Podemos repetir sucesso do Lloyd’s no Novo Banco?

Entre a dimensão, os fantasmas que trazem do passado, a economia em que se enquadram e os gestores que tomaram conta de cada um, o Novo Banco e o Lloyd's jogam em duas ligas muito distintas.

 

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“Chamar Horta Osório para gerir o Novo Banco como geriu o Lloyd’s”. Daniel Bessa falava no Porto Canal e juntava-se assim aos que defendem uma nacionalização temporária da instituição que resultou da resolução do Banco Espírito Santo (BES). Carlos César, João Galamba, Eurico Brilhante Dias, Paulo Trigo Pereira, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, José Maria Ricciardi, Nuno Morais Sarmento e Vera Jardim são alguns dos que veem aqui uma solução ideal, que, ainda por cima, é permitida pelas regras europeias, que preveem a possibilidade da “propriedade pública temporária” de um banco de transição, como é o Novo Banco.

Uma nacionalização à Lloyd’s implicaria a entrada do Estado português no capital do Novo Banco e a posterior venda desta participação, por tranches, até que o banco deixasse por completo de ter capitais públicos e voltasse a ser totalmente controlado por privados. Se estas vendas resultassem em lucro para o Estado, como o Reino Unido prevê que vai acontecer no caso do Lloyd’s, melhor ainda.

Na teoria, funciona. Só que, pelo meio, é preciso ter em conta algumas grandes diferenças entre os dois bancos. Entre a dimensão, os fantasmas que trazem do passado, a economia em que se enquadram e os gestores que tomaram conta de cada um, o Novo Banco e o Lloyd’s jogam em duas ligas muito distintas.

Um quarto do PIB britânico tremeu, mas não caiu

Estávamos a 30 de julho de 2008 quando o maior banco de retalho britânico reportava uma queda de 70% nos lucros semestrais, atingido em força pela crise do crédito. Ainda assim, o Lloyd’s conseguia um lucro de 599 milhões de libras. Menos de dois meses depois, a 15 de setembro, o Lehman Brothers declarava falência e arrastava consigo os mercados financeiros mundiais.

Passaram dois dias da falência do Lehman Brothers e, em uma hora de negociação em bolsa, o Halifax Bank of Scotland (HBOS) perdia metade da sua capitalização bolsista. Para evitar o colapso do sistema financeiro britânico, o Lloyd’s saltou em socorro do HBOS e avançou com uma fusão com o banco escocês, numa operação avaliada em 12 mil milhões de libras.

13 de outubro de 2008. O Governo britânico avançava com uma linha de 37 mil milhões de libras para resgatar a banca do país. Deste montante, 20,5 mil milhões entraram no capital do Lloyd’s e o Estado passava a deter uma participação de 43,4% no banco. Era o princípio de uma história que está a acabar com final feliz.

Por esta altura, os ativos do Lloyd’s ultrapassavam os 367 mil milhões de libras. Para se ter uma ideia do que significaria para o Reino Unido um banco destes cair, note-se que o PIB britânico, em 2008, totalizava 2,875 biliões de dólares, segundo os dados do Banco Mundial. Fazendo a conversão dos tais 367 mil milhões de libras para a cotação à data do resgate, os ativos do Lloyd’s valeriam um quarto do PIB britânico.

Não caiu, só tremeu. A 13 de fevereiro de 2009, o Lloyd’s anunciava perdas de 11 mil milhões de libras, um buraco resultante da fusão com o HBOS. Só teve de esperar até ao primeiro trimestre de 2010 para voltar aos lucros, mas já lá vamos.

Antes disso, fast forward para 30 de julho de 2014. Dias antes de desaparecer para dar lugar ao Novo Banco, o BES reportava prejuízos históricos de 3,57 mil milhões de euros no primeiro semestre desse ano. Era o colapso do segundo maior banco privado português, que, em ativos, detinha quase metade do PIB nacional da altura.

O retrato do BES e do Lloyd’s Bank na altura das intervenções estatais

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A diferença entre estas duas histórias é que o império Espírito Santo colapsou e deixou Portugal a braços com uma fatura de 4,9 mil milhões de euros, dos quais 3,9 mil milhões resultam de um empréstimo do Estado ainda por pagar, que foram injetados no Fundo de Resolução para capitalizar o Novo Banco. E se, no caso do Lloyd’s, o Tesouro britânico tem conseguido vender sucessivamente fatias da sua quota inicial no banco, a venda do Novo Banco está a revelar-se uma tarefa bem mais difícil.

Chamem o Horta Osório

António Horta Osório estava a comandar as operações do Santander no Reino Unido quando foi chamado para o Lloyd’s. O gestor português assumiu o cargo de presidente executivo do banco britânico a 1 de março de 2011 e, desde então, entre salário, bónus e ações do banco, recebeu uma média de 7,8 milhões de libras por ano.

Tem sido um bom investimento. Horta Osório levou o banco para lucros superiores a 2 mil milhões de libras no conjunto dos nove meses do ano passado e já conseguiu vender quase toda a participação que o Estado britânico detinha no Lloyd’s. Hoje, já só sobram 2,5 mil milhões de libras dos 20,5 mil milhões que foram injetados em 2008.

Por cá, ainda ninguém ficou tempo suficiente para mostrar verdadeiros resultados. O Novo Banco ainda não tem três anos e já teve três presidentes. Vítor Bento foi o primeiro. Entrou primeiro como presidente do BES, a 14 de julho de 2014, para substituir Ricardo Salgado, há duas décadas à frente do banco. A 13 de setembro desse ano, apresentou demissão. O também antigo presidente da SIBS discordava do modelo de venda rápida que era defendido pelo Governo de Passos Coelho — Bento queria cinco anos para colocar em prática o seu projeto — e acabou por sair três meses depois de ter entrado.

Seguiu-se Eduardo Stock da Cunha, que veio da equipa de Horta Osório, no Lloyd’s, para implementar um plano de reestruturação: cortou os custos operativos em 23%, reduziu a força de trabalho em cerca de mil pessoas, mais do duplicou as provisões para crédito em risco e títulos de dívida, aumentou as receitas em 7%. Em julho de 2016, menos de dois anos depois de ter chegado, deixou o banco com um prejuízo de 362 milhões de euros.

Agora, é António Ramalho quem está à frente do Novo Banco e, para já, conseguiu o mais difícil: no terceiro trimestre de 2016, o Novo Banco reportou lucros de 3,7 milhões de euros. No acumulado de janeiro a setembro, contudo, o banco continua a apresentar um prejuízo de 359 milhões e praticamente um quarto do crédito concedido em risco de não ser pago. É o equivalente a 8,5 mil milhões de euros que o Novo Banco arrisca nunca ver de volta.

Os milhões e os milhõezinhos

Hoje, o Novo Banco tem 20% de quota de mercado e é responsável por quase um quarto de todo o crédito concedido às pequenas e médias empresas portuguesas. A par da Caixa Geral de Depósitos (CGD), é ao Novo Banco que as empresas mais recorrem para pedir crédito, o que significa que, em teoria, é também dos primeiros bancos a recuperar pujança quando a economia dá sinais de melhoria. “Os bancos são irmãos siameses das empresas”, já dizia Mira Amaral ao ECO.

O problema é que a economia portuguesa tarda em crescer o que seria necessário para que o Novo Banco pudesse apanhar a boleia. Desde a queda do BES, o PIB português cresceu a uma média de 1,3% por trimestre (em termos homólogos). Em termos anuais, a economia portuguesa cresceu 0,9% em 2014 e 1,4% em 2015. Faltam ainda os dados do conjunto de 2016 mas, no terceiro trimestre, o crescimento do PIB foi de 1,6%.

O Lloyd’s faz-se valer de uma economia que, no pico da crise financeira mundial, conseguiu sempre crescer, à exceção de um ano. Em 2009, primeiro ano completo após a intervenção na banca britânica, o PIB do Reino Unido afundou 4,3%. Desde então, e até 2015, cresceu a uma média anual de 2%. Como termo de comparação, no mesmo intervalo de tempo, o PIB português caiu a uma média anual de 0,8%.

Por outro lado, as empresas portuguesas, tidas como as grandes salvadoras da economia nacional, tiveram um comportamento que em nada se compara ao das britânicas. É verdade que as exportações portuguesas cresceram a um ritmo mais acelerado entre 2009 e 2015: neste período houve um aumento anual médio de 4% das exportações portuguesas, contra uma subida de 3,2% no Reino Unido. Mas, no que toca a investimento, a vitória britânica é clara: de 2009 para 2015, o investimento (ou a formação bruta de capital fixo) aumentou 40% no Reino Unido; em Portugal, caiu 30%.

Isto sem contar com o mercado de capitais em que cada um dos bancos se insere. O Lloyd’s está cotado na bolsa londrina, o FTSE, índice composto por 100 empresas e com uma capitalização bolsista superior a 2 biliões de euros. Além disso, e segundo uma análise do Barclays, o banco tem capacidade para oferecer aos acionistas uma rentabilidade de 13% ao longo dos próximos três anos. Como termo de comparação, veja-se que o Deutsche Bank, maior banco alemão, oferece um retorno de 2%.

O Novo Banco não é cotado, mas o PSI 20, índice bolsista de referência em Portugal, é composto por 18 empresas e tem uma capitalização bolsista a rondar os 52 mil milhões de euros.

Retrato atual do Novo Banco e do Lloyd’s

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O resultado é claro: o Lloyd’s de hoje está de regresso aos lucros de milhares de milhões, o Novo Banco ainda está nos milhõezinhos, e só se se considerar um trimestre (o terceiro de 2016, onde conseguiu os tais 3,7 milhões de lucros). Se se considerar o período mais amplo (os nove primeiros meses de 2016), os resultados continuam no vermelho.

Os fantasmas do passado

A pesar na balança está também uma fatura de muitos zeros que o Novo Banco arrasta consigo. De um lado, os lesados do papel comercial do BES: os cerca de 4.000 clientes do banco falido que investiram 434 milhões de euros em papel comercial das empresas Espírito Santo Financial e Rio Forte, do Grupo Espírito Santo, poucos meses antes do colapso do grupo.

Já foi encontrada uma solução para este grupo, mas este é um legado que o Novo Banco carrega e que, enquanto não estiver fechado, vai continuar a retirar valor ao banco.

Do outro lado, está mais uma fatia da herança BES: os ativos não estratégicos, aqueles que estão no chamado side bank e que ascendem a 9,7 mil milhões de euros. Os administradores do Novo Banco até têm conseguido, aos poucos, desfazer-se de parte destes ativos. Em dezembro de 2015, o banco tinha 10,8 mil milhões de euros em participações de equity, operações internacionais, crédito não estratégico, participações imobiliárias e participações em fundos de reestruturação.

Mas é aquele risco de 9,7 mil milhões de euros, em grande parte, que faz com que as propostas pelo Novo Banco sejam tão pouco atrativas e incluam a exigência de uma garantia de Estado.

O Lloyd’s também não tem um cadastro limpo. A grande mancha no currículo é o escândalo dos seguros de proteção de pagamento (os PPI, na sigla em inglês). Em causa está a venda, ainda na década de 1990, de seguros que, supostamente, ajudavam os clientes que não fossem capazes de pagar as prestações de um crédito.

O caso explodiu já nos anos 2000, quando o Lloyd’s, juntamente com outros bancos britânicos, foi acusado de incluir, nos contratos de venda destes seguros, cláusulas ocultas que impediam que os clientes usufruíssem dos seguros no momento em que precisassem deles. Foram ainda vendidos seguros sem o consentimento dos clientes.

A má notícia é que a conta deste escândalo já vai em 17 mil milhões de libras, entre multas e processos judiciais. A boa é que o Lloyd’s está seguro de que este assunto está finalmente encerrado.

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EDP fez cair a bolsa de Lisboa

  • Ana Luísa Alves
  • 19 Janeiro 2017

O setor energético e o financeiro foram os mais condicionaram a prestação desta quinta-feira da bolsa nacional. O PSI-20 registou perdas na ordem dos 0,5%.

Depois de três sessões a subir, a bolsa de Lisboa caiu no fecho da sessão desta quinta-feira, à semelhança do que aconteceu um pouco por toda a Europa. Os títulos do BCP, grupo EDP e Galp acabaram por travar os ganhos na quarta sessão da semana.

O PSI-20 registou uma desvalorização de 0,55% para os 4580,68 pontos, e o BCP é a cotada que mais perde. As ações do banco liderado por Nuno Amado voltaram a cair, corrigindo os ganhos da sessão anterior, e registaram na sessão desta quinta-feira uma desvalorização de 11,37%.

A queda do banco deve-se à reação negativa aos direitos do aumento de capital, que estão a ser negociados em bolsa a um valor mais baixo do que o da cotação do BCP. Os investidores inverteram o caminho seguido nas sessões anteriores e os títulos que permitem lhes participar na operação de recapitalização do banco continuam a perder valor. As ações do banco valiam, no fecho da sessão, 14 cêntimos.

Também o grupo EDP dita perdas em Lisboa. A empresa de António Mexia perdeu 1,10 % para os 2,80 euros, e a subsidiária EDP Renováveis perdeu 1,03% para os 5,78 euros. Esta queda acontece depois de o banco de investimento Société Générale ter baixado a recomendação para “vender” os títulos, porque os “dividendos já não pagam riscos da EDP”.

O setor petrolífero castigou igualmente os ganhos em Lisboa. A Galp Energia registou uma desvalorização de 1,05%, embora o petróleo esteja a subir [depois de também já ter caído na sessão desta quinta-feira, e de ontem ter registado perdas].

O destaque positivo da sessão vai para a Sonae SGPS, a cotada que mais avançou na sessão desta quinta-feira, com uma valorização de 2,34% para os 88 cêntimos. Esta subida acontece depois de na sessão desta quarta-feira a empresa ter apresentado as vendas preliminares do retalho, e que atingiram os 1433 milhões de euros, o que representa um crescimento anual de 9%.

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Portela+Montijo é a “solução mais atrativa” e é “viável até 2050”

  • ECO
  • 19 Janeiro 2017

O estudo que a ANAC entregou ao Governo conclui que a solução do Montijo para expandir o aeroporto é a mais barata, sendo viável até 2050.

O Ministério do Planeamento e das Infraestruturas já tem o estudo da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) que conclui que a Base Aérea do Montijo é “solução mais atrativa” para a expansão do aeroporto da Portela. A notícia é avançada pelo Observador, que teve acesso ao estudo realizado pela consultora Roland Berger para a ANAC.

O estudo conclui que “é necessário avançar no imediato para o aprofundamento da solução mais atrativa, Portela + Montijo, e garantir o alinhamento dos principais stakeholders”. Ao que o Observador apurou, esta informação ainda não foi transmitida ao grupo trabalho que elaborou o relatório sobre a utilização mista (civil e militar) da Base do Montijo. Seja como for, os dois ministérios — o da Defesa e o do Planeamento e Infraestruturas — estarão “articuladíssimos”.

O estudo da Roland Berger analisa três hipóteses:

  1. A Portela manter-se como a única infraestrutura, fazendo-se uma otimização da sua capacidade;
  2. A construção de um novo aeroporto em Alcochete;
  3. Ou a requalificação da Base Aérea do Montijo enquanto aeroporto complementar da Portela.

A consultora conclui que a solução do Montijo seria a mais barata, “sendo viável pelo menos até 2050”. A extensão da Portela para o Montijo “deverá permitir acomodar o crescimento do tráfego previsto pelo menos até 2050”, com um fluxo de passageiros de 50 milhões de pessoas por ano, desde que as lowcost sejam transferidas de forma eficaz para o Montijo.

Há, ainda assim, dois constrangimentos nesta solução: os impactos ambientais, por um lado, que ainda não foram avaliados. E, por outro, a Força Aérea, que continuará a utilizar a Base Aérea do Montijo, visto que sair dela teria um custo demasiado elevado.

Seja como for, as outras duas hipóteses são menos viáveis. A solução Portela otimizada “não se afigura sustentável e acarreta riscos acrescidos no médio prazo”. Já a construção de um novo aeroporto demoraria demasiado tempo e não seria capaz de “responder aos constrangimentos até 2024”.

Fica assim justificada a afirmação de Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, que disse, na semana passada, que o anúncio da decisão de utilizar o Montijo está para breve.

“A minha expectativa, uma vez que temos os trabalhos técnicos muito avançados, é que nas próximas semanas possamos dizer ao país de forma clara quais vão ser os próximos passos e opções. Temos o trabalho adiantado, temos as condições que não tínhamos há um ano para tomar decisões”, disse o ministro.

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Marcelo recebe patrões e UGT em Belém para falar da TSU

  • Margarida Peixoto
  • 19 Janeiro 2017

Com a polémica da taxa social única a marcar a agenda, o Presidente da República vai-se reunir com o patronato e com a UGT.

O Presidente da República vai-se reunir com as confederações patronais que assinaram o acordo tripartido já esta sexta-feira. Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa vai ouvir a UGT, a central sindical que também assinou o acordo de concertação social, um entendimento que está agora em risco pelo ação do Parlamento. O Presidente quer ouvir os parceiros sobre a polémica, sabe o ECO.

De acordo com uma nota de agenda da Presidência da República enviada às redações, a audiência às confederações patronais está marcada para as 16h30 desta sexta-feira. Vão estar presentes a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a Confederação do Turismo Português (CTP).

Estes são os representantes dos patrões que aceitaram um aumento do salário mínimo nacional para 557 euros, tendo como contrapartida uma redução temporária de 1,25 pontos percentuais da taxa social única a cargo das empresas. Contudo, e apesar de o Governo já ter decretado a medida, de Marcelo ter dado o seu aval e de o diploma já ter sido publicado em Diário da República, o BE, o PCP e o PSD preparam-se para revogá-la a 25 de janeiro. Se este cenário se concretizar, o acordo tripartido pode desfazer-se.

Para as 18 horas de segunda-feira está prevista uma reunião com a UGT. Ainda esta quinta-feira, depois de um encontro com Passos Coelho, Carlos Silva, secretário-geral da central sindical, frisou a importância de se evitar o esvaziamento do acordo obtido a 22 de dezembro. “Está claramente em causa a concertação social”, avisou o sindicalista.

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OCDE defende redução da TSU em empresas que paguem salário mínimo

  • Lusa
  • 19 Janeiro 2017

O objetivo é, segundo a OCDE, que “o impacto dos aumentos planeados no salário mínimo na oferta de emprego seja suavizado”.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) recomendou hoje ao Governo a redução da Taxa Social Única (TSU) nas empresas que paguem o salário mínimo, incluindo as novas contratações.

Esta é uma das 20 recomendações que a OCDE faz no relatório Reformas no Mercado Laboral em Portugal 2011-2015, hoje divulgado e apresentado em Lisboa, e surge depois de patrões, UGT e Governo terem assinado o Compromisso para um Acordo de Médio Prazo, que prevê o aumento do salário mínimo nacional para 557 euros e a descida transitória da TSU em 1,25 pontos percentuais.

O decreto-lei que estabelece a descida da TSU em 1,25 pontos percentuais para os empregadores foi aprovado pelo Governo na segunda-feira e promulgado um dia depois pelo Presidente da República. Esta descida da TSU foi acordada em sede de Concertação Social entre o Governo e os parceiros sociais em dezembro — à exceção da CGTP –, como forma de compensação do aumento do salário mínimo para 557 euros, que já está em vigor.

A OCDE recomenda ainda no relatório a constituição de uma comissão independente com representantes dos parceiros sociais que seja responsável por dar “informação imparcial” e aconselhar em futuras alterações ao salário mínimo, “considerando cuidadosamente as condições do mercado de trabalho no presente e no futuro”.

No relatório, a organização refere que as contribuições sociais dos trabalhadores e os impostos pagos pelos patrões quando se trata do salário mínimo nacional são maiores do que na maior parte dos países da OCDE.

A OCDE considera ainda preocupante a aproximação do salário mínimo ao salário médio em Portugal e vê com receio o possível efeito de desemprego para os trabalhadores sem qualificações quando o salário mínimo for elevado para os 600 euros em 2019, como é intenção do Governo.

Em relação ao horário do trabalho, a OCDE recomenda a redução da generosidade das compensações ao trabalho de curta duração à medida que a recuperação económica se torna mais sustentável, de forma a prevenir que estes esquemas possam representar um obstáculo para a recuperação do mercado laboral.

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Draghi responde a Schäuble sobre programa de compras: “Seja paciente”

  • Marta Santos Silva
  • 19 Janeiro 2017

As políticas BCE também beneficiam os alemães, sublinhou Mario Draghi, e procuram uma recuperação sustentável para toda a zona euro. O presidente do banco central pediu "paciência" ao ministro alemão.

Schäuble e os alemães têm de ser “pacientes”, disse esta quinta-feira Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), na conferência de imprensa em que anunciou que as taxas de juro se manterão inalteradas. Questionado acerca das declarações recentes do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que apelara a que o BCE mudasse a sua política monetária, Draghi rejeitou que existisse intenção de o fazer e pediu paciência.

“Foram declarações muito compreensíveis”, concedeu Mario Draghi. “Mas as taxas baixas são necessárias agora para termos taxas altas no futuro. A recuperação da zona euro é do interesse de todos, incluindo da Alemanha”. E concluiu com um apelo: “Uma resposta sincera seria: sejam pacientes”.

O presidente do BCE justificou em parte a decisão de manter os juros e de não começar a reduzir o programa de compra de dívida soberana do banco central da zona euro com a vontade de que a recuperação do valor da inflação, que se pretende próximo de 2%, deve acontecer de forma aproximadamente equivalente nos vários países da zona euro. Uma recuperação o mais homogénea possível é do interesse da Alemanha como dos restantes países, afirmou, sublinhando que “à medida que a recuperação se tornar mais firme, as taxas reais vão subir”.

A recuperação conjunta da zona euro está entre as preocupações do BCE, com Mario Draghi a afirmar que o corpo governativo do banco central está atento às heterogeneidades registadas na inflação dos diferentes países. “Existem, mas podem ser geridas”, afirmou o presidente. “Temos visto, em todo o caso, que as divergências têm diminuído nos últimos dois ou três anos, e vão continuar a fazê-lo”.

A energia preocupa mas o trajeto é positivo

Outra preocupação do BCE que o faz manter as taxas de juro e o programa de compra de dívida soberana largamente inalterados desde a decisão de dezembro prende-se com os valores da inflação da energia, que justificam em grande medida o aumento da inflação headline.

“As condições para a transmissão da nossa política monetária melhoraram. Mas isto não significa que possamos descontrair. Estamos conscientes de que teremos de continuar a manter este apoio monetário extraordinário de forma a atingir o nosso objetivo. Sabemos que [o aumento da inflação] é principalmente movido pela energia e neste momento decidimos ignorá-la”, afirmou Draghi.

O desafio para os próximos meses vai ser perceber se o aumento da inflação headline, movido principalmente pela energia, se vai traduzir num aumento generalizado.

No geral, no entanto, o BCE está satisfeito com o resultado das suas medidas, que vêm refletidas nos dados da inflação, que aumentou na zona euro de 0,6% em novembro para 1,1% em dezembro de 2016, assim como na criação de mais de 4,5 milhões de empregos nos últimos anos, que atribuem em parte às suas políticas. “Será o único fator? Provavelmente não. Mas é um dos mais evidentes resultados da nossa política que, por si só, procura a estabilidade dos preços”, esclareceu Draghi.

Também houve tempo para falar de Donald Trump e do Brexit, mas em ambos os casos Mario Draghi deu o mesmo comentário: é “demasiado cedo” para falar. “Prefiro comentar medidas a declarações”, afirmou.

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Ex-presidente da Volkswagen ignorava a dimensão do caso

  • Lusa
  • 19 Janeiro 2017

Como pode ter ocorrido algo assim numa empresa tão organizada como a Volkswagen? O próprio Martin Winterkorn também se questiona e não consegue explicar.

O ex-presidente da Volkswagen Martin Winterkorn, que se demitiu em 2015 na sequência do escândalo da manipulação das emissões em milhões de automóveis a ‘diesel’, assegurou hoje que não estava consciente da dimensão do caso.

Winterkorn, que falava hoje na comissão de investigação criada no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) para estudar o escândalo, leu aos deputados uma declaração na qual sublinha que assumiu a responsabilidade ao demitir-se e que foi a decisão “mais difícil” da sua vida, depois de mais de 30 anos na Volkswagen.

O ex-presidente do grupo afirmou que entende que haja muitas perguntas sobre quem foi o responsável e sobre como pode ter ocorrido algo assim numa empresa tão organizada como a Volkswagen, algo que o próprio também se questiona e não consegue explicar.

Aos que defendem que como presidente tinha que saber de tudo, Winterkorn assegurou que não foi o caso e sublinhou que os seus antigos colegas sabem como teria reagido se tivesse tido consciência da dimensão do assunto.

Neste contexto, Wintenkorn sublinhou que nunca teve a impressão de que as pessoas tivessem problemas para lhe dizerem as coisas com clareza ou para o informar sobre questões incómodas.

Depois de assumir que o denominado “caso ‘diesel’” estará sempre associado ao seu nome, o antigo presidente da Volkswagen disse aos deputados que algumas das perguntas poderiam ficar sem resposta para preservar a investigação do Ministério Público alemão.

Perante as sucessivas informações publicadas nos meios de comunicação alemães sobre a implicação de Winterkorn no escândalo, em março do ano passado a Volkswagen explicou que, em maio de 2014, foi deixada uma nota ao então presidente para o avisar da existência de irregularidades.

Contudo, a companhia também clarificou que não é seguro que Winterkorn tenha recebido aquela informação.

Winterkorn sustentou hoje que só teve conhecimento pleno do problema em 18 de setembro de 2015. Quatro dias depois, a 22 de setembro, informou o Governo alemão, numa conversa telefónica ao telefone, com a chanceler Angela Merkel.

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OCDE apaga referência à concertação social no relatório sobre reformas laborais

"Versão preliminar" divulgada esta quinta-feira contrasta com a "primeira avaliação" a que o ECO teve acesso há três semanas: uma referência à concertação social foi apagada de uma versão para outra.

Além disso, a confiança entre os parceiros sociais em Portugal é fraca“, escrevia a OCDE na versão “primeira avaliação” do relatório sobre as reformas laborais. A frase desapareceu na nova versão oficial divulgada hoje pela OCDE em Portugal ao lado do Ministério do Trabalho. A referência a uma concertação social com pouca confiança foi eliminada numa altura em que os parceiros sociais assinaram um acordo, mas a sua aplicação direta está em causa no Parlamento.

A frase constava do sumário executivo, alterado entre uma versão e outra. A versão “primeira avaliação” foi entregue ao Ministério do Trabalho, mas a versão oficial é feita com o contributo do Governo em questão. A encomenda deste relatório à OCDE foi feita pelo anterior Governo, mas foi o atual Executivo socialista que entrou em diálogo com a OCDE para ultimar o relatório sobre as reformas laborais do período de austeridade.

Tendo em conta que Portugal vive um momento de grande tensão em relação, esta retirada ganha outra dimensão. A 22 de dezembro, o Governo chegou a um acordo de princípio com os parceiros sociais, exceto a CGTP. Esta terça-feira, o Ministério do Trabalho fez-se à estrada para que o acordo final fosse acordado. Um dos elementos do acordo é a redução em 1,25 pontos percentuais da Taxa Social Única para os patrões com trabalhadores até 557 euros, o novo salário mínimo de 2017, excluindo os novos contratos.

Contudo, a polémica estalou no Parlamento quando, na semana passada, o PSD anunciou que iria votar contra essa redução, ao lado do PCP, Verdes e BE. O Governo tratou de se apressar a publicar o decreto-lei em Diário da República. Esta quarta-feira foi agendada para o dia 25 de janeiro a apreciação parlamentar onde, ao que tudo indica, a cessação de vigência vai ser aprovada. Ou seja, não haverá redução da TSU e, assim, o acordo da concertação social fica em causa.

Apesar de excluída a referência no sumário executivo, a concertação social é mencionada numa secção relacionada com o contrato coletivo de trabalho. “A confiança nos parceiros sociais em Portugal é mais baixa do que a média da OCDE“, lê-se no relatório. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico defende que a concertação é essencial no equilíbrio das relações dos contratos coletivos, daí que seja de “importância crítica que a confiança seja reforçada”.

A “tensão significativa” nas relações entre os os parceiros foi o resultado do período da crise e da implementação de um largo número de reformas e de medidas de austeridade, escreve o documento. Para reverter esta situação, a OCDE propõe que os sindicatos e os patronatos sejam mais inclusivos, que seja promovida a representação do trabalhador ao nível das empresas e que sejam encorajadas negociações mais regulares, reduzindo o período de tempo em que os acordos podem manter-se válidos.

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Bolsas de Wall Street avançam… Mas pouco

  • Leonor Rodrigues
  • 19 Janeiro 2017

Os investidores estão ainda a digerir o discurso de quarta-feira da presidente da Fed, que admitiu voltar a subir as taxas de juro, e à espera da tomada de posse de Donald Trump.

As bolsas dos EUA abriram a sessão desta quinta-feira com ganhos ligeiros. Donald Trump toma posse amanhã, dia 20 de janeiro, e os investidores não querem assumir grandes riscos antes de ouvirem o discurso do próximo Presidente da maior economia do mundo.

O S&P 500, o principal índice de referência dos EUA, abriu a ganhar 0,07% para os 2.273,42 pontos. Além da expectativa quanto às políticas de Trump para impulsionar a economia norte-americana, os investidores estão ainda a digerir o discurso de Janet Yellen, a presidente da Reserva Federal dos EUA, que admitiu subir as taxas de juro de forma gradual nos próximos anos, e que vai voltar a falar esta noite sobre o futuro da política monetário do país.

“As preocupações dos investidores acerca de Trump cumprir as suas promessas eleitorais é provavelmente um verdadeiro ‘fator de medo'”, afirma Peter Cardillo da First Standard Financial à Reuters.

O Dow Jones, que na quarta-feira fechou a sessão no vermelho pela quarta vez consecutiva, algo que não acontecia desde outubro devido à queda dos preços do barril de petróleo, também está a ganhar mas pouco: 0,04% para os 19.812,23 pontos. Ainda hoje, a IBM e a American Express vão apresentar os resultados referentes ao último trimestre de 2016. No entanto, a reação dos investidores só vai acontecer na sexta-feira, dado que os resultados vão ser divulgados depois do fecho dos mercados.

Já o índice tecnológico Nasdaq começou a sessão a valorizar 0,14% para os 5.563,65 pontos.

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A banca pode estragar a festa da saída do PDE?

  • Margarida Peixoto
  • 19 Janeiro 2017

Costa e Centeno já têm a festa pronta: o Governo quer celebrar já no final de março a saída do Procedimento por Défices Excessivos. Mas os confetti podem ser precipitados.

Na agenda de António Costa e de Mário Centeno, há um dia que já está assinalado: sexta-feira, 24 de março. O primeiro-ministro e o ministro das Finanças têm uma festa agendada — é a festa da saída do Procedimento por Défices Excessivos (PDE). Mas há, pelo menos, dois fantasmas que ameaçam estragar o momento e deixar o Governo a dançar sozinho: a Caixa Geral de Depósitos e o Novo Banco.

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Costa e Centeno estão ansiosos. Esta terça-feira, no debate quinzenal, o primeiro-ministro anunciou que o défice de 2016 “não será superior a 2,3%” do PIB. É um número que fica abaixo até da atual meta do Executivo (2,4%) e que não coloca de parte o primeiro objetivo que tinha sido delineado pelo ministro das Finanças, em fevereiro (2,2%).

“Durante meses a fio, perguntaram por um plano B e aguardaram pelo Diabo”, disse Costa. “Insistiram que não havia alternativa às medidas do anterior Governo”, frisou.

Mas o primeiro-ministro nem foi o primeiro a anunciar os bons resultados da execução orçamental. Centeno já tinha revelado a confiança do Executivo, duas semanas antes. “Esta é a notícia que todos os ministros das Finanças gostariam de dar e essa [é] a notícia que vamos ter durante este primeiro trimestre”, já tinha dito Mário Centeno, em entrevista conjunta à TSF e ao DN, referindo-se à saída do PDE. E repetiu a mensagem na entrevista que deu, na semana passada, à Reuters: “O país vai sair do PDE, são assim as mensagens que temos para apresentar.”

A ansiedade do Governo é tal que, na verdade, Centeno está a antecipar a festa. O ministro das Finanças deverá estar a pensar no dia em que o Instituto Nacional de Estatística (INE) faz o reporte das contas de 2016 ao Eurostat, no âmbito do Procedimento por Défices Excessivos: 24 de março. Em vez de esperar pela decisão oficial, que habitualmente é tomada em maio, quando já há informação sobre o andamento das contas de 2017 e a Comissão já fechou as suas previsões de primavera. Para sair do PDE é preciso mais do que cortar o défice para menos de 3%, mas já lá vamos.

Nessa sexta-feira, 24 de março, será a primeira vez que o organismo de estatísticas se pronuncia sobre o défice de 2016 e Centeno está a apostar forte. Na mesma entrevista à Reuters, o ministro deixou escapar que tem a expectativa de cumprir não só a meta que foi definida “ao longo do ano”, como os objetivos propostos “no Orçamento do Estado em fevereiro”. Por outras palavras, isto é o mesmo que dizer que o ministro acredita que o défice pode ficar em 2,2%, embora, quando foi convidado a concretizar a sua previsão, tenha optado por repetir apenas que pode ficar “com uma probabilidade muito elevada abaixo de 2,4%.”

O que é preciso levar para a festa?

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Para fazer a festa da saída do PDE, Bruxelas exige que os Estados-membros levem dois elementos-chave:

  1. Défice abaixo de 3%. Este critério parece estar cumprido, a julgar pela confiança com que os membros do Governo falam sobre as contas do ano passado. Os dados do INE também apontam nesse sentido: o défice registado de janeiro a setembro, em contas nacionais, foi de 2,5%.
  2. Sustentabilidade da consolidação. O outro critério exigido pela Comissão é que a redução do défice seja duradoura. Isto avalia-se quer pela qualidade do corte efetuado em 2016, quer pelas projeções para as contas de 2017. Por isso é que estas decisões são, habitualmente, tomadas em maio — nesse mês já há dados da execução orçamental do primeiro trimestre e a Comissão já publicou as suas previsões de primavera.

Por enquanto, Centeno parece ter os dois elementos. Nas previsões de outono, divulgadas em novembro, a Comissão anteviu um défice de 2,2% para este ano e de 2,4% para 2018. Mas não considerou aqui eventuais impacto da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, nem da venda do Novo Banco.

Como é que o Novo Banco pode estragar tudo?

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A venda do Novo Banco é como um convidado indesejado: há uma forte probabilidade de prejudicar as comemorações, seja qual for a roupagem que lhe for encontrada. Em 2015, a resolução do Banco Espírito Santo e a sua divisão em banco bom (Novo Banco) e banco mau (BES) já teve impacto nas contas. Nesse ano, foi decidido inscrever um impacto de 4,9 mil milhões de euros no défice de 2014, o que atirou o número obtido por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque — que eram, respetivamente, primeiro-ministro e ministra das Finanças — para 7,2% do PIB.

Mas os estragos podem não ter ficado por aqui. Passados três anos desde a medida de resolução decidida pelo Banco de Portugal, ainda não foi possível encontrar um comprador para o banco. O novo prazo é agosto deste ano e, como em qualquer negócio, dizer aos potenciais interessados que se está com pressa para vender não é um bom princípio de conversa para conseguir uma boa venda.

Têm sido, por isso, debatidas pelo menos três hipóteses teóricas: vender, nacionalizar ou liquidar o banco. Destas, a liquidação está “basicamente fora de causa”, garantiu já Mário Centeno. Mas entre a venda e a nacionalização, o caminho para evitar custos para os contribuintes — como está prometido pelo Executivo — é estreito.

Impactos potenciais da venda

Antecipar impactos no défice, no âmbito do Procedimento por Défices Excessivos, de operações por realizar é sempre um exercício arriscado. As regras estão definidas no Manual do Défice e da Dívida das Administrações Públicas, mas não são fáceis de interpretar. Há muitos casos de exceção e o próprio INE (tal como o Eurostat) só se pronuncia sobre operações já concretizadas, porque um pequeno detalhe pode mudar o modo de registo.

Mas é possível antecipar os casos mais simples. Se o Novo Banco for vendido por um valor positivo — isto é, o Fundo de Resolução recebe dinheiro pelas ações da instituição — sem que seja exigido pelo comprador quaisquer garantias públicas, não deverá haver impactos no défice.

Seria legítimo perguntar: mas e se o valor da venda for mais baixo do que os 4,9 mil milhões de euros que o Fundo de Resolução pagou pela instituição, há apenas três anos? Em princípio, o impacto no défice continua a ser nulo: a diferença é considerada uma variação do valor do ativo, que afeta a conta do património financeiro do Fundo, o balanço, mas não é considerada uma despesa com impacto no défice.

Contudo, basta que o comprador exija garantias para que o caso possa mudar de figura. Nesta hipótese, o INE deverá decidir se regista no défice o valor das garantias prestadas, na sequência de uma análise à probabilidade de estas virem a ser acionadas. Se considerar que a probabilidade é forte, deve registá-las já no défice. Se tiver dúvidas, manda a regra da prudência que as registe na mesma. Se for uma probabilidade mais remota, os impactos podem ser registados apenas se, e quando, as garantias forem acionadas.

Impactos potenciais da nacionalização

Aqui os contribuintes ficam numa situação de maior incerteza. Tomando a oferta da Lone Star como referência, neste momento o Novo Banco vale 750 milhões de euros, mas precisa de outros 750 milhões de euros de aumento de capital e tem ativos de risco no valor de 2,5 mil milhões de euros.

Se se tratasse de uma simples compra de ações de uma empresa rentável, com recurso a depósitos do Estado, esta seria uma operação financeira, sem impacto no défice orçamental, explica um especialista em finanças públicas, ao ECO. Mas o problema é que esta é uma instituição financeira com prejuízos e com necessidades extra de capital para continuar a funcionar.

Vamos por partes. Primeiro: se o banco passar a ter como acionista o Estado, é de esperar que o Estado tenha de pagar um preço por ele ao Fundo de Resolução. Mas como o Fundo já está dentro da esfera pública, este efeito será, à partida, nulo.

Segundo: se o banco passa para o Estado, então é o acionista público que tem de fazer o aumento de capital. E este valor já deverá ter impacto no défice porque, por regra, os aumentos de capital em empresas com prejuízos são consideradas transferências de capital. Os 750 milhões de euros representam um acréscimo de 0,4 pontos percentuais no rácio.

Depois, no futuro, sempre que seja necessário aumentar novamente o capital do banco, esse valor deverá ser inscrito no défice. Tanto os prejuízos, como os lucros, que o banco for registando vão, da mesma forma, impactar as contas públicas.

Terceiro: é o Estado quem assume o risco dos ativos problemáticos. Ou seja, se se verificar que os cerca de nove mil milhões de euros do side bank só valem, afinal, 7,5 mil milhões de euros, esta perda é assumida pelo setor público, progressivamente, à medida que se verificar. É o que tem vindo a acontecer com os ativos que eram do BPN, mas que ficaram nas sociedades veículo criadas pelo Estado.

E o que muda se a nacionalização for só temporária?

Esta hipótese não está clarificada nos manuais do Eurostat. Mas poderia fazer toda a diferença se não fosse preciso fazer uma recapitalização e se a instituição voltasse a ser privatizada no período de um ano. Seria uma situação semelhante ao que teria acontecido caso o Fundo de Resolução tivesse conseguido vender o Novo Banco no período de um ano. O impacto dos 4,9 mil milhões de euros só veio a ser registado mais tarde, quando se confirmou que essa venda não aconteceria a tempo.

Contudo, este precedente também pode levar o Eurostat a considerar que não será credível reprivatizar o banco em apenas um ano e que, por isso, de acordo com a regra da prudência, ele deve ser considerado para efeitos de défice.

Feitas as contas…

Feitas as contas o Novo Banco arrisca-se a pesar entre 0,4 pontos percentuais no défice — caso seja nacionalizado e a recapitalização fique a cargo do Estado — e 1,3 pontos, no cenário em que é vendido a privados, mas com uma garantia pública que o INE considera ser de forte probabilidade de vir a ser acionada.

Mas também pode não voltar a ter qualquer impacto, caso o Fundo de Resolução o consiga vender, sem que sejam prestadas quaisquer garantias públicas sobre os seus ativos. O problema desta hipótese é mesmo encontrar quem queira comprar nestas condições.

A CGD também pode estragar a festa?

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Sim, pode. O que a Comissão Europeia disse até agora, é que a recapitalização do banco público será considerada uma operação com características de mercado, ou seja, que não coloca em causa as regras da concorrência.

Esta avaliação implica também que se o plano de recapitalização for concretizado como previsto, a injeção de capitais públicos, que pode ir até ao limite de 2,7 mil milhões de euros, será entendida como investimento. Este é um bom ponto de partida para argumentar junto do INE e do Eurostat que a recapitalização não deve ser registada no défice orçamental. Contudo, isso não quer dizer que, por causa dela, não aconteçam outros impactos.

A jurisprudência da aplicação do Manual do Défice e da Dívida das Administrações Públicas dá conta de casos em que a injeção de capital em causa não foi registada no défice, mas os prejuízos verificados pela instituição desde a última operação de recapitalização, até ao momento da operação atual foram.

Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas, alertou precisamente para este risco na sua audição no Parlamento, a propósito do parecer sobre o Orçamento do Estado para 2017.

No caso da CGD, isso implica registar prejuízos desde 2012. As contas fechadas até 2015 apontam para cerca de 1,1 mil milhões de euros, mas até setembro de 2016 já se registaram mais 189,3 milhões de euros. Tudo somado, são perto de 1,3 mil milhões de euros que estão em causa, o equivalente a 0,7 pontos percentuais a somar no rácio do défice de 2017.

Tal como o ECO já noticiou, o Governo está em conversações com o INE e o Eurostat sobre a forma como a operação deverá ser registada e este será um dos assuntos a abordar na visita dos peritos da Comissão Europeia a Portugal, prevista para o final deste mês. Mas enquanto a injeção de capital não se concretizar, nem o INE, nem o Eurostat farão uma leitura definitiva do assunto.

E se os dois convidados indesejados aparecerem?

Vamos a contas. O Governo comprometeu-se perante Bruxelas e o Parlamento nacional com um défice orçamental de 1,6% do PIB. Mas mesmo depois da troca de correspondência, entre o ministro das Finanças e a Comissão Europeia, sobre os planos orçamentais de Mário Centeno, é preciso ter em conta que os peritos de Bruxelas continuam a prever que o défice fique este ano em 2,2% do PIB.

Por isso há logo no ponto de partida um grau de incerteza grande. A missão de peritos da Comissão que vem a Lisboa no final deste mês, tem por objetivo a recolha de elementos para previsões sobre a economia e as contas portuguesas. Por isso, a avaliação que se fizer nessa altura poderá ser determinante.

Assumindo que Bruxelas mantém a sua previsão inalterada, os dois efeitos conjugados da recapitalização da CGD com a venda do Novo Banco podem estragar a festa da saída do PDE. Assumindo um impacto de 0,7 pontos percentuais da parte da CGD, o défice aproxima-se perigosamente dos 3% outra vez, o que pode levar a Comissão a adiar a saída.

Se o Novo Banco também tiver impacto, então o risco aumenta. O registo, por exemplo, do aumento de capital no Novo Banco (na hipótese de nacionalização) somaria mais 0,4 pontos, o que no final daria uma previsão de défice de 3,3%, acima do limite e o suficiente para adiar a saída do PDE.

Contudo, há um caminho pelo qual a festa de Centeno ainda pode passar: se o défice de 2016 ficar, como o primeiro-ministro garantiu, abaixo da meta de 2,4%, é possível que a Comissão acredite na projeção do Executivo para 2017 e reveja a sua própria estimativa em baixa. Se assim for, as contas ganham alguma folga para acomodar os impactos da banca. Se, mesmo considerando impactos do Novo Banco e da CGD for previsível que o défice fique abaixo de 3%, não há motivos para manter Portugal no Procedimento por Défices Excessivos.

Seja como for, se Centeno quer lançar confettis sem correr o risco de se precipitar, é melhor esperar por maio.

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Pires de Lima a caminho de empresa de private equity

O antigo ministro da Economia vai integrar a equipa da empresa de private equity Advent International. Objetivo? Identificar e avaliar oportunidades de investimento no mercado português.

Depois de a Parfois ter anunciado a entrada de António Pires de Lima na sua administração, agora é a vez de a empresa de private equity Advent International dizer que o antigo ministro da Economia vai reforçar a equipa. Objetivo? Identificar e avaliar oportunidades de investimento no mercado português.

António Pires de Lima vai integrar a equipa da empresa de private equity Advent International, ocupando o cargo de Operating Partner. Ou seja, parceiro operacional. Objetivo? “Identificar e avaliar oportunidades de investimento no mercado português, bem como no setor de consumo global”, explica a empresa num comunicado.

“Estou certo de que o seu conhecimento e experiência profissional será igualmente instrumental para ajudar a Advent a analisar oportunidades de investimento no mercado português onde tem uma vasta rede de contactos profissionais e uma visão apurada da economia e da cultura empresarial. Estamos ansiosos para trabalhar com o António Pires de Lima e satisfeitos por ele ter aceitado trabalhar connosco”, afirma Gonzalo Santos, diretor na Advent e diretor-geral da empresa em Espanha.

Mas a atividade do antigo ministro da Economia não se limita a esta empresa. Ainda há pouco tempo, a Parfois anunciou que Pires de Lima vai integrar a sua administração, “com o objetivo de consolidar o seu notável crescimento e processo de internacionalização”, de acordo com declarações à Lusa.

Pires de Lima, que foi ministro da Economia do Governo PSD/CDS-PP liderado por Passos Coelho, é também administrador não executivo da Media Capital, dona da TVI, e presidente da Comissão de Auditoria, desde abril do ano passado. Além disso, integra o Conselho de Administração da Fundação Serralves para o triénio 2016/2018.

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UGT: “É a 1ª vez que um acordo está em vias de ser esvaziado por não passar no Parlamento”

Não houve soluções a saírem da reunião de Pedro Passos Coelho com Carlos Silva. No final do encontro, o líder da UGT pediu ao Governo para pensar em alternativas e fazer cumprir o acordo.

O líder da UGT foi esta quinta-feira diretamente ao PSD criticar a posição de Pedro Passos Coelho, mas reconheceu que a iniciativa da apreciação parlamentar foi dos partidos que suportam o Governo. Com a perspetiva de que a redução da TSU cai, Carlos Silva pediu que o Governo encontre soluções para que o acordo da concertação social não seja posto em causa.

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“É a primeira vez que um acordo está em vias de ser esvaziado por não passar no Parlamento”, lembrou o líder da União Geral dos Trabalhadores. A crítica foi dividida entre a direita e a esquerda: o PSD por rasgar o seu papel de partido “charneira” da democracia portuguesa e o PCP e BE por impossibilitarem qualquer acordo na concertação social.

É a primeira vez que um acordo está em vias de ser esvaziado por não passar no Parlamento.

“Será que à esquerda qualquer alternativa será aceite?”, questionou Carlos Silva, lembrando que a CGTP rejeita qualquer compensação para os patrões, o que colocaria “em causa quaisquer acordos”. O líder da UGT reconhece a necessidade de “compensar as entidades patronais e empresariais pela subida do salário mínimo”, nomeadamente através de uma descida dos custos de contexto ou redução de impostos.

“Os parceiros sociais não se impõem ao Parlamento”, notou o líder da UGT, afirmando que “nenhum partido deve ficar de fora para encontrar uma solução”. “A concertação social precisa de ter apoios no Parlamento de partidos que são charneira da democracia portuguesa para ter um acordo de médio prazo”, argumentou, referindo-se ao apoio do Partido Social Democrata. Questionado sobre a posição do PSD, Carlos Silva afirmou que era “irrazoável pôr em causa um acordo de concertação social por razões políticas”.

Depois de explicar os argumentos que Passos Coelho lhe apresentou — como o caso do acordo nascer “coxo” pelo acerto a priori do salário mínimo com o BE — Carlos Silva afirmou que “a UGT leva um conjunto de preocupações para digestão interna”, ressalvando que “está claramente em causa a concertação social”.

A UGT já pensa numa alternativa, mas a solução é difícil. Carlos Silva recordou as várias tentativas, em reuniões até de anos anteriores com ministros socialistas (Helena André e Vieira da Silva), para encontrar compensações, mas não existe nenhuma “alternativa tão automática como a redução da TSU”. Espera-se agora pelo dia 25, altura em que a votação será conhecida e, a partir daí, a UGT compromete-se a “sentar novamente à mesa para saber o caminho a seguir”.

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