Tomás Correia diz que nunca houve alerta de risco no investimento do Montepio na PT

  • Lusa
  • 27 Junho 2022

Antigo presidente do Montepio Tomás Correia disse ao tribunal que nunca houve indicação de risco na compra de obrigações relacionadas com a PT e que não passou por si a autorização da operação.

O antigo presidente do Montepio Tomás Correia disse ao Tribunal da Concorrência que nunca houve qualquer indicação de risco na compra de obrigações relacionadas com a PT e que não passou por si a autorização da operação.

O ex-presidente da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) prestou declarações esta segunda-feira, na fase final do julgamento dos recursos para o Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS), em Santarém, das coimas de 620.000 euros aplicadas pelo Banco de Portugal (BdP) por incumprimentos quanto a investimentos, nomeadamente em dívida da PT Finance, tendo sido condenado ao pagamento de 70.000 euros pela prática de quatro infrações (três a título negligente e um doloso).

Na decisão do BdP de outubro de 2021, a CEMG foi multada em 475.000 euros pela prática de sete contraordenações (CO) a título doloso, tendo ainda sido visados, além de António Tomás Correia, os ex-administradores Jorge Barros Luís (50.000 euros por três CO a título negligente) e João Neves (25.000 euros por uma CO a título negligente).

Em causa está, nomeadamente, o investimento em duas obrigações “Credit Linked Notes” (CLN) emitidas, uma pelo Crédit Agricole e outra pela Morgan Stanley, sobre a Portugal Telecom International Finance (PTIF), no montante total de 75 milhões de euros, às quais estavam agregados contratos de swaps de risco de incumprimento (Credit Default Swap, CDS), no mesmo valor, em que a CEMG assumia a proteção da emitente.

Na sua decisão, de outubro de 2021, o BdP considerou que o investimento nas duas CLN gerou uma exposição elevada ao risco de crédito dos emitentes e à PTIF, no montante de 75 milhões de euros, e que as características muito particulares destas operações exigiam dos diversos intervenientes um cuidado diferenciado.

Tomás Correia disse ao Tribunal que só teve conhecimento da existência de risco quando confrontado com o presente processo, admitindo a existência de “erro” no registo da operação, que atribuiu a “ignorância” da Mesa de Negociação, pelo que a Direção de Risco não se apercebeu da ultrapassagem dos limites definidos pela administração.

O antigo presidente da CEMG afirmou que o Comité de Ativos e Passivos (ALCO) fixava os limites para investimentos em CLN, tendo a Direção Financeira autonomia de decisão dentro dessa margem.

Estes investimentos surgiram no âmbito da decisão, tomada em finais de 2013, de reforçar a exposição a empresas portuguesas para compensar o desinvestimento em dívida pública portuguesa, que chegou a atingir os quatro mil milhões de euros.

Durante o seu depoimento, Tomás Correia recordou o episódio “rocambolesco” da notificação da decisão do BdP, com publicação “na secção de desporto do jornal Público”, dizendo que se sentiu “humilhado”.

Afirmando que o banco foi o único que investiu em dívida pública portuguesa num momento particularmente difícil para o país, Tomás Correia sublinhou as características “únicas” do Montepio e o facto de ter conseguido manter-se, ao contrário do que sucedeu com instituições mutualistas noutros países.

Entre as muitas dificuldades a que a CEMG “resistiu” incluiu as notícias e mensagens aos clientes, em 2014 e no primeiro semestre de 2015, dizendo que o banco ia fechar, o que originou uma perda de “quase cinco mil milhões de euros de recursos”.

“O Montepio contou com a ajuda dos pirómanos”, declarou, salientando que, ao contrário de outros, o banco “nunca pediu ajuda ao Estado, nem para liquidez, nem para capital”.

Tomás Correia afirmou que pode ser multado, mas que a sua consciência lhe diz que fez bem o seu papel. “Pode haver insuficiência em muitas coisas, mas o saldo é altamente positivo”, disse, pedindo, no final do seu depoimento, “desculpa” por ter havido um momento em que se emocionou ao falar da dedicação dos trabalhadores do banco.

As alegações finais do julgamento ficaram agendadas para os dias 5 e 6 de setembro, prestando João Neves, que falou no início do julgamento (em maio), declarações adicionais no próximo dia 11.

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Montepio estima perdas até 100 milhões com venda do Finibanco Angola

Banco Montepio já arranjou comprador para a instituição angolana: é o banco nigeriano Access Bank. Estima que o negócio possa representar perdas até 100 milhões de euros.

O Banco Montepio tem um novo comprador para o seu banco em Angola, depois de falhado o negócio com Mário Palhares. O banco da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) tem um acordo para vender o Finibanco Angola a um banco nigeriano, o Access Bank, mas a operação ainda não está fechada, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO.

O banco liderado por Pedro Leitão continua a fazer as contas à operação. Que não são propriamente as melhores. Estima-se que a venda possa representar perdas entre os 80 milhões e os 100 milhões de euros, disseram duas fontes ao ECO.

O impacto da transação (caso avance) não deixa relevante para uma instituição financeira que tem apresentado resultados magros nos últimos anos (6,6 milhões em 2021 e 11 milhões no primeiro trimestre deste ano) e onde a capacidade financeira tem de ser gerida com pinças, incluindo no acionista.

Oficialmente, o banco não faz comentários sobre este processo. O ECO sabe que ainda não há uma decisão final em relação à venda, que pode não se concretizar.

Os compradores já foram apresentados ao Banco Nacional de Angola (BNA), o supervisor bancário angolano, que tem de autorizar a venda. O Access Bank, com cerca de 30 anos de existência, tem sede em Lagos, capital da Nigéria, e está presente em mais dez mercados, incluindo o Reino Unido, África do Sul e Moçambique.

Em Lisboa, também o Banco de Portugal está a acompanhar de perto este dossiê, que quer ver resolvido para a próxima administração (continuará a ser liderada por Pedro Leitão no novo mandato) se dedicar ao negócio core de um banco que, depois da reestruturação dos últimos dois anos com a saída de centenas de trabalhadores e fecho de agências, continua a fazer o seu caminho das pedras rumo à rentabilidade.

O Finibanco Angola entrou no grupo Montepio em 2010, aquando da aquisição do Finibanco por 350 milhões de euros, 100 milhões acima do valor de mercado.

Em 2015, o então presidente do Montepio, Tomás Correia, anunciou um acordo para vender cerca de 30,57% da instituição angolana a “parceiros locais” por 26,3 milhões de dólares (cerca de 22 milhões de euros). Ficou então decidido que os compradores pagariam depois, embora ficassem imediatamente com “os direitos associados à detenção das ações ficaram na posse do grupo, incluindo o direito de voto e o direito ao dividendo”.

A transação acabou por não ser bem-sucedida, pelo menos a avaliar pelo dinheiro que entrou nos cofres da AMMG. A mutualista acabou por receber apenas cerca de 1,2 milhões dos 26 milhões até 2020, por cerca de 1,35% das ações do Finibanco Angola. Como ficou a estrutura acionista do Finibanco Angola?

O desfecho deste negócio acabou por criar confusão na estrutura acionista do Finibanco Angola e este será um dos temas que terá de ser clarificado antes da venda ao Access Bank.

Nas suas contas de 2021, a instituição angolana revela que o Montepio, através da sociedade Montepio Holding, detém apenas 51% das ações, enquanto Mário Palhares, dono do BNI e ex-vice-presidente do BNA, detém 35%, estando o restante capital distribuído por um conjunto de cinco acionistas, incluindo Francisco Simão Júnior, João Avelino dos Santos e a Iberpartners.

Já o Montepio diz ser dono de mais de 80%, depois de ter passado a consolidar novamente o Finibanco Angola no ano passado, quando deixou de ser considerado um ativo em descontinuação para efeitos contabilísticos.

Pelo meio, chegou a haver outro potencial interessado no Finibanco Angola, o fundo Arise, que junta vários bancos africanos. No âmbito desta operação, o Banco Montepio ficaria com cerca de 6% a 7% da Arise, uma companhia de investimento em África que é apoiada pelo banco cooperativo neerlandês Rabobank, pelo banco de fomento neerlandês FMO e pelo fundo soberano norueguês Norfund.

Este investidor não é desconhecido do Montepio. Em 2018, a Associação Mutualista vendeu a posição de 45,68% que detinha no moçambicano Banco Terra.

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Administração do Banco Montepio mais reduzida e com mulheres em maioria à espera do Banco de Portugal

Manuel Ferreira Teixeira substitui Carlos Tavares no cargo de chairman. Pedro Leitão mantém-se como CEO. Nova administração tem 12 membros e mulheres estão em maioria.

O Banco Montepio vai ter um novo conselho de administração mais reduzido, de apenas 12 membros (menos três que o atual), e em que as mulheres estarão em maioria (sete contra cinco homens). Manuel Ferreira Teixeira substitui Carlos Tavares no cargo de chairman. Pedro Leitão mantém-se à frente da comissão executiva. Só falta mesmo o Banco de Portugal dar luz verde.

A assembleia geral de acionistas do banco elegeu esta sexta-feira a nova administração para o mandato 2022-2025, mas ainda não pode entrar em funções. Isso está “expressamente condicionado à obtenção de autorização prévia para o respetivo exercício de funções concedida pelo Banco de Portugal”, diz a instituição em comunicado enviado ao mercado.

O banco também destaca o seu “firme compromisso com a igualdade de género através da nomeação de um modelo de governance mais paritário”, enquanto sublinha que “reforça a sua estratégia no sentido da melhoria da eficiência, da rendibilidade e da redução da exposição ao risco.”

Além do conselho de administração, também foram eleitos os membros da Mesa da Assembleia Geral e da Comissão de Auditoria.

Conselho de Administração

Presidente: Manuel Ferreira Teixeira
Vogal: Clementina Maria Dâmaso de Jesus Silva Barroso
Vogal: Eugénio Luís Correia Martins Baptista
Vogal: Florbela dos Anjos Frescata Lima
Vogal: Maria Cândida de Carvalho Peixoto
Vogal: Maria Lúcia Ramos Bica

Comissão executiva
Presidente: Pedro Manuel Moreira Leitão
Vogal: Helena Catarina Gomes Soares de Moura Costa Pina
Vogal: Ângela Isabel Sancho Barros
Vogal: Isabel Cristina dos Santos Pereira da Silva
Vogal: Jorge Paulo Almeida e Silva Baião
Vogal: José Carlos Sequeira Mateus

Comissão de Auditoria

Presidente: Clementina Maria Dâmaso de Jesus Silva Barroso
Vogal: Florbela dos Anjos Frescata Lima
Vogal: Maria Cândida de Carvalho Peixoto
Vogal: Maria Lúcia Ramos Bica

Mesa da Assembleia Geral

Presidente: António Manuel Lopes Tavares
Secretário: Cassiano da Cunha Calvão

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Virgílio Lima assume liderança das seguradoras do Montepio

Presidente da mutualista assumiu a presidência da Lusitânia Seguros e Lusitânia Vida após saída de Manuela Rodrigues. Nome já foi aprovado pela ASF. Montepio reorganiza negócio.

Virgílio Lima acabou de assumir a liderança das duas seguradoras do grupo Montepio, a Lusitânia Seguros e a Lusitânia Vida, depois da saída de Manuela Rodrigues. O nome do recém-eleito presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) já foi aprovado pelo regulador dos seguros, juntamente com mais administradores. Estas mudanças surgem numa altura em que a mutualista está a reorganizar a estrutura do seu negócio segurador.

O Montepio adiantou ao ECO que Manuela Rodrigues deixou a presidência das duas companhias “a seu pedido, por razões pessoais”, e antes de terminar os seus mandatos em dezembro de 2022 (no caso da Lusitânia Seguros) e 2023 (no caso da Lusitânia Vida).

A saída de Manuela Rodrigues está a levantar alguma apreensão junto de alguns dirigentes do Montepio, sobretudo tendo em conta sua experiência e conhecimento da casa e do negócio segurador, e que se traduziu, de resto, num bom desempenho das seguradoras nos últimos anos.

Depois de vários anos a dar prejuízo, a Lusitânia Seguros (ramo não Vida) tem vindo a apresentar lucros nos últimos três anos: atingiu um resultado positivo de um milhão de euros no ano passado, depois de lucros de 3,1 milhões um ano antes. Já a Lusitânia Vida lucrou 5,5 milhões de euros em 2021, depois de lucros de 5,8 milhões em 2020.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos e Pensões (ASF) já deu luz verde a Virgílio Lima para desempenhar as funções até final dos mandatos, que acumulará assim com o cargo de presidente da AMMG – foi eleito ainda em dezembro. De resto, Lima, como é conhecido internamente, já foi administrador da Lusitânia na década passada.

Juntamente com Virgílio Lima, o regulador liderado por Margarida Corrêa de Aguiar autorizou ainda os nomes de Luís Franco, Pedro Ribeiro e Paulo Silva para a Lusitânia Vida e de Luís Franco para a Lusitânia Seguros.

Mutualista vai deter seguradoras diretamente

As mudanças no conselho de administração das duas companhias seguradoras surgem numa altura em que a AMMG prepara uma nova organização no seu negócio nesta área. Em causa está a eliminação da Montepio Seguros, a holding que controla as duas Lusitânias e ainda a sociedade gestora de fundos de pensões Futuro.

“A operação está em estudo para avaliação dos impactos nas várias entidades e visa a simplificação da estrutura e eliminação de gastos”, justificou o grupo no relatório e contas individual de 2021.

Ao ECO, a instituição explica que, “com o fim da Montepio Seguros, logo que sancionado interna e externamente, o AMMG passa a deter diretamente estas participações”.

A AMMG controla diretamente 89,55% desta holding, sendo que 10,45% do capital são detidos pelas próprias companhias. A Montepio Seguros é a segunda maior participada do grupo: a participação está avaliada em 120 milhões de euros e há ainda prestações acessórias (empréstimos do grupo) de 200 milhões. Segundo o relatório e contas da AMMG, a holding voltou a adiar a devolução de um empréstimo obrigacionista de 17,5 milhões subscrito pelo Montepio, justificando que “não tinha as condições financeiras necessárias para proceder ao seu reembolso”.

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Auditor mantém reserva às contas da Associação Mutualista

Em causa estão os ativos por impostos diferidos no valor de quase 890 milhões de euros que a PwC considera que estão sobreavaliados “por um montante materialmente relevante”.

Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) e auditor externo mantêm o braço-de-ferro por causa dos chamados créditos fiscais, que totalizaram os 886,8 milhões de euros no final do ano passado. A PwC mantém a opinião de que ativos por impostos diferidos se encontram sobreavaliados “por um montante materialmente relevante”, isto apesar de a instituição ter tentado demonstrar que estão bem contabilizados. O auditor deixa ainda um alerta sobre o impacto da guerra na recuperação do investimento no banco.

“A entidade não demonstra capacidade para gerar resultados tributáveis suficientes que permitam recuperar parte substancial dos ativos por impostos diferidos registados”, sinaliza o auditor Carlos Maia na reserva que colocou na certificação legal de contas que consta do relatório individual de 2021.

“Desta forma, na nossa opinião, os ativos por impostos diferidos, os capitais próprios e o resultado líquido do exercício, constantes do balanço e da demonstração dos resultados da entidade em 31 de dezembro de 2021 e em 31 de dezembro de 2020, encontram-se sobreavaliados por um montante materialmente relevante, a magnitude do qual não estamos em condições de quantificar, dada a incerteza inerente às projeções dos resultados tributáveis”, justifica ainda.

Desde 2020 que AMMG e PwC mantêm esta divergência em relação aos créditos fiscais criados em 2017, ainda no tempo de Tomás Correia. A oposição interna criticou esta operação por considerar que se tratou de um truque fiscal e contabilístico para esconder o desequilíbrio entre ativos e passivos da instituição.

Para tentar resolver esta disputa, foi criado um grupo de trabalho que incluiu especialistas externos, dirigentes do próprio Montepio, incluindo o presidente Virgílio Lima, e ainda o anterior auditor KPMG e a BDO. Este grupo já produziu as suas conclusões, considerando que a PwC que está a fazer uma interpretação “à letra” das normas de contabilidade internacionais e interpretando-as “cegamente” e que não está a fazer uma avaliação correta da questão. Contudo, a PwC manteve a sua opinião em relação a esta matéria.

Na avaliação à reserva da PwC nas contas do ano passado, o conselho fiscal da AMMG fez questão de manifestar “a sua discordância com o teor da reserva e, consequentemente, com a incerteza material relacionada com o pressuposto de continuidade”.

Além do tema dos ativos por impostos diferidos, há outra questão a separar mutualista e auditor: a valorização do banco no balanço da AMMG. O investimento da associação mutualista no Banco Montepio encontra-se avaliado em 1.500 milhões de euros, representando 40% do total do ativo. A esse investimento está associada uma perda por imparidade de 875,5 milhões. A PwC mantém a ênfase sobre a avaliação do banco, por considerar que também estará sobreavaliada. Além disso, deixa um alerta: os “desenvolvimentos recentes da guerra na Ucrânia” poderão dificultar a recuperação dos investimentos no banco.

A AMMG registou lucros de 44,6 milhões de euros no ano passado, à boleia sobretudo do aumento das receitas com associados. Compara com os prejuízos de 17,9 milhões e 408,8 milhões em 2020 e 2019, o que levou o presidente Virgílio Lima – acabado de ser eleito em dezembro de forma incontestável — a falar em “virar de página”. As contas foram aprovadas pela recém-eleita assembleia de representantes na semana passada.

As receitas associativas subiram para 680 milhões de euros, levando a margem associativa a aumentar dos 78,8 milhões para os 126,4 milhões, o que explica a melhoria do resultado líquido.

Os capitais próprios (diferença entre ativo e passivo) melhoraram 60 milhões para os 364 milhões de euros.

Entradas de 35,6 mil associados ao longo de 2021 permitiram compensar as 32,7 mil saídas, com a AMMG a voltar a ter mais de 600 mil associados.

Entretanto, foi marcada a assembleia geral do Banco Montepio que vai eleger os novos órgãos sociais do banco. A administração será reduzida face aos 17 membros e, como o ECO avançou, Carlos Tavares está de saída do cargo de chairman, enquanto Pedro Leitão manter-se-á como CEO. A assembleia tem lugar no dia 29 de abril.

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Ministério Público pede manutenção de coimas a quatro bancos e redução a sete no caso do “cartel da banca”

  • Lusa
  • 23 Fevereiro 2022

Procurador pediu ao tribunal de Santarém para manter as coimas aplicadas à Caixa (82 milhões de euros), ao Santander Totta (35,65 milhões), ao BBVA (2,5 milhões) e ao Crédito Agrícola (350.000 euros).

O Ministério Público pediu a manutenção das coimas aplicadas pela Autoridade da Concorrência a quatro dos bancos visados no processo de troca de informação sensível, conhecido como “cartel da banca”, defendendo a redução nos restantes sete.

Nas alegações finais do julgamento dos recursos apresentados por 11 bancos das coimas de 225 milhões de euros aplicadas pelo regulador por troca de informação com impacto no crédito a clientes, Paulo Vieira pediu ao Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (TCRS) para manter as coimas aplicadas à Caixa Geral de Depósitos (82 milhões de euros), ao Santander Totta (35,65 milhões), ao BBVA (2,5 milhões) e ao Crédito Agrícola (350.000 euros).

No caso do BCP, que foi condenado pela AdC ao pagamento de uma coima de 60 milhões de euros, o procurador do Ministério Público (MP) deixou ao critério da juíza Mariana Machado a possibilidade de uma redução, tendo em conta a divulgação dos resultados do banco na próxima segunda-feira, depois dos prejuízos na Polónia.

Também no caso do BPI, Paulo Vieira, que considerou adequada a coima de 30 milhões de euros, valorizou o depoimento do presidente do conselho de administração do banco, Fernando Ulrich, o qual assumiu a prática da troca de informação entre os bancos como relevante para o posicionamento no mercado.

Paulo Vieira pediu ainda uma redução substancial da coima aplicada à Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), de 13 milhões de euros, suspensa em metade por ter aderido ao pedido de clemência, tendo em conta a situação financeira do banco e sua natureza social, a qual requer “um grau de proteção superior”.

Defendendo que a coima a aplicar à CEMG não deve exceder os 4,8 milhões de euros, suspensa em metade e com a possibilidade de ser paga em 24 prestações, o procurador lamentou que a postura inicial do Montepio, ao pedir clemência, o que implica o reconhecimento da prática da infração, não tenha coincidido com a postura durante o julgamento.

O MP pediu que ao BES, multado em 700.000 euros, seja aplicada uma coima “meramente simbólica”, tendo em conta estar em liquidação, não existindo razões de prevenção especial, e devendo ser levados em conta os interesses dos lesados pela resolução do banco.

Já em relação ao EuroBic, que alega o facto de as infrações serem imputadas ao BPN, Paulo Vieira lembrou que não pode haver desresponsabilização, já que foi o BPN que incorporou o Eurobic, que funciona com o mesmo número de pessoa coletiva e a mesma estrutura e manteve a grande maioria dos funcionários.

Mesmo assim, considera dever haver uma redução da coima de 500.000 euros, tendo em conta a postura do banco no processo.

Para o Barclays, cujo pedido de clemência deu origem ao processo da AdC, o MP defendeu que se deve valorizar a sua conduta para a descoberta da verdade, pelo que a coima deve sempre ser suspensa na sua execução, qualquer que seja o seu valor, que sugeriu situar-se abaixo dos 500.000 euros.

A Union de Créditos Inmobiliarios (UCI), que recorreu para o TCRS da coima de 150.000 euros aplicada pela AdC, deverá, para o MP, beneficiar igualmente de uma redução.

Paulo Vieira deixou um reparo à atuação da Caixa Geral de Depósitos, condenada pela AdC com a coima mais elevada, lamentando que o banco público tenha tratado o assunto em causa nos autos “de forma ligeira”, não tendo tomado medidas.

Em causa no processo está a prática concertada de troca de informação comercial sensível, entre 2002 e 2013, nomeadamente com partilha de tabelas de ‘spreads’ a aplicar aos créditos a clientes e de informação sobre volumes de produção.

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Carlos Tavares indisponível para novo mandato no Banco Montepio

Carlos Tavares já comunicou à administração que não vai continuar. Tem duas missões até final: aconselhar na escolha da nova equipa e concretizar transferência de ativos tóxicos para veículo externo.

Carlos Tavares mostrou-se indisponível para continuar no Banco Montepio e já comunicou ao conselho de administração do banco a intenção de deixar as funções de chairman após o final do mandato, que termina no final do ano (como do resto da equipa), segundo as informações recolhidas pelo ECO.

Tavares fez questão de transmitir a sua decisão na reunião do conselho de administração da semana passada, deixando claro que deixará o cargo por sua iniciativa e que não está disponível para integrar a nova equipa do banco, independentemente do resultado das eleições no acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), que decorrem esta semana. “Não serei candidato à minha própria sucessão”, terão sido estas as palavras de Carlos Tavares junto dos outros membros da administração na reunião de quarta-feira.

Contactados pelo ECO, nem o banco nem o próprio quiserem fazer qualquer comentário sobre o assunto.

Apresentação de resultados do Montepio - 11MAR19
Dulce Mota entre Carlos Tavares (esquerda) e Pedro Ventaneira, durante a apresentação dos resultados do Banco Montepio.Hugo Amaral/ECO 11 março, 2019

O mandato da atual equipa do Banco Montepio termina em dezembro, mas Carlos Tavares vai manter-se em exercício até à entrada da nova equipa, que terá de ser escolhida pela mutualista, eleita em assembleia geral de acionistas (que se realiza geralmente entre abril e maio), e cujo início de funções também depende da autorização do Banco de Portugal.

Duas missões até ao fim

O ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) tem sobretudo duas missões nestes poucos meses que lhe restam à frente do Banco Montepio. Uma delas passa exatamente por ajudar o acionista a escolher a nova administração do banco, o que pode não ser uma tarefa tão simples quanto isso, tendo em conta os meses em que o próprio Carlos Tavares teve de desempenhar duplas funções de CEO e de chairman, face à dificuldade de encontrar nomes para liderar o banco. Os candidatos à presidência da AMMG têm destacado a necessidade de promover alguma renovação e também de reduzir o número de membros da administração, atualmente de 16 – que equipa com a Caixa Geral de Depósitos, por exemplo.

Além disso, Carlos Tavares tem outro objetivo: concretizar aquilo que chama de “estrutura empresarial de gestão de ativos”, isto é, concretizar a transferência de uma carteira de mais de mil milhões de euros em ativos improdutivos do banco (malparado e imóveis) para um veículo externo para responder às exigências do Banco de Portugal e às necessidades de capitalização do Banco Montepio.

Esta operação é vista como fundamental para recapitalizar o banco, como sublinhou o presidente da AMMG, Virgílio Lima, em entrevista ao ECO a propósito das eleições na mutualista. “A libertação de ativos deste tipo que não estão a gerar rendibilidade e estão a consumir capital tem sempre efeitos positivos na libertação de capital. (…) Há aqui uma recapitalização implícita do banco”, disse.

Estão em curso contactos com investidores internacionais para avançar com esta operação de carve-out, o mercado tem mostrado interesse, segundo Virgílio Lima. Existe expectativa de fique concluída nos próximos meses e o ECO sabe que a transação tem de ser neutra do ponto de visto do impacto nos rácios desde o momento zero, para nunca por em desequilíbrio a posição do banco.

O Banco Montepio chegou a setembro com um rácio NPE (non performing exposures) de 9,3%, um dos mais elevados do sistema nacional, onde o nível médio do malparado se encontra abaixo dos 5%. Por causa disso tem sido alvo de reparos da parte das agências de rating.

Ainda na semana passada, o banco anunciou uma operação de venda de 40 mil contratos de crédito ao consumo performing no valor bruto de 360 milhões de euros, através de uma operação de titularização de créditos colocada junto de investidores internacionais. Esta operação, que envolveu a participada Montepio Crédito, permitirá reduzir o volume de ativos ponderados pelo risco em cerca de 265 milhões de euros e reforçar os rácios de capital.

Além disso, a instituição tem em curso um processo de venda de uma carteira de malparado no valor de 260 milhões de euros. Entre os investidores que estão na corrida encontram-se o fundo de pensões do Canadá, a Arrow e a Tilden, como avançou o ECO na semana passada.

Legado de Tavares em risco

A passagem de Carlos Tavares pelo banco foi tudo menos tranquila, desde logo perante as dificuldades que a AMMG teve para encontrar um nome para o cargo de CEO, obrigando o chairman a acumular as funções de CEO durante cerca de um ano. Por outro lado, também foram relatadas algumas divergências no seio do conselho de administração, nomeadamente com Pedro Leitão.

A gestão de Carlos Tavares fica marcada, sobretudo, pela criação do Banco Montepio Empresas (BEM), lançado em 2019 com o objetivo de servir as empresas do “middle market” no acesso a soluções de financiamento através do mercado de capitais. E em contracorrente com as decisões de integração destas unidades nos outros bancos nacionais. Mas as eleições para a associação mutualista — que decorrem esta semana — também poderão conduzir ao fim prematuro do BEM.

Dois anos depois do seu lançamento, os candidatos à mutualista admitem acabar com o projeto de Carlos Tavares. Pedro Alves (Lista D) disse ao ECO que “vale a pena repensar” o banco. “Há necessidade de termos um banco específico para empresas ou um serviço robusto, específico e autónomo dentro da própria estrutura do banco?”, questionou. “Sem prejuízo de se manter sempre o know how de todas as áreas, o grupo pode encarar soluções de simplificação”, admitiu Virgílio Lima, da Lista A.

Também Pedro Corte Real (Lista B) admite o fim do banco, se ficar provado que não acrescenta valor. E Eugénio Rosa (Lista C) tem outra ideia: passar a carteira de ativos tóxicos na ordem dos 1,2 mil milhões do Banco Montepio para o BEM para depois vendê-lo. “Não se justifica uma Associação Mutualista ter dois bancos, um concorrente do outro”.

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Candidatos ao Montepio querem abrir capital do banco e divergem no apoio público

O que defendem Virgílio Lima (Lista A), Pedro Corte Real (Lista B), Eugénio Rosa (Lista C) e Pedro Alves (Lista D) para a maior mutualista do país? Montepio vai a eleições na próxima semana.

O futuro do Banco Montepio deverá passar pela abertura do seu capital a outros investidores. Pelo menos é essa a posição defendida pelos quatro candidatos à liderança da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), a dona do banco e que vai a eleições na próxima semana. Se neste tema há consenso, já a eventual necessidade de o grupo precisar de apoio do Estado divide opiniões.

As eleições para os órgãos sociais da maior mutualista do país para o mandato 2022-2025 arrancam esta segunda-feira com o voto eletrónico na aplicação M24 ou site MyMontepio ou Montepio.org (tem de pedir código numa máquina Chave 24) e também com a abertura de três mesas de voto em Lisboa (no Espaço Atmosfera M, na Rua Castilho; e no Espaço Mutualista – Rua do Carmo) e no Porto (Espaço Atmosfera M, na Rua Júlio Dinis) e também na sede. As urnas fecham na sexta.

Nas últimas semanas, o ECO entrevistou os cabeças-de-lista ao conselho de administração: Virgílio Alves (Lista A), Pedro Corte Real (Lista B), Eugénio Rosa (Lista C) e Pedro Gouveia Alves (Lista D).

O que defendem Virgílio Lima (Lista A), Pedro Corte Real (Lista B), Eugénio Rosa (Lista C) e Pedro Alves (Lista D) para a maior mutualista do país? Montepio vai a eleições na próxima semana.

Banco à espera de investidores

Em relação à abertura da estrutura de capital do Banco Montepio a outros investidores, os quatro candidatos admitem essa possibilidade, mas alertam para a atual desvalorização do banco, que pode acarretar perdas para os associados em caso de uma venda parcial de ações a um parceiro.

“Se entrasse um parceiro agora, iria apropriar-se-ia na proporção da sua entrada [de capital] da recuperação das imparidades”, avisou Virgílio Lima, atual presidente da AMMG e líder da Lista A, uma posição com a qual os outros candidatos concordam. Lima admite, ainda assim, a entrada de um acionista, mas vê isso a acontecer apenas a médio prazo.

Pedro Corte Real (Lista B) foi no mesmo sentido e traçou o perfil do parceiro ideal para o banco: “Que queira sentar-se connosco à mesa e ajudar a gerir o banco num cenário de longo prazo, a 40 anos, 50 anos ou 60 anos”.

Já Eugénio Rosa (Lista C) defendeu que deve ser um parceiro da área social e não um qualquer investidor. “Terá de ser da área mútua e cooperativas. Na Europa, nomeadamente na Bélgica e França, há mútuas muito poderosas”, apontou.

Pedro Alves (Lista D) considerou que a venda de parte do banco só será possível “a partir do momento em que haja uma proposta de valor e em que se possa apresentar o Banco Montepio com uma estratégia sólida, consolidada e com um horizonte de rendibilidade que permita atrair esses investidores”.

Grupo Montepio vai precisar de apoio público?

Apenas Virgílio Lima afastou o cenário de ajuda pública ao grupo Montepio, sendo que os outros candidatos deixaram a sua visão sobre os moldes como um apoio do Estado poderia ajudar.

A AMMG gere poupanças de cerca de 3.000 milhões de euros de 600 mil associados, mas o balanço mostra um cenário desafiante ao nível da valorização do banco (o principal ativo) e dos ativos por impostos diferidos, na ordem dos 800 milhões, e que estão a mascarar uma situação líquida deficitária.

Eugénio Rosa, por exemplo, defendeu que o Estado devia dar apoio não em dinheiro, mas em garantia. “Foi aquilo que o ministro Mário Centeno disse uma vez na Assembleia da República que o Governo não deixaria cair o Montepio”.

Por seu turno, Pedro Corte Real disse que tem “o formato dessa ajuda em aberto, se é capital ou garantias. “Temos primeiro de compreender integralmente o que os auditores nos dizem” sobre a situação financeira do grupo.

Sobre este tema, Pedro Alves defendeu uma garantia pública para os ativos tóxicos do Banco Montepio: “Pode ser por via do Estado diretamente ou através de um veículo do Estado, seja o Banco de Fomento ou outra entidade que possa ajudar nesse sentido. Estamos a falar de poucas centenas de milhões de euros, não é nada de extraordinário em relação a outras coisas que já vimos no mercado com outros bancos”.

Cortar salários da administração da mutualista?

De acordo com Eugénio Rosa, o presidente da AMMG ganha 31 mil euros por mês e os restantes administradores cerca de 26 mil euros mensais – mais algumas regalias. O candidato da Lista C defende que é preciso moralizar a instituição e dar o exemplo de cima: “Da outra vez, quando me candidatei, disse que se fossemos eleitos que iria reduzir as remunerações do conselho de administração para metade”. Propõe o mesmo agora.

Pedro Alves e Pedro Corte Real defendem também uma redução dos salários. “Iremos rever em baixa os salários atualmente auferidos pelos membros dos órgãos de administração e fiscalização, e também regulamentar sobre eventuais acumulações de salários auferidos com outras fontes de rendimento dentro do grupo”, disse Pedro Alves.

“Não vou exigir nada aos trabalhadores que não imporei ao conselho de administração. Há aqui uma questão de moralização”, observou Pedro Corte Real. “Se chegarmos lá, entendemos que os salários, quer dos órgãos da Associação Mutualista, mas também de algumas das suas participadas, sendo situações que não se justificam, isso será corrigido de imediato”.

Já atual presidente da AMMG defendeu que a política salarial no grupo tem em conta a “concorrência do mercado”. “Também ao nível das competências de gestão temos de ter essa qualidade. O preço dessa qualidade é o preço do mercado. Naturalmente que isso tem de ser observado. Esses são os critérios”.

Fim à vista para o Banco Empresas Montepio?

Para Pedro Alves, que lidera uma participada do banco, a Montepio Crédito, “vale a pena repensar” o Banco Empresas Montepio (BEM). “Há necessidade de termos um banco específico para empresas ou um serviço robusto, específico e autónomo dentro da própria estrutura do banco”, questionou.

Já o candidato da Lista B, Pedro Corte Real, defendeu que “se o BEM acrescenta valor (…), claro que é para continuar”. O banco lançado por Carlos Tavares não “justificará a sua continuidade” se se conseguir “atingir os mesmos ou melhores resultados com o negócio do BEM integrado do Banco Montepio”, acrescentou.

Sobre este ponto, Virgílio Lima considerou que “sem prejuízo de se manter sempre o know how de todas as áreas, o grupo pode encarar soluções de simplificação”. “Mas só o banco dirá”, disse.

Eugénio Rosa, por seu turno, quer passar a carteira de ativos tóxicos na ordem dos 1,2 mil milhões do Banco Montepio para o BEM para depois vendê-lo. “Não se justifica uma Associação Mutualista ter dois bancos, um concorrente do outro”.

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Depois de reforçar na EDP, fundo de pensões do Canadá entra na corrida ao malparado do Montepio

O Canada Pension Plan Investment Board foi um dos investidores que apresentou proposta firme para comprar uma carteira de crédito de 260 milhões do Banco Montepio.

O fundo de pensões do Canadá acabou que reforçar na EDP, onde já tem uma posição de 5% avaliada em mais de 900 milhões de euros, mas quer investir mais dinheiro em Portugal. É um dos investidores que estão na corrida para comprar uma carteira de crédito malparado de 260 milhões do Banco Montepio, segundo as informações recolhidas pelo ECO.

Os interessados no chamado “Projeto Gerês” tiveram de submeter as ofertas vinculativas até esta quarta-feira. Fontes do mercado adiantaram ao ECO que o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB), um fundo de 500 mil milhões de dólares, apresentou uma binding offer, mas tem concorrência de pelo menos mais dois investidores: a Arrow e a Tilden.

O “Projeto Gerês” contempla uma carteira de crédito em incumprimento granular. Chegou ao mercado no final de outubro e está a caminho da reta final. A operação de venda está a ser gerida pela KPMG. O montante de 260 milhões diz respeito ao valor dos créditos em termos brutos, isto é, não inclui as imparidades registadas pelo banco para este conjunto de contratos de empréstimos.

O Banco Montepio tem sido pressionado pelo Banco de Portugal para resolver o seu problema com ativos problemáticos. Banco e o seu acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), estão a estudar a viabilidade de uma operação de grande envergadura que visa retirar uma carteira de mais de mil milhões de euros em malparado e imobiliário para um veículo especializado.

O presidente da mutualista, Virgílio Lima, afirmou em entrevista ao ECO que espera que a operação seja concretizada pois permitiria “uma recapitalização implícita do banco”, diminuindo as fragilidades da instituição financeira. Adiantou ainda que muitos investidores estão a olhar para a transação.

O Banco Montepio chegou a setembro com um rácio NPE (non performing exposures) de 9,3%, um dos mais elevados do sistema nacional, onde a média se encontra abaixo dos 5%. Por causa disso tem sido alvo de reparos da parte das agências de rating.

Contactado pelo ECO sobre a venda do “Projeto Gerês”, o banco não quis fazer qualquer comentário.

Esta semana, o banco anunciou uma operação de venda de 40 mil contratos de crédito ao consumo performing no valor bruto de 360 milhões de euros, através de uma operação de titularização de créditos colocada junto de investidores internacionais. Esta operação, que envolveu a participada Montepio Crédito, permitirá reduzir o volume de ativos ponderados pelo risco em cerca de 265 milhões de euros e reforçar os rácios de capital.

O Banco Montepio registou um prejuízo de 14,2 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, com o resultado a ser sobretudo penalizado pelos custos com a reestruturação em curso.

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Banco Montepio vende 360 milhões de euros de carteira de crédito ao consumo

Banco Montepio e a sua participada Montepio Crédito alienaram uma carteira de crédito ao consumo com o valor bruto de 360 milhões, englobando perto de 40 mil contratos.

O Banco Montepio e a sua participada Montepio Crédito venderam cerca de 360 milhões de euros de crédito ao consumo através de uma operação de titularização de créditos colocada junto de investidores institucionais internacionais.

De acordo com o banco, foram alienados 356,8 milhões de euros de crédito relativos a uma carteira que englobou aproximadamente 40 mil contratos.

“A concretização desta operação permite reduzir o volume de ativos ponderados pelo risco em cerca de 265 milhões de euros”, adianta o Banco Montepio no comunicado enviado esta terça-feira ao mercado, salientando que a transação vai permitir reforçar os rácios de capital.

A titularização foi colocada junto de investidores institucionais internacionais, em cinco tranches colateralizadas com um spread implícito médio de 112 pontos base sobre a Euribor a 1 mês, tendo a procura sido mais de 1,8 vezes superior à oferta, detalha a instituição.

A classe sénior tem um rating de AA (DBRS) e AA- (Fitch Ratings) e irá pagar um cupão com um spread implícito de 48 p.b. sobre a Euribor a um mês.

O Banco Montepio destaca ainda a participação “determinante” dos membros do sindicato de colocação desta emissão, a StormHarbour e o Crédit Agricole Corporate & Investment Bank.

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Banca vende 3,5 mil milhões em crédito malparado em 2021

Os bancos portugueses deverão vender 3,5 mil milhões de euros em crédito malparado este ano, o triplo do valor registado em 2020. Mercado perspetiva crescimento em 2022, com o fim das moratórias.

Os bancos vão vender 3,5 mil milhões de euros em crédito malparado em 2021, o triplo do valor vendido no ano passado, mas ainda abaixo dos níveis registados antes da pandemia.

Estima-se “a conclusão de operações no valor de 3,5 mil milhões em 2021, considerando os negócios já concluídos e os processos atualmente ativos e com conclusão prevista até final do ano”, segundo um estudo da Prime Yield sobre o mercado dos non performing loans (NPL) na Península Ibérica.

De acordo com o relatório, o valor triplica face aos menos de mil milhões transacionados no total de 2020, mas fica, ainda assim, 56% abaixo dos oito mil milhões registados em 2019, no pré-Covid.

Neste momento são vários os bancos com carteiras no mercado, segundo adiantam várias fontes ao ECO, incluindo o projeto Harvey no valor de 640 milhões do Novobanco, o projeto Gerês de 260 milhões do Montepio e o projeto Lúcia de 110 milhões do BCP.

Para o próximo ano, a Prime Yield indica que as expectativas são bastante otimistas, “prevendo-se um crescimento acentuado nas transações à medida que o mercado continue a acelerar a sua reativação ao longo dos próximos meses e novas carteiras surjam em oferta”.

Os últimos dados do Banco de Portugal dão conta de um rácio de NPL (non performing loans) na banca portuguesa de 4,3% no final de junho, menos 0,6 pontos percentuais em relação ao final de 2020. Ainda assim, os empréstimos não produtivos ascendiam a 13,5 mil milhões de euros naquela data, prevendo-se que possa aumentar no próximo ano com o fim das moratórias de crédito.

Fonte: Banco de Portugal

O CEO da Prime Yield, Nelson Rego, evidencia o esforço dos bancos portugueses em alienar o crédito malparado que ainda têm em stock. “Esta estratégia permitirá aos bancos prosseguir as suas metas de redução de malparado, mas funciona também como prevenção para uma eventual nova vaga de NPL que possa surgir nos próximos dois anos devido à moratória e ao enfraquecimento das condições económicas”, acrescenta o responsável.

“Em 2022 antecipamos um forte aumento no volume de vendas de NPL em Portugal, que poderão atingir os níveis observados no pré-Covid ou mesmo superá-los”, remata.

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Lista B ao Montepio quer abrir capital do banco a parceiro de “longo prazo”

Pedro Corte Real defende a abertura do capital do Banco Montepio a um parceiro que olhe para o longo prazo, com a Associação Mutualista a manter o controlo. E lançou críticas às outras listas.

A Lista B candidata aos órgãos sociais da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) defende “alguma abertura do capital” do banco a um parceiro que olhe para o “longo prazo”, seja ou não da economia social, e admite negociar com o Governo um apoio igual aos que os bancos tiveram durante a troika, através das chamadas obrigações de capital contingente (os Cocos).

Pedro Corte Real, que encabeça a lista que tem como objetivo “Reconstruir o Montepio”, apresentou a sua equipa e programa esta quarta-feira em Lisboa para as eleições para a AMMG que se realizam a 17 de dezembro, as quais terão uma “importância decisiva para a instituição, quiçá para garantir a sua própria existência”.

Perante uma plateia de algumas dezenas de associados, Corte Real considerou que o Banco Montepio está sólido e robusto, mas “precisa de capital para a sua atividade que não tem neste momento e, em cima disso, a Associação Mutualista também não pode acudir ao banco”.

“Temos aqui um problema que terá de ser resolvido e nós, sem qualquer medo de o dizer, iremos, assim que vencermos as eleições, sentarmo-nos com as administrações e perceber como podemos começar a preparar uma solução para o banco que muito dificilmente não passe por alguma abertura do capital, com controlo da Associação Mutualista”, afirmou o candidato da lista B.

Segundo Pedro Corte Real, “terá de ser um parceiro que olhe para estas parcerias no longo prazo e que perceba que está a fazer uma parceria com um banco que é detido por uma associação mutualista”. “Estabelecendo as condições que exigimos para o parceiro, de certeza que iremos encontrar um parceiro para associar à marca Montepio, que tem sido muito maltratada”, disse.

Aos jornalistas, esclareceu que irá chamar para este processo os reguladores e o Governo “que, com certeza, estarão disponíveis para se sentarem à mesa para desenharem um plano que permita a entrada de um parceiro, seja ou não seja da economia social”.

Corte Real afastou uma “solução de mercado pura e direta”, pois seria o “golpe de morte” para o banco e “uma traição” para os 600 mil associados. Pretende antes que a solução defenda “os interesses dos mutualistas” e que o parceiro respeite os princípios do mutualismo, e “com o banco a tornar-se num instrumento para servir a Associação Mutualista e não o contrário”.

Em relação ao apoio do Governo, Pedro Corte Real admitiu olhar “para um conjunto de soluções que ajudaram bastante a banca nacional, com grande sofrimento dos bancos, mas que tiveram de ser naquele período da troika”, os chamados Cocos. “Hoje em dia, esses bancos recuperaram, já voltaram aos lucros e pagaram aqueles empréstimos e é uma banca que recuperou, não é uma banca doente”, precisou.

Corte Real assumiu-se ainda como a única lista capaz de “reconstruir o Montepio”, descomprometida com o passado e sem qualquer ligações políticas ou religiosas, lançando críticas à concorrência.

“A lista A reúne a atual administração que teve como presidente — até ser afastado — Tomás Correia, e uma herança de contas desastrosas”, começou por dizer.

“Quanto à lista incumbente numero 2, a Lista D, intitula-se a lista dos quadros. Mas que quadros? Quadros de Tomás Correia, que deixou a Associação Mutualista no estado em que está e está a ser investigado judicialmente e pelos reguladores”, atirou. “O candidato a presidente desta lista D é um quadro do Montepio, mas do Montepio de Tomás Correia, e foi um dos seus homens em operações ruinosas com a compra do Finibanco, por exemplo, que deixou prejuízos de centenas de milhões de euros para o Montepio”, disse.

Sobre a lista C, de Eugénio Rosa, disse que está conotada com um partido político e não reúne por isso condições para liderar a AMMG.

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