questões como: “Os portugueses confiam nas instituições políticas nacionais? Como se comparam com os restantes povos da Europa do Sul? A Grande Recessão (2007-2014) contribuiu para o aumento da desconfiança dos cidadãos nas suas instituições? Será que os povos da Europa do Sul estão satisfeitos com as democracias que têm? E em relação ao projeto europeu, qual a perceção e confiança dos países da Europa do Sul nas instituições europeias?”

Os autores recorreram “à maior e mais abrangente base de dados sobre regimes políticos do mundo, desenvolvida pelo projeto Varieties of Democracy (V-Dem), um dos principais centros internacionais especializados nos processos de democratização, que congrega mais de 2.000 especialistas internacionais”. E destacam que “este é provavelmente o primeiro estudo a compilar dados sobre a qualidade das democracias de cinco países da Europa do Sul – Espanha, França, Grécia, Itália e Portugal – por um período tão longo de tempo (desde os anos 1970 até ao dia de hoje).”

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Wall Street cai com tarifas aplicadas ao México pelos EUA

Os índices norte-americanos encerraram a última sessão da semana no vermelho, depois do anúncio das tarifas que Donald Trump vai aplicar ao México.

As principais bolsas norte-americanas encerraram em queda na última sessão da semana, com Donald Trump a levantar uma onda de preocupação nos mercados. As tarifas surpresa anunciadas esta quinta-feira contra o México levantaram os receios de outra possível guerra comercial e, consequentemente, de uma recessão da economia dos Estados Unidos.

O índice de referência S&P 500 caiu 1,31% para 2.752,38 pontos, acompanhado pelo industrial Dow Jones que perdeu 1,41% para 24.815,04 pontos. Pelo mesmo caminho foi o tecnológico Nasdaq que desvalorizou 1,51% para 7.453,15 pontos.

Os mercados caíram com os investidores preocupados com “novas” tensões comerciais. Esta quinta-feira, Donald Trump anunciou que vai impor, a partir de 10 de junho, “taxas alfandegárias de 5% sobre todos os bens provenientes do México”, enquanto imigrantes ilegais continuarem a atravessar a fronteira mexicana.

“As taxas alfandegárias vão aumentar progressivamente enquanto o problema da imigração clandestina não for resolvido. Nessa altura, as taxas alfandegárias serão levantadas”, referiu o presidente norte-americano.

Como seria de esperar, o México considerou esta notícia “desastrosa” e já anunciou que vai reagir. “Isto é desastroso, esta ameaça posta em prática seria muito grave (…) Se isto acontecer, devemos reagir energicamente”, declarou à imprensa o subsecretário mexicano para os Estados Unidos, Jesus Seade.

O presidente mexicano Andres Manuel Lopez Obrador respondeu a Donald Trump, apelando a um recuo: “O México provavelmente gostaria de trabalhar alguma coisa nesse sentido, mas eu creio que eles nem sequer sabem como trabalhar isso”, disse Tim Ghriskey, estrategista-chefe da Inverness Counsel, citado pela Reuters (conteúdo em inglês).

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Marcelo teme crise na direita portuguesa e defende equilíbrio de poderes

  • Lusa
  • 31 Maio 2019

Portugal tem agora "uma esquerda muito mais forte do que a direita" e "o que aconteceu à direita é muito preocupante", disse o Presidente da República.

O Presidente da República considerou esta sexta-feira que “há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos” e defendeu que, num contexto destes, o seu papel “é importante para equilibrar os poderes”.

Marcelo Rebelo de Sousa comentou os resultados das eleições europeias de domingo numa intervenção em inglês, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), em Lisboa, declarando que Portugal tem agora “uma esquerda muito mais forte do que a direita” e que “o que aconteceu à direita é muito preocupante”.

Quanto à esquerda, o chefe de Estado referiu que “o PS fortaleceu a sua posição, e quem se sabe se isso acontecerá de forma ainda mais profunda nas próximas eleições legislativas”, podendo vir a ter “diferentes possibilidades” para formar maioria, além de PCP e BE, “porque outros partidos estão a crescer” — numa alusão ao PAN.

À direita, identificou uma fragmentação, “em vez de dois partidos, quatro, cinco ou seis, embora alguns deles sejam muito pequenos”, e “crise interna nos mais importantes partidos” que estiveram coligados no anterior Governo, PSD e CDS-PP, mas entre os quais agora há “uma impossibilidade de diálogo”.

Portanto, eu diria que há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos. Isto, para ser muito realista. Isto explica por que é que o equilíbrio de forças está como está. E um bocadinho também por que é que o Presidente, pelo menos neste momento, é importante para equilibrar os poderes”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa salientou que “veio da direita” e argumentou que, “com um Governo forte de centro-esquerda e uma oposição de direita fraca, cabe ao Presidente, não equilibrar, porque não pode ser oposição a nenhum Governo, é claro, mas ser muito sensível e sentir que é preciso ter um equilíbrio no sistema político”.

Marcelo admite que equilíbrio de forças após legislativas influencie a sua recandidatura

Marcelo Rebelo de Sousa admitiu esta sexta-feira que o equilíbrio de forças entre esquerda e direita após as eleições legislativas possa influenciar o seu papel como Presidente da República e a sua decisão sobre uma recandidatura. À saída da FLAD, o chefe de Estado defendeu que “é muito importante haver um equilíbrio nos dois hemisférios da vida política portuguesa, para não haver um desequilíbrio muito para um lado, relativamente a outro”.

“Agora, só o resultado das legislativas é que permitirá dizer qual é o equilíbrio a que se chegará em outubro e, depois, qual é o papel que o Presidente terá até ao fim do mandato, e se isso influenciará ou não a decisão sobre a recandidatura”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas.

Questionado sobre o que é que entende que muda no seu papel num cenário de crescimento da esquerda face à direita, o Presidente da República respondeu que “as legislativas serão apenas em outubro” e que antes disso “é prematuro falar da evolução do sistema partidário português e também do papel do Presidente”.

Segundo o chefe de Estado, numa sessão de perguntas e respostas fechada à comunicação social, houve quem lhe perguntasse se tencionava recandidatar-se ou não. “E eu tive de explicar que é uma questão que só decidirei para o ano e que, no fundo, tem muito a ver com o papel do Presidente no quadro do equilíbrio de poderes que existe e que existirá nos futuros anos”, relatou Marcelo Rebelo de Sousa.

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SAG reduz prejuízo para um milhão de euros no primeiro trimestre

  • Lusa
  • 31 Maio 2019

A empresa viu os prejuízos caíram para um milhão de euros no primeiro trimestre, enquanto o volume de negócios caiu em 41 milhões de euros.

O Grupo SAG GEST registou um prejuízo de cerca de um milhão de euros no primeiro trimestre, valor que compara com um resultado negativo de 6,7 milhões de euros no período homólogo, foi comunicado esta sexta-feira ao mercado.

“O resultado líquido consolidado foi negativo em 1,0 milhões de euros (prejuízo 6,7 milhões no mesmo período de 2018)”, lê-se no comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Entre janeiro e março, o resultado antes de impostos, juros, amortizações e depreciações (EBITDA) do grupo automóvel foi de 2,6 milhões de euros, que compara com um prejuízo de 3,6 milhões de euros totalizado em igual trimestre do ano anterior.

No período em causa, desconsiderando o efeito do resultado corrente de operações descontinuadas, o volume de negócios da SAG GEST fixou-se em 116 milhões de euros, o que representa uma redução de 41 milhões de euros face ao verificado no trimestre homólogo. “Esta variação é resultado de uma linha de atuação assente na redução significativa de atividade em canais de negócios não rentáveis”, explicou o grupo.

Por sua vez, a dívida líquida consolidada em 31 de março era de 68,7 milhões de euros, menos cerca de 0,2 milhões de euros em relação ao totalizado em igual período de 2018.

Em 16 de maio, o Conselho de Administração do grupo SAG GEST recomendou aos acionistas, tendo em conta os interesses da sociedade e as contrapartidas oferecidas, que aceitem a oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo empresário Pereira Coutinho. “O Conselho de Administração recomenda aos senhores acionistas que aceitem a proposta de oferta que lhes é apresentada”, lê-se no comunicado enviado, na altura, à CMVM.

O relatório remetido ao mercado foi aprovado “por unanimidade” dos administradores que estiveram presentes na reunião em causa, sendo que João Pereira Coutinho, que também é o presidente do Conselho de Administração do grupo, optou por não participar na deliberação, atendendo “à sua qualidade de oferente”.

Em 30 de abril, o empresário anunciou a intenção de lançar uma OPA ao Grupo SAG GEST — Soluções Automóveis Globais, sendo a contrapartida de 0,0615 euros por ação. Segundo um comunicado divulgado na altura, o objetivo do oferente é o de “assegurar às subsidiárias da sociedade visada a continuidade da sua atividade por outra via e permitir aos acionistas venderem as suas participações na sociedade visada dado que esta deixará de operar no negócio do ramo automóvel – isto é, na principal atividade que desenvolveu desde a sua constituição”.

A intenção passa assim por “encontrar uma solução financeira para as empresas que permita garantir a continuação da atividade das subsidiárias operacionais e, mais importante, a manutenção dos mais de 650 postos de trabalho diretos”, conforme estipulado no anúncio preliminar da oferta, que não tem informações sobre qual o novo projeto para o grupo, que em Portugal comercializa as marcas Volkswagen, Audi e Škoda.

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Investimento cresceu a um nível recorde mas pode não durar

O investimento cresceu a um nível recorde, mas há indicadores que apontam para uma correção no próximo trimestre, como um abril especialmente chuvoso e a acumulação de stocks pelas empresas.

O investimento cresceu 17,8% no primeiro trimestre, a maior variação num trimestre em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior desde que há registo. Esta aceleração recorde do investimento permitiu à economia não abrandar, compensando o menor contributo da procura externa líquida e do consumo privado para a economia. Mas esta taxa recorde pode não ser sustentável.

Aumento dos inventários das empresas ajuda investimento mas não dura

Uma parte substancial do aumento do investimento deve-se à variação de existências, ou seja, ao aumento dos bens e serviços que as empresas têm nos seus inventários. O aumento dos inventários significa que as empresas têm em stock mais bens produzidos ou em fase de produção que ainda não foram vendidas, e apesar de ainda não terem sido vendidos contam como investimento.

O aumento dos inventários também ajuda a fazer crescer o PIB — segundo o BPI deu um contributo de 1,1 pontos percentuais para o crescimento de 1,8% verificado no primeiro trimestre — porque os bens produzidos são contabilizados como se fossem vendidos nesse ano.

Nas contas do primeiro trimestre, o investimento total em termos homólogos cresceu 17,8%, mas quando se retiram os inventários o investimento (a Formação Brutal de Capital Fixo) passa a ter um crescimento de “apenas” 11,7%. A diferença é de 6,1 pontos percentuais, uma parte considerável do investimento total.

Para as contas do PIB, este aumento dos inventários ajudou a compensar o abrandamento do consumo privado e público, mas estes aumentos são temporários e as empresas acabarão por escoar o seu stock de bens, o que pode levar a uma diminuição do valor total do investimento nos próximos trimestres, como diz o próprio BPI: “a variação das existências teve um forte contributo para o avanço do PIB nos primeiros três meses do ano (+1,1 pontos percentuais), o que poderá traduzir-se num desempenho mais fraco do investimento no trimestre sucessivo”.

No próximo trimestre, este crescimento histórico do investimento já poderá sofrer um reajustamento por esta via. A boa notícia para a economia portuguesa é que, segundo o INE, a confiança dos consumidores aumentou em abril e maio, com os consumidores a revelarem neste inquérito que devem aumentar a “realização de compras importantes“. Caso isto não se tenha verificado, as empresas podem começar a produzir menos, o que no limite levaria mesmo à necessidade de menos recursos, como o número de trabalhadores.

Abril, águas mil: um mau prenúncio para a Construção

Uma parte importante do aumento do investimento deve-se a um crescimento significativo da construção nos três primeiros meses do ano, 12,4% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado.

Aqui a comparação tem um impacto importante. No primeiro trimestre de 2018, a construção só tinha crescido 2,1%, por isso há um efeito base que leva a que este aumento pareça maior.

Parte da explicação para o crescimento baixo verificado no início de 2018 deve-se a um mês de março de 2018 especialmente chuvoso. Aliás, o INE fez essa nota no destaque das contas nacionais do primeiro trimestre de 2018: “Refira-se que em março se registaram elevados níveis de precipitação, o que poderá ter condicionado a atividade de construção”.

O próprio INE, questionado pelo ECO, disse que este aumento significativo “em parte, poderá estar em parte associado a um efeito base do abrandamento observado no primeiro trimestre de 2018”.

Mas além do efeito base para estas contas, é preciso ter em conta a meteorologia deste ano. Em março, o país atravessava ainda um período de seca severa, o que ajuda à construção, mas o mês de abril já foi completamente diferente. Segundo o próprio ministro do Ambiente, o mês de abril de 2019 foi um dos mais chuvosos deste século, o que afeta a construção e deverá ter impacto no nível de investimento quando saírem os números do segundo trimestre.

“Foi mais uma reunião da comissão permanente de acompanhamento da seca que ocorreu no final de um mês de abril, que foi dos mais chuvosos do século. A chuva esteve 150 % acima do normal e, por isso, a situação da seca atenuou-se bastante em Portugal ao longo deste mês”, disse o ministro do Ambiente a 8 de maio.

A construção no primeiro trimestre representou 50% da Formação Bruta de Capital Fixo (investimento, sem inventários), o que faz com que o nível de investimento seja muito sensível a variações na construção.

A síntese económica de conjuntura do INE já aponta algum pessimismo do setor após um primeiro trimestre forte. O indicador de confiança da Construção e Obras Públicas atingiu em fevereiro deste ano o valor mais alto desde março de 2002, mas tem mantido um perfil negativo desde então e voltou a diminuir em maio. “A evolução do indicador refletiu o contributo negativo de ambas as componentes, apreciações sobre a carteira de encomendas e perspetivas de emprego”.

Aviões da TAP não contam para o investimento

No início do mês, o BPI estabeleceu uma ligação entre os aviões da TAP e o crescimento da economia, mas o INE explica que os oito aviões que a TAP já recebeu este ano (espera receber 30 ao longo de 2019) não darão qualquer impulso ao PIB.

Isto acontece porque a TAP recebe estes aviões através de uma locação operacional, logo não há transferência da propriedade económica para empresa. O proprietário legal continua a ser o proprietário económico, neste caso a francesa Airbus.

O INE já tinha explicado isto mesmo na sua síntese económica de conjuntura: “refira-se que o forte crescimento das importações de outro material de transporte em março, de acordo com os dados do comércio internacional que regista o movimento físico dos bens, reflete em grande medida a entrada de equipamento em regime de locação operacional. Contudo, em Contas Nacionais, a entrada destes equipamentos não é registada como importação nem como investimento, dado que a propriedade económica pertence à entidade locatária não residente. O indicador de investimento em material de transporte, que segue as regras da contabilidade nacional, não inclui equipamentos utilizados de acordo com o regime de locação operacional”.

Ou seja, apesar de nas estatísticas das importações a entrada dos 30 novos aviões — 16 A330 Neo, quatro A321 Long Range, cinco A321 Neo e cinco A320 Neo – estar registada, para o cálculo do PIB, por ser uma locação operacional, o investimento da TAP não conta nem como importações, nem como investimento.

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Preço do gás natural vai baixar a 1 de outubro

Regulador aprovou proposta de novas tarifas e preços regulados para o gás natural que irão vigorar para o período de 1 de outubro de 2019 a 30 de setembro de 2020.

A ERSE — Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos — aprovou esta sexta-feira a descida nas tarifas transitórias do gás natural de 2,2% para clientes finais com um consumo inferior ou igual a 10 mil metros cúbicos. Além da redução destas tarifas, o regulador aprovou igualmente a proposta de baixar entre 6,8% e 26,2% as tarifas de acesso às redes.

Em relação à redução de 2,2% dos preços para clientes finais, a ERSE aponta que a mesma vai beneficiar “apenas cerca de 280 mil consumidores que permanecem no comercializador de último recurso e que representam cerca de 3% do consumo total nacional”. Os novos preços entram em vigor a 1 de outubro próximo, mantendo-se inalterados até final de setembro do próximo ano.

Além destes 280 mil consumidores, a tarifa definida para este universo é também determinante no apuramento da tarifa social para o gás natural, com os clientes com acesso a este tarifário a beneficiar “de um desconto de 31,2% sobre as tarifas transitórias de venda a clientes finais, conforme despacho do membro do Governo responsável pela área da energia”, diz a ERSE.

Já em relação às tarifas de acesso às redes, estas vão recuar entre 6,8% e 26,2%, dependendo se se trata de acesso de baixa ou alta pressão. Por tarifas de acesso à rede entende-se o pagamento por todos os consumidores da utilização das infraestruturas de redes.

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Assembleia-geral da CGD aprova entrega de 200 milhões de euros em dividendos ao Estado

  • Lusa
  • 31 Maio 2019

A assembleia-geral da Caixa Geral de Depósitos aprovou a entrega de 200 milhões de euros em dividendos ao Estado. É a primeira vez que o banco paga dividendos desde 2010.

A assembleia-geral da Caixa Geral de Depósitos (CGD) aprovou esta sexta-feira a entrega de 200 milhões de euros em dividendos ao Estado, sendo a primeira vez que o banco paga dividendos desde 2010.

Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a CGD informa que na assembleia-geral realizada esta sexta-feira foi aprovada a proposta do Conselho de Administração de aplicação do resultado do exercício de 2018 que destina 200 milhões de euros para dividendos a entregar ao Estado, o acionista único. Foi também aprovada a canalização de 67,56 milhões de euros para a reserva legal e 70,24 milhões de euros para outras reservas e resultados transitados.

No comunicado, a CGD indica ainda que a assembleia-geral aprovou também o Relatório de Gestão e Contas de 2018, incluindo o Relatório do Conselho de Administração, as Demonstrações Financeiras separadas e consolidadas e respetivos anexos, o Relatório de Governo Societário e o Relatório de Sustentabilidade.

Foi no final de abril que a CGD informou o mercado que tinha reservado 200 milhões de euros para dividendos — os primeiros desde 2010 — a entregar ao Estado, tendo já obtido “a respetiva aprovação por parte das entidades de supervisão competentes”.

A informação constava do Relatório de Gestão e Contas da CGD referente a 2018, ano em que o banco teve lucros de 496 milhões de euros, que foi divulgado no site da CMVM. O resultado de 496 milhões de euros em 2018 correspondeu ao segundo ano consecutivo de lucros da CGD, ficando bem acima dos 51,9 milhões de euros registados em 2017, e seguindo-se aos prejuízos acumulados acima de 3.800 milhões de euros entre 2011 e 2016.

Depois, a 2 de maio, na conferência de imprensa de apresentação de resultados do primeiro trimestre deste ano (126 milhões de euros de lucro), Paulo Macedo considerou que a distribuição de dividendos ao Estado “é um dos fatores” da “normalização da atividade do banco”. E Paulo Macedo referiu também, a 8 de maio, que quer que os dividendos que o banco público irá pagar este ano ao Estado sejam os primeiros de “uma longa série”.

“Terá de ser o nosso empenho [pagar dividendos], [o objetivo] é ser uma longa série e sobretudo pôr os portugueses mais exigentes com o retorno” do investimento do Estado na CGD, disse o presidente executivo do banco público, na Conferência CEO Banking Forum. Na mesma ocasião, Paulo Macedo frisou que, uma vez que a última recapitalização de quase 5.000 milhões de euros foi feita como se “de um investidor privado se tratasse”, o Estado terá de ser ressarcido.

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A tarde num minuto

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Celeste Cardona diz que Caixa começou a financiar Berardo com as “regras adequadas” para ser reembolsada

Celeste Cardona "não dúvidas" de que a CGD começou a financiar Berardo com as "regras adequadas" para reaver empréstimos. E diz que os problemas vieram com a renegociação do contrato.

Celeste Cardona, antiga administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), “não tem dúvidas” de que quando o banco começou a financiar Joe Berardo tinha estabelecido as “regras adequadas” para receber os empréstimos de volta. E sugeriu que, se hoje em dia há dificuldades em executar as garantias ao comendador, esses problemas ocorreram numa fase posterior ao seu mandado.

“Como boa mãe de família, no exercício das minhas atividades e nas atividades jurídicas da Caixa, não tenho a menor dúvida de que estavam estabelecidas as regras adequadas para resolver o cumprimento dessa dívida“, afirmou esta sexta-feira Celeste Cardona na II comissão de inquérito à recapitalização da CGD.

“O que aconteceu a esse contrato de financiamento, com as sucessivas restruturações, com o último acordo quadro com os bancos, isso não sei como dizer. Não tenho meio de saber”, acrescentou.

A 20 de abril, CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase 1.000 milhões de euros. No caso do banco público, a exposição à Fundação Berardo ascendia a 268 milhões de euros no final de 2015, segundo a auditoria da EY à CGD. No caso da Metalgest, a exposição era de 53 milhões de euros.

Celeste Cardona tinha explicado antes que no momento inicial da concessão dos créditos a Joe Berardo o banco foi confirmar as contas das duas sociedades para responder às recomendações do departamento do risco. “Foram (…) sendo procuradas soluções ao que o risco colocava. O parecer [de risco] não era desfavorável, tinha recomendações. Recordo que foi necessário confirmar contas da Metalgest e da Fundação Berardo”, contou a antiga ministra da Justiça aos deputados.

A “preocupação essencial era a de saber em que condições o património total do devedor poderia responder se houvesse incumprimento”, disse. E “tanto quanto sei, o senhor Berardo tem uma coleção de arte com valor. Tinha uma fortuna avaliada em mais de 500 milhões [de euros]. Tinha bens que vendeu em 2008 para assegurar financiamento adicional”, elencou. “O senhor Berardo era uma pessoa muito rica, segundo se dizia”, rematou.

Vara aumentou crédito a Vale do Lobo? “Foi caso único. Tinha a ver com agilidade nas decisões”

Além do tema Joe Berardo, também o projeto de Vale do Lobo ocupou grande parte da audição de Celeste Cardona. A ex-administradora da CGD diz que não sabia que tinha sido Armando Vara a apresentar o dossiê dentro do banco — fê-lo através de um dossiê preparado que enviou por e-mail ao então diretor de Empresas Sul do banco, Alexandre Santos.

Mariana Mortágua questionou se não foi Vara a defender a proposta no conselho alargado de crédito. “Isso não se fazia assim. O projeto era apresentado pelas direções”, afirmou Celeste Cardona, numa resposta que deixou a deputada do Bloco de Esquerda um pouco intrigada.

Socorrendo-se de informação interna do banco, Mariana Mortágua contou então que Armando Vara decidiu sozinho aumentar crédito de 194 milhões de euros para 200 milhões. Isto era normal, perguntou a deputada. “Não tenho conhecimento de que isso tenha sido feito mais alguma vez”, acrescentou de seguida.

Respondeu Celeste Cardona: “Nem eu, senhora deputada. Era um caso único, tanto quanto eu sei. Pelo menos nunca vi nos anos em que estive na Caixa”. Logo a seguir tentou arranjar uma explicação para o sucedido: “Creio que tinha a ver com agilidade, rapidez e facilidade das decisões”.

(Notícia atualizada às 19h08)

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Governo trava mais uma greve. Trabalhadores da Soflusa já não param

O Governo travou a greve dos trabalhadores da Soflusa, que pediam o reconhecimento das carreiras e a contratação de novos profissionais.

O Governo travou mais uma greve, desta vez dos trabalhadores da Soflusa. O acordo foi alcançado esta sexta-feira, depois de uma reunião entre o sindicato representativo dos mestres da Soflusa — Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante (STFCMM) — e o Governo. Em causa estava o reconhecimento das carreiras e contratação de novos profissionais.

As negociações correram bem e chegámos a um entendimento, também com o envolvimento do secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade”, começou por dizer Pedro Mateus, porta-voz dos mestres da Soflusa, em declarações aos jornalistas à saída da reunião.

Houve o reconhecimento da categoria profissional e um acordo para a entrada de mais profissionais de outras categorias — mestres e marinheiros. O resultado foi no sentido de desconvocar as formas de luta que estavam em cima da mesa”, explicou, referindo-se às três greves que estavam convocadas.

Além disso, houve ainda consenso no que diz respeito aos prémios dos mestres, que não recebiam um aumento há 14 anos, explicou o responsável. “Achavamos que era justo. As negociações decorriam há mais de um ano e meio”. Questionado sobre o valor desses prémios, referiu apenas que “foi aquele sobre o qual foi possível chegar a um entendimento”.

Os mestres da Soflusa tinham agendado três greves para a próxima semana — uma greve parcial de três horas por turno, outra pela contratação de novos profissionais e uma terceira às horas extraordinárias, que se deve prolongar até final do ano, devido à “falta de profissionais”. Pedro Mateus referiu que com este acordo, “garantidamente, amanhã, as coisas vão normalizar”.

(Notícia atualizada às 18h37 com mais informação)

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Orçamento começou com cativações de 85 milhões na ferrovia e barcos

Depois de 2018 ter sido marcado por falhas na prestação do serviço público de transportes, a gestão flexível do OE 2019 voltou a condicionar a despesa em transportes públicos ao aval das Finanças.

O Orçamento do Estado para 2019 arrancou com uma cativação na despesa de 85 milhões de euros na ferrovia e nos transportes marítimos e fluviais. Até março, estes programas orçamentais que pertencem aos ministérios de Pedro Nuno Santos e José Pedro Matos Fernandes, que dividem a tutela dos transportes públicos, mantinham as verbas praticamente intactas.

Segundo dados da Direção-Geral do Orçamento (DGO), no OE 2019 estão previstas cativações de despesa na ferrovia de 53,2 milhões de euros no Ministério das Infraestruturas a que se somam cativos de 21,3 milhões de euros nos transportes ferroviários tutelados pelo Ministério do Ambiente. No primeiro caso encontra-se a CP, por exemplo, enquanto que no segundo estão incluídos os comboios suburbanos de Lisboa. O OE prevê ainda cativações de 10,4 milhões de euros nas despesas com o programa orçamental dos transportes marítimos e fluviais gerido pelo Ministério do Ambiente, onde estão incluídas a Soflusa e a Transtejo.

Estas cativações correspondem a 13% do total de cativações com que o Orçamento do Estado arrancou. Até março, mantinham-se congelados 81 milhões de euros.

O valor é inferior ao que foi cativado no arranque da execução do Orçamento do Estado do ano passado. Na altura, Centeno fez depender da sua autorização 115,2 milhões de euros de despesa em transportes públicos — o que correspondeu a 18% do total de despesa congelada. A cativação na ferrovia foi reforçada em maio com a entrada em vigor de mais regras de disciplina orçamental, mas no final do ano a verba que tinha sido congelada foi praticamente toda usada.

Governo a duas vozes no investimento nos transportes públicos

Esta opção na gestão do Orçamento do Estado — que ainda pode ser agravada com a publicação do decreto-lei de execução orçamental — acontece numa altura em que se somam as queixas dos utentes nos transportes públicos e num cenário em que o Governo espera um aumento da procura por transportes públicos em resultado da redução dos preços dos passes em abril. E depois de em 2018 haver relatos de problemas nos serviços públicos de transportes.

Estas falhas levaram já António Costa a indicar que os serviços públicos são uma das bandeiras na elaboração do programa eleitoral para as legislativas de 6 de outubro. E esta sexta-feira, o ministro das Infraestruturas pediu desculpas aos utentes dos transportes públicos, anunciou que está a preparar um plano para a CP, para melhorar o material circulante, e refere que está a envolver o Ministério da Economia neste objetivo, nunca se referindo à tutela financeira.

Mas das Finanças, a mensagem que tem chegado é outra. Agarrado aos números, Mário Centeno fala em taxas de crescimento do investimento nas empresas de transportes públicos, mas também em investimento “sem paralelo”. O ministro das Finanças esteve no Parlamento a 15 de maio e foi confrontado pela deputada do Bloco de Esquerda com supressões de comboios suburbanos na linha de Sintra e barcos parados na ligação entre Lisboa a margem sul do Tejo.

“Vamos ao setor dos transportes e informação financeira, que é aquela que eu lhe posso dar”, começou por dizer o ministro das Finanças, para logo de seguida avançar com dados sobre a evolução do investimento na legislatura.

Entre 2015 e 2018, o investimento cresceu 20% no Metro do Porto, 39% no Metro de Lisboa, 337% na Infraestruturas de Portugal, adiantou o ministro. Na Soflusa e na Transtejo, as taxas de crescimento são “na ordem das dezenas de milhar”, disse, acrescentando que estavam programados 18 milhões de investimento num programa de manutenção de frotas de navios e que em 2018 foram executados 9 milhões de euros. Na CP, o ministro diz que houve um crescimento do investimento de 155% na legislatura.

Quanto a contratações de pessoal, o ministro das Finanças destaca que a EMEF — a empresa de manutenção do material circulante (as composições e locomotivas dos comboios) — já contratou 102 trabalhadores e para a Soflusa foi dada autorização de contratação de quatro trabalhadores em dezembro passado. Mário Centeno explicou ainda que na Soflusa estavam seis trabalhadores de baixa e que só no final de abril chegou à mesa das Finanças um pedido para resolver esta questão.

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Investigação identifica erros e falhas na manutenção da OGMA no avião da Air Astana

  • Lusa
  • 31 Maio 2019

A Embraer vai rever até setembro deste ano as instruções de manutenção dos modelos 170/190, na sequência da investigação ao acidente com o avião da Air Astana.

Uma investigação identificou erros e falhas na manutenção do avião da Air Astana que em novembro do ano passado aterrou de emergência em Beja, após descolar de Alverca com os cabos de comandos dos ailerons, direito e esquerdo, trocados.

“Durante a fase inicial de recolha de dados da investigação, foram examinados em detalhe os controlos de voo da aeronave, tendo sido confirmada a incorreta instalação do sistema de cabos de comando dos ailerons [controlam os movimentos de rolagem da aeronave com a atuação dos dois comandos de controlo, ou através do piloto automático], em ambas as semi-asas”, refere uma nota informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a Lusa teve acesso.

O Embraer 190-100 descolou às 13h31 de 11 de novembro da base militar de Alverca do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, distrito de Lisboa, depois de realizar trabalhos de manutenção programada nas instalações da OGMA — Indústria Aeronáutica de Portugal, e aterrou de emergência em Beja, pelas 15h28.

O avião, com um piloto, dois copilotos e três técnicos da companhia aérea do Cazaquistão a bordo, sobrevoou a região a norte de Lisboa e o Alentejo, numa trajetória irregular e “fora de controlo por alguns instantes, em vários momentos”, antes de ter sido tomada a decisão de aterrar em Beja. Atendendo “à criticidade da situação, a tripulação solicitou por várias vezes indicação de rumo para amarar o avião no mar”, mas não conseguiu manter os rumos desejados.

“Durante as atividades de manutenção [na OGMA], foi gerada uma mensagem de “FLT CTRL NO DISPATCH” [mensagem de erro], que, por sua vez, originou um conjunto de atividades de pesquisa de anomalias adicionais pelo prestador de serviços de manutenção, com suporte do fabricante da aeronave. Estas atividades, que decorreram durante 11 dias, não identificaram a inversão dos cabos dos ailerons, nem tal foi relacionada com a mensagem de “FLT CTRL NO DISPATCH””, indica o documento na parte “das constatações preliminares relevantes”.

Os investigadores do GPIAAF constataram ainda a existência de incumprimentos pela OGMA em diversos níveis de controlo, que deviam avaliar e analisar os trabalhos de manutenção executados e detetar anomalias. “Do trabalho de investigação desenvolvido até ao momento, resultou também a identificação de desvios aos procedimentos internos por parte do prestador de serviços de manutenção, que levaram a que o erro não fosse detetado nas diversas barreiras de segurança desenhadas pelos reguladores, pela indústria de manutenção aeronáutica e no próprio sistema implementado no prestador de serviços de manutenção”, sublinha o mesmo organismo.

Neste contexto, também a tripulação, antes de descolar e durante as verificações técnicas, não se apercebeu de qualquer anomalia. “Nas verificações de operacionalidade (verificação de comandos de voo) da aeronave pela tripulação, não foi identificada a incorreta operação dos ‘ailerons’, causada pela transposição dos cabos de comando dos ‘ailerons’”, frisa o GPIAAF.

Todos os ocupantes da aeronave “ficaram física e emocionalmente abalados” e um dos técnicos sofreu lesões numa perna. O voo KC1388 tinha como destino final a base do operador Air Astana, no Cazaquistão, em Almaty, com escala para reabastecimento em Minsk, na Bielorrússia. “A aeronave foi libertada da investigação e entregue ao operador a 21 de janeiro de 2019. O operador, em conjunto com o fabricante, iniciou o processo de avaliação de eventuais soluções para a aeronave, processo a que o GPIAAF é alheio”, acrescenta a nota informativa. O GPIAAF salienta que a investigação de segurança vai prosseguir “de forma a concluir a análise da totalidade dos factos relevantes e emitir as recomendações de segurança”.

Embraer revê instruções de manutenção de aviões idênticos ao da Air Astana

Na sequência desta investigação ao acidente com o avião da Air Astana, a Embraer vai rever até setembro deste ano as instruções de manutenção dos modelos 170/190. Uma nota informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a Lusa teve acesso, explica que “do debate entre a investigação e a Embraer, relativamente aos achados da investigação até ao momento”, resultou uma tomada de ação pelo fabricante.

“Até 30 de setembro de 2019, rever e alterar, conforme seja necessário, as instruções de manutenção dos produtos Embraer 170/190 em toda a documentação de manutenção considerada necessária e relacionada com comandos de voo, incluindo a avaliação do SB 190-57-0038 [boletim de serviço]”, pode ler-se no documento.

O SB 190-57-0038 diz respeito à instalação do sistema de cabos de comando dos ailerons, os quais controlam os movimentos de rolagem da aeronave com a atuação dos dois comandos de controlo, ou através do piloto automático.

A OGMA afirmou esta sexta-feira que está a “implementar todas as recomendações” do Gabinete de Prevenção e Investigação com Aeronaves e de Acidentes Ferroviárias que identificou erros e falhas na manutenção do avião da Air Astana. Numa breve nota enviada à Lusa, a OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, reafirma “que está a colaborar com as autoridades aeronáuticas nesta investigação” e que está a “implementar todas as recomendações vindas do GPIAAF”.

(Notícia atualizada às 19h57 com reação da OGMA)

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