Os cinco dias em que a pandemia mais assustou Portugal
Do primeiro dia em que a pandemia chegou a Portugal aos 100 mil casos, passando pelos recordes de óbitos e novas infeções, conheça os cinco dias em que a pandemia mais assustou os portugueses.
A pandemia veio trocar as voltas à forma como vivemos, trabalhamos e até como nos relacionamos uns com os outros. Cerca de 300 dias depois de terem sido detetados os dois primeiros casos de Covid-19 em Portugal, o país já atravessou duas vagas, sete Estados de Emergência e viu a economia cair a pique, na sequência dos impactos económicos e que levaram o Governo a lançar diversos apoios. Ao todo, há já 391.782 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus e 6.478 mortos. Do primeiro dia em que a pandemia chegou a Portugal aos 100 mil casos, passando pelos recordes, conheça os cinco dias em que os números da pandemia mais assustaram os portugueses.
A 2 de março deste ano, os alarmes soaram com a confirmação por parte das autoridades de saúde de que tinham sido identificados os dois primeiros casos de infeção em território português. Tratava-se de um médico de 60 anos que esteve de férias no norte de Itália e um outro homem que esteve em Valência, Espanha. Ambos, portanto, vindos de países onde o novo coronavírus já tinha ganho alguma força e numa altura em que a doença já tinha infetado dezenas de milhares de pessoas um pouco por todo o mudo.
Quinze dias depois, e também a uma segunda-feira, a ministra da Saúde dava conta do primeiro óbito por Covid-19 registado em Portugal. A vítima mortal era um homem de 80 anos que estava internado há vários dias e que tinha “várias comorbilidades associadas”, ou seja, fazia parte do grupo de risco, mais vulnerável aos efeitos da doença Covid-19, explicou Marta Temido, em conferência de imprensa a 16 de março. Além da ministra da Saúde, também o primeiro-ministro e Presidente da República apresentaram as condolências aos familiares e amigos da vítima.
Um dia depois, a 18 de março, pelas 20h00 o Presidente da República falava ao país a anunciar que Portugal iria entrar em Estado de Emergência, o primeiro em democracia. O anúncio foi feito depois do parecer favorável da Assembleia da República, sem nenhum voto contra, ao contrário do que se tem verificado ultimamente. Para tomar a decisão Marcelo Rebelo de Sousa invocou cinco motivos entre os quais, “o interesse nacional”, dado o “contexto excecional” vivido.
Assim, a partir de meados de março Portugal entrou em confinamento total e obrigatório com várias restrições na via pública. Todos os estabelecimentos considerados de serviços não-essenciais tiveram de fechar portas, sendo que já antes disso as escolas tinham sido encerradas, os jogos da I e II Ligas de futebol tinham sido suspensos, bem como os voos para Espanha e Itália, por exemplo. A pandemia continua a ganhar terreno em Portugal, mas só em abril viria a ser atingido o pico da primeira vaga da pandemia.
Na semana mais crítica durante a primeira vaga da pandemia, entre 30 de março e 5 de abril, a evolução dos casos oscilou e chegou a atingir 1.035 infeções diárias. Em termos acumulados, Portugal registou 5.316 novos casos. Em média, a Direção-Geral da Saúde (DGS) identificou 759 novos casos por dia neste período. Entretanto, os números começaram a desacelerar e, por isso, o Governo apresentou no final do abril o plano do desconfinamento, que aconteceu em três fases. Neste contexto, em maio, Portugal passou ao estado de calamidade, o nível mais elevado na Lei de Bases da Proteção Civil criada em 2006, com um alívio das medidas. O teletrabalho continuou a ser a obrigatório (sempre que as funções o permitiam), mas os diversos setores voltaram a retomar a atividade: a 4 de maio, o comércio local, especificamente lojas com porta aberta para a rua até 200m2, cabeleireiros, manicures e similares, bem como livrarias e comércio automóvel voltaram a abrir portas.
Na segunda fase, a 18 de maio, seguiram-se os restaurantes, cafés, esplanadas e lojas de maior dimensão (até 400 m2) e os alunos dos 11º e 12º anos de escolaridade retomaram o ensino presencial. Já na terceira e última fase, a 1 de junho, as restantes lojas de maior dimensão e centros comerciais voltaram a receber clientes e as creches, ATLS e pré-escolar voltaram a abrir. Os portugueses foram também autorizados a retomar o trabalho presencial, ainda que o Executivo tivesse recomendado que os horários de entrada e saída fossem desfasados.
Os meses foram passando e com a chegada do verão os números, tanto ao nível de novos casos de infeção como de mortos, tendiam a estabilizar. A título de exemplo, em junho foram registadas 166 mortes registadas a nível nacional (em média, cinco por dia), enquanto em julho foram registados 159 óbitos (também cerca de cinco por dia) e setembro, com 149 mortes (quatro por dia). Mas agosto foi mesmo o mês mais “suave”, tendo sido declarados 87 óbitos, isto é, uma média de dois por dia.
Depois de uma redução progressiva das restrições no país nestes meses de verão e apesar de a Área Metropolitana de Lisboa (AML) ter tido regras mais restritas durante esse período, o Executivo decidiu voltar a apertar o “cinto”. Assim, a partir de 15 de setembro, Portugal entrou em estado de contingência, de forma “preventiva”, para preparar o novo período de regresso às aulas e também aos postos de trabalhos. E, tal como se temia, a situação pandémica voltou a agravar-se nos meses que se sucederam, pelo que o Governo declarou o estado de calamidade em meados de outubro, com medidas mais restritivas, como, por exemplo, a proibição de ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública. A 19 de outubro, Portugal ultrapassava a barreira dos 100 mil casos confirmados por Covid-19 desde o início da pandemia, tendo nesse dia registado 1.949 novas infeções e mais 17 mortes.
Segunda vaga bateu todos os recordes
Com os casos de infeção por Covid-19 a dispararem, no início de novembro, o Presidente da República interveio e propôs um novo Estado de Emergência “muito limitado e largamente preventivo”, avisando que novembro seria “um teste à contenção, serenidade e resistência” dos portugueses para superar a pandemia. E tinha razão, já que esta segunda vaga se veio a verificar muito mais mortífera do que a primeira. Só nos primeiros 19 dias de novembro, morreram quase 1.200 pessoas vítimas do novo coronavírus, mais do que a soma dos cinco meses anteriores (1.097).
Assim, se abril tinha sido o mês mais “negro”, a verdade é que em novembro foram batidos sucessivos recordes. Só nesse período, foram registados 156.782 novas infeções e 1.998 óbitos, superando, assim, a fasquia dos 829 óbitos registados em abril, aquele que foi considerado o pico da pandemia durante a primeira vaga e até, então, o mês mais mortífero. Esta situação levou a que o Governo dividisse os 308 municípios do país em quatro escalões, com base na incidência da Covid-19 por cada 100 mil habitantes nos últimos 14 dias, aplicando medidas mais restritivas de forma escalonada, consoante o risco de contágio da doença.
Contas feitas, é uma média de cerca de 5.226 casos por dia e 66,6 mortes. Foi também em novembro que foi registado o máximo de casos diários: 6.994 novos casos a 19 de novembro, precisamente na semana em que Portugal deverá ter atingido o pico da segunda vaga, segundo avançou ao Observador [acesso pago] o engenheiro Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e que trabalha com Manuel Carmo Gomes no aconselhamento científico ao Governo.
Desde então que os números de novos casos têm vindo a descer, contudo, a taxa de mortalidade é ainda preocupante. Neste contexto, só em dezembro foram detetados 93.721 novos casos de infeção e morreram 1.973 pessoas vítimas da doença. De salientar que a pouco menos do meio deste mês, a 13 de dezembro, foi atingido um novo recorde de óbitos decorrentes da Covid-19, com 98 mortos registados num dia, superando a anterior fasquia de 91 mortes (a 16 de novembro).
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