PSI-20? As campeãs da bolsa jogam na segunda liga
É como diz o outro: 15-0. Enquanto o PSI-20 desvaloriza desde o início do ano, as cotadas da segunda liga portuguesa avançam 15%. São os campeões da bolsa lisboeta.
Longe dos holofotes da primeira liga, há valores a brilhar de forma intensa no segundo escalão. Não, não estamos a falar de futebol. Falamos da bolsa. Se no PSI-20 moram as cotadas portuguesas de referência, são os outsiders do mercado nacional que marcam mais pontos este ano. Duas delas subiram esta segunda-feira à primeira divisão, a Novabase NBA 0,00% e Ibersol IBS 0,00% , e voltaram a impressionar.
Mas não se pode dizer que a presença na segunda liga, com as desvantagens de falta de visibilidade e reduzida liquidez que isso traz às cotadas, seja propriamente sinal de maus desempenhos. Pelo contrário. E vem ao encontro da tese do Nobel da Economia Robert C. Merton, que argumentou, em 1987, que as empresas com menor reconhecimento têm de oferecer retornos mais elevados para reparar a assimetria de informação entre os investidores.
Trinta anos depois, o desempenho da bolsa nacional valida a conclusão de Merton. Mais de dois meses e meio volvidos após o início do ano, enquanto o PSI-20 apresenta perdas para os investidores, a performance média das cotadas que “jogam” fora do benchmark bate não deixa de surpreender. É um 15-0.
Para Albino Oliveira, é nos períodos de maior euforia bolsista que o apetite da parte dos investidores, sobretudo particulares, por títulos mais secundários, que não se encontram nas principais montras acionistas, é mais evidente. “O ambiente mais favorável aos mercados de ações é mais visível no resto da Europa/EUA do que em Portugal”, diz o gestor da Patris Investimentos.
Cientes do contributo que estas cotadas podem trazer às suas carteiras, os fundos nacionais também apostam nos bons valores que há na “segunda divisão”. Mas não é só isso.
Desde a falência do grupo Espírito Santo, em 2014, a gestora da bolsa portuguesa tem observado dificuldades em preencher por completo o seu índice de referência com as 20 cotadas. A Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank sobre o BPI veio agravar a crise de identidade do PSI-20. A Bloomberg fez as contas (acesso livre / conteúdo em inglês) e o cenário até pode parecer um pouco embaraçoso: o PSI-20 apresenta-se com uma capitalização bolsista mais magra do que a do principal índice do Vietname.
Embora os portefólios sejam em grande medida compostos por títulos do índice de referência, há casos em que o peso destes títulos secundários chega aos 20% do valor total dos ativos em gestão, como acontecia no NB Portugal Ações, do Novo Banco, no final do ano passado. Ibersol, Novabase, Sonaecom, Impresa e Sonaecom estão entre as eleitas dos gestores portugueses.
Além de Ibersol e Novabase, que dão ganhos de 13% e 19% este ano, respetivamente, Albino Oliveira destaca ainda a Sonae Indústria, que estava bem posicionada para aceder ao PSI-20 após a saída do BPI.
“Tendo em conta a restruturação implementada pela gestão da empresa e o facto de se tratar de uma empresa cíclica, num momento em que o otimismo para a evolução da economia global tem vindo a aumentar”, explica o responsável. Para já, as ações da unidade industrial da Sonae vai com um avanço de 28% este ano.
Apenas Pharol e Corticeira se intrometem
Mas nem tudo são rosas. Se a falta de visibilidade pode resultar em oportunidades de negócio atrativas, também traz algumas consequências negativas. E o caso da Imobiliária Construtora Grão Pará serve muito bem de exemplo para os riscos associados ao investimento em títulos com visibilidade e liquidez muito, muito reduzida.
É certo que a Grão Pará é a campeã de inverno da bolsa portuguesa, com ganhos de 150% desde o início do ano. A variação extrema que é explicada com o valor da própria ação, de cinco cêntimos, que a faz disparar ou afundar de forma expressiva de um momento para outro quando na verdade pode estar a valorizar ou a desvalorizar um cêntimo.
Além disso, para quem detém ações da cotada o mais difícil é mesmo encontrar um comprador para elas: é rara a sessão em que negocia e, em média, foram trocados menos de dois títulos por dia nos últimos seis meses. No fundo, é um dos muitos zombies que deambulam no mercado nacional.
“O risco de liquidez é naturalmente importante, o que pode determinar e influenciar o preço ao qual o investidor consegue adquirir ou alienar uma participação na empresa”, explica Albino Oliveira.
"O risco de liquidez é naturalmente importante, o que pode determinar e influenciar o preço ao qual o investidor consegue adquirir ou alienar uma participação na empresa.”
“Poderá também, por outro lado, impedir que a cotação possa refletir o valor justo de um determinado título. Ou seja, mesmo que um investidor consiga identificar uma oportunidade, a menor liquidez em mercado secundário poderá tornar mais difícil (ou prolongado) o ajuste da cotação para o valor justo”, diz o especialista.
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