Autoeuropa em guerra com proposta salarial

  • ECO
  • 6 Abril 2021

Zero aumentos para este ano, cortes nos prémios e adiamento do pagamento dos downdays para 2024. Trabalhadores consideram proposta “uma afronta” depois de ano de boa produção.

A direção da Autoeuropa enviou uma proposta aos trabalhadores onde propõe zero aumentos para este ano e indexados à inflação nos próximos dois anos, conversão de 50% dos prémios por objetivos em banco de horas e adiamento do pagamento dos downdays (dias de não produção) para 2024, avançou o Jornal de Negócios (acesso pago) e o Correio da Manhã (acesso pago). A administração também propôs o pagamento de um prémio de 200 euros a todos os trabalhadores.

A proposta da direção da Autoeuropa, conhecida quarta-feira passada, foi considerada “uma declaração de guerra”. Este acordo a três anos surge depois de 2020 ter sido considerado o terceiro melhor ano de sempre da fábrica da Volkswagen em Palmela e foi a única fábrica que manteve a produção em ano de pandemia. Para os trabalhadores trata-se de “uma afronta” que não visa apenas os rendimentos, mas as próprias condições de trabalho. A administração contrapõe com os aumentos salariais de 2,3% atribuído em dezembro,

A Comissão de Trabalhadores garantiu aos funcionários já ter rejeitado “esta perda de rendimentos e direitos tendo entregado uma nova contraproposta”. A proposta da Comissão era de um aumento de 5%, com um mínimo de 50 euros.

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EDP sobe mais de 4% e impulsiona Lisboa para sexta sessão de ganhos

A bolsa nacional avança mais de 1% no arranque da sessão, em linha com os ganhos das principais praças europeias.

Depois de duas sessões de pausa, devido aos feriados da Páscoa, a bolsa de Lisboa volta a negociar, regressando também aos ganhos. A praça lisboeta segue assim para a sexta sessão consecutiva em “terreno” verde, seguindo a tendência positiva sentida nas congéneres europeias. Subida de mais de 4% da EDP ajuda a impulsionar o desempenho na bolsa nacional.

O PSI-20 sobe 1,64% para os 5.059,14 pontos no arranque desta sessão, máximos de finais de janeiro. Entre as 18 cotadas, a grande maioria encontra-se a negociar acima da linha d’água, com apenas uma cotada, a Novabase, a registar perdas.

A liderar os ganhos no índice de referência nacional encontra-se a EDP, que avança 4,66% para os 5,148 euros, atingindo um máximo intradiário de 8 de fevereiro, enquanto a EDP Renováveis ganha 1,92% para os 19,09 euros.

EDP sobe mais de 4%

Em “terreno” verde, destaque também para o BCP, que ganha 2,14% para os 0,1194 euros, para a retalhista Sonae, que avança 4,08% para os 0,8040 euros, e para a Galp Energia, que soma 0,85% para os 10,09 euros.

Nota ainda para as subidas das cotadas do setor da pasta e do papel, com a Navigator a registar ganhos de 2,29%, a Altri a subir 2,46% e a Semapa a valorizar 1,35%.

Por outro lado, no vermelho está apenas a Novabase. A tecnológica perde 1,60% para os 3,69 euros no arranque desta que é a primeira sessão da semana.

Pela Europa, o dia arranca com ganhos expressivos, rondando valorizações de 1%. O índice pan-europeu avança 0,8%, chegando mesmo a atingir um máximo histórico. Já o britânico FTSE 100 ganha 1,2%, o francês CAC 40 soma 0,9% e o espanhol IBEX sobe 1,2%.

(Notícia atualizada às 8h52)

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Estado gastou 10,8 milhões em equipamentos para teletrabalho na Administração Pública

  • Lusa
  • 6 Abril 2021

O ano passado, o Estado gastou 10,8 milhões em equipamentos para o teletrabalho na Administração Pública. De acordo com estudo, a produtividade e a qualidade do trabalho foi igual ou superior.

Estado gastou 10,8 milhões de euros, em 2020, em equipamentos para o teletrabalho na Administração Pública, segundo disse à Lusa a ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão.

“A distribuição de equipamentos correspondeu a um gasto de 10,8 milhões de euros ao longo do ano de 2020 para custos com o teletrabalho”, incluindo distribuição de computadores, custos com software ou sistemas de videoconferência que tiveram de ser agilizados, o que evidencia que houve “algum investimento nos equipamentos” referiu Alexandra Leitão.

A ministra vai estar esta terça feira num webinar para apresentação do estudo “A adaptação dos modelos de organização do trabalho na administração pública central durante a pandemia de covid-19: dificuldades e oportunidades”, em que 37,02% dos funcionários públicos inquiridos e que estiveram em situação de teletrabalho referem que a entidade empregadora “não disponibilizou quaisquer meios ou equipamentos essenciais para a realização das atividades profissionais em modalidade de teletrabalho”.

De acordo com o estudo, 66% dos inquiridos apontou o acréscimo de despesas com Internet, energia, computadores e outros elementos necessários para trabalhar em casa como um dos pontos mais negativos do teletrabalho.

Alexandra Leitão referiu que esta questão das despesas “terá de ser analisada até em parceria com a área do Trabalho, uma vez que esta é uma matéria regulada no Código do Trabalho e que não tem uma regulamentação específica na Administração Pública”.

Teletrabalho na Administração Pública sem impacto negativo na produtividade

A produtividade e qualidade do trabalho dos funcionários públicos colocados em teletrabalho manteve-se igual ou melhorou por comparação com o registado quando estão em regime presencial, segundo os resultados de um estudo realizado pela DGAEP.

De acordo com o estudo “A adaptação dos modelos de organização do trabalho na administração pública central durante a pandemia de Covid-19: dificuldades e oportunidades”, que é apresentado esta terça-feira, a maioria dos dirigentes das 29 entidades da administração central direta e indireta participantes, dá nota positiva à qualidade do trabalho.

“Cerca de 60% dos dirigentes respondentes avalia a qualidade do trabalho como sendo a mesma, independentemente dos seus trabalhadores estarem a trabalhar presencialmente ou em teletrabalho”, refere o estudo, precisando que “27,27% dos dirigentes acham que a qualidade do trabalho melhorou ou melhorou muito quando desempenhado em regime de teletrabalho”.

Apenas 12,41% dos dirigentes dão nota negativa quando questionados sobre a qualidade do trabalho desenvolvido em teletrabalho.

Falta de contacto com colegas e subida de custos entre fatores mais negativos do teletrabalho

Os funcionários públicos apontam a falta de contacto com colegas e o aumento de despesas como os pontos mais negativos do teletrabalho, e a redução do tempo em deslocações como o mais positivo, indica um estudo realizado pela DGAEP.

Os resultados do inquérito revelam que a redução do contacto presencial com os colegas é para 78% dos funcionários públicos um dos pontos negativos do teletrabalho. Mas não é o único: 66% dos inquiridos aponta o aumento de gastos com Internet, energia, computadores e outros elementos necessários para trabalhar em casa, 63% a possibilidade de trabalhar mais horas sem dar por isso, havendo ainda 57% que consideram como ponto negativo o perigo de maior isolamento social.

Por outro lado, a maior parte (72%) considerou o ganho de tempo pelo facto de se evitarem deslocações casa-trabalho-casa como uma das maiores vantagens do teletrabalho, havendo 54% que apontou também o efeito positivo na conciliação da vida profissional e familiar e 52% que veem nesta organização do trabalho imposta pela pandemia um contributo para se repensar de forma estrutural os modelos de organização do trabalho na Administração Pública.

De acordo com o estudo, entre os trabalhadores que estiveram em teletrabalho mais de um terço (37,02%) afirmou que a entidade empregadora não lhe disponibilizou quaisquer meios ou equipamentos para poder realizar a sua atividade em teletrabalho.

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Conselho Geral da ADSE dá parecer positivo a revisão das tabelas, mas com cinco votos contra

  • Lusa
  • 6 Abril 2021

Alguns membros do conselho consultivo da ADSE votaram contra as novas tabelas de preços, nomeadamente devido ao aumento do copagamento dos beneficiários nas consultas.

O Conselho Geral e de Supervisão da ADSE considerou a revisão das Tabelas do Regime Convencionado positiva para os beneficiários, que são pelo menos mais 67.000 desde janeiro, mas o seu parecer foi aprovado com cinco votos contra.

Este órgão consultivo da ADSE discutiu, no final da semana passada, o parecer sobre a proposta de revisão das Tabelas do Regime Convencionado, documento que foi aprovado em votação final global com nove votos a favor e cinco votos contra, dos dois representantes da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (CGTP), dos dois elementos da Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI) e da presidente do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (UGT).

O secretário-geral da Federação Sindical da Administração Pública (FESAP), José Abraão, votou favoravelmente o parecer do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) porque considerou que a revisão das tabelas é “globalmente positiva para os beneficiários”, pois aumenta o número de prestadores de serviços convencionados, tanto nas grandes cidades como no interior do país, e a qualidade dos mesmos, mas defendeu que o valor a pagar pelos beneficiários pelos diferentes serviços não deve aumentar enquanto durar a pandemia.

Atualmente os beneficiários da ADSE pagam por uma consulta 3,99 euros e com as novas tabelas vão passar a pagar cinco euros. Este foi o motivo pelo qual os representantes da Frente Comum e do MURPI votaram contra o parecer do CGS e emitiram um comunicado conjunto a manifestar a sua discordância, tendo em conta a saúde financeira da ADSE e o congelamento da generalidade dos salários e pensões nos últimos anos.

“Não é possível concordar com o aumento da comparticipação direta dos beneficiários no preço das consultas, que não tem qualquer justificação pois a ADSE não tem problemas de sustentabilidade”, disse à agência Lusa Fátima Amaral, representante da Frente Comum. Para a sindicalista, o aumento de 1,1 euros nas consultas convencionadas é inaceitável, nomeadamente porque este serviço é usado por 90% dos beneficiários.

No entanto, Fátima Amaral concordou que a revisão das tabelas é globalmente positiva porque as atualizou, retirando atos que já não faziam sentido e incluindo outros que eram necessários. “Mas o traço geral é de contenção da despesa, por isso não faz qualquer sentido aumentar os copagamentos dos beneficiários”, disse.

José Abraão lembrou que esta revisão era mais que necessária, pois as tabelas não eram revistas há cerca de 30 anos, e salientou que os beneficiários vão ter mais e melhores serviços de saúde ao dispor e melhores condições, nomeadamente ao nível das cirurgias e internamentos, sem pôr em causa a sustentabilidade da ADSE.

No seu parecer, o CGS saudou “a apresentação pelo Conselho Diretivo de uma proposta global de revisão da tabela do regime convencionado, elaborada com uma participação alargada de técnicos e consultores médicos da ADSE e com audição dos Prestadores de Saúde”. “O CGS regista os objetivos de melhoria da sustentabilidade da ADSE, de acesso dos beneficiários a cuidados de saúde de qualidade e com custos controlados, e de uma melhor resposta em termos de rede convencionada”, diz o documento.

O parecer emitido salientou que “os Representantes dos Beneficiários defendem que neste período de pandemia, o valor pago pelos beneficiários nos diferentes atos, se deve manter”. Para José Abraão, a saúde financeira da ADSE está também assegurada pelo crescimento do número de beneficiários, que descontam 3,5% da sua remuneração.

Com o alargamento da ADSE aos funcionários da Administração Pública com contrato individual de trabalho, inscreveram-se desde janeiro 67.178 novos beneficiários, dos quais cerca 48.000 são titulares e cerca de 19.000 são familiares.

O decreto-lei que prevê o alargamento da ADSE aos trabalhadores com contrato individual das entidades públicas entrou em vigor dia 09 de janeiro, tendo as inscrições começado em 18 de janeiro e prolongando-se pelo primeiro semestre deste ano. As previsões vão no sentido de que os cerca de 100.000 trabalhadores com contrato individual em entidades públicas se venham a inscrever. A medida deverá ter um impacto anual de 67 milhões de euros nas receitas da ADSE.

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Hoje nas notícias: Autoeuropa, Novo Banco e ADSE

  • ECO
  • 6 Abril 2021

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

O Novo Banco decidiu entrar na corrida para o EuroBic, um passo que está a gerar desconforto no setor. Já a Autoeuropa avançou com uma proposta salarial que prevê que este ano não haverá aumentos, que serão indexados à inflação nos próximos dois anos, o que deixou os trabalhadores descontentes. Pela ADSE, a nova tabela de preços gera discórdia entre os membros do conselho consultivo. Veja estas e outras notícias que marcam as manchetes nacionais.

Autoeuropa em guerra com proposta salarial

A administração da Autoeuropa decidiu que não haverá aumentos este ano e apenas indexados à inflação nos próximos dois anos, cortes nos prémios e o adiamento do pagamento dos downdays (dias de não produção) para 2024. A proposta da Autoeuropa foi considerada como “uma declaração de guerra”. Este acordo a três anos surge depois de 2020 ter sido considerado o terceiro melhor ano de sempre da fábrica da Volkswagen em Palmela. Para os trabalhadores trata-se de “uma afronta” que não visa apenas os rendimentos mas as próprias condições de trabalho.

Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago)

Interesse do Novo Banco no EuroBic causa mal-estar na banca

O Novo Banco encontra-se entre os cinco concorrentes que levantaram o caderno de encargos para a compra do EuroBic, sendo que as ofertas vinculativas vão ser apresentadas em junho. A decisão de entrar na corrida não está a ser bem vista no setor, já que a instituição registou prejuízos de mais de mil milhões de euros em 2020, e o Governo está a negociar um financiamento do setor financeiro ao Fundo de Resolução, para depois injetar no banco liderado por António Ramalho.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago)

Aumento do preço das consultas divide conselho consultivo da ADSE

O Conselho Geral e de Supervisão da ADSE aprovou o parecer sobre as novas tabelas de preços apresentadas pelo Conselho Diretivo. No entanto, os membros do conselho consultivo ficaram divididos, sendo que os representantes da Frente Comum e do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado chegaram mesmo a votar contra, devido principalmente ao aumento do copagamento por parte dos beneficiários da ADSE pelas consultas de especialidade, clínica geral, pediatria ou cardiologia.

Leia a notícia completa no Público (acesso condicionado)

Reforma das Forças Armadas. PS promete “olhar crítico” à proposta do Governo

O Governo quer obter “um consenso o mais abrangente possível” na proposta de alteração à Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas (LOBOFA), segundo a qual o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) absorverá praticamente todos os poderes do chefes de Estado-Maior dos Ramos do Exército, Força Aérea e Marinha. Diogo Leão, coordenador do grupo parlamentar do PS na Comissão de Defesa Nacional, assegura que “ninguém quer uma revolução”. “Queremos chefes com prestígio e competências sobre os ramos”, precisou.

Leia a notícia completa no Diário de Notícias (acesso pago)

É preciso avaliar o desconfinamento, alerta o epidemiologista Carlos Gomes

Portugal tem atualmente um total de 26 concelhos com incidências da Covid-19 superiores a 120 casos e encontra-se cada vez mais próximo do amarelo no quadro da Matriz de Risco. O epidemiologista Manuel Carlos Gomes alerta que é preciso “avaliar o desconfinamento” e que os portugueses deviam “estar com um espírito mais aberto para ter de pausar se for necessário ou adiar a decisão de dia 19 por mais uma semana ou 15 dias”. O país pode enfrentar dois cenários: “um ressurgimento da epidemia como tivemos depois do Natal ou conseguir manter a epidemia controlada”, destaca Manuel Carlos Gomes.

Leia a notícia completa no inevitável (link indisponível)

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Como é que o advogado de Salgado o defendeu perante Ivo Rosa?

Na Operação Marquês, Ricardo Salgado está acusado de 21 crimes: corrupção ativa, branqueamento de capitais, abuso de confiança, falsificação de documento e fraude fiscal.

O ex-líder do BES é outro dos arguidos na Operação Marquês. Ricardo Salgado está acusado de 21 crimes de natureza económico-financeira, nomeadamente corrupção ativa de titular de cargo político, corrupção ativa, branqueamento de capitais, abuso de confiança, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. Na sexta-feira, o juiz de instrução Ivo Rosa vai anunciar se decide ou não pela pronúncia dos arguidos da Operação Marquês. Este é o único arguido — dos mais mediáticos — cuja defesa não pediu a abertura da instrução. Explicou ainda que a defesa de Salgado não se conformou com a acusação: “os motivos de não termos pedido a instrução nada tem a ver com a ideia de existirem indícios criminais contra Ricardo Salgado”, explicou na altura a defesa do ex-banqueiro.

O Ministério Público sustenta na acusação que José Sócrates recebeu cerca de 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a troco de favorecimentos a interesses do ex-banqueiro no Grupo Espírito Santos e na Portugal Telecom, bem como por garantir a concessão de financiamento da Caixa Geral de Depósitos ao empreendimento Vale do Lobo, no Algarve, e por favorecer negócios do Grupo Lena.

O procurador do Ministério Público, Rosário Teixeira, durante o debate instrutório no âmbito do processo Operação Marquês, a 5 março de 2020 e o advogado do banqueiro Ricardo Salgado, Francisco Proença de Carvalho.EPA/MARIO CRUZ

Que argumentos jurídicos e factuais foram usados pela defesa de Ricardo Salgado?

  • Segundo o advogado Francisco Proença de Carvalho, na acusação do Ministério Público “não constam, nem poderiam constar, factos e provas que permitam incriminar Ricardo Salgado, existem apenas muitas suposições, presunções e conclusões genéricas”, afirmando ter a profunda convicção da absolvição do banqueiro;
  • Apesar de não ter pedido a abertura de instrução, a defesa apresentou as suas conclusões e, tal como os restantes advogados, foi muito crítico em relação à atuação do Ministério Público, dizendo pretendeu-se “fazer justiça popular e não no tribunal”, através de fugas de informação cirúrgicas, com os arguidos “a serem esmagados pela opinião pública”;
  • Para o advogado, “Ricardo Salgado é acusado neste processo só por ser quem é e pelo que representa”.
  • E acrescenta: “é claramente mais provável a absolvição do que a condenação de Ricardo Salgado. A contraprova é esmagadora no sentido de que não poder ter havido corrupção, não há uma escuta nem um documento que comprove“.
  • Quanto às declarações do luso-angolano Helder Bataglia, (também arguido) que o MP utilizou para imputar o crime de corrupção ao ex-presidente do GES, o advogado considerou que se trata de uma “prova sem qualquer valor”, reconhecendo, porém, que esta espécie de delação premiada terá permitido que o empresário não fosse acusado de corrupção. “Ele comprou a liberdade contando a mentira que o MP queria ouvir”. E acrescentou: Helder Bataglia nunca foi empregado, nem subordinado, nem fazia fretes a Ricardo Salgado, era sim um parceiro de negócios do GES em África, um empresário com múltiplos negócios autónomos”, afirma;
  • O advogado também criticou a tese da acusação em torno da PT, que envolve Ricardo Salgado, dizendo que “é pura especulação e a acusação está minada”.
  • Na sua intervenção várias vezes o advogado remeteu para o futuro dizendo: “quanto ao BES ainda vamos ter muito pano para mangas, ainda vamos saber o que aconteceu”;
  • “Ricardo Salgado não corrompeu ninguém, a acusação está morta. Tenho a profunda convicção de que ele vai ser absolvido neste processo”, concluiu.
  • Tudo isto aliado a uma certeza que que “a montanha vai parir um rato, mais cedo ou mais tarde”, sublinhou a defesa de Ricardo Salgado;
  • Disse ainda que o Ministério Público deu uma “certa reviravolta à sua tese durante a instrução”. Concretizando: “disse-nos o MP que a OPA da Sonae não chegou ao preço certo. Aleluia senhor procurador!”, disse, ironicamente, o advogado. “Mas não era isso que, inicialmente, a acusação dizia. Mas afinal não é por causa da OPA, vamos esquecer a OPA. Na parte do capítulo da PT, voltou a inventar a história, diferente da que estava na acusação. Se houver juízes que não se limitem a vestir a beca, eu tenho a certeza que o meu cliente não será condenado”.
  • O sócio da Uría Menéndez – Proença de Carvalho disse ainda que o Ministério Público apresentou apenas “uma tese sem qualquer prova que a sustente, é uma mera teoria, mas teorias há muitas. A Justiça penal não pode ser uma justiça de tabloide, Será que todas as testemunhas que vieram desmontar a acusação mentiram? Obviamente que não”;
  • “O Dr. Ricardo Salgado não corrompeu ninguém! E a corrupção em relação a ele neste processo está morta. Resta saber se está enterrada – como deverá ser – já nesta fase ou se teremos de aguardar anos para a declaração do óbito e respetivo enterro processual “, defendeu ainda Francisco Proença de Carvalho.
  • Acrescentou ainda que “já se percebeu que quando o MP está aflito para incriminar o meu cliente, lá vai buscar o primo desavindo” — referindo-se a José Maria Ricciardi –– “para que faça uns soundbytes genéricos e vagos, não confirmados por ninguém, para o processo e para os jornais”. E remata: “é este o tipo de prova ‘adormecida’ na instrução que o MP acha que em julgamento vai prevalecer? I rest my case!”;
  • Num recado direto para Ivo Rosa, o advogado disse que está “tranquilo e sereno” com o resultado desta instrução. “Tenho a profunda convicção que o meu cliente vai ser absolvido e sei que o senhor juiz tem coragem, por isso não lhe peço isso. Creio que aqui, neste tribunal, sentimo-nos confortáveis. Pelo que vi nesta instrução, este tribunal não recorrerá à técnica do copy paste como alguns juízes fazem em alguns processos que, depois, no fim, acaba em absolvições tardias”, disse o advogado;
  • “Precisamos de verdadeiros juízes, não basta vestir uma beca para ser juiz, é preciso ter alma de juiz”, disse ainda Francisco Proença de Carvalho, citando Salgado Zenha.

 

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5 coisas que vão marcar o dia

Pedro Siza Vieira e Ana Mendes Godinho vão ao Parlamento ser ouvidos sobre a pandemia. Também Carlos Moedas irá à Assembleia da República, mas para falar das perdas registadas pelo Novo Banco.

O ministro da Economia e a ministra do Trabalho vão ser ouvidos, esta terça-feira, pelos deputados sobre a resposta económica e social preparada pelo Governo à pandemia de coronavírus. Também Carlos Moedas irá ao Parlamento, mas para falar de outro assunto: as perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução. Esta terça-feira marcam-se, além disso, os dez anos do pedido de ajuda externa de Portugal. E como está a evoluir o desemprego na Europa? Eurostat divulga dados. FMI divulga perspetivas económicas.

Ministros vão ao Parlamento responder sobre pandemia

O ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, vão ser ouvidos, esta terça-feira, no Parlamento sobre a resposta económica e social à pandemia. A audição foi requerida pelo PSD e arranca às 10h00. De acordo com o Executivo de António Costa, até ao momento, 2,8 milhões de pessoas já foram abrangidas pelos apoios sociais criados em resposta à crise sanitária. Em causa estão cerca de 3,4 mil milhões de euros em apoios, incluindo isenções e reduções contributivas como as previstas para os empregadores no âmbito do lay-off simplificado e do apoio à retoma progressiva.

Moedas ouvido na Comissão de Inquérito sobre NB

Para esta terça-feira está marcada a audição de Carlos Moeda na comissão eventual de inquérito parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução. Moedas vai ser ouvido pelos deputados na qualidade de antigo secretário de Estado Adjunto de Passos Coelho, isto é, do primeiro-ministro do XIX Governo Constitucional. “Não tenho absolutamente nada de novo. Só há um facto político de me chamarem para recordar uma situação da qual sou totalmente alheio. Tentar denegrir e insinuar”, disse recentemente o agora candidato à Câmara de Lisboa. Ainda assim, afirmou que irá com “imenso gosto” ao Parlamento.

Há dez anos Portugal pedia ajuda externa

Faz esta terça-feira dez anos que Portugal pediu ajuda externa: Foi a 6 de abril de 2011. “O Governo decidiu dirigir à Comissão Europeia um pedido de ajuda financeira de forma a garantir as condições de financiamento”, anunciava, então, José Sócrates ao país. O primeiro-ministro da altura explicava que aquele era o momento em que, se não fosse tomada a decisão de pedir ajuda, o país “correria riscos”. “É em nome do interesse nacional que digo aos portugueses que é preciso dar este passo”, afirmou o chefe do Executivo de então.

Como está a evoluir desemprego na Europa?

O gabinete de estatísticas da União Europeia divulga, esta terça-feira, os dados sobre a evolução do emprego no Velho Continente relativos a fevereiro. Por cá, o segundo mês de 2021 foi sinónimo de uma taxa de desemprego de 6,9%, valor igual ao de janeiro. Em fevereiro, a população empregada em Portugal aumentou 0,2%, apesar de o país atravessar na altura o segundo confinamento. Por outro lado, a taxa de subutilização de trabalho agravou-se, mesmo com o desemprego a cair e a inatividade a recuar.

FMI divulga perspetivas económicas

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulga, esta terça-feira, o World Economic Outlook. Na atualização apresentada no final de janeiro, o FMI reviu em alta a previsão de crescimento mundial, mas reviu em baixa a da Zona Euro, por causa dos “renovados confinamentos” do início de 2021. Na altura, a previsão para Portugal não foi revista, mantendo-se a projeção divulgada em outubro de um crescimento de 6,5% e de um défice de 2,7%.

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Se a declaração de IRS estiver previamente preenchida, sou obrigado a aceitá-la?

Para os contribuintes que ainda não entregaram o IRS e que querem saber como aumentar o seu reembolso, o ECO escolheu 20 dicas do Guia Fiscal da Deco para o ajudar. Será partilhada uma dica por dia.

A campanha do IRS ainda agora começou, mas existem já muitas dúvidas na mente dos contribuintes. Para todos aqueles que veem o preenchimento do IRS como um “bicho-de-sete-cabeças” e que querem saber como podem “engordar” o seu reembolso, o Guia Fiscal 2021, da Deco Proteste, oferece respostas para muitas destas questões.

Os portugueses têm até ao final de junho para entregarem as declarações de IRS relativas a 2020. Num ano em que mais 250 mil contribuintes passaram a estar abrangidos pelo IRS Automático, para um total de 3,6 milhões de pessoas, o Fisco tem agora até 31 de julho para devolver às famílias os valores que lhes são devidos a propósito do IRS.

Assim, o ECO selecionou 20 das dicas disponibilizadas pela Deco para o ajudar a esclarecer todas as suas dúvidas. Cada uma será partilhada num dia diferente deste mês de abril.

Se, ao introduzir a minha senha, estiver disponível uma declaração previamente preenchida, sou obrigado a aceitá-la?

Não. Pode escolher a declaração previamente preenchida com os dados comunicados às Finanças pelas entidades que se relacionaram fiscalmente consigo em 2020 ou optar pela declaração em branco.

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Diferença de preços dos autotestes chega a superar os 100%

Ao contrário do que aconteceu com as máscaras e geles desinfetantes, o Governo não limitou a margem dos testes rápidos. E há já casos em que o mesmo teste chega a custar duas vezes mais.

Os autotestes de despiste à Covid-19 já estão a ser vendidos em algumas farmácias e noutros locais autorizados à venda de medicamentos (não sujeitos a receita médica). Apesar do apelo do Presidente da República, e ao contrário do que aconteceu nas máscaras e geles desinfetantes, o Governo não definiu qualquer limite de preços destes artigos. Por isso, há diferenças substanciais de preço para o mesmo teste. Chegam a superar os 100%, podendo chegar a 200%.

O Infarmed publicou recentemente a lista dos testes rápidos de antigénio autorizados a serem vendidos em farmácias e parafarmácias, a pessoas com idade igual ou superior a 18 anos. Até agora, há apenas uma marca autorizada. Em causa está o teste “SARS-CoV-2 Rapid Antigen Test Nasal” fabricado pela empresa sul-corenana SD Biosensor e distribuído em Portugal pela multinacional suíça Roche, sendo que o autoteste pode ser vendido a título individual ou em embalagens de 25 testes.

Esta medida “excecional” tem como objetivo acelerar a testagem em massa, tal como prometido pela ministra da Saúde no início de fevereiro. Face a esta decisão, o Presidente da República abriu a porta ao controlo dos preços dos testes da Covid-19, por forma a evitar especulações e açambarcamentos, como se verificou no início da pandemia com as máscaras e geles desinfetantes. “Podem ser adotadas medidas de controlo de preços e combate à especulação ou ao açambarcamento de determinados produtos ou materiais, designadamente testes ao SARS-Cov-2 e outro material médico-sanitário“, lê-se no decreto presidencial assinado por Marcelo Rebelo de Sousa.

E se no início da pandemia, o Governo decretou a imposição de um limite máximo de 15% na percentagem de lucro das máscaras e geles desinfetantes, depois de se ter verificado um aumento exponencial da procura por estes artigos e que levou a que os preços disparassem, até agora não há nenhuma indicação nesse sentido para os testes rápidos. Ou seja, as farmácias têm “carta branca” para estipular o preço dos testes rápidos, sendo que apenas têm que respeitar que estes artigos estão isentos de IVA, tal como o ECO avançou, uma vez que são considerados dispositivos médicos in vitro.

E se na maioria das 12 farmácias da Zona de Lisboa sondados pelo ECO, a maioria destes testes estão a ser vendidos entre 6,55 euros e 6,99 euros a unidade, há também alguns casos de discrepâncias elevadas de preços. Numa farmácia da zona de Benfica, o ECO comprou um teste individual por 15 euros. Se se comparar com o mesmo teste que está a ser vendido em alguns hipers e supermercados, através das marcas de bem-estar, a diferença é notória.

A Wells, por exemplo, está a disponibilizar estes testes por 6,99 euros, no caso de serem comprados individualmente, ou por cinco euros a unidade (quando comprados em caixas de 25 testes). Ou seja, se se comparar o preço à unidade, o teste comprado na farmácia de Benfica custa mais do dobro que o vendido na Wells. Já se se comparar com o preço da unidade na embalagem de 25 testes a diferença é ainda maior: o teste comprado na farmácia custa três vezes mais.

Também quando comparado com o Pingo Doce e a Auchan, a realidade é semelhante. A cadeia de supermercados do grupo Jerónimo Martins está a vender embalagens de 25 testes, sendo que cada unidade custa 6,79 euros. Contas feitas, é uma diferença de 8,21 euros face ao preço praticado na farmácia referida (cerca de 121% a mais).

Ao mesmo tempo, a Auchan está também a disponibilizar testes rápidos individuais por 6,99 euros (tal como acontece na Wells) ou, em alternativa, caixas de 25 testes, sendo que neste caso cada teste fica por 6,79 euros. Assim sendo, trata-se de uma diferença de cerca de 114,6% no caso dos testes comprados individualmente ou de cerca de 121% na opção de 25 testes.

Este foi, de facto, o caso mais flagrante em termos de discrepâncias de preços detetados pelo ECO. Não obstante, há algumas farmácias a vender o mesmo teste por um valor consideravelmente superior aos que estão a ser praticados pelas marcas de bem-estar dos supermercados. Numa farmácia da zona de Belém, o autoteste distribuído pela Roche chega a custar 9,50 euros. Contas feitas, cada cliente terá de desembolsar mais de 2,51 euros pelo mesmo teste caso tivesse comprado à unidade na Wells ou na Auchan (diferença de cerca de 29%).

A discrepância é ainda mais evidente quando comparado com o custo da unidade nas embalagens de 25 testes: trata-se de um diferença de de 4,5 euros (o dobro), caso a opção fosse a caixa de 25 testes da Wells, já o caso das embalagens de 25 testes da Auchan e do Pingo Doce, trata-se de uma diferença de 2,21 euros (mais 32,5%). Importa sublinhar que ao contrário do que acontece nas marcas de bem-estar dos supermercados –, em que o preço da por cada deste quando comprado em kits de 25 testes é mais reduzido do que quando comprado à unidade –, em todas as farmácias sondadas pelo ECO não há qualquer diferença no modelo de compra escolhido.

Numa outra farmácia da zona da Baixa lisboeta, cada autoteste está a ser vendido por 8,50 euros. Contas feitas, trata-se de uma diferença de 1,51 euros (21,6%) no caso dos testes comprados individualmente ou de, pelo menos 1,71 euros (25,2%) na opção de 25 testes do Pingo Doce ou Auchan, por exemplo.

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Para que servem os Censos? E se não responder? Há multas até 50 mil euros

Os recenseadores já começaram a distribuir as cartas pelos correios portugueses, para que possa responder aos Censos através da Internet. Tire as dúvidas e fique com o alerta: não responder dá multa.

Chegou a altura da maior operação estatística nacional, para fazer um retrato do país: quantas pessoas vivem em Portugal, como são os habitantes, onde e como vivem. Em ano de pandemia, o objetivo é que a maioria das respostas aos Censos 2021 seja entregue online, estando também previstas outras formas de participar. Mas atenção, não responder dá direito a multa.

Os recenseadores começaram esta segunda-feira a colocar as cartas nos correios de Portugal, para que as pessoas possam responder pela Internet. Veja o que está em causa nesta operação e o que tem de fazer.

O que são os Censos?

Os Censos são uma operação estatística, normalmente feita de dez em dez anos, para fazer um retrato do país, sendo que se realizam “em todo o território nacional e abrangem a totalidade da população, dos alojamentos destinados à habitação e dos edifícios que contenham, pelo menos, um alojamento”. É um recenseamento demográfico que recolhe informações como o número de homens, mulheres, crianças e idosos a residir no país, e onde e como vivem.

O que perguntam?

O questionário divide-se essencialmente em quatro áreas: edifício, alojamento, agregado doméstico e indivíduo. Na primeira, averigua-se, por exemplo, o tipo de edifício, a época de construção e o número de alojamentos e pisos. Quanto ao alojamento, analisam-se aspetos como o ar condicionado, o tipo de aquecimento, a área útil e o lugar de estacionamento.

No agregado doméstico questiona-se o número de residentes no agregado doméstico e as relações de parentesco. Finalmente, sobre o indivíduo, o Censos recolhe informação como a data de nascimento, o estado civil legal, o local de residência um ano antes, o país de proveniência, o alfabetismo, a profissão, o local de trabalho ou de estudo e o principal meio de transporte utilizado, entre outras.

Nos Censos deste ano foram retiradas algumas questões, nomeadamente os principais materiais utilizados no revestimento do edifício, o sistema de drenagem de águas residuais e a principal fonte de energia utilizada para aquecimento, o local de residência cinco anos antes e o número de horas trabalhadas. Por outro lado, foram acrescentadas três variáveis: os anos de residência no alojamento, o apoio ao arrendamento e o motivo de migração.

Para que servem?

Os Censos servem como instrumentos para o planeamento dos serviços do país, bem como para a definição de políticas. Através da informação obtida é possível, por exemplo, perceber quantas escolas, creches ou lares de idosos são necessários, bem como onde se devem construir as vias de comunicação e os hospitais.

É também possível a comparação com os dados dos recenseamentos anteriores, através da qual se podem “analisar as transformações da sociedade portuguesa em termos demográficos e socioeconómicos”, como explica o INE. Permitem a “análise da estrutura social e económica do país, da sua evolução e tendências, permitindo ainda a comparação com outros países”.

Os dados podem ser utilizados na definição de objetivos e prioridades para as políticas globais de desenvolvimento, no planeamento regional e local, nos estudos de mercado e sondagens de opinião, e na investigação em ciências sociais, como enumera o organismo de estatísticas nacional.

Como se responde?

Este ano, que é marcado pela pandemia de Covid-19, a primazia é dada às respostas pela Internet. Os recenseadores vão deixar uma carta nas caixas de correio com os códigos e toda a informação necessária para a resposta aos Censos online. A 19 de abril arranca a fase de resposta aos Censos pela Internet, que deve ser feita preferencialmente até dia 3 de maio.

Exemplo da carta para responder aos Censos 2021INE

Para responder, basta aceder ao site, colocar o código e a password indicados na carta do INE, responder às questões e quando terminar selecionar “Entregar”. Ainda assim, para aqueles que não conseguirem responder pela Internet, há outras formas de participar (telefone, e-balcão nas Juntas de Freguesia, e autopreenchimento dos questionários em papel entregues pelos recenseadores).

É obrigatório responder?

Tem de responder aos Censos, e corretamente, se não se quer sujeitar a uma multa. Está definido no decreto-lei dos Censos 2021 que “constitui contraordenação qualquer um dos seguintes comportamentos”:

  • O não fornecimento da informação solicitada pelo INE;
  • O fornecimento de informações inexatas, insuficientes ou suscetíveis de induzir em erro;
  • A oposição às diligências das pessoas envolvidas nos trabalhos de recolha dos Censos 2021;
  • A recusa de acesso à informação administrativa referida no artigo 18.º (que diz respeito às variáveis censitárias obrigatórias definidas nos regulamentos europeus).

Para quem incorrer numa contraordenação “aplicam-se as coimas e regime constante dos n.os 2 a 6 do artigo 27.º da Lei n.º 22/2008 e, subsidiariamente, o regime do ilícito de mera ordenação social”. Isto é, coima de 250 a 25 mil euros ou de 500 a 50 mil euros, consoante o agente seja pessoa singular ou coletiva.

Já “em caso de negligência os montantes mínimos e máximos das coimas previstas nos números anteriores são reduzidos para metade”. “Sempre que o ilícito de mera ordenação social resulte da omissão de um dever, a aplicação da sanção e o pagamento da coima não dispensam o infrator do seu cumprimento, se este ainda for possível“, lê-se ainda na lei. “Pode haver lugar ao pagamento voluntário da coima pelo seu valor mínimo”, determina-se.

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Inspetores da ACT ainda não sabem como fiscalizar custos de teletrabalho

Os inspetores da ACT continuam sem ter orientações sobre que despesas devem ser suportadas pelos empregadores, em caso de teletrabalho. Também não sabem como calculá-las.

O Governo esclareceu há quase dois meses que entende que, em teletrabalho, o empregador deve suportar os custos com telefone e internet do trabalhador, caso não haja acordo em contrário, mas a presidente do Sindicato dos Inspetores do Trabalho (SIT) assegura ao ECO que, até agora, não foram dadas orientações pela Autoridade para as Condições do Trabalho sobre essa matéria. Carla Cardoso denuncia também o “desinvestimento na formação contínua” dos inspetores e antecipa que o prolongamento até ao final do ano da obrigatoriedade de teletrabalho será desafiante, no que diz respeito à fiscalização.

A adoção do teletrabalho tornou-se obrigatória, pela primeira vez, em março de 2020, por ocasião do primeiro confinamento motivado pela crise pandémica. Com a chegada do verão, esse dever acabou por ser levantado, tendo sido retomado no final do ano, nas regiões mais afetadas pela pandemia, e no arranque de 2021 na generalidade do país.

Hoje, o trabalho à distância é a regra, ao abrigo do estado de emergência e o Governo já decidiu que continuará a sê-lo até ao final do ano, mesmo depois do estado de emergência ser levantado, nas regiões com maior risco de propagação do vírus pandémico.

Apesar do trabalho remoto ser a realidade de muitos milhares de trabalhadores há mais de um ano, há ainda dúvidas sobre esta modalidade. Uma delas é relativa aos custos implicados no teletrabalho.

No início de fevereiro, o Governo quebrou o silêncio e adiantou que entende que, na ausência de acordo em contrário, cabe ao empregador cobrir as despesas de telefone e internet do teletrabalhador. É essa a leitura que o Executivo diz fazer do Código do Trabalho, apesar de vários advogados virem salientando que, como está, a legislação abre a porta a que as empresas sejam obrigadas também a pagar as despesas da eletricidade e até da água.

Além disso, dois meses depois da divulgação desse entendimento do Governo, a Autoridade para as Condições do Trabalho ainda não deu aos seus inspetores orientações sobre como apurar esses custos, no contexto da fiscalização, segundo a presidente do SIT. “Ainda não temos ainda qualquer orientação nesse sentido”, sublinha Carla Cardoso. Em declarações ao ECO, a sindicalista detalha que não tem conhecimento “de qualquer norma legal” que esclareça a questão das despesas (o entendimento do Governo foi divulgado em declarações à imprensa), pelo que ainda não foram dadas orientações oficiais sobre esse assunto.

De qualquer modo, os trabalhadores não têm apresentado queixas sobre esse assunto à ACT. “Os trabalhadores têm um bocado de receio“, frisa a representante dos inspetores do trabalho, referido que, a haver uma denúncia, o empregador sabe de quem partiu e isso “constrange as relações de trabalho”.

À saída da reunião de Concertação Social desta quarta-feira, também a ministra do Trabalho frisou que, até ao momento, não há sinalização junto da ACT de reclamações neste âmbito, tendo atirado para a negociação coletiva a definição do cálculo das despesas de teletrabalho.

Carla Cardoso, do SIT, aponta ainda um outro entrave à fiscalização do teletrabalho: a ausência dos conhecimentos informáticos suficientes para avaliar se as funções são ou não compatíveis com o trabalho remoto.

Diz a legislação hoje em vigor que a adoção dessa modalidade é obrigatória sempre que as funções sejam compatíveis, mas os inspetores estão com dificuldades nessa análise, quando, por exemplo, um empregador insiste que o trabalhador tem de estar presencialmente no escritório para aceder a uma determinada base de dados e o trabalhador defende que não. “Tentamos perceber se o trabalhador já desempenhou antes as funções em teletrabalho e o que é que mudou para não ser agora possível“, conta ao ECO Carla Cardoso, referindo que, na ausência de competências informáticas que tirem as dúvidas sobre essas matérias, está a ser aplicado o bom senso.

Questionada sobre se, face a essas dificuldades, a ACT tem disponibilizado formação tecnológica, a presidente do SIT garante que não. “A formação da ACT tem sido inexistente”, diz, denunciando um “desinvestimento muito grande na formação contínua [dos inspetores], o que acentua as dificuldades na atuação”.

Sobre o prolongamento do teletrabalho até ao final do ano — com as implicações que isso terá, necessariamente, na carga de trabalho dos inspetores — a sindicalista atira: “É desejar que o ano acabe depressa. Está complicado”.

Quando o estado de emergência for levantado, passar-se-á a aplicar um diploma que dita a adoção do teletrabalho nas empresas com estabelecimentos nas áreas territoriais mais afetadas pela pandemia, prevendo que tanto empregador como teletrabalhador podem recusar essa modalidade, fundamentando a sua posição. No caso de a recusa partir do empregador, a última palavra cabe, no entanto, à ACT, que dispõe de apenas cinco dias úteis para dar o seu parecer, um prazo demasiado apertado, na opinião de Carla Cardoso.

De notar que o Governo apresentou, esta quarta-feira, aos parceiros sociais o Livro Verde para o Futuro do Trabalho, no âmbito do qual eram esperadas orientações mais claras sobre esta questão das despesas implicados no teletrabalho, mas tal acabou por não se verificar e ministra atirou a questão para a negociação coletiva. No Parlamento, o PCP avançou com uma proposta que prevê o pagamento de um subsídio diário de quase 11 euros para cobrir esses custos.

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Da “linha vermelha” aos juros abaixo de zero, mesmo com a dívida em recorde

Há 10 anos, José Sócrates anunciava o pedido de ajuda externa. Desde então, Portugal reconquistou os mercados e as agências de rating, mas não se livrou dos riscos da elevada dívida.

Ex-primeiro-ministro José Sócrates dirigiu-se ao país a 6 de abril de 2011 para anunciar o pedido de ajuda externa.

O país foi irresponsavelmente empurrado para uma situação muito difícil nos mercados financeiros“. O ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos já tinha dito, ao Jornal de Negócios, que a situação era difícil e que entendia ser “necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu”. A decisão de chamar a troika precipitou-se assim e, poucas horas depois, o primeiro-ministro José Sócrates falava ao país para o confirmar. Foi há 10 anos que Portugal pediu o resgate financeiro e, a braços com uma nova crise, agora provocada por uma pandemia, vive uma situação completamente diferente, mas não isenta de riscos.

A crise financeira global já tinha levado dois países — Grécia e Irlanda — a pedirem ajuda externa, enquanto Portugal sofria um agravamento das taxas juro que à medida que os investidores perdiam a confiança no país. Ainda assim continuava a financiar-se, a custo. Teixeira dos Santos tinha delineado, no final de 2010, uma “linha vermelha”: juros da dívida a 10 anos acima de 7% significariam que o país teria de chamar a troika.

Essa marca já tinha sido ultrapassada nos mercados secundários e, em fevereiro de 2011, o IGCP emitia 3.500 milhões de euros a 10 anos, com uma taxa de 6,7%. No mês seguinte já só viria a ser possível colocar obrigações com maturidades muito inferiores, mas juros não muito diferentes. “A procura externa é bem menor e as taxas refletem o agravamento, sem precedentes, registado nas últimas semanas em virtude do aumento da incerteza que paira sobre o país“, justificava Teixeira dos Santos.

À crise global juntava-se o chumbo no Parlamento do programa de estabilidade e crescimento de Sócrates, que lançava uma crise política. “Os mercados, através das taxas de juro, mostravam cada vez mais receio que Portugal entrasse em incumprimento. Os problemas de base levaram aquela situação”, lembra Filipe Garcia, rejeitando a narrativa de que os mercados é que forçaram o pedido.

"A determinada altura não é só quanto é que tem de se pagar, mas sim não ter quem empreste. Chegamos a um ponto em que era inevitável Portugal pedir ajuda, com impacto que isso tem para os bancos nacionais.”

Filipe Silva

Diretor de investimentos do Banco Carregosa

O economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros considera que se tratou de uma acumulação de situações e indicadores, nomeadamente os pedidos já feitos pela Irlanda e Grécia, o consenso de que não poderia haver mais resgates na Europa sem perdas para os países e os próprios juros da dívida portuguesa. “As próprias taxas começaram a ser incomportáveis. E depois uma noção de perceção de que teria de acontecer. Não foi uma surpresa“, conta.

“Não era viável”, concorda Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, para quem também era “expectável” que o pedido fosse feito. “A determinada altura não é só quanto é que tem de se pagar, mas sim não ter quem empreste. Chegamos a um ponto em que era inevitável Portugal pedir ajuda, com impacto que isso tem para os bancos nacionais”, diz, sublinhando o efeito spill-over da falência do Lehman Brothers nos EUA, em 2008, para o sistema financeiro global, gerando a crise das dívidas soberanas na Europa.

Da austeridade à reconquista do rating

A troika chegou assim, pela terceira vez, a Portugal e com ela trouxe um cheque de 78 mil milhões de euros, acompanhado por uma série de imposições que se consubstanciaram em políticas de austeridade num novo governo já sob a liderança de Pedro Passos Coelho, que chegaria ao poder em junho de 2011.

Todo o processo foi sendo acompanhado de perto pelas agências rating, que começaram ainda em 2009 a cortar a avaliação que faziam a Portugal à medida que a crise se tornava mais evidente e que o então governo revia em alta as projeções para o défice e para a dívida (que não parava de engordar para preencher o buraco nas contas públicas).

Em julho de 2011, a Moody’s retirou a Portugal o rating de qualidade, em novembro foi a vez da Fitch atirar o país para o “lixo” e, em janeiro de 2012, da Standard & Poors. A avaliação das agências de rating agravou ainda mais os receios e, mesmo com a troika já em Portugal, a yield das obrigações a 10 anos chegaria ao máximo de sempre de 17,36% em janeiro de 2012.

Na Europa, Portugal não era uma preocupação, mas outros países começaram a sê-lo, colocando em causa o próprio euro e, nesse verão, o então presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi fazia o seu famoso discurso: faria tudo o que fosse preciso para salvar o euro. “Há muita perceção de que Portugal teve azar porque foi tardio, mas eu penso que foi quando pode ser. A decisão do BCE naquela altura foi feita num estado de necessidade. Não era defendida pela unanimidade da Zona Euro. Não era consensual e só foi possível porque já estavam na calha resgates que colocavam em causa a própria Zona Euro”, considera Garcia.

O discurso viria a ganhar forma num mega programa de compra de dívida pública e privada. Para ser incluído, era preciso ter rating de qualidade uma das principais agências, mas havia uma quarta — mais pequena e canadiana –, a DBRS, que ainda mantinha essa classificação sobre Portugal e acabou por permitir que o país fosse incluído na rede de segurança no BCE.

Há muita perceção de que Portugal teve azar porque foi tardio, mas eu penso que foi quando pode ser. A decisão do BCE naquela altura foi feita num estado de necessidade. Não era defendida pela unanimidade da Zona Euro. Não era consensual.

Filipe Garcia

Economista da IMF

Os anos seguintes foram de austeridade e reequilíbrio nas contas públicas, que culminaram em abril de 2014 na primeira ida ao mercado depois do resgate. O sucesso da emissão levava o país a uma “saída limpa” do programa de resgate financeiro no mês seguinte, mas só três anos consegue sair dos Procedimentos por Défices Excessivos já com novo governo socialista, liderado por António Costa e com Mário Centeno nas Finanças. Era esse o passo necessário para reconquistar a confiança das agências de rating, o que se concretizou em outubro de 2018.

À disciplina orçamental — que levou o país, em 2019, a alcançar o primeiro excedente orçamental em democracia –, aliou-se o impacto da política monetária do BCE nos mercados. Os programas de compra de dívida alargaram-se (colocando o BCE como um dos grandes compradores de obrigações no mercado) e foi a chave para manter os juros das dívidas soberanas contidas. No mercado primário e secundário, as yields de Portugal caíram a pique.

A poupança com juros, a menor necessidade de responder ao buraco nas contas públicas e o crescimento do PIB levaram a dívida pública portuguesa a reduzir-se de 132,9% no pico (da anterior crise) de 2014 para 116,8% em 2019. Em simultâneo, o país aproveitou a baixa dos juros para ir ao mercado buscar dinheiro mais barato e reembolsar de forma antecipada o empréstimo mais caro da troika: primeiro o do Fundo Monetário Internacional (FMI), que foi pago a 100%, e depois a dívida aos credores europeus, que foi reembolsada apenas numa pequena parte.

Juro foi de 17,4% a -0,052% em menos de uma década

Fonte: Reuters

Política monetária e orçamental unem-se na pandemia

A estratégia teve de ser interrompida pela pandemia. Os juros voltaram a agravar e Portugal paga mais de 1% para emitir dívida a 10 anos pela primeira vez em quase um ano, mas desta vez o BCE é mais rápido. A sucessora de Draghi, Christine Lagarde, apressou-se a acalmar os mercados, lançando um programa ainda maior de compra de dívida só dedicado a combater o impacto da pandemia (sendo que os restantes continuariam a decorrer).

À rápida resposta do BCE, aliou-se uma reação (um pouco menos, mas também célere) dos governos sobre a política orçamental. “Já não estamos a falar de problemas localizados para haver a noção que o BCE e o Eurogrupo vão lutar para manter o euro. É uma mistura entre solidariedade e subsidiariedade”, diz o presidente da IMF, que considera que Portugal poderia ter feito mais — especialmente ao nível das reformas estruturais — durante o período da troika, o que lhe teria permitido chegar mais bem preparado a esta crise.

As regras europeias que obrigam os países a cumprirem tetos máximos de 3% do défice e 60% da dívida pública face ao PIB foram suspensos, incentivando governos a endividarem-se para responder à pandemia. Até porque o BCE garantiria os custos controlados. Os juros das dívidas na Zona Euro afundaram de tal forma que Portugal chegou mesmo a emitir dívida a 10 anos com uma yield abaixo de 0%. A dívida atingiu o recorde de 133,6% em 2020 e o défice os 5,4%.

Portugal não é agora assim tão diferente do país que era em 2011. Esta panaceia dos juros baixos e da liquidez abundante é que tem permitido aos governos não terem de fazer reformas estruturais“, considera Filipe Garcia, alertando que “bastaria que as taxas subissem dois pontos percentuais — que não seria escândalo nenhum em juros tendo em conta o que já pagámos — e a fatura ia disparar. É evidente que temos uma situação de vulnerabilidade”.

O economista alerta que, apesar de não se discutir a dívida agora, daqui a dois anos, quando alguns países estiverem a crescer mais que outros, poderá não haver consenso sobre o tema, sublinhando a incerteza face às próximas eleições num dos países com maior peso no processo de decisão, a Alemanha.

Filipe Silva concorda que é o banco central o principal responsável pelos baixos juros e ambos os analistas esperam que assim se mantenham. Uma eventual subida nos juros da dívida de Portugal só deverá ser causada por um agravamento generalizado e, mesmo assim, o spread face à Alemanha não se deverá alargar. Quanto ao risco para Portugal, o diretor de investimentos do Banco Carregosa não exclui a possibilidade de a instituição liderada por Christine Lagarde continuar a reinvestir sucessivamente a dívida que atinge a maturidade impedindo que o prazo seja realmente atingido. “É preciso saber se vamos ter de pagar essa dívida ao BCE ou não. E aqui o facto de termos todos esse problema acaba por ser positivo para Portugal”, diz.

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