Mota-Engil há 30 anos na bolsa. Celebra com subida de 100%
Celebrando três décadas na bolsa, a Mota-Engil tem dado motivos para acionistas sorrirem: dispara 100% em 2017. Família nunca perdeu controlo da construtora, mas negócio é sobretudo fora de portas.
Há 30 anos a Mota & Companhia estreava-se no mercado bolsista nacional. Foi exatamente a 5 de novembro de 1987 que cada ação da histórica construtora nacional foi para a bolsa a valer um conto de rei, mil escudos ou cerca de cinco euros (sem contar com inflação). Três décadas depois, o controlo familiar sobre a empresa não se perdeu apesar dos altos e baixos da sua vida na bolsa. A família Mota ainda hoje detém mais de 60% da empresa fundada 40 anos antes por Manuel António da Mota e o seu cunhado, Joaquim da Fonseca, na localidade de Amarante. Mas os recentes anos de crise em Portugal obrigaram a construtora que dá hoje pelo nome de Mota-Engil a olhar sobretudo para fora de portas e a procurar trabalho no estrangeiro.
No mesmo ano em que fundaram a Mota & Companhia, em 1946, Manuel António da Mota e Joaquim da Fonseca criaram uma sucursal em Angola, onde desenvolveram as suas atividades em exclusivo até 1974, primeiro na exploração e transformação de madeiras e depois, a partir de 1948, na construção e obras públicas.
De alguma forma, os primeiros passos da recém-criada construtora acabariam por ser premonitórios quanto ao resto da história eminentemente internacional que estaria para contar. A Mota-Engil está atualmente presente em mais de 25 países em todo o mundo, concentrando os seus negócios sobretudo na América Latina e em África. Estas duas regiões representam uma carteira de encomendas no valor de 4.000 milhões de euros, mais de 80% do total de encomendas do grupo. Os últimos contratos foram assinados em setembro em Angola e Moçambique, avaliados em 500 milhões de dólares.
Mais de 80% das encomendas são internacionais
Fonte: Mota-Engil
Voltemos a 1987. Nesse ano, a Mota & Companhia chegava ao mercado de capitais (apenas 12% foi disperso em bolsa) em plena época de euforia nacional: mais de 90 empresas e bancos (incluindo o banco BCP) tinham sido admitidos na bolsa de valores portuguesa. Esta efeméride leva a gestora da bolsa nacional, a Euronext, a celebrar esta segunda-feira o 30º aniversário da construtora na bolsa, numa cerimónia que vai contar com a presença do presidente do conselho de administração, António da Mota, filho do fundador.
Foi com António da Mota que anos mais tarde, já no novo milénio, a construtora viria a juntar-se ao grupo Engil, fundado por Fernando José Saraiva e António Lopes de Almeida, em 1952.
A fusão entre a Mota & Companhia e a Engil prolongou-se durante alguns anos perante a complexidade de um processo jurídico que envolveu fusões-cisões, fusões por incorporações e aumentos de capital. Esta “empreitada” só terminaria em 2003 com a criação da maior construtora nacional, a Mota-Engil SGPS, que já na altura era mais do que uma simples construtora. Passou a agregar quatro áreas de negócio distintas: além da engenharia e construção, o grupo também se desenvolvia no setor das concessões e transportes, do imobiliário e turismo, e do ambiente e serviços.
Em 2005, a Mota-Engil dá o salto para o primeiro escalão do mercado acionista nacional, com a inclusão no índice PSI-20, uma promoção lhe permitiu ganhar visibilidade dos investidores e analistas. Terminou o ano a valer 665 milhões de euros, depois de uma escalada de mais de 65% do título e numa altura em que a economia portuguesa dava sinais de cansaço. Mas o grupo já estava imune ao ciclo económico nacional, depois de ter reforçado a sua presença na Europa Central com a constituição da Mota-Engil Polska, na Polónia.
Altos e baixos da Mota-Engil desde 1987
Fonte: Euronext (para os anos anteriores à fusão entre a Mota & Companhia e a Engil, optou-se pela soma simples das capitalizações das empresas).
Mas seria nos dois anos seguintes que a construtora superaria o valor de mil milhões de euros em market cap. Conseguiu-o em 2006 e 2007, antes de a crise do subprime americano ter provocado uma derrocada na economia mundial e ter demolido os mercados financeiros. A Mota-Engil foi arrastada: dos 1.047 milhões de euros no final de 2007 passou para os 481 milhões no final de 2008.
A Mota-Engil voltou a recuperar valor para os acionistas em 2009, antes de mergulhar de novo em 2010 e 2011 com a crise da dívida em Portugal, que veio dinamitar qualquer esperança de ver o mercado das obras públicas voltar aos anos de efervescência da década de 1990, quando a construtora ficou responsável, entre outras obras, pela emblemática Ponte Vasco da Gama, em 1994.
Ciente a importância do mercado internacional, o grupo — já com Gonçalo Moura Martins como CEO, depois de por lá ter passado o antigo ministro das Obras Públicas Jorge Coelho — decidiu realizar um spin-off do seu negócio em África através da colocação em bolsa da Mota-Engil África na praça de Amesterdão em novembro de 2014, com um valor de ação de 11,50 euros. O objetivo era simples: dar músculo financeiro ao mercado onde tudo começou, nos idos de 1952.
Porém, a operação foi tudo menos tranquila. Primeiro porque o grupo viria a sofrer com o impacto da crise que derrubou o Grupo Espírito Santo e o BES no verão desse ano, tendo alterado os planos iniciais (que passavam, por exemplo, por cotar o seu negócio em Londres). Depois porque, com apenas um ano de vida, a Mota-Engil África é de novo absorvida pela casa-mãe a 10 de dezembro de 2015, na sequência de um desempenho angustiante na capital holandesa que atirou a ação para metade da cotação com que foi admitida em bolsa.
Depois de cumprir 70 anos de vida em 2016, o grupo Mota-Engil celebra este ano no seu 30º aniversário na bolsa em franca recuperação — as ações já duplicaram de valor desde o início do ano –, alicerçando o seu negócio em várias áreas e cada vez mais longe de passar apenas pelo cimento e pelo betão das obras que lhe deram origem.
Simultaneamente, apesar do controlo familiar e de raiz portuguesa, é um negócio que gosta de falar várias línguas, como faz questão de sublinhar o chairman do grupo, António Mota, na sua mensagem aos acionistas: “Somos africanos em África, ibero-americanos na América Latina, europeus na Europa, mas somos Mota-Engil em todo o Mundo”.
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