Nem à quarta foi de vez. Prisa volta a falhar venda da TVI
A Prisa está há mais de dez anos a tentar vender a Media Capital. A Cofina foi a que chegou mais perto de concretizar a compra, mas um vírus agitou a operação e fez cair o negócio.
A Cofina desistiu da compra da Media Capital à Prisa, depois de um aumento de capital falhado que foi abalado pela forte volatilidade sentida nos mercados acionistas por causa da epidemia do coronavírus.
Desde a aprovação dos reguladores que a operação seguia a todo o gás, pelo que o fim do negócio foi recebido pelos investidores com surpresa. As ações da dona do Correio da Manhã caíram mais de 13%, já para não falar na declaração de guerra feita pela Prisa, que vai tentar forçar a operação por considerar que o acordo de compra e venda foi violado.
Sem prejuízo da investida da Prisa, esta foi a quarta vez que o grupo espanhol tentou alienar a Media Capital, mas mais uma vez sem sucesso. Antes da Cofina falhou a venda à Altice Portugal, e antes à Ongoing. Anda há mais de uma década a tentar desfazer-se do grupo de media português.
Portugal Telecom – 2008/2009
A Portugal Telecom, no tempo da presidência de Zeinal Bava, protagonizou uma tentativa de compra da Media Capital em 2009, um caso que gerou polémica e chegou a motivar uma comissão parlamentar de inquérito no ano seguinte, para investigar a alegada intervenção do Governo de José Sócrates no negócio.
Esta tentativa ter-se-á seguido a duas outras, em 2008, que acabaram por ser alvo de investigação judicial: uma que terá contemplado fundos ingleses; outra por parte do Taguspark que envolvia um administrador da PT e do próprio Taguspark, Rui Pedro Soares, alegadamente envolvendo 40% do capital da dona da TVI.
Além disso, segundo revelou nessa altura Miguel Paes do Amaral em 2010, a PT terá apresentado pelo menos três propostas para comprar o grupo de media entre 1998 e 2005.
Nenhuma destas operações foi concretizada.
Ongoing – setembro de 2009
A 28 de setembro de 2009, a já extinta Ongoing chegou a um acordo com a Prisa para comprar 35% da Media Capital. Mas a operação falhou meses depois, a 31 de março de 2010. Em causa estava o facto de a Ongoing, que era a dona do Diário Económico, controlar também uma participação de 23% na Impresa, dona do SIC e do Expresso, o que era visto como um entrave ao princípio da pluralidade dos media.
Na altura, a ERC chegou a dar um prazo ao grupo de Nuno Vasconcelos para que vendesse as ações da Impresa no mercado se quisesse mesmo comprar a TVI. Mas isso não chegou a acontecer e a Autoridade da Concorrência (AdC) não teve alternativa senão o chumbo do negócio.
Altice – julho de 2017
Depois de meses de especulação, a Altice Portugal anunciou em meados de julho de 2017 que chegou a um acordo com a Prisa para a compra da Media Capital, uma operação avaliada em 440 milhões de euros.
Passaram-se meses, nos quais o negócio mereceu oposição da Anacom e uma aprovação por diferimento tácito de um conselho regulador da ERC fragilizado. E mesmo depois de vários adiamentos, a Autoridade da Concorrência, que chegou a abrir uma investigação aprofundada ao dossiê, deixou passar o prazo acordado entre Prisa e Altice Portugal para a conclusão do negócio.
A operação falhou um ano depois, em meados de 2018, por desistência da Altice Portugal, apesar de ter acontecido na semana em que o regulador iria divulgar a decisão de chumbar o negócio.
Cofina – setembro de 2019
A 21 de setembro do ano passado, e depois de várias notícias a apontarem nesse sentido, a Cofina formalizou um acordo com a Prisa para a compra da dona da TVI. Desde essa altura, a operação seguiu de vento em popa, com a Cofina a ultrapassar as principais barreiras e a merecer, inclusivamente, a aprovação final da Autoridade da Concorrência. Mais: com a queda das audiências da TVI, a Cofina conseguiu mesmo um desconto de 50 milhões de euros, preparando-se para pagar 205 milhões de euros à Prisa pelo ativo.
Ora, na madrugada desta quarta-feira, a Cofina revelou que desistiu da operação. Em causa, o facto de o aumento de capital ter coincidido com a epidemia do coronavírus, que tem provocado a desvalorização generalizada dos ativos de risco. Perante o degradar das “condições de mercado”, a Cofina abortou o aumento de capital, uma decisão que apanhou a Prisa de surpresa.
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