Como se forma um aprendiz de CEO

Curso de 60 horas inclui formações em áreas multidisciplinares como finanças, recursos humanos e marketing. Segunda edição arranca em novembro.

Tudo se aprende, dizem. E, se ser CEO é a ambição da sua vida, o seu sonho profissional mais evidente, há espaço — e tempo — para aprender a sê-lo. Ou, pelo menos, para tentar. Braga organiza desde março a School of CEO [escola de CEO], um curso de 60 horas que decorre às sextas-feiras à tarde e aos sábados de manhã.

Projeto da Escola de CEO arrancou no ano passado. Segunda edição tem início em novembro de 2017.Pixabay

Trinta e dois anos separam a idade de Augusto Miranda da de Francisca Guedes. Mas o curso permitiu que se conhecessem na mesma situação: a de aprendizes de CEO. Os dois fazem parte da primeira turma da escola de Braga, uma parceria entre a Universidade do Minho, a InvestBraga e a Startup Braga.

“O mais importante foi o networking, conhecer pessoas novas, de idades muito diferentes e experiências muito diferenciadoras”, diz ao ECO Augusto Miranda. O consultor da área industrial, que criou a própria empresa em 1996 — que acabou por vender, anos depois, a uma multinacional — tornou-se recentemente investidor em ideias e negócios. Para isso, criou uma espécie de incubadora onde recebe e desenvolve ideias de negócio.

A oportunidade de participar na School de CEO — onde era o aluno mais velho — foi a hipótese ideal para rever conceitos conhecidos e dar-se conta de outros, novidade completa. “Casos do marketing digital, motivação ou contratação. Conheço-as mas, numa realidade, mais industrial, menos startup, menos tecnológica. É uma questão mesmo de apreender como os outros vivem determinadas situações e como estou a viver. E ver até que ponto, esta minha ideia nesta idade, de investir nas tecnologias — não sabendo muito de tecnologia mas tendo algum conhecimento de gestão –, está relacionada com o facto de poder ajudar as pessoas a concretizar ideias e projetos”, explica Augusto, em conversa com o ECO.

A primeira edição da escola de CEO, uma parceria entre a Universidade do Minho, a Startup Braga e a InvestBraga, arrancou em março deste ano. Os primeiros 24 aprendizes de CEO contaram formação em áreas tão diversas como finanças, recursos humanos ou marketing digital. Francisca Menezes, 24 anos, era a mais nova da turma.

Licenciada em Bioquímica e com um mestrado em Bioengenharia, Francisca viu no curso uma oportunidade para aprender coisas novas em áreas de que, até agora, pouco ou nada sabia. “Arranjei emprego enquanto delegada de informação médica. Identifiquei-me com o emprego mas sinto que ainda posso dar mais. Por isso inscrevi-me no curso para aprender mais acerca de outras áreas como marketing. Gostei tanto que agora gostava de o pôr em prática começando, por exemplo, arranjar emprego numa área de marketing”.

Mas engana-se, se pensa que foi no marketing que Francisca mais aprendeu.

O mais importante do curso, aprendi com as pessoas: que custa muito criar uma startup, que dá imenso trabalho, mas que o importante é não desistir.

Francisca Guedes

Aluna da School of CEO

A segunda edição da School of CEO arranca em novembro. As inscrições para o curso que forma Chief Executive Officers já estão abertas. O programa custa 900 euros.

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Ministério Público investiga falha de abastecimento no aeroporto de Lisboa

  • Lusa
  • 25 Maio 2017

O inquérito foi aberto na sequência de uma participação apresentação pela ANA – Aeroportos de Portugal.

O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa está a investigar a falha no abastecimento de combustível ocorrida em 10 de maio no aeroporto de Lisboa, disse hoje fonte oficial da Procuradoria-Geral da República (PGR) à Lusa.

Segundo a fonte, o inquérito foi aberto na sequência de uma participação apresentação pela ANA – Aeroportos de Portugal, cujo presidente executivo anunciou na quarta-feira ter pedido ao Ministério Público uma investigação com o objetivo de vir a ser reclamada uma indemnização por parte da concessionária.

“Apresentámos um pedido de investigação ao Ministério Público e contratámos uma empresa especialista em combustível para apurar a causa” do incidente, que há duas semanas afetou 41.681 passageiros, disse aos deputados o presidente executivo da ANA, Carlos Lacerda, numa audição no parlamento.

A empresa contratada pela ANA é a Bureau Veritas, que se apresenta na sua página na internet como “líder mundial em Testes, Inspeções e Certificação”.

O cancelamento de 97 voos, o atraso de 202 e a divergência de outros 12 voos para outros aeroportos em 10 de maio afetaram, segundo o presidente da ANA, 41.681 passageiros, dos quais 26.704 devido a atrasos, 13.341 por voos cancelados e 1.637 por voos divergidos.

Carlos Lacerda defendeu que não é à gestora que os passageiros afetados devem pedir para serem ressarcidos: “Os passageiros têm de pedir a indemnização às companhias aéreas, pois é com estas que têm contratos de transporte”, adiantando que a gestora recebeu “algumas, mas muito poucas”.

Por isso, adiantou, é junto das companhias aéreas ou até da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) que o número de reclamações de passageiros deve ser solicitado.

“As peritagens dos seguros foram efetuadas e as pessoas afetadas têm de ser ressarcidas”, defendeu, considerando “uma boa ideia” a sugestão de um deputados de publicar no ‘site’ da ANA informação sobre o seu direito dos passageiros lesados serem indemnizados.

A ANA salientou aos deputados que não foram só os passageiros e as companhias aéreas que foram afetados em 10 de maio: “Nós [a ANA] também fomos afetados e queremos uma indemnização”, afirmou Carlos Lacerda.

A gestora do aeroporto de Lisboa, segundo o seu presidente, também foi “extremamente lesada” pelo incidente, assim como “a imagem do país”, com consequências para o turismo nacional.

Quanto à falta de informação nos painéis do aeroporto naquele dia sobre os cancelamentos e atrasos de voos por falta de combustível, Carlos Lacerda explicou aos deputados que isso aconteceu por falta de “informação fiável” para dar aos passageiros.

“Nem a ANA tinha informação sobre quando o abastecimento ia ser retomado”, declarou, porque a “informação que chegava verificava-se não ser correta”.

“Iremos até ao fim nas consequências do que se passou”, disse Carlos Lacerda, explicando aos deputados que nem a ANA, nem as companhias aéreas foram “avisadas” pela responsável do abastecimento de combustível do aeroporto e que a ANA “é especialista em aeroportos, mas não em combustível”.

Carlos Lacerda disse ainda aos deputados ter “consciência” que a ANA “fez tudo, e até mais do que devia ter feito”, para resolver o problema do abastecimento, e classificou o que se passou como “muito grave”, salientando que esta situação foi “inédita” e não tem ainda a causa identificada.

“Só percebendo a causa podemos criar medidas”, para que não se volte a repetir, defendeu.

Carlos Lacerda questionou ainda: “Como é possível os três tanques [de combustível] serem afetados? Nós não sabemos. E essa questão tem de ser respondida”, adiantou, afirmando que tal incidente “não pode voltar a acontecer”.

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Revista de Imprensa Internacional

  • ECO
  • 25 Maio 2017

Temer conta com as forças armadas para acalmar os protestos no Brasil. A economia britânica atrasa-se, a China defende a sua da Moody's. Coca-cola e exploração espacial lançam-se para novas órbitas.

Temer tenta controlar a agitação no Brasil, enquanto na Europa os britânicos assistem a um abrandamento da sua economia. Na Ásia, o governo defende-se da avaliação que a Moody’s fez da dívida, um rating que consideram “ilógico”. As reviravoltas dão-se ainda no mundo dos negócios, com novidades na Coca-Cola e na exploração espacial.

Valor Económico

Temer diz que ‘não hesitará em exercer autoridade do cargo’

A assessoria de Temer passou a mensagem: o Presidente não hesitará em “exercer autoridade” sempre que for “considerado necessário”. As declarações são proferidas num contexto em que as Forças Armadas do Distrito Federal estão autorizadas a intervir nos protestos em Brasília até que a ordem seja reestabelecida.  Leia a notícia completa no Valor Económico (Acesso gratuito / conteúdo em português)

Bloomberg

Economia do Reino Unido enfraquece mais do que o esperado. Crescimento cai para os 0,2%

A economia do Reino Unido já nota recuos nas despesas dos consumidores, que atingem mínimos desde 2014, e na exportação, cuja queda também bate recordes. O crescimento revela-se abaixo das expetativas. O primeiro trimestre registou uma quebra de 0,1% em relação aos valores publicados em abril. Em termos homólogos, a queda é bastante superior: em 2016, a economia britânica estava a crescer 0,7% por esta altura. Leia a notícia completa na Bloomberg (Acesso gratuito / conteúdo em inglês)

The Guardian

Nova Zelândia lança-se à “corrida espacial” com um foguetão impresso em 3D

O lançamento do foguetão low-cost foi um sucesso. A Nova Zelândia lança-se assim como um novo centro geográfico para a tecnologia espacial e ajuda a quebrar barreiras logísticas e financeiras na exploração espacial. O lançamento foi feito na quinta-feira e a equipa já mostrou a satisfação através do Twitter. Leia a notícia completa no The Guardian. (Acesso gratuito / conteúdo em inglês)

The Economist

Novo CEO da Coca-Cola quer expandir para além do produto principal

70% do portefólio da gigante Coca-Cola assenta no refrigerante da marca. Menos 20% do que em 2000, mas ainda assim, uma percentagem que preocupa os investidores: eles querem crescer a margem de lucro enquanto a venda de refrigerantes oferece cada vez mais restrições. O CEO, Quincey diz que a direção é clara: “Vamos alargar o portefólio”. Leia a notícia completa na The Economist (Acesso gratuito / conteúdo em inglês)

Reuters

A desclassificação da China pela Moody’s é “ilógica”, agiganta a dívida 

Numa entrevista ao People’s Daily, Mei Xinyu, um economista do ministério do Comércio, afirma que o rating atribuído à dívida chinesa é “ilógico” e acusa a Moody’s de expor a dívida de forma desproporcional em relação à realidade. A agência de rating é acusada de ter dado demasiada relevância à dependência de estímulos e ao nível da dívida. Leia a notícia completa na Reuters (Acesso condicionado / conteúdo em inglês)

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Moody’s: saída do PDE é “positiva” para o rating. É desta?

A primeira nota depois do PDE mostra otimismo com Portugal a curto prazo, mas deixa avisos. A próxima revisão do rating da dívida portuguesa feita pela Moody's está prevista para 1 de setembro.

Na primeira reação à provável saída de Portugal do Procedimento por Défices Excessivos (PDE), a agência de rating considera que essa decisão é “positiva” para o rating da dívida portuguesa. Contudo, a Moody’s tem dúvidas sobre a manutenção da estratégia orçamental de contenção da despesa pública, apesar de concordar com a perspetiva da Comissão Europeia de que o país continuará com um défice inferior a 3%. Os juros da dívida devem continuar a baixar, mas a redução do programa de compras do BCE prevista para o final do ano pode comprometer essa trajetória. A próxima decisão da Moody’s relativa a Portugal está prevista para 1 de setembro. 

Ainda não é uma decisão, mas é um sinal de que Portugal está no caminho certo. Apesar de deixar bastantes dúvidas e avisos, a Moody’s realça a recomendação da Comissão Europeia para retirar Portugal do PDE é uma boa notícia. No primeiro comentário à situação portuguesa depois desse anúncio, a agência de rating escreve que o Governo português terá ainda mais restrições orçamentais ao passar para o braço preventivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Em causa estão duas metas: um excedente orçamental estrutural de 0,25% do PIB e a aceleração do peso da dívida pública, que atualmente supera os 130%.

Do lado da consolidação orçamental, ainda que a agência confie que o défice ficará abaixo dos 3%, há um alerta: “A melhoria orçamental nos próximos dois anos depende fortemente em receitas de one-offs [não recorrentes] e no congelamento dos gastos em bens e serviços, o que provavelmente será difícil de sustentar a longo prazo“. Do lado da dívida, a Moody’s confia que a dívida vai diminuir mas a um passo muito mais lento do que previsto pelo Governo, atingindo os 125% do PIB em 2020. Em aberto fica uma melhoria do rating de Portugal, algo que a agência não considera neste comentário.

A Moody’s atribui atualmente uma notação financeira de Ba1, um nível considerado de “lixo”, com perspetivas estáveis. Na nota que lançou na semana passada, a agência de rating sinalizava que o rating poderia melhorar caso houvesse indicações de que o Governo está comprometido com a consolidação fiscal e a redução da dívida. O foco da Moody’s está no risco da sustentabilidade da dívida pública, uma debilidade que também o Banco Central Europeu apontou esta quarta-feira num relatório sobre a estabilidade financeira.

Contudo, a Moody’s assinala que a recomendação da Comissão Europeia vai ajudar a fortalecer a confiança dos investidores e a manter as condições de financiamento de Portugal “favoráveis”. Além disso, a redução dos juros da dívida também é fruto das menores preocupações dos investidores com as eleições europeias. Contudo, a Moody’s alerta também que os desafios mantêm-se dado que ainda não se sabe exatamente quando é que o Banco Central Europeu vai terminar o programa de compras e a forma como irá fazê-lo.

(Atualizado pela última vez às 12h22)

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Alegada fraude fiscal de Ronaldo chega a 15 milhões de euros

Cristiano Ronaldo não terá pago 15 milhões de euros ao Fisco espanhol. A imprensa espanhola deixa em aberto se haverá caso judicial ou se será apenas administrativo, aplicando-se uma coima.

O Fisco espanhol considera que o jogador português tem oito milhões de euros de impostos por pagar, avançou esta quinta-feira a rádio espanhola COPE, segundo um documento enviado à Procuradoria de Madrid. Mais tarde, o El Mundo e o Europa Press vieram elevar o número para os 15 milhões de euros. Em causa estão as receitas com direitos de imagem entre 2011 e 2013 cujos impostos não terão sido pagos na íntegra à Autoridade Tributária espanhola. Contudo, ainda não é claro se se trata de uma violação da lei ou de uma infração administrativa. Se considerado culpado, Ronaldo terá não só de entregar os oito milhões de euros e pagar a multa correspondente, como poderá ter quatro meses de prisão por cada ano fiscal (pena suspensa) se os juízos o condenarem por delito fiscal. 

Depois de esta quarta-feira o Supremo espanhol ter confirmado a condenação de Lionel Messi a 21 meses de pena suspensa, a imprensa espanhola volta a noticiar um caso de alegada infração fiscal relativa à indústria do futebol. Neste caso é Cristiano Ronaldo o visado que, segundo informações do El Confidencial da semana passada, vai ser acusado de fraude fiscal também por ter evitado pagar impostos sobre direitos de imagem usando uma empresa irlandesa. A Autoridade Tributária do país vizinho estará a finalizar a acusação contra o futebolista português, já que o caso, que remonta a 2011, prescreve a 30 de junho deste ano.

A rádio espanhola explica que Ronaldo tentou regularizar a sua situação fiscal, mas a investigação iniciada em dezembro de 2015 — à qual acrescem os dados revelados pelo Football Leaks — pela Autoridade Tributária espanhola indicia que os 5,6 milhões de euros pagos pelo jogador não chegam para saldar as dívidas.

Cristiano Ronaldo terá assim de pagar mais oito milhões de euros relativos a impostos sobre receitas de direitos de imagem, mas também sobre prémios e outras receitas sobre as quais incide um imposto mais elevado. Segundo a COPE, trata-se agora de saber qual o caminho que o Fisco espanhol vai seguir: a via penal ou a via administrativa.

Horas depois, a Europa Press citava fontes ficais para dizer que Cristiano Ronaldo tem 15 milhões de euros por pagar desde 2011 e 2014. Também o jornal espanhol El Mundo corroborou estes números.

Segundo a investigação dos Football Leaks, o jogador português usou alegadamente um paraíso fiscal para esconder quase 150 milhões de euros e pagar menos impostos. Em causa, tal como com a empresa irlandesa, estão as receitas provenientes de direitos de imagem que iriam para empresas-fantasma sediadas no offshore das Ilhas Virgens Britânicas, nas Caraíbas.

Por pagar, terão ficado 63,5 milhões de euros em impostos. O esquema terá começado em 2009, meses antes da chegada do craque ao clube madrileno, e envolve mesmo contratos para o período de 2015 a 2020.

(Atualizado às 16h53 com os números avançados pela Europa Press e pelo El Mundo)

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OPEP chega a acordo para prolongar cortes, petróleo cai 0,6%

Alta volatilidade em torno das cotações do barril de ouro negro. A OPEP já chegou a acordo. Produção de petróleo prolonga-se por mais nove meses. Mercados acham pouco.

Dois delegados presentes na reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) adiantaram ao Financial Times (acesso pago / conteúdo em inglês) que o cartel já chegou um acordo para prolongar os cortes na produção de petróleo por mais nove meses, além do inicialmente estabelecido. Mas o mercado parece pouco convencido da eficácia da decisão.

Tanto o Brent com o WTI já estiveram a valorizar mais de 1% esta manhã. Mas à medida que os vários responsáveis daquele cartel, reunido em Viena, foram falando ao longo da manhã aos jornalistas, os preços do ouro negro iniciaram uma jornada de alta volatilidade. Chegaram a cair mais de 2%. Entretanto, os preços suavizaram as quedas e estão agora a cair 0,66% para 51,01 dólares, no caso do WTI, e 0,52% para 53,70 dólares, no caso do Brent.

Volatilidade do Brent

Fonte: Bloomberg (valores em dólares)

A maior parte dos membros da OPEP esteve alinhada num prolongamento do acordo para controlar a produção de petróleo no seio do cartel por mais nove meses. Isto porque, seis meses após a formação de uma coligação inédita, que juntou até países produtores de fora da OPEP, o mercado continua a apresentar excessos que impedem uma subida sustentada do preço dos barris.

A OPEP e outros 11 produtores concordaram, no ano passado, cortar a produção até 1,8 milhões de barris por dia. Este corte devia durar apenas seis meses. É agora prolongado. Tal como aconteceu no primeiro acordo, vários países fora da OPEP, incluindo a Rússia, vão adotar este corte.

“Opção segura” da Arábia não convence mercado

Esta manhã, o ponto de maior tensão no mercado aconteceu quando o ministro do Petróleo saudita se mostrou mais cauteloso do que o esperado nas declarações aos jornalistas.

Nove meses com o mesmo nível de produção “é uma opção muito segura e quase uma certeza para fazer face ao problema”, declarou Khalid Al-Falih, aos jornalistas. “É provável que encontraremos uma situação de equilíbrio mais cedo do que tarde”, declarou o responsável árabe.

Para o mercado, esta decisão pouco impacto terá. Apesar das extremas variações do petróleo durante a sessão desta quinta-feira, a verdade é que o mercado de opções apresentava-se mais estável, o que deixa antever as expectativas dos investidores em relação aos preços petrolíferos no médio prazo. Praticamente não mudaram face ao nível que o barril está a negociar atualmente.

“Uma extensão de nove meses terá pouco impacto na nossa previsão para 2017, que aponta para um preço médio de 55 dólares por barril para o Brent, referiu a consultora de energia Wood Mackenzie, em antecipação a este acordo.

(Notícia atualizada às 12h01)

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Segundo trimestre acima de 3%. Mário Centeno tem uma bola de cristal?

  • Margarida Peixoto
  • 25 Maio 2017

O segundo trimestre vai a meio. Mas Mário Centeno já prevê um crescimento acima de 3% entre abril e junho. O ministro das Finanças tem uma bola de cristal?

Mário Centeno, ministro das Finanças, já está a contar com um crescimento acima de 2% em 2017. Ainda faltam 37 dias para o segundo trimestre de 2017 terminar. O Instituto Nacional de Estatística (INE) só se vai atrever a fazer uma estimativa preliminar sobre o crescimento económico do segundo trimestre a 14 de agosto. Mas esta quarta-feira, o ministro das Finanças disse à Reuters que já está à espera que o PIB avance “mais de 3%”. Mário Centeno tem uma bola de cristal? Ou está a atirar-se para fora de pé?

Com menos de metade do trimestre ainda por decorrer, os indicadores de mais curto prazo sobre o andamento económico são escassos. Mas Mário Centeno disse à Reuters que, em termos homólogos, o segundo semestre irá registar um crescimento de “mais de 3%, dada a aceleração que estamos a observar.”

É certo que o INE diz que o indicador de clima económico, já disponível até abril, aumentou. E que o Banco de Portugal acrescenta que o indicador coincidente, que serve precisamente para medir o ritmo da atividade económica, arrancou o segundo trimestre ao nível mais elevado dos últimos dez anos: aumentou 2,5%, uma subida considerável. Mas há pouco mais sobre os meses entre abril e junho. Desde logo, porque maio ainda não terminou e junho ainda nem começou.

Assim sendo, faz sentido que o ministro esteja já a prever um ritmo tão acelerado para o crescimento português? “Faz”, responde Rui Constantino, economista-chefe do Santander. “Sim”, corrobora Filipe Garcia, economista do IMF – Informação de Mercados Financeiros. E não é porque o ministro saiba prever o futuro, mas antes porque os indicadores avançados e a matemática assim o indicam. Mais: Rui Constantino adianta ao ECO que o próprio Santander também está a apontar para um crescimento em torno de 3%.

Porquê?

Desde logo, porque o crescimento do primeiro trimestre foi muito forte e porque o período comparável de 2016 foi fraco. “Basta crescer acima de 0,2% em cadeia, para que o crescimento homólogo fique em torno de 3%”, garante o economista. Rui Constantino explica que uma forma de antever o crescimento homólogo de um determinado trimestre é somar ao valor do crescimento homólogo registado no período imediatamente anterior, o crescimento em cadeia esperado. Depois, subtrai-se o valor do crescimento em cadeia registado no período com o qual estamos a comparar.

No caso em análise, quer dizer que somamos a 2,8% — o crescimento homólogo do primeiro trimestre — o valor do crescimento trimestral esperado para o segundo trimestre. Depois, subtraímos 0,2 pontos percentuais, que foi o crescimento em cadeia do segundo trimestre de 2016.

Contas feitas, quer dizer que basta crescer mais de 0,2% entre abril e junho, face aos primeiros três meses deste ano, para que o crescimento homólogo do segundo trimestre de 2017 seja superior a 2,8% — logo, em torno de 3%.

"Mas já agora, vale a pena dizer que no segundo semestre o crescimento abrandará para valores em torno de 2,2%.”

Rui Constantino

Economista-chefe do Santander

Ora, os poucos indicadores que existem apontam para uma aceleração da atividade neste arranque de trimestre. “Normalmente, há uma boa aderência entre o PIB, os dados do comércio internacional, a produção industrial e o emprego”, diz Filipe Garcia. “Claro que ainda com junho por decorrer é uma previsão arriscada”, reconhece. E dá um exemplo: bastaria que o Porto de Sines paralisasse durante umas semanas, por qualquer razão, para que a projeção fique furada. Mas o que os dados existentes mostram “é que estamos numa trajetória de aceleração”, assegura o economista do IMF.

"Claro que ainda com junho por decorrer é uma previsão arriscada.”

Filipe Garcia

Economista do IMF - Informação de Mercados Financeiros

Além disso, lembra Rui Constantino, a Páscoa este ano foi em abril. “A Páscoa é o segundo mês mais forte de consumo privado do ano, a seguir ao Natal”, nota o economista. E em 2016 a Páscoa celebrou-se em março — por isso, o segundo trimestre deste ano vai contar com a ajuda deste efeito na base de comparação.

Do mesmo modo, o modelo de previsão utilizado pelo Santander para projetar o crescimento anual aponta para um segundo trimestre com este nível de atividade. “Mas já agora, vale a pena dizer que no segundo semestre o crescimento abrandará para valores em torno de 2,2%”, avisa Rui Constantino. É que a segunda metade de 2016 correu bem melhor do que a primeira, o que torna mais difícil crescer, em termos comparativos, como o ECO já explicou aqui.

Fotomontagem de Raquel Sá Martins

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Manchester: Reino Unido não partilha informação com EUA

  • ECO
  • 25 Maio 2017

As fugas de informações nos media norte-americanos deixaram a polícia britânica furiosa. Em reação, o Reino Unido deixou de partilhar os pormenores da investigação.

A polícia britânica que está a investigar o ataque bombista na Manchester Arena deixou de partilhar informações com os Estados Unidos, avança esta quinta-feira a BBC. A razão passa pela divulgação de vários pormenores secretos desta investigação na imprensa norte-americana, nomeadamente com a divulgação pelo The New York Times de fotografias específicas relacionadas com o ataque. Antes disso, também tinham sido os media dos Estados Unidos a revelar a identidade do bombista, Salman Abedi, 24h depois do ataque.

Face a esta situação, a BBC escreve que Theresa May irá interceder junto de Donald Trump esta quinta-feira no encontro da NATO. Já ontem a polícia de Manchester mostrou a sua “fúria” perante as fugas de informações, mas as relações de troca de informação com as autoridades norte-americanas deverá normalizar em breve. A própria ministra do Interior do Governo de May, Amber Rudd, disse esta quarta-feira estar “irritada” com a revelação de informações relativas a esta investigação. “Não deverá acontecer outra vez”, avisou Rudd.

A televisão britânica estatal explica que a força policial que está a liderar a investigação no local fornece as suas informações à autoridade nacional contra-terrorista. Essa agência é quem partilha os dados recolhidos com outros países, nomeadamente os Estados Unidos, a Austrália, o Canadá e a Nova Zelândia, por causa de um acordo de partilha de informação secreta chamado “Five Eyes”.

Não deverá acontecer outra vez.

Amber Rudd

Ministra do Interior britânica

Numa altura em que o Reino Unido tem o nível de ameaça classificado de “crítico”, a NATO reúne-se esta quinta-feira, em Bruxelas, pela primeira vez com Donald Trump à frente dos destinos da Casa Branca. O secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, já anunciou que a NATO vai juntar-se à coligação internacional que está a lutar contra o grupo extremista Daesh (auto denominado Estado Islâmico). Contudo, Stoltenberg avisou que isso não implicará uma ação militar direta.

O ataque foi levado a cabo por Salman Abedi, britânico de 22 anos cuja família veio da Líbia, que também morreu com a explosão. Atualmente existe um total de oito homens detidos por alegado envolvimento na rede que preparado o ataque. No total, o atentado suicida — que ocorreu depois do concerto da cantora norte-americana Ariana Grande — fez 22 mortos e 64 feridos. O grupo radical Daesh já reivindicou o ataque. O explosivo terá sido semelhante ao utilizado nos ataques em Paris e Bruxelas dos últimos dois anos.

Unidade de desminagem chamada a universidade de Manchester

Uma unidade policial de desarmamento de engenhos explosivos foi enviada, ao final da manhã, a Hulme e não Trafford, como inicialmente foi anunciado, em Manchester, a noroeste de Inglaterra, na sequência de “uma chamada”, anunciou a polícia britânica.

Várias ruas em redor da universidade foram encerradas e a polícia só desfizeram o cordão de segurança depois de a brigada de minas e armadilhas ter considerado que o pacote não representava qualquer ameaça.

Segundo responsáveis dos serviços de segurança, desde 2013 já foram evitados 18 ataques terroristas, cinco dos quais depois dos ataques de Westminster, em março, revela uma jornalista da BBC, no Twiter.

Rainha visita as vítimas

A rainha Isabel II visitou no hospital esta quinta-feira algumas vítimas do atentado de Manchester, assim como médicos, enfermeiras e membros do serviço de urgência que responderam ao ataque, que matou 22 pessoas e feriu mais de cem, avança a Reuters.

A rainha falou com os jovens pacientes hospitalizados no Royal Manchester Children’s Hospital, onde 19 feridos ainda estão a ser tratados, cinco ainda em estado crítico, depois do atentado que a rainha classificou de “perverso”.

O novo balanço do Serviço Nacional de Saúde britânico dá conta de 75 feridos que necessitaram de hospitalização, sendo que 23 ainda se encontram nos cuidados intensivos. Mas, no total, os oito hospitais circundantes trataram de 116 feridos relacionados com o atentado levado a cabo durante o concerto de Ariana Grande.

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Maria de Belém ainda não fechou contas das presidenciais

Sem a ajuda do Partido Socialista, do qual é militante, Maria de Belém não superou os 5% de votos e assim ficou sem acesso à subvenção estatal. A dívida das presidenciais continua por saldar.

Mais de um ano depois, a candidata presidencial ainda não saldou as contas das eleições presidenciais de 2016. A sua campanha previa gastar 650 mil euros e, mesmo tendo gasto menos (cerca de 500 mil euros), a militante do PS não atingiu os 5% nas eleições para Belém e não teve direito à subvenção, o que lhe teria permitido pagar a dívida. A candidata terá ainda dois terços da dívida por pagar neste momento, mas a legislação dá-lhe folga em termos de prazos.

“As contas das presidenciais são um problema meu que se resolve com contribuições”, explicou esta quinta-feira de manhã na SIC Notícias. Contudo, a ex-candidata à Presidência da República admitiu que esse é um problema que persiste. Em fevereiro deste ano, o Diário de Notícias avançou que Maria de Belém pagou 200 mil euros da dívida, a título pessoal, mas ainda restam 300 mil euros por pagar.

Maria de Belém Roseira conseguiu 4,24% dos votos — cerca de 200 mil –, não chegando assim aos 5% que lhe permitiria ter acesso à subvenção do Estado. Tal como sinalizou esta quinta-feria, a socialista está refém das contribuições dos seus apoiantes para fazer face à dívida. Até ao momento, o Partido Socialista — que não apoiou nenhum candidato oficialmente — não indicou se iria ajudar Maria de Belém.

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BCE contra proposta da esquerda de limitar pagamentos em dinheiro vivo

  • ECO
  • 25 Maio 2017

Teto de 3.000 euros para pagamentos em dinheiro vivo? O BCE não percebe os alicerces da medida proposta pela esquerda e critica-os um por um no seu parecer.

O Banco Central Europeu foi chamado a dar o parecer e dois meses depois ele chegou: um conjunto de críticas que cobrem todos os aspetos da medida. O BCE considera o teto de 3.000 euros para pagamentos em dinheiro vivo “desproporcional” para além de falhar nos seus objetivos e não olhar às consequências. A entidade europeia desconstrói assim uma medida que, a seu ver, foi em tudo mal construída.

Começando pelo valor: o teto de 3.000 euros só desvaloriza a medida. O BCE aponta a quantia como “desproporcionalmente baixa” e assinala que o patamar de referência na Europa de momento são os 10.000 euros. A proposta da esquerda portuguesa de facto prevê que não residentes tenham uma margem de pagamento até aos 10.000 euros — o teto de 3.000 euros aplica-se somente a residentes no país.  Esta distinção, na ótica do banco europeu, é “discriminatória” e “sem aparente justificação” refere o Jornal de Negócios.

Quais os custos e os benefícios? O trabalho de casa não parece ter sido feito, já que o projeto não refere o impacto social. O BCE resolve relembrar ao Governo as vantagens de utilização da moeda. Este é um meio rápido de pagamento, que goza de uma aceitação generalizada e que não implica custos como comissões, para além de permitir ao pagador ter mais presente a noção dos gastos.

Ainda em termos de benefícios, o objetivo de combater a evasão fiscal não será atingido com esta medida, na opinião do BCE. Isto porque muitas operações não são tributáveis, vindo somente dificultar as transações em dinheiro. É desejável que haja alguma flexibilidade nos pagamentos em numerário para o caso de não existir outro método disponível na altura da transação.

Outras pontas ficam por atar. Por um lado, o que é considerado “pagamento parcelar” não está suficientemente bem definido para o banco europeu. Por outro, a falha a articulação com outras leis. Por exemplo, esta medida parece chocar com a Lei Geral Tributária quando esta determina que os pagamentos acima de 1000 euros, a serem efetuados por empresas, devem ser feitos por transferência, cheque ou débito direto, ou não serão contabilizados como custo fiscal.

No final de contas, o Banco Central Europeu defende que este tipo de medidas deve prever algumas exceções, não só para quando não há um prestador de serviços que possa facilitar o ato de pagamento mas também para os casos em que a rastreabilidade possa ser garantida pelas partes envolvidas.

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Em 19 meses, António Costa teve 19 greves. Passos o dobro

  • Marta Santos Silva e Raquel Sá Martins
  • 25 Maio 2017

"Enquanto se negoceia não se luta." Amanhã é a terceira greve geral da Função Pública no Governo de António Costa, mas o setor parou mais com Passos Coelho. O que mudou e o que ficou na mesma?

Esta sexta-feira a Função Pública sai à rua, convocada pela CGTP. É a terceira greve geral do setor no mandato de António Costa, que já vai em 19 meses. Comparado com o mandato anterior, os sindicatos estão mais calados? O que dizem os números? O ECO foi contar e comparar: os sindicatos da Função Pública eram mais barulhentos no Executivo de Passos Coelho? Havia mais cartazes com mensagens de protesto em São Bento? Sim, e não: depende dos setores.

No total, torna-se claro que as greves sob Passos Coelho eram mais frequentes. O ECO foi contar as paralisações no setor público durante o mandato de António Costa, e nos 19 meses anteriores às eleições legislativas de 2015, no final do mandato de Pedro Passos Coelho, e a diferença é clara: 19 greves para Costa, 36 greves para Passos, quase o dobro das verificadas com o seu sucessor. Quer isso dizer que os sindicatos da Administração Pública andam mais silenciosos? O que se passa nos bastidores? Mais à frente, falamos de dois setores contrastantes: enquanto nos transportes as greves caíram drasticamente de Passos para Costa, os enfermeiros continuam a fazer paralisações quase com a mesma frequência.

Infografia de Raquel Sá Martins

Primeiro, o esclarecimento: de onde vêm estes números? O ECO decidiu comparar um período de tempo contínuo — os últimos 19 meses do mandato de Pedro Passos Coelho, de março de 2014 a setembro de 2015, com os 19 meses em que António Costa esteve no Governo, de novembro de 2015 até maio de 2017 — e olhar para as greves nos setores dos transportes, da saúde e da educação. Os últimos 19 meses de Passos coincidem já com um período praticamente sem troika (que abandonou o país oficialmente em maio de 2014) e com a economia a recuperar, tendência que se manteve com Costa em 2016 e continua em 2017.

Foram contabilizadas greves com impacto no horário normal de trabalho (não foram incluídas, por exemplo, greves às horas extraordinárias) e as greves gerais da Função Pública. Como foram contadas? Através da compilação das notícias na comunicação social sobre a adesão às greves — assim, pode ter havido greves menos mediatizadas que não tenham sido incluídas nesta contagem.

Um olhar de relance mostra que as greves diminuíram. Porquê? O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, disse ao ECO que, “desde logo, houve um conjunto de reivindicações da Administração Pública que foram respondidas” quando houve mudanças em São Bento a partir de novembro de 2015, com exemplos: “A reposição das 35 horas de trabalho semanal, a reposição dos feriados, a abertura para o Governo negociar a regularização dos trabalhadores com vínculos precários…”. Para Arménio Carlos, “se há resposta às reivindicações, os trabalhadores não vão lutar contra aquilo que reivindicaram”.

José Abraão, dirigente da FESAP (Federação de Sindicatos de Administração Pública) afeta à UGT, diz que “a razão fundamental tem sido a abertura negocial que vem sendo manifestada pelo Governo”. Para o sindicalista, os compromissos negociais, como aquele que a FESAP assinou recentemente com o Ministério das Finanças, fazem com que não seja necessário sair à rua para reivindicar as exigências. “Enquanto se negoceia não se luta”, afirmou.

Por altura da última greve geral da Função Pública, convocada para poder trazer a Lisboa funcionários públicos de todo o país e que, no dia 18 de novembro do ano passado, fechou escolas e encerrou serviços hospitalares, o ECO procurou junto de politólogos e sociólogos as motivações dos sindicatos num período em que o acordo parlamentar de esquerdas, conhecido como “Geringonça”, parece satisfazer muitas das suas reivindicações. “Parece-me que têm canais de diálogo fáceis agora”, afirmou Jorge Malheiros, do Centro de Estudos Geográficos, defendendo que há, assim, menos necessidade de sair à rua para exigir uma porta aberta para negociar. “Os tempos mudaram, e ainda bem”, disse o politólogo José Adelino Maltez. “É ver, pela primeira vez, a Intersindical a sentar-se à mesa e a produzir declarações de compromisso com o sistema político, e os patrões a passarem a ser a oposição”.

O histórico dirigente sindicalista Manuel Carvalho da Silva, que deixou a liderança da CGTP em 2012, rejeita fazer grandes avaliações das repercussões do ano que passou. “Não se pode analisar a ação dos sindicatos apenas por aquilo que eles fazem ou não fazem comparativamente com situações anteriores”, explicou ao ECO o atual coordenador do Centro de Estudos Sociais em novembro, questionado sobre a redução do número de greves. “Mudam os contextos. Há múltiplos campos que se cruzam: o clima de diálogo ou inexistência de diálogo, regulações ou não regulações entre o financeiro e o económico…”

Esse clima de diálogo não afeta todos os setores igualmente. Se olharmos para as greves gerais, por exemplo, nos períodos em análise, Pedro Passos Coelho viu apenas uma paralisação generalizada na Administração Pública, enquanto António Costa, a contar com a de amanhã, conta com três — uma pelo regresso às 35 horas, outra para reivindicar a integração de precários, e a de amanhã, convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSTFPS), motivada por várias reivindicações: as 35 horas para todos, visto que há trabalhadores que ainda não estão abrangidos, e os aumentos salariais estão entre elas. Mas os contrastes são fortes: nos transportes, houve muito menos greves com Costa; no caso dos enfermeiros, a intensidade mantém-se. Quais as diferenças?

O que mudou tanto para os transportes?

As indicações de que algo mudara nos transportes começaram logo no início do mandato Costa. Uma greve parcial do metro de Lisboa para os dias 9, 10 e 11 de dezembro de 2015 foi desconvocada, numa decisão considerada “histórica” por Anabela Carvalheira, da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), à TVI 24, por ter sido encontrado um entendimento com o novo Governo sobre a abertura de um processo de negociação.

A diferença é flagrante. Os últimos 19 meses de Passos Coelho viram 24 greves dos transportes (entre a CP, a Refer, a Soflusa, a Transtejo, a Carris, o Metro de Lisboa, os STCP e a TAP), e os primeiros de Costa apenas duas, da CP e dos STCP. O que mudou?

Para José Manuel Oliveira, da Fectrans, afeta à CGTP, o principal motivo da redução das greves foi a resolução rápida de vários conflitos diferentes. Desde a reposição dos salários dos funcionários públicos à paragem da privatização das empresas onde essa estava em curso, passando por “matérias relativas a carreiras profissionais” e a questões de contratação coletiva em certas empresas, o período tem sido de soluções. “Como há negociação, há sempre expetativa na resolução de problemas. Ao Governo anterior podíamos fazer propostas, que a resposta era sempre a mesma. Agora tem havido propostas e respostas”, afirma o sindicalista ao ECO.

Mas ainda há coisas por resolver nesta área, sublinha o dirigente sindical: “Uma delas é o funcionamento das empresas em condições de prestarem um serviço de qualidade aos utentes, o que tem a ver com a questão dos equipamentos. Tem havido uma degradação ao longo destes últimos anos e não estão a ser ainda resolvidos esses problemas, apesar de haver um discurso neste sentido”.

Porque mudou tão pouco para os enfermeiros?

Na área da saúde, António Costa leva a vantagem ao seu antecessor em termos de greves. Começando pela mais recente, a dos médicos, também já paralisaram funcionários dos hospitais, técnicos de diagnóstico e, em especial, os enfermeiros, que fizeram greve oito vezes, para sete com Pedro Passos Coelho nos últimos 19 meses de mandato. “A principal causa que nos tem levado a desenvolver uma série de períodos de greve tem a ver com a falta de enfermeiros que se mantém“, diz Guadalupe Simões, dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Também preocupa a sindicalista que os enfermeiros com contrato individual de trabalho ainda não tenham acesso às 35 horas de trabalho semanal, assim como “a revisão da grelha salarial”.

Como se compara este Governo ao anterior? Guadalupe Simões responde de forma contrária ao que o número de greves parece indicar. “Há maior abertura e compromisso, é verdade”, reconhece. “Vamos ver se se concretiza”.

“Há atualmente um compromisso assumido por parte do Ministério da Saúde de resolver os problemas, comparativamente ao anterior Governo cuja perspetiva de realização nem sequer existia”, afirma. No entanto, “os enfermeiros não esquecem que este mesmo Governo no ano passado, em junho, assumiu que as 35 horas seriam para todos os enfermeiros independentemente do vínculo e depois recuou”.

O poder da greve… que pode estar de volta

Para que serve, afinal, uma greve? Para José Abraão, “tem sempre duas vertentes”. O sindicalista explica: “A primeira é a sensibilização da opinião pública para os problemas que motivaram a emissão do pré-aviso de greve, a sua visibilidade, o impacto nos serviços. A segunda é, se os governos têm sensibilidade e bom senso, procurarem interpretar aquilo que está no pré-aviso de greve” como uma necessidade de ação e mudança.

Também Arménio Carlos considera que, “a partir do momento em que há uma grande participação, isso dá mais força negocial” ao sindicato, por ter “a força de dezenas de milhares de trabalhadores que na sua retaguarda dizem ao governo que estão com o seu sindicato”.

E as greves podem estar de regresso em força. “Já temos para sexta-feira anunciada uma greve da Função Pública”, relembra Arménio Carlos, da CGTP, sobre a paralisação de amanhã, que se espera venha a afetar os serviços. “Face a alguma estagnação do Governo em relação às reivindicações dos trabalhadores, está a haver algum aumento da contestação”.

Ao ECO, José Manuel Oliveira, da Fectrans, ficou no mesmo tom: “Começamos também a sentir que isto já andou melhor do que está a andar agora”, referiu. “O facto é que começamos a ter menos respostas aos problemas”, afirmou o sindicalista.

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Altice prepara-se para guerra com a Nos. Ganha o setor dos media

BPI Research prevê intensificação da guerra da Altice (Meo) com a Nos no mercado português. Quem vai ganhar com isso são as empresas de media com o esforço de marketing e publicidade do grupo francês.

A guerra no setor das telecomunicações em Portugal está aí à porta. Com a mudança das marcas PT e Meo, a Altice está preparar-se para uma intensa batalha com a rival Nos no mercado português. Para os analistas do BPI Research, já há um vencedor à partida: as empresas de media.

Dois anos após ter comprado a PT Portugal, o grupo de comunicações francês decidiu acabar com as insígnias Meo e PT, reunindo os seus ativos em todo o mundo numa só marca, Altice. Com a assinatura “Together Has No Limits”, em português “juntos não há limites”, Michel Combes anunciou esta semana a nova estratégia global e explicou que o nome, a marca e o novo logótipo vão substituir gradualmente as atuais marcas em cada operação da Altice no mundo.

O BPI Research acredita que as mudanças em Portugal deverão ocorrer até final do primeiro semestre do próximo ano. Mas para já vai antevendo uma forte luta da Altice para conquistar quota de mercado à Nos NOS 0,00% . Como?

“A mudança de marca da Altice deverá aumentar significativamente os esforços de marketing e deverá colocar maior pressão sobre a Nos. Antecipamos promoções mais agressivas e um impulso significativo nas despesas com publicidade”, refere o analista Pedro Oliveira, que assina a nota do BPI Research.

"A mudança de marca da Altice deverá aumentar significativamente os esforços de marketing e deverá colocar maior pressão sobre a Nos. Antecipamos promoções mais agressivas e um impulso significativo nas despesas com publicidade.”

Pedro Oliveira

BPI Research

A Nos terminou o ano passado com uma quota de mercado de perto de 30%, depois de ter alcançado receitas de 1,515 mil milhões de euros. Isto num mercado de telecomunicações português conta ainda com outro grande operador: a Vodafone. E ainda com o grupo Apax, que detém a Cabovisão/Nowo.

Boas notícias para os media

Para o BPI Research, quem sai a ganhar com a renovação da marca da Altice são as empresas de media perante um reforço da aposta do grupo francês em campanhas publicitárias nas televisões, rádios, jornais, sites e outros meios.

São boas notícias para o setor num contexto em que as receitas publicitárias dos principais grupos de media em Portugal estão sob pressão. Em 2016, ainda assim, houve uma ligeira melhoria do desempenho de Media Capital (TVI, Rádio Comercial, entre outros), Impresa (Sic, Expresso e Visão, entre outros) e Cofina (Correio da Manhã, CMTV, Record e Jornal de Negócios, entre outros) neste segmento, acompanhando a recuperação económica do país.

Estes três grupos registaram proveitos com publicidade globais ligeiramente acima dos 270 milhões de euros no ano passado, um aumento de 0,4% face a 2015.

Nota: A informação apresentada tem por base a nota emitida pelo banco de investimento, não constituindo uma qualquer recomendação por parte do ECO. Para efeitos de decisão de investimento, o leitor deve procurar junto do banco de investimento a nota na íntegra e consultar o seu intermediário financeiro.

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