As 11 transferências e promoções do ano na economia
Este ano foi marcado por várias mudanças na liderança de algumas instituições financeiras e empresas, como é o caso da passagem de Centeno para o Banco de Portugal ou os novos CEO do BPI ou da EDP.
Para além da pandemia, que dominou a agenda neste ano, 2020 também ficou marcado por muitas mudanças na liderança de várias instituições financeiras, bem como nos cargos de topo de algumas empresas. Não foram apenas transferências que se verificaram no mundo da economia, mas também promoções de algumas figuras.
O ECO juntou as principais mudanças do ano na economia, desde a passagem de Mário Centeno de ministro das Finanças para a liderança do Banco de Portugal, à subida de Miguel Stilwell para o topo da EDP, passando pela mudança de Cristina Ferreira da SIC para a TVI, acrescentando acionista à lista de títulos.
De ministro das Finanças, Mário Centeno salta para topo do Banco de Portugal
A saída de Mário Centeno, cinco anos depois de ter assumido como ministro das Finanças, já tinha vindo a ser falada e acabou por ser confirmada no dia da aprovação da proposta de Orçamento Suplementar para 2020. Centeno deixou também o Eurogrupo, o órgão que reúne os ministros das Finanças dos países da Zona Euro.
Já não havia muito mistério quanto ao próximo cargo de Centeno, sendo que o burburinho de que o antigo ministro estava de olho no lugar do topo do Banco de Portugal se tinha instalado. O Parlamento ainda debateu as novas regras para a passagem para o supervisor, mas estas não chegaram a tempo de travar a ida de Centeno sem qualquer período de nojo.
Todos os partidos com assento parlamentar, à exceção do próprio PS, se mostraram contra esta nomeação, mas o Governo avançou de qualquer das formas. Houve, inclusivamente, uma providência cautelar interposta pela Iniciativa Liberal, mas que acabou por ser rejeitada pelo Supremo Tribunal Administrativo, que se declarou “incompetente” para a avaliar.
Pouco mais de um mês depois de abandonar o cargo à cabeça da pasta das Finanças, o Conselho de Ministros nomeou oficialmente Mário Centeno para o cargo de governador do Banco de Portugal. Foi em julho que Centeno assumiu funções no novo cargo, no qual se tem vindo a pronunciar algumas vezes sobre a atuação pública perante a pandemia.
Depois do Lloyds, Horta Osório vai para Credit Suisse
O banqueiro português que fez nome lá fora, António Horta Osório, deixou a liderança do Lloyds Banking Group, após um ciclo de dez anos à frente daquele que é o maior banco comercial e de retalho do Reino Unido. O novo desafio profissional não tardou a aparecer: cerca de cinco meses depois, os acionistas do Credit Suisse decidiram eleger Horta Osório para o cargo de chairman da instituição.
No Credit Suisse, Horta Osório vai ocupar o lugar do banqueiro suíço Urs Rohner que chegou ao limite permitido pelos estatutos de renovação de mandatos (12 anos). O português será o primeiro banqueiro não suíço a sentar-se na cadeira de topo deste banco, depois de concluir a implementação do plano estratégico do Lloyds, apresentado em 2018.
Antes do Lloyds, o banqueiro passou pelo Citigroup em Portugal, pela Goldman Sachs em Londres e Nova Iorque e esteve ainda vários anos no grupo Santander, tendo sido entre 2000 e 2006 CEO do Banco Santander Totta.
Hoje em dia, por Portugal, António Horta Osório desempenha funções não executivas na Fundação Champalimaud e na Sociedade Francisco Manuel dos Santos.
Saído do HSBC, António Simões lidera negócio europeu do Santander
António Simões entrou no HSBC em setembro de 2007, banco onde, em 2018, se tornou responsável pelo segmento global de banca privada. O português já tinha sido mesmo apontado como um dos possíveis sucessores para assumir o leme do banco britânico, aquando da saída de John Flint, mas acabou por sair em fevereiro deste ano, na reestruturação do HSBC.
A sua saída foi apontada pelo Financial Times na altura como sendo a de maior relevância, no processo de reestruturação do banco, que surgiu depois de este ter apresentado uma quebra de 53% nos lucros para 5,54 mil milhões de euros.
Entretanto, em maio, foi anunciado o novo poiso de António Simões. O gestor português seguiu para o Santander, onde chegou em setembro, para depois, tendo a aprovação das autoridades reguladoras, assumir a liderança do negócio europeu no início do próximo ano.
Nas novas funções, António Simões vai reportar ao administrador delegado do grupo, José Antonio Álvarez, fará parte do comité de gestão do grupo e terá responsabilidade administrativa e de supervisão dos negócios na Europa. Também vai liderar a área comercial e de retalho e será co-responsável na Europa pela área de Corporate & Investment Banking, Wealth Management & Insurance, juntamente com os responsáveis globais.
Pedro Leitão foi o escolhido para o Banco Montepio
O processo para definir a liderança do Banco Montepio arrastou-se por cerca de ano e meio, depois da saída da anterior administração de José Félix Morgado. Depois de muitas reuniões, o nome sobre o qual houve consenso no banco acabou por ser Pedro Leitão, que era Chief Digital Officer do Banco Atlântico Europa.
Antes disso, foi administrador do Banco Millennium Atlântico (antigo Banco Privado Atlântico), em Angola, entre 2011 e 2014, onde foi Chief Operations & Marketing Officer, responsável pela implementação, entre outros da rede de retalho. E foi ainda partner da Deloitte, durante quase uma década, entre 2001 e 2011.
O banqueiro assumiu funções no Banco Montepio em janeiro deste ano, enquanto presidente da comissão executiva para o mandato 2018-2021. A tarefa não tem sido fácil, sendo que o banco teve mesmo de solicitar o estatuto de empresa em reestruturação ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, em setembro.
Cristina Ferreira regressa para TVI e torna-se acionista
Esta foi uma das transferências do mundo televisivo que mais deu que falar. A mudança de Cristina Ferreira para a SIC, em 2018, criou ondas. Mas o novo poiso da apresentadora não durou por muito tempo, e o público voltou a ficar surpreendido quando a Cristina Ferreira decidiu regressar à estação de Queluz. Mas não voltou apenas como apresentadora, ganhando um novo rol de títulos.
Cristina Ferreira entrou na estrutura acionista da dona da TVI, Media Capital, através da DoCasal Investimentos, com a compra de 2,5% do grupo. Entre os novos donos encontram-se também empresários como Luís Guimarães (Polopique), Avelino Gaspar (Lusiaves) e figuras como Pedro Abrunhosa e Tony Carreira.
A apresentadora foi também nomeada vogal do Conselho de Administração do grupo, presidido pelo empresário Mário Ferreira, o maior acionista. Já na TVI, Cristina Ferreira assume o cargo de diretora de entretenimento e ficção da estação de Queluz de Baixo.
Mourinho Félix passa das Finanças para o BEI
A saída de Mário Centeno do Governo trouxe várias mudanças na equipa das Finanças. Ricardo Mourinho Félix era secretário de Estado desde 2015, sempre na área das Finanças. Quando o antigo ministro deixou a pasta, Mourinho Félix decidiu regressar ao Banco de Portugal, onde estava desde 2004, a coordenar a área de conjuntura e previsão no Departamento de Estudos Económicos.
Mas existia já um novo lugar em vista para o técnico. O Governo nomeou Mourinho Félix para vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), para suceder a Emma Navarro, numa nomeação conjunta de Espanha e Portugal. Foi em outubro que a designação do antigo secretário de Estado para o cargo foi oficializada, assumindo o cargo a 16 de outubro.
O Comité Executivo é o órgão executivo permanente do BEI, composto por um presidente e oito vice-presidentes. Portugal e Espanha apresentam sempre uma candidatura conjunta. Existe um acordo entre os dois países para que Portugal assegure a vice-presidência por três anos — neste caso até setembro de 2023 — e Espanha por 12.
Mourinho Félix ocupa agora um cargo que já foi do ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, bem como de Oliveira e Costa, o antigo presidente do BPN.
Ex-ministro Pires de Lima é novo CEO da Brisa
António Pires de Lima acrescentou este ano um novo cargo ao currículo. Com a venda de uma participação maioritária da Brisa a um consórcio de fundos de private equity, deu-se uma mudança na liderança da maior concessionária de autoestradas do país. Vasco de Mello foi nomeado presidente do Conselho de Administração e António Pires de Lima CEO.
A seleção de candidatos para a presidência da Brisa ficou a cargo de uma empresa de search, a Korn Ferry. Para o lugar, chegou a ser também considerado Diogo da Silveira, mas acabou por ser escolhido Pires de Lima, pelo seu perfil e experiência política.
Pires de Lima já foi presidente da Comissão Executiva da Compal e da Nutricafés, bem como CEO da Unicer, de 2006 até 2013. Ocupou ainda o cargo de ministro da Economia no Governo de Passos Coelho, entre 2013 e 2015. Na Brisa, o gestor terá de gerir os contactos com o Governo e com o IMT, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes.
O antigo ministro é também partner do fundo Horizon Equity Partners, que já fez investimentos em Portugal, nomeadamente na compra das torres da Meo (entretanto vendidas) e no Campo Pequeno.
João Leão passa de secretário de Estado a ministro das Finanças
Com a saída de Centeno, a escolha para o substituir veio da própria equipa. Há cinco anos no cargo de secretário de Estado do Orçamento, João Leão assumiu a pasta das Finanças em plena pandemia. O novo ministro teve logo de defender, na sua primeira semana, o Orçamento Suplementar na Assembleia da República, que foi ainda apresentado por Centeno.
Leão desempenhou funções de presidente da Comissão Científica do Departamento de Economia do ISCTE entre 2009 e 2010 e, depois disso, de diretor do Doutoramento em Economia. Foi também membro do Conselho Económico e Social e do Conselho Superior de Estatística entre 2010 e 2014, e integrou grupos de trabalho no âmbito da OCDE.
Foi ainda diretor do Gabinete de Estudos do Ministério da Economia entre 2010 e 2014 e assessor do secretário de Estado Adjunto da Indústria e do Desenvolvimento entre 2009 e 2010. Já em 2015 chegou a secretário de Estado do Orçamento, no primeiro ano de Governo de António Costa, e desde então lá se tinha mantido, até subir a ministro.
Entretanto, João Leão já elaborou e viu aprovado o Orçamento do Estado para 2021, apesar de este ter recebido apenas os votos a favor do PS. O ministro teve de enfrentar algumas polémicas e maiorias negativas, nomeadamente nas transferências do Fundo de Resolução para o Novo Banco e nos descontos em algumas portagens.
Com saída de Mexia, Miguel Stilwell passa a presidente executivo da EDP
O caso EDP avançou na Justiça este ano, levando a que o juiz Carlos Alexandre validasse a suspensão de funções de António Mexia, presidente da EDP, e João Manso Neto, presidente da EDP Renováveis, no âmbito do caso EDP, que tinha sido proposta pelo Ministério Público. Depois disto, Miguel Stilwell de Andrade foi escolhido como CEO interino da EDP.
O gestor chegou à EDP em 2000, e cinco anos depois, passava a chefiar a área de desenvolvimento estratégico e empresarial, bem como de M&A. Manteve-se com esse pelouro até 2009, ano em que assumiu funções de administrador não executivo da EDP Gás Distribuição, antes de se tornar CEO da EDP Comercial em 2012. No mesmo ano, entrou para o conselho de administração do grupo. Mais tarde, viria igualmente a ser CEO da EDP Espanha.
Foi em abril de 2018 que o Stilwell de Andrade assumiu os comandos das finanças da elétrica, a função que desempenhava até ser escolhido como interino. De chief financial officer passou a CEO da EDP. Entretanto, em novembro, António Mexia oficializou a sua saída da elétrica, comunicando à EDP que não estava disponível para integrar um novo mandato.
Os acionistas da EDP decidiram então convidar Miguel Stilwell a apresentar uma proposta de nova equipa, por isso este passará de presidente interino a efetivo. O gestor já definiu a equipa a apresentar aos acionistas, mais curta do que aquela que estava em funções, com cinco membros do conselho de administração executivo.
Quatro deles já estão na administração executiva, o próprio Miguel Stilwell, Rui Teixeira, Miguel Setas e Vera Pinto Pereira. Já o quinto elemento, a atual vice-presidente da Nos, Ana Paula Marques, é externo à companhia, e com experiência de gestão em empresas cotadas. Da nova equipa saem gestores históricos da companhia, como João Marques da Cruz e António Martins da Costa.
Ramiro Sequeira troca de COO para CEO da TAP
O lugar de CEO da TAP ficou livre com a saída de Antonoaldo Neves, após o Governo reforçar a participação no capital da companhia aérea. O Executivo vai recorrer a uma empresa internacional para contratar equipa de gestão para a TAP, mas o CEO teve de ser substituído de forma temporária enquanto a busca decorre.
Ramiro Sequeira, chief operating officer (COO) da companhia desde 2018, foi o escolhido como presidente executivo com caráter interino. O gestor chegou à TAP vindo da Ibéria, onde esteve quase quatro anos e antes na Iberia Express. Apesar de ser um gestor interino, vai ter de conduzir o processo de reestruturação da TAP, que foi entregue em Bruxelas em dezembro.
O primeiro apoio público à TAP foi no valor de 1,2 mil milhões de euros, estando a servir para garantir a liquidez até final do ano. Depois deste cheque, a empresa ainda deverá precisar de mais 2 mil milhões de euros, que poderão resultar de injeções de fundos públicos ou de garantias de Estado a novos empréstimos.
João Pedro Oliveira e Costa sobe para CEO do BPI
Outra das mudanças na banca este ano foi no lugar de topo do BPI. O espanhol Pablo Forero, que liderava o banco desde abril de 2017, decidiu reformar-se, aos 64 anos. João Pedro Oliveira e Costa, que era o vogal do Conselho de Administração e da Comissão Executiva do banco foi o sucessor escolhido.
Há 30 anos no BPI, Oliveira e Costa chegou ao banco vindo do grupo BCP em 1991 para ser diretor de private banking. Foi diretor central do negócio de private banking e premier até 2014, subindo depois à administração do banco com responsabilidade pelas áreas de negócio de particulares, premier, private banking e negócios.
O banqueiro começou logo por participar na conferência de imprensa de apresentação de resultados, em maio, depois de o BPI ter registado uma queda de 87% dos lucros devido à pandemia. Aí, esclareceu as confusões relativas ao seu nome, reiterando que não tem qualquer relação com o antigo presidente do BPN.
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