PJ está a investigar ataque informático à Vodafone

  • Lusa
  • 8 Fevereiro 2022

A PJ apela a que as empresas invistam e "recorram à segurança informática" para fazer face a "uma nova realidade" que é a cibercriminalidade associada às modernas tecnologias.

A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar o ataque informático de que foi alvo a operadora de telecomunicações Vodafone, designadamente a avaliar os vários componentes e o que está subsequente a esse ataque, disse à Lusa fonte policial.

Numa altura que o ataque está a ser investigado pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da PJ, a mesma fonte apelou a que as empresas invistam e “recorram à segurança informática” para fazer face a “uma nova realidade” que é a cibercriminalidade associada às modernas tecnologias.

A fonte não quis comentar se este ataque informático à Vodafone teve subjacente uma tentativa de extorsão por parte dos piratas informáticos, remetendo eventuais explicações sobre o assunto para a Vodafone.

Entretanto, a operadora assumiu esta terça-feira que foi alvo de um ciberataque na segunda-feira e disse que não tem indícios de que os dados de clientes tenham sido acedidos e/ou comprometidos, estando determinada em repor a normalidade dos serviços.

A Vodafone lamenta, através de uma nota, os transtornos causados aos clientes e informa que tem “uma equipa experiente” de profissionais de cibersegurança que, em conjunto com as autoridades competentes, está a realizar uma investigação aprofundada “para perceber e ultrapassar a situação”.

A empresa explica que foi alvo de um “ciberataque deliberado e malicioso” com o objetivo de causar danos e perturbações.

Garante que, assim que foi detetado o primeiro sinal de um problema na rede, agiu “de forma imediata para identificar e conter os efeitos e repor os serviços” e explica que a situação está a afetar a prestação de serviços baseados em redes de dados, nomeadamente rede 4G/5G, serviços fixos de voz, televisão, SMS e serviços de atendimento voz/digital.

“Já recuperámos os serviços de voz móvel e os serviços de dados móveis estão disponíveis exclusivamente na rede 3G em quase todo o país mas, infelizmente, a dimensão e gravidade do ato criminoso a que fomos sujeitos implica para todos os demais serviços um cuidadoso e prolongado trabalho de recuperação que envolve múltiplas equipas nacionais, internacionais e parceiros externos”, acrescenta a empresa, sublinhando que essa recuperação irá acontecer progressivamente ao longo desta terça-feira.

A empresa adianta ainda que a investigação se irá prolongar por tempo indeterminado e com o envolvimento das autoridades competentes.

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Vodafone denuncia “ato terrorista” para derrubar serviço em Portugal

Presidente executivo da Vodafone diz que o ciberataque à operadora foi um "ato terrorista" para derrubar as redes e serviços da empresa e "dificultar ao máximo" a recuperação.

O presidente executivo da Vodafone Portugal disse esta terça-feira que o ciberataque à empresa, detetado na segunda-feira à noite e assumido esta manhã, foi um “ato terrorista” e “criminoso”, que visou “tornar indisponível” o serviço da operadora e “dificultar ao máximo a recuperação dos serviços”.

Depois de uma noite de trabalho “ininterrupto”, a Vodafone convocou uma conferência de imprensa em Lisboa para esta terça-feira de manhã, com menos de uma hora de antecedência. Nela, Mário Vaz disse esperar que a empresa consiga recuperar o serviço de dados móveis 4G durante a tarde, estando a trabalhar no sentido de recuperar depois o serviço de telefone fixo e o de SMS para grandes clientes.

O gestor assegurou que a operadora não tem “qualquer indício” de que tenha havido acesso a dados pessoais dos clientes ou “corrupção” dos mesmos, dado que “o ataque foi dirigido à rede” e não aos sistemas. O serviço de internet fixa foi o único que não foi afetado pelo ciberataque.

A empresa ainda não terá aferido o impacto financeiro deste incidente, nem tomou qualquer decisão do ponto de vista de faturação. “Não é prioridade para nós a dimensão do prejuízo. O impacto [financeiro] para nós, neste momento, é secundário”, disse Mário Vaz.

De acordo com o gestor, a operadora está a trabalhar com as autoridades, parceiros e fornecedores na resolução do problema. Contudo, Mário Vaz não quis avançar publicamente qualquer detalhe técnico acerca da natureza do ciberataque, quando questionado pelo ECO nesse sentido.

Vodafone não avança suspeitas

O responsável não revelou também se a empresa suspeita da identidade dos autores do ataque, da sua localização ou respetivos motivos, mas confirmou que a Vodafone não recebeu qualquer pedido pedido de resgate, descartando, deste modo, um dos tipos de ciberataques mais comuns, conhecido por ransomware — e cujas motivações, por norma, são puramente financeiras.

O gestor reconheceu também que as falhas de serviço da Vodafone registadas no Reino Unido, sobre as quais houve queixas nas redes sociais na segunda-feira à noite, foram “consequência” do incidente em Portugal e fruto de uma decisão tomada pela empresa para mitigar os efeitos do ataque. O ciberataque foi direcionado à Vodafone em Portugal, admitiu.

A Vodafone Portugal tem cerca de quatro milhões de clientes, de acordo com Mário Vaz. O ciberataque tem provocado disrupção nos mais variados serviços, áreas e instituições, incluindo em serviços críticos e de emergência, no acesso a contas bancárias (por indisponibilidade do serviço de SMS) e até em caixas Multibanco, confirmou a companhia.

“Ficámos sem redes e sem hipótese de contacto com os nossos clientes. Acionámos o gabinete de crise por volta das 21h00 e a prioridade absoluta foi tentar recuperar o máximo de serviço possível, em particular o de voz sobre 2G às 22h, por questões de emergência, e um serviço mínimo de dados móveis, sobre rede 3G, já perto da meia-noite”, concretizou o presidente executivo da Vodafone. A falha também afetou os serviços da empresa nas regiões autónomas.

Mário Vaz não se comprometeu com um prazo para o restabelecimento da totalidade do serviço. Mas pediu “desculpa a todos” os clientes da operadora pelo impacto causado, ainda que “de forma totalmente involuntária”. O gestor confirmou que existe a possibilidade e disponibilidade para recorrer à infraestrutura das operadoras concorrentes no sentido de restabelecer os serviços, mas é uma via que não está a ser seguida até ao momento.

(Notícia atualizada pela última vez às 12h44)

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Vodafone vê margem para consolidação em Portugal, com MásMóvil à espreita

CEO admite que grupo está a explorar oportunidades de fusão e/ou aquisição em "vários mercados" e vê margem para consolidação em Portugal. Estará a negociar com a MásMóvel em Espanha.

O CEO do grupo Vodafone confirmou que a empresa está em conversações com “várias partes em vários mercados” para possíveis operações de fusão e/ou aquisição. Nick Read disse ainda que Espanha, Itália, Reino Unido e Portugal são mercados que podem beneficiar de consolidação para reduzir o número de operadoras, garantindo ser a favor da concorrência.

Numa conferência com analistas esta quarta-feira, Nick Read destacou mesmo o caso de Portugal, por estar em vias de receber “dois novos entrantes quando, na verdade, só queria ter um”. É uma referência ao leilão do 5G promovido no ano passado pela Anacom, que teve uma fase exclusiva para facilitar a entrada de novas operadoras com rede própria no país, uma operação que o gestor não coloca entre os melhores exemplos de progresso na atribuição de espetro, defendeu.

A notícia surge no dia em que o El Confidencial avançou que os donos da MásMóvil, onde se inclui o fundo KKR, terão retomado as negociações para uma possível aquisição da filial espanhola da Vodafone. Os investidores estarão a tentar convencer Read a vender a o negócio por um montante inferior aos 7.000 milhões que a Vodafone, alegadamente, pedia em 2019. Não é a primeira vez que o rumor circula no mercado. A MásMóvil também terá mostrado, a dada altura, interesse numa eventual fusão com a Vodafone em Portugal.

O mercado português tem três operadoras móveis já estabelecidas, incluindo a Vodafone. Mas prepara-se para receber mais duas com a chegada do 5G: os romenos da Digi (possivelmente já no segundo semestre, como noticiou o ECO) e a Nowo, que já tem presença no negócio fixo e explora o móvel como operadora virtual. Esta última é, precisamente, detida pela MásMóvil.

À luz das declarações do CEO da Vodafone, uma fusão da MásMóvil com a Vodafone em Portugal corresponderia, precisamente, à mensagem deixada por Nick Read na conferência com analistas, no dia em que o grupo apresentou resultados do terceiro trimestre do ano fiscal. Portugal contribuiu 270 milhões para as receitas totais, um crescimento homólogo de 7,7%. As ações da empresa estão a subir 2,3%, para 131,28 libras.

Importa recordar, neste contexto, que também a Altice realizou conversações exploratórias para uma possível venda do negócio em Portugal, que inclui a Meo. Mas a intenção caiu por terra, por não haver interessados dispostos a pagar o mínimo de 6.000 milhões que Patrick Drahi, fundador da Altice, queria pela Altice Portugal, avançou a Reuters em janeiro.

(Notícia atualizada às 14h21 com mais informação)

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Mais clientes e ligeira recuperação do turismo melhoram contas da Vodafone

Operadora fechou último trimestre de 2021 com receitas a subirem quase 8%, depois de aumentar a base de clientes no móvel e na televisão, mas sobretudo no fixo. Retoma tímida do turismo também ajudou.

As receitas da Vodafone Portugal cresceram 7,7% no trimestre de outubro a dezembro, em comparação com o mesmo período de 2020, alcançando 298 milhões de euros. O grosso deste montante corresponde a receitas de serviço, que cresceram 9,3% na mesma base comparativa, atingindo 270 milhões de euros, informou a empresa.

A operadora presidida por Mário Vaz refere, num comunicado, que estes resultados “foram impulsionados pelo crescimento sustentado do negócio fixo, bem como pela estabilidade no negócio móvel, que manteve um ritmo constante sob um ambiente muito competitivo”.

Neste que é o terceiro trimestre do ano fiscal da empresa, os clientes fixos cresceram 8,1%, para 864 mil, enquanto os clientes móveis, o principal negócio da Vodafone, aumentaram 3,3%, ficando ligeiramente abaixo de 4,7 milhões.

"O terceiro trimestre teve um marco muito importante, que foi o fim do leilão de 5G. Finalmente, Portugal conseguiu ter esta importante nova geração móvel.”

Mário Vaz

CEO da Vodafone Portugal

A contribuir para os melhores resultados esteve ainda a recuperação, ainda que contida, do turismo. “Quando comparado com o mesmo período do ano anterior, as receitas de roaming, visitantes e pré-pagos aumentaram em resultado de alguma recuperação do turismo, com um impacto positivo na evolução do principal indicador do negócio”, explica a empresa.

“O terceiro trimestre teve um marco muito importante, que foi o fim do leilão de 5G. Finalmente, Portugal conseguiu ter esta importante nova geração móvel, que a Vodafone Portugal lançou comercialmente a 30 de novembro de 2021. Estamos entusiasmados com esta nova fase, que certamente nos permitirá continuar a inovar, melhorar a conectividade e contribuir para um futuro melhor para o país”, reage Mário Vaz, CEO da Vodafone Portugal, citado na mesma nota.

Neste contexto, a Vodafone escreve que “o lançamento comercial do 5G foi o ponto alto deste trimestre”, período em que colocou a quinta geração “à disposição de todo os seus clientes”. Na segunda-feira, o ECO noticiou que a Vodafone, à semelhança da Meo e da Nos, vai continuar a oferecer até 31 de março o acesso ao 5G, gratuitamente, a todos os clientes. Esta fase inicial tinha fim originalmente previsto para 31 de janeiro.

Mas nem só de 5G se faz o negócio da operadora. Entre outubro e dezembro de 2021, a rede de fibra ótica da empresa alcançou os 4,1 milhões de casas passadas, um aumento homólogo de 11,5%. No segmento da televisão, o número de clientes subiu 8,3%, ascendendo agora aos 796 mil.

“Relativamente ao segmento empresarial, a Vodafone Portugal lançou um conjunto de novas soluções de cibersegurança para clientes empresariais, que proporcionam às empresas portuguesas a segurança e confiança de que necessitam para acelerarem a sua transformação digital e otimizarem as suas infraestruturas digitais”, conclui a empresa, em tom de balanço.

Segundo o mais recente relatório da Anacom sobre os serviços móveis, referente ao terceiro trimestre de 2021, a Vodafone era a segunda operadora com maior quota de mercado (29,8%). A Vodafone investiu mais de 133,2 milhões de euros na aquisição de licenças para a quinta geração móvel no leilão promovido pela Anacom ao longo de 2021.

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Líder do grupo Vodafone “insatisfeito” com leilão do 5G em Portugal

  • Lusa
  • 19 Maio 2021

O presidente executivo do grupo Vodafone mostrou-se "insatisfeito" com Portugal no lançamento do 5G. É um dos três países da UE sem a tecnologia.

O presidente executivo do grupo Vodafone, Nick Read, afirmou que há um país com o qual está “insatisfeito” este ano, relativamente ao leilão 5G, que é “Portugal”, salientando que outros países europeus estão a caminhar numa “boa direção”.

Nick Read manifestou mais uma vez o seu descontentamento face ao leilão de quinta geração (5G) em Portugal, durante uma videoconferência com analistas na terça-feira sobre os resultados do grupo Vodafone.

“Há apenas um país com o qual estou insatisfeito este ano: Portugal”, disse o presidente executivo, durante a resposta a uma questão do analista do Berenberg sobre o leilão 5G no Reino Unido.

“Já vamos na ronda 515 ou assim. Claro que [o leilão 5G em Portugal] ainda é cerca de metade dos preços de referência europeia, mas, francamente, não fiquei feliz” com a forma como foi construído, salientou o executivo, referindo que já tinha expressado isso anteriormente.

“Mas, em geral, todos os outros países europeus estão a caminhar numa boa direção em diálogo com a indústria”, rematou.

O leilão 5G em Portugal atinge esta quarta-feira o 89.º dia de licitação principal, tendo na terça-feira somado propostas no valor de 302,8 milhões de euros.

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Vodafone manifesta “perplexidade” com intenção da Anacom de mudar regulamento do 5G

  • Lusa
  • 9 Abril 2021

A Vodafone manifestou "perplexidade" face à decisão da Anacom de iniciar um procedimento para alterar o regulamento do leilão do 5G, de forma a acelerar o fim do processo.

A Vodafone Portugal manifestou “perplexidade” sobre a mudança de regras do leilão do 5G “a meio de um jogo que envolve milhões de euros”, considerando a atitude da Anacom “prepotente e desrespeitadora dos princípios básicos de estabilidade”.

Na quinta-feira, no 60.º dia de licitação principal, a Anacom anunciou que “decidiu iniciar um procedimento de alteração do respetivo regulamento” para acelerar o leilão de quinta geração (5G).

Foi com “perplexidade” que a Vodafone Portugal, liderada por Mário Vaz, “recebeu ontem [quinta-feira] a notícia de intenção revelada pela Anacom de mudar as regras do leilão 5G a meio de um jogo que envolve milhões de euros e cujos resultados são da maior importância para os operadores e para o país”, refere a operadora, em comunicado. “É mais uma vez a prova da total falta de competência do regulador nacional”, critica a Vodafone Portugal.

“Não podemos, por isso, deixar de considerar a atitude do regulador prepotente e desrespeitadora dos princípios básicos de estabilidade, previsibilidade e respeito pela liberdade de atuação dos licitantes em função de legítima utilização de regras de um jogo por si estabelecidas”, afirma.

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MásMóvil estuda fusão com a Vodafone em Espanha e Portugal

  • ECO
  • 3 Fevereiro 2021

O grupo espanhol que detém a Nowo contratou o Goldman Sachs para analisar uma possível fusão com a Vodafone em Espanha e Portugal, avançou o El Confidencial.

Os donos da operadora Nowo estão determinados a crescer na Península Ibérica e terão contratado o Goldman Sachs para analisar possíveis aquisições em Espanha e Portugal. Na mira do grupo espanhol MásMóvil estará a Vodafone, com quem a empresa está a explorar uma fusão de ambas as companhias, avança o El Confidencial.

Os rumores de uma possível fusão entre a MásMóvil e a Vodafone em Espanha já circulam há alguns meses no mercado das telecomunicações, mas o jornal espanhol indica que tal também poderá abranger o mercado português. Segundo o El Confidencial, as conversações entre os dois grupos intensificaram-se nas últimas semanas, podendo surgir um acordo nos próximos meses.

A MásMóvil ficou recentemente com 100% do capital da Nowo e estará em vias entrar no mercado português das comunicações móveis. Recentemente, a imprensa internacional deu conta de que o grupo adquiriu lotes na faixa dos 1.800 MHz no âmbito do leilão para os “novos entrantes” da Anacom, com o objetivo de construir uma rede 4G no país.

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Telecoms de olho em tecnologia que evita dependência de um fornecedor no 5G

À semelhança das pares, as operadoras portuguesas também estão de olhos postos na OpenRAN, uma tecnologia que poderá evitar a dependência de fornecedores como a Huawei, líder de mercado.

As operadoras de telecomunicações estão de olho numa tecnologia que lhes permitirá ter equipamentos de várias marcas na parte rádio das novas redes 5G, composta por elementos como as antenas, evitando deste modo a “concentração” de fornecedores como a Huawei. A tendência é internacional, mas também já reúne o interesse do setor em Portugal.

Em causa está a nova arquitetura de rede OpenRAN, que pressupõe a “abertura” dos protocolos e interfaces da parte rádio das redes. O tema tem merecido amplo interesse e atenção noutros mercados e não deverá passar ao lado do 5G português, admitem ao ECO duas das principais empresas do setor.

“A maioria das redes utiliza arquiteturas suportadas em interfaces proprietários, que favorece a adoção de soluções monolíticas e que resultou numa grande concentração do setor”, explica fonte oficial da Nos. “A adoção de OpenRAN no desenvolvimento do 5G promove a entrada de novas empresas fornecedoras de software e equipamentos no setor e aumenta a inovação”, sublinha ainda a empresa, que reconhece que esta “é uma tendência da indústria, que irá provavelmente ser adotada nas redes móveis também em Portugal”.

Por outras palavras, atualmente, é difícil para uma operadora ter mais do que um fornecedor de equipamentos para a parte rádio da sua rede móvel. Isto acontece porque alguns destes fornecedores desenvolverem sistemas fechados e proprietários, dificultando a adoção de equipamentos de marcas concorrentes uma vez incluídos numa determinada rede. Imagine, por exemplo, ter de adquirir todos os eletrodomésticos lá de casa de uma única marca. Com a OpenRAN, a realidade muda de figura.

“Atualmente, os três maiores fornecedores de equipamentos para as redes de acesso móvel [Huawei, Nokia e Ericsson] têm uma quota de mercado próxima de 80%. A arquitetura OpenRAN permitirá a entrada de novas empresas no setor, estimular a inovação e possibilitar a integração de novas funções de rede e hardware entre diferentes parceiros e facilitar a introdução de inteligência artificial nos algoritmos que otimizam a qualidade da rede”, explica a Nos.

Em alguns mercados, a OpenRAN é vista como uma possível solução para evitar a aposta exclusiva em equipamentos de fornecedores considerados “de risco”. É o caso da Huawei, a gigante chinesa das telecomunicações, “apanhada” no centro da guerra comercial entre Estados Unidos e China em 2019 e acusada pela ex-Administração Trump de ser um veículo de espionagem ao serviço da China — alegações que a empresa nega. É que, apesar de Meo, Nos e Vodafone já terem garantido que a Huawei estará fora do “núcleo” das redes 5G em Portugal, tal não se aplica à outra parte da rede, chamada “rádio” (ou RAN).

A OpenRAN “é a evolução natural das redes móveis para a virtualização das funções de rede e desagregação do software e do hardware“, refere ainda a Nos. Tal significa que, ao invés de equipamentos especificamente desenhados para o efeito, será possível correr partes das redes móveis em computadores com software, o que também pode significar uma redução nos custos.

O grupo Vodafone também assume estar interessado na OpenRAN a nível internacional, incluindo em Portugal, sendo várias vezes mencionado em artigos e notícias internacionais acerca desta temática. Desde logo, fonte oficial da Vodafone Portugal, contactada pelo ECO, recorda que a empresa assinou a 20 de janeiro um memorando de entendimento com a Deutsche Telekom, a Orange e a Telefónica para apoiar o lançamento da OpenRAN.

“A Vodafone acredita que a OpenRAN será umas tecnologia chave para as futuras redes móveis, já que a desagregação de hardware e software permitirá a um maior número de empresas contribuir para o desenho das redes e, com isso, impulsionar a inovação tecnológica, promover a concorrência e aumentar a resiliência das redes”, explica também a operadora, que detalha: “Em termos práticos, qualquer elemento da rede pode ser obtido por um fornecedor diferente, sem que isso prejudique o desempenho e o funcionamento de todo o sistema que compõe a rede”.

A arquitetura OpenRAN promete revolucionar a forma como funciona a parte rádio (antenas e outros equipamentos) das redes móveis do futuro.Pixabay

OpenRAN promete 5G mais seguro e acelera cobertura em zonas rurais

Depois, tanto a Nos como a Vodafone não escondem ver amplos benefícios na adoção da OpenRAN. Entre as características enaltecidas estão o aumento da “transparência” e o reforço da “segurança”, passando pelo acelerar da transformação digital.

Para a Nos, esta arquitetura de rede “tem a vantagem de implementar interfaces abertos, que aumentam a transparência com que é processada a informação e o operador passa a controlar o fluxo de dados, reforçando a segurança”. “Deixam de existir funções de rede fechadas, nas quais o operador não controla o processamento da informação”, explica a empresa.

Para a Vodafone Portugal, a OpenRAN será um fator “facilitador da transformação digital” e contribuirá para “a recuperação europeia, beneficiando o crescimento, fomentando emprego e impulsionando o aparecimento de novos fornecedores”.

Além disso, “uma vez que a OpenRAN tem o potencial de aumentar significativamente a resiliência do ecossistema 5G, é expectável que também seja um instrumento fundamental para fortalecer a segurança da rede”, admite ainda a operadora, apontando para as diretrizes europeias que apelam a que os Estados-membros “não dependam de um único fornecedor”.

“A OpenRAN irá facilitar a aceleração da cobertura de rede, sendo mais fácil, por exemplo, chegar com tecnologia de ponta a zonas rurais ou de baixa densidade populacional”, refere ainda a operadora.

Com o leilão do 5G em curso, Meo, Nos e Vodafone ainda estão a licitar pelas frequências que lhes permitirão lançar a quinta geração de rede de comunicações em Portugal, algo que a Anacom espera que seja possível ainda neste trimestre.

Por agora, no que à OpenRAN diz respeito, o grupo liderado por Mário Vaz tem já um alerta a fazer: “O setor tem de trabalhar com os governos nacionais e europeus, procurando garantir a existência de subsídios para a sua implementação em tempo útil, esperando-se que os governos desempenhem um papel importante na promoção e desenvolvimento deste ecossistema, financiando a implementação inicial, a realização de testes, a pesquisa e desenvolvimento, e incentivando a diversidade da cadeia de abastecimento, contribuindo para a redução de barreiras à entrada de startups e de pequenas e médias empresas”.

O ECO contactou também a Altice Portugal acerca deste tema. O grupo que detém a Meo, operadora com a maior quota de mercado em Portugal, não quis responder às questões sobre OpenRAN “nesta fase”, não tendo feito mais comentários.

(Notícia atualizada com novo título às 12h17)

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Vodafone diz que regulamento do 5G é “discriminatório” e “totalmente ilegal”

O presidente executivo da Vodafone disse no Parlamento que o regulamento do 5G é "discriminatório" para as atuais operadoras e avisa que os "novos entrantes" terão até 2027 para cobrir metade do país.

O presidente executivo da Vodafone Portugal alertou no Parlamento que as obrigações previstas para os “novos entrantes” no regulamento do 5G implicam que estas empresas só tenham de ter dar cobertura a 50% da população em 2027. Enquanto isso, as atuais operadoras estão sujeitas a obrigações mais apertadas, como a de cobrir 75% da população das freguesias de baixa densidade em três anos, avisou.

“Bem sei que um novo operador precisa de tempo. O que não faz sentido é isso seja totalmente desproporcional”, disse Mário Vaz, em resposta a perguntas dos deputados da comissão parlamentar de economia. Lembrando que as licenças do 5G serão atribuídas por 20 anos, o líder da Vodafone afirmou que “o que está a ser pedido aos novos entrantes é que, nesses 20 anos, a sua obrigação seja apenas a de, em seis anos, cobrir 50% da população a 30 Mbps”, uma velocidade que já existe nas atuais redes móveis de quarta geração, indicou.

“Não há metas para 10 anos? Para 20 anos?”, questionou Mário Vaz, que recordou que, em 1992, quando a então Telecel entrou no mercado, foi-lhe exigida a cobertura de 90% da população num ano e 99% em quatro anos, numa altura em que “não havia torres” e os responsáveis da empresa tiveram de negociar as instalações e os espaços caso a caso.

O presidente executivo da Vodafone lembrou, por isso, que “um novo operador, quando chega a Portugal, encontra empresas com milhares de torres que podem arrendar”. Mário Vaz referia-se à Cellnex, que tem as torres que eram da Nos e da Meo, e à Vantage Towers, que tem as torres da Vodafone. “Pode, de um dia para o outro, aceder a milhares de torres no país todo”, disse o gestor.

“Para nós, foram concedidas metas de calendário para 2023, 2024 e 2025. Sabendo que este regulamento se atrasou um ano, aos novos entrantes é dado o prazo a contar a partir do famoso roaming nacional. E como as licenças só vão existir em 2021, os tais 50% da população já vão em 2027″, concluiu Mário Vaz, para quem o leilão, como está desenhado, é “discriminatório” e “totalmente ilegal”.

A primeira ronda de licitações do leilão do 5G decorre esta terça-feira, estando em jogo frequências nos 900 MHz e 1.800 MHz reservadas para os “novos entrantes”. Na segunda-feira, o presidente executivo da concorrente Nos desafio ou Parlamento a pedir a fiscalização do regulamento no Tribunal Constitucional. Esta terça-feira, o ECO publicou em primeira mão o teor de um dos pareceres pedidos pela Nos para fundamentar esse desafio.

A Altice Portugal foi também convocada para ser ouvida no Parlamento, mas terá recusado o pedido. Numa justificação enviada ao ECO, a empresa argumenta: “Acreditamos que já dissemos publicamente, e nos fóruns competentes, aquelas que são as nossas preocupações, a nossa indignação, bem como os resultados prováveis de todo este processo e as suas consequências devastadoras. Assim, consideramos não ter muito mais a acrescentar, a menos que haja alguma alteração significativa do ponto de vista de posturas ou das regras do leilão”.

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Meo, Nos, Vodafone e Dense Air apresentam candidaturas para irem ao leilão do 5G

Meo, Nos e Vodafone vão participar no leilão do 5G, confirmou o ECO, e a Nowo já se tinha mostrado interessada em apresentar candidatura. A Dense Air também vai participar.

As principais operadoras de telecomunicações — Meo, Nos e Vodafone — habilitaram-se a participar no leilão de frequências do 5G, apesar dos processos que mantêm em tribunal contra as regras, que consideram ser “injustas”. Também a Dense Air submeteu uma candidatura, apurou o ECO. O prazo para as candidaturas de interessados termina esta sexta-feira.

Fonte oficial da Altice Portugal confirmou ao ECO que “entregou, hoje [sexta-feira], a sua candidatura para o leilão do 5G”, mas reitera que o regulamento “está ferido de múltiplas ilegalidades” e “representa um enorme retrocesso para a competitividade” do setor.

A Nos está confiante de que o leilão do 5G vai ser travado pelas várias providências cautelares que interpôs contra a Anacom, mas o ECO apurou junto de fontes do mercado que a empresa também se habilitou a participar no leilão, em linha com o que tinha admitido numa entrevista recente o presidente executivo da empresa, Miguel Almeida.

“Mantemos a esperança de que algumas das ações [judiciais] possam ainda ocorrer em tempo útil para promover as alterações necessárias de forma a tornar o 5G um fator de competitividade e progresso para o país”, disse ao ECO fonte oficial da Nos.

Também a Vodafone confirma que já submeteu a sua candidatura: “A Vodafone Portugal confirma que apresentou hoje a sua candidatura ao leilão do 5G”, disse ao ECO fonte oficial da empresa.

Dense Air também vai ao leilão

Para além das grandes operadoras, também a Dense Air submeteu esta sexta-feira uma candidatura para participar no leilão do 5G, confirmou ao ECO fonte oficial da empresa.

A Dense Air é a única em Portugal que já tem licenças de quinta geração, datadas de 2010 e herdadas de outra empresa. No entanto, estes direitos expiram em 2025, pelo que terá de participar no leilão caso pretenda a sua renovação.

No setor, havia ainda dúvidas sobre se a empresa iria mesmo participar no processo. Meo, Nos e Vodafone são altamente críticas da decisão da Anacom de não retirar à Dense Air as licenças que esta já detém. Mas o regulador optou por reconfigurar o espetro detido pela empresa. As dúvidas são agora desfeitas e a Dense Air pretende, assim, tentar renovar as licenças por mais 20 anos.

Esta empresa do grupo Soft Bank tenciona explorar o mercado como operadora grossista, fornecendo rede a outras empresas.

Para além da Meo, Nos, Vodafone e Dense Air, poderá haver ainda uma quinta empresa interessada. Fonte oficial da Nowo não respondeu a tempo de publicação deste artigo, mas a empresa já tinha confirmado num comunicado recente que vai participar no leilão do 5G. Agora controlada a 100% pela espanhola Másmóvil, a Nowo poderá ser o “quarto operador” móvel de que tanto se tem falado no mercado.

Já a Gigas, que ficou com a Oni, não se candidatou à compra de frequências e não vai participar no leilão, disse ao ECO fonte oficial da empresa.

Operadoras confiantes num travão da justiça

As maiores empresas de telecomunicações portuguesas tentarão, deste modo, comprar frequências para prestação de serviços de quinta geração no leilão, mas estão a esgrimir uma batalha judicial com a Anacom na tentativa de travarem o processo.

Tanto a Meo como a Nos e a Vodafone partiram para tribunal nas últimas semanas, por via de providências cautelares contra o regulamento do leilão (e, por consequência, todo o processo do 5G), queixas à Comissão Europeia (daquilo que consideram ser ajudas de Estado aos “novos entrantes”) e providências cautelares para forçarem a Anacom a retirar as licenças já detidas pela Dense Air.

“O regulamento para o leilão do 5G está ferido de múltiplas ilegalidades, representa um enorme retrocesso para a competitividade e põe em causa a sustentabilidade do setor, retraindo e destruindo o investimento e a criação de valor. A Altice Portugal recorda que a entrega de candidaturas não garante, nem obriga, que os candidatos avancem no leilão, indica fonte oficial da empresa.

Acreditamos que as entidades competentes do nosso país ajam de uma vez por todas para repor a legalidade, de forma a que este regulamento possa ainda vir a ser um documento sério, justo e responsável, à altura do interesse nacional que o processo merece, e esperamos que o tribunal se pronuncie rapidamente sobre a providência cautelar interposta”, conclui a empresa.

A Nos “espera que perante tantas reações públicas de preocupação, os órgãos decisórios do país intervenham e mudem as regras do leilão que não são consensuais, em especial a regra relativa ao roaming nacional, que como já está por demais demonstrado é uma criação única na Europa, sem qualquer precedente ou justificação, verdadeira expropriação de ativos privados”, indica fonte oficial.

“É lamentável que o Governo, último responsável, não tenha até ao momento tomado qualquer posição sobre a matéria e que assista de forma indiferente à destruição de um ecossistema essencial ao desenvolvimento do 5G, da indústria 4.0, do bem-estar da sociedade portuguesa. Estamos a um passo do abismo, mas queremos acreditar que ainda existirá uma decisão a favor de Portugal, evitando que o nosso país seja condenado à irrelevância na futura economia digital”, remata ainda a Nos.

Já fonte oficial da Vodafone sublinha que “o lançamento do 5G é um marco fundamental para o país, em particular num contexto económico que se caracteriza pela necessidade de investimento produtivo essencial para uma retoma sustentada”, mas destaca que há “aspetos do regulamento que, no entender da Vodafone, deveriam ser alvo de revisão”.

A empresa indica que “manifestou por diversas vezes” esta “opinião”, “inclusive junto da Anacom, estando os mesmos neste momento em apreciação pelos tribunais competentes”. “Mantemos a esperança de que algumas das ações possam ainda ocorrer em tempo útil para promover as alterações necessárias de forma a tornar o 5G um fator de competitividade e progresso para o país”, finaliza a Vodafone.

Esta sexta-feira, deu entrada no Parlamento um requerimento do CDS para chamar a Anacom e a Autoridade da Concorrência à comissão de economia. Os centristas querem questionar os reguladores sobre o regulamento aprovado pela Anacom no início deste mês.

(Notícia atualizada pela última vez às 19h55 com confirmação de que Dense Air vai ao leilão)

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“Hoje tenho de lutar bastante” para manter a Vodafone em Portugal

  • ECO
  • 23 Novembro 2020

Mário Vaz, CEO da Vodafone Portugal, revela em entrevista que a operadora poderá vir a repensar a sua presença no mercado português devido ao leilão do 5G.

Mário Vaz, CEO da Vodafone Portugal, diz que, hoje em dia, “tem de lutar bastante” para manter a operadora em Portugal nos atuais moldes. Em causa o 5G, cujas regras do leilão anunciado pela Anacom são contestadas pelo setor.

“A última vez que dei uma entrevista referi que nunca tinha necessitado de me esforçar, de lutar, para manter a Vodafone em Portugal, pelo nível de compromisso com o país. Hoje, infelizmente, não é o caso. Tenho de lutar bastante”, disse Mário Vaz em entrevista ao Jornal de Negócios (acesso pago).

“Na altura, o anterior CEO do grupo veio a Portugal e numa entrevista disse que Portugal era a joia da coroa. Eu arrisco dizer que nos próximos anos podemos ser a lata da coroa”, acrescentou. Segundo Mário Vaz, se a Vodafone não concorrer ao leilão do 5G (ainda não teve a autorização da casa-mãe para participar no concurso), a telecom poderá repensar a sua presença em Portugal. “A isso não se pode chamar chantagem, é a realidade do mundo dos negócios”, disse.

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Regras do 5G são conhecidas hoje. O que pode mudar no regulamento?

Anacom vai apresentar esta quinta-feira o regulamento final do 5G. Só se conhece a versão preliminar, de fevereiro. Setor estará atento: sem mudanças face ao proposto, operadoras partem para tribunal.

Esta quinta-feira, pelas 10h30, o setor das telecomunicações português conhecerá finalmente o documento mais aguardado dos últimos meses: o regulamento final com as regras para o leilão do 5G. A Anacom tem uma conferência de imprensa marcada em Lisboa para essa hora, esperando-se que ponha fim à incógnita sobre as regras que definirão a atribuição de frequências às empresas interessadas em explorar a tecnologia no país.

As expectativas são altas. Apesar de uma versão preliminar do regulamento ter sido sujeito a consulta pública este ano, que a Anacom diz ter sido bastante “participada”, o projeto de regulamento data de fevereiro, uma altura em que ninguém antecipava a crise sanitária e económica que se viria a instalar em março em todo o mundo, incluindo em Portugal, por causa da pandemia da Covid-19.

Subitamente, o tabuleiro de jogo mudou, suscitando grande ansiedade nas operadoras de telecomunicações. Já reticentes perante os investimentos avultados que teriam de fazer na quinta geração, as novas prioridades decretadas pela pandemia passaram a exigir mais cautela e contenção nas despesas. Por isso, nas últimas semanas, Meo, Nos e Vodafone subiram o tom das críticas ao regulador, apelando a alterações de fundo nas regras do leilão.

Coloca-se, por isso, a questão: quão diferente da versão preliminar será o regulamento final do leilão do 5G aprovado pela Anacom, e que será conhecido esta quinta-feira? Outra pergunta: terá o regulador cedido aos apelos do setor — que, no que à adaptação à pandemia diz respeito, mereceram também a concordância do próprio Governo?

As “ajudas” aos novos entrantes

O projeto de regulamento do leilão do 5G, apresentado em fevereiro, “contempla uma reserva de espetro para novos entrantes”.

E quem são estes novos entrantes? O conceito aplica-se a qualquer entidade que não detenha outros direitos de utilização de frequências para serviços de telecomunicações. Resumindo, qualquer outra empresa ou operadora estrangeira que possa aproveitar este procedimento para se lançar no mercado português.

Mas não foi apenas a reserva de espetro que a Anacom contemplou nas regras preliminares do leilão. No projeto apresentado há quase nove meses, o regulador pretende também incentivar o surgimento de um quarto operador no mercado, mediante a atribuição de “um desconto de 25% sobre o preço do espetro que adquirirem nas faixas” reservadas.

Ao verem estas condições mais benéficas para empresas externas ao setor, as três principais operadoras portuguesas irromperam em críticas à Anacom. Tanto a Meo como a Nos e a Vodafone têm-se mostrado fortemente contra o que consideram ser condições “injustas”, porque beneficiam empresas externas com reserva de espetro e um desconto, mas não impõem obrigações de cobertura apertadas, como aquelas a que estarão sujeitas qualquer operadora já estabelecida em Portugal que adquira frequências no leilão.

Uma operadora, além das críticas, partiu para a ação. O presidente executivo da Nos, Miguel Almeida, disse no Parlamento que, com estas condições mais benéficas para novos entrantes, a Anacom está efetivamente “a oferecer um auxílio de Estado de 800 milhões de euros” a um eventual quarto operador, que pode nem ser uma empresa do setor (a Nos admite que um hedge fund possa aproveitar a operação para gerar mais-valias de curto prazo, em prejuízo do setor como um todo). Por isso, apresentou uma queixa à Comissão Europeia, que está a ser analisada.

Os preços de reserva

À luz da informação atualmente disponível, não são de esperar alterações significativas nas faixas de frequências e números de lotes a concurso. O que pode haver é mudanças nos preços de reserva, nomeadamente uma redução, para ter em conta o impacto da pandemia na economia do país.

Pelo menos é isso que empresas, como a Altice Portugal, apelaram mal foram conhecidas as regras preliminares do leilão, um pedido que reforçaram nas últimas semanas.

Mediante os termos do projeto de regulamento, a operação renderá pelo menos 238 milhões de euros ao Estado. E, já nessa altura, a diferença de expectativas era elevada, na ordem dos 50 milhões de euros, como noticiou o ECO com base numa carta dos líderes da Meo, Nos e Vodafone enviada ao primeiro-ministro, António Costa.

Esse fosso será agora maior por causa do impacto da Covid-19 e os preços poderão ser determinantes na estratégia que cada operadora vai seguir. Para já, está definido que o leilão não será “cash cow” do Estado, como temia em 2018 o presidente executivo da Altice Portugal, Alexandre Fonseca. Pelo menos, não diretamente. Toda a receita angariada será afeta a um novo Fundo para a Transição Digital, que investirá na digitalização da economia portuguesa.

O roaming nacional

É outro ponto sensível e que já provou discórdia até dentro do próprio Governo. O presidente da Anacom, João Cadete de Matos, é um fervoroso adepto do roaming nacional.

A avançar, como está previsto no projeto de regulamento, significará que um cliente não ficará “preso” à cobertura da operadora que contratou. Assim, à medida que se vai deslocando no território, um smartphone ou outro aparelho pode ir-se ligando à rede da operadora que tiver melhor cobertura na região em que se está.

Para a Anacom, esta é uma forma de assegurar a máxima cobertura de 5G no país, chegando a mais zonas. O regulador argumenta ainda que um cliente estrangeiro que se desloque a Portugal já pode ligar-se a qualquer rede, independentemente da operadora, beneficiando de melhor cobertura do que um cliente nacional.

Mas, para o setor, é uma forma de canibalizar investimento e até uma falácia: numa primeira fase, o 5G funcionará por cima da atual rede 4G — ou seja, uma zona sem cobertura, que não tenha 4G, não passará a ter cobertura só porque há roaming nacional. As operadoras temem que este seja um fator de desleixo no investimento dos concorrentes: “Nenhuma empresa vai investir se, ao o fazer, em vez de melhorar a qualidade de serviço aos seus clientes, está a melhorar o serviço aos seus concorrentes”, argumentou recentemente o presidente executivo da Nos.

Sabe-se que, para além da Anacom, também o ministro da tutela, Pedro Nuno Santos é a favor do roaming nacional. O mesmo foi transmitido há semanas pelo novo secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Hugo Santos Mendes. Já o anterior secretário de Estado, Alberto Souto de Miranda, era fortemente contra.

É improvável que o regulamento do leilão do 5G conhecido esta quinta-feira dê baixa da exigência de roaming nacional para as empresas do setor, que terão, assim, de partilhar rede 5G e infraestruturas. Eventualmente, também manterá as obrigações de acesso à rede para os chamados operadores móveis virtuais — empresas que, não tendo espetro, poderão fornecer serviços de 5G em cima das redes das operadoras que compraram direitos de utilização de frequência neste leilão.

De qualquer forma, Nos e Vodafone estão já a partilhar infraestruturas. Em outubro, as duas operadoras fecharam acordos nesse sentido, abrangendo todo o país e as tecnologias 2G, 3G e 4G. No 5G, afirmaram que dependerá do resultado do leilão.

As licenças da Dense Air

A Dense Air é uma empresa do grupo japonês Soft Bank que, apesar de ainda não ter começado o leilão, já é detentora de licenças de 5G.

Para entender como, é necessário recuar no tempo. Estas licenças na faixa dos 3,6 GHz remontam a 2010, altura em que foram atribuídas a uma empresa chamada Bravesensor por um prazo de 15 anos. Nessa altura, não se sabia que, mais tarde, valeriam “ouro” por poderem ser usadas para o fornecimento de serviços de 5G (a definição do padrão só foi estabelecida pela Comissão Europeia em 2018).

Ora, essa empresa mudou entretanto de nome para Zappwimax e, em dezembro de 2016, a Anacom autorizou que as referidas licenças fossem transferidas para uma outra empresa, chamada Broadband Portugal. Como recorda o Público, em março de 2018, a Broadband foi vendida à Airspan Spectrum Holdings, do grupo SoftBank, passando a chamar-se Dense Air.

As licenças que acabaram na posse da Dense Air previam que fossem prestados serviços no prazo de dois anos após a atribuição, o que não aconteceu. Ora, a Anacom decidiu, no entanto, reconfigurar o espetro da Dense Air, não expropriando as referidas licenças quando começou a alinhavar o 5G. A decisão cai bastante mal junto do setor.

O projeto de regulamento do leilão do 5G prevê que as frequências que se mantiveram na posse da Dense Air sejam incluídas no leilão, mas com restrições, sendo disponibilizadas apenas a partir de 5 de agosto de 2025, quando expirarem as licenças da Dense Air. Assim, se esta empresa quiser ir a jogo, terá de as renovar no leilão. A Dense Air tem mostrado intenção de vir a ser um operador grossista no mercado do 5G, prestando serviços às operadoras de retalho.

Mas Meo, Nos e Vodafone não se deixam convencer. Concretamente, a Nos tem em curso dois processos em tribunal, um para reverter a decisão da Anacom sobre a reconfiguração do espetro e outra, mais recente, em que exige à Anacom uma indemnização de 42 milhões de euros pelo mesmo motivo, noticiou o Público em outubro.

E se nada mudar?

O pior cenário, na ótica das operadoras, é um em que o regulamento final tenha poucas ou nenhumas alterações face à versão preliminar divulgada em fevereiro. Nesse caso, Meo, Nos e Vodafone já ameaçaram avançar para tribunal contra a Anacom, ou até mesmo de boicotarem o leilão por completo.

É pouco provável que o regulamento que será conhecido esta manhã seja tal e qual como o que foi divulgado no início do ano. Até porque o secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, neste mês de outubro, avisou, num evento promovido pelo próprio regulador, que o regulamento final deve “ter em conta” o impacto da Covid-19 no país.

Porém, se a Anacom entender que as regras que foram a consulta pública são as corretas e promovem a concorrência no mercado, tal pode inaugurar uma nova página no processo, com a forte litigância a atrasar mais uma vez o lançamento do 5G em Portugal — pela avaliação inicial do Governo e da Comissão Europeia, feitas antes da pandemia, era suposto as primeiras ofertas comerciais arrancarem até ao fim deste ano, algo que já só acontecerá, provavelmente, no primeiro semestre de 2021.

Concretamente, a Vodafone Portugal ameaça que, se as regras não forem satisfatórias, desistirá de instalar no país um novo centro de investigação e desenvolvimento na área do 5G, com capacidade para criar 400 postos de trabalho qualificados.

Mário Vaz, presidente executivo da operadora, considerou mesmo que a intenção inicial da Anacom “hipoteca o futuro do país”, e citou um estudo da consultora Roland Berger, feito a pedido de um cliente não identificado, em que se conclui que regras “injustas” no leilão do 5G poderão arrasar com 2.000 empregos no setor das telecomunicações português.

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