De 2 a 696 milhões. Os cinco números do turismo em ano de pandemia

Num ano marcado pela pandemia, o setor turístico foi um dos mais impactados. Depois de um recorde em 2019, este é um ano perdido. Veja os cinco números que descrevem o turismo atualmente.

Foi a partir de junho, com a chegada do verão, que o turismo começou a dar os primeiros sinais de recuperação. Ainda assim, 2020 é um ano perdido para os profissionais deste setor, responsável por mais de 8% do PIB nacional. Quando é que se voltará aos níveis recorde do ano passado? Não se sabe. Enquanto isso não acontece, as consequências da pandemia estão à vista. E os números falam por si. No dia em que se comemora o Dia Mundial do Turismo, o ECO reuniu cinco números que caracterizam o estado atual deste setor.

5,4 milhões de turistas

Os números mais recentes publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que, em julho, os alojamentos turísticos nacionais receberam 5,4 milhões de turistas. No ano passado, por esta altura, eram mais de 15 milhões. Ou seja, a pandemia provocou uma quebra superior a 64% no número de hóspedes.

Dos mais de cinco milhões de turistas que passaram por Portugal este ano, cerca de um quinto concentrou-se apenas no mês de julho. A maior ajuda veio dos portugueses, num total de 3,05 milhões de hóspedes, em comparação com os 2,35 milhões que chegaram do estrangeiro. Mas também aqui se notaram quebras: os turistas residentes diminuíram 48,4%, enquanto os internacionais reduziram 74,3%.

1,15 milhões de britânicos

Os britânicos foram a nacionalidade que mais procurou Portugal na hora de passar férias. Os dados do INE mostram que, entre janeiro e julho, os alojamentos turísticos nacionais hospedaram 1.151.599 britânicos, menos 78% do que no mesmo período do ano passado (mais de 5,3 milhões). Atrás dos britânicos aparecem os alemães (952.118 turistas) e os espanhóis (827.193).

696,4 milhões de euros

Até julho, o turismo obteve 696,4 milhões de euros em proveitos totais, menos 70% do que no mesmo período do ano passado, refere o INE. A maior fatia destes proveitos foi da responsabilidade da hotelaria (mais de 596 milhões de euros), enquanto o alojamento local canalizou 69 milhões e o turismo de espaço rural e habitação registou cerca de 31 milhões de euros. No que diz respeito aos proveitos por aposento (valores resultantes das dormidas de todos os hóspedes nos meios de alojamento turístico), estes fixaram-se em 513,8 milhões de euros até julho.

10,5 milhões de dormidas na hotelaria

A hotelaria continua a liderar as preferências dos hóspedes na hora de passar a noite e, até julho, canalizou mais de 10,45 milhões de dormidas, o equivalente a 79,8% do total, mostra o INE. Contudo, este número representa uma quebra de 70,4% face ao mesmo período do ano passado. Atrás da hotelaria aparece o setor do alojamento local com 2,11 milhões de dormidas e o turismo em espaço rural e de habitação com 528.600 dormidas.

2,4 noites

Assim como todos os restantes indicadores, também a estada média apresenta uma redução face ao ano passado. Entre janeiro e julho deste ano, os hóspedes passaram, em média, 2,4 noites nos estabelecimentos de alojamento turístico, menos 6,2% face ao período homólogo. Foi na Região Autónoma da Madeira que os hóspedes passaram mais noites (média de 6,79) e no Algarve (média de 4,39 noites).

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Das autocaravanas aos barcos. Os negócios turísticos que lucraram com a pandemia

Apesar da pandemia, houve negócios que conseguiram sair beneficiados. Com as fronteiras fechadas, os turistas procuraram alternativas e a procura por autocaravanas e barcos disparou.

O impacto da pandemia no setor do turismo e nas empresas é indiscutível mas, ainda assim, houve quem conseguisse tirar proveito disso. Foi o exemplo da Indie Campers e da Click&Boat que, através do aluguer de caravanas e barcos, conseguiram lucrar com o facto de as fronteiras estarem fechadas. No Dia Mundial do Turismo, o ECO foi pesquisar as alternativas procuradas pelos turistas para as férias.

Verão correu “melhor do que as expectativas” para a Indie Campers

Hugo Oliveira desde cedo se apercebeu dos impactos que a pandemia teria para a Indie Campers. O fundador de uma das empresas de aluguer de autocaravanas mais conhecidas do país entendeu que o setor do turismo viria a ser dos mais afetados, e que isso iria ter reflexos diretos no negócio. Mas uma comunicação “mais clara” com os utilizadores permitiu dar a volta por cima. “A partir de meados de maio começámos a comunicar de forma mais clara aquilo que víamos desde o início desta fase difícil para o setor do turismo: não há opção mais segura, livre, flexível e alinhada com os novos interesses de viajantes a nível europeu do que uma viagem numa autocaravana“, conta o CEO da Indie Campers ao ECO.

E o verão “acabou por correr melhor do que as expectativas”, diz, embora não tenha sido “uma época alta típica” dos anos anteriores. Entre junho e setembro, a Indie Campers registou 10.000 alugueres de autocaravanas, naquele que foi um ano “totalmente incomum”.

Pelo facto de a Indie Campers estar presente em 15 países europeus, o peso dos alugueres feitos pelos portugueses não é muito significativo. Contudo, se analisarmos apenas os alugueres feitos no mercado português entre junho e dezembro de 2020, cerca de 48% foram feitos por portugueses, o que mostra um grande aumento face ao ano passado: apenas 15%, indicou o responsável. “Esta tendência em prol do mercado doméstico/interno e em detrimento dos mercados internacionais, que historicamente representam uma percentagem ultra significativa da nossa base de clientes, foi a mais evidente trazida pela pandemia, por motivos óbvios”, nota Hugo Oliveira.

Sendo que dificilmente a situação se normalizará dentro dos próximos 12 meses, acredito que será inevitável que as populações voltem a usufruir do prazer de viajar de forma menos tímida no primeiro semestre de 2021.

Hugo Oliveira

Fundador e CEO da Indie Campers

O fundador da Indie Campers recusa a ideia de ter beneficiado com a pandemia, embora admita que o negócio das road trips “está longe de ser o mais afetado dentro da indústria do turismo”. “É indubitável que não saímos desta situação a sorrir mais do que estaríamos caso o ano tivesse decorrido sem o surgimento do vírus”, nota.

Quanto ao futuro, Hugo Oliveira prevê que esta queda no turismo “se mantenha durante alguns meses”, principalmente devido à possibilidade de uma segunda vaga do surto em vários países. “Sendo que dificilmente a situação se normalizará dentro dos próximos 12 meses, acredito que será inevitável que as populações voltem a usufruir do prazer de viajar de forma menos tímida no primeiro semestre de 2021“, diz o fundador da Indie Campers, sublinhando que “os padrões de turismo serão diferentes daqueles que se verificavam até março de 2020”. Hugo Oliveira acredita que “não haverá um regresso a esses padrões exatos”, mas que, pelo contrário, ” formas emergentes de viajar e experienciar novas culturas tenderão a assumir-se como escolhas cada vez mais naturais enquanto atividades turísticas”.

Negócio da Click&Boat com “crescimento muito forte na Europa”

Este foi um verão animado para a Click&Boat, uma startup francesa conhecida como a “airbnb dos mares”. Édouard Gorioux recorda como o início da pandemia foi de tal forma “inesperado e brutal” que nem sequer deu tempo para se sentir medo ou receio. “Imediatamente nos colocámos a postos para oferecer uma política de cancelamento específica aos nossos clientes e também para oferecer novas alternativas e soluções às reservas que já estavam confirmadas durante o confinamento”, explica o cofundador ao ECO.

A Click&Boat, que conta com mais de 400.000 utilizadores em todo o mundo, viu a atividade ser “severamente afetada” em abril e maio, com quebras de 90% nas reservas. Contudo, desde então, “a recuperação tem sido muito forte”. “Após o confinamento, tivemos um crescimento nos negócios muito forte na Europa, em comparação com o ano passado, com subidas de mais de 100% em alguns países como França e Espanha. Passear de barco foi a salvação perfeita após tantos meses em casa”, nota Édouard Gorioux.

O verão “correu muito melhor do que o esperado”, incluindo para o mercado português, diz o cofundador. Desde maio, a plataforma da Click&Boat em Portugal alcançou quase 45.000 utilizadores, dos quais cerca de 42% são portugueses. “Essa tem sido uma grande conquista para nós”, diz Édouard Gorioux. Os destinos mais procurados não surpreendem: o Algarve liderou, assim como Lisboa e Porto. E, na hora de escolher o melhor barco, as lanchas e os veleiros foram os preferidos, à frente dos catamarãs e dos semirrígidos.

Não acredito que esta situação esteja realmente a trazer quaisquer benefícios agora. Mas posso dizer que a pandemia tornou as pessoas mais cientes do aluguer de barcos particular como uma alternativa de viagem inovadora, divertida e segura.

Édouard Gorioux

Cofundador da Click&Boat

Apesar deste disparo no negócio, Édouard Gorioux não acredita que a atividade da Click&Boat tenha sido beneficiada pela pandemia. “Não acredito que esta situação esteja realmente a trazer quaisquer benefícios agora. Mas posso dizer que a pandemia tornou as pessoas mais cientes do aluguer de barcos particular como uma alternativa de viagem inovadora, divertida e segura”, explica. O responsável defende que alugar um barco “após meses de confinamento e stress” permite às pessoas “descansar sem correr riscos de saúde ou segurança”.

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Ensino Superior: Entraram 51 mil alunos. Há 6 mil vagas na segunda fase

  • Lusa
  • 27 Setembro 2020

A 1.ª fase de acesso ao ensino superior recebeu 51.000 alunos, deixando de fora cerca de 12.000. A 2.ª fase arranca segunda-feira com cerca de 6.000 vagas.

Quase 51 mil alunos conseguiram uma vaga na primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, tendo ficado de fora cerca de 12 mil estudantes. Para a segunda fase, que arranca na segunda-feira, sobraram 6 mil vagas, mas há quatro instituições sem nenhuma.

Segundo dados divulgados este sábado pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), 50.964 estudantes ficaram colocados no concurso nacional de acesso para ano letivo de 2020/2021, que começa esta semana na maioria das Instituições de Ensino Superior (IES). São mais 15% do que no ano passado e mais 21% do que em 2015.

No entanto, também foram mais os estudantes que decidiram concorrer (mais 23% do que no ano passado) e este ano quase 12 mil não ficaram colocados, podendo agora concorrer à 2.ª fase que começa na segunda-feira com mais de seis mil vagas disponíveis. Ou seja, este ano houve 62.930 alunos a tentar a sua sorte, dos quais 11.966 não conseguiram lugar no ensino universitário nem politécnico.

Do total de candidatos à primeira fase do concurso, 82% ficaram colocados, sendo que 84% foram admitidos numa das suas três primeiras opções. Pouco mais de metade conseguiu mesmo um lugar no curso e instituição que desejava: 51% ficou colocado na sua primeira opção. Em termos percentuais é um pouco mais baixo do que no ano passado (53% dos alunos ficaram na 1.º opção), mas em termos absolutos representa um aumento de cerca de 23 mil para 25 mil alunos.

Dos 50 mil caloiros, pouco mais de 30 mil vão para o ensino universitário (30.671) enquanto as instituições politécnicas vão receber cerca de 20 mil novos estudantes (20.293). Tanto as universidades como os institutos politécnicos registam um aumento de cerca de três mil alunos em relação ao ano passado: As universidades passam de 27.280 para 30.671 e o ensino politécnico de 17.220 para 20.293 alunos.

As regiões de Lisboa e do Porto continuam a concentrar quase metade dos novos alunos: Este ano são 23.916 caloiros, o que significa um aumento de cerca de mais três mil do que no ano passado. Também há cada vez mais alunos a escolher instituições localizadas em regiões com menor pressão demográfica: Este ano serão 12.314 estudantes (mais 20% do que no ano passado). Além disso, cerca de 10 mil alunos escolheram como primeira opção um curso em instituições localizadas nestas regiões, o que representa um aumento de 28% em relação ao concurso do ano passado.

Sobraram 6 mil vagas mas há quatro instituições sem nenhuma

As instituições de ensino superior têm mais de seis mil vagas para os alunos que queiram concorrer à 2.º fase do Concurso Nacional de Acesso, mas existem quatro instituições já sem qualquer vaga. Na segunda-feira arranca a 2.º fase do concurso e as instituições têm, pelo menos, 6.050 vagas para os estudantes, ou seja, metade do número de alunos que ficou de fora na 1.º fase.

Mas nem todas as instituições têm vagas: O ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, por exemplo, volta a repetir a situação do ano passado, tendo preenchido todos os 1.338 lugares que disponibilizou. Também não sobraram vagas nas escolas superiores de Enfermagem de Coimbra, Lisboa e do Porto, segundo os dados da DGES. A Universidade Nova de Lisboa também surge como uma das escolas mais procuradas, tendo ficado apenas com uma das quase três mil vagas que disponibilizou para esta fase. No ano passado, a Nova surgiu ao lado do ISCTE como as duas instituições cuja procura por parte dos alunos fez com que não sobrassem vagas.

Já em sentido inverso, a instituição com menos vagas preenchidas nesta 1.º fase é o Instituto Politécnico de Bragança: Das 2.160 vagas disponibilizadas foram ocupadas 1.029, ou seja, cerca de metade. Também nesta lista surgem o Instituto Politécnico da Guarda que tem 512 vagas sobrantes, o Politécnico de Viseu com 484 lugares, o de Castelo Branco que tem 400 e o de Viana do Castelo com 375 vagas.

Este ano concorreram muito mais alunos na 1.º fase (aumento de 15% em relação ao ano passado) e cerca de 12 mil não conseguiram colocação. Das 56.121 vagas que estavam disponíveis, sobraram 6.050 vagas para a 2.ª fase do concurso, representando uma diminuição de 10% em relação à mesma fase do concurso de 2019. No ano passado, na 2.º fase havia 6.734 lugares e, em 2015, o número foi ainda mais elevado, com 8.714 vagas disponíveis para os estudantes que concorreram na 2.º fase.

Apesar destes números, as instituições podem aumentar o número de vagas através da transferência de vagas fixadas e não ocupadas nos concursos especiais de acesso e ingresso no ensino superior, caso se venham a verificar novas vagas não preenchidas em concursos especiais nas instituições de ensino superior até ao início de outubro, sublinha o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

Entre segunda-feira, 28 de setembro, e 09 de outubro decorre a apresentação das candidaturas à 2.ª fase do concurso nacional de acesso para o ano letivo de 2020/2021. Os resultados da primeira fase do concurso estão disponíveis na Internet desde as 00:01 de hoje no site da Direção-Geral do Ensino Superior (http://www.dges.gov.pt), podendo ainda ser consultados através da aplicação ES Acesso, disponível nas plataformas iOS e Android.

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“Portugal será importante beneficiário do fundo de recuperação”, diz Von der Leyen

  • Lusa
  • 27 Setembro 2020

"Os cidadãos portugueses lutaram de forma muito corajosa e disciplinada contra o vírus e até têm sido mais bem-sucedidos do que outros”, diz a presidente da Comissão Europeia.

A presidente da Comissão Europeia garante que “a União Europeia (UE) está solidária com Portugal” face à crise provocada pela pandemia, como o demonstra o facto de o país ser um dos importantes beneficiários do Fundo de Recuperação.

Em entrevista à Lusa na véspera da sua primeira visita oficial a Portugal enquanto presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen afirma que “os cidadãos portugueses lutaram de forma muito corajosa e disciplinada contra o vírus e até têm sido mais bem-sucedidos do que outros”, e podem contar com o apoio da UE, que ajudará igualmente a “impulsionar” a retoma da economia portuguesa.

“A UE assegurará que o povo português, os cidadãos europeus e as pessoas em todo o mundo tenham acesso a uma futura vacina. E a UE estará também ao lado dos portugueses na recuperação da crise económica”, garante a presidente da Comissão.

Sustentando que o «NextGenerationEU», o fundo de recuperação proposto pelo seu executivo e acordado pelos líderes europeus numa longa cimeira em julho passado, dá à Europa “a oportunidade não só de reparar os danos e recuperar da situação atual, mas de moldar um melhor modo de vida”, Von der Leyen destaca que “Portugal será um importante beneficiário”.

De acordo com o compromisso alcançado em julho passado, Portugal receberá 15,3 mil milhões de euros em subvenções (a fundo perdido), incluindo 13,2 mil milhões de euros, até 2023, através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, o principal instrumento do Fundo de Recuperação. Segundo a presidente da Comissão, o apoio que Portugal receberá “vai proporcionar os meios para impulsionar a recuperação da economia portuguesa, assente na dupla transição ecológica e digital, e assegurando ao mesmo tempo que ninguém é deixado para trás”.

Questionada sobre o impacto particular que a crise da covid-19 teve em Portugal enquanto um dos países onde o PIB mais depende do turismo, um dos setores mais atingidos, Ursula von der Leyen observa que “todos os Estados-Membros, tanto os grandes como os pequenos, os que são economicamente mais fortes e menos fortes, sentiram a sua vulnerabilidade durante esta crise”.

“A atual crise afetou todos os Estados-Membros, embora de forma diferenciada, e temos de trabalhar afincadamente para tornar as nossas economias mais resistentes aos choques externos”, diz, na entrevista por escrito concedida à Lusa. Segundo a responsável alemã, “o instrumento «NextGenerationEU» foi concebido para ter em conta estas diferenças” e “muitas das medidas adotadas pela Comissão dirigem-se especificamente ao setor do turismo, que é tão importante para países como Portugal”.

“No início deste mês, a Comissão adotou uma proposta para assegurar que as medidas tomadas individualmente pelos Estados-Membros e que restringem a livre circulação devido à pandemia de coronavírus são coordenadas e comunicadas claramente a nível da UE. Esperamos que esta proposta possa ser adotada em breve pelos governos da União”, lembrou, referindo-se aos esforços de Bruxelas para salvaguardar o espaço Schengen de livre circulação e, consequentemente, proteger também o setor do turismo, particularmente lesado pelos encerramentos de fronteiras e outras restrições que os Estados-membros foram tomando unilateralmente desde março passado.

Ursula von der Leyen estará a partir de segunda-feira em Lisboa, para uma visita de dois dias, a primeira desde que assumiu a presidência da Comissão, em dezembro de 2019, e durante a qual participará numa sessão, na terça-feira, na Fundação Champalimaud, com o primeiro-ministro, António Costa, na qual apresentarão respetivamente os planos de recuperação europeu e português.

Ainda antes desta sessão, o primeiro-ministro e a presidente da Comissão Europeia farão uma visita ao Instituto Ricardo Jorge, valência que tem estado na primeira linha do combate à covid-19. Durante a sua presença em Portugal, Ursula von der Leyen, participa na terça-feira, a convite do Presidente da República na reunião do Conselho de Estado, que vai debater a situação e o futuro da Europa, e está marcado para o Palácio da Cidadela de Cascais.

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Portugal está no “bom caminho” energético e digital, diz Von der Leyen

  • Lusa
  • 27 Setembro 2020

A presidente da Comissão Europeia defende que Portugal está no “bom caminho” para conseguir energias mais limpas e uma maior digitalização.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considera que Portugal está no “bom caminho” para conseguir energias mais limpas e maior digitalização, devendo agora aproveitar a “oportunidade única” dos fundos europeus pós-crise para o consolidar.

“Já antes da pandemia, Portugal estava no bom caminho para garantir um cabaz energético mais limpo e uma maior digitalização”, declara a responsável, numa entrevista à Lusa na véspera da sua primeira visita oficial a Portugal enquanto presidente do executivo comunitário.

Aproximando-se também o prazo para os Estados-membros enviarem para Bruxelas as suas prioridades para as verbas que vão receber do «NextGenerationEU», o fundo de recuperação pós-crise da covid-19 proposto pelo seu executivo e acordado pelos líderes europeus numa longa cimeira em julho passado, Ursula von der Leyen recorda que o executivo comunitário “publicou orientações pormenorizadas para ajudar os Estados-membros a prepararem os seus planos de recuperação nacionais”.

E nessas diretrizes existe “uma clara incidência nas questões de futuro da proteção do clima, da digitalização e de uma economia mais resiliente”, destaca. Defende, por isso, que o «NextGenerationEU» é “uma oportunidade única” para Portugal e os restantes países europeus “desenharem a mudança”. “No que toca aos planos nacionais, trabalharemos em conjunto para garantir que contribuem para as transições ecológica e digital e para reforçar a resiliência económica e social de cada Estado-Membro, promovendo a criação de emprego e o seu potencial de crescimento”, garante.

De acordo com o compromisso alcançado em julho passado, Portugal receberá 15,3 mil milhões de euros em subvenções (a fundo perdido), incluindo 13,2 mil milhões de euros, até 2023, através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, o principal instrumento do Fundo de Recuperação. Os planos de recuperação e resiliência podem ser enviados pelos países a Bruxelas a partir de meados de outubro, dispondo a Comissão Europeia de dois meses para os avaliar.

O Governo já veio dizer que Portugal quer ser dos primeiros países da UE a ter um plano de recuperação e resiliência “apresentado, discutido e aprovado” para aceder a fundos europeus a partir de início de 2021. Entre as prioridades do executivo português estão questões como o reforço dos sistemas de saúde, o investimento em infraestruturas e na capacidade industrial e económica, o aumento da coesão territorial e da capacidade de concorrer a nível internacional, a realização da transição climática e ainda a reforma da administração pública.

Ursula von der Leyen estará a partir de segunda-feira em Lisboa, para uma visita de dois dias, a primeira desde que assumiu a presidência da Comissão, em dezembro de 2019. Durante a visita participará numa sessão, na terça-feira, na Fundação Champalimaud, com o primeiro-ministro, António Costa, na qual apresentarão respetivamente os planos de recuperação europeu e português. Ainda antes desta sessão, o primeiro-ministro e a presidente da Comissão Europeia farão uma visita ao Instituto Ricardo Jorge, valência que tem estado na primeira linha do combate à covid-19.

Durante a sua presença em Portugal, Ursula von der Leyen participa na terça-feira, a convite do Presidente da República, na reunião do Conselho de Estado, que vai debater a situação e o futuro da Europa, e está marcado para o Palácio da Cidadela de Cascais, distrito de Lisboa. Nesta entrevista, concedida por escrito à Lusa, Ursula von der Leyen adianta estar “muito honrada pelo convite” de Marcelo Rebelo de Sousa para visitar Portugal, afirmando ainda aguardar “com expectativa” a sua participação na reunião do Conselho de Estado.

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Para quando uma recuperação do turismo? 9 respostas de profissionais e especialistas

No dia em que se comemora o Dia Mundial do Turismo, o ECO falou com nove profissionais e especialistas deste setor para perceber o que podemos esperar do futuro.

O turismo foi — e continua a ser — um dos setores mais afetados pela pandemia. As quebras de receitas foram astronómicas e os postos de trabalho perdidos consideráveis face à evolução dos resultados até 2019. De acordo com os números oficiais, ​​verificou-se um aumento de emprego no turismo, com um peso de 6,9% na economia nacional (336,8 mil empregos em 2019; dados alojamento, restauração e agências de viagem). As receitas turísticas aceleraram (+8,1%) e os proveitos globais também (+7,3%), mais do que o aumento de dormidas (+4,1%). Um setor que valia cerca de 15% do Produto Interno Bruto (PIB).

Numa altura em que o setor começa a dar os primeiros passos para uma recuperação, e no dia em que se comemora o Dia Mundial do Turismo, o ECO falou com nove profissionais e especialistas do setor para perceber o que podemos esperar do futuro.

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal

“Historicamente, o turismo é um setor resiliente que sabe adaptar-se às circunstâncias e sobreviver. Haverá sempre crises, maiores ou menores, mas esta é, claramente, uma das mais desafiantes. Porquê? Porque está relacionada com questões de saúde pública, fora do âmbito estrito da economia e de impacto global. A recuperação exige assim respostas transversais e concertadas.

Para além do fortíssimo impacto económico, esta é sobretudo uma crise de confiança — do consumidor e das empresas — pelo que é determinante atuar a esse nível. É assim importante sinalizar aos turistas e às empresas do turismo que há uma “luz ao fundo do túnel” e que é possível recuperar.

Muitas empresas investiram nos seus negócios, diversificaram no território e apostaram em novos segmentos e mercados. Agora, há que apostar na formação, uma área que continua, e deve continuar, a ser prioritária para as empresas. Prova disso são as mais de 64 mil pessoas que, nos últimos meses, têm vindo a receber formação online pelas Escolas do Turismo de Portugal.

Vamos voltar aos números do passado? Sim, quando conseguirmos recuperar o turismo em todo o território, ao longo de todo o ano, e voltar a crescer em receitas acima do crescimento em número de turistas. Se já conseguimos que o turismo em Portugal crescesse 60% em quatro anos, não duvido de que o voltaremos a fazer!”.

Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP)

“A propagação da Covid-19 surpreendeu-nos a todos, sendo ainda uma incógnita no que se refere à sua evolução e impacto. O turismo tornou-se, desde o início, a atividade económica mais exposta a esta crise sanitária, porque as pessoas simplesmente deixaram de viajar, de se instalar em hotéis, de frequentar restaurantes, de alugar viaturas, de ir a eventos, de participar em congressos, de visitar atrações turísticas, etc. Praticamente tudo o que envolve a atividade turística ficou interdito durante um período considerável e agora apresenta grandes limitações.

Infelizmente, o impacto é gigantesco. As empresas de turismo estão habituadas a lidar com a adversidade. São, inclusive, as primeiras a recuperar das crises económicas e financeiras. Mesmo antes desta situação, as empresas já apresentavam outros problemas, como as dificuldades de acesso ao financiamento e uma carga fiscal excessiva. A pandemia veio trazer enormes dificuldades às empresas, que viram as suas receitas a descer abruptamente. As projeções da CTP apontam para uma redução de 70% de receitas.

É difícil fazer previsões neste cenário, mas diria que o turismo nunca [voltará aos números de 2019] antes de 2022 ou 2023. E para que isso aconteça, o turismo precisa de medidas que o coloquem novamente como o motor da economia nacional, tais como a reposição do lay-off simplificado, a rapidez na execução das medidas do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) e das medidas de capitalização das empresas e a garantia de que a “bazuca” europeia chega às empresas e à economia real a tempo de evitar uma tragédia. Sem estas medidas será muito difícil e lenta a recuperação.

As decisões do Governo no que toca às quatro medidas citadas serão determinantes para a recuperação do turismo. Naturalmente que também dependerá da evolução da pandemia e da rapidez com que conseguirmos uma vacina e/ou tratamento eficaz para este coronavírus. Assegurada a questão da saúde pública e com o apoio do Governo e da União Europeia, creio que o turismo reassumirá o papel decisivo na economia nacional e global”.

José Theotónio, CEO do Grupo Pestana

“Quando pensamos que estamos preparados para todos os cenários de incerteza a realidade consegue-nos sempre surpreender. No dia 7 de março assisti ao Inglaterra – Gales em rugby num estádio com 85 mil pessoas. No dia 16 de março fechávamos a primeira das 100 unidades que tínhamos abertas e no final de março todas as unidades Pestana estavam encerradas, com exceção das que prestavam apoio a equipas hospitalares sem cobrar qualquer valor. Se alguém diz que imaginou uma situação como esta, provavelmente, mente.

O impacto foi enorme. Vínhamos de um período ímpar de crescimento, com perspetivas ótimas, e em pouco mais de duas semanas ficámos completamente parados. Em abril e maio não se emitiu uma única fatura nos nossos hotéis e depois a retoma tem vindo a acontecer a um ritmo muito lento.

Quando é que voltaremos aos números de 2019? Quem tiver essa resposta, sem “inventar” responda-me e serei o mais agradecido. Ficará o meu guru da gestão. O que sabemos é que na última crise, que começa no último trimestre de 2008, só se começou a recuperar a partir de 2013 e que os resultados de 2007 e 2008 — os melhores até então — só foram ultrapassados oito anos depois, ou seja, em 2016. Esta crise é muito diferente, porque é mais repentina e abrupta. Mas a indústria para voltar a ter níveis de rentabilidade aceitáveis não necessita de chegar aos anos fantásticos que foram os anos de 2017 a 2019. Basta chegarmos a 60% desses valores, que se alcançaram algures entre 2014 e 2015″.

Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do Grupo Vila Galé

“Estou na Vila Galé desde 1996 e tivemos muitos momentos desafiantes, desde os ataques do 11 de setembro em 2001, a nuvens de cinza vulcânica, crises económicas globais e até epidemias como a síndrome respiratória aguda grave (SARS) de 2002. Mas nunca imaginei que pudéssemos passar por uma pandemia com efeitos com esta dimensão e impacto. Foi a maior surpresa da minha atividade profissional.

O turismo e, consequentemente, a hotelaria estão a ser os setores mais afetados, tendo em conta que houve uma paragem total das viagens e que, por falta de procura, fechámos a maioria dos hotéis durante alguns meses. O impacto ainda se mantém de forma séria e acentuada, sendo estimadas quebras a nível nacional entre 70% e 80%. Este cenário e a previsão de se manter assim por vários meses poderão pôr em causa a sustentabilidade de muitas empresas do setor.

. Quando é que o turismo voltará aos números de 2019? Todos gostávamos de ter essa resposta, mas dada a volatilidade da situação, torna-se difícil fazer previsões. Mas pode efetivamente demorar vários anos, devido à recessão económica e financeira em que vamos entrar. Apesar da pandemia, a vontade de viajar e de explorar novos locais e culturas e de conhecer outros povos não vai desaparecer. As pessoas vão querer continuar a viajar, mas o número de consumidores e a oferta turística vão diminuir.

Também é difícil antecipar como será a recuperação. Tendo em conta o cenário atual, será certamente lenta e progressiva. Temos de fazer tudo o que for possível para conquistar a confiança dos clientes, demonstrando que é possível continuar a viajar e fazer férias ou viagens de negócios em segurança. A sociedade terá que aprender a conviver com o vírus”.

Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP)

“Penso que ninguém nunca imaginou [que o turismo passasse por um momento destes]. Os cenários mais catastróficos tinham em conta questões de segurança, terrorismo que implicaram numa queda de turistas durante alguns meses nos destinos atingidos, mas cuja recuperação foi relativamente rápida. Algo no nível que estamos a passar, onde muitos segmentos estão paralisados, com receitas apenas marginais durante vários meses. É um cenário quase de ficção científica.

O impacto no alojamento local e no turismo foi muito duro. Foram três ou quatro meses no início parados sem receita. Depois, houve um pequeno balão de oxigénio em alguns destinos em agosto, e agora volta a incerteza com a crise a aprofundar-se à medida que entramos na época baixa. Os apoios dados foram importantes, mas não vão ser nem de perto suficientes para o que vem aí no turismo. Se não houver um plano robusto de apoio ao turismo durante este inverno corremos o risco de perder boa parte dos alicerces e comprometer a posição de liderança que Portugal conseguiu nos últimos anos. A situação mais grave é nos destinos urbanos onde as quedas de receita ultrapassam os 80%.

Ainda é cedo para previsões de muito longo prazo. Estou mais inclinado para as projeções como as da IATA que apontam para que em 2024 possamos regressar aos números de 2019. Mas, temos sido surpreendidos regularmente nesta crise por mudanças de cenários, quem sabe, pelo menos no futuro, algumas destas alterações de projeções, para variar um pouco, nos surpreendam pela positiva.

Acredito que, à vontade, fazer turismo é algo que vai se recuperar de forma rápida assim que tivermos a vacina. O problema maior vão ser as sequelas que esta crise vai deixar. Como vão ficar a economia e o emprego? As famílias vão ter condições financeiras de manter os hábitos de viagem? Como ficam as companhias aéreas? Variável fundamental no caso de Portugal. E as empresas do turismo, quais é que vão resistir a esta crise e em que condições vão sair dela? São mais estes fatores que determinarão a recuperação do que a confiança e vontade de viajar”.

Mário Ferreira, CEO da Douro Azul

“Tendo já passado por momentos complicados em resultado de eventos que criaram disrupção no setor do turismo, e mesmo estando sempre preparado para potenciais cenários adversos, confesso que nunca imaginei um cenário em que tivéssemos que parar toda a atividade em todo o mundo. Ter uma frota de dezenas de navios espalhada pelo mundo parada, vazia e sem perspetivas imediatas de reatar a atividade era um cenário que não tinha imaginado acontecer.

Só não foi catastrófica porque o setor do turismo é bastante resiliente e capaz de se readaptar rapidamente. Isso permitiu que, mesmo num ano completamente atípico e adverso, tenha sido possível alguma atividade que impediu que fosse um ano completamente perdido e com consequências ainda mais graves para a economia mundial.

O processo de recuperação estará sempre dependente do avanço científico no combate à Covid-19. Seja através de uma vacina ou do desenvolvimento de um tratamento eficaz, o processo de recuperação do turismo estará sempre, inicialmente, dependente destes desenvolvimentos. Mas a vontade de viajar continua presente. Tendo em consideração esta vontade e as perspetivas otimistas no desenvolvimento de uma vacina, acredito que, com a resiliência sempre demonstrada pela indústria do turismo, que já em 2022 poderemos estar de volta aos números de 2019.

Acredito que será, inicialmente, uma recuperação lenta à medida que os avanços científicos progridem e os consumidores recuperam confiança. Mas acredito que, uma vez recuperada essa confiança, o setor irá recuperar rapidamente porque sentimentos nas pessoas a vontade de viajar, de conhecer o mundo e outras culturas que este vírus os impediu, temporariamente, de fazer. O aumento da poupança das famílias será também importante para um boom acelerado do setor turístico”.

Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT)

“Estou bem ciente das questões relacionadas com a aleatoriedade e sou um gestor defensivo, que sempre se preocupou em dotar as empresas de capacidade de reação, mas… a maior crise das nossas vidas não é programável.

Caracterizar o impacto numa palavra seria “devastação”. O setor foi varrido por um tufão. A quebra do volume de negócios é brutal e a adesão ao lay-off é quase total. Avoluma-se a incerteza, à medida que o tempo passa e que a recuperação da saúde pública se mantém, aparentemente, distante.

2020 será um ano de destruição e 2021 de reconstrução, espera-se. Quero acreditar que entre 2023 e 2024 estaremos novamente em patamares anteriores à crise. Será lenta, assimétrica e incerta. E dolorosa também. Lenta e incerta porque absolutamente dependente da mobilidade internacional e da confiança para viajar, facto que apenas será alcançado com a resolução do problema de saúde pública. Assimétrica: o turismo de luxo terá mais facilidade em recuperar que o turismo de massas; As viagens corporativas aparecerão muito antes dos grandes eventos.

Finalmente, dolorosa, porque assistiremos a falências e a desemprego, tanto mais quanto o Governo não conseguir, com rapidez e eficiência, apoiar as empresas, permitindo a manutenção do emprego, da receita fiscal futura e, sobretudo, de uma recuperação económica mais rápida. Como em crises anteriores, será o turismo a liderar o crescimento, o emprego e o equilíbrio das contas externas. Porque a liderança económica não depende de escolhas políticas, baseia-se em capacidade concorrencial internacional”.

Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP)

“Tenho a certeza de que nem nós nem ninguém previu a situação que estamos a atravessar, tal como ninguém sabe quando acaba e a extensão dos efeitos que esta pandemia terá nos negócios, mas também nas pessoas.

Dadas as características desta crise de saúde pública, cedo previmos que teria um impacto negativo muito grande em todas as atividades, mas em especial nas atividades da restauração, bebidas e alojamento turístico, porque cria um sentimento de receio nas pessoas e limita a sua circulação. Estes dois fatores juntos levam a que as pessoas não frequentem os estabelecimentos, logo não consumam, o que se reflete na quebra, ou mesmo ausência, de faturação, e sem isso não há empresa que consiga sobreviver.

Fruto até da sua responsabilidade social, muitos estabelecimentos de restauração encerraram mesmo antes dessa medida ser legalmente decretada e outros ficaram muito limitados no seu funcionamento ao fazê-lo apenas em take away. Aliás, ainda hoje temos estabelecimentos encerrados por imposição legal e os que podem funcionar encontram-se muito limitados quanto à sua capacidade.

Todo este cenário faz com que as empresas estejam a acumular prejuízos há mais de seis meses, e cheguem agora a uma fase determinante, em que, ou chegam apoios efetivamente eficazes, ou serão obrigados a fechar portas. Falo daqueles que podem funcionar, porque se pensarmos nos bares e discotecas, tudo se agrava porque desde março que têm estão impedidos de exercer a sua atividade.

Posto isto, e tendo em conta as pouco animadoras perspetivas no curto prazo, é impossível prever quando chegaremos aos números de 2019 porque, desde logo, estamos muito dependentes da evolução da pandemia e depois ninguém sabe o exato impacto que terá nos negócios e na economia. Sabemos, no entanto, o caminho que deve ser tomado para que as empresas possam ultrapassar esta fase e pensar numa retoma quando o cenário for mais favorável, e duas medidas são absolutamente fundamentais: os apoios a fundo perdido para as empresas e a dinamização do consumo privado. Aos consumidores peço confiança e apelo para que nos apoiem nesta fase, e isso faz-se não deixando de frequentar os nossos estabelecimentos, que têm sido exemplares no cumprimento das regras sanitárias”.

Duarte Guedes, CEO da Hertz Portugal

Nunca imaginei que o turismo passasse por um momento destes, sobretudo da magnitude do que verificámos no 2.º trimestre. Temos de estar sempre preparados para crises cíclicas, mas ter o mundo inteiro fechado em casa era um cenário que não considerava, muito honestamente.

O impacto foi traumático. Aquele que foi um setor que teve uma performance espetacular e preponderante em Portugal, como um dos motores na saída da crise das dívidas soberanas, foi severamente afetado. No entanto, os efeitos finais ainda estão longe de ser conhecidos. Temos de esperar entre um a dois anos para fazer o balanço e ver se passamos de um evento traumático a devastador. Dito isto, é um setor no qual continuo a acreditar muito no médio e longo prazo. As pessoas querem viajar, querem viver experiências e partilhá-las. Isso não mudou.

Desde março que transmitimos internamente à nossa equipa, que serão entre três a quatro anos até chegarmos a um ano semelhante a 2019. Acho que para já mantemos essa previsão, ou seja, 2024. Na minha opinião não é apenas o tema da vacina, mas também as consequências económicas de tudo isto no consumo.

Neste clima atual do regresso parcial dos lockdowns é muito difícil prever [como será a recuperação]. Assumindo que entramos num caminho de evolução gradual, continuaremos a ter o regresso do tráfego europeu, seguido do longo curso numa fase posterior, sendo que este último bem falta faz ao nosso turismo no que toca a receitas. Depois, e apesar do impacto económico negativo nos próximos anos, o leisure regressará com maior vigor do que o business, que por sua vez, para além dos desafios económicos, debate-se com a alteração dos hábitos de trabalho e do salto tecnológico nas ferramentas de colaboração/comunicação que observámos desde março. Acredito que este segmento terá alterações no seu perfil que perdurarão“.

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Empresas Gazela: Bring Focus e Imbatível Partilha apostam na empregabilidade

  • Conteúdo Patrocinado
  • 26 Setembro 2020

Entre as empresas gazela apuradas em 2019 estão a Bring Focus e a Imbatível Partilha, que se destacaram como empresas “Gazelas mais empregadoras”.

Localizadas em Castelo Branco e na Guarda, respetivamente, a Bring Focus e a Imbatível Partilha são empresas que exploram áreas de negócio completamente diferentes, mas ambas se destacaram no apuramento das Empresas Gazela 2019, realizados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC).

A primeira presta serviços em tecnologias de informação e a última dedica-se à indústria da construção.

Bring Focus, “uma empresa de pessoas para pessoas”

A Bring Focus nasceu em 2011 com o objetivo de focar os serviços prestados nas transformações digitais e nas áreas de analytics, big data, inteligência artificial, machine learning e serviços de integração.

“Todas estas áreas onde atuamos têm como requisito o conhecimento especializado dos nossos colaboradores e a sua capacidade de criarem soluções com elevada diferenciação. As pessoas são a peça fulcral da nossa atividade e o nosso maior ativo”, começou por afirmar Carlos Alves, CEO da Bring Focus.

bring global
A Bring Focus nasceu em 2011, em Castelo Branco.D.R.

Desta forma, criar postos de trabalho é visto pela empresa como uma consequência do crescimento que têm vindo a sentir e, ainda, um meio de ter capacidade de criar valor acrescentado para os clientes e parceiros.

Atualmente, a Bring Focus tem pessoas de mais de 10 nacionalidades a trabalhar na empresa. Esta diversidade, segundo Carlos Alves, mostra diferentes formas de olhar para os problemas e para as soluções. No entanto, é também aqui que assenta o principal desafio de empregar muitas pessoas: a cultura.

"As nossas pessoas são os nossos maiores e melhores embaixadores.”

Carlos Alves

CEO da Bring Focus

“O maior desafio de todas as empresas com as nossas características é, sem dúvida, a cultura. A criação de uma identidade própria forte, alinhada com os nossos valores e com a nossa missão é um desafio em permanente evolução, que requer acompanhamento. Queremos ser cada vez mais globais e para que tal ocorra de forma sustentada, é fundamental ter uma identidade que fale por nós”, explica o CEO.

O crescimento no número de “Bringers” é um motivo de orgulho para a organização. Carlos Alves chega mesmo a afirmar que a Bring Focus é “uma empresa de pessoas para pessoas”, com o objetivo de “simplificar a vida” dos milhões que utilizam as soluções que desenvolvem.

O mote “Inspired by People”, presente na assinatura da empresa, faz jus à distinção que receberam enquanto empresa gazela e à forma de pensar do CEO, que acredita que “talento atrai talento”. “Acreditamos que a força gravítica para atrair talento começa no talento que temos dentro de casa e na cultura de empresa que promovemos. As nossas pessoas são os nossos maiores e melhores embaixadores”, remata Carlos Alves.

Imbatível Partilha aposta na formação de “pessoas-chave”

Vitor Hugo partilha da mesma lógica de ideias. O CEO e fundador da Imbatível Partilha, criada em 2015, já trabalhava no ramo da construção, mas decidiu criar o próprio negócio e, desde então, a aposta tem sido na criação de emprego para dar resposta à elevada procura.

“O objetivo é sempre criar mais (postos de trabalho) e melhores. Aqui na minha empresa somos todos respeitados por igual, desde os engenheiros, encarregados, até ao colaborador mais novo ou estagiário. Todos são tratados da mesma forma, com igualdade, e isso é um dos maiores segredos para a empresa crescer”, conta Vítor Hugo.

Um dos projetos da Imbatível Partilha, empresa integrante do Coffro Group.Imbativel Partilha

O CEO reconhece que a indústria da construção é uma área cada vez menos atrativa para os jovens. Por essa razão, quando encontra “pessoas-chave” aposta na formação e ainda na compensação do esforço e trabalho.

"A vantagem de ter muitas pessoas a trabalhar é a capacidade de resposta. Os clientes ficam mais satisfeitos com o trabalho porque acabam por me entregar mais do que uma obra por saberem que tenho capacidade para assumi-las.”

Vitor Hugo

CEO Imbatível Partilha

“Há muitas pessoas que não querem aderir à construção civil e nós temos de motivá-los. Qual é a motivação? São boas remunerações e boas condições. Se as pessoas produzem, também temos que retribuir o trabalho, não podemos pensar só em nós”, afirma Vítor Hugo.

Nos primeiros meses de existência, a Imbatível Partilha tinha cinco pessoas na equipa, depois aumentaram para dez e, ao fim de meio ano, já eram 25. O número foi subindo gradualmente e, hoje em dia, a empresa atribui funções a 100 pessoas.

“A vantagem de ter muitas pessoas a trabalhar é a capacidade de resposta. Os clientes ficam mais satisfeitos com o trabalho porque acabam por me entregar mais do que uma obra por saberem que tenho capacidade para assumi-las”, confessou o fundador da empresa.

A Imbatível Partilha, que faz parte do Coffro Group,​ está, por isso, entre as empresas gazela mais empregadoras, título que enche de orgulho Vítor Hugo. “O facto de sermos uma das ‘gazelas’ mais empregadoras é sinal de que há bom ambiente aqui dentro”, garantiu. O CEO acredita, por isso, que esta distinção pode tornar a empresa mais atrativa para o mercado de trabalho.

Consulte aqui​ o estudo completo, com a listagem das empresas.

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Boris Johnson apela a líderes mundiais para se unirem contra “inimigo comum”

  • Lusa
  • 26 Setembro 2020

"Nunca mais devemos travar 193 campanhas separadas contra o mesmo inimigo", disse o primeiro-ministro britânico, anunciando que vai aumentar em 30% o financiamento à OMS:

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou este sábado que a pandemia do novo coronavírus rompeu com os laços entre as nações e apelou aos líderes mundiais para se unirem contra o “inimigo comum”, a Covid-19.

Johnson, que fez estas declarações num discurso pré-gravado na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), disse que nove meses após a pandemia, “a própria noção de comunidade internacional parece esfarrapada”. “Nunca mais devemos travar 193 campanhas separadas contra o mesmo inimigo”, defendeu o governante.

Johnson, que contraiu a covid-19 na primavera passada e passou três noites nos cuidados intensivos, pediu também aos países para partilharem os dados para criar um sistema global de alerta precoce para os surtos de doenças. Além disso, o primeiro-ministro britânico pediu aos países para pararem de impor controlos à exportação de bens essenciais, como muitos fizeram durante a pandemia.

Johnson estabeleceu um plano para prevenir outra pandemia global, incluindo uma rede de laboratórios de investigação zoonótica (transmitida por animais ao ser humano) em todo o mundo para identificar os agentes patogénicos antes que eles passem dos animais para humanos. E comprometeu-se ainda com 500 milhões de libras (450 milhões de euros), através de um grupo de aquisição global de vacinas COVAX, para ajudar 92 dos países mais pobres do mundo a obterem uma vacina contra o novo coronavírus, caso venha a ser descoberta e esteja disponível.

O primeiro-ministro anunciou igualmente que o Reino Unido vai aumentar em 30% o seu financiamento para a Organização Mundial da Saúde (OMS), isto é, para 340 milhões de libras nos próximos quatro anos.

O Governo britânico está agora a tentar contrariar a impressão de que o país está a retirar-se do cenário mundial ou a torna-se mais protecionista, após a sua saída da União Europeia. A data de 31 de janeiro deste ano marcou a saída oficial do Reino Unido da União Europeia e o início de um período de transição que se irá prolongar até ao final do ano, caso não venha a ser, entretanto, prolongado.

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Rússia diz que também foi alvo de ataques informáticos por causa da vacina

  • Lusa
  • 26 Setembro 2020

Os computadores da instituição que trabalha na primeira vacina russa contra o coronavírus, a Sputnik V, foram alvo de ataques informáticos.

O diretor do Centro de Investigação Gamaleya, Alexander Ginzburg, informou este sábado que os computadores da instituição que trabalha na primeira vacina russa contra o coronavírus, a Sputnik V, foram alvo de ataques informáticos.

Numa entrevista a um canal de televisão russo, citada pela agência EFE, Ginzburg afirma que “houve ataques informáticos” e esclarece que aconteceram há uns meses, quando a vacina estava a ser desenvolvida. “Não sou um especialista em tecnologias de informação e não posso dizer se estavam relacionados com a vacina ou não (…), mas houve tentativas de entrar nos computadores dos nossos programadores”, afirmou o dirigente.

Estas afirmações surgem dois meses depois de também o Reino Unido, os Estados Unidos da América e o Canadá terem dito que as suas investigações no âmbito da vacina contra o novo coronavírus foram pirateadas, presumivelmente por agências de inteligência russa.

Esta vacina russa foi registada em 11 de agosto e está na terceira fase de ensaios clínicos desde o início do mês. Com a Sputnik V na última fase antes de aprovação, a Rússia tem também uma segunda vacina, desenvolvida pelo Centro Estatal de Investigação de Virologia e Biotecnologia Véktor, na segunda fase de ensaios, e que deve ser registada no dia 15 de outubro.

O país continua a registar um aumento de casos, com 7.523 novos diagnósticos nas últimas 24 horas, e soma já 1.143.571 infeções pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 desde o início do surto. A pandemia de coronavírus já provocou pelo menos 993.438 mortos e cerca de 32,6 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 1.944 pessoas dos 72.939 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde. A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China. Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

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Há 884 novos casos de Covid-19. Morreram mais oito pessoas

  • ECO
  • 26 Setembro 2020

O número de pessoas infetadas com coronavírus continua a aumentar e, nas últimas 24 horas, registaram-se 884 novos casos. A maioria continua a concentrar-se na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Foram encontrados 884 novos casos de coronavírus nas últimas 24 horas, elevando para 72.939 o número total de pessoas infetadas com a doença. A região de Lisboa e Vale do Tejo continua a concentrar o maior número de novas infeções, com 53% do total. Morreram mais oito pessoas desde esta sexta-feira.

Do número total de infetados, a esmagadora maioria está a fazer o tratamento em casa, sendo que apenas 615 (-9) estão internados em unidades hospitalares, dos quais 85 (-1) nos cuidados intensivos. Há mais de 43 mil pessoas sob vigilância das autoridades de saúde.

Desde que foi detetado em Portugal, no início de março, o coronavírus já provocou a morte a 1.944 pessoas, oito das quais nas últimas 24 horas. O número de recuperados está atualmente nos 47.380.

Boletim epidemiológico de 26 de setembro

Tal como se tem observado nos últimos tempos, a região de Lisboa e Vale do Tejo concentra a maioria das novas infeções. Dos 884 novos casos registados nas últimas 24 horas, 472 foram nesta região: 53,39% do total do país.

Lisboa é a região com mais casos registados até ao momento (37.376 casos de infeção e 748 mortes), à frente do Norte (26.161 casos e 879 mortes), do Centro (5.947 casos e 260 mortes), do Algarve (1.543 casos e 19 mortes) e do Alentejo (1.432 casos e 23 mortes). Nas ilhas, os Açores registam 266 casos e 15 mortos, enquanto a Madeira tem 214 pessoas infetadas.

(Notícia atualizada às 14h30 com mais informação)

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Vêm aí campanhas presidenciais “peculiares”. Digital será a aposta, mas não sem custos

Os candidatos para as presidenciais têm pela frente uma campanha diferente, em plena pandemia. Menos eventos presenciais e mais presença digital será a norma, mas não sem algum investimento.

A corrida para o lugar de Marcelo Rebelo de Sousa em Belém já começa a ganhar forma. São oito os candidatos que anunciaram a decisão de concorrer, numas presidenciais que prometem ser muito diferentes. Em plena pandemia, as campanhas vão ser “peculiares”, com uma aposta mais forte no digital e na comunicação à distância, o que não quer dizer que haja poupança de custos, dizem os especialistas contactados pelo ECO.

“Com a pandemia, será mais difícil reunir multidões para demonstrações de força ou até mostrar os tão famosos ‘afetos'”, aponta Nuno da Silva Jorge, professor de comunicação política na Escola Superior de Comunicação Social, ao ECO. É uma altura em que os meios digitais vão ganhar destaque, permitindo o contacto à distância.

É ainda incerto como se irá desenrolar esta que será uma “aposta incontornável”, já que campanhas políticas nativamente digitais “é algo que não tivemos até agora na democracia portuguesa”, recorda. As plataformas “sempre funcionaram como suporte a uma campanha que decorria no terreno”, pelo que “esta poderá ser uma grande mudança na forma como percecionamos os candidatos”.

Será preciso ter equipas preparadas para estas campanhas, já que há coisas que podem não correr com esperado. Por exemplo, no “comício digital de Joe Biden para as atuais presidenciais americanas, em que se tentou recriar um town hall numa videoconferência alargada e o sistema tecnológico não respondeu como era esperado; não se via nem ouvia bem o que estava a ser dito”, recorda.

Desta forma, os candidatos que já têm uma comunidade online que os segue “partirão em vantagem perante os outros”, sublinha. Luís Santos, professor da Universidade do Minho, também aponta que o “território de combate pode ser digital” e alguns dos candidatos, como Ana Gomes ou André Ventura, já têm uma presença mais forte e apoiantes “efusivos”, que se empenham na difusão da mensagem.

Este contexto digital traz também alguns perigos. Existe a “eventual possibilidade de algumas campanhas ativarem mecanismos automáticos de disseminação de mensagens, como bots“, nota, um fenómeno está a crescer e já se tem verificado em alguns países europeus, nos Estados Unidos e no Brasil. As plataformas digitais “aumentam o risco de contrainformação, que poderá ser uma tentação para certas máquinas de campanha”, corrobora Nuno da Silva Jorge.

Ainda assim, a televisão não será posta de lado, por reunir um número tão alto de portugueses. Os tradicionais debates entre os candidatos, se se realizarem, também poderão “funcionar como momentos pivot de estratégia à distância”, por ser um momento de exposição dos candidatos ao público, aponta Luís Santos.

Noutros países onde se realizaram campanhas já em pandemia também se viu o “ressurgir de técnicas antigas como o cartaz”, que estava a ser passado para o segundo plano, mas “ganha agora outra relevância”. Por cá, os partidos mais pequenos e recentes já têm apostado nesta ferramenta.

Contenção de custos… mas despesa não desaparece

Ao falar destas presidenciais há ainda um ponto de interrogação fulcral: se o atual Presidente se irá recandidatar. Marcelo Rebelo de Sousa já disse que só irá dar a conhecer a decisão após convocar eleições, o que ocorre em novembro. Apesar deste compasso de espera, tudo indica que irá existir uma candidatura, que até já teve um empurrão de António Costa, numa visita de ambos à Autoeuropa, que fez uma alusão à eventual recandidatura do chefe de Estado.

Os seus “elevados níveis de popularidade e, claro, o facto de historicamente os incumbentes tenderem a vencer estas eleições poderiam desencorajar o número de candidatos”, mas tal acabou por não se confirmar, nota Patrícia Silva, investigadora do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro. Ainda assim, “neste contexto, poderemos ver alguma contenção também nos gastos de campanha eleitoral”.

Até do lado de Marcelo, que já em 2016 “fez uma campanha muito contida em termos de cartazes e de staff dedicado à campanha eleitoral”, deverá continuar com este comportamento “neste contexto de pandemia, de antevisão de uma crise económica e, claro, num contexto em que é esperada a sua reeleição”, aponta.

Existe ainda outro fator que poderá travar os candidatos de abrir demasiado os cordões à bolsa. “Os candidatos seguramente recordam-se das dificuldades por que alguns candidatos passaram após as presidenciais de 2016, quando as candidaturas não obtiveram percentagem de votos suficiente para obter financiamento estatal (subvenção estatal)”, lembrou a investigadora. “Este é uma preocupação particular daqueles candidatos que, à partida, não terão apoio partidário – o que também poderá imprimir uma dinâmica muito própria às campanhas eleitorais”, sublinha.

Para além disso, “em teoria, uma campanha digital poderá ter menos custos do que um evento físico”, aponta Nuno da Silva Jorge. No entanto, esta “está longe de ser gratuita”. “Para fazer uma grande campanha digital é necessário ter uma equipa altamente preparada tecnicamente em várias áreas, ter a infraestrutura tecnológica certa. E isso também custos”, explica.

Eventos? Depende da pandemia e das recomendações da DGS

Arruadas, sardinhadas, visitas a mercados e feiras, beijinhos a bebés. As imagens a que estamos habituados a ver nas campanhas eleitorais vão ser muito diferentes este ano. “Se as circunstâncias se mantiverem as do presente, reuniões controladas em pequena escala poderão acontecer”, nota Luís Santos.

A decisão irá depender das personalidades e da estratégia, bem como das recomendações da Direção-Geral de Saúde. Marisa Matias, por exemplo, “vem de um partido habituado a reuniões com grupos controlados”, nota. No entanto, “cada candidato vai ter de ir pensando quem são os eleitores e se vão querer que faça” estes eventos.

Patrícia Silva também sublinha que “tudo dependerá da evolução da pandemia e da capacidade da DGS em emitir pareceres para este tipo de eventos”, sendo que os partidos/candidatos serão “escrutinados pela comunicação social e cidadãos relativamente aos eventos maiores e ao cumprimento das regras impostas pela DGS a todos os cidadãos”.

Realizou-se recentemente a Festa do Avante, que, por um lado, foi “um exemplo de como a organização de eventos políticos em tempo de pandemia gera polémica”, sendo uma questão de “perceção pública e que ultrapassa as medidas de segurança”, aponta Nuno da Silva Jorge. Já Luís Santos sublinha que, apesar de ter motivado muitas críticas, “teve bastante apoio entre os militantes do partido”.

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OE2021: CDS diz que “orçamento cozinhado à esquerda não pode ser servido pela direita”

  • Lusa
  • 26 Setembro 2020

O presidente do CDS diz que "um Orçamento que é cozinhado pela esquerda não pode ser servido pela direita". Remeteu posição do partido para depois de ser conhecido o documento.

O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, afirmou este sábado que “um Orçamento que é cozinhado pela esquerda não pode ser servido pela direita”, mas remeteu a posição do partido para depois de conhecido o documento.

O líder centrista acrescentou que os “indícios” relacionados com o Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) “não são positivos”. “O CDS apresentará os seus contributos, vamos ver o documento e ouvir o que o Governo tem para apresentar. Mas aquilo que nasce torto tarde ou nunca se endireita. Vamos aguardar, mas o prenúncio, os indícios que temos não são positivos, sobretudo para o país”, referiu.

Na sexta-feira, o Presidente da República disse que os partidos da oposição que aspiram a liderar o Governo devem garantir a aprovação do OE2021, mesmo que a esquerda o reprove. Marcelo considerou que “normal em Portugal, desde que houve as eleições, é que haja um Governo apoiado pela esquerda”, mas afirmou que, “no caso do OE2021, se não for possível haver esse apoio à esquerda, que é o natural”, a “oposição, sobretudo a oposição que ambiciona liderar o Governo, pensará o que eu pensei como líder da oposição na altura” em que o atual chefe de Estado liderou o PSD.

Hoje, Francisco Rodrigues dos Santos referiu que o Governo optou por “um diálogo preferencial” com os partidos à sua esquerda e “não auscultou a direita” para saber quais os seus contributos para a construção do próximo OE. Para o líder do CDS, o Governo “continua acantonado à esquerda e cortou as vias de diálogo com a direita”. “Eu creio que é evidente para todos os portugueses que um Orçamento que é cozinhado pela esquerda não pode ser servido pela direita”, sublinhou.

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