Transparência salarial. Um instrumento para a igualdade de género (e atrair talento)

Considerar o salário um tema tabu pode estar a dificultar a igualdade salarial entre homens e mulheres, e a comprometer a atração de talento. Empresas dão passos. Bruxelas ultima directiva.

Durante décadas, o salário foi um dos ‘segredos mais bem guardados’ da sociedade. As empresas não revelavam o vencimento aos candidatos e os profissionais também não o partilhavam com os colegas, nem mesmo com os amigos mais próximos. Mas considerar o salário um tema quase tabu pode estar a dificultar alcançar a igualdade salarial entre homens e mulheres — e a comprometer a atração de talento –, alertam os especialistas. Algumas organizações já começaram a dar os primeiros passos, divulgando as faixas salariais nos anúncios de emprego. A Comissão Europeia tem em “fase de conclusão” uma proposta em matéria de transparência salarial, para garantir que mulheres e homens na União Europeia recebem remuneração igual por trabalho igual.

Carla Tavares, presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), não tem dúvidas sobre o impacto de uma maior transparência salarial no combate à desigualdade de género. “Ajuda a dissipar dúvidas sobre a desigualdade remuneratória entre mulheres e homens, combatendo assim, de forma mais eficaz e efetiva, os preconceitos em função do sexo nas práticas salariais.” Em Portugal, as mulheres ganham menos menos 13% do que os homens.

Desde 2020 que Portuguese Women in Tech (PWIT) lançou uma ferramenta com o objetivo de apoiar as mulheres do ecossistema tecnológico nacional através da transparência salarial. “Desde que a lançamos, a base de dados foi consultada por milhares de profissionais e recebemos emails e mensagens a agradecer a sua existência”, conta Inês Santos Silva, cofundadora da PWIT.

O “PWIT Salary Transparency Project” é uma base de dados salarial com diferentes perfis e cargos, para comparação e informação, no momento de negociação. A ideia é que, acedendo à informação de forma aberta e pública, todas as mulheres possam ter uma base de comparação e decidir mais de forma mais informada sobre valores e benefícios a negociar com a entidade empregadora.

“Estas profissionais procuravam obter informação para negociar os seus salários com mais confiança. Este último ponto é muito importante porque é, muitas vezes, apontado como um dos motivos da desigualdade salarial”, reforça Inês Santos Silva.

Margarida Costa, senior consultant da Michael Page, considera a transparência salarial um instrumento importante para combater a desigualdade salarial entre géneros e promover um mercado de trabalho mais justo e igualitário. “Apresentar os intervalos salariais ajuda, por um lado, a garantir que os perfis que desempenham o mesmo trabalho recebam remuneração equivalente, independentemente do género ou de outras características; e por outro, para quem está ‘job seeker’, terá visibilidade e acesso ao enquadramento salarial e benefícios praticados de acordo com a função e experiência para qual se candidata”, explica.

Apresentar os intervalos salariais ajuda, por um lado, a garantir que os perfis que desempenham o mesmo trabalho recebam remuneração equivalente, independentemente do género ou de outras características; e por outro, para quem está ‘job seeker’, terá visibilidade e acesso ao enquadramento salarial e benefícios praticados de acordo com a função e experiência para qual se candidata.

Margarida Costa

Senior consultant da Michael Page

 

“A transparência salarial permite às pessoas trabalhadoras detetar, identificar e fazer prova de eventuais situações de discriminação em razão do sexo, podendo, inclusive, revelar a existência de preconceitos com base no sexo em sistemas de remuneração e classificação profissional que não valorizam, da mesma forma ou de forma neutra, o trabalho de envolvido por homens e mulheres, ou que não valorizam determinadas competências profissionais, apenas pelo facto de, na sua maioria, serem consideradas como sendo de natureza feminina”, defende Carla Tavares, presidente da CITE.

Desde 2019 que Portugal tem em vigor a Lei 60/2018, que visa assegurar a igualdade salarial entre homens e mulheres. Mas o país continua a registar um enorme gap no que toca às remunerações praticadas no mundo do trabalho. A diferença salarial entre homens e mulheres em Portugal é, atualmente, de 13%. Em 2021, essa diferença atingiu os 153 euros, em média. E entre os quadros superiores chegou mesmo aos 600 euros.

Ainda no mês passado, no âmbito da aplicação deste lei, a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) notificou 1.540 empresas com diferenças remuneratórias entre homens e mulheres para, no prazo de 120 dias, apresentarem planos de avaliação dessas mesmas diferenças. Em causa estão empresas com 50 ou mais trabalhadores que, em 2022, apresentavam uma desigualdade salarial igual ou superior a 5%.

A transparência salarial permite às pessoas trabalhadoras detetar, identificar e fazer prova de eventuais situações de discriminação em razão do sexo, podendo, inclusive, revelar a existência de preconceitos com base no sexo em sistemas de remuneração e classificação profissional que não valorizam, da mesma forma ou de forma neutra, o trabalho de envolvido por homens e mulheres, ou que não valorizam determinadas competências profissionais, apenas pelo facto de, na sua maioria, serem consideradas como sendo de natureza feminina.

Carla Tavares

Presidente da CITE

No Índice Global de Disparidade de Género, o Fórum Económico Mundial coloca Portugal na 29.ª posição, num total de 146 países. A mesma organização que adverte para o facto de, a este ritmo, ser necessário mais de um século para eliminar as desigualdades de género no mundo.

Falamos de sexo, religião e política. Porque o salário continua a ser tabu?

Num inquérito sobre os temas considerados tabu para falar entre amigos, os salários foram a opção mais escolhida. Mais ainda do que opções como problemas matrimoniais, crenças religiosas, opiniões políticas, doenças mentais, consumo de drogas ou orientação sexual. Aki Ito, redatora na Business Insider, começou um experiência com base nestes resultados: propôs-se a revelar o seu salário aos seus colegas, amigos e familiares. Apesar de nunca o ter feito antes, exceto com aos seus pais, irmã e ex-companheiro, — “se tens mais de 30 anos o mais provável é que partilhes a minha hipocrisia” — Aki Ito revelou o seu salário a 50 colegas de profissão, amigos e fontes. “Contei a mulheres com quem saía, a companheiros de trabalho com quem nunca tinha falado antes.”

Ao longo da experiência, Aki Ito apercebeu-se de que os seus colegas de trabalho mais jovens estão muito mais à vontade do que ela para falar do tema. “Muitos deles contaram-me que partilhar, habitualmente, o seu salário com os outros, ao ponto de saberem os salários de quase todos os seus amigos. Para eles, falar do tema é totalmente normal.”

Para pôr à prova o nível de conforto destes jovens, perguntava-lhes se, ao saberem o seu salário, alguma coisa mudava na sua atitude com ela. Todos disseram que não, mas ficam contentes por sabê-lo. “Obviamente, fico com um pouco de inveja. Mas, se tu podes ganhar tanto, provavelmente eu também possa um dia. Tens um título que é dois ou três escalões superior ao meu e, pelo menos, mais cinco anos de experiência. É algo no que posso trabalhar e crescer”, disse-lhe uma jornalista que ganhava menos de metade que ela, durante a experiência.

Sandra Carvalho, diretora norte de recrutamento & seleção da Egor confirma a conclusão da experiência de Aki Ito. “As novas gerações valorizam muitos aspetos que as gerações anteriores não valorizavam de uma forma tão exponencial”, afirma. E dá como exemplo a publicação dos intervalos salariais nos anúncios de emprego, também forma de implementar a transparência salarial.

“O tempo é cada vez mais um bem precioso e o pragmatismo das novas gerações leva-os a questionar se faz sentido investirem tempo numa candidatura a uma empresa sobre a qual pouco sabem. A eficiência e o match são as palavras de ordem, e só se conseguem com transparência de ambas as partes. O investimento de tempo por parte do candidato é um fator muito importante, ainda mais patente na situação em que os recursos são escassos e o talento é cada vez mais difícil de atrair/ reter”, considere Sandra Carvalho, diretora norte de recrutamento & seleção da Egor.

Mas o velho tabu salarial pode estar em vias de desaparição, independentemente da geração. “A transparência salarial é uma exigência do mercado e não necessariamente geracional. A transparência facilita na fase inicial do recrutamento, permitindo alinhar expectativas entre as empresas e os candidatos. Deste modo, permite otimizar o processo e a seleção de oportunidades relevantes”, refere Margarida Costa, da Michael Page.

Uma opinião partilhada por Gonçalo de Salis Amaral, partner da Neves de Almeida HR Consulting. “A transparência salarial é uma exigência de todas as gerações, já que toca nos temas de justiça, equidade e objetividade, bem como na motivação de todos os colaboradores, independentemente, da sua idade”, diz.

Olhando, inclusive, para a atração e retenção de talentos, a senior consultant da Michael Page, acredita que a transparência salarial desempenhará sempre um “papel imperativo”, pois “existe uma clara visão do que se pode esperar a nível salarial, bem como as oportunidades de progressão”.

Empresas aumentaram comunicação sobre salários

A par de iniciativas como a base de dados salarial da PWIT, a folha de Excel de Teresa Pinho e Mariana Reis na área da comunicação e publicidade ou a plataforma Glassdoor para a indústria tecnológica, as empresas também estão a dar passos nesta matéria, implementando medidas internas para proporcionar maior transparência.

Quase 90% das organizações europeias dizem ter já aumentado a comunicação à volta dos seus programas de remuneração, uma vez que é algo que faz parte dos seus valores e da própria cultura empresarial. Outros fatores, como a confiança nos programas de remuneração (79%) e as expectativas dos trabalhadores (77%), também levaram as empresas a tornarem-se mais transparentes, revela o “Pay Clarity Survey 2022”, desenvolvido pela WTW.

Ainda assim, mais de um terço das empresas (38%) afirma ter preocupações legais sobre a partilha excessiva de informação sobre os salários, enquanto quase um quarto (23%) se retrai devido à complexidade administrativa.

A Comissão Europeia apresentou uma proposta em matéria de transparência salarial, para garantir que mulheres e homens na União Europeia recebem remuneração igual por trabalho igual. Carla Tavares garante que a proposta de diretiva está em “fase de conclusão”, estando a ser revistos os textos finais nas diferentes línguas dos países membros da União Europeia. “Não deverá faltar muito para que o texto final seja apresentado no Parlamento Europeu para votação”, adianta.

Para já, entre as empresas, divulgar as faixas salariais logo nos anúncios de emprego tem sido uma das medidas mais adotadas. O Teamlyzer, uma plataforma online dedicada ao mercado de IT em Portugal, anunciou recentemente que ia passar a exigir às empresas a divulgação do intervalo salarial nos anúncios de oferta de emprego.

O tempo é cada vez mais um bem precioso e o pragmatismo das novas gerações leva-os a questionar se faz sentido investirem tempo numa candidatura a uma empresa sobre a qual pouco sabem. A eficiência e o match são as palavras de ordem, e só se conseguem com transparência de ambas as partes.

Sandra Carvalho

Diretora norte de recrutamento & seleção da Egor

Para isso, foi adicionado um job board à plataforma com obrigatoriedade de partilha salarial pelas empresas. A nova funcionalidade já está disponível na plataforma que conta com mais de 28 mil utilizadores e é uma condição essencial para as mais de 3.000 empresas inscritas poderem anunciar as suas ofertas de emprego e captar talento.

“No Teamlyzer continuamos a trabalhar para ser o ponto de referência onde os profissionais de TI obtêm toda a informação para tomar as suas decisões de carreira, seja para negociar um salário, candidatar-se a um novo emprego, preparar as entrevistas ou saber como é trabalhar nas empresas em Portugal”, explicava Rui Miranda, CEO da empresa, na altura.

Com a América do Norte a anunciar novos regulamentos em torno da divulgação de informações sobre a faixa salarial aos potenciais empregados, a Microsoft anunciou também que iria passar a incluir os intervalos salariais. A medida aplica-se, pelo menos para já, apenas às vagas disponíveis nos Estados Unidos da América.

Desafios a acautelar

A divulgação dos salários pelas entidades empregadoras pode também acarretar certos desafios que precisam de ser acautelados. Margarida Costa insere-os em dois planos: interno e externo. “No primeiro, a incoerência na fixação da remuneração gera sentimento de injustiça, desmotivação dos colaboradores, absentismo e consequentemente ao incremento da rotatividade. No plano externo, as organizações estarão expostas a uma interpretação da sua consolidação financeira. No mesmo sentido, o conhecimento de políticas salariais por parte do mercado poderá conduzir a perda de capital humano“, explica.

Já a Egor salienta que ser mais transparente na divulgação dos intervalos salariais não é o único ponto no qual a empresa deve ser transparente. “À transparência da range salarial, deve acrescentar também uma total transparência sobre as funções que a pessoa vai desempenhar, a identidade cultural da empresa, a sua metodologia de gestão, os planos de carreira entre outros fatores cada vez mais valorizados pelas novas gerações. Acreditamos que a transparência traz vantagens e não o contrário”, explica Sandra Carvalho.

Havendo boa fé e honestidade nos processos, a transparência, bem como a existência de regras claras e objetivas, não acarreta perigos, antes pelo contrário. A falta dela é altamente perigosa pelo descontentamento que produz, as dúvidas e desconfianças disseminadas, as perceções, erradas ou não, da existência de iniquidades e injustiças.

Gonçalo de Salis Amaral

Partner da Neves de Almeida HR Consulting

“Havendo boa fé e honestidade nos processos, a transparência, bem como a existência de regras claras e objetivas, não acarreta perigos, antes pelo contrário. A falta dela é altamente perigosa pelo descontentamento que produz, as dúvidas e desconfianças disseminadas, as perceções, erradas ou não, da existência de iniquidades e injustiças que levam à desmotivação, à falta de envolvimento e dedicação, à menor produtividade, à poluição do employer branding e, não raras vezes, à saída de talentos, usualmente, os mais relevantes”, resume o partner da Neves de Almeida HR Consulting.

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Conselho Superior da Magistratura recusa impor prazo a juíza para decidir recurso na Operação Marquês

Conselho Superior da Magistratura, órgão que tutela os juízes, pede "calma e serenidade" relativamente ao processo da Operação Marquês, no que toca ao início do julgamento que envolve José Sócrates.

O Conselho Superior da Magistratura (CSM) — órgão que tutela os juízes — pede “calma e serenidade” relativamente ao processo da Operação Marquês, no que toca ao início do julgamento que envolve José Sócrates. Num encontro que o CSM organizou com jornalistas, em Lisboa, o presidente do órgão, Henrique Araújo, e o vice José Lameiras, assumiram que não impuseram nenhum prazo à magistrada que está a avaliar o recurso na Relação de Lisboa.

“Não impusemos nenhum prazo. Temos de aguardar com calma e serenidade”. Essa calma é pedida numa altura em que já passaram seis anos do início da investigação e dois anos da pronúncia do ex-governante.

No decorrer desse prazo, depois da separação dos processos, já Armando Vara foi condenado, em julgamento, a uma pena de dois anos de prisão por branqueamento de capitais e Ricardo Salgado, a uma pena de seis anos pelos três crimes de abuso de confiança. Mas José Sócrates ainda aguarda o início do seu julgamento. O julgamento de Armando Vara foi o primeiro da Operação Marquês a começar e foi também o primeiro a ficar concluído, em julho de 2021. Salgado foi condenado em março do ano passado.

Os argumentos do procurador Rosário Teixeira, do Ministério Público, apresentados neste recurso da Operação Marquês estão a ser analisados pela juíza Raquel Lima, do Tribunal da Relação de Lisboa. Promovida há menos de um ano ao Tribunal da Relação de Lisboa, a juíza é da 9.ª secção desta instância e será assim a relatora do futuro acórdão sobre o recurso relativo à matéria que não foi alvo de pronúncia para julgamento, por parte de Ivo Rosa, tendo as desembargadoras Micaela Rodrigues e Madalena Caldeira como primeira e segunda adjuntas, respetivamente.

Raquel Lima foi promovida aos Tribunais da Relação em setembro de 2022, tendo estado anteriormente colocada no Juízo Central Criminal de Viana do Castelo. No entanto, segundo o quadro de antiguidade dos magistrados do Conselho Superior da Magistratura (CSM), tem já mais de 28 anos de tempo de serviço.

Questionada sobre uma eventual exclusividade da magistrada para apreciar o recurso do MP, que chega à Relação quase dois anos depois da decisão instrutória do juiz Ivo Rosa, proferida em 9 de abril de 2021, o Conselho Superior da Magistratura (CSM) explicou que a mesma “tem sempre de ser pedida pela própria juíza”.

No dia 15 de fevereiro, o processo da Operação Marquês e o recurso do Ministério Público, que contesta a decisão de abril de 2021 de Ivo Rosa, chegaram ao Tribunal da Relação de Lisboa. Ao todo, foram transportados os caixotes com 186 volumes com mais de 60 mil páginas, sendo não foram ainda levados os apensos.

José Sócrates foi acusado no processo Operação Marquês pelo Ministério Público, em 2017, de 31 crimes, designadamente corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e fraude fiscal, mas na decisão instrutória, em 9 de abril de 2021, o juiz Ivo Rosa decidiu ilibar José Sócrates de 25 dos 31 crimes, pronunciando-o para julgamento por três crimes de branqueamento de capitais e três de falsificação de documentos. O Ministério Público contestou a decisão de Ivo Rosa e apresentou recurso, a que chegou a 15 de fevereiro ao tribunal.

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Sindicato teme que lentidão nas negociações com o Governo agrave “sangria” de médicos no SNS

A líder da FNAM avisa que caso as grelhas salariais não sejam revistas "os médicos vão continuar a sair todos os dias" do SNS e lamenta que as negociações estejam a decorrer a um ritmo tão "lento".

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) espera uma “grande adesão” para a greve dos médicos convocada para esta quarta e quinta-feira. Em declarações ao ECO, Joana Bordalo e Sá avisa que o processo negocial em curso com o Ministério da Saúde “está a decorrer a um ritmo demasiado lento”, tendo em conta “a sangria” que se assiste “todos os dias no SNS”.

“A desmotivação [dos médicos] é enorme e acho que isso vai ser proporcional à adesão agora dos próximos dois dias”, afirma a presidente executiva da FNAM, esperando que o impacto seja “transversal” nos hospitais e nos centros de saúde. Não obstante, Joana Bordalo e Sá sublinha que estão previstos serviços mínimos e que estes “vão ser cumpridos”.

Entre os serviços mínimos encontram-se os serviços de urgência interna, a quimioterapia e radioterapia, a diálise, os cuidados paliativos em internamento, entre outros, segundo consta no site da FNAM. Esta greve não vai contar com a adesão do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Apesar de garantir que continuam disponíveis para negociar, a FNAM decidiu avançar com esta greve de dois dias, por considerar que o processo negocial — que se estende até junho — “está a decorrer um ritmo demasiado lento”, tendo em conta “a sangria que estamos a assistir todos os dias no SNS com encerramentos de serviços de urgência”, bem como com a reorganização dos serviços de ginecologia/obstetrícia e de pediatria. “Isto só acontece por saída dos colegas”, aponta.

Entre os pontos previstos nas negociações entre o Ministério da Saúde e os sindicatos dos Médicos constam a valorização das carreiras no SNS, as normas particulares e de organização do trabalho nos serviços e as grelhas salariais. É, aliás, este último ponto que a FNAM considera fundamental. “O que está no cerne da questão era já termos começado a discussão das grelhas salariais e isso ainda não aconteceu nem há nenhum sinal de que as coisas andem para a frente”, lamenta Joana Bordalo e Sá, ao ECO.

A médica lembra que este ano toda a Função Pública teve um aumento salarial de 2% para colmatar a inflação, mas sublinha que em algumas carreiras “houve aumentos até de 7%”. Além disso, nota que os “médicos foram das classes profissionais com maior perda de poder de compra” nos últimos anos, escudando-se num estudo realizado por Pedro Pita Barros e Eduardo Costa, que adianta que entre 2011 e 2022 os médicos perderam 18% de poder de compra.

Para a FNAM, caso as grelhas salariais não sejam revistas “os médicos vão continuar a sair todos os dias” do SNS. Desde 2015, tem havido um ligeiro aumento no número de médicos no SNS, tendo atingido os 32.369 no final do primeiro trimestre de 2022. Em dezembro de 2022, eram 30.921, segundo os dados da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP).

Por outro lado, Joana Bordalo e Sá crítica ainda o facto de não existir, na prática, uma avaliação de desempenho para os médicos, o que impede esta classe profissional de progredir entre escalões, progredindo apenas entre categorias. “A avaliação tem de existir como é óbvio, mas tem de ser revista. Tem de ser desburocratizada e tem de ser exequível”, diz.

Ainda assim, a líder da FNAM regista “pequenas avanços” no que respeita às normas de organização e disciplina do trabalho, mas sublinha que a discussão começou “em novembro e ainda não está fechada”.

Quando avançou com os pré-avisos de greve, a FNAM abriu a porta a desconvocá-la caso fosse dado um sinal por parte do Governo de abertura para negociar. Contudo, esta estrutura sindical considera que a última reunião demonstrou o contrário. No final da reunião, “foi novamente entregue uma proposta em papel”, que apesar de não ter sido “discutida”, “acarreta potencialmente perda de direitos para os médicos e com prejuízo, sobretudo, para os doentes”.

Em causa, diz, está “a alteração dos limites das listas de utentes para os médicos de família”, bem como com o “aumento da idade em que se deixa de fazer urgência”, dos atuais 50 para 55 anos para as urgências noturnas e de 55 anos para 60 anos para as urgências durante o dia. No entanto, ao Público, a tutela liderada por Manuel Pizarro disse que os dois temas não foram discutidos e que “não estão previstos” no processo negocial.

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Metro do Porto vai ter novas máquinas e validadores de bilhetes

Graças ao investimento de cerca de cinco milhões de euros, novos sistemas poderão ler códigos QR e todo o tipo de cartões bancárias. Mudanças começam no final do primeiro semestre.

O Metro do Porto está a preparar mais novidades para os próximos meses. Além da entrada em circulação dos novos veículos, em maio, a transportadora vai instalar 700 novos validadores e começarão a chegar as novas máquinas para venda de bilhetes. A empresa vai investir perto de cinco milhões de euros nestes novos equipamentos, cuja aquisição foi anunciada ao abrigo do Programa de Estabilização Económica e Social, em 2020.

“Os novos validadores são de última geração e vão permitir a leitura dos códigos QR e de todo o tipo de cartões bancários“, assinala ao ECO o líder da Metro do Porto, Tiago Braga. O atual sistema apenas lida com os cartões Andante de papel e de plástico e com a aplicação Anda, para smartphones com sistema Android.

A instalação dos novos validadores vai arrancar no final do primeiro semestre, com a colocação das primeiras 348 unidades — além dos dois equipamentos em testes de validação — ao longo da rede do Metro do Porto. Na segunda fase, também prevista para este ano, serão colocados os restantes 350 validadores. O investimento é de 527,1 mil euros e os novos equipamentos serão fornecidos pelos italianos da Solari di Udine que tem equipamentos instalados nas estações de comboios na França e em Itália.

No início de 2024, quando a Linha D chegar a Vila d’Este, a Metro do Porto vai pôr a funcionar novas máquinas de bilhetes. Nas novas estações da rede serão colocadas 31 unidades; os 86 equipamentos em pior estado nas atuais estações da rede serão substituídos – ou seja, ficarão de fora algumas máquinas. “O sistema será aberto e terá ligação com outros títulos de transporte. Também será possível emitir vários cartões numa só operação”, garante Tiago Braga. O investimento é de 4,4 milhões de euros e foi conquistado pelo consórcio português Meo e Card4B Systems.

A empresa Metro do Porto pertence ao agrupamento dos Transportes Intermodais do Porto, que estão envolvidos no projeto do bilhete único nacional. O projeto “1bilhete.pt” vai começar a funcionar no final deste ano e permitirá, por exemplo, que um cartão de transportes públicos na região de Lisboa possa ser validado e carregado no sistema de transportes públicos da região do Porto.

Ainda no Porto, também a STCP prepara-se mudar os validadores dos autocarros e dos elétricos que circulam dentro da cidade, num total de 904 equipamentos: 888 para os 444 autocarros e 16 para os oito elétricos. O investimento é de 3,191.610 euros e foi igualmente ganho pelo conjunto Meo/Card4B Systems. Tal como no Metro do Porto, estes validadores também têm de ler todos os cartões bancários e códigos QR, além de serem compatíveis com a aplicação Anda.

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Hidrogénio verde salta de “laboratório” no Seixal para servir cidades ainda em 2023

O piloto no Seixal, onde se deu a primeira injeção de hidrogénio verde na rede de gás natural, serve como "laboratório" para que seja possível à escala de uma cidade completa.

Há cerca de seis anos, antes de o hidrogénio verde ser uma das energias mais faladas a nível europeu e nacional, Carlos Mendes, gestor da portuguesa Gestene, começou a ouvir falar dos aparelhos que são usados para produzir este gás em feiras internacionais. Em março de 2023, esta empresa do Seixal tornou-se a primeira produtora a injetar hidrogénio verde na rede de gás a nível nacional, uma corrida que se espera que ganhe ritmo a partir daqui. “Prevemos que tenhamos projetos à escala real ainda durante o ano de 2023”, garante o CEO da Floene, Gabriel Sousa.

O primeiro-ministro, António Costa, juntou-se ao ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e ao presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, para abrirem a válvula que marcaria o momento de injeção do hidrogénio verde na rede de gás natural, ocupando 5% do volume total de gás a circular na rede.

Um “dia muito importante”, considerou Costa, ou “histórico”, nas palavras de Cordeiro. “A história repete-se. Agora, mais de 20 anos depois da energia renovável eólica e solar, é a vez dos gases renováveis. Do eletrão à molécula”, pontuou o presidente do Conselho de Administração da Floene, Diogo da Silveira.

O destino são 82 clientes domésticos e empresariais – um deles é o Complexo dos Serviços Operacionais da Câmara Municipal do Seixal, onde o primeiro-ministro acendeu depois um fogão alimentado pela mistura de hidrogénio verde com gás natural, para demonstrar como este novo “cocktail” pode ser usado nos equipamentos domésticos comuns.

Mas como se chegou até aqui? Quando estava no processo inicial da aquisição do equipamento para produzir hidrogénio, a Gestene inscreveu-se na Associação Portuguesa de Hidrogénio, onde estabeleceu contactos até acabar por entrar em diálogo com a então Galp Gás Natural Distribuição, que em 2022 passou a chamar-se Floene. “O meu objetivo era gás para potência [para gerar eletricidade]. Mas quando surgiu esta oportunidade achei interessante”, afirma Carlos Mendes.

O projeto, chamado “Green Pipeline Project”, foi lançado a 15 de outubro de 2021, e contou desde logo com vários parceiros. Além da Gestene, que entra na história como produtora, a leiriense PRF desenvolveu a tecnologia necessária juntamente com a Floene, nomeadamente a estação onde se misturam os dois gases, conta o CEO da Floene. Em paralelo, a Bosch e a Vulcano verificaram se os aparelhos em casa dos clientes teriam capacidade para receber o novo gás (poderiam ser demasiado antigos ou ter deficiências). “Não foi preciso substituir absolutamente nada”, garante Gabriel Sousa.

Agora, o hidrogénio verde é produzido localmente pela Gestene, no Parque Industrial do Seixal, recorrendo a energia renovável – energia solar durante o dia e energia verde da rede elétrica durante a noite. É uma instalação de 60 quilowatts. O eletrolisador produz 10 normais metros cúbicos por hora, à pressão de 10 bar e, considerando toda a instalação, exigiu um investimento de 400.000 euros à Gestene, indica o gestor. Na altura em que se deparou com a oportunidade de investimento, “havia uma nova linha de máquinas eletrolisadoras que estariam mais acessíveis em termos de aquisição para empresas da nossa dimensão”, conta, rematando que “para uma pequena empresa é significativo”, mas conseguiram fazê-lo com capitais próprios. “É um eletrolisador relativamente pequeno, mas que servia exatamente o propósito deste projeto piloto”, indica o CEO da Floene.

É em cidades que podemos ter injeções a variar entre os 2 e 20%, mas não será para 80 clientes [como no piloto no Seixal], será para a rede toda. Prevemos que tenhamos projetos à escala real ainda durante o ano de 2023

Gabriel Sousa

CEO Floene

Depois de produzido, o hidrogénio é armazenado no chamado “depósito pulmão”, e percorre 1.400 metros num gasoduto de polietileno, igual a cerca de 95% da rede de gás utilizada em Portugal, até uma estação, onde é misturado com gás natural, sendo depois distribuído aos clientes.

O piloto vai continuar a decorrer no Seixal. Num horizonte de dois anos, espera-se aumentar a percentagem de injeção até aos 20%, fazer testes de como esta fatia é recebida por alguns equipamentos como esquentadores e fogões, e ainda se querem fazer testes com a injeção de 100% de hidrogénio verde. “Isto é um laboratório real para testarmos este processo”, afirma Gabriel Sousa, que espera retirar daqui a capacidade tecnológica e o conhecimento necessário para se transitar para um projeto à escala real. “Quando passarmos daqui para uma cidade inteira, a tecnologia vai ser a mesma, a estação de mistura é que vai ser diferente, com maior capacidade, mas a tecnologia é exatamente a mesma”, explica.

Noutras localizações existe um conjunto de projetos de maior dimensão que já apresentaram pedidos de injeção na rede. Se, como o Capital Verde noticiou, até janeiro deste ano eram 72, agora o número já ultrapassa os 80. “E aí claramente o que estamos a considerar são projetos à escala real. É em cidades que podemos ter injeções a variar entre os 2 e 20%, mas não será para 80 clientes [como no piloto no Seixal], será para a rede toda. Prevemos que tenhamos projetos à escala real ainda durante o ano de 2023”, conclui o líder da Floene. Para já, estes projetos estão sobretudo dependentes de financiamento, mas depois poderão lançar-se.

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A. Silva Matos tenta retoma do negócio metalomecânico com investimento nas fábricas

Depois de pandemia e guerra travarem o “arrojo” no crescimento, histórica metalomecânica ensaia recuperação com novas contratações e investimento industrial de três milhões em Sever do Vouga e Aveiro.

Fundada em 1980 pelo histórico empresário Adelino da Silva Matos, que morreu em outubro do ano passado, e liderada atualmente pela filha, Cláudia Matos Pinheiro, a metalomecânica A. Silva Matos está a avançar com um investimento de cerca de três milhões de euros para renovar o parque de máquinas e introduzir novas tecnologias de fabrico nas unidades industriais localizadas em Sever do Vouga e Aveiro.

A empresária conta ao ECO que “o projeto já está em marcha e estará concluído daqui a dois anos”, visando um aumento da capacidade de produção nestas duas fábricas, mas sem implicar uma expansão em termos de área industrial. A localização original de Sever do Vouga, onde está sediada a empresa, tem cerca de 20 mil metros quadrados, enquanto a mais recente unidade operacional em Aveiro, que inaugurou em 2015, ronda os 60 mil metros quadrados.

Cláudia Matos Pinheiro, presidente da A. Silva Matos Metalomecânica

Especializada no segmento dos reservatórios sob pressão e dos equipamentos para a indústria metalomecânica, a empresa integrada na sociedade ASM Metal fechou o ano passado com um volume de faturação de 14 milhões de euros, de acordo com os dados disponibilizados por Cláudia Matos Pinheiro. A Covid-19 e depois a guerra na Ucrânia, “pela incerteza provocada no mercado”, admite, acabaram por “desacelerar” o negócio e o “projeto de crescimento bastante arrojado [que tinha] antes da pandemia”.

“Esperemos que as condições [favoráveis] possam retomar. (…) Queremos fazer crescer o volume de negócios para cerca de 20 milhões de euros nos próximos três anos, beneficiando precisamente deste investimento fabril”, completa a presidente do conselho de administração, ressalvando que “não [está] à procura de investidores ou de novos acionistas” para a empresa. Emprega atualmente 112 trabalhadores e, “já a preparar” a modernização industrial, prevê durante este ano a contratação de “15 a 20 pessoas” para as áreas fabril e da engenharia.

Queremos fazer crescer o volume de negócios para cerca de 20 milhões de euros nos próximos três anos, beneficiando precisamente deste investimento fabril.

Cláudia Matos Pinheiro

Presidente da A. Silva Matos Metalomecânica

Com a quota de exportação a variar “entre 70% a 90%”, consoante os anos, já comercializou peças para mais de 60 países, da Indonésia até ao Chile. Os principais clientes são empresas da indústria transformadora, do setor energético (Oil & Gas), farmacêutico e médico. Além disso, tem no portefólio vários projetos com entidades do sistema científico internacional, como o instituto alemão Max Planck ou a Agência Espacial Europeia (ESA na sigla inglesa), a quem forneceu em 2017 equipamentos para o transporte e movimentação do satélite Euclides.

Mais recentemente, na área da investigação dos oceanos, liderou o projeto HiperSea, concluído no final de setembro do ano passado, que teve um orçamento global de 2,73 milhões de euros, cofinanciado pelo Portugal 2020, e no qual participaram o INESC TEC, liderado por José Manuel Mendonça, o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), o CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental) e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

A. Silva Matos quer aproveitar a fábrica de Aveiro para “potenciar o crescimento com projetos especiais”.

Para este projeto 100% nacional, a A. Silva Matos desenvolveu um equipamento robótico destinado a investigar espécies vivas que se encontram a 1.000 metros de profundidade. Uma infraestrutura, como resumiu a empresa de Sever do Vouga, que viabilizou a “recolha de organismos vivos do mar profundo, em condições de elevada pressão, e a sua manutenção à superfície, em estruturas que permitem o suporte de vida continuado dos organismos, em ambiente hiperbárico”.

Foi em 2013 que o fundador Adelino da Silva Matos operou a divisão do antigo grupo industrial por áreas de negócio, repartindo-o pelos três filhos. Empresas independentes, desde então, Cláudia Matos Pinheiro ficou com a metalomecânica; Pedro Matos com a A. Silva Matos – Equipamentos de Transportes (fabrico, legalização e manutenção de cisternas e semirreboques para o transporte e armazenagem de matérias perigosas e alimentícias); e Adelino da Costa Matos com a ASM Industries (produção de torres eólicas e de fundações offshore), que vendeu no ano passado à gigante sul-coreana CS Wind.

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Luís Rodrigues, o professor que lançou o Big Brother, vai agora gerir a TAP

O futuro CEO da TAP está habituado a dar a volta a situações complexas e difíceis. Foi assim quando esteve na Media Capital, na Nova SBE ou na SATA. Na TAP não será diferente.

Há seis meses, cerca de 100 trabalhadores da SATA assinaram um manifesto a dar conta da sua “inequívoca vontade de ver assegurada a estabilidade, a continuidade e o futuro” da companhia aérea através da recondução de Luís Rodrigues, o CEO, e dos restantes membros no conselho de administração, cujo mandato terminava no final do ano. Uma iniciativa pouco habitual, mais ainda numa empresa em que existiram despedimentos e os salários foram cortados em 10%, temporariamente.

Luís Rodrigues é um gestor com grande visão estratégica e com uma filosofia muito inclusiva, apostando na criação de valor através de uma estratégia firme e determinada mas que permita a todos os stakeholders beneficiarem da mesma”, afirma Miguel Azevedo ao ECO. O banqueiro do Citi conhece bem o novo presidente da TAP e não tem dúvidas em afirmar que é “exatamente a pessoa certa na hora certa“.

“A capacidade de gerir num contexto em que existem vários interesses” e de “trazer toda a gente para a mesma mesa e encontrar soluções” em situações difíceis é, justamente, uma das qualidades apontadas por um colega do futuro presidente executivo e chairman da TAP. Luís Rodrigues já o fez por várias vezes, segundo o relato de quem com ele trabalhou.

O gestor entrou para a liderança da SATA em janeiro de 2020, apanhando meses depois o embate da pandemia e a paralisação do tráfego aéreo. Os prejuízos agravaram-se de 53,4 milhões para 88 milhões, com a dívida a disparar para os 270 milhões. Tal como a TAP, também a companhia aérea açoriana teve de pedir um auxílio estatal, de 133 milhões, que veio acompanhado pelo respetivo plano de reestruturação.

Logo em 2021, graças ao corte de custos, a empresa apresentou um EBITDA (resultado operacional antes de impostos, depreciações, amortizações e juros) positivo de 5,7 mil euros, o que não acontecia há cinco anos, mas contas ainda no vermelho: -57,4 milhões. A recuperação prosseguiu em 2022, com Luís Rodrigues a anunciar em dezembro que o ano iria fechar com uma receita recorde de 202 milhões de euros, 30% acima do ano anterior à pandemia. O grupo teve lucros de 3,3 milhões entre junho e setembro, embora o CEO tenha dado a entender que o conjunto do exercício ia, ainda, ser negativo.

A reviravolta na companhia aérea foi reconhecida pelo Governo Regional dos Açores, ao anunciar a sua recondução em dezembro. A saída para a transportadora nacional mereceu, de resto, um ataque a São Bento: “Não fomos consultados, mas sim informados sobre a ida de Luís Rodrigues para a TAP. Não nos vão fazer desistir de salvar a SATA”, afirmou o secretário regional das Finanças. Segundo o relato do primeiro-ministro, que conversou na véspera com o presidente do Executivo açoriano, este “lamentou a opção, por ser um excelente quadro, mas compreendeu”.

A primeira passagem pela TAP

Esta será a segunda passagem de Luís Rodrigues pela TAP. Da primeira vez, entrou em junho de 2009 para o cargo de administrador financeiro, nomeado pelo então secretário de Estado do Tesouro, Carlos Costa Pina, era Teixeira dos Santos o ministro das Finanças. Ficou até dezembro de 2014, saindo devido a divergências com o CEO, Fernando Pinto, relacionadas com a VEM, o negócio de manutenção no Brasil comprado pela TAP à Varig, segundo apurou o ECO.

Luís Rodrigues conhece a TAP como poucos tendo gerido com grande sucesso temas muito difíceis como Manutenção Brasil e Handling e foi um CFO muitíssimo competente após a saída de Michael Connely“, aponta Miguel Azevedo.

O gestor também deixou boas recordações internas à TAP. “É um bom homem, conhecedor da empresa, bom nos aspetos financeiros, gosta de delegar e está habituado a lidar com sindicatos”, descreve fonte sindical. Aponta, no entanto, alguma “dificuldade em tomar decisões” e a tendência para “empurrar com a barriga”.

Após deixar a TAP, Luís Rodrigues foi liderar a formação de executivos da Nova School of Business and Economics, onde ainda é professor de Estratégia de Negócios. Entrou em abril de 2015, numa altura em que aquela área enfrentava dificuldades devido à crise económica dos anos anteriores e ao projeto da Angola Business School. “Ele liderou a formação de executivos da Nova com excelentes resultados”, assinala o economista Pedro Brinca, colega na escola de negócios e amigo. Descreve-o como alguém “reservado e low-profile” e uma “pessoa querida pelas pessoas da Nova”. Nascido em Lisboa, em 1965, foi na Nova SBE que Luís Rodrigues se licenciou em Economia, em 1988, e fez o MBA, que completou em 1990. Em 2003, rumou à Harvard Business School para tirar o Programa Avançado de Gestão.

Lançamento do Big Brother

Quando o futuro CEO da TAP chegou à Media Capital em setembro de 1999, a TVI atravessava também um período difícil, longe das audiências da SIC. Luís Rodrigues foi para diretor de Marketing e, diz um consultor do canal de televisão na altura, foi muito importante para a reviravolta da estação com o lançamento da primeira edição do Big Brother (em setembro de 2000) e o redesenho da marca. Ficou cinco anos na empresa, saindo para ocupar o mesmo cargo na Portugal Telecom, onde permaneceu até agosto de 2008.

“Não é uma pessoa de grandes confrontos. É conciliador e tenta levar o barco para frente”, afirma outro antigo colega. “Para voltar a trabalhar num sítio onde já esteve é porque acredita que vai levar a missão a bom porto. Já conhece a casa e já conhece o negócio”, aponta. A tarefa não será fácil, ainda assim.

O anúncio de que o até aqui CEO da SATA seria o sucessor de Christine Ourmière-Widener na TAP foi feito esta segunda-feira pelo ministro das Infraestruturas na apresentação das conclusões do relatório da Inspeção-Geral de Finanças sobre a indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis. João Galamba deixou três prioridades para o novo gestor. A primeira foi “devolver confiança e paz social à TAP” e “continuar a implementar com sucesso o plano de reestruturação”.

Negociação com sindicatos e privatização: os principais desafios

Esta pode ser a missão mais espinhosa. Depois de uma “guerra” acesa com vários sindicatos, a presidente executiva cessante conseguiu pacificar as relações de forma a abrir caminho à negociação dos novos Acordos de Empresa, que vão substituir os Acordos de Emergência assinados em 2021 e estabelecer as novas condições salariais e de trabalho.

Os sindicatos querem aproximar-se o máximo possível da realidade que tinham em 2019. João Galamba pediu “a condução com sucesso das negociações com as estruturas sindicais e os trabalhadores da TAP no sentido de assegurar um pilar chave do plano de reestruturação, que são os Acordos de Empresa, alinhados com a sustentabilidade futura, financeira e operacional da empresa“.

A favor de Luís Rodrigues joga a boa imagem junto das estruturais sindicais. João Lira Abreu, do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, sublinhou esta terça-feira o “excelente trabalho” de Luís Rodrigues na SATA. “Temos muita esperança no que aí vem. É preciso deixar a poeira assentar, deixar a pessoa entrar e pensar”, acrescentou em declarações à CNN Portugal. O mesmo fez o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Ricardo Penarroias, que considerou Luís Rodrigues o “nome acertado”.

A TAP tem dito repetidamente que está a superar as metas previstas no plano de reestruturação, devendo apresentar no final do mês lucros relativos a 2022, o que só era esperado em 2025, o último ano do plano. É um bom ponto de partida para o novo CEO.

A manutenção dos bons resultados será fundamental para cumprir o outro desafio estabelecido pelo ministro das Infraestruturas: “Conduzir o processo de privatização do capital da TAP com sucesso, em articulação com o acionista”.

A TAP contratou a consultora Evercore para ouvir interessados e Fernando Medina reafirmou que pretende, em breve, levar ao Conselho de Ministros a venda parcial do capital da companhia. Luís Rodrigues, que tinha a incumbência de conduzir a privatização da SATA, será agora uma peça-chave num casamento já com três noivas em vista: Lufthansa, Air France KLM e grupo IAG.

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Santander exige 160 milhões ao Estado por causa do Banif

Santander pede compensação milionária às Finanças devido a impostos diferidos, ao abrigo do acordo de compra do Banif em 2015. Pode receber 250 milhões com negócio que comprou por 150 milhões.

O Santander Totta está a reclamar quase 160 milhões de euros ao Estado por conta de uma disputa relacionada com impostos diferidos do Banif que a Autoridade Tributária recusou pagar. O banco liderado por Pedro Castro e Almeida avançou com este pedido de compensação ao abrigo do acordo que celebrou com as autoridades portuguesas quando comprou o banco no final de 2015, por 150 milhões de euros, no âmbito da medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal.

Este diferendo, que se arrasta desde 2018, já levou o Santander Totta a reunir por diversas vezes com o Ministério das Finanças e com o Banco de Portugal, as duas entidades que intervieram no processo do Banif em dezembro de 2015.

Em resposta ao ECO, o Santander Totta salienta que pretende resolver a questão “através dos mecanismos previstos contratualmente”, mas admite que pode avançar para outras medidas quando refere que quer evitar “a necessidade de recurso a outras soluções”, e isto depois de questionado sobre se ponderaria ir para tribunal para receber os 160 milhões.

Em causa está o facto de a Autoridade Tributária apenas ter reconhecido ao banco de capitais espanhóis o direito de utilizar os impostos diferidos do Banif relativos aos anos entre 2009 e 2014. Isto implicou benefícios sob a forma de descontos nos impostos sobre o lucro tributável futuro que totalizam cerca de 92,7 milhões de euros.

Porém, quando avançou para a compra do Banif, em dezembro de 2015, o banco de capitais espanhóis fê-lo com a perspetiva de que poderia utilizar um total de 250 milhões de euros relativos a impostos diferidos do Banif. Razão pela qual pede agora uma indemnização de 157,3 milhões de euros ao Ministério das Finanças, que pode ser paga “em dinheiro ou títulos do Tesouro” português, segundo esclarece.

O Banif fechou 2015 com um resultado líquido negativo de 3,29 mil milhões de euros. O exercício desse ano só foi efetivamente assinado pela administração – liderado por Bracinha Vieira – a 5 de dezembro de 2017, ou seja, praticamente dois anos depois da medida de resolução.

Em maio do ano seguinte, o Santander Totta apresentou uma declaração de IRS de substituição no seguimento do apuramento do resultado de 2015 e também pelo facto de o ministro das Finanças, na altura Mário Centeno, ter aprovado o pedido de transmissão dos impostos diferidos do Banif para o banco.

Contudo, um despacho da diretora adjunta da Unidade dos Grandes Contribuintes em novembro de 2019 veio a travar as intenções do Santander Totta, ao reconhecer ao banco o direito de utilizar os impostos diferidos do Banif apenas entre 2009 e 2014.

Contestando esta decisão, o banco apresentou em janeiro de 2020 um recurso hierárquico para o ministro das Finanças. Este recurso veio a ser indeferido poucos meses depois, em junho de 2020, pelo subdiretor-geral da área de Gestão Tributária – Impostos sobre o Rendimento, numa altura em que Mário Centeno já estava a caminho do cargo de governador do Banco de Portugal.

“Uma vez que o despacho da Autoridade Tributária e o despacho do subdiretor-geral apenas reconheceram ao banco o direito de usufruir de impostos diferidos do Banif num montante total de 92,301 milhões de euros, o banco poderá exigir, no âmbito do acordo com as autoridades portuguesas envolvidas no processo de resolução do Banif, uma compensação no montante de 157,699 milhões”, é o que alega o Santander Totta. O Ministério das Finanças não respondeu até à publicação deste artigo.

Se for bem-sucedido nesta disputa, o banco acabará por receber 250 milhões de euros por via dos créditos fiscais de um negócio pelo qual pagou 150 milhões, há pouco mais de sete anos. Isto além da injeção de 1,4 mil milhões que realizou no Banif.

O processo de resolução e de venda do Banif voltou recentemente para a discussão pública com a publicação do livro de memórias do antigo governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, que acusa António Costa de ter enviado uma carta a Bruxelas e Mário Centeno de ter negociado a venda com o Santander, em ambos os casos, sem o seu conhecimento.

De acordo com o primeiro-ministro, em resposta às questões colocadas pelo PSD no seguimento das acusações do livro de Carlos Costa, foi o Banco de Portugal que concluiu que a venda do Banif por resolução ao Santander era a única alternativa à liquidação, tendo conduzido o processo.

A resolução do Banif envolveu apoios públicos na ordem dos 2,98 mil milhões de euros, representando cerca de 21% do ativo do banco fundado por Horácio Roque antes da intervenção. A liquidação do banco mau já reconheceu 3.500 credores que reclamam cerca de 950 milhões de euros, incluindo o Fundo de Resolução, que tenta recuperar o empréstimo de 490 milhões que ajudou a suportar a resolução do Banif.

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Dos Reis Beautique Hotel abre portas em Lisboa inspirado na realeza

Lisboa tem mais uma unidade hoteleira do grupo The Beautique Hotels, o Dos Reis Beautique Hotel, num investimento de 16 milhões de euros, com salas de reuniões e um restaurante italiano.

Dos Reis Beautique Hotel, a quarta unidade hoteleira do grupo The Beautique Hotels (TBH), abriu as portas esta terça-feira, na Avenida Almirante Reis, em Lisboa, evolvendo um investimento de 16 milhões de euros. Dispõe de três salas de reuniões, 54 quartos, um restaurante italiano e tem um imponente candeeiro escultórico em forma de coroa, na receção.

Pela primeira vez num hotel do grupo TBH, há três salas de reuniões equipadas que se podem converter num único espaço para eventos. Ao Dos Reis Beautique Hotel somam-se a unidade Figueira Beautique Hotel, WC Beautique Hotel e Madalena Beautique Hotel.

À semelhança dos restantes hotéis do grupo TBH, o projeto de design de interiores desta nova unidade hoteleira tem a assinatura de Nini Andrade Silva e o projeto de arquitetura é da autoria do gabinete NLA – Nuno Leónidas Arquitetos.

Um candeeiro escultórico em forma de coroa, na receção do hotel, assim como uma garrafeira suspensa são algumas das novidades que diferenciam esta unidade hoteleira das demais.

“Os nossos hóspedes já conhecem a assinatura dos nossos hotéis, cada um com o seu conceito diferenciador presente em todos os detalhes e este não é exceção, pois continua a manter essa tradição”, sublinha o diretor-geral dos The Beautique Hotels, Alfredo Tavares.

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Teresa Gonçalves substitui Luís Rodrigues na presidência da SATA

Administradora financeira vai assumir liderança da companhia aérea dos Açores em abril, depois da saída de Luís Rodrigues para a presidência da TAP.

Teresa Gonçalves é o nome escolhido para assumir a presidência da SATA. A até agora administradora financeira da companhia aérea dos Açores vai ficar com o cargo após a saída de Luís Rodrigues, que vai para a presidência da TAP.

O presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, em entrevista à RTP Açores, anunciou que a gestora Teresa Mafalda Gonçalves tinha aceitado “assumir a presidência da SATA”, o que deve acontecer em abril quando o atual CEO da empresa regional se mudar para a TAP.

Com a saída de Luís Rodrigues para a TAP e de Mário Chaves para a Portugália – anunciada em fevereiro –, Teresa Gonçalves era a única administradora executiva da companhia aérea detida pelo Governo Regional dos Açores. A escolha interna serviu para resolver o processo “com a menor perturbação possível”, justificou o líder do Governo Regional.

Teresa Mafalda Gonçalves vai ser a nova líder da SATA.

Desde janeiro de 2020 na SATA, Teresa Gonçalves foi, anteriormente, diretora de Promoção da Concorrência na Autoridade de Mobilidade e Transportes. Com mais de 20 anos de experiência em serviços financeiros, a gestora também esteve na Portugal Telecom como líder de processos de fusões e aquisições, Finanças e Desenvolvimento de Negócios. Antes disso, foi consultora estratégica de negócios nas empresas Capgemini e Ernest & Young.

A nova mudança na administração da SATA ocorre numa altura em que vai iniciar-se o processo de privatização da Azores Airlines, companhia aérea do grupo da SATA que faz as ligações entre a região dos Açores e destinos internacionais. O Governo Regional dos Açores pretende alienar entre 51% e 85% do capital social.

(Notícia atualizada às 21h52 com mais informação)

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Chanceler alemão diz ser um dos poucos líderes ocidentais que fala com Putin

  • Lusa
  • 7 Março 2023

O chanceler alemão manifestou a sua compreensão pelo "medo" que sentem muitos cidadãos face à perspetiva de uma escalada bélica, mas afirmou que não toma decisões de forma impulsiva.

O chanceler alemão Olaf Scholz afirmou esta terça-feira ser dos poucos líderes ocidentais que permanecem em comunicação com o Presidente russo, Vladimir Putin, e reiterou que uma “paz imposta” não é a solução para o fim do conflito na Ucrânia.

Falo com o Presidente russo, sou dos poucos. Não apenas o visitei em Moscovo e sentei-me na sua ampla mesa, mas também tive muitas e longas conversas telefónicas com ele e continuarei a fazê-lo, apesar de não termos a mesma opinião“, disse num encontro com cidadãos em Cottbus (leste da Alemanha).

Ao ser questionado por uma cidadã que pediu a opção da via diplomática em detrimento do envio de armas para a Ucrânia, Scholz sublinhou que “um país agredido deve poder defender-se e tem direito a pedir ajuda a outros”. O chanceler reiterou que as negociações são necessárias, mas terão se ser concluídas com algo que não seja uma “paz imposta”, por considerar “que se negoceia mal com uma pistola apontada à cabeça”.

A base das negociações tem de ser que o Presidente russo entenda que o seu objetivo imperialista não funciona e que tem de retirar as suas tropas. Tem de existir algo que negociar, não pode ser simplesmente assinar uma capitulação”, argumentou Scholz.

O chanceler manifestou a sua compreensão pelo “medo” que sentem muitos cidadãos face à perspetiva de uma escalada bélica, mas afirmou que não toma decisões de forma impulsiva mas antes se coordena em permanência com os aliados da Alemanha e faz o possível para evitar um alargamento do conflito.

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Swiss Re fecha segunda transação alternativa com a J.P. Morgan

  • ECO Seguros
  • 7 Março 2023

A Swiss Re associou-se à J.P. Morgan para garantir 700 milhões de dólares de proteção contra perdas graves de subscrição. A transação aumenta a capacidade de crescimento da resseguradora.

A Swiss Re encerrou com sucesso uma transação de stop-loss de vários anos com financiamento liderado pela J.P. Morgan. O negócio fornece à Swiss Re 700 milhões de dólares em proteção de subscrição, apoiando a visão do Grupo de crescimento rentável. O financiamento baseia-se numa transação híbrida inovadora, concluída com a multinacional de serviços financeiros, em abril de 2022. Esta, que foi a primeira do seu género, combina financiamento bancário e títulos vinculados a seguros (ILS).

“Estamos a utilizar cada vez mais capital alternativo para responder às nossas necessidades mais amplas de gestão de capital, com o objetivo de baixar o custo do capital próprio da Swiss Re”, disse Philipp Rüede, Chefe da Swiss Re Alternative Capital Partners.

Philipp Rüede, Chefe da Swiss Re Alternative Capital Partners, afirmou: “esta transação com a J.P. Morgan proporciona efetivamente à Swiss Re um capital rentável, que pode ser implantado no mercado atrativo atual. O negócio representa também um passo importante no percurso da Swiss Re Alternative Capital Partners, onde estamos a utilizar cada vez mais capital alternativo para responder às nossas necessidades mais amplas de gestão de capital, com o objetivo de baixar o custo do capital próprio da Swiss Re”.

Focada no período de 2023-2027, e para além de permitir à Swiss Re o crescimento dos seus negócios num mercado favorável, a transação deverá ter um benefícios positivos para os requisitos de capital regulamentar e de rating da resseguradora.

A transação utiliza uma conta separada do veículo segurador existente Matterhorn Re Ltd., criado para fins especiais A conta segregada é financiada através de um movimento inicial de 700 milhões de dólares, apoiados pela J.P. Morgan e pela sua base de investidores institucionais. Esta foi estruturada com o potencial de aumentar para mil milhões.

A transação é totalmente caucionada, com as receitas a serem detidas em notas emitidas pelo Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, as quais apresentam classificações Aaa/AAA/AAA (Moody’s/S&P/Fitch, todas estáveis).

A divisão Alternative Capital Partners da Swiss Re engloba capacidades de ILS do lado da venda e a sua gestão de retrocessão, permitindo ao Grupo alavancar uma ampla gama de capital de terceiros à medida que o negócio se desenvolve. Desta forma, a Swiss Re é capaz de manter as suas participações dentro dos limites de risco definidos e melhorar a diversificação do risco incluído no seu balanço.

 

 

 

 

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