A Apple já não é "só" a fabricante do iPhone. É também uma empresa de serviços com uma ambição renovada de estar cada vez mais nas nossas vidas. E até já chega aos cartões de crédito.
Tim Cook está determinado em desenhar a marca da maçã numa série de novos serviços que vão muito além do iPad ou do iPhone, o telemóvel lançado em 2007 que fez da empresa a gigante mundial que conhecemos hoje. Até nos serviços financeiros, através de um cartão da Apple.
Da televisão aos jogos, das revistas aos jornais, a Apple quer mesmo conquistar tudo. E descolar-se da ideia de que é só a fabricante do iPhone, ainda que o produto valha atualmente mais de metade das receitas anuais da empresa.
No ano passado, os proveitos gerados com os serviços aumentaram 33% em relação a 2017, enquanto as receitas alcançadas com a venda de telemóveis deram sinais de abrandamento. Os números fizeram soar os alarmes na empresa, que rapidamente acelerou a implementação da nova estratégia mais focada nos serviços e no software, e menos nos produtos.
Essa viragem foi bem visível nas últimas semanas. Dois novos iPads, uma nova versão dos auscultadores AirPods e uma atualização do iOS viram a luz do dia. Mas, sobre estas novidades, nem uma palavra foi dita no evento especial de primavera, que teve lugar na segunda-feira, no auditório que a marca construiu na nova sede que tem em Cupertino, na Califórnia.
Em vez disso, o líder da Apple apostou no lançamento de novos serviços, alguns deles em áreas totalmente novas para a marca e até em plataformas concorrentes. Muitos não vão estar, para já, disponíveis em Portugal.
A novidade mais aguardada e antecipada é um serviço de streaming concorrente da Netflix. Gosta de filmes? Gosta de séries? A Apple não fez por menos e foi buscar a Hollywood uma série de nomes bem conhecidos: Steve Carell, Jennifer Aniston e Reese Witherspoon são apenas três deles e vão ter um programa de day time na nova versão da TV da Apple.
O realizador J. J. Abrams e a apresentadora Oprah Winfrey são outros dois exemplos e provam o empenho da marca na criação de conteúdo exclusivo e original. Este novo serviço chama-se Apple TV+ e vai estar disponível através do pagamento de uma mensalidade. Só ainda não se sabe o preço. Chega no outono, em mais de uma centena de países em todo o mundo.
Além deste, a Apple TV quer fazer uma nova investida naquilo que Steve Jobs sonhou que viesse a ser o futuro da televisão. A aposta é em fazer da plataforma um catálogo de canais de vários estúdios de TV e produtoras, como é o caso da HBO, que vai estar presente no novo serviço Apple TV Channels. As subscrições vão poder ser feitas individualmente, a partir deste verão, e o serviço até vai estar disponível nas televisões de outras marcas (exceto as que tenham sistema Android). Mas também não se conhecem os preços.
Dentro do que é o entretenimento, houve ainda espaço para o lançamento de um serviço de streaming de videojogos. É um piscar de olho à Google, que colocou a fasquia lá no alto quando apresentou, este mês, uma nova plataforma de streaming de videojogos sem consola, a que chamou de Stadia.
A da Apple chama-se Apple Arcade e vai funcionar de forma diferente do habitual: através de uma subscrição, os fãs poderão ter acesso a uma nova aba na App Store com um vasto catálogo de jogos mobile. Pouco mais se sabe sobre este projeto, que deverá estar disponível no outono num número alargado de países.
São notícias que chegam a Portugal sem a certeza de que o mercado nacional vá ser abrangido pelos novos planos da marca da maçã. Mas, por falar em notícias, essa é outra das áreas em que a Apple quer dar cartas.
A proposta de valor é interessante e poderá ser disruptiva: um pacote com 300 revistas e dois jornais (The Wall Street Journal e Los Angeles Times) por 9,99 dólares por mês, subscrição que é válida para toda a família. O serviço chama-se Apple News+, só está disponível nos EUA, mas a promessa é de chegar rapidamente ao Canadá e à Europa. Reino Unido será o primeiro país a ter acesso a esta novidade, que, no caso norte-americano, o pacote custaria mais de 800 dólares se fosse subscrito individualmente, jornal a jornal, revista a revista.
Regresso ao plástico, sem contactless
Dissemos-lhe no início que o seu novo cartão de crédito pode ser da marca Apple. E não estávamos a brincar com coisas sérias: a Apple lançou mesmo um cartão de crédito em conjunto com o Goldman Sachs. O cartão é da MasterCard.
Chama-se Apple Card e, nesta primeira fase, só vai estar disponível nos EUA. Mas as condições e as novidades merecem a atenção. O serviço baseia-se num cartão físico, em titânio, sem número de 16 dígitos, sem código CVC e sem data de validade. Pode ser usado em qualquer terminal que aceite cartões MasterCard. Ou seja, em praticamente todo o lado.
O cartão físico serve apenas para as lojas que ainda não tenham Apple Pay, porque o Apple Card funciona em estreita ligação com a aplicação Wallet do iPhone. Não tem anuidade nem cobra comissões internacionais. E, se não pagar o balanço a tempo, ou se ultrapassar o limite de crédito, há juros, mas são fixos.
Para convencer os fãs da marca a depositarem na Apple as suas vidas financeiras, a empresa liderada por Tim Cook criou um programa de reembolso de até 3% do valor de cada transação. Mas, em vez de devolver o dinheiro no final da semana ou de cada mês, a Apple devolve o dinheiro em cash no final de cada dia. O programa chama-se Daily Cash.
Cada pagamento tradicional com o cartão dá direito ao reembolso de 1% do valor da compra. Pagamentos digitais com o Apple Pay dão direito ao reembolso de 2%. E se a compra for feita na loja da Apple, o reembolso é de 3%. O dinheiro é automaticamente depositado na conta Apple Cash e pode ser usado em qualquer compra, a qualquer altura.
Face a esta mudança tão grande de estratégia, não vai ser surpreendente se a Apple anunciar novos serviços em áreas que, até aqui, não eram tão facilmente associadas à tecnologia. É como a história de Isaac Newton, ao contrário: enquanto algumas maçãs caem da árvore, outras querem é subir.
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Filmes, jogos, jornais e até… bancos. Como a Apple quer conquistar tudo
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