Situação dos 107 trabalhadores da central de Sines está estudada

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Uma parte preenche requisitos de reforma e pré-reforma, pelo que poderá ser acordada a passagem a essa condição, e os restantes terão acesso de oportunidades de mobilidade na EDP.

A EDP garantiu que tem estudada a situação dos 107 trabalhadores da central de carvão de Sines, que a empresa pretende encerrar em janeiro de 2021, disse à Lusa fonte oficial da energética.

Questionada pela Lusa sobre o futuro dos trabalhadores da central de Sines, no distrito de Setúbal, fonte oficial da empresa garante que “a EDP respeitará integralmente todas as suas responsabilidades de índole laboral”.

“A empresa tem já estudada a situação dos seus 107 colaboradores: uma parte preenche requisitos de reforma e pré-reforma, pelo que poderá ser acordada a passagem a essa condição, e os restantes terão acesso de oportunidades de mobilidade no grupo EDP”, adiantou a mesma fonte.

Na terça-feira, a EDP anunciou que apresentou à Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) uma declaração de renúncia da licença de produção da central termoelétrica de Sines com efeitos a janeiro de 2021, ou seja, a manifestar a sua intenção de encerrar a central nesta data.

A EDP realça que este prazo de encerramento é compatível com o Plano Nacional de Energia e Clima 2030, aprovado através de Resolução do Conselho de Ministros de 10 de julho de 2020, e aguarda agora o posicionamento da DGEG, organismo sob a alçada do Ministério do Ambiente e da Transição Energética.

Em resposta à Lusa, a mesma fonte oficial da energética refere que “a EDP está ativamente comprometida para que, em parcerias com instituições nacionais e também promovendo o acesso ao Fundo para a Transição Justa, se possa fomentar a requalificação do emprego e criação de novas oportunidades e projetos na região”.

A EDP lembra ainda que, após o encerramento da central e num período previsível de cinco anos, decorrerão trabalhos de descomissionamento e desmantelamento que farão uso de prestação de serviços de terceiros.

Esta decisão de antecipar o encerramento da central termoelétrica de Sines, justificada pela “continuada deterioração das condições de mercado para estas centrais durante o primeiro semestre de 2020”, representa um custo extraordinário de cerca de 100 milhões de euros (antes de impostos) em 2020, segundo a empresa.

Em comunicado enviado na terça-feira, o presidente executivo interino da EDP, Miguel Stilwell d’Andrade, explicou que “a decisão de antecipar o encerramento de centrais a carvão na Península Ibérica é assim uma consequência natural do processo de transição energética, estando alinhada com as metas europeias de neutralidade carbónica e com a vontade política de antecipar esses prazos”.

Miguel Stilwell d’Andrade foi nomeado na semana passada presidente executivo interino da EDP, substituindo António Mexia, que foi suspenso de funções na empresa como medida de coação decidida pelo juiz Carlos Alexandre no caso EDP.

O presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, apelou na terça-feira para um “compromisso firme” do Governo no sentido de encontrar uma solução para os trabalhadores afetados pelo encerramento antecipado da central termoelétrica da EDP.

Em declarações à Lusa, após uma reunião com a administração da EDP Produção “para encontrar soluções que minimizem o impacto do encerramento da central” na região, Nuno Mascarenhas (PS) reconheceu que “há um conjunto de projetos em Sines que podem absorver parte da mão-de-obra”, mas que, para isso, é necessário que se passe “dos acordos escritos à ação”.

“É importante que haja da parte do Ministério do Trabalho [Solidariedade e Segurança Social] um compromisso firme de solução para os trabalhadores que, a partir de janeiro, poderão ter problemas em termos laborais”, afirmou o autarca.

Nesse sentido, Mascarenhas disse estar em contacto com o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, e que existe “total disponibilidade” para uma reunião que envolva a Segurança Social, o Instituto do Emprego e Formação Profissional, a EDP, a câmara municipal e a Secretaria de Estado a fim de “encontrar várias soluções”.

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Portugal poderá chegar a 2100 com cinco milhões de habitantes

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Portugal, terá já atingido o pico de população com os 10,68 milhões de habitantes que tinha em 2017 e poderá chegar a 2100 com uma população entre 3,43 milhões e 6,1 milhões.

Portugal poderá chegar a 2100 com uma população de apenas cerca de cinco milhões de habitantes, numa altura em que a população mundial também estará em decréscimo, segundo um estudo científico publicado na revista Lancet.

Os investigadores estimam que o pico da população mundial – que em 2017 era 7,64 mil milhões de pessoas – será atingido no ano de 2064, com 9,73 mil milhões de habitantes e começará a descer a partir daí, situando-se nos 8,78 mil milhões em 2100.

A razão principal apontada no modelo é a queda na taxa de fertilidade, o número médio de filhos por mulher, que era de 2,37 em 2017 e poderá não passar de 1,66 no ano 2100.

Quanto a Portugal, terá já atingido o pico de população com os 10,68 milhões de habitantes que tinha em 2017 e poderá chegar a 2100 com uma população entre os valores de referência de 3,43 milhões e 6,1 milhões.

Portugal está entre mais de duas dezenas de nações cuja população poderá descer para menos de metade em 2100, que inclui Espanha (de 46 para 23 milhões), Itália (61 para 31 milhões), Japão (128 milhões para 60 milhões) ou Tailândia (71 para 35 milhões).

O editor-chefe da Lancet, Richard Horton, afirmou que os resultados das projeções traduzem “uma revolução na história da civilização humana” e reforçam a “importância de proteger e fortalecer os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”.

“África e o mundo árabe modelarão o nosso futuro, enquanto a Europa e a Ásia reduzirão a sua influência. No fim do século, o mundo será multipolar, com a Índia, Nigéria, China e Estados Unidos como poderes dominantes”, considerou.

O principal investigador, Christopher Murray, destacou que “existe um perigo muito real de, devido ao declínio da população, alguns países admitirem políticas que restrinjam o acesso a serviços de saúde reprodutiva, com consequências potencialmente devastadoras”, defendendo que “é imperioso que a liberdade e os direitos das mulheres estejam nas prioridades de todos os governos”.

Em 2100, o país atualmente mais populoso, a China, que tem 1,4 mil milhões de habitantes, deverá passar para 732 milhões de pessoas e ser o terceiro país mais populoso do mundo, a seguir à Índia, atualmente o segundo mais populoso, que poderá passar de 1,38 mil milhões para 1,09 mil milhões e à Nigéria, que aumentará dos 206 milhões atuais para 791 milhões.

O Brasil, que em 2017 tinha 212 milhões de habitantes e estava entre os dez países mais populosos do mundo, deverá passar para 165 milhões de pessoas.

Por outro lado, várias nações mais do que duplicarão a sua população no fim do século face a 2017: a República Democrática do Congo poderá aumentar de 81 milhões para 246 milhões de habitantes, tornando-se o sexto país mais populoso do Mundo, a Etiópia poderá aumentar de 103 para 223 milhões de pessoas e tornar-se o oitavo mais populoso, seguido do Egito, que poderá aumentar de 96 para 199 milhões, e da Tanzânia, que poderá subir de 54 para 186 milhões.

“Os resultados sugerem que as tendências na educação feminina e no acesso à contraceção apressarão os declínios na fertilidade e reduzirão o crescimento da população. Uma taxa de fertilidade inferior à taxa de substituição de população em muitos países, incluindo a China e a Índia, terão consequências económicas, sociais, ambientais e geopolíticas”, afirmam no estudo financiado pela fundação Gates.

“Opções políticas de adaptação á baixa fertilidade que mantenham e reforcem a saúde reprodutiva feminina serão cruciais nos próximos anos”, recomendam os investigadores, que frisam que a resposta ao declínio da população mundial não pode “comprometer o progresso da liberdade das mulheres e dos direitos reprodutivos”.

Estimam que daqui a oitenta anos, em 183 dos 195 países atualmente contemplados, as taxas de fertilidade projetadas não serão suficientes para manter a população sem “políticas liberais de imigração”, que poderão “ajudar a manter a dimensão das populações e o crescimento económico apesar da queda na fertilidade”.

As maiores descidas na fertilidade deverão concentrar-se sobretudo nos países que hoje registam altas taxas de fertilidade, como os da África subsaariana, que poderão passar de 4,6 filhos por mulher, como se verificava em 2017, para apenas 1,7 em 2100.

Exemplo dessa tendência é o Níger, que há três anos tinha a mais alta taxa de fertilidade do mundo – cerca de sete filhos por mulher –, e que deverá baixar para 1,8 por volta do virar do século XXI.

Além de menos fértil, a população humana deverá envelhecer, consideram os investigadores, que estimam que o número de crianças com menos de cinco anos poderá diminuir cerca de 41 por cento nos próximos 80 anos, de 681 milhões para 401 milhões, enquanto as pessoas com mais de 80 anos poderão aumentar seis vezes, de 141 milhões para 866 milhões.

“Embora o declínio na população seja potencialmente uma boa notícia para a redução das emissões carbónicas e da pressão sobre as cadeias alimentares, mais pessoas velhas e menos pessoas jovens vão criar desafios económicos, quando as sociedades tiverem que se esforçar para crescer com menos pessoas em idade ativa e menos contribuintes, reduzindo também a capacidade de os países gerarem riqueza para suportar os cuidados de saúde e os apoios sociais para os mais idosos”, argumentam

Os impactos económicos destas evoluções poderão significar que a China substituirá em 2035 os Estados Unidos como o país com o maior produto interno bruto, embora o crescimento económico deva abrandar a partir de 2050, pelo que os Estados Unidos poderão voltar a ocupar o topo da tabela em 2098, “se a imigração continuar a reforçar a população ativa” do país.

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Vieira e Soares de Oliveira arguidos por fraude fiscal qualificada

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Processo está integrado na operação saco azul, em que as sociedades obtiveram, "nos anos 2016 e 2017, uma vantagem patrimonial indevida".

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, e o administrador Domingos Soares de Oliveira foram constituídos arguidos “pela alegada prática de um crime de fraude fiscal qualificada”, comunicou a SAD encarnada à CMVM.

Segundo a nota enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Vieira e Soares de Oliveira foram constituídos arguidos enquanto representantes legais da Benfica SAD e da Benfica Estádio, num processo integrado na operação ‘saco azul’, em que as sociedades obtiveram, “nos anos 2016 e 2017, uma vantagem patrimonial indevida”.

A esta ação “está associada uma possível contingência fiscal calculada pela Autoridade Tributária no valor total aproximado” de 600 mil euros.

Contactada pela Lusa, fonte oficial dos encarnados confirmou ao início da tarde que a SAD do Benfica era um dos dois arguidos coletivos cuja constituição foi revelada hoje pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

A mesma fonte disse que os advogados dos encarnados apresentaram um requerimento, a fim de saberem se o processo está em segredo de justiça, ressalvando que em causa estava um processo de crime fiscal, que nada tem a ver com questões desportivas ou ‘sacos azuis’.

Antes, a CMVM suspendeu a negociação de ações da Benfica SAD, por aguardar divulgação de informação relevante ao mercado.

O inquérito é dirigido pelo Ministério Público (MP) do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) e investiga factos suscetíveis de integrarem crime de fraude fiscal, segundo a PGR.

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Do carvão de 1985, ao hidrogénio em 2022. O futuro de Sines será verde mas a central não será reconvertida

"A avaliação não aponta para a reconversão da central termoelétrica (dos equipamentos industriais de queima de carvão e produção de energia) por motivos técnicos e económicos", diz fonte da elétrica.

Foto: EDP

Ao fim de 35 anos a queimar carvão para produzir eletricidade e iluminar o país, a central da EDP em Sines tem agora os dias contados. A data está marcada, só falta decidir dia e hora: em janeiro de 2021 a maior central elétrica de Portugal fecha portas e põe fim a um ciclo. Com o negro do carvão no passado, de que cor será o futuro de Sines? A EDP garante que será verde, tal como o hidrogénio livre de emissões poluentes que ali virá a ser produzido por eletrólise, juntando energia renovável fotovoltaica e a água do oceano Atlântico que banha São Torpes, na costa alentejana.

Quanto à central propriamente dita, com as suas imponentes chaminés com 225 metros de altura e os 1.256 MW de potência instalada divididos por quatro grupos, fonte oficial da EDP revelou ao ECO/Capital Verde que a mesma não será reconvertida para “queimar” nenhum outro combustível, poluente ou não poluente, para a produção de energia elétrica. As razões são técnicas, explica a empresa, mas acima de tudo económicas.

A avaliação feita não aponta para uma reconversão da central termoelétrica (nomeadamente dos equipamentos industriais de queima de carvão e produção de energia) – tanto por motivos técnicos, como económicos – mas sim para o aproveitamento das infraestruturas associadas à central (por exemplo de tomada e restituição de água, caminho para terminal de GNL ou edifícios administrativos) para o projeto de hidrogénio verde que poderá usar a mesma localização”, disse fonte oficial.

O processo de descomissionamento e desmantelamento do colosso energético que entrou em funcionamento em 1985 (destronando nessa altura a central elétrica a fuelóleo de Setúbal, cujas chaminés foram derrubadas pela EDP este ano) “implica várias etapas que terão agora de ser avaliadas e executadas, previsivelmente, num período de cerca de cinco anos”, explica a mesma fonte.

E se em Setúbal os terrenos da velhinha central na península da Mitrena estão hoje limpos e prontos a receber novos projetos de energias renováveis, hidrogénio incluído, em Sines tudo aponta para o “aproveitamento das infraestruturas associadas à central para o projeto de produção de hidrogénio verde”.

“A EDP está empenhada em trabalhar para a descarbonização da economia e para o cumprimento das metas de sustentabilidade, mantendo entre os seus objetivos ter 90% da energia produzida a partir de fontes renováveis e reduzir em 90% (face a 2005) as emissões de CO2. Analisou-se por isso, um conjunto de alternativas, sempre dentro de opções sustentáveis, e neste momento o único cenário considerado adequado e com maior potencial é o do hidrogénio verde. A EDP espera que o projeto de produção de hidrogénio verde (anteriormente designado como ‘Green Flamingo’), que está atualmente em avaliação pelo governo e por um consórcio de empresas (entre as quais a própria EDP), possa dar início a um novo ciclo no atual processo de transição energética. A expectativa é que possa também ser um novo pólo de dinamismo para a economia local e também do país”, disse fonte oficial da EDP.

Sines não queima carvão há quase meio ano, desde 25 de janeiro. Em comunicado, a elétrica informou esta terça-feira que a central irá ainda vender em mercado a energia produzida pela queima do carvão que restar em stock – e só então avança com desmantelamento da central. Questionada sobre quantos dias, ou quantas horas, a central ainda funcionará até janeiro de 2021 e quantas toneladas de carvão estão ainda em stock, a EDP não quis entrar em pormenores, dizendo apenas que “a central produzirá o estritamente necessário para a queima do carvão armazenado”.

A empresa estima que o encerramento das centrais a carvão a nível ibérico da EDP (uma em Portugal e duas em Espanha, nas Astúrias) tenha um custo extraordinário de cerca de 100 milhões de euros em 2020. “A produção de energia em centrais a carvão tem vindo a perder competitividade pelo agravamento dos preços das licenças de emissão de CO2 – que esta segunda-feira 13 de julho atingiu o máximo dos últimos 14 anos – bem como da carga fiscal a ela associada”, disse fonte oficial.

Sobre se está assegurada a segurança de abastecimento e o fornecimento de energia à rede elétrica após o fecho de Sines, a EDP garante que “o prazo de encerramento é compatível com PNEC 2020-30 aprovado através de Resolução do Conselho de Ministros de 10 de julho, e aguarda o posicionamento da DGEG”, tal como disse o ministro do Ambiente e Ação Climática, Matos Fernandes, no Parlamento.

Mexia já tinha avisado que central de Sines não seria reconvertida

O pedido foi avançado em janeiro ao ECO/Capital Verde pelo secretário de Estado da Energia, João Galamba, e confirmado por Matos Fernandes: o Governo queria a central de Sines como parte da transição energética e pediu à EDP para trocar o carvão queimado na central termoelétrica pelo hidrogénio verde.

No entanto, António Mexia descartou de imediato uma possível reconversão da histórica central a carvão para trabalhar a hidrogénio: “A central, em si, não. A central a carvão tem uma escala e uma configuração muito diferente do que é o projeto de hidrogénio, que inclui centrais de eletrólise mais pequenas”, disse o CEO da EDP em declarações ao Capital Verde, do ECO.

António Mexia confirmou que a EDP está “particularmente interessada” na produção de hidrogénio em território nacional, mas deixou em aberto o futuro da termoelétrica. “Estamos disponíveis para o projeto. Qual a sua configuração? Temos de ver. Porque na eletrólise estamos a falar de centrais na ordem das dezenas de megawatts e Sines tem mais de 1.000 MW”, disse o CEO.

Sobre uma eventual compensação financeira à empresa pelo fecho antecipado da central a carvão, que o Governo já garantiu que não pagará, Mexia afirmou que “o setor da energia não pode ser o único negócio do mundo onde as pessoas são obrigadas a operar e a perder dinheiro”.

Já Matos Fernandes explicou que o consórcio industrial de larga escala para produzir hidrogénio em Sines “inclui um grande consumidor, a refinaria [da Galp], um grande produtor, a EDP, e um porto muito vocacionado para o transporte e exportação destes produtos”. “O papel exato e concreto que as paredes daquela central a carvão vão desempenhar no futuro está a ser discutido”, disse o ministro, remetendo mais pormenores para o proprietário. “O Estado é o dono dos terrenos, mas não é o dono da central”, referiu Matos Fernandes.

Galamba queria “reciclar” Sines: “Se queimam coisas, podem queimar outras”

Da parte do Governo, foi o próprio João Galamba que revelou ao ECO/Capital Verde o repto lançado à elétrica: “Não sabemos se é possível, se é viável, mas estamos a estudar essa hipótese e desafiámos a EDP para nos apresentar um projeto de reaproveitamento da central de Sines para novas fontes de energia. A ideia é incluir a termoelétrica de Sines no projeto de hidrogénio já anunciado, ficando como uma central de recurso para quando for necessário equilibrar o sistema, quando não houver sol ou vento, nem possibilidade de recorrer às barragens. Queremos ter ali um backup a hidrogénio”.

Já antes Galamba tinha mostrado vontade de “reciclar” as centrais a carvão do Pego e de Sines: “Se queimam coisas, podem queimar outras”, disse o secretário de Estado na última conferência da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN). Depois reforçou a ideia: “É do interesse de todos, do país, do Governo, dos trabalhadores, das empresas, que não se desmantelem as centrais. Ambientalmente é melhor. Podemos aproveitar essas centrais, os investimentos já feitos, os equipamentos que já existem e, se for possível, adaptar essas centrais a outras fontes de energia. O Governo está interessado nessa possibilidade e lançámos o desafio às empresas”.

Face a uma possível reconversão de Sines, do carvão para hidrogénio, o presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, explicou que “uma central a carvão tem duas partes: a caldeira a combustíveis fósseis e a turbina de vapor. Se substituir o carvão por uma fonte renovável, posso sempre continuar a produzir eletricidade a partir de vapor”. Ainda sim, sublinha, “a reconversão depende sempre da viabilidade económica e neste momento faz mais sentido converter Sines em solar e eólico e adaptar os trabalhadores à nova realidade”.

Para Sines poder fechar, ainda falta o sim do Governo

A DGEG tem seis meses a partir de agora para se pronunciar sobre se aceita ou não a declaração de renúncia da licença de produção da central termoelétrica de Sines com efeitos a janeiro de 2021, ou seja, a manifestação da intenção da EDP de encerrar a central nesta data. O ministro disse que o encerramento antecipado de Sines é uma boa notícia para o país, mas não é 100% isenta de “inquietações”.

“A nossa decisão terá em conta a segurança do abastecimento e a rejeição de qualquer tipo de compensação à empresa, no caso de a central ter de continuar a operar”, disse Matos Fernandes aos deputados.

No entanto, se a resposta da DGEG for não (“o que não deverá acontecer”, disse o ministro), Matos Fernandes voltou a frisar que “não haverá lugar ao pagamento de uma compensação monetária à EDP caso a central de Sines continue a operar”. Sendo a maior central elétrica do país, a central de Sines esteve abrangida, até 31 de dezembro de 2017, por um contrato de Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), criado em substituição do Contrato de Aquisição de Energia (CAE) original. A partir daí, toda a energia elétrica produzida a partir do carvão passou a ser comercializada em regime de mercado, com preços variáveis. Em 2019 a EDP renovou junto da Agência Portuguesa do Ambiente a licença ambiental de Sines.

O MAAC está a trabalhar para ter uma “noção clara do que teremos de fazer para dizer sim sem sobressalto” à EDP.

Para isso, disse, é preciso ter garantias do lado da oferta (mais apoio por parte da rede elétrica espanhola, maior aproveitamento das mega centrais solares fotovoltaicas situadas no Alentejo e Algarve, controlo de tensão e ainda a manutenção de uma reserva própria na central hidroelétrica do Alqueva) e também do lado da procura, com a “redução de consumos não prioritários que não afetarão os consumidores” nas suas casas.

“A situação ideal seria a o encerramento da central acontecer já com as barragens do Alto Tâmega a funcionarem e com a construção da linha 400 kV que ligará Ferreira do Alentejo a Tavira concluída. Contudo, mesmo sem estas infraestruturas a funcionarem, o sistema elétrico nacional dispõe de redundâncias que poderão garantir o habitual abastecimento de eletricidade ao sul do país É uma matéria que estamos a estudar”, garantiu Matos Fernandes.

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Facebook: 70% das PME portuguesas registou quedas nas vendas

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Num relatório sobre o impacto do vírus nas PME portugueses, o Facebook revela que "Portugal é um dos países mais afetados pela crise económica".

O Facebook publicou esta quarta-feira o primeiro relatório sobre o impacto da covid-19 nas PME de 50 países, segundo o qual em Portugal 70% das PME com presença na rede social aponta uma redução nas vendas.

Segundo o ‘Global State of Small Business Report’, “46% das PME [pequenas e médias empresas] portuguesas estão a vender 25% ou mais ‘online'”, mas “no entanto, Portugal é um dos países mais afetados pela crise económica“.

Entre os 50 países onde foi feito o inquérito, “Portugal destaca-se pela queda de vendas: 70% das PME inquiridas em Portugal com presença no Facebook confirma que as vendas estão mais baixas do que no ano passado”, refere.

De acordo com a rede social, as PME são “uma parte fundamental do Facebook” em Portugal. “Hoje, o Facebook revela em que estado estão as PME em Portugal e no resto do mundo através de uma análise às PME presentes na rede social”, adianta, apontando que “em parceria com o Banco Mundial e a OCDE, o ‘Global State of Small Business Report’ é o primeiro de uma série de relatórios que já estavam planeados antes da covid-19, com a expectativa de resultados positivos“.

Na Europa, “Itália regista um número ainda pior [do que Portugal]: 76%”, aponta o relatório do Facebook. Em sentido inverso, Dinamarca (48%), Suécia (51%) e Irlanda (52%) “destacam-se pela menor quebra de vendas”. Quase um quarto (23%) das PME portuguesas “confirmam que fecharam portas, sendo que países como a República Checa, Alemanha e Suécia tiveram menos de 10% de fecho das PME, tendo em conta as particularidades de cada quarentena adotada”. Em Espanha os fechos atingiram os 30%, e no Reino Unido os 43%.

“Globalmente, entre janeiro e maio deste ano, mais de um quarto das empresas fecharam e um terço das empresas teve que reduzir os colaboradores, o que pode indicar que se aproxima uma longa crise de emprego”, refere. “Em Portugal, 36% das PME garantem que a falta de dinheiro em caixa vai ser o próximo principal problema, e 23% das empresas já tiveram de reduzir o número de colaboradores”, prossegue o relatório.

“Em países dependentes da indústria do turismo, como Portugal, as PME foram particularmente afetadas. Em números globais, 54% das agências de turismo e 47% dos negócios de hospitalidade, como o alojamento local, anunciaram o fecho”, adianta.

O Facebook “revela ainda que existe uma assinalável desigualdade de género entre as PME mais afetadas pela crise económica: os negócios liderados por mulheres têm 7% mais probabilidade de fechar e Portugal não é exceção“. Ou seja, 73% das PME lideradas por mulheres estão abertas e operacionais, sendo que as lideradas por homens tem uma percentagem superior: 81%.

“No entanto, em alguns países, como Espanha (68% de PME lideradas por mulheres e 72% por homens) e Reino Unido (55% lideradas por mulheres e 59% por homens), as lideranças femininas foram ainda mais afetadas”, destaca.

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Galp perde 60 milhões com “transações não autorizadas”

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Situação encontra-se “integralmente superada” após ter “encerrado a totalidade das posições e tomado medidas adequadas no plano interno”.

A Galp identificou “transações não autorizadas” de derivados sobre licenças de emissão de CO2 que “resultaram numa perda de cerca de 60 milhões de euros”, anunciou ao mercado a empresa, garantindo ter a situação “integralmente superada”.

“Foram identificadas transações não autorizadas pela empresa de derivados sobre licenças de emissão de CO2 que resultaram numa perda de cerca de 60 milhões de euros”, destaca o comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

A empresa de energia garantiu ainda que a situação se encontra “integralmente superada” após ter “encerrado a totalidade das posições e tomado medidas adequadas no plano interno”.

Essas medidas incluem “ações disciplinares e de auditoria, e no domínio do reforço dos controlos operacionais, com vista a precaver a ocorrência de eventos idênticos no futuro”.

“Este evento não altera a posição de caixa indicada no ‘Trading Update’ divulgado ao mercado em 13 de julho, sem que haja impactos financeiros negativos adicionais associados”, explica ainda o comunicado.

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Banca vai “apertar a torneira” do crédito ao imobiliário com medo do malparado

O imobiliário e construção destacam-se entre os setores para os quais os bancos antevêem aumentar a restritividade nos critérios, termos e condições de acesso ao crédito na segunda metade do ano.

Em plena pandemia, a banca apertou os critérios para a disponibilização de crédito à economia. E a perspetiva vai no sentido de essa maior restritividade manter-se ao longo deste ano, com a banca a fazer mira em particular ao setor imobiliário e da construção. Ou seja, os setores que na última crise mais pesaram no malparado da banca nacional.

As conclusões do último inquérito trimestral sobre o mercado de crédito divulgado, esta terça-feira, pelo Banco de Portugal indicam que “os bancos antecipam critérios mais restritivos no crédito a empresas, sobretudo PME” para o terceiro trimestre deste ano.

Mas numa análise mais detalhada em termos setoriais, o regulador destaca os setores de atividade ligados ao imobiliário e construção entre os que deverão ser alvo de uma maior restritividade no que respeita aos critérios de concessão de crédito e condições a adotar nos novos empréstimos ao longo da segunda metade do ano. Ou seja, intensificando uma tendência já observada na primeira metade do ano.

"As instituições esperam aplicar critérios ligeiramente mais restritivos nos setores dos serviços e construção de edifícios e atividades imobiliárias, assim como termos e condições ligeiramente mais restritivos na generalidade do setor da construção.”

Inquérito sobre o mercado de crédito

Banco de Portugal

“De acordo com as respostas dos bancos, apesar de os critérios se terem tornado mais restritivos em todos os setores considerados, a restritividade aumentou mais no setor da construção, seguindo-se os setores dos serviços (exceto serviços financeiros e imobiliários) e do comércio por grosso e a retalho”, contextualiza o BdP.

Já para os próximos seis meses, o inquérito revela que “as instituições esperam aplicar critérios ligeiramente mais restritivos nos setores dos serviços e construção de edifícios e atividades imobiliárias, assim como termos e condições ligeiramente mais restritivos na generalidade do setor da construção“.

Relativamente aos principais setores de atividade económica, um dos cinco bancos sondados por este inquérito antecipa seguir critérios “consideravelmente mais restritivos” na concessão de crédito ao segmento de construção de edifícios e atividades imobiliárias, havendo ainda um outro banco a prever seguir critérios “ligeiramente mais restritivos” no financiamento em concreto da construção de imobiliário comercial.

A perspetiva de maior restritividade no acesso ao crédito por parte das empresas ligadas ao setor do “betão” é ainda percetível no que respeita aos termos e condições a seguir nos novos empréstimos. Há dois bancos a indicarem pretender tornar-se “ligeiramente mais restritivos” no financiamento ao setor da construção (excluindo construção de edifícios). Já para a construção de edifícios e atividades imobiliárias, há uma instituição financeira a antecipar termos e condições “consideravelmente mais restritivos” e outra a apontar para que estes sejam “ligeiramente mais restritivos”.

As maiores reservas apontadas pela banca no que respeita à concessão de crédito para os setores do imobiliário e construção surgem numa altura em que se perspetiva a maior recessão económica dos últimos 100 anos a nível global e nacional devido à pandemia.

Os bancos denotam assim querer colocar “um travão” aquela que foi uma das suas maiores ameaças na crise financeira espoletada há uma década. Na altura, o setor do imobiliário e da construção sofreu um trambolhão, contribuindo em grande medida para os níveis recorde do malparado dos bancos nacionais.

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Governo arranca negociações do OE2021. Esquerda quer mais do que “só conversa”

PCP e BE reúnem-se com o Governo esta quarta-feira e o PAN na quinta-feira. O OE2021 é o foco numa altura em que os partidos da antiga geringonça parecem mais afastados e com exigências mais duras.

Após a aprovação do Orçamento Suplementar no Parlamento no início deste mês, o Governo reúne-se esta quarta-feira com o PCP e o BE e amanhã com o PAN para preparar o Orçamento do Estado para 2021 (OE2021). Os analistas parecem concordar que este será um dos orçamentos mais difíceis dos últimos anos com a incerteza da pandemia a juntar-se à inexistência de uma maioria clara no Parlamento. À esquerda, os partidos já têm exigências para o Governo: a lei laboral, que inviabilizou um acordo no início da legislatura, volta à baila.

Em cima disto, há um estreante nestas andanças. Esta será a primeira vez que João Leão, o novo ministro das Finanças, negoceia um Orçamento do Estado diretamente — com a intermediação do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentos, Duarte Cordeiro — com a esquerda, mas já sem estar agarrado a um acordo escrito como aconteceu na legislatura anterior com Mário Centeno. Será Leão o responsável, em parte, por reconstruir “uma relação com renovada estabilidade no horizonte da legislatura“, expressão usada por António Costa no debate sobre o Orçamento Suplementar.

Mais recentemente, Duarte Cordeiro esclareceu que “o espaço natural de entendimento do Governo é o dos partidos à sua esquerda”, piscando também o olho ao PAN ao incluir “também os partidos ambientalistas”. Recorde-se que no início da pandemia o primeiro-ministro também disse, que ficaria “muito desiludido” se só pudesse “contar com o PCP e com o Bloco de Esquerda em momentos de vacas gordas e em que a economia está a crescer”. Ontem, em declarações a partir da Hungria, Costa repetiu que há um “largo campo de convergência à partida” com o BE e o PCP.

À direita, o PSD avisou desde logo que a (quase) “carta branca” dada para o Orçamento Suplementar, na sequência da pandemia, não seria replicada para o Orçamento do Estado para 2021, momento em que terá de haver escolhas políticas claras. Em declarações ao ECO, Joaquim Miranda Sarmento, o ministro “sombra” das Finanças, afirmou que “o Orçamento de 2021 é uma coisa completamente diferente” do Orçamento Suplementar. Apesar disso, Rui Rio disse que o partido continuará a ser “responsável”, até porque a crise pode ser mais duradoura e a recuperação mais demorada. E mesmo Costa admite que um bloco central seria um “um fator de empobrecimento da democracia”, apesar de isso não querer “dizer que o PSD tenha peste”.

Seja à esquerda ou à direita, estas negociações começam ainda com muitas incertezas a pairar: Estará a pandemia controlada em 2021? Que fundos europeus estarão disponíveis para financiar o OE 2021? Qual o ponto de partida em termos de défice e de dívida pública? Esta será assim uma primeira reunião para se conhecer as posições de partida de cada força política, mas ainda muita negociação deverá ocorrer até 10 de outubro, data em que será apresentado o Orçamento do Estado para 2021 — isto se a proposta do Governo de alteração à Lei de Enquadramento Orçamental (LEO) for aprovada no Parlamento.

BE insiste na lei laboral para o OE 2021, tema que impediu acordo de legislatura

Após o fracasso das negociações no início da legislatura, o BE volta a insistir nas mudanças da lei laboral como algo essencial, desta vez para viabilizar o Orçamento do Estado para 2021. Durante o fim de semana, Catarina Martins afirmou que “como o primeiro-ministro acabou por reconhecer face à Organização Internacional do Trabalho [OIT], se a desregulação do trabalho é a maior fratura exposta desta crise, então os direitos, a regulação do trabalho deve ser a primeira resposta a esta crise“.

O BE diz aguardar pelos números e projetos do Governo para o próximo ano, mas avisou já que o reforço do SNS e da educação são questões fundamentais na sequência da pandemia. Estes são dois temas tendencialmente mais consensuais entre os parceiros da antiga geringonça ao passo que a regulação laboral sempre foi um tema de fricções. Questionada sobre se o OE 2021 seria mais difícil de negociar, Catarina Martins não abriu o jogo: “Não conheço negociações fáceis. Portanto, não sei fazer a comparação“.

Na semana passada, em entrevista ao Esquerda.net, Mariana Mortágua justificou a abstenção no Suplementar, face ao voto contra do PCP, e avisou o PS de que esta não era uma “primeira volta” para viabilizar o OE 2021. “Espero que o PS não se engane acerca disso”, disse, argumentando que “para ser viabilizado pela esquerda, o Orçamento do Estado para 2021 tem de responder à crise pela esquerda“. “No futuro, o país pagaria caro se, em outubro, soluções fortes cedessem lugar a consensos falsos”, alertou.

Anteriormente, após a abstenção no Suplementar, o BE também tinha deixado avisos sobre a tentação do PS em fazer acordos com o PSD. “Na verdade o que estamos a observar neste momento no país é um acordo – chame-se negociação ou não – entre PS e PSD”, disse Catarina Martins, assinalando que “um orçamento que o PS decida negociar com o PSD não contará seguramente com o Bloco“. Esta aproximação refere-se não só ao retificativo mas também a outras temáticas como a mudanças das regras de funcionamento da Assembleia da República, como a substituição dos debates quinzenais por 12 debates temáticos.

Este fim de semana, a mesa nacional do BE viria a reforçar este ponto na resolução política que aprovou: “Perante a estratégia restauracionista e de conservação do modelo económico que aproxima PS e PSD, o Bloco proporá um programa de recuperação com objetivos de reconstrução produtiva e transição ambiental com reforço dos serviços públicos e trabalho com direitos”, lê-se no texto, que fala do “bloco central e de “acordos formais e informais entre PS e PSD”. Ontem, a líder do BE voltou a endurecer o discurso, afirmando que não faz “acordos por conveniência, só por convicção”, ou seja, “para haver acordos com a esquerda não pode ser só conversa”, mas sim “políticas concretas e compromissos claros”.

PCP votou contra Suplementar, mas mantém diálogo. E tem exigências

O PCP (e o PEV) tornou-se numa das grandes dúvidas do OE 2021 quando anunciou, e concretizou, o voto contra o Orçamento Suplementar — tal aconteceu pela primeira vez desde que em 2015 se formou a geringonça ao passo que o PSD viabilizou o primeiro orçamento desde essa mesma altura –, juntando-se ao CDS, Iniciativa Liberal e Chega na oposição declarada ao documento. Ainda assim, tanto o Governo como os comunistas desvalorizaram este facto para o futuro e a reunião desta semana é um sinal de que o diálogo segue como no passado, independentemente do sentido de voto dos comunistas.

Para António Costa, o PCP e o PEV “não fizeram uma avaliação correta deste Orçamento Suplementar”, mas esta é a “exceção que confirma a regra”, ou seja, o diálogo com estes partidos continua. O líder parlamentar do PCP, João Oliveira, também deixou a porta aberta: “Este voto contra não compromete em nada o diálogo que se tem mantido desde novembro de 2015, designadamente para o Orçamento de 2021 e para os anos seguintes“.

Em declarações no fim de semana passado, Jerónimo de Sousa elencou as duas prioridades do partido para o Orçamento do Estado para 2021: o reforço da produção nacional para diminuir as importações e aumentar a independência produtiva e a valorização do trabalho. “Precisamos de produzir daquilo que nos obrigaram a comprar lá fora. E é preciso a valorização do trabalho e dos trabalhadores“, disse o líder do PCP, assinalando que a valorização do trabalho “é uma das medidas que têm que estar colocadas no Orçamento do Estado para 2021”, à semelhança do que exige o PCP.

PAN quer mais audácia e coragem no OE 2021

Apesar de ter perdido uma deputada, o grupo parlamentar do PAN, constituído por três deputados, passou a ser um dos parceiros do PS, votando favoravelmente em várias propostas dos socialistas. Do partido, que reúne-se com o Governo na quinta-feira, ainda não se ouviram exigências para o próximo Orçamento, mas o partido tinha deixado o aviso após a votação final do Suplementar: este foi “insuficiente” e é preciso mais audácia e coragem no OE2021.

“Vamos já começar a trabalhar para aquilo que vai ser o OE 2021 porque vamos ter de ser mais audazes e ter mais coragem para as respostas que se impõem, seja na valorização dos vários profissionais, seja, por exemplo, no apoio aos artistas que estão a passar por dificuldades”, disse a líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, em declarações no Parlamento, argumentando que o país não pode estar dependente apenas dos fundos europeus e que “não podem ser os mesmos, nomeadamente os contribuintes” a pagar a crise.

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Aforradores vão ter mais informação sobre comissões nas obrigações ao retalho

Numa altura em que as empresas em Portugal aumentaram o financiamento com emissões de dívida junto de investidores de retalho, a CMVM pede mais informações sobre preçários.

A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) quer reforçar o controlo das comissões que a banca cobra aos pequenos investidores. Numa altura em que várias empresas e o próprio Estado têm recorrido ao financiamento através de obrigações para o retalho, o supervisor liderado por Gabriela Figueiredo Dias pede aos intermediários financeiros mais informações sobre este segmento.

“De modo a reforçar o nível de informação e proteção conferida aos investidores não profissionais e os níveis de transparência, comparabilidade e concorrência, pondera-se a revisão da informação a reportar para efeitos de processamento e divulgação no simulador de custos disponível no sítio de internet da CMVM“, explica o supervisor, num dos quatro projetos regulamentares colocados esta terça-feira em consulta pública.

O objetivo das revisões é simplificar a regulação, sendo que poderão resultar numa diminuição em 29% dos deveres de reporte dos supervisionados. Além da eliminação de deveres, há outros que são revistos e até aumentados. É nesse grupo que se incluem os preçários.

A proposta é que sejam concentrados, num único regulamento, os deveres de reporte de informação que servem de base ao cálculo para os simuladores da CMVM, incluindo preçário de receção e transmissão de ordens, bem como Taxa de Encargos Correntes (TEC) e comissões de subscrição, resgate e transferência.

O projeto de regulamento insere-se igualmente no contexto da revisão do simulador de custos da CMVM“, acrescenta, explicando que o simulador passará a disponibilizar não apenas os custos estimados da prestação do serviço, como também a comparação entre entidades financeiras.

Os simuladores da CMVM têm especial relevância devido ao peso que as comissões bancárias têm na rentabilidade dos investimentos, já de si comprimidas pelo ambiente de baixos juros.

Nos últimos anos, várias empresas têm recorrido ao financiamento através de obrigações de retalho. Foi caso de empresas como a TAP ou a Mota-Engil, mas foram as SAD dos clubes de futebol Benfica, Porto e Sporting estão entre os emitentes mais ativos, tendo atualmente mais de 130 milhões de euros em títulos a negociar no mercado. Os encarnados fecharam uma nova emissão, em que captaram 50 milhões de euros em obrigações a três anos, junto de 3.688 investidores.

Aliás, não só as empresas adotaram esta estratégia. Em março de 2016, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP criou um novo instrumento financeiro para se financiar junto das famílias em Portugal: as obrigações do Tesouro de rendimento variável (OTRV). Após várias linhas em que os juros foram sempre diminuindo, o Tesouro acabou por admitir não conseguir oferecer uma rentabilidade atrativa.

A pandemia acabou por mudar a perspetiva. No orçamento suplementar apresentado no início de junho, o Ministério das Finanças anunciou que iria voltar a recorrer às OTRV. Antecipou “o lançamento de uma nova Obrigação do Tesouro Rendimento Variável (num montante de 1.500 milhões de euros)”. Esta linha ainda não foi lançada.

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5 coisas que vão marcar o dia

O INE vai revelar os dados da atividade turística e Portugal vai emitir até 1.750 milhões de euros em bilhetes do Tesouro.

Esta quarta-feira serão conhecidos os dados relativos à atividade turística em maio, bem como as estimativas para junho. No Parlamento, o ministro das Finanças será ouvido pelos deputados da Comissão de Orçamento e Finanças, que irão também votar o relatório não vinculativo sobre a ida de Mário Centeno para o Banco de Portugal. Portugal vai emitir até 1.750 milhões de euros em bilhetes do Tesouro.

Qual foi o impacto da pandemia no turismo?

O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirma esta quarta-feira os dados sobre a atividade turística no país referentes ao mês de maio de 2020, bem como a estimativa rápida para junho. Apesar de já serem meses marcados pelo desconfinamento, ainda estavam em vigor várias restrições às viagens. Em abril, a pandemia paralisou quase totalmente o setor do turismo em Portugal, sendo que se verificaram variações de quase 100% no número de hóspedes e dormidas.

João Leão ouvido no Parlamento

Esta quarta-feira é dia de audição do ministro de Estado e das Finanças, João Leão, na Comissão de Orçamento e Finanças. Os deputados desta comissão parlamentar irão também discutir com o ministro a Conta Geral do Estado de 2018, que é o principal documento de prestação de Contas do Estado.

Parlamento vota o relatório sobre ida de Centeno para Banco de Portugal

Os deputados da comissão de Orçamento e Finanças vão votar o relatório da audição de Mário Centeno, a propósito da sua ida para o Banco de Portugal, que não tem poder vinculativo. Depois de votado o relatório, a nomeação do ex-ministro para o Banco de Portugal fica dependente da aprovação do seu nome em Conselho de Ministros.

IGCP emite até 1.750 milhões de euros em bilhetes do Tesouro

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, que gere a dívida pública portuguesa, vai realizar dois leilões das linhas de Bilhetes do Tesouro com maturidades em janeiro de 2021 e julho de 2021, ou seja, a seis e 12 meses. O montante indicativo global situa-se entre os 1.500 e 1.750 milhões de euros.

Fed publica Livro Bege

A Reserva Federal norte-americana publica esta quarta-feira o Livro Bege, que compila dados sobre o sentimento empresarial e económico no país. Este relatório, disponibilizado oito vezes por ano, agrega os dados das 12 delegações da Reserva Federal dos Estados Unidos e serve de base para as decisões sobre as taxas de juro.

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Simplex simplifica declarações da Segurança Social e entrega de impostos

  • Lusa
  • 15 Julho 2020

Pedir abono de família para crianças e jovens, rendimento social de inserção, subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego poderá ser feito na hora, online.

O Governo lança esta quarta-feira o Simplex 20-21, com várias medidas de simplificação, que passam por alargar as declarações na hora da Segurança Social e um aumento da automatização na entrega de impostos, de acordo com informação do Governo.

Assim, será alargada a declaração na hora da Segurança Social, sendo que tanto o cidadão como as entidades económicas poderão pedir estes documentos, evitando deslocações ao atendimento presencial no caso do abono de família para crianças e jovens, rendimento social de inserção, subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego, de acordo com os dados enviados pelo Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública (MMEAP).

Esta é a única medida que deverá, segundo as estimativas do Governo, entrar em vigor este ano.

No início do próximo ano deverá ser desmaterializado “o processo de submissão de pedidos de importação de pescado e respetivos certificados de captura, e emissão das autorizações pela Autoridade Nacional de Pesca”, de acordo com os mesmos dados.

Além disso, o novo Simplex pretende desmaterializar completamente “o processo ‘Casa Pronta’, com emissão final de certidão ‘online’ do título ‘Casa Pronta’, ou seja, permitindo “realizar de forma imediata todas as formalidades necessárias à compra e venda ou outro tipo de transação relativa a prédios urbanos, mistos ou rústicos”, indicou o MMEAP, revelando que esta iniciativa está prevista para o terceiro trimestre de 2021.

Na área do turismo, o Simplex 20-21 prevê, no quarto trimestre do próximo ano, a “disponibilização numa única plataforma dos vários serviços disponibilizados pelo Turismo de Portugal aos seus ‘stakeholders’ [partes envolvidas], que estão ainda dispersos em várias aplicações”.

Na mesma altura, deverá ser implementada uma “solução tecnológica para a inscrição eletrónica em provas e exames (podendo evoluir com módulos para a gestão do processo de classificação de provas, por exemplo, a submissão ‘online’ de reclamações)”, indicou a tutela.

No final de 2021, a tutela prevê ainda “o alargamento adicional do âmbito de aplicação das medidas IRS Automático e IVA Automático +, para simplificar ainda mais o cumprimento das obrigações fiscais”, usando dados a que as Finanças já têm acesso, bem como o lançamento do “Portal Único da Agricultura, que visa promover a simplificação e a agilização da relação com agricultores, cidadãos, empresas e outros agentes económicos, funcionando como um posto de atendimento ‘online’”.

Será ainda simplificado o procedimento aos utentes que pretendam constar no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA), através da criação de uma plataforma de registo ‘online’, assim como a disponibilização no portal ePortugal “de mecanismos de validação dos dados constantes nos principais registos da Administração Pública e de monitorização da partilha dos dados de cada um através da iAP – Plataforma de Interoperabilidade da AP”, indicou a tutela.

Para 2022, o programa pretende ainda “o desenvolvimento de uma ferramenta ‘online’ de monitorização qualitativa das atividades de internacionalização das empresas portuguesas nos mercados de interesse, podendo cada empresa, através da sua página privada na plataforma My Aicep, receber informação em tempo real e alertas de ação”.

A ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, em declarações enviadas à Lusa, explicou que “esta edição do Simplex foi construída de forma participada, envolvendo empresas, universidades e representantes do terceiro setor, mas também as 22 entidades da Comissão para a Modernização Administrativa, trabalhadores públicos de todas as áreas governativas e as sugestões dos cidadãos”, sendo que, “das 158 medidas que fazem parte deste programa, mais de 40% nasceram desta dinâmica participativa”.

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Fundo para a Inovação Social investe 350 mil na Bitcliq

Startup participada da Indico Capital Partners e da LC Ventures passa agora a ser investida pelo Fundo para a Inovação Social.

A Bitcliq, startup que criou o projeto “Lota Digital”, assina esta quarta-feira um acordo de investimento com o Fundo para a Inovação Social (FIS) no valor de 350 mil euros. Com este valor, totaliza um investimento total de um milhão de euros, depois de a Indico Capital Partners, com o apoio da LC Ventures, terem investido 600 mil euros, em fevereiro do ano passado.

Os 350 mil euros vão ser usados para preparar o alargamento das operações a nível territorial, assim como na “aposta continuada nas componentes de inovação tecnológica, otimização da cadeia logística e transformação digital do setor”, refere a empresa em comunicado.

Criada em 2019, a “Lota Digital” surge em parceria com a Docapesca, entidade do setor empresarial do Estado, e arrancou como projeto-piloto na lota de Peniche. Atualmente, conta já com mais de 30 embarcações aderentes, representando a maioria das artes de pesca artesanal. Com o projeto, os pescadores recebem um ganho adicional médio de 20%.

A Bitcliq, que trabalha na transformação digital do setor primário e economia azul, está entre as participadas do fundo Indico Capital Ventures e da LC Ventures. Em maio de 2019, a Bitcliq foi considerada a startup agrotech com maior potencial a nível ibérico depois de vencer o prémio Empreendedor XXI com o projeto “Lota digital”.

“Este co-investimento com o Fundo para a Inovação Social vem ao encontro da nossa aposta em investimento socialmente responsável, integrado no âmbito dos Principles for Responsible Investing das Nações Unidas. Temos uma grande satisfação em começar a trabalhar a Bitcliq com o FIS, fundo que pode realmente ter um grande impacto na inovação ao nível social”, assinala Stephan Morais, managing general partner da Indico, citado em comunicado.

Segundo Pedro Araújo Manuel, fundador e CEO da Bitcliq, o investimento “é um enorme reconhecimento do excelente trabalho da nossa equipa, da persistência e visão que temos de um futuro mais sustentável para a pesca valorizando o pescado fresco de origem natural.”

“Este projeto da Bitcliq, a Lota Digital (…) é um projeto tecnológico inovador, aplicado junto de uma comunidade tradicional, como sejam os pescadores, promovendo o seu rendimento e melhoria das condições de vida. Por outro lado, permite ainda que o cliente final tenha acesso ao rastreio do seu pescado desde a captura até ao prato, garantindo a sua autenticidade”, conclui Marco Fernandes, presidente da PME Investimentos, entidade que gere o FIS.

*Artigo corrigido dia 23 de julho de 2020 às 10h27. Na verdade, o FIS investiu 350 mil euros na Bitcliq. Com este investimento, a startup totaliza um milhão de euros de investimento.

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