Mercado dos espetáculos em Portugal com quebra de 87% até outubro

  • Lusa
  • 18 Novembro 2020

Entre janeiro e outubro deste ano, o mercado dos espetáculos registou uma quebra de 87% face a igual período do ano passado, segundo um manifesto da associação que representa o setor.

O mercado dos espetáculos registou uma quebra de 87% entre janeiro e outubro deste ano, face a 2019, segundo manifesto da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), que promove no sábado em Lisboa um protesto do setor.

No “Manifesto pela Sobrevivência da Cultura em Portugal”, divulgado esta quarta-feira, a APEFE alerta para o impacto do “agravamento das medidas nas últimas semanas [anunciadas pelo Governo para tentar conter a pandemia da covid-19] e a sua continuidade, ou até um eventual novo confinamento social”, admitindo que “não será difícil que esta quebra possa atingir os 90% até ao final do ano”.

Para aquela associação, “é chegado o momento de os decisores políticos dizerem o que querem para Portugal, no que respeita à Cultura e às manifestações artísticas enquanto fatores capitais e determinantes para a vida de cada indivíduo e enquanto fatores de coesão e de progresso da sociedade e dos cidadãos”.

No manifesto, a APEFE elenca uma série de questões, às quais considera que é “preciso, clara e inequivocamente responder”. “Fechamos auditórios, salas de espetáculos, teatros? Vale a pena manter as galerias e promover exposições? Para que serve afinal um centro cultural ou um teatro? E os festivais de cinema e as salas de exibição de filmes? O que dizer das livrarias? Acabamos com os festivais e com os concertos? E o que dizer de toda a cadeia de valor associada às atividades artísticas e culturais? E os cruzamentos com os outros setores da Economia?”, questiona.

Recordando que “o setor privado da Cultura é responsável por mais de 80% das receitas de bilheteira, [que] é quem mais investe e cria públicos e (…) se substitui ao Estado na oferta cultural”, a APEFE alerta: “Os promotores, as salas, as empresas de audiovisuais e equipamentos para espetáculos, os artistas, os autores, os agentes, os produtores, os técnicos, e profissionais dos espetáculos estão sem chão”.

De modo a evitar, entre outros, “o aumento dos desempregados (sabendo que nem todos terão acesso a este apoio do Estado), as falências e as insolvências das empresas, e os danos irreparáveis para a saúde mental de toda a sociedade, se esta atividade for interrompida”, a APEFE exige “um apoio a fundo perdido da ‘Bazuca Europeia’ correspondente a 20% da quebra de faturação das empresas e a 40% no rendimento de artistas, técnicos e profissionais dos espetáculos, vulgo ‘intermitentes’, valor este a ser pago em duodécimos, de janeiro a dezembro de 2021”.

A ‘Bazuca Europeia’ a que se refere a APEFE são os 13,2 mil milhões de euros (a preços de 2018) que Portugal vai receber em subvenções (a fundo perdido), até 2023, através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência, o principal instrumento do Fundo de Recuperação europeu pós-crise gerada pela Covid-19.

No início deste mês, a Fundação GDA – Gestão dos Direitos dos Artistas apelou ao Governo para que aplique no setor cultural e criativo pelo menos 2% destas verbas. No manifesto, a APEFE pede também ao Governo “o adiamento, por mais um ano, das moratórias e dos créditos empresarias, até setembro de 2022, o acesso a linhas de crédito com carência de capital por um ano e meio e máximo 1% de spread e comissões bancárias incluídas”; pede também “que não afastem o público, sabendo que todos os espetáculos ao vivo são realizados de acordo com a regras sanitárias”.

Assumindo que “a recuperação de todo este setor empresarial demorará anos”, a APEFE defende que ainda “pode ser salvo”.

“Algumas dezenas de empresas já fecharam portas e outras centenas lutam diariamente para não seguirem o mesmo caminho, lutam para não despedir nenhum colaborador. Sem apoios concretos e contextualizados adequados às reais necessidades das empresas do sector e aos milhares de trabalhadores para quem a cultura é sinónimo de existência e subsistência, o fim está próximo. Infelizmente para muitos, o fim já chegou”, assegura.

A APEFE marcou para sábado uma ‘Manifestação pela Cultura’, no Capo Pequeno, em Lisboa. Contactada pela Lusa, Sandra Faria, da APEFE, explicou que a manifestação irá decorrer “dentro do Campo Pequeno, como se de um espetáculo se tratasse”. Ou seja, “cumprindo as regras impostas pela Direção-Geral da Saúde”, e com a capacidade do recinto limitada a duas mil pessoas. A APEFE convidou “associações e movimentos formais e informais do setor”, bem como “artistas” a juntarem-se ao protesto.

As salas de espetáculos encerraram em março, quando foi decretado o primeiro estado de emergência, embora os espetáculos tenham começado a ser adiados ou cancelados antes disso. Puderam reabrir a partir de 1 de junho, mas com normas de higiene e segurança.

Com a entrada em vigor do segundo estado de emergência e o decreto de um novo recolher obrigatório, desta vez parcial, salas de espetáculos um pouco por todo o país viram-se obrigadas a alterar horários ou a adiar programação, de modo a conseguirem sobreviver.

O Governo decretou o recolher obrigatório entre as 23h00 e as 05h00 nos dias de semana, a partir de 9 de novembro e até 23 de novembro, nos 121 municípios mais afetados pela pandemia, assim como “limitação da liberdade de circulação” nos fins de semana de 14 e 15 de novembro e de 21 e 22 de novembro. Desde segunda-feira, dia 16, passaram a ser 191 os concelhos abrangidos por estas restrições.

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Mourato Nunes de saída da presidência da Proteção Civil

  • ECO
  • 18 Novembro 2020

O general Mourato Nunes estará de saída da presidência da Proteção Civil, avançou o DN. A decisão ter-lhe-á sido comunicada pelo ministro Eduardo Cabrita.

O general Mourato Nunes, presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, deverá deixar o cargo ao fim de três anos de mandato. A notícia foi avançada pelo Diário de Notícias, que não cita como obteve a informação. Entretanto, a Rádio Renascença indicou que o brigadeiro-general Duarte da Costa ocupará o cargo em causa.

Segundo o DN, a decisão foi comunicada a Mourato Nunes na manhã desta quarta-feira pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Desconhecem-se os motivos na base desta decisão. Mourato Nunes terá convocado para a tarde desta quinta-feira uma reunião com a equipa do seu gabinete, na sede da Proteção Civil, em Carnaxide. Segundo o jornal, o general reformado, de 74 anos, tinha terminado a comissão de serviço de três anos no dia 8 de novembro.

Já a Rádio Renascença, o brigadeiro-general Duarte da Costa será o novo presidente da Autoridade Nacional da Proteção Civil.

(Notícia atualizada às 18h17)

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PSD não se opõe a prolongamento do estado de emergência

PSD não se pronuncia sobre as medidas concretas que Governo poderá aplicar, defendendo apenas que devem ser iguais para todos. Critica assim o PCP pela realização do congresso.

O PSD não se opõe a um prolongamento do estado de emergência, adiantou Nuno Morais Sarmento. O partido não vai “obstaculizar” que se mantenha por mais tempo o “quadro legal extraordinário para que o Governo possa tomar determinadas medidas”, disse, à saída da reunião com Marcelo Rebelo de Sousa.

“Entendendo o Presidente da República e o Governo que é necessário prolongar o quadro legal para que o Governo possa tomar determinadas medidas, o PSD está de acordo, não obstaculiza que quadro legal se mantenha“, adiantou o vice-presidente social-democrata, em declarações transmitidas pela RTP 3.

Quanto às medidas específicas a serem tomadas, o social-democrata aponta que nenhuma foi discutida com o Presidente. Sublinha, ainda assim, que a comunicação das medidas “tem de passar a ser feita de forma coerente e clara”, nomeadamente para evitar confusões e deixar os “portugueses com segurança”.

Para além disso, defende que as “decisões têm de ser iguais para todos”, apontando que o partido não entende as diferentes regras aplicadas durante o fim de semana de recolher obrigatório. Aponta assim o dedo ao PCP por continuar a planear realizar o congresso, referindo que o PSD decidiu não realizar o congresso da Madeira, um “exercício de bom senso”.

PSD critica “absurdo número de propostas de alteração”

Quanto aos avanços no Orçamento do Estado, cujo debate na especialidade vai começar esta sexta-feira, o vice-presidente do PSD salientou apenas o “completo absurdo número de propostas de alteração”. Para Nuno Morais Sarmento, este é um indicador de que o documento ainda poderá “piorar significativamente”.

O vice-presidente social-democrata apontou que este é um orçamento que o primeiro-ministro decidiu que seria com contributo das propostas do Bloco e PCP, e que, com a quantidade de alterações que todos os partidos querem fazer no documento, este “só tende a piorar”. “Já era na sua proposta inicial e o resultado final pode ser ainda francamente pior”, reiterou.

Nuno Morais Sarmento sublinhou que este Orçamento do Estado já tem mais de 1.400 propostas de alteração na especialidade, número que apelida de um “disparate”, apontando que é “completamente absurdo” ter este volume.

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Fundos de Pensões: ativos geridos voltam a superar 22 mil milhões de euros

  • ECO Seguros
  • 18 Novembro 2020

Os valores geridos em Fundos de pensões continuam a subir e voltaram a atingir os valores de 2007, segundo dados do 3º trimestre. A Ageas Pensões lidera o ranking das 18 entidades gestoras.

As contribuições dos associados e participantes para o total dos fundos de pensões apresentaram um acréscimo de 16,5%, face ao mesmo período ano anterior, acercando-se de 849 milhões de euros. Os benefícios pagos registaram um crescimento de 3,1% face ao terceiro trimestre do ano anterior, ascendendo a 580,8 milhões de euros no final de setembro, indica o relatório trimestral da ASF sobre a atividade dos Fundos de Pensões (REAFP 3T2020).

No final do terceiro trimestre de 2020, o número de fundos de pensões sob gestão passou de 232 para 233, na sequência da extinção de dois fundos de pensões fechados e da constituição de três fundos de pensões PPR. No âmbito das adesões coletivas, “foram extintas cinco adesões, uma decorrente transferência para a Caixa Geral de Aposentações, outra por liquidação total e as restantes com transferência para outras adesões já existentes. Durante este período foram constituídas 78 novas adesões, repartidas por 28 fundos de pensões abertos”, detalha o relatório.

Os montantes geridos pelos fundos de pensões registaram um acréscimo de 0,8% em relação ao final de 2019, totalizando um valor acima de 22 mil milhões de euros. O incremento reflete aumento de 8,5% nos fundos de pensões abertos. A repartição do montante total dos fundos de pensões por tipo de fundo não tem apresentado variações ao longo dos trimestres, explica a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF).

Dos 22.000.073.008 euros de ativos investidos e geridos por 18 entidades gestoras, em 30 de setembro último, cerca de 83% estão à responsabilidade de Sociedades Gestoras de Fundos de Pensões (SGFP) e o restante a cargo de seguradoras do ramo Vida. O ranking das entidades e as quotas de mercado na mesma data são as seguintes:

O nível de concentração entre as entidades gestoras é evidente. As 3 maiores (Ageas Pensões, CGD e BPI Vida) gerem 60% dos ativos, as 5 maiores 80% e a 10 maiores cerca de 98%.

Rentabilidade baixou para -0,45%

Tendo em consideração as contribuições entregues aos fundos e as respetivas pensões pagas, a rentabilidade dos fundos de pensões (diferença entre contribuições e saídas de benefícios), face ao final do ano de 2019 foi de -0,45%. Em setembro de 2019, a rentabilidade situava-se em 6,9% (face ao final de 2018). A rendibilidade é calculada de acordo com a seguinte fórmula: ((Valor do fundo no fim do período – (Valor do fundo no início do período + Contribuições do período – Pensões pagas))/Valor do fundo no início do período.

A estrutura da composição das carteiras foi semelhante à observada no final do ano de 2019. Destacam-se, no entanto, a diminuição do peso de dívida pública e da exposição a ações e um aumento do peso das obrigações privadas.

Em setembro de 2020, de acordo com a estatística trimestral da Supervisão, as carteiras de investimento dos fundos de pensões eram constituídas maioritariamente por títulos de dívida (50%), seguindo-se os fundos de investimento (34%). Imóveis (8%), depósitos bancários (5%) e ações (4%) continuam a ser as categorias com menor peso.

Segundo a ASF, entre participantes e beneficiários, os fundos de pensões em Portugal envolviam mais de 500 mil pessoas no final de 2019.

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TAP já tem plano para trazer vacinas da Covid. Prepara contentores refrigerados

Governo quer começar vacinação no país já em janeiro e vai dar a conhecer o plano de distribuição no próximo mês. A companhia aérea avança com parcerias para antecipar as necessidades de transporte.

Ainda não há vacina, mas já estão a ser desenhados os planos logísticos para a trazer para Portugal. O Governo quer que a primeira vacina contra a Covid-19 seja distribuída em janeiro e a TAP está a preparar o plano de transporte em contentores de refrigeração que cumpram as regras internacionais.

“A TAP está a garantir que tem as parcerias e meios necessários, como sejam a contratação atempada e em quantidade adequada dos contentores de temperatura controlada e vai estar preparada para responder às necessidades de transporte de vacinas contra a Covid-19, de acordo com os requisitos publicados recentemente pela IATA”, garantiu fonte oficial da empresa ao ECO.

A International Air Transport Association (IATA) divulgou esta semana diretrizes para assegurar que a aviação está pronta para lidar com o manuseio, transporte e distribuição da vacina contra a Covid-19, após um trabalho de avaliação que envolveu uma série de organizações de saúde internacionais. Alertou para os desafios de movimentar um material ultracongelado e recomendou a governos e privados que antecipem a operação logística que será “extremamente complexa”.

"A TAP está a garantir que tem as parcerias e meios necessários, como sejam a contratação atempada e em quantidade adequada dos contentores de temperatura controlada e vai estar preparada para responder às necessidades de transporte de vacinas contra a Covid-19.”

Fonte oficial da TAP

Entre as duas vacinas cujos testes têm mostrado resultados encorajadores, a da Pfizer e da BioNTech é a que precisa de temperaturas mais baixas: -70º C. Já a Moderna tem estabilidade garantida a temperaturas standard de refrigeração de -20º C. Além da questão da temperatura, a IATA alerta ainda para desafios como o espaço de armazenamento, aprovações regulatórias de transporte, gestão de fronteiras ou segurança contra roubos.

Para garantir que tem infraestruturas de temperatura controlada e que as restantes regras são cumpridas, “a TAP envolveu já as empresas suas parceiras em toda a cadeia logística para que, em termos de instalações, todos os requisitos sejam cumpridos”, diz a empresa. O transporte será feito pelo segmento de transporte de cargo, a TAP Air Cargo, que foi igualmente responsável por ir à China buscar ventiladores e outro material médico no início da pandemia.

A TAP transporta regularmente vacinas e outros produtos médicos em contentores pharma (temperatura controlada), cumprindo os mais rigorosos padrões de qualidade e garantindo a manutenção da temperatura interior dos mesmos. O nicho farmacêutico constitui uma fatia importante do negócio regular da TAP Air Cargo. Para estes produtos colocamos todo o nosso know-how de transporte, armazenamento e logística em geral ao serviço das autoridades, fornecedores e prestadores de serviços de saúde”, acrescenta.

"Estamos a planear onde armazenamos as vacinas, como é que as distribuímos pelo país se as colocamos em centros de saúde ou centros de vacinação, quem são os profissionais que vão administrar as vacinas, onde registamos a toma de vacinas, como se processa as várias tomas de vacinas.”

Marta Temido

Ministra da Saúde

Com os desenvolvimentos na investigação da vacina, vários governos estão já a antecipar os próximos passos para quando as doses estiveram prontas a administrar. O ECO questionou o Ministério da Saúde sobre o transporte aéreo e eventuais contratos com a TAP, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo. No entanto, a ministra da Saúde Marta Temido revelou esta quarta-feira que o trabalho de preparação logística está a ser feito.

Temido anunciou que os portugueses vão conhecer o plano de distribuição no próximo mês. “Estamos a planear onde armazenamos as vacinas, como é que as distribuímos pelo país se as colocamos em centros de saúde ou centros de vacinação, quem são os profissionais que vão administrar as vacinas, onde registamos a toma de vacinas, como se processa as várias tomas de vacinas”, disse a ministra. “Este processo está a ser planeado os organismos técnicos estão a trabalhar com resguardo e tranquilidade e apresentarão publicamente aquilo que seja este planeamento num prazo relativamente curto, no início do mês de dezembro, o mais tardar”.

O Governo espera que as primeiras vacinas cheguem a Portugal em janeiro. Será a Direção Geral de Saúde (DGS) a fazer a definição de população alvo e grupos prioritários para a vacina contra a Covid-19, começando por critérios como idade ou morbilidades associadas, bem como atividade profissional (dando prioridade a profissionais de saúde, de serviços essenciais e eventualmente profissionais de serviços sociais), de acordo com a governante.

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Operação entre a Runtime Group e iCapital Network envolve pbbr e Cuatrecasas

A pbbr assessorou a Runtime Group na alienação da sua participada portuguesa Finsights Labs à iCapital Network. Do lado da norte americana esteve a Cuatrecasas.

A sociedade de advogados pbbr assessorou a tecnológica Runtime Group na alienação da sua participada portuguesa Finsights Labs, Unipessoal, Lda. à iCapital Network.

Carina Branco, sócia da área de prática de Tecnologia, Media e Telecoms (TMT) coordenou uma equipa multidisciplinar que contou com a colaboração das associadas Inês Oom Sacadura, da área de prática de Laboral, Maria Abreu Ferreira, de TMT, e ainda Bernardo Cortes, de Corporate & M&A.

A Finsight Labs, uma empresa de desenvolvimento de produto que agrega cerca de 65 colaboradores vem deste modo reforçar a estratégia de crescimento da iCapital, uma plataforma de tecnologia financeira global, que impulsiona o acesso e a eficiência em investimentos alternativos para os setores de gestão de ativos e fortunas.

Do lado da iCapital Network esteve a Cuatrecasas. A equipa interdisciplinar de advogados foi coordenada por João Mattamouros Resende, do departamento de societário e M&A, e incluiu os associados Francisco Martins Caetano e Rodrigo Lobo Machado, do mesmo departamento, a consultora Sandra Lima da Silveira e a associada Liliana Almeida de Moura, do departamento de laboral, e a associada sénior Sónia Queiróz Vaz e a associada Teresa Isabel Gonçalves, do departamento de propriedade intelectual e TMT.

“Na sequência desta operação, a iCapital vai estabelecer um escritório em Lisboa que se tornará o hub global da plataforma para o desenvolvimento tecnológico e operações. Este investimento faz parte da estratégia de crescimento da iCapital, que tem planos para novos escritórios na Europa e na Ásia”, refere a Cuatrecasas em comunicado.

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BCP sobe quase 10% e dá ganhos à bolsa de Lisboa

A bolsa nacional encerrou a sessão desta quarta-feira com uma valorização superior a 1%, acompanhando as subidas da Europa. O setor da banca esteve em destaque com o BCP a subir quase 10%.

O PSI-20 valorizou 1,19% para os 4.417,72 pontos, após uma queda de 1,37% na sessão anterior. A beneficiar a negociação bolsista na Europa esteve a notícia de que a vacina da Pfizer/BioNTech registou uma eficácia de 95% nos resultados finais, o que levará a empresa a pedir a aprovação dos reguladores nos próximos dias.

A maior subida da sessão lisboeta foi registada pelo BCP, cujas ações subiram 9,87% para os 11,35 cêntimos, caminhando para mais uma semana de ganhos acima de 10% após ter subido mais de 30% na semana passada. A cotada está a recuperar das fortes quedas que registou nas semanas anteriores, negociando em máximos de junho deste ano. Ou seja, ainda assim permanece abaixo do nível pré-pandemia.

A subida desta quarta-feira do BCP surge no dia em que o CaixaBank/BPI divulgou uma nota de research em que recomenda a compra de ações do banco. Os analistas antecipam que os lucros do BCP continuarão a ser pressionados, mas consideram que a ação está a negociar com “desconto” face aos pares europeus.

No entanto, com apenas quatro cotadas em terreno negativo, o BCP não foi a única cotada a puxar pelo índice nacional. A Semapa valorizou 3,45% para os 8,09 euros, a Mota Engil subiu 2,92% para os 1,4 euros — após ter ganho um novo contrato — e a Pharol somou 2,85% para os 10,84 cêntimos.

Contra a maré esteve a Ibersol, com uma queda de 1,34%, para 4,43 euros, e a REN, com uma desvalorização de 1,32%, para os 2,23 euros. A Galp e a Sonae também desvalorizaram, mas a queda foi curta. No caso da petrolífera, a negociação tem sido particularmente volátil, tendo afundado no início da pandemia por causa da queda do petróleo e recuperado parcialmente com as boas notícias das vacinas.

Na Europa, o Stoxx 600, o índice que agrega as 600 principais cotadas europeias, subiu 0,44% para os 390,52 pontos, tendo beneficiado também da renovada esperança relativamente a uma vacina contra o novo coronavírus.

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Fenprof diz que Ministério da Educação está a “encobrir” situação nas escolas

  • Lusa
  • 18 Novembro 2020

A Fenprof alerta que a situação pandémica nas escolas está a agravar-se e acusa a tutela de "encobrir a real dimensão do impacto da Covid-19 nas escolas, mantendo o clima de opacidade".

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) alertou esta quarta-feira que a situação pandémica nas escolas está a agravar-se e acusa o Ministério da Educação de “encobrir a real dimensão do impacto da Covid-19 nas escolas, mantendo o clima de opacidade”.

Em comunicado, a Fenprof reitera as “exigências de informação sobre escolas com casos de Covid-19 e procedimentos adotados, bem como a negociação das condições de segurança e saúde nas escolas que tem caráter obrigatório” e sublinha que o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, “não está acima da lei”. “Foi necessária a intervenção do tribunal para, finalmente, o ME enviar “uma (não-)resposta ao que a Fenprof requereu”, refere a federação sindical.

Segundo a Fenprof, após semanas sem responder aos seus repetidos pedidos de informação sobre quais as escolas em que existem casos de Covid-19 e, nessas escolas, que procedimentos foram adotados face a essa situação, o ME “teve, finalmente, de enviar uma resposta, na sequência da ação de intimação interposta junto do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa”.

Só que a resposta recebida, via tribunal, considera a Fenprof, é “uma não-resposta, assinada por uma licenciada em Direito e não por qualquer responsável político do Ministério da Educação”. “Uma não-resposta cujos argumentos passam por fazer crer que a Fenprof pretende obter dados que efetivamente não requereu. Ademais, essa argumentação vem pôr em causa procedimentos corretos adotados por escolas, DGAE, universidades, municípios, governos das regiões autónomas e outras entidades quando, nas mais diversas áreas, têm vindo a divulgar a existência de casos de Covid-19, por exemplo, em lares, estabelecimentos prisionais, entre profissionais de saúde”, adianta.

De acordo com a Fenprof, o ME sustenta a negação da divulgação de informação alegando que a informação solicitada se relaciona com dados pessoais relativos à saúde e que seria necessário que os docentes infetados autorizassem a sua transmissão, sustentando ainda que a mera designação das escolas já permitiria a identificação das pessoas doentes pelas comunidades educativas e, acrescenta, nos meios mais pequenos, pela população em geral.

O ME argumenta ainda, segundo a Fenprof, que esses “dados facilmente extravasariam para as redes sociais” e alega que a federação sindical já tem uma lista de escolas que atualiza no seu sítio da Internet.

Para a Fenprof, tal lista é construída com os dados confirmados por escolas, entidades públicas ou comunicação social, mas “incompleta e sem informação” relativa a procedimentos e às medidas adotadas em caso de contágio.

“Com esta não-resposta, o ME continua a encobrir a real dimensão do impacto da Covid-19 nas escolas, mantendo o clima de opacidade que adota desde o primeiro momento, provavelmente temendo que estas estejam a ser espaço de contágio com repercussão na comunidade e que, desse facto, venha a ser responsabilizado pela insuficiência das medidas de segurança sanitária que, à margem da negociação a que estava obrigado, impôs”, conclui a Fenprof.

Segundo a Fenprof, com o intuito de fugir ao esclarecimento, o governo “não hesita em optar por um caminho que pode vir a criar problemas às escolas, à DGAE e a outras entidades, nomeadamente porque muitas escolas “têm e bem” divulgado nos respetivos sites, redes sociais ou por outros meios a existência de casos de Covid-19, identificando as turmas ou anos de escolaridade.

A Fenprof contrapõe ainda à argumentação do ME que a DGAE, há cerca de duas semanas, criou “uma plataforma onde as escolas identificam os casos positivos de Covid-19 e casos de quarentena (isolamento profilático) decorrentes de contactos de risco, determinados e comunicados pelas Autoridades de Saúde e também identifica os casos positivos já recuperados”, questionando se aqueles que constituem casos positivos autorizaram essa identificação.

Entre outras situações, a federação sindical lembra que as instituições de ensino superior divulgam regularmente boletins epidemiológicos próprios, onde são identificados os casos e referidas as faculdades e/ou departamentos e/ou escolas em que se registam casos de Covid-19 e a sua evolução, o que rebate a argumentação do ME.

A Fenprof conclui assim que a “não-resposta do ME confirma que os seus responsáveis preferem continuar a encobrir o que realmente se passa nas escolas, em vez de agirem, como se exigia, de forma clara e transparente”.

Apesar dessa prática de encobrimento, é indisfarçável que o número de escolas com casos de Covid-19 tem vindo a aumentar de uma forma acelerada, havendo a registar um número crescente de alunos, professores e trabalhadores não docentes infetados“, denuncia a federação, revelando que dados que recolheu indicam que já são quase 830 as escolas que tiveram ou têm casos ativos de covid-19 no presente ano escolar.

A Fenprof diz que é “notório o aumento de casos em professores” e que já contabilizou “mais de duas centenas”, mas alerta que quanto às escolas e aos docentes estes números são “certamente mais baixos do que os reais, que continuam a ser escondidos pelo ME” e propõe a criação de um protocolo que estabeleça procedimentos semelhantes para situações idênticas, conferindo coerência aos mesmos e pede que sejam realizados testes a todos os que, nas escolas, estiveram próximos de pessoas infetadas.

Lembra ainda que, apesar de o governo ter anunciado a realização de testes rápidos nas escolas, estas “continuam sem receber qualquer informação sobre o assunto”, pelo que insiste na obrigação de os responsáveis do ME cumprirem as leis, designadamente as que o obrigam a negociar com as organizações sindicais as condições de segurança e saúde no trabalho e a fornecer informação sobre a covid-19 nas escolas. “É lamentável que o ME viole a lei, desvalorize os sindicatos e desrespeite os professores, mas esses também serão motivos que levarão os professores a lutar”, adverte a Fenprof.

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Advogados arrasam proposta do Chega! de agravamento das penas por corrupção

O partido Chega quer alterar a moldura penal dos crimes de corrupção ativa e passiva para 16 anos, mas a Ordem e advogados mostram-se contra mudança.

Cinco vezes mais anos de prisão do que atualmente o Código Penal permite. Este é o ‘castigo’ que André Ventura considera que os condenados por corrupção — ativa e passiva — deverão passar a ter, aquando a condenação. Em causa um projeto de lei do partido Chega!, que prevê o agravamento das molduras penais mínimas e máximas dos crimes de corrupção ativa e passiva. Mas, tanto a Ordem dos Advogados (OA) como advogados de contencioso – contactados pela Advocatus – mostraram-se frontalmente contra esta proposta de alteração legislativa.

A justificação de André Ventura passa por este deputado, também ele advogado, considerar que em Portugal há um “verdadeiro clima e impunidade em matéria de corrupção, tráfico de influências e criminalidade económica em geral” e por isso defende que o aumento das penas pode funcionar como um meio preventivo.

“O aumento das penas não garante, por si só, a diminuição do número de crimes ou a sua gravidade. Não resolve, per si, todos os problemas associados ao fenómeno dilacerante da corrupção em Portugal. No entanto, conforme demonstram variados estudos, pode ser um fator dissuasor e preventivo importante, relevando enquanto elemento preventivo“, lê-se no projeto de lei.

Mas quais são as molduras penais que o partido quer agravar? O artigo 373.º do Código Penal (CP) refere-se ao crime de corrupção passiva e pune com pena de prisão de um a oito anos ou de um a cinco anos, dependendo das circunstâncias. Neste crime o partido de André Ventura propôs que passa-se a ser punido com pena de prisão de cinco a 16 anos e de dois a oito anos. E ainda propôs uma sanção acessória que impede o exercício de cargos políticos durante dez anos.

Já sobre o crime de corrupção ativa (artigo 374.º CP), o partido quer aumentar a pena para dois a dez anos ou até cinco anos ao invés do atualmente consagrado de um a cinco anos ou até três aos de prisão.

A Ordem dos Advogados (OA) emitiu uma parecer, solicitado pela Assembleia da República, e mostra-se contra a proposta do partido da André Ventura, referindo que com este aumento está a colocar-se ao mesmo nível de sanção um crime contra o Estado – de corrupção passiva – e um crime contra a vida humana – homicídio simples.

“A agravação desmesurada e desgarrada de uma moldura penal porque o legislador tem uma perceção de que existe ‘um verdadeiro clima de impunidade em matéria de corrupção’ traduzir-se-á, com o devido e merecido respeito, numa causa de desequilíbrios no sistema penal, baseada em meros estados de alma”, lê-se no parecer da OA.

Considerando ainda que se tem vindo a trabalhar legislativamente nesta matéria ao longo dos anos e que a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção demonstra o esforço nesta área, a OA afirma que “bater primeiro e perguntar depois” não pode ser a forma de organizar a sociedade. Desta forma, considera que o “direito penal deve atuar como último ratio, depois de esgotadas todas as outras formas de combate a crime”.

A juntar a esta posição da Ordem dos Advogados, a Advocatus contactou ainda cinco advogados especialistas em matérias penais de alguns dos principais escritórios. Cuja opinião é unânime: são contra a proposta do Chega. Conheça aqui as suas respostas.

Francisco Proença de Carvalho, sócio da Uría Menéndez-Proença de Carvalho

Francisco Proença de Carvalho, sócio da Uría Menéndez-Proença de CarvalhoHenrique Casinhas 14 outubro 2019

“Não há razão objetiva para que a moldura penal seja alterada. Basta analisar a sucinta exposição de motivos desse Projeto de Lei para se constatar que o mesmo não se baseia em qualquer fundamento jurídico objetivo e minimamente estudado, mas é apenas uma afirmação política assente em perceções genéricas e não comprovadas sobre o fenómeno da corrupção em Portugal. Parece-me que as leis não devem ser alteradas exclusivamente com base em perceções. O caminho mais simplista é sempre o de alterar a lei para se aumentar as penas e com isso se criar, momentaneamente, uma perceção na comunidade de que se está a combater a corrupção com maior veemência. Nada mais falacioso. O fenómeno da corrupção combate-se, essencialmente, através da educação, do Compliance e dos mecanismos adequados de investigação. Ora, ao contrário da perceção que erradamente se vai promovendo, Portugal tem um sistema de combate a este tipo de criminalidade que, regra geral, está alinhado com a legislação produzida pelas organizações internacionais e um sistema punitivo semelhante à generalidade dos países democráticos ocidentais comparáveis.

"O ordenamento penal não deve ser observado e alterado de uma forma desintegrada sem se atender ao seu conjunto e à sua lógica.”

Francisco Proença de Carvalho

Sócio da Uría Menéndez-Proença de Carvalho

Está também atualmente em discussão a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção 2020-2024 que pretende melhorar o sistema preventivo e os mecanismos de investigação, não se vislumbrando nenhum benefício numa alteração da moldura penal que contrarie toda a lógica do sistema penal português que, regra geral, me parece equilibrado e de acordo com uma saudável tradição humanista.

Por fim, o ordenamento penal não deve ser observado e alterado de uma forma desintegrada sem se atender ao seu conjunto e à sua lógica. Ora, a aprovação desta alteração faria com que este crime pudesse ter uma moldura penal significativamente superior a vários crimes violentos, como por exemplo, o rapto, a violação, o abuso sexual de crianças e equiparável a um homicídio. Por maior importância que tenha, não se pode comparar a corrupção ao valor da vida.”

Paulo Sá e Cunha, sócio da Cuatrecasas

Paulo Sá e Cunha, sócio da CuatrecasasHugo Amaral/ECO

“A minha opinião relativamente ao Projeto de Lei do Chega quanto ao agravamento das penas dos crimes de corrupção passiva e de corrupção activa (respetivamente arts. 373.º e 374.º do Código Penal) é inteiramente concordante com a expressa no Parecer do Conselho Geral da Ordem dos Advogados, de 3 de novembro.

Em primeiro lugar, as premissas de que parte a iniciativa legislativa do Chega são grosseiramente erradas. Não há qualquer brandura das penas cominadas a estes crimes e, a haver algum sentimento de impunidade junto da opinião pública quanto à repressão penal destes crimes, esse sentimento é certamente alimentado e empolado por alguma comunicação social mais sensacionalista e por correntes de opinião – em que pontificam certos opinion makers de credenciais e representatividade muito duvidosa, a quem os media dão palco. Embora o Projeto de Lei o invoque na exposição de motivos, não está demonstrada a relação direta entre o aumento das penas e a sua real eficácia preventiva (dissuasora). Ademais, as justificações apresentadas relevam de um discurso demagógico e populista, que pode agradar aos incautos e render votos, mas que, do ponto de vista da política criminal, é completamente imprestável.

"As justificações apresentadas relevam de um discurso demagógico e populista, que pode agradar aos incautos e render votos, mas que, do ponto de vista da política criminal, é completamente imprestável.”

Paulo Sá e Cunha

Sócio da Cuatrecasas

Em suma, o atual regime penal dos crimes de corrupção (e afins) é exaustivo, tipificando praticamente todas as formas concebíveis de cometimento destas infrações, e é, no que respeita às molduras abstratas cominadas, adequado e proporcional à tutela penal do bem jurídico protegido (recorde-se que a pena da corrupção passiva qualificada pode, no seu máximo, exceder os 10 anos de prisão). Os prazos de prescrição de todos os crimes desta categoria (independentemente das suas molduras abstratas) – é bom recordá-lo também – foi, desde 2010, ampliado para 15 anos.

Com isto não quero dizer que, em tese, seja contra a ideia de uma revisão geral das penalidades do sistema penal português. Mas essa revisão geral terá que ser feita de forma global e sistemática, no estrito respeito pela hierarquia constitucional dos bens jurídicos e sempre norteada pelos princípios fundamentais do Direito Penal, em particular o princípio da intervenção mínima. A esta luz, a gravidade máxima das penas terá sempre que tomar por padrão a pena cominada à lesão do bem jurídico vida, seguido dos bens jurídicos de natureza pessoal e assim sucessivamente. Quaisquer intervenções de natureza pontual correm o risco de introduzir disfunções graves no nosso sistema penal e deverão ser evitadas”

Paulo Saragoça da Matta, sócio da Saragoça da Matta & Silveiro de Barros

Paulo Saragoça da Matta, sócio fundador da Saragoça da Matta & Silveiro de BarrosPaula Nunes 24 Maio, 2016

“A alteração do art.º 373º n.º 1 e do n.º 2 do CP com uma alteração para o quíntuplo do limite mínimo e para o dobro no limite máximo é pura e simplesmente um absurdo técnico-jurídico, uma incongruência com o sistema valorativo e teleológico plasmado no todo do Código Penal.

Com efeito, é sabido, é básico, é “dos livros”, que a “moldura penal” reflete o grau de ilicitude abstrata de um conduta tal como percecionada e sentida por uma sociedade. Assim que seja usada a moldura penal abstrata para fixar a gravidade relativa dos tipos penais entre si, dentro do “livro negro”. Logo, mexer numa moldura penal topicamente, desgarradamente, só pode ocorrer se se desconsiderar totalmente: a relação desse tipo com os demais tipos que tutelam os mesmos bens jurídicos; a relação desse tipo penal com os tipos penais que tutelam outros bens jurídicos particularmente mais valiosos ou menos valiosos numa sociedade.

"Estabelece uma aproximação nunca vista e totalmente indesejada à tutela do bem jurídico-pessoal mais valioso de todo o sistema.”

Paulo Saragoça da Matta

Sócio da Saragoça da Matta & Silveira de Barros

O proposto traz o crime de corrupção para o patamar mínimo da “ilicitude” do homicídio simples, p. e p. no art.º 131º, para um patamar muito superior ao do homicídio negligente e até do homicídio a pedido da vítima. Por outras palavras, estabelece uma aproximação nunca vista e totalmente indesejada à tutela do bem jurídico-pessoal mais valioso de todo o sistema, como se um ato corruptivo possa ser valorado sócio-juridicamente do mesmo modo que alguns homicídios, e quase igual ao homicídio “base”. Por outro lado, cola a ilicitude da corrupção ao desvalor de atos de ofensas à integridade física graves. Já para não dizer que desgarra o crime em questão (373º n.º 1) do “desvalor” sócio-jurídico dado pelo próprio código a outros tipos de crime da mesma “secção e título”, que tutelam os mesmos bens jurídicos.

Tudo porquanto considero um total absurdo técnico-jurídico, sem sequer ser necessário perguntar, debater, questionar a vexata quaestio relativa a saber se a moldura penal abstrata tem ou não algum efeito dissuasor, sabendo que há internacionalmente estudos para todos os gostos. Recordarei, apenas, o legislador, de que não é pelo facto de em alguns Estados se prever a pena de prisão perpétua e a pena de morte que os ilícitos assim punidos desapareceram ou sequer “reduziram” a sua expressividade (por todos, os homicídios na maioria dos Estados do EEUU).

Nada me leva a criticar o n.º 3, bem ao invés. Apenas gostaria de saber a que “agentes” é que se aplicará tal sanção acessória…

Tudo o que disse vale, mutatis mutandis, para as alterações previstas para o 374º: a passagem de 1 a 5 para 2 a 10 é totalmente incompreensível, injustificada, geradora dos desequilíbrios jus-axiológicos atrás apresentados.”

Rui Patrício, sócio da Morais Leitão

Rui Patrício, sócio da Morais LeitãoPaula Nunes /ECO

Já cansa tanta alteração legislativa ao longo das últimas décadas e tanto ruído superficial e parcial sobre os temas, dia sim dia não, como se os problemas se resolvessem com alterações legislativas constantes ou com gritaria, e como se perante cada alarido da opinião pública, noticiosa ou publicada se tivesse que ir a correr mexer na lei. A questão da corrupção, que são aliás várias questões (nomeadamente (i)a perceção sobre o fenómeno, (ii) o fenómeno real, (iii) a prevenção e a (iv) repressão, sendo que neste último há que também fazer um verdadeiro escrutínio do sistema de justiça, que não é feito, o que há é folclore e relatos fáceis e baratos sobre pedaços de processos, não há escrutínio dos processos e do sistema) não se resolve com constantes mexidas na lei, nem com a aparência de discussão superficial e barulhenta sobre os temas, quase sempre presa a soundbytes, impressões, opinião biliosa e espetáculo, o que aliás até cria mais e mais problemas. Já cansa, tanto ruído e tanto mais efeito do ruído. Sei que vivemos na era das redes sociais, em que o pensamento tende a seguir esse padrão, mas há que dizer que coisas que não se coadunam com meias frases, likes e a rapidez e a economia de um post ao sabor do andamento. Servirá de pouco dizer isto, e será mais uma vez alvo de processos de intenção, mas há que dizê-lo. E há que parar um pouco para pensar.

Tiago Félix da Costa, sócio da Morais Leitão

Tiago Félix da Costa, Partner da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados, em entrevista ao ECO/Advocatus - 09JUN20“Sim e não. Os limites mínimos e máximos das penas concretizam, por um lado, as finalidades das próprias penas, designadamente, de prevenção geral (para a comunidade) e prevenção específica (para o autor do crime) da prática de crimes idênticos ou de idêntica natureza e, por outro, esses limites devem traduzir uma valoração implícita dos bens jurídicos de e para a comunidade. A uma pena com limites mais elevados corresponderá uma valorização da importância do bem jurídico a proteger, como bem essencial para o desenvolvimento da vida em comunidade. E, assim, é possível admitir que, à uma, poderá existir um aumento da prevenção associada ao agravamento da moldura das penas dos crimes de corrupção e, à outra, assiste-se a uma crescente valorização e repúdio dos fenómenos corruptivos.

Mas não concordo com a medida agravamento proposto. Não só porque me parece que os limites propostos sejam proporcionais – isto é, o sacrifício que impõem não se traduzirá num aumento de igual medida da prevenção desses crimes –, como tenho muitas dúvidas de que traduzam verdadeiramente a valoração implícita da comunidade quantos aos bens jurídicos essenciais a proteger. Se se perguntar a qualquer cidadão se considera que um crime de corrupção deve ser comparável, em termos de penas a aplicar, a um crime de homicídio, a resposta será muito provavelmente não. Aliás, já era tempo de o legislador, com ponderação e análise aprofundada, procurar dar uma coerência aos limites mínimos e máximas das penas dos tipos criminais na nossa ordem jurídica, procurando traduzir verdadeiramente as necessidades globais de prevenção e combate à criminalidade e, simultaneamente, traduzir aquilo que somos e valorizamos enquanto comunidade. Mas, enfim, agravar penas seletivamente será sempre um caminho mais fácil.”

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Este fim de semana mantém-se recolher obrigatório em 191 concelhos. Escalões de risco só no novo estado de emergência

As medidas que o Governo está a estudar para dividir o país em três grupos de risco destinam-se a um eventual novo estado de emergência.

Os novos escalões para os concelhos onde há mais risco de propagação do vírus, que o Governo está a estudar aplicar, destinam-se a um novo eventual estado de emergência. Desta forma, neste fim de semana deverão manter-se as restrições que abrangem 191 concelhos do país e que impõem um recolher obrigatório às 13h.

Foi o deputado do PEV, José Luís Ferreira, que adiantou esta terça-feira o que o Governo tinha nos planos, depois de se reunir com o Presidente da República. O deputado explicou que estava em estudo uma divisão dos concelhos em maior risco entre três escalões: de 240 a 480 casos por 100 mil habitantes, de 480 a 960 casos e mais de 960 casos.

Seria apenas no escalão mais elevado que seriam aplicadas restrições mais apertadas, como aquelas previstas para este fim de semana, adiantou também José Luís Ferreira. Ficou a dúvida se as alterações teriam efeito já neste final de semana. Questionado pelo ECO, o partido esclareceu que estas medidas estão a ser pensadas para um eventual novo estado de emergência.

O estado de emergência atual está em vigor até à próxima segunda-feira, dia 23 de novembro, com as medidas já conhecidas para os concelhos de maior risco, que impõem recolher obrigatório às 23h nos dias de semana e às 13h no fim de semana.

Existe a possibilidade de renovação deste estado de emergência por mais 15 dias, sendo que o Presidente da República está a ouvir os partidos sobre o assunto. O mais provável é que Marcelo Rebelo de Sousa opte pela renovação, segundo adiantaram os partidos à saída das reuniões. A Assembleia da República já está preparada para esta possibilidade, tendo pré-agendado para esta sexta-feira às 09h00 o debate e votação de uma eventual renovação do estado de emergência.

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Governo terá papel “fundamental” no fim das moratórias bancárias

Comissão Europeia diz que os bancos devem preparar-se para um aumento do malparado assim que as moratórias terminarem. Considera que as autoridades terão um papel "fundamental" nessa transição.

É mais um alerta a juntar-se aos muitos que já foram lançados por várias entidades, incluindo os próprios bancos. Com o fim das moratórias bancárias, os bancos deverão registar um aumento significativo dos créditos em incumprimento, podendo colocar em causa a sua estabilidade. Para evitar esses riscos, o Governo português tem de assumir um “papel relevante” na transição do regime das moratórias, considera a Comissão Europeia.

“Medidas como as moratórias no crédito aliviaram o impacto inicial da pandemia no sistema financeiro por um lado, enquanto garantiram, por outro, que não fosse ampliado o impacto adverso na economia”, diz a comissão no relatório sobre a 12.ª avaliação pós-programa que fez a Portugal.

Porém, como a pandemia ainda se desenvolve, “o impacto económico final só se tornará visível com um atraso, especialmente quando as moratórias terminarem“, acrescentam os especialistas.

Nesse momento, deverão aumentar as insolvências e muitas famílias e empresas não terão condições de pagar os seus empréstimos, deixando os bancos à mercê de um aumento de crédito em incumprimento.

A Comissão Europeia diz que é importante que as instituições financeiras façam o seu trabalho de casa: avaliem antecipadamente as condições financeiras de cada cliente e reforce as provisões para eventuais perdas nos créditos. Mas Bruxelas também releva a atuação das autoridades, incluindo o Governo. “Terão um papel fundamental para garantir uma saída gradual da moratória e outras medidas”, considera.

O ministro da Economia já avisou que não planeia prolongar o prazo das moratórias para lá de 30 de setembro de 2021, e prometeu apresentar “soluções sistémicas para reforçar os capitais próprios das empresas e também para começar a lidar com os problemas de reestruturação e de liquidação” durante primeiro semestre do próximo ano.

Os banqueiros também não querem um prolongamento do regime das moratórias, devendo-se dar prioridade a medidas de reforço dos capitais próprios das empresas.

De acordo com os dados apresentados pelo Banco de Portugal, as instituições financeiras aplicaram as medidas de apoio previstas nas moratórias de crédito a 751.725 contratos, com as famílias a representarem a maior “fatia” do total.

No caso das empresas, em setembro 31% do montante total de empréstimos concedidos a empresas beneficiavam de uma moratória, destacando-se as empresas de alojamento e restauração com cerca de 55% do montante de empréstimos concedidos ao setor a estar abrangido por moratórias.

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BE avisa que novas restrições exigem apoios “mais fortes”

À saída de uma reunião em Belém, a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) avisou que novas restrições têm de ser acompanhadas de apoios sociais e económicos "mais fortes".

A coordenadora do Bloco de Esquerda insistiu que “medidas de restrição exigem medidas de apoio económico e social” e confirmou que o Presidente da República está a ponderar “prorrogar o estado de emergência”, dado que “a situação continua bastante preocupante e a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde ainda é muito grande”.

Catarina Martins falava à saída de uma reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, escusando-se a revelar qual será o sentido de voto do partido face a essa eventual extensão: “O BE decidirá o seu voto na análise do texto do decreto, ainda que seja certo que compreendemos que sejam necessárias medidas, porque temos de preservar a capacidade de resposta da Saúde”, disse, em declarações transmitidas pela RTP3.

Porém, a coordenadora bloquista apelou a que novas medidas sejam comunicadas com mais clareza e aplicadas de forma coerente, pois “tem faltado muita coerência nas medidas”, afirmou. Além disso, Catarina Martins disse que novas medidas terão de ser acompanhadas de novos apoios económicos e sociais “mais fortes”, visto que “há setores económicos em rutura”. “O Governo tem tentado fazer tudo pelos mínimos, mas esta crise não é mínima”, voltou a criticar.

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