Orey volta a adiar contas. Aponta para 31 de agosto

  • ECO
  • 3 Agosto 2019

A empresa liderada por Duarte D’Orey voltou a adiar a divulgação das cotas do ano passado. Só deverá conseguir mostrar os números no final deste mês.

A Orey Antunes continua sem conseguir apresentar as contas do ano passado. Tem vindo a adiar sucessivamente a publicação dos resultados, voltando, agora, a fazê-lo. Em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários aponta, agora, uma nova data: 31 de agosto.

“Não foi possível concluir os trabalhos de elaboração dos documentos de prestação de contas relativas ao exercício de 2018 conforme anteriormente comunicado”, diz a empresa. Assim, a “Sociedade Comercial Orey Antunes pretende proceder à divulgação dos referidos documentos previsivelmente até 31 de agosto”, remata.

Este é apenas mais um adiamento, a juntar a muitos outros, sendo que as contas anuais têm, por regra, de ser apresentadas pelas empresas cotadas até ao final de abril do ano seguinte.

A explicação para estes adiamentos tem sido o atraso no processo de auditoria às contas. A empresa justifica a demora na auditoria com a reestruturação que está a ser levada a cabo, mas também “decisões estratégicas de 2018 de descontinuação de ativos que levaram a alterações na forma de apresentação” das contas.

A reestruturação da Orey Antunes teve um impacto expressivo nas contas, levando-a a um prejuízo de 2 milhões de euros no ano passado.

Recorde-se que a Orey conseguiu, recentemente, o “ok” dos obrigacionistas para o adiamento, por um ano, do pagamento dos juros deste ano de uma emissão de títulos no valor de 30 milhões de euros.

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Governo quer afastar Berardo da Fundação

  • ECO
  • 3 Agosto 2019

Depois do arresto das obras, um dos próximos passos será o de promover a alteração do Conselho de Administração. No limite, Governo e bancos podem avançar com a extinção da Fundação.

Joe Berardo poderá ter os dias contados à frente da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea — Coleção Berardo. O Governo, juntamente com os bancos credores, pretendem afastar o empresário da administração, admitindo mesmo que, no limite, avançar com a extinção da dona das obras de arte em exposição no Centro Cultural de Belém (CCB).

De acordo com o Expresso, que cita fonte oficiosa do gabinete da ministra da Cultura, Graça Fonseca, que o semanário confirmou junto da fundação, depois do arresto das obras, um dos próximos passos será o de promover a alteração do Conselho de Administração.

A primeira prioridade é afastar o empresário madeirense, sendo que que enquanto não for encontrada uma nova administração, será o diretor-geral a liderar a instituição em conjunto com o diretor artístico.

Depois disso e com a passagem do tempo, o regime de comodato, contrato que cede ao Estado as 862 obras de arte (1.520 peças individuais de 505 artistas), deixará de estar em vigor. Com o fim do comodato, haverá a extinção da Fundação, mas o museu estará salvaguardado.

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85% dos contratos da Proteção Civil feitos sem concurso

  • ECO
  • 3 Agosto 2019

Estado invocou a “urgência imperiosa” para comprar bonés, canetas e lápis por ajuste direto.

Nos últimos 11 anos, a Proteção Civil adjudicou 1.194 contratos públicos, com a grande maioria destes a serem feitos com base em convites a empresas, ou seja, sem concurso.

De acordo com o Expresso, 85% dos contratos não foram alvo de concurso público, impedindo que outras empresas pudessem tentar vender os seus serviços ou produtos ao Estado. Foram, no total, 987 contratos.

O semanário conta ainda 31 adjudicações mais recentes, a partir de 2018, realizadas através de consulta prévia, um tipo de procedimento introduzido na última revisão do Código dos Contratos Públicos e que reduziu o limite máximo admissível para ajustes diretos dos anteriores 75 mil euros para os atuais 20 mil euros.

Entre esses contratos estão a aquisição, no ano passado, de 50 mil esferográficas, 30 mil lápis e 15 mil bonés, que ultrapassaram o limite máximo de 20 mil euros previsto como admissível para os ajustes diretos.

Neste caso, o Estado invocou a “urgência imperiosa” para comprar bonés, canetas e lápis por ajuste direto, e isto já no âmbito das compras que a Proteção Civil fez para o programa de sensibilização “Aldeia Segura”, que se seguiu aos fogos mortíferos de 2017.

Recorde-se que este programa, o “Aldeia Segura”, gerou polémica devido à compra de golas aparentemente inflamáveis e de kits de emergência a uma empresa detida pelo marido de uma presidente de junta de freguesia do Partido Socialista. A empresa foi sugerida pelo adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil que, entretanto, se demitiu.

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Motoristas de matérias perigosas têm nova proposta para evitar greve. Antram diz não se vai deixar enganar

  • ECO
  • 3 Agosto 2019

Motoristas de matérias perigosas propõem aumentos salariais de 50 euros por ano durante os próximos seis anos. Patrões dizem que é preciso analisar bem as contas.

Nas vésperas de uma nova reunião para tentar evitar a paralisação agendada para 12 de agosto, os motoristas de matérias perigosas têm uma nova proposta que deixa cair os 100 euros de aumento em 2021 e 2022, substituindo-os por aumentos salariais de 50 euros por ano durante os próximos seis anos. Os patrões saúdam, mas dizem que não se vão deixar enganar.

“Em vez de fazermos um contrato coletivo de trabalho só de dois anos, faça-se um de seis em que sejam estipulados a priori aumentos de 50 euros de ano para ano a partir de 2021″, diz Pardal Henriques, em entrevista ao Expresso (link indisponível).

“Passaríamos dos 700 euros de salário-base em 2020 para os 1.000 em 2025. Pelo meio, em vez dos 900 euros já propostos por nós para 2022, seria um valor mais baixo: 850 euros. Ficavam todos a ganhar“, diz.

A Antram aplaude a proposta do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas para evitar a greve, mas diz que é preciso analisar o documento ao pormenor. O porta-voz da Antram, André Matias de Almeida diz à TSF que, antes de mais, é preciso perceber as contas dos motoristas e garante que a associação não se vai deixar enganar.

Se não chegarem a um entendimento, a greve avança, por tempo indeterminado. Os serviços mínimos ainda não estão definidos, tendo o Governo ficado encarregue de o fazer até 48 horas antes da paralisação perante a ausência de acordo entre patrões e sindicatos. Patrões queriam 70%, trabalhadores apenas 25%. E mantêm.

“O abastecimento de serviços essenciais está garantido. Será de 100% na saúde, proteção civil, forças de segurança, distribuição de alimentos para animais. Aí não haverá falta de combustível”, diz Pardal Henriques. “Para os restantes setores temos uma proposta de 25% dos serviços mínimos”, mantêm os motoristas.

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Palavras de Costa “vieram revoltar mais” os motoristas de matérias perigosas

  • ECO
  • 3 Agosto 2019

Pardal Henriques, representante do sindicato dos motoristas de matérias perigosas, critica as declarações do primeiro-ministro. Diz que não ajudam às negociações para evitar a greve.

António Costa manifestou-se publicamente contra a greve dos motoristas de matérias perigosas, criticando uma paralisação por causa de aumentos salariais em 2021 e 2022. Pardal Henriques, representante do sindicato que promete parar o país a partir de 12 de agosto, diz que as palavras do primeiro-ministro não estão a ajudar às negociações. Só estão a “revoltar ainda mais” os motoristas.

“Ninguém de bom senso compreende porque é que se faz uma greve em 2019 sobre aumentos salariais de 2021 e 2022”, disse Costa, em declarações a partir de Loulé, transmitidas pela SIC Notícias. Pedro Pardal Henriques reagiu. À TSF, diz que aquilo que o primeiro-ministro disse não ajuda nada às negociações para evitar a greve.

“As entidades que deviam proteger os portugueses não o estão a fazer e estas palavras vieram revoltar mais os trabalhadores“, afirma o representante dos motoristas, acusando Costa de estar ao lado do poder económico, “contra tudo e contra todos”.

“Para o senhor primeiro-ministro não contam os problemas que estes trabalhadores têm passado, as ilegalidades cometidas contra estes trabalhadores ao longo dos anos, nem a fraude fiscal gigantesca que existe ou as horas de trabalho que são obrigados a fazer ultrapassando todos os limites legais…”, disse o responsável.

"As entidades que deviam proteger os portugueses não o estão a fazer e estas palavras vieram revoltar mais os trabalhadores.”

Pardal Henriques

Representante do SNMMP

O sindicato dos motoristas de matérias perigosas, mas também o Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias, têm agendada uma greve por tempo indeterminado para 12 de agosto. Antes disso, vão voltar a reunir-se com o Governo, na próxima segunda-feira.

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Ferrovia 2020? É possível fazer tudo sem perder fundos

  • Lusa
  • 3 Agosto 2019

"Durante o primeiro semestre de 2020 teremos tudo, se não em empreitada, já em obra", diz o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes.

A Administração da Infraestruturas de Portugal (IP) conta ter até ao final do primeiro semestre de 2020 todo o programa Ferrovia 2020 em obra e sublinha que há condições para o concretizar sem perder fundos comunitários.

“Durante o primeiro semestre de 2020 teremos tudo, se não em empreitada, já em obra”, referiu o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, durante a apresentação dos indicadores de desempenho da infraestrutura em 2018 nas redes ferroviária e rodoviária.

O mesmo responsável precisou ainda que cerca de 6% do programa Ferrovia 2020 (que abarca um plano de investimentos de 2 mil milhões de euros) está já totalmente concluído, tendo afirmado haver todas as condições para o concretizar integralmente até 31 de dezembro de 2023.

Da lista de eixos ferroviários, todos (Minho, Oeste, Corredor Sul e Beira Alta) estão ou com concursos lançados ou já com obra a decorrer, faltando apenas o do Algarve avançar para esta fase, o que deverá acontecer dentro de pouco tempo.

Neste momento o troço entre Vila Real de Santo António e Faro encontra-se em fase de avaliação de impacte ambiental e o troço entre Lagos e Tunes está prestes a avançar para esta fase, de acordo com o mesmo vice-presidente do IP.

Na ocasião, Carlos Fernandes adiantou ainda que em 2020 serão executados 500 milhões de euros, o que corresponde a 25% do valor global de investimento do Ferrovia 2020.

“A empresa tem condições de concretizar este plano, que é muito ambicioso e que, provavelmente foi vítima da ambição do calendário apresentado em fevereiro de 2016”, precisou, refutando a ideia de que haja atrasos.

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Dona do Fitness Hut prevê abrir mais nove ginásios este ano

  • Lusa
  • 3 Agosto 2019

Empresa emprega mais de 400 pessoas em Portugal e que investe cerca de 1,5 milhões de euros na abertura de cada ginásio.

Viva Gym Group, que adquiriu o Fitness Hut em 2018, prevê abrir mais nove ginásios em Portugal este ano, com investimento médio de 1,5 milhões de euros cada um, disse o presidente da empresa.

“Contamos inaugurar 18 ginásios este ano, nove em Portugal e nove em Espanha e no próximo ano queremos abrir mais 18 ginásios”, adiantou Juan del Rio, detalhando que Espanha deverá ficar com uma maior fatia de aberturas em 2020.

O líder da empresa, detida pelo fundo britânico Bridges Ventures, adiantou que a empresa emprega mais de 400 pessoas em Portugal e que investe cerca de 1,5 milhões de euros na abertura de cada ginásio.

Juan del Rio destacou que, apesar de a aquisição ter acontecido há um ano e meio, “foram inaugurados 15 ginásios novos em Portugal”, em vez de parar para “examinar e explorar” o negócio que tinham comprado.

Segundo o presidente do Viva Gym Group, a estratégia passou por criar um grupo ibérico “com mais de 250 mil sócios” e espera terminar este ano com 80 ginásios em Portugal e Espanha. Para 2020, o grupo espera ultrapassar os 100 ginásios na Península Ibérica.

De acordo com informação enviada pelo grupo à Lusa, o Viva Gym Group, fundado em 2011 em Espanha, conta com 68 ginásios, 40 em Portugal e 28 em Espanha, sendo que o grupo contabiliza mais de 150 mil sócios inscritos em Portugal e 100 mil no país vizinho.

A abertura de novas unidades fez com que a faturação do grupo tenha aumentado 27%, para 77 milhões de euros. Em 2018, o volume de negócios era de mais de 60 milhões de euros, uma subida de 21% em relação a 2017.

O grupo prevê, nos próximos três anos superar os 450 mil sócios e os 120 clubes na Península Ibérica.

Para cumprir os seus objetivos, o grupo delineou um plano de expansão que passou por consolidar a sua presença no País Basco, em Barcelona, Madrid, Valencia e Saragoça. Em Portugal, estão planeadas ainda para este ano mais quatro aberturas – duas na área da Grande Lisboa, um no Centro e outra no Norte do país, de acordo com o grupo.

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7,8 mil milhões de euros depois, “seguro” do Novo Banco está a acabar

Falência do BES fez nascer o Novo Banco com promessa que era a solução com menor impacto. Fatura da decisão já vai longa, mas ainda não acabou. Já não há é muito mais fundos para usar.

A 3 de agosto de 2014, a resolução do Banco Espírito Santo (BES) fazia nascer o Novo Banco. Dividiam-se banco bom para um lado e ativos tóxicos para o outro, sendo a opção da nacionalização afastada para proteger o sistema financeiro, os depositantes e o financiamento da economia.

Ao longo dos últimos cinco anos, percebeu-se que a divisão não foi assim tão simples e o legado é pesado. “É importante mostrar às pessoas que os resultados do Novo Banco estão mascarados por uma resolução falhada“, afirmava o ministro das Finanças, Mário Centeno, numa audição no Parlamento, em março, apontando a Carlos Costa. “Resolução deixou um banco mau dentro do Novo Banco“.

A fatura do Novo Banco — repartida entre Estado (na grande maioria), contribuições dos outros bancos e acionista maioritário Lone Star — já vai em 7.850 mil milhões de euros. E começou a fazer-se sentir logo em agosto de 2014. O Fundo de Resolução (FdR) foi chamado a suportar custos: eram precisos 4,9 milhões de euros, mas o organismo liderado por Luís Máximo dos Santos (que tinha então apenas dois anos e cujas receitas vêm de contribuições da banca) tinha apenas 365 milhões de euros em caixa. Pediu um empréstimo de 3.900 milhões ao Estado e outro de 700 milhões aos bancos.

Luís Máximo dos Santos, presidente do Fundo de Resolução e vice-governador do Banco de Portugal (Fotografia: Paula Nunes / ECO)Paula Nunes/ECO

A partir daí, o objetivo era claro. Era preciso encontrar comprador para a renascida instituição financeira. Em 2015, uma tentativa falhada custou 9,7 milhões de euros em consultoria jurídica e financeira ao Fundo de Resolução. Só dois anos depois, é que o negócio ficou fechado: o Lone Star comprava 75% do Novo Banco (os restantes 25% ficaram no FdR), numa transação que aumentou a conta em mais mil milhões de euros.

A totalidade do valor serviu para injetar no banco, sendo que ficou ainda acordada uma rede de segurança para eventuais custos futuros. Para que a venda se concretizasse, o Governo teve de aceitar criar um mecanismo de capital contingente, ou seja, um mecanismo suportado pelo Fundo de Resolução, que entra em ação se os rácios de capital do banco caírem abaixo de um determinado valor.

O primeiro-ministro António Costa garantia, ao lado de Centeno, que não existiria “impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes” enquanto apresentava o negócio e explicava que ativação do mecanismo previa duas condições cumulativas.

"Não existirá impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes. Não há garantia. Nem direta, nem indireta. Nem do Estado, nem do Fundo de Resolução. Os contribuintes não pagarão nem direta, nem indiretamente.”

António Costa, primeiro-ministro

1 de abril de 2017

Por um lado, que os ativos considerados tóxicos do Novo Banco sofressem uma desvalorização face ao valor de referência e, por outro, que os rácios de capital baixassem do nível acordado. No máximo, o fundo (com garantias públicas) podia transferir 3,89 mil milhões de euros e, apesar das garantias do Governo, foi chamado a intervir logo no ano seguinte.

Ao longo de todo o período em que se limitava a ser um banco de transição (antes da venda), o Novo Banco nunca tinha tido lucros — foram prejuízos de 500 milhões entre agosto e dezembro de 2014, de 981 milhões em 2015 e de 780 milhões de euros em 2016 — e assim continuou.

Após perdas de 2.298 milhões em 2017 (ano da venda e da criação do mecanismo), o Estado financiou uma injeção do Fundo de Resolução de 791,6 milhões. No ano passado, prejuízos de 1.412 milhões levaram a nova injeção de 1.149 milhões. O FdR já esgotou mais de 1.941 mil milhões de euros, ficando apenas dois mil milhões disponíveis.

Centeno e Máximo esperam mais injeções de capital

O Governo prevê diminuir as transferências para 600 milhões de euros em 2020 e 400 milhões no ano ano seguinte, segundo as estimativas inscritas no Programa de Estabilidade. Entre 2022 e 2026, a margem total emagrece para mil milhões de euros, mas a expetativa é que seja suficiente.

A Comissão de Acompanhamento do Novo Banco estima que seja necessário um total de 3.000 milhões. “Penso que vamos ficar aquém [do limite]. O quanto aquém é difícil quantificar“, confirmava Máximo dos Santos. No entanto, as contas ainda estão longe do equilíbrio. Fruto do esforço de “limpeza”, o banco liderado por António Ramalho apresentou mais 400 milhões de euros de prejuízos na primeira metade deste ano.

Apesar de o ano ainda ir a meio, o Novo Banco já está a alertar que vai precisar de mais dinheiro no fecho das contas de 2019. Tendo em conta mais estes milhões de prejuízos, já prevê pedir 540 milhões de euros ao FdR, valor que pode variar em função do que acontecer nos próximos meses.

Esta estratégia tem exigido todas estas injeções pelo FdR (que tem mais de duas décadas para cobrar taxas aos bancos e devolver o empréstimo público). Ainda assim, o ministro das Finanças tem mantido a posição: a nacionalização seria ainda pior.

Todos os custos que vemos passar à nossa frente passavam a ser financiados pelos portugueses. Mas tinha mais consequências: Portugal entrava em 2017 no procedimentos por défices excessivos e iria endividar-se mais“, acrescentou Centeno, na mesma audição no Parlamento.

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5 anos da resolução, 5 lições do inquérito à queda do BES

O que aprendemos com a queda do BES? O inquérito parlamentar deixou recomendações para o que devia ser feito para evitar mais falências de bancos. Estas foram as lições que aprendemos.

O que aprendemos com a queda do BES? Foi há cinco anos que o Banco de Portugal anunciou a inédita resolução do histórico banco da família Espírito Santo. Seguiu-se uma comissão parlamentar de inquérito para apurar o que correu mal e deixar recomendações para evitar que problemas semelhantes ocorram no futuro. O que mudou desde então? Muita coisa.

Desde logo a supervisão dos grandes bancos que passou para o Banco Central Europeu (BCE). Os técnicos do banco central têm hoje uma atuação mais intrusiva, participando inclusivamente nas reuniões da administração dos bancos. Mas houve mais alterações, sobretudo no reforço da coordenação dos supervisores nacionais — entre Banco de Portugal, CMVM e Autoridade de Seguros. E também na maior responsabilização dos comerciais dos bancos e dos clientes.

O ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, acompanhado pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo, Fernando Negrão, à chegada para a sua audição.MIGUEL A. LOPES/LUSA 09 ddezembro, 2014

1. Maior coordenação entre os supervisores

Recomendações da comissão de inquérito

  1. Reforço dos mecanismos de colaboração entre entidades supervisoras, nomeadamente em momentos ou operações especialmente delicados, como sejam: i) operações de aumento de capital de instituições bancárias;: ii) cenários de resolução ou intervenção pública; iii) reclamações relacionadas com comercialização de instrumentos financeiros; iv) situações de desvirtuamento das contas apresentadas por instituições financeiras ou partes relacionadas; v) colocação no mercado de determinados instrumentos financeiros“.
  2. Condução de análise (…) quanto às vantagens e desvantagens de evolução para a existência de uma única entidade de supervisão para toda a área financeira (…), ou de duas entidades de supervisão, com competências respetivamente de supervisão prudencial e comportamental (modelo twin peaks), enquanto alternativa ao atual modelo, baseado em três entidades de supervisão“.
  3. Atendendo às fragilidades detetadas, em particular no que diz respeito a interfaces, cooperação efectiva e articulação, (…) é de ponderar a criação de um órgão, que se poderá designar do Conselho Superior do Sistema Financeiro (CSSF) (…)“.
  4. Sugere-se que o CSSF possa vir a ter como representantes, ao mais alto nível, entre outras, das seguintes entidades, organizações ou partes interessadas: Governo; Assembleia da República; Conselho Económico e Social; Entidades Supervisoras e Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (…)”.

Os supervisores foram um dos alvos das críticas do Parlamento, nomeadamente a falta de coordenação e de articulação entre ambos que mostraram durante todo o processo de resolução do BES. Nem todos tinham a mesma informação sobre o que se estava a passar no banco, e esta situação levou a uma troca de acusações entre CMVM e Banco de Portugal — o primeiro regulador acusava de não ter acesso a informação e o segundo dizia que não a podia dar. Levantou-se a questão na comissão de inquérito: afinal, qual a utilidade do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), que supostamente faz a ligação entre os três reguladores setoriais, incluindo a Autoridade de Supervisão dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF)?

Em 2018, este órgão anunciou um reforço da coordenação entre os supervisores, criando um secretariado permanente para dar maior autonomia ao seu trabalho e assim “reforçar a eficácia da coordenação entre supervisores financeiros”. Este cargo é rotativo, mudando de responsável de dois em dois anos.

Por esta altura, já o Governo preparava uma reforma de todo o desenho da supervisão financeira com vista a melhorar a fiscalização e regulação do sistema. Foi anunciado em setembro de 2017, mas o projeto (que mereceu críticas de todo o lado) passou para a próxima legislatura. São várias as alterações que introduz na arquitetura da supervisão: reforça as competências do CNSF, autonomiza a autoridade de resolução bancária (separando-a do Banco de Portugal) e cria um novo órgão (Comité Nacional para a Estabilidade Financeira) presidido pelo ministro das Finanças.

2. Supervisão mais intrusiva nos bancos

Recomendações da comissão de inquérito

  1. Consolidar a evolução para sistemas de acompanhamento da atividade bancária, por parte de auditores externos e entidades de supervisão, de índole essencialmente permanente, com possibilidade de acesso em tempo real aos sistemas de informação das entidades bancárias, em detrimento de uma mera análise periódica de peças contabilísticas, e com incidência sobre os processos decisórios vigentes, (…) reforço das competências e efetivo acompanhamento por parte também das equipas de inspeção designadas pelo Banco de Portugal e BCE, incluindo uma identificação preventiva de potenciais fatores de risco“.

Nas conclusões do inquérito, os deputados criticaram a ineficácia da supervisão do Banco de Portugal — não é novidade. E sugeriram que esta fosse mais intrusiva. Também houve novidades neste campo, sobretudo por causa da regulação europeia.

Em novembro de 2014, três meses depois da resolução do BES, entrou em vigor o Mecanismo Único de Supervisão (MUS) que colocou instituições de crédito significativas, como a Caixa, o BCP e o Novo Banco, sob a supervisão direta do BCE. Dentro dos grandes bancos trabalham as chamadas equipas conjuntas de supervisão, que reúnem técnicos do BCE e das autoridades de supervisão nacionais. Quanto maior o banco e mais arriscado for o seu negócio, maior será a equipa conjunta de supervisão.

Em termos gerais, estas equipas fazem uma supervisão contínua do grande banco. Os técnicos acompanham muito de perto tudo o que se passa dentro dos bancos, vão a todo o lado, podem participar em todas as reuniões importantes, incluindo do conselho de administração ou do conselho de crédito, e têm acesso a toda a informação importante dos bancos.

“O Mecanismo Único de Supervisão pode participar em reuniões como as dos conselhos de administração dos bancos supervisionados. Isto faz sentido e é coerente com a necessidade de analisar vários elementos dos bancos supervisionados, seja o seu capital, liquidez ou governance. O mesmo se aplica aos documentos dos bancos supervisionados”, disse fonte do BCE ao ECO.

Gabriela Figueiredo Dias, presidente da CMVM.Paula Nunes/ECO 27 Junho, 2018

3. Mais atenção aos auditores

Recomendações da comissão de inquérito

  1. Reformulação dos sistemas de auditoria externa, incluindo: i) existência de um sistema reforçado de pré-qualificação das entidades acreditadas para o exercício desta atividade; ii) definição de um sistema de acompanhamento e supervisão das atividades dos auditores externos, incluindo a realização de auditorias periódicas ao seu funcionamento por parte das entidades supervisoras, enquanto requisito de manutenção da correspondente acreditação; iii) intervenção do Banco de Portugal na seleção e escolha das entidades auditoras de uma determinada entidade bancária; iv) existência de uma rotatividade obrigatória, entre entidades auditoras, implicando uma mudança ao final de um determinado período temporal de relação de trabalho com o mesmo banco, sem possibilidade de qualquer prorrogação do mesmo“.

A KPMG, auditora do BES, foi outra das visadas no inquérito parlamentar à queda do BES. E não só. Também está na mira dos supervisores pelas falhas na fiscalização ao banco. Recentemente, o Banco de Portugal condenou a auditora e alguns responsáveis por prestação de informações falsas sobre o BES Angola. E a CMVM também já avançou com processo.

No relatório do inquérito à queda do BES, os deputados recomendaram que se desse maior atenção aos auditores. E desde 2016 que isso acontece. O regulador dos mercados liderado por Gabriela Figueiredo passou a supervisionar diretamente auditores e revisores de contas. Ou seja, houve um aperto em torno do trabalho de quem tem por missão fiscalizar as contas das empresas.

As novas regras de auditoria obrigam ainda as empresas e bancos com o mesmo auditor há uma década a fazerem substituições nesse órgão. Ou seja, um mesmo auditor deixou de poder estar anos e anos a fiscalizar as contas da mesma instituição.

Atualmente, a CMVM está a trabalhar num modelo de indicadores de qualidade de auditoria, que visa “criar uma ferramenta de apoio aos órgãos de fiscalização no processo de monitorização e seleção dos auditores” e “promover uma cultura de qualidade e a concorrência entre as firmas de auditoria”, explica o regulador ao ECO.

4. Trabalhadores mais qualificados e cuidados na venda ao retalho

Recomendações da comissão de inquérito

  1. As políticas de remuneração variável e prémios, a todos os níveis, devem pautar-se por uma análise do contributo para a sustentabilidade dos bancos, numa ótica de médio prazo, bem como assentar no estrito cumprimento e efetiva implementação de uma cultura de comportamento irrepreensível em termos deontológicos, alinhas com exigentes códigos de conduta“.
  2. Definição de mecanismos de qualificação, registo e acompanhamento dos colaboradores das instituições financeiras que ficam autorizados a comercializar produtos financeiros com risco associado“.
  3. Devem ser consolidados os canais disponíveis para dar resposta atempada a reclamações ou denúncia de situações desconformes, em particular no que toca a más práticas comerciais, nomeadamente através da criação de um sistema eficaz de provedores dos clientes e de apresentação de reclamações“.

Foi uma das preocupações da comissão de inquérito: os lesados do BES, pequenos investidores que perderam poupanças com o papel comercial de sociedades do universo Espírito Santo, comprado aos balcões do banco. O que fazer para evitar que vendas potencialmente abusivas ocorram novamente? Maior formação para os trabalhadores dos bancos, um código de conduta e maior transparência nos produtos financeiros.

Todos estes aspetos (e mais uns quantos) foram considerados na famosa DMIF II, a diretiva de mercados de instrumentos financeiros, que entrou em vigor em Portugal há exatamente um ano para reforçar a proteção dos investidores. Por exemplo, as conversas entre gestor bancário e cliente passaram a ser gravadas — é uma forma de clarificar o contexto em que os produtos foram comercializados, caso mais tarde seja necessário fazê-lo.

Por outro lado, caberá ao banco acompanhar se determinado produto financeiro está a ser adquirido pelo mercado alvo para o qual foi desenvolvido. Caso contrário, terá de adotar medidas para corrigir desvios para evitar uma comercialização generalizada e junto de quem não sabe o que está a comprar. Limitaram-se as vendas cruzadas de produtos e serviços financeiros.

Também foi revista a remuneração dos trabalhadores: a remuneração final passou a ter em conta fatores qualitativos além de quantitativos, tudo para evitar que se comercialize produtos em massa. Além disso, os gestores tiveram de realizar um exame para poderem vender produtos financeiros.

5. Promoção da literacia financeira

Recomendações da comissão de inquérito

  1. A um nível mais amplo, envolvendo a sociedade, as famílias e os cidadãos, além do sistema educativo e de formação profissional, cultivar uma cidadania mais ativa, exigente e bem informada, nomeadamente no que diz respeito aos níveis de literacia financeira, do rigor ético e deontológico, da prevenção moral, da honestidade e exigência pela qual cada um de nós pauta o seu comportamento, em particular face ao sistema financeiro“.

Outra lição da falência do BES: ter uma sociedade com maiores conhecimentos financeiros ajuda a prevenir casos como os lesados do BES. A DMIF veio dar maior responsabilização aos trabalhadores dos bancos, mas os clientes também passaram a ter outro nível de responsabilidades naquilo que compram aos balcões.

Há um maior dever de informação ao cliente. Os produtos financeiros passaram a disponibilizar maior informação. Por outro lado, os próprios clientes são alvo de uma avaliação de conhecimentos no momento de aquisição de determinado produto.

Ao mesmo tempo, os três supervisores financeiros têm procurado aumentar os conhecimentos financeiros junto da população portuguesa através do Plano Nacional de Formação Financeira. Este plano tem passado sobretudo pela introdução da educação financeiro nas escolas e de outras ações de formação mais específicas dirigidas a todas classes da população, envolvendo várias entidades nacionais e locais. “Todos contam”, é o lema do plano.

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Wall Street fecha no vermelho com Nasdaq e S&P a bater registos negativos

  • ECO
  • 2 Agosto 2019

Nasdaq e S&P 500 registam pior sequência semanal dos últimos cinco meses. Guerra comercial entre China e Estados Unidos continua a penalizar fortemente mercados.

As bolsas norte-americanas fecharam a semana a desvalorizar, com o pessimismo totalmente instalado, sobretudo por culpa do novo crescendo de tensões comerciais entre Pequim e Washington, mas também à conta da evolução dos números do emprego nos Estados Unidos. O S&P 500 e o Nasdaq viveram mesmo a pior semana desde há cinco meses, salienta a Reuters.

Esta sexta-feira, o Dow Jones perdeu 0,38%, fechando nos 26.482,77 pontos, com o S&P 500 a registar perdas de 0,73%, para 2.931,89 pontos, e o Nasdaq a cair 1,34%, para 8.002,68 pontos. No acumulado da semana, o Dow perdeu 2,6%, o S&P desvalorizou 3,1% e o Nasdaq recuou 3,92%.

O principal “culpado” pela evolução tão negativa das bolsas, especialmente tendo em conta que falamos de uma semana em que a Reserva Federal até cortou 25 pontos bases à taxa de juro, é a postura agressiva assumida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, perante a China, tendo anunciado esta quinta-feira a imposição de novas tarifas a produtos chineses a partir de 1 de setembro.

Desta feita o alvo são “os restantes 300 mil milhões de dólares de bens e produtos que vêm da China para o nosso país”. Esta tarifa soma-se à taxa de 25% já aplicada pelos EUA a importações da China avaliadas em mais de 250 mil milhões de dólares, explicou Trump.

Contudo, do lado chinês, a resposta não se fez esperar. Se Trump avançar com as taxas, a China “vai ter de tomar as contramedidas necessárias”, disse um porta-voz do ministério do Comércio da China. “Todas as consequências serão suportadas pelos EUA”, acrescentou. A China tem ameaçado com medidas “qualitativas” não especificadas, já que não consegue mais retaliar com taxas alfandegárias, devido a ter um largo superavit no comércio com os EUA.

As alfandegas chinesas poderão, por exemplo, dificultar o desembarque de produtos norte-americanos no país, alegando questões sanitárias, ou aumentar os entraves burocráticos a empresas dos EUA que operam no país. O ministério chinês dos Negócios Estrangeiros também sugeriu que a ameaça de Trump pode anular os planos para uma segunda ronda de negociações, em Washington, no próximo mês.

Além da guerra comercial já em curso entre Pequim e Washington, também o anúncio esta sexta-feira de uma desaceleração na criação de emprego pela economia norte-americana preocupou os investidores. Em julho, surgiram 164 mil novos postos de trabalho não agrícola no país, menos 41 mil que em maio e junho.

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Jeroen Dijsselbloem desiste e abre caminho para a búlgara Kristalina Georgieva ser a candidata a diretora-geral do FMI

Os ministros votaram três vezes para escolher o candidato europeu ao FMI, mas foi preciso o holandês Jeroen Dijsselbloem desistir para abrir caminho para a vitória de Kristalina Georgieva.

À terceira foi mesmo de vez e está quebrado o impasse das últimas semanas. Depois de quase 13 horas, os ministros chegaram à eleição da búlgara Kristalina Georgieva. A diretora executiva do Banco Mundial teve mais votos, mas não cumpria o critério da maioria qualificada. Depois da resistência da Holanda à pressão francesa, Jeroen Dijsselbloem acabou por conceder a derrota quando os ministros já tinham suspendido a reunião para jantar. O caminho fica assim livre para a búlgara Kristalina Georgieva, antiga vice-presidente da Comissão Europeia, que era dada como favorita desde o início do processo, e que foi promovida intensamente pela França, país que coordenou o processo.

A búlgara de 66 anos é economista e começou a sua carreira no Banco Mundial em 1993, onde ocupou o cargo de vice-presidente. Abandonou o grupo em 2010 para ser comissária na segunda Comissão liderada por Durão Barroso, e chegou a ser vice-presidente da Comissão Europeia no atual Executivo comunitário liderado por Jean-Claude Juncker. É hoje diretora executiva do Banco Mundial, um cargo novo que foi criado quando a búlgara regressou a Washington.

Há muito que Kristalina Georgieva é candidata ou nome falado para vários cargos de destaque a nível internacional, regra geral promovida pela Alemanha. Em 2016, aquando da eleição de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas, a búlgara entrou na corrida já tarde, com o apoio da Alemanha (que tinha prometido guardar o seu voto para a António Guterres), e acabou por sofrer uma derrota pesada, ficando atrás mesmo de outra Búlgara, Irina Bokova (2.º lugar) que se recusou a abandonar a corrida para dar espaço a Georgieva.

Após as eleições europeias de maio passado, foi falada como uma das hipóteses de compromisso fora do grupo de spitzenkandidaten para a presidência da Comissão Europeia, mas o seu nome não reunia consenso. O mesmo aconteceu mais tarde para o cargo de presidente do Conselho Europeu e até de Alto Representante da União Europeia para a política externa.

Nos contactos iniciais feitos por Bruno Le Maire, Kristalina Georgieva não foi a primeira escolha, sendo vista como uma candidata aceitável caso não fosse encontrado um candidato com melhor perfil e que conseguisse o consenso entre os ministros das Finanças. Além disso, a sua vitória exige uma mudança nos estatutos do FMI devido ao limite legal de idade para ser escolhido para o cargo — 65 anos –, que apesar de não ser particularmente complicada em termos técnicos, exige o acordo dos países, sendo que vários já se demonstraram contra essa alteração, incluindo a Alemanha.

França foi quem mais puxou pela sua eleição. Apesar de não ter declarado abertamente a sua escolha inicialmente, chegou a apresentar listas reduzidas a três candidatos aos diferentes grupos de países, sendo a búlgara a única presença constante. Esta estratégia levou a alguma confusão no início desta semana, depois de vários jornais internacionais terem noticiado que a shortlist tinha sido reduzida, já sem os nomes de Mário Centeno e Nadia Calviño. O Ministério das Finanças francês clarificou publicamente que se mantinham cinco nomes e que todas elas eram excelentes candidaturas.

No entanto, a escolha esteve longe de ser consensual e obrigou a uma terceira ronda de votações, ai já sem a espanhola Nadia Calviño, que retirou o seu nome após a primeira ronda de votações de uma forma insólita: anunciou a decisão primeiro à imprensa espanhola e só depois avisou os ministros das Finanças que estavam na votação.

No final da reunião do Governo espanhol, Nadia Calviño disse que foi “uma grande honra” estar na shortlist, mas que o “a prioridade do Governo desde o primeiro dia é que a União Europeia tenha um bom candidato e que seja escolhido por consenso”.

O governador do Banco Central da Finlândia, Olli Rehn, também retirou o seu nome, mas já depois da segunda ronda, justificando a decisão com a necessidade de encontrar o maior consenso possível em torno do candidato europeu.

“A União Europeia está prestes a votar no candidato da Europa para diretor-geral do FMI. É um desafio excecionalmente significativo e motivante. No entanto, retira o meu nome de consideração nesta altura, para que consigamos um consenso alargado sobre o candidato europeu, e apoio a nível mundial”, disse o responsável no Twitter.

No entanto, mesmo a terceira votação não foi conclusiva. Kristalina Georgieva tinha mais votos, mas não conseguiu a maioria qualificada necessária para ser eleita, o que levou a uma disputa entre vários países sobre se deveria ser a vencedora ou não. A França argumento que o critério da maioria qualificada tratava-se apenas de uma indicação, e não era vinculativa, mas a Holanda contestou.

Foi só já depois de os ministros suspenderem a reunião para jantar, à espera de voltarem a conversar mais tarde, que Jeroen Dijsselbloem anunciou a sua desistência de forma pública. No Twitter, o holandês desejou sucesso a Kristalina Georgieva.

Mário Centeno também confirmou a vitória, desejando felicidades à búlgara através de uma publicação no Twitter.

O coordenação da escolha ficou a cargo do ministro das Finanças de França, Bruno Le Maire, que depois de semanas de consultas não conseguiu encontrar um candidato consensual entre os ministros das Finanças da União Europeia. Na quinta-feira de manhã, Bruno Le Maire propôs aos ministros que se avançasse para uma votação para quebrar o impasse que se mantinha, e de forma a permitir à Europa antecipar-se aos países emergentes e consolidar um candidato que garantisse que a liderança do Fundo continuaria em mãos europeias.

Os ministros acabaram por aceitar a ideia de Bruno Le Maire e marcaram uma votação para esta sexta-feira a partir das 07h00. No entanto, também esta decisão não foi consensual. O ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz expressou reservas, Mário Centeno acabou por retirar o seu nome por entender que a votação era prejudicial, mas o mais crítico foi o representante do Reino Unido, que defendeu por escrito que o processo era prejudicial e que deveria ser dado mais tempo para encontrar um consenso. O Reino Unido recusou-se a participar no processo e não votou, o que tornou as contas para encontrar uma maioria qualificada ainda mais difíceis.

Continuará o candidato europeu a ser o vencedor da corrida?

Desde a fundação do FMI em 1946, na sequência dos acordos de Bretton Woods, que há um acordo informal com os Estados Unidos para que a liderança do Fundo seja escolhido pelos países europeus, deixando a escolha do presidente do Banco Mundial para os Estados Unidos. Sendo verdade que os Estados Unidos mantêm a sua parte do acordo — Donald Trump escolheu David Malpass para presidente da instituição em março deste ano –, também o é que esta tradição tem sido muito questionada pelos países emergentes, desde a primeira nomeação de Christine Lagarde em 2011.

Na altura, os diretores que representam os BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, com 18% dos direitos de voto na escolha, emitiram um comunicado criticar este acordo, qualificando-o como uma “convenção informal obsoleta” e a pedir um processo transparente e baseado no mérito. O processo mudou, e até houve outros candidatos de países emergentes — como o governador do Banco do México, Agustín Carstens –, mas no final os BRICS não se uniram em torno de um candidato.

No final, aplicou-se o acordo de cavalheiros entre os Estados Unidos e a Europa e, como tem sido mais frequente, voltou a ser um francês. Christine Lagarde, foi a primeira mulher a liderar o FMI, e a quinta francesa em 11 diretores-gerais. Em 73 anos de existência, França teve o cargo máximo do FMI durante 44 anos.

A luta cada vez mais aguerrida dos países emergentes por mais representação e influência dentro do FMI, em particular com o crescimento das economias chinesa e indiana, não tornará o processo de seleção de mais um europeu fácil, mesmo com o apoio manifestado pelos Estados Unidos ao acordo tácito que existe desde 1946. Especialmente depois de os Estados Unidos terem bloqueado a reforma do sistema de quotas do FMI, que daria mais poder a este grupo de países, sendo a primeira da lista a China.

Ainda não avançaram outros candidatos. O candidato europeu é o primeiro a ser escolhido. No entanto, já se falam de hipóteses como o eterno candidato Agustín Carstens, mas também o indiano Raghuram Rajan.

Como se escolhe o diretor-geral do FMI

Escolhido o candidato europeu, o FMI estabeleceu como data limite o dia 6 de setembro para que todos os que quiserem avançar coloquem os seus nomes na disputa. O processo ficará fechado até ao dia 4 de outubro.

O diretor-geral do FMI, o cargo mais elevado na instituição e o seu efetivo líder, é escolhido formalmente a partir de um dos nomes que pode ser avançado pelos 24 diretores que representam todos os países que são membros do Fundo, sendo que apenas os Estados Unidos, Japão, China, Alemanha, França, Reino Unido e Arábia Saudita têm o seu próprio representante. Quem representa Portugal é o italiano Domenico Fanniza, que agrupa ainda a representação de Itália, Albânia, Grécia, Malta e San Marino.

Também o conselho de governadores do FMI, onde cada membro tem o seu próprio representante, pode nomear candidatos para a corrida à direção-geral do Fundo. O representante de cada país no conselho de governadores é tipicamente o ministro das Finanças ou o governador do banco central desse país, embora não necessariamente, e cada país pode ter um substituto. O representante de Portugal é o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, mas não está nomeado qualquer substituto, ao contrário da generalidade dos países.

Desde 2011, quando Christine Lagarde foi nomeada pela primeira vez, que o processo para a nomeação foi alterado para o tornar mais transparente e aberto, com critérios ancorados no mérito do candidato, dando a hipótese aos governadores para fazerem as suas nomeações, e o processo de seleção — que tem sempre o objetivo de ser feito por consenso — não demorou mais do que um mês das últimas duas vezes.

O FMI definiu também vários critérios que os candidatos devem cumprir para poderem ser escolhidos, como um percurso reconhecido como decisores económicos a todos os níveis, um currículo profissional de alto nível, a capacidade demonstrada de gestão e as qualidades diplomáticas necessárias para liderar uma organização mundial, mas também de ser um defensor inequívoco do multilateralismo. São os 24 diretores que vão receber as candidaturas e reduzir a lista a três candidatos, caso sejam mais. Depois voltam a reunir-se para fazer a seleção do próximo diretor-geral, de acordo com os direitos de voto atribuídos a cada um.

(Notícia atualizada às 20H55)

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“Ninguém entende porque se faz greve em 2019 sobre aumentos salariais de 2021 e 2022.” Costa fala em “sentimento nacional de revolta”

O primeiro-ministro ainda tem esperança de que a greve dos motoristas pode ser cancelada na próxima segunda-feira. António Costa fala em "revolta" e "incompreensão" dos portugueses.

O primeiro-ministro ainda acredita que as negociações da próxima segunda-feira irão permitir travar a greve dos motoristas agendada para 12 de agosto. Isto porque, segundo António Costa, “há um claro sentimento nacional de revolta e de incompreensão”.

“Ninguém de bom senso compreende porque é que se faz uma greve em 2019 sobre aumentos salariais de 2021 e 2022”, referiu o líder do Governo, em declarações a partir de Loulé, transmitidas pela SIC Notícias, depois de uma reunião com o Presidente da República. “Já estão acordados aumentos salariais de 250 para janeiro de 2020”, recordou.

O chefe do Governo disse ainda acreditar “no bom senso”. “Se efetivamente as pessoas estão de boa-fé neste processo, como é que é possível não se entenderem quando já se entenderam relativamente ao que vai acontecer em janeiro de 2020?”, interrogou-se o primeiro-ministro.

Contudo, e tal como os sindicatos têm referido, no seu entender, o que está em causa não são aumentos em 2021 e 2022. Antes o resultado final das negociações, que empurrou para esses anos parte dos aumentos exigidos pelos camionistas. “Atente-se a um ponto muito importante: nós não estamos a paralisar por aumentos em 2021, não é isso. Nós exigimos 900 euros de vencimento base já em janeiro e o que se negociou foi ter 700 euros em 2020 e dar tempo para as empresas, até 2022, chegar aos 900 euros”, conforme explicou o presidente do sindicato esta sexta-feira.

A greve dos motoristas, que abrange também os motoristas que transportam matérias perigosas, está marcada para 12 de agosto e poderá criar dificuldades no abastecimento de combustível nas gasolineiras, entre outros efeitos adversos. Por isso, o Governo admite adotar “todas as medidas até ao limite do que a lei e a Constituição permitem” para mitigar o impacto da greve na vida dos portugueses.

Os representantes dos motoristas vão ser recebidos esta segunda-feira de manhã, no Ministério das Infraestruturas e Habitação, para mais uma tentativa de alcançar um acordo com a Antram — que, todavia, diz não voltar a negociar enquanto o pré-aviso de greve estiver em vigor. Uma última tentativa para evitar a greve, que foi marcada por tempo indeterminado em plenas férias de verão dos portugueses.

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