Exportadoras não sentem da mesma forma lockdown nos principais mercados europeus
Bosch, Continental e Herdade Maria da Guarda não sentem efeitos de lockdown dos principais parceiros de exportação. Têxtil e calçado estão a ser penalizados.
Vários países da Europa voltaram a entrar em confinamento após o aumento do número de infetados por Covid-19, entre eles alguns dos principais parceiros comerciais de Portugal, como Espanha, Alemanha e Reino Unido. É um constrangimento que, contudo, não está a afetar todas as empresas exportadoras portuguesas da mesma forma.
O ECO falou com a Bosch, Continental Advanced Antenna Portugal, Tintex, Riopele, Calvelex, Mariano Shoes e Herdade Maria da Guarda. Se para algumas empresas o novo confinamento não está a causar problemas, para outras está a fragilizar ainda mais o negócio e a provocar constrangimentos. No caso da Continental, Bosch e a Herdade Maria da Guarda, o lockdown não está a afetar o funcionamento das empresas, para a Riopele, Calvelex e Mariano Shoes o cenário é completamente diferente.
As empresas exportadoras representam 44% do PIB nacional, de acordo com dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP). Entre os países de referência encontra-se a Alemanha, que é um dos principais mercados da Continental. O managing director da Continental Advanced Antenna Portugal garante ao ECO que a empresa não está a sentir os efeitos desse confinamento.
“Para já, a indústria automóvel ao nível da Europa está a trabalhar mais ou menos dentro da normalidade. Pode existir uma fábrica ou outra com alguma redução, mas no geral estamos a trabalhar a 100% e não temos sentido nenhum impacto do confinamento a nível da Europa. No caso específico da Alemanha que é o nosso principal mercado no continente europeu não sentimos nenhuma dificuldade“, explica Miguel Pinto, managing director da Continental Advanced Antenna Portugal.
O representante da Bosch em Portugal, Carlos Ribas, corrobora a ideia de Miguel Pinto e garante ao ECO que não está a sentir dificuldades. “Os construtores alemães são os nossos maiores clientes e felizmente não estamos a sentir dificuldades inerentes ao confinamento na Alemanha. Em relação aos clientes e às encomendas está tudo normal. O nosso problema, neste momento, é a falta de componentes elétricos no mercado. Isso é que nos está a prejudicar, a nós e aos nossos clientes”. A Bosch exporta também para Espanha e Reino Unido e o representante destaca que também nesses mercados “não estão a sentir dificuldades adjacente ao lockdown”.
"Para já, a indústria automóvel ao nível da Europa está a trabalhar mais ou menos dentro da normalidade. Pode existir uma fábrica ou outra com alguma redução, mas no geral estamos a trabalhar a 100% e não temos sentido nenhum impacto do confinamento a nível da Europa.”
Tal como a Bosch e a Continental Antenna, a Herdade Maria da Guarda não está a sentir as repercussões do confinamento em Espanha. A Herdade Maria da Guarda é um dos maiores produtores de azeite em Portugal, sendo que toda a produção tem como destino o mercado externo. Exporta mais de 20% da produção de azeite para Espanha. O CEO da Herdade Maria da Guarda, João Cortez de Lobão, conta que não enfrenta nenhum tipo de constrangimento com o confinamento no país vizinho.
“A nível prático não sentimos nenhum constrangimento fruto do confinamento em Espanha. Os camiões saem daqui e não têm problema nenhum. Os camionistas profissionais levam as guias de transporte e não têm nenhum problema em chegar a Espanha e seguir para Itália. Eles não querem parar este comércio”, destaca João Cortez de Lobão.
Se para a indústria automóvel, eletrodomésticos e agricultura estas novas restrições não estão a afetar o negócio, para o têxtil e para o calçado realidade é diferente, tendo em conta que continua a ser castigado pela pandemia. O presidente da Riopele, José Alexandre Oliveira, conta ao ECO já estar a sentir os efeitos deste novo confinamento em Espanha e Alemanha, principais mercados de exportação daquela que é uma das mais antigas empresas têxteis portuguesas.
“Estamos a sentir os efeitos do confinamento em Espanha e na Alemanha. Ao estarem fechados, os nossos clientes não vendem. O confinamento levou ao cancelamento de casamentos, batizados, festividades, isso está a afetar-nos, sem dúvida. No Natal enquanto nós abrimos exceções, esses países estavam com restrições muito mais apertadas. Já estamos a sentir os efeitos há muito tempo”, garante o presidente da têxtil que emprega mil colaboradores.
Alemanha, Reino Unido e Espanha são destinos de exportação da têxtil Calvelex. Para o presidente da empresa, César Araújo, o efeito do confinamento é “imediato“. O líder da Associação Nacional das Industrias de Vestuário e Confeção (Anivec) explica ao ECO que as “empresas exportadoras sentem logo a quebra de produção”. “As pessoas não compram, as lojas estão fechadas, é difícil não sentir esses constrangimentos. Cada país que confine afeta imediatamente o setor do vestuário”.
Os mercados do Reino Unido, Espanha e Alemanha representam 15% do volume de negócios da Tintex. Contrariamente à Riopele e à Calvelex a têxtil conhecida pelos tingimentos naturais e pela sustentabilidade, destaca ao ECO que são estes países são mercados de “importância crescente na estratégia de crescimento da empresa” e que o “resultado dessa relevância foi o crescimento do volume de negócios em 2020, em comparação com o período homólogo entre 8% a 10% para clientes/marcas desses mercados”.
Estamos a sentir os efeitos do confinamento em Espanha e na Alemanha. Ao estarem fechados, os nosso clientes não vendem.
Apesar do crescimento o diretor comercial da Tintex, Nuno Malheiro, realça que 2020 foi um ano marcado por “profundas alterações no mundo da moda” e que “se têm refletido num movimento generalizado de aproximação da cadeia de abastecimento, redução das quantidades encomendadas, bem como procura de maior qualidade, confiança e compromisso com os valores de sustentabilidade”.
Face a estas alterações marcadas por um ano atípico, o diretor comercial da Tintex realça que os clientes destes “mercados têm vindo a planear compras e desenvolvimentos de coleção com bastante mais antecedência e realismo do que em Portugal”.
Contrariamente à Tintex, a empresa de calçado Mariano Shoes sentiu uma quebra no volume de negócios no Reino Unido e confessa estar a sentir constrangimentos no que respeita ao confinamento neste país, que é um dos principais destinos de exportação da marca de sapatos de luxo com 75 anos de história. Fátima Oliveira, nova acionista da Mariano Shoes, confirma ao ECO que empresa já está a sentir os constrangimentos do confinamento e do Brexit. “Temos sentido alguns constrangimentos, mas temos dificuldade em identificar se a origem é o lockdown se é o Brexit”.
A nova acionista da Mariano Shoes lembra que as vendas para o Reino Unido eram maioritariamente online e sentiram “efetivamente uma quebra, mas não conseguimos identificar se a quebra se deve ao confinamento ou à saída do Reino Unido da Europa”. A empresa que investiu o ano passado um milhão de euros para internacionalizar a marca e apostar no canal online, diz já estar a sentir essa quebra “antes do final do ano”.
Apesar dos efeitos económicos do lockdown nos principais parceiros de negócios, a nível geral, as empresas exportadoras de bens estão confiantes de que 2021 será um ano de recuperação para as vendas ao exterior. A expectativa é que as exportações cresçam 4,9% este ano, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).
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