Como a Apple planeia fabricar iPhones na Índia — e porquê
Tim Cook estará a planear fabricar telemóveis na Índia já no final de 2017, numa aposta nos mercados emergentes do sul da Ásia. Mas o alto preço dos telemóveis e até Donald Trump podem ser problemas.
Designed in California, assembled in… Índia. Ao que tudo indica, é também aí que a Apple poderá começar a fabricar iPhones já no final de 2017. A informação não é oficial, mas está a ser avançada pelo site especializado Übergizmo, com base em rumores de que um fornecedor da marca da maçã estará a preparar uma linha de montagem na cidade indiana de Bangalore.
A rede de fornecedores da Apple é complexa e tem ramificações um pouco por todo o mundo. No entanto, é correto dizer que uma parte significativa do processo acontece na China, facto que se explica pelos recursos naturais do país e pela grande flexibilidade que proporciona à empresa liderada por Tim Cook. Mas, então, onde entra a Índia?
Na estratégia. E, segundo a Business Insider, até faz sentido: o crescimento da marca nos mercados desenvolvidos tem vindo a estagnar, com as vendas do telemóvel registadas no terceiro trimestre de 2016 a sofrerem, no geral, uma queda homóloga na ordem dos 5%. Mas não na índia. Nem na América Latina ou noutros mercados emergentes do sul da Ásia.
Tim Cook já assumiu querer voltar ao crescimento nas vendas durante o ano que agora começou, pelo que uma entrada mais forte na Índia pode fazer parte do plano. Veja-se: a taxa de importação aplicada sobre os iPhones naquele país é de 12,5%. O fabrico interno deverá reduzir drasticamente o preço do telemóvel para os cidadãos indianos, explica o mesmo jornal.
Porém, há um problema
Ou melhor, dois problemas. Mas já lá vamos. Compreender o mercado emergente — e importante — que a Índia representa é saber que cerca de 80% dos smartphones vendidos no país custam menos de 150 dólares, ou pouco mais de 140 euros. E mais de metade custam menos de 120 dólares, ou pouco menos de 115 euros. Os dados são da Bloomberg.
Ao mesmo tempo, a Índia é o segundo maior mercado de smartphones de todo o mundo, o que significa que mesmo com as previsões de que o setor vá abrandar ao longo dos próximos anos, estes mercados manter-se-ão mais ou menos robustos, refere a Business Insider. Mas os iPhones não custam 115 euros: custam mais de 600.
Então, em que é que ficamos? Das duas, uma: o iPhone pode não se enquadrar nos preços a que que os consumidores indianos estão habituados — e, nesse caso, entrar nesse país é uma aposta arriscada. Mas a Apple pode estar a alisar terreno, demarcando uma presença forte neste mercado e esperando que a classe média indiana venha a ganhar poder de compra.
E o outro?
A outra questão levanta-se sob a forma de um nome bem familiar: Donald Trump. O presidente eleito dos Estados Unidos da América planeia, durante o mandato, centralizar no país a atividade industrial das multinacionais norte-americanas. Como? Com “grandes cortes nos impostos para empresas”, refere o site especializado MacWorld.
Basta olhar para o Twitter. Esta terça-feira, o magnata acusou a General Motors de enviar para os stands norte-americanos o modelo de automóvel Chevy Cruze, alegadamente fabricado no México, sem pagar impostos por isso. “Façam nos Estados Unidos ou paguem grandes impostos fronteiriços!”, escreveu Trump. (A empresa já reagiu, garantindo que esses automóveis são maioritariamente fabricados em território norte-americano, no Estado do Ohio.)
Tweet from @realDonaldTrump
O caso é ilustrativo. Mas Donald Trump já terá contactado Tim Cook para o incentivar a produzir os aparelhos no país. E o certo é que, de acordo com o MacWorld, os computadores fixos Mac Pro de 2013 já são fabricados nos Estados Unidos. A nova administração de Trump poderá, assim, representar uma barreira para a Apple quanto à produção fora dos EUA.
Esta terça-feira, a Ford anunciou ter cancelado os planos para construir uma fábrica no México, optando antes por investir 700 milhões de dólares (mais de 665 milhões de euros) na instalação de uma unidade fabril no Estado do Michigan, garantindo a criação de 700 empregos e num assumido “voto de confiança” nas políticas pró empresariais de Trump, noticiou a CNN Money.
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