Sonae IM vende participação na Saphety

A empresa do Grupo Sonae, liderada por Eduardo Piedade, vendeu a participação que tinha na portuguesa Saphety. Uma operação que, explica, faz parte da sua estratégia de gestão.

A Sonae Investment Management (Sonae IM) vendeu a participação que tinha na Saphety aos membros da sua equipa de gestão, apoiados pela Oxy Capital. A presença no capital desta tecnológica portuguesa já vem desde a sua criação há mais de dez anos. Esta venda faz parte da estratégia da Sonae IM em investir em empresas tecnológicas e, mais tarde, “vender para gerar mais-valias”.

É oficial. A Sonae IM, juntamente com a AITEC e o BPI, vendeu todas as ações que tinha na Saphety à sua equipa de gestão. Esta empresa nacional oferece soluções software-as-service para faturação eletrónica e conta com escritórios em Portugal, Brasil e Colômbia. Estava no portefólio do Grupo Sonae desde que foi criada, “resultado de um spin-off há mais de dez anos”, lê-se no comunicado.

“Esta transação está integrada na estratégia de gestão ativa de portfólio da Sonae IM. A nossa atividade passa por investir em empresas tecnológicas, apoiar no seu crescimento, internacionalização, e vender mais tarde para gerar mais-valias, como neste caso. Estamos bastante satisfeitos pela equipa de gestão da Saphety ter tido a iniciativa de dar este passo em conjunto com a Oxy Capital”, refere Eduardo Piedade, CEO da Sonae IM, em comunicado.

Do lado da Saphety, Rui Fontoura, CEO, garante que esta “prosseguirá a estratégia de crescimento no mercado global, contando para o efeito com uma equipa dedicada e altamente qualificada”. “À Sonae IM agradecemos a oportunidade de concretizar esta aquisição. Um agradecimento final à Oxy Capital por ter acreditado no projeto e na equipa Saphety“, acrescentou.

Os novos parceiros, a sociedade gestora de fundos de investimento presentes em Portugal, mostram-se satisfeitos com esta operação, que foi realizada através do fundo Oxy Capital II. “Vemos com otimismo a continuação do desenvolvimento da Saphety como entidade de referência de faturação eletrónica para milhares de empresas em Portugal e no exterior”, comentou Gonçalo Mendes, partner da Oxy Capital.

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Lucros da Associação Mutualista afundam 99%. Ganha 1,6 milhões de euros

Pelo segundo ano consecutivo, mutualista volta a apresentar lucros graças aos ativos por impostos diferidos. Resultado é positivo, mas afundou.

A Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) viu o lucro afundar 99% no ano passado, para apenas 1,63 milhões de euros, uma variação que é sobretudo explicada pelos créditos fiscais de mais de 800 milhões de euros que inflacionaram o resultado da instituição liderada por Tomás Correia em 2017. Mas, mais uma vez, são estes ativos por impostos diferidos que evitam que a mutualista apresente resultados negativos.

Este resultado diz respeito às contas individuais a que o ECO teve acesso e que a AMMG se prepara para levar à assembleia geral de associados agendada para o final deste mês, estando em linha com o programa de ação e orçamento para 2019 apresentado no final do ano passado.

Em 2017, a mutualista reportou um lucro de 587,5 milhões de euros numa base individual, isto depois de ter registado ativos por impostos diferidos (DTA, na sigla em inglês) no montante de 808,6 milhões de euros que foram gerados pelos prejuízos fiscais e provisões para produtos mutualistas. Estes DTA representam o direito a um valor económico de uma potencial dedução fiscal futura e ficam registados no balanço do ano como ativos — embora a instituição só possa usufruir desta benesse fiscal na conta de resultados no futuro se, e quando, apresentar lucros tributáveis.

Agora, no relatório e contas de 2018, a AMMG voltou a registar mais DTA, mas numa dimensão significativamente menor, de apenas 8,4 milhões de euros, decorrendo das provisões matemáticas (espécie de “almofada” financeira que acautela as responsabilidades futuras relativas aos produtos da associação) que foram constituídas e dos prejuízos fiscais reportáveis.

Sem esta “benesse fiscal”, a mutualista teria registado prejuízos de mais de seis milhões de euros no ano passado.

De acordo com o programa de ação e orçamento para 2019, estava previsto um lucro de 1,7 milhões, sustentado sobretudo na expectativa de reversão de 42 milhões de euros da imparidade constituída em 2015 e 2017, no montante de 498 milhões de euros, para o Banco Montepio, devido à melhoria do desempenho do banco, o que iria ter um impacto nos resultados da mutualista. Ainda assim, essa expectativa não se concretizou, com a AMMG a manter o valor da participação no banco em 1.878 milhões de euros, deixando inalterada a imparidade de quase 500 milhões, conforme diz no relatório e contas individual. O banco liderado por Dulce Mota deverá apresentar resultados brevemente.

De resto, esta avaliação de 1.878 milhões de euros do banco nas contas da mutualista tem levantado várias reservas da parte dos auditores. A KPMG, responsável pela auditoria às contas da AMMG, deixou esse alerta no ano passado. Do relatório e contas deste ano que chegou às mãos dos conselheiros gerais ainda não constava o parecer dos auditores, nem do conselho fiscal.

A AMMG espera vir a aumentar os lucros este ano, tendo inscrito um resultado positivo de 44 milhões de euros no plano de ação e orçamento para 2019.

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Afinal, quem tem de avaliar idoneidade de Tomás Correia?

Braço de ferro entre ASF e Governo continua e o Código das Associações Mutualistas parece ter criado um vazio legal. Jurista admite que Código tem uma redação pouco clara, "confusa e insuficiente".

O novo Código das Associações Mutualistas (CAM) tem dado azo a um debate aceso e pouco consensual: afinal, qual é a entidade que tem a capacidade para avaliar a idoneidade de Tomás Correia? O Governo diz que cabe à Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF); a ASF diz que, por lei, não lhe compete essa função.

A leitura do código é, na verdade, pouco clara, conta ao ECO Alexandra Valente, advogada de direito financeiro. Analisando-o ponto a ponto, admite que a supervisão não é explícita, mas que ASF tem mesmo responsabilidades.

Braço de ferro intensifica-se

As posições contraditórias entre o Governo e a entidade que regula o setor regulador continuam a extremar-se. Mas que argumentos têm usado para se defenderem? Vamos por partes.

De um lado, tem estado o presidente da ASF, José Almaça já afirmou que “o assunto da idoneidade não tem que ver com a ASF no período transitório”, fixado em 12 anos para adaptação ao novo regime de supervisão previsto, que passa a “ser-lhes plenamente aplicável a partir dessa data”, pode ler-se no artigo 6.º do CAM.

Ainda esta sexta-feira a entidade que regula as seguradoras voltou a reforçar que não tem “competências legais” para avaliar a idoneidade ou a qualificação de gestores em mutualistas.

Do outro lado o Governo, com o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva, a afirmar esta terça-feira que o código “é muito claro”: cabe ao regulador de seguros a supervisão das instituições, não sendo por isso necessário clarificar a lei.

Em causa tem estado o papel da ASF e a sua capacidade para avaliar a idoneidade de Tomás Correia, presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), que foi multado em 1,25 milhões de euros pelo Banco de Portugal, multa respetiva à altura em que era presidente do banco Montepio.

O próprio Tomás Correia já tinha feito saber em janeiro que, na sua opinião, enquanto as mutualistas estiverem no período de transição, não se aplicam as regras do setor segurador e, por isso, não cabe à ASF avaliar a sua idoneidade, mas à assembleia-geral da mutualista. E recusou que fosse uma interpretação sua. “Sei é ler o código”, disse aos jornalistas, depois de ter sido reeleito.

Os opositores de Tomás Correia convergem com a posição do Governo. António Godinho e Fernando Ribeiro Mendes, que concorreram nas últimas eleições à AMMG, já tinham adiantado ao ECO que Tomás Correia se deve afastar imediatamente para proteger a instituição aos riscos reputacionais que podem advir de uma condenação do Banco do Portugal.

Antes disso, o ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e o ministério das Finanças emitiram um comunicado onde entendem que o regulador dos seguros já dispõe desses poderes de avaliar se determinado gestor preenche os requisitos para exercer funções numa associação mutualista. E apontavam para uma das alíneas do número 5 do artigo 6º do novo Código das Associações Mutualistas (CAM), que entrou em vigor em setembro:

  • f) Analisar o sistema de governação e os riscos a que as associações mutualistas estão ou podem vir a estar expostas e a sua capacidade para avaliar esses riscos, por referência às disposições legais, regulamentares e administrativas em vigor para o setor segurador.

Para os dois ministérios, “estas disposições incluem, no entendimento do Governo, a análise sobre matéria da idoneidade dos membros dos órgãos de administração das associações mutualistas abrangidas pelo regime transitório de supervisão previsto no CAM”.

Mas, afinal, quem tem razão? E o que é que este código define? Estará o argumento do Governo, baseado na alínea f) do artigo 6º, certo? Ou o período transitório de 12 anos muda o cenário, como defende a ASF? Ao ECO, juristas que pediram o anonimato analisam o Código, ponto a ponto, e ajudam a desmistificar.

O que diz o CAM, afinal?

Uma jurista que é sócia do departamento financeiro de uma das mais relevantes sociedades admite que o CAM tem uma redação pouco clara, “confusa e insuficiente”. Ainda assim, a advogada explica ao ECO que, de facto, a AMMG só estará sujeita à supervisão da ASF “findos os 12 anos do período transitório”.

Porém, o tão citado artigo 6º do CAM atribui alguns poderes à ASF que deverão ser exercidos sobre as associações mutualistas supervisionadas durante os 12 anos do período transitório, “sem prejuízo das competências do ministro com o pelouro da segurança social”.

Um desses poderes atribuídos à ASF no período transitório vem referido na tal alínea f) do artigo 6.º. Segundo outro advogado, “este preceito atribui à ASF o poder de analisar o sistema de governação e os riscos das associações mutualistas supervisionadas”, ou seja, o conjunto das suas normas internas e a sua adequação. “Este é um poder de análise genérico, relativamente ao sistema de governação e riscos, e não um poder de pré-aprovação pela ASF de uma candidatura específica de um membro do conselho de administração de uma Associação Mutualista Supervisionada”.

Assim, de acordo com o código, “o período transitório de 12 anos não permite à ASF estabelecer um sistema de pré-avaliação da idoneidade de um administrador nos termos em que a mesma é feita no setor financeiro ou no setor segurador”, ou seja, diferente do que sucede com o Banco de Portugal na supervisão de outras identidades bancárias, explica o advogado. Isto, porque, a pré-avaliação não está contemplada.

Mas o artigo 100 estabelece os critérios de idoneidade para a eleição de membros de um conselho de administração de uma associação mutualista. “Ou seja, qualquer candidato a membro do conselho de administração deve cumprir critérios de idoneidade — o código diz que devem ser ‘pessoas idóneas’ — sob pena de se estar a incumprir a lei”.

“Assim, neste contexto, parece-me que o conceito de idoneidade no caso de administradores de associações mutualistas supervisionadas poderá e deverá ser preenchido com as regras que se estabelecem para o setor financeiro. Ou seja, uma condenação prévia por uma entidade reguladora poderá afastar a idoneidade do candidato ao cargo”, admite o jurista.

Deste modo, dado que a ASF tem o poder de analisar os riscos a que as associações mutualistas supervisionadas podem vir a estar expostas por incumprimento da lei, “parece-nos que se deve concluir que a ASF tem o poder de analisar o risco de incumprimento pela Associação Mutualista Montepio do artigo 100 do código relativamente à eleição de Tomás Correia, ou seja, a ASF tem o poder de analisar esta candidatura e pronunciar-se sobre se a sua eleição poderá violar o artigo 100 do CAM, por falta de idoneidade”, argumenta um terceiro advogado. Ou seja, por esse ponto de vista, a ASF continua a ser a entidade que determina idoneidade de Tomás Correia, no âmbito deste artigo.

De resto, parece existir mesmo um vazio legal no CAM quanto à supervisão destas associações. O ponto 5 do artigo 6.º do CAM “atribui este poder à ASF como forma de analisar o risco de incumprimento de uma lei, mas não lhe atribui poderes de supervisão ou de bloquear a referida eleição. Este poder não é também atribuído ao Governo”, conclui.

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Capital Certo dá “rombo” de 200 milhões nas receitas da mutualista

Associação Mutualista perdeu mil associados por mês em 2018. E ficou a metade do financiamento que pretendia. O produto mutualista Capital Certo explica rombo de 200 milhões na margem associativa.

O “negócio” da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) manteve-se sob pressão em 2018. Não só se intensificou a saída de associados da maior mutualista do país, a um ritmo de mil por mês no ano passado — conta agora com 612.607 associados, o valor mais baixo em cinco anos. Mas também viu entrar menos dinheiro por via dos produtos financeiros que disponibiliza. Explicação: o produto mutualista Capital Certo, que esteve indisponível durante meio ano, e que provocou um “rombo” de 200 milhões de euros.

De acordo com os resultados individuais da mutualista a que o ECO teve acesso, a margem associativa (diferença entre os proveitos e os custos com associados) foi negativa em 191 milhões de euros — já havia sido negativa nos anos anteriores, acumulando já saídas líquidas superiores a 1.000 milhões de euros desde 2015.

Isto quer dizer que, pelo quarto ano seguido, a AMMG teve de suportar mais custos com os associados do que os proveitos que conseguiu obter deles, o que deixa as finanças da mutualista sob maior pressão.

Em 2018, foram captados “apenas” 487 milhões de euros através dos vários produtos mutualistas que são oferecidos pela associação, o que corresponde a uma redução de 31,5% (ou -224 milhões de euros) face a 2017. A AMMG previa obter o dobro, aproximadamente 970 milhões de euros. Ou seja, a meta de financiamento ficou-se pela metade num ano em que a instituição voltou a estar no centro dos holofotes mediáticos, sobretudo por causa do período eleitoral e da oposição à gestão de Tomás Correia, que voltou a vencer as eleições em dezembro do ano passado. Este ambiente terá gerado desconfiança entre os associados.

A instituição justifica que esta evolução se deve fundamentalmente à redução dos valores captados em subscrições de séries da modalidade Capital Certo, com menos 208 milhões de euros de poupanças captadas.

O Capital Certo “foi objeto de reformulação da forma de colocação aos balcões do banco, de que resultou uma menor dinâmica de subscrições”, explica a AMMG no relatório. O produto foi descontinuado em fevereiro do ano passado e só voltou em agosto já com a designação “Poupança Mutualista“, uma diferenciação que visou responder às exigências dos reguladores.

Apesar de ter captado menos poupanças, os custos da AMMG com associados caíram ainda mais (-37,6%). A instituição teve de suportar encargos na ordem dos 680 milhões de euros no ano passado (em 2017, superaram os 1.000 milhões), relacionados sobretudo com os vencimentos e reembolsos de produtos mutualistas — venceram-se 15 séries da modalidade Capital Certo.

Seja como for, a AMMG sofreu mais resgates do que teve novas aplicações no ano passado. Ainda assim, diz que não afetou a sua solidez: o rácio dos capitais próprios sobre o ativo líquido médio “manteve-se em níveis significativos” e o rácio de cobertura das responsabilidades (fundos, reservas e provisões técnicas sobre provisões técnicas) voltou a “registar um comportamento positivo” entre 2017 (1,059) e 2018 (1,250). “O valor apresentado por este indicador nos últimos anos (superior a 1) continua a refletir a capacidade da AMMG em honrar os seus compromissos futuros”, indica a instituição.

A mutualista registou um lucro de 1,6 milhões de euros no ano passado. Mas se não fosse um “benefício fiscal” através dos chamados ativos por impostos diferidos no valor de oito milhões de euros, as contas estariam no vermelho.

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Governo reforma a supervisão financeira, mas novas regras desagradam aos supervisores

Proposta deverá ser aprovada esta quinta-feira em Conselho de Ministros. O super-regulador é a base do novo modelo, cujas alterações passam também pelas funções do BdP e pela nomeação do governador.

A reforma da supervisão financeira vai ser aprovada esta quinta-feira em Conselho de Ministros, quase três anos e meio depois de ter sido anunciada pelo Governo. As mudanças têm como pilar a criação de um super-regulador através do reforço de poderes do Conselho Nacional de Supervisão Financeira (CNSF), mas os três supervisores apontam críticas aos poderes, responsabilidades e forma de financiamento do novo modelo.

O CNSF deverá passar a funcionar com sete membros, incluindo dois representantes de cada supervisor: Banco de Portugal (BdP), Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Autoridade de Seguros e Fundos de Pensões (ASF). Ou seja, mantém-se a atual modelo tripartido. A par dos reguladores, que irão partilhar a presidência deste órgão de forma rotativa e por um ano, existirá um outro elemento: um administrador executivo externo nomeado pelo Ministério das Finanças. Além disso, é criada uma nova entidade — a Autoridade de Resolução — e extinto o Conselho Nacional do Mercado de Valores Mobiliários.

Por um lado, concordam com o reforço da partilha de informação entre si, mas ainda assim veem riscos. A ASF alertou, num parecer inicial, para “eventuais acréscimos de complexidade, a redução de flexibilidade e o aumento de encargos que esta solução envolve”, acusando o Governo de não ter realizado “um diagnóstico que identifique as causas e consequências das fragilidades da atual arquitetura do sistema de supervisão financeira”.

“Qualquer sistema de supervisão deve assentar num princípio de estreita cooperação entre supervisores ou entre áreas de supervisão. Os respetivos mecanismos terão de ser tanto mais apurados quanto mais fragmentada for a supervisão e quanto maior for a distância estabelecida entre as diversas modalidades de supervisão (comportamental e prudencial) e os diversos setores financeiros”, afirmou igualmente Gabriela Figueiredo Dias, presidente do supervisor dos mercados, num discurso no final do mês passado.

O Banco de Portugal é o regulador que está menos desfavorável ao super-regulador. Em maio, o governador Carlos Costa disse no Parlamento que o reforço da coordenação dos supervisores era bem-vindo, mesmo que com um nome diferente. O alerta foi outro: “entendemos que fazemos parte de uma arquitetura europeia e os desvios entre a nossa arquitetura e a europeia são como os desvios entre a corrente fornecida num edifício e a que alimenta um aparelho elétrico”, disse.

Aumento dos custos põe reguladores em alerta

O dito “desvio” face ao que é o desenho europeu é a base das críticas do BdP, especialmente no que diz respeito a duas alterações significativas às funções do banco central nacional. As competências de supervisão e atuação sobre o sistema financeiro como um todo, ou seja, a supervisão macroprudencial, sairia da esfera do BdP para um comité dentro do CNSF.

“Segundo as orientações definidas pelo BCE neste domínio, reconhece-se que existem benefícios em acoplar as responsabilidades dos bancos centrais no Eurossistema à sua intervenção nas áreas da supervisão micro e macro prudencial, o que de resto é confirmado pelas próprias competências do BCE no MUS [Mecanismo Único de Supervisão]”, refere o parecer inicial do BdP, ainda sobre o relatório do grupo de trabalho que foi a base para a proposta do Governo que será conhecida esta quinta-feira.

Indiretamente, a mudança de funções é também a base da crítica do BdP à forma de financiamento do super-regulador. A proposta deverá indicar que este conselho tenha recursos próprios e financiamento assegurado por contribuições dos três supervisores. Estes terão liberdade de aplicar taxas aos supervisionados e o orçamento terá de ser aprovado pelo Ministro das Finanças.

O BdP lembra que os bancos centrais nacionais estão impedidos de financiar entidades do setor público (devido à proibição do financiamento monetário). Não haveria qualquer problema se as funções forem classificadas como central bank tasks, mas haveria um problema de incompatibilidade se estas forem transferidas para uma nova entidade pública e classificadas como government tasks.

Os outros dois supervisores também criticam o modelo de financiamento, focando-se nos custos para os agentes do sistema financeiro. “Qualquer alteração ao modelo de supervisão deve orientar‐se para o objetivo de alcançar o melhor resultado possível, em termos de eficácia e eficiência e de robustecimento das autoridades envolvidas, com o menor custo possível imputado aos supervisionados, devendo sempre ser selecionadas as alternativas que permitam assegurar um determinado resultado com menos encargos”, afirmou Gabriela Figueiredo.

Intervenção das Finanças? Sim e não

Outro dos pontos principais é a maior intervenção do Governo, especificamente do Ministério das Finanças, na supervisão. Esta é bem-vinda no que diz respeito à resolução da banca, mas não tanto na escolha do administrador do CNSF. Carlos Costa considera que faz sentido “progredir no sentido de institucionalização e envolvimento efetivo do Ministério das Finanças” na estabilidade financeira, como disse no Parlamento.

A reforma da supervisão financeira surgiu exatamente de conflitos de interesses que se levantaram aquando da liquidação dos bancos BES e Banif. Agora, a resolução bancária poderá passar do BdP para um departamento autónomo dentro do super-regulador, que é liderado pelo administrador executivo indicado pelas Finanças. Na prática, seria o Governo a ter a última palavra em casos de medidas de resolução a bancos que tenham impacto nas contas públicas. O BdP e a CMVM concordam com esta separação de poderes.

Há, no entanto, uma nuance: a ASF não quer pagar por estas funções. “Não ignorando que um processo de resolução bancária tem efeitos diretos e indiretos nas entidades e atividades supervisionadas pela ASF e CMVM, considera-se não ser adequado que os custos de financiamento dessas funções, incluindo o de gestão do fundo de resolução, sejam imputados de forma tripartida aos supervisores sem qualquer outro elemento de ponderação para além da proporção face aos orçamentos de supervisão”, refere o parecer do supervisor dos seguros.

No entanto, os reguladores alertam para os riscos da participação das Finanças na gestão do CNSF. Mesmo sem se referir especificamente ao assunto, a presidente da CMVM defendeu: “Um modelo de supervisão financeira deve assegurar em absoluto a independência dos reguladores, não só em relação ao poder político como em relação a qualquer possibilidade de interferência de quaisquer entidades externas ou supervisionadas no processo de decisão do regulador”.

Apesar de as linhas gerais já serem conhecidas, os pormenores da reforma da supervisão financeira serão conhecidos apenas depois de o documento ser aprovado pelo Governo (sendo que até lá pode ainda sofrer alterações) e enviado para o Parlamento. O tema já esteve para ser discutido em Conselho de Ministros, mas foi adiado (até porque o BCE não cumpriu a data de 11 de fevereiro para enviar um parecer ao Governo, ao contrário do que aconteceu com os supervisores portugueses). Como confirmou o primeiro-ministro, será discutido esta quinta-feira.

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5 coisas que vão marcar o dia

Conselho de Ministro vai aprovar uma nova lei de supervisão bancária. No Parlamento, Centeno vai esclarecer o pedido do Novo Banco de mais uma injeção de capital do Fundo de Resolução.

O Conselho de Ministro vai aprovar uma nova lei de supervisão bancária. A separação entre quem faz a supervisão e as entidades de regulação é uma das novidades. No Parlamento, a agenda está muito preenchida. Após o debate quinzenal, o ministro das Finanças vai prestar esclarecimentos sobre o novo pedido do Novo Banco feito ao Fundo de Resolução para injetar 1,14 mil milhões de euros. À tarde, o ex-ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, será ouvido no âmbito dos CMEC.

Governo aprova reforma da supervisão financeira

O Conselho de Ministros irá aprovar uma nova lei de supervisão bancária que, entre outras matérias, fará a separação entre quem faz a supervisão e as entidades de regulação. “Corta pela raiz o problema, porque faz a separação que deve existir entre Banco de Portugal [BdP], entidade de supervisão, e as entidades de resolução que têm de administrar e gerir bancos que estejam em eventual resolução”, disse António Costa. A proposta da reforma da supervisão financeira cria uma autoridade de resolução, autónoma do Banco de Portugal, que será administrada por cinco membros, dois do banco central, um da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), outro do Autoridade dos Seguros e Fundos de Pensões (ASF) e outro cooptado entre todos no Conselho Nacional de Supervisores Financeiros. Apesar de, nesta autoridade de resolução de bancos, o banco central ter mais membros do que os outros supervisores financeiros, o diploma impede o Banco de Portugal de decidir sozinho sobre resoluções de bancos. O diploma deixa ainda claro que a Inspeção-Geral de Finanças pode fiscalizar a gestão financeira do Banco de Portugal, à exceção das ações que estão relacionadas com as funções monetárias, para garantir que não é colocada em causa a sua independência na política monetária.

Centeno é ouvido no âmbito das audições sobre o Novo Banco

Mário Centeno, ministro das Finanças, vai ser ouvido hoje na Assembleia da República (AR), após o debate quinzenal, no âmbito da Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa. O Parlamento aprovou na quarta-feira, por unanimidade, um conjunto de audições sobre o Novo Banco, na sequência do novo pedido feito ao Fundo de Resolução para injetar 1.149 milhões de euros no banco, dando prioridade à do ministro das Finanças. No requerimento do PSD, que foi aprovado por unanimidade, está prevista a audição aos presidentes do Fundo de Resolução, do Novo Banco e da Comissão de Acompanhamento designada no contrato de venda ao fundo Lone Star.

CMEC: Parlamento vai ouvir Manuel Caldeira Cabral

A agenda na Assembleia da República continua preenchida. No Parlamento, por volta das 17h00, o ex-ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, vai ser ouvido, no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade (CMEC). Uma audição que surge um dia depois de o ex-secretário de Estado da Energia, Seguro Sanchez, ter dito que o atual Governo se deparou com duas “condicionantes” quando quis reduzir a fatura com os custos de manutenção do equilíbrio contratual (os chamados CMEC): um decreto-lei do tempo de Pedro Passos Coelho que tornou estes contratos “blindados”, no que toca à definição da taxa de juro recebida pela EDP; e uma decisão do mesmo Governo que aumentou os custos com os CMEC em 240 milhões de euros em 2017 e 2018.

Comissão de inquérito à CGD nomeia João Almeida

A comissão de inquérito parlamentar à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai nomear esta quinta-feira um deputado relator. O nome escolhido para essa tarefa foi indicado pelo CDS — partido que propôs a comissão — é João Almeida. O deputado efetivo do CDS-PP participará, assim, pela terceira vez nos inquéritos parlamentares sobre o banco público. A comissão propõe-se ouvir mais de 50 personalidades, ao longo dos próximos três meses, desde antigos administradores do banco, a governadores do Banco de Portugal, antigos ministros das Finanças, grandes devedores e até um ex-primeiro-ministro.

Nos apresenta contas

A cotada liderada por Miguel Almeida vai revelar esta quinta-feira, depois do fecho da bolsa de Lisboa, às 16h30, os resultados financeiros que dizem respeito ao ano passado. Os analistas preveem que a Nos tenha terminado o ano de 2018 com boas notícias, apesar de, no primeiro semestre do ano, a operadora ter deixado de ser líder de mercados nos pacotes “triple play”. Nos primeiros nove meses do ano, o lucro da Nos subiu 17% para 123 milhões de euros.

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“Não há nenhum euro de impostos dos portugueses a ser utilizado” na injeção de capital no Novo Banco

O ministro das Finanças garante que não está surpreendido com o valor das perdas reportadas pelo Novo Banco, mas admite pedir outra auditoria ao Novo Banco para além da avança sexta-feira.

O ministro das Finanças garante que “não há nenhum euro de impostos dos portugueses a ser utilizado” na injeção de capital no Novo Banco. Apesar de reconhecer que as perdas que têm vindo a ser registadas pelo banco são uma perda para a economia nacional, reitera que a nacionalização do Novo Banco não é uma alternativa, tendo em conta os custos associados. Na Grande Entrevista da RTP, Mário Centeno admitiu pedir mais uma auditoria à instituição.

O Novo Banco anunciou que vai voltar a ativar o mecanismo de capital contingente, depois de ter apresentado prejuízos de 1.412 milhões de euros. Desta vez o pedido é de uma injeção de 1.149 milhões de euros do Fundo de Resolução. Um valor que ainda não está totalmente fechado, disse o ministro das Finanças, mas que é assegurado pelo Fundo de Resolução e não pelos contribuintes, ainda que este tenha de recorrer a empréstimos do Estado por não ter capital suficiente para fazer às necessidades do sistema financeiro português.

“No futuro, o Fundo de Resolução vai pagar este empréstimo, a 30 anos. Não há nenhum euro de impostos dos portugueses a ser utilizado nesta operação”, sublinhou Mário Centeno. Isso não significa, contudo, que não entendamos que há aqui uma perda para a economia portuguesa”, acrescentou. O Fundo de Resolução vai pagar e com juros. “Os mesmos a que o Estado português se financia”, acrescentou.

No futuro, o Fundo de Resolução vai pagar este empréstimo, a 30 anos. Não há nenhum euro de impostos dos portugueses a ser utilizado nesta operação.

Mário Centeno

Ministro das Finanças

Mário Centeno garante que não foi surpreendido pela dimensão das perdas assumidas pelo Novo Banco, uma vez que estas estão dentro do limite definido no mecanismo de capital contingente. Um mecanismo que limita as responsabilidades a assumir a 3,9 mil milhões de euros. Um valor que acabaria por ser muito superior se em vez de capital contingente se tratasse de uma verdadeira garantia.

A surpresa pode estar contudo no ritmo de utilização deste capital contingente. O contrato previa a utilização dos 3,9 mil milhões num horizonte temporal de oito anos, mas, em cerca de dois anos, já foi utilizada quase metade. Uma opção que o ministro das Finanças com a racionalidade bancária. “A economia portuguesa tem tido uma evolução muito positiva nos últimos dois anos, o que permite que banca possa transacionar de forma efetiva e com mais facilidade, e também com perdas menores, estes ativos problemáticos. Aproveitar esta fase do ponto de vista da racionalidade bancária pode fazer sentido”, admitiu Mário Centeno.

A alternativa a este empréstimo a 30 anos seria “liquidar o banco ou nacionalizar”, explicou Centeno. “A nacionalização é uma alternativa, mas é preciso perceber o custo”, sublinhou.

Para o ministro das Finanças, a nacionalização “não foi uma alternativa” em 2014, tal como “não é uma alternativa”, agora. E explica porquê. “A nacionalização obrigava o Estado a comprar um ativo que não é bom. Tem lá contingências muito significativas”, alerta. E aí sim, a compra teria de ser financiada através de impostos, logo “seriam os contribuintes a pagar a dívida que se teria de emitir para o Estado comprar o Novo Banco”. Uma opção que teria, na opinião do ministro, um impacto negativo nos juros que Portugal agora paga para emitir dívida. “A dez anos Portugal está a pagar 1,4%, nunca pagou tão pouco”, frisou, recordando que é através da “libertação de recursos financeiros” resultante da descidas dos juros que “permite responder” às exigências dos funcionários públicos — 800 milhões de euros para descongelamento de carreiras, aumentos salariais e outros acordos.

A nacionalização obrigava o Estado a comprar um ativo que não é bom. Tem lá contingências muito significativas.

Mário Centeno

Ministro das Finanças

O Bloco de Esquerda, pela voz de Catarina Martins, acusou o Governo de mentir quando garantiu que o Fundo de Resolução para o Novo Banco não ia custar dinheiro aos contribuintes. Quando foram explicadas as condições da venda em 2017, o primeiro-ministro, ladeado por Centeno, garantiu que não haveria “qualquer impacto, direto ou indireto, para as contas públicas ou para os contribuintes”. Confrontado com as declarações de um partido que suporta o Governo no Parlamento, Centeno apenas disse que “as pessoas usam as palavras com alguma liberalidade”, tendo em conta “a frase” e o “que foi explicado ao longo do tempo aos portugueses”.

Mário Centeno reiterou que o empréstimo ao Estado pago pelo Fundo de Resolução é inteiramente suportado pelas contribuições do setor bancário. E recordou que o prazo de 30 anos visa garantir que o Fundo consegue fazer face às suas responsabilidades. “Se o Fundo de Resolução não for solvente, a insolvência passa para o balanço dos bancos e voltaria a prejudicar a estabilidade do sistema financeiro”, que na sua opinião foi o ponto-chave para Portugal crescer acima da média europeia.

E quanto às contas públicas Centeno disse que os empréstimos ao Fundo de Resolução não vão ter impacto no défice e reiterou que, em 2018, o desequilíbrio das contas se ficará por 0,6% do PIB e não 0,7% tal como está inscrito no Orçamento do Estado para 2019.

Uma nova auditoria

Mário Centeno explicou que a auditoria pedida na sexta-feira não se refere à atual gestão do Novo Banco, porque essa “já está a ser auditada e supervisionada”. O objetivo é fazer algo semelhante ao que se fez com a Caixa Geral de Depósitos e não seguir a sugestão do Presidente da República que apontava para uma auditoria sobre o período “desde que foi determinada a resolução”, ou seja, desde agosto de 2014.

Ainda assim, Mário Centeno acabou por admitir que “pode sempre ser pedida outra auditoria, que não aquela pedida na sexta-feira”. Ou seja, uma auditoria às decisões tomadas no BES e os ativos tóxicos que passaram do BES para o Novo Banco. “Precisamos de saber qual foi a forma de originar aqueles créditos. É muito importante explicar o que correu mal e ficarmos a saber que o que correu mal não foi só na Caixa”, disse o ministro, admitindo que alguns dos créditos difíceis do Novo Banco são os mesmos da Caixa. E por isso o Executivo criou uma plataforma para assegurar a gestão conjunta desse créditos.

Mário Centeno admitiu ainda que “mesmo a parte boa do Novo Banco encerra um risco latente do sistema financeiro”. “Não nos enganemos, temos de ser muito ativos na supervisão“, disse em jeito de recado. “Houve problemas de supervisão que já estão identificados e por isso vamos avançar com um reforma do sistema de supervisão”, que será aprovada em Conselho de ministros esta quinta-feira.

Crescimento pode ser revisto em baixa duas décimas

Perante o abrandamento da economia mundial, Mário Centeno mostrou-se renitente em rever em baixa de forma significativa as suas previsões para o crescimento em 2019. De acordo com o Orçamento do Estado para 2019, Portugal deverá crescer este ano 2,2%. Mas apesar da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, os avanços e recuos relacionadas com a negociação do Brexit ou até mesmo as incertezas políticas em Itália, Centeno admite rever em baixa as as suas previsões de crescimento “em apenas uma décima ou duas”. Sem querer parecer demasiado otimista, o ministro das Finanças fala de “sinais mistos”.

Apesar de as exportações estarem a abrandar e, o ano passado Portugal ter crescido 2,1% e não 2,3% como o Executivo antecipava, Centena lembra o comportamento muito positivo das receitas fiscais e das contribuições para a Segurança Social que se explica apenas pela robustez da atividade económica. Centena mencionou ainda o indicador coincidente do Banco de Portugal, de janeiro, que parece sugerir uma inversão da tendência de abrandamento.

Mas para dados mais fechados, o ministro das Finança remete para o Programa de Estabilidade e Crescimento que terá de remeter em abril para Bruxelas.

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Estados-membros rejeitam lista negra da Comissão no combate ao branqueamento de capitais

  • Vasco Gandra, em Bruxelas
  • 6 Março 2019

Os governos europeus, por unanimidade, preparam-se para confirmar esta quinta-feira a sua rejeição à proposta da Comissão Europeia. Pedem que seja feita uma nova lista.

Os Estados-membros da União Europeia vão oficializar esta quinta-feira a sua oposição à “lista negra” que a Comissão Europeia propôs de países terceiros que apresentam “deficiências estratégicas” na luta contra o branqueamento de capitais e no combate ao financiamento do terrorismo. Os governos europeus deverão pedir ao executivo comunitário que apresente uma nova lista.

A “lista negra” proposta em fevereiro aumenta de 16 para 23 os países com “fracos regimes” na luta contra o branqueamento de capitais. Inclui países como a Arábia Saudita, Panamá, Bahamas, Paquistão, Tunísia e Coreia do Norte e ainda quatro territórios ligados aos Estados Unidos — Samoa Americana, Guame, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas.

A iniciativa da Comissão recebeu o aplauso de ONG e eurodeputados que consideraram a lista “um primeiro sucesso” e “um progresso”. Mas a inclusão de quatro territórios dos EUA foi contestada pela Administração Trump, através do Departamento do Tesouro que criticou a substância da lista e o processo que levou à sua constituição. Também a Arábia Saudita pediu à UE, através de uma carta do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud aos líderes europeus, para reconsiderar a inclusão do país na lista. Produtor de petróleo, a Arábia Saudita é um importante parceiro económico e importador de bens e equipamentos da UE.

Os governos europeus, por unanimidade, preparam-se para confirmar esta quinta-feira a sua rejeição à proposta da Comissão, formalizando assim a oposição expressa nos últimos dias em diversas reuniões de representantes nacionais. Numa declaração do Conselho, os 28 vão sublinhar a importância de uma lista de países terceiros. Mas opõem-se à atual proposta por considerarem que o processo não foi “transparente” nem “resiliente” por forma a incentivar os países em questão a colaborar e a “garantir o seu direito a serem ouvidos”. Desta forma, pedem que seja feita uma nova lista.

Fonte do Governo explicou ao ECO que Portugal está em sintonia com os restantes países na medida em que defende “um método diferente de elaboração da lista, mais participado”. O Executivo português não é contra a lista mas critica “o método adotado na sua elaboração”.

Quando propôs o novo regulamento, a 13 de fevereiro, a Comissão Europeia sublinhou que identificou os países de “risco elevado” ao abrigo das recentes diretivas relativas à luta contra o branqueamento de capitais. Explicou que a lista foi elaborada “em consulta com os Estados-membros com base numa análise de 54 jurisdições prioritárias” e que os países terceiros avaliados preenchem pelo menos um dos seguintes critérios:

  • Terem um impacto sistémico na integridade do sistema financeiro da UE;
  • Serem classificados pelo FMI como centros financeiros internacionais offshore;
  • Terem relevância económica e fortes laços económicos com a UE.

Eurodeputados contra “interferências políticas”

Entretanto, em carta enviada na semana passada à Comissão – e divulgada pelo Politico –, um grupo de 29 eurodeputados de vários partidos alertou para “as tentativas de alguns Estados-membros, nomeadamente do Reino Unido, de remover a Arábia Saudita” da lista. Os deputados manifestaram a sua oposição a qualquer “interferência política” no processo de identificação dos países terceiros de alto risco. E avisaram que sujeitar a lista final “ao lóbi político dos Estados-membros, dependente das suas relações bilaterais com os países em questão, danificará seriamente a credibilidade da UE”.

Há dias também a ONG anticorrupção Transparência Internacional, ouvida pelo ECO, pediu aos Estados-membros para não bloquearem a lista e não cederem a lóbis de terceiros.

A “lista negra” é feita com o objetivo de proteger o sistema financeiro da UE. É importante para os bancos e outras entidades abrangidas pelas regras comunitárias em matéria de luta contra o branqueamento de capitais terem uma lista identificada. Podem reforçar os controlos das operações financeiras que envolvam clientes e instituições financeiras dos países de “risco elevado”, a fim de identificar melhor eventuais fluxos de capitais suspeitos.

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Montepio: Pagamento das multas dos administradores pelos bancos é “prática comum”

  • Lusa
  • 6 Março 2019

De acordo com a Associação, a decisão de o banco pagar as multas dos administradores “está em linha com a prática comum entre as instituições financeiras em Portugal e no estrangeiro".

A Associação Mutualista Montepio defendeu esta quarta-feira que a proposta de Tomás Correia, aprovada em assembleia-geral em março de 2018, que prevê que o banco suporte as multas dos administradores configura uma “prática comum” entre as instituições financeiras.

“Todos os pontos discutidos nessa reunião e traduzidos em ata resultaram de orientações estabelecidas pelo Conselho de Administração da Associação Mutualista Montepio, no quadro da desvinculação da administração à época, presidida pelo senhor Dr. Félix Morgado”, indicou, em comunicado, a Associação Mutualista Montepio.

De acordo com a Associação, esta deliberação “está em linha com a prática comum entre as instituições financeiras em Portugal e no estrangeiro, na medida em que a defesa dos visados é essencial para assegurar a defesa e absolvição das próprias instituições”.

Em causa, está uma proposta do presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), Tomás Correia, aprovada em assembleia-geral em 16 de março de 2018, à qual o jornal Público teve acesso, que obriga ao pagamento pelo banco dos custos em que possam incorrer atuais ou antigos administradores e membros de outros órgãos sociais da sociedade, relacionados com processos ou procedimentos que sejam, de forma direta ou indireta, relacionados ou resultantes da sua atividade na sociedade.

Por sua vez, o Montepio ressalvou também hoje que, “à semelhança de instituições congéneres, possui seguros para a cobertura destas situações”.

relativamente à decisão do Banco de Portugal (BdP) ter multado Tomás Correia em 1,25 milhões de euros por irregularidades quando era presidente do banco Montepio (então Caixa Económica Montepio Geral), o banco garantiu estar a analisar os fundamentos do supervisor financeiro “num contexto de absoluta serenidade e com sentido de responsabilidade”, remetendo para “breve” as suas conclusões sobre esta matéria.

Para além de Tomás Correia, o BdP condenou ainda mais sete antigos administradores do Montepio, mas com coimas mais baixas.

“Importa, no entanto, sublinhar que o Banco de Portugal, na sua decisão, não inibiu do exercício das suas funções qualquer um dos visados, na medida em que, para além das coimas e dos custos processuais, apenas foi decidida a sanção acessória da publicação da punição definitiva, o que está muito longe de acontecer”, ressalvou.

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Abrandamento da economia sugere que Fed vai continuar paciente com subida dos juros

Os analistas antecipam que a Reserva Federal opte por manter tudo tal como está, mostrando-se assim consistente com a estratégia "paciente" que definiu em janeiro.

A economia norte-americana está a abrandar. Não só porque o crescimento global está mais lento, mas também devido ao shutdown que durou 35 dias e que comprometeu o desempenho dos primeiros meses do ano. Esta é a análise que a Reserva Federal norte-americana faz no seu Livro Bege divulgado esta quarta-feira e que acalma alguns dos receios dos investidores relativamente ao crescimento da economia real, receios que levaram a Fed a fazer pause no seu ciclo de subidas das taxas de juro.

A atividade continua a crescer no final de janeiro e fevereiro”, pode ler-se no Livro Bege. Sendo que o ritmo de crescimento foi “ligeiro a moderado” em dez dos 12 Estados federais. Filadélfia e St. Louis reportaram “condições económicas baixas”.

O tom da Fed é sombrio, o shutdown levou ao abrandamento de atividade em pelo menos seis estados e o impacto fez-se sentir em vários setores da economia, nomeadamente transformador, retalho e imobiliário. Ainda assim, o mercado de trabalho e os salários continuam a ter um bom desempenho, sendo quem em St. Louis os ingressos na universidade diminuíram porque os estudantes estão a preferir ingressar no mercado de trabalho em vez de continuar os estudos. Uma realidade de espelha a situação de quase pleno emprego que se vive em muitos estado norte-americanos.

A resposta das empresas tem sido aumentar os salários, aumentar a flexibilidade laboral, dar formação aos novos colaboradores com menos capacidades passar a recorrer mais a contratos temporários através das agências de recrutamento.

Estes aumentos salariais não estão para já a ter reflexo na inflação, que é um elemento chave no processo de decisão da Fed em termos de política monetária. Entre janeiro e fevereiro os preços aumentaram a um ritmo” modesto a moderado” o que retira a pressão para que Fed volte a aumentar juros na reunião que vai decorrer dentro de duas semanas. Os analistas antecipam que a Reserva Federal opte por manter tudo tal como está, mostrando-se assim consistente com a estratégia “paciente” que definiu em janeiro.

Os mercados fecharam no vermelho, pelo terceiro dia consecutivo, com os investidores à espera de mais pistas sobre um possível acordo futuro entre a China e os Estado Unidos. O défice comercial norte-americano atingiu um nível recorde em 2018 com a forte procura interna, alimentada por impostso mais baixos, aumentou as importações, mais caras devido à imposição de tarifas protecionistas. O S&P500 fechou a cair 0,65% para 2.771,45 pontos, o industrial Dow Jones caiu 0,52% para 25.673,46 pontos e o Nasdaq fechou a cair 0,93% para 7.505,92.

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Do “se e só se” ao “valor expressivo”. O que mudou no discurso do Governo sobre o Novo Banco

Dois anos após a venda do Novo Banco, o Fundo de Resolução já foi chamado a injetar quase dois mil milhões no capital da instituição. Este era um cenário que António Costa considerava improvável.

A 31 de março de 2017, António Costa e Mário Centeno juntavam-se na residência oficial do primeiro-ministro para explicar as condições da venda do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star. Era o culminar de um processo iniciado a 3 de agosto de 2014, dia da resolução do Banco Espírito Santo (BES), e o desfecho da segunda tentativa de venda do Novo Banco, depois de a primeira ter sido fechada sem que fosse encontrado um comprador.

Na altura, os dois governantes defenderam três ideias chave: o cenário de liquidação da instituição estava afastado; não haveria qualquer impacto, direto ou indireto, para as contas públicas ou para os contribuintes; e seria salvaguardada a estabilidade do sistema financeiro, até porque o Fundo de Resolução só seria chamado a capitalizar o Novo Banco quando se verificassem situações muito específicas. Passaram dois anos e, desde então, o Fundo de Resolução já foi chamado a injetar quase dois mil milhões de euros no banco, um montante que já levou o Ministério das Finanças a pedir uma auditoria à concessão de créditos por parte do antigo BES e Mário Centeno a disponibilizar-se de imediato para ir ao Parlamento prestar esclarecimentos sobre a situação do Novo Banco. O que aconteceu? E o que mudou no discurso do Governo desde então?

Na apresentação de 31 de março de 2017, o primeiro-ministro começava por assegurar que as três condições estabelecidas para a concretização da venda tinham sido alcançadas:

  1. Está afastado o espetro da liquidação do banco e assegurada a sua continuidade. O Novo Banco continuará a cumprir o seu papel muito relevante no financiamento da economia, com proteção integral dos depositantes e sem novos sacrifícios involuntários dos detentores das obrigações do banco”;
  2. Não existirá impacto direto ou indireto nas contas públicas, nem novos encargos para os contribuintes. Ao contrário do inicialmente proposto, não é concedida qualquer garantia por parte do Estado ou de qualquer outra entidade pública. O necessário reforço de capital é integralmente assegurado pelo investidor privado e eventuais responsabilidades futuras não recairão sobre os contribuintes, mas sobre os bancos, que asseguram o capital do Fundo de Resolução”;
  3. É também salvaguardada a estabilidade do sistema financeiro no seu conjunto. Por um lado, porque eventuais responsabilidades futuras estão substancialmente garantidas pelo conjunto de ativos confiados à gestão do Fundo de resolução. Por outro lado, porque não serão exigidas aos bancos quaisquer contribuições extraordinárias e, finalmente, porque o Fundo de Resolução ainda beneficiará da futura alienação dos 25% de capital que continuará a deter”.

A solução encontrada, considerada “equilibrada” e suficiente para proteger “os contribuintes, a economia e a estabilidade do sistema financeiro”, implicou duas injeções de capital no Novo Banco, por parte do Lone Star. Ao todo, foram mil milhões de euros, dos quais 750 milhões no momento da conclusão da operação e outros 250 milhões mais tarde. Por via desta injeção, o Lone Star passou a deter 75% do Novo Banco, ficando o Fundo de Resolução com os restantes 25%.

Ao mesmo tempo, foi criado um mecanismo de capitalização contingente, que pode ser acionado até 2026 e que prevê injeções de capital no Novo Banco, por parte do Fundo de Resolução, no valor máximo de 3,89 mil milhões de euros. Mas, para que o mecanismo seja ativado, é preciso que se reúnam, cumulativamente, duas condições:

  1. Que o conjunto de ativos do Novo Banco considerados tóxicos, avaliados em 7,9 mil milhões de euros, sofram uma desvalorização face ao seu valor de referência no balanço;
  2. Que os rácios de capital do Novo Banco, por via dessas desvalorizações, baixem de cerca de 12,5%.

Quando ambas estas condições se verificam, o mecanismo de capital é ativado, mas apenas no montante necessário para repor o rácio de capital no nível previsto no contrato, e não para compensar o Lone Star por quaisquer perdas com os ativos. Foi a este modo de funcionamento que António Costa se agarrou, em março de 2017, para defender o “equilíbrio” da solução encontrada. “O mecanismo que existe [prevê] que o Fundo de Resolução, relativamente a um conjunto de ativos bem preciso, terá de cobrir necessidades de capital, se e só se, quando e só quando, em resultado de um evento relativamente a algum desses créditos, o rácio de capital baixar dos 12,5% — e na estrita medida para repor o rácio nos 12,5%“.

O Fundo de Resolução, relativamente a um conjunto de ativos bem preciso, terá de cobrir necessidades de capital, se e só se, quando e só quando, em resultado de um evento relativamente a algum desses créditos, o rácio de capital baixar dos 12,5%. Para que haja essa necessidade, era preciso que houvesse uma sucessão de eventos de crédito superiores a 600 milhões.

António Costa

Primeiro-ministro

Por esta altura, o primeiro-ministro antecipava também que seria pouco provável que o Fundo de Resolução fosse chamado a injetar quantias significativas de capital. “Com o nível de capitalização previsto [feito então pelo Lone Star], os rácios de capital sobem acima dos 15%. Entre os 15,5% e os 12,5%, haverá cerca de 600 milhões de euros de distância. Para que haja essa necessidade, era preciso que houvesse uma sucessão de eventos de crédito superiores a este montante, que afetassem o capital e que obrigassem a repor o capital, não no montante dos 600 milhões, mas no montante necessário para atingir outra vez os 12,5%. É um mecanismo muito distinto de uma garantia”, assegurava então o primeiro-ministro.

Só que, passados dois anos desta venda, o Novo Banco já solicitou duas injeções de capital ao Fundo de Resolução que ultrapassam em muito esses 600 milhões: a primeira, no ano passado, no valor de 792 milhões de euros e a última, já este mês, no montante de 1.149 milhões, depois de ter reportado prejuízos de 1.412 milhões de euros no exercício de 2018. Se esta segunda injeção acabar por ser feita exatamente neste valor, o Fundo de Resolução já terá mobilizado 1.941 milhões para capitalizar o Novo Banco, aproximando-se a um ritmo acelerado do máximo de 3,89 mil milhões que poderá disponibilizar, de acordo com o que ficou definido no contrato de venda.

A justificar estes prejuízos de 1,4 mil milhões, que por sua vez levaram o Novo Banco a recorrer novamente ao Fundo de Resolução, estão as vendas de crédito malparado ao longo do ano passado, incluindo uma carteira de 2.150 milhões de euros em dezembro, que são reconhecidas como perdas nas contas. As imparidades e provisões que são constituídas para cobrir estas perdas com a desvalorização de ativos foram, assim, significativamente reduzidas, em mais de 65% — mesmo assim, o banco ainda tinha 710 milhões de euros em imparidades no exercício de 2018.

É neste cenário que o Governo muda agora de discurso e vem até pedir uma auditoria ao Novo Banco, para analisar o processo de concessão de créditos que foram dados ainda no tempo do BES e de Ricardo Salgado. “Dado o valor expressivo das chamadas de capital em 2018 e 2019, o Ministério das Finanças, em conjugação com o Fundo de Resolução, considera indispensável a realização de uma auditoria para o escrutínio do processo de concessão dos créditos incluídos no mecanismo de capital contingente“, indicou o Ministério de Mário Centeno, em comunicado emitido na semana passada. Ainda assim, o Ministério ressalvou que o montante pedido ao Fundo de Resolução ainda está “dentro do limite” que ficou definido no momento da venda.

Porventura, uma comissão parlamentar de inquérito seria mais adequada para fazer uma apreciação da atuação do Banco de Portugal neste processo.

António Costa

Primeiro-ministro

Esta quarta-feira, António Costa já foi mais longe e, para responder à vontade de Marcelo Rebelo de Sousa, que considera que a auditoria deveria ser feita ao período após a resolução do BES, admitiu que se constitua uma nova comissão de inquérito, mas para avaliar a atuação do Banco de Portugal. Isto porque, como lembrou o primeiro-ministro, a fase posterior à resolução foi “conduzida diretamente” pelo Banco de Portugal e “não cabe ao Governo supervisionar o Banco de Portugal”. Assim, sugeriu: “Porventura, uma comissão parlamentar de inquérito seria mais adequada para fazer uma apreciação da atuação do Banco de Portugal neste processo“.

Importa recordar que, no ano passado, no documento em que fundamentava a autorização dada a Portugal para vender o Novo Banco ao Lone Star, a Comissão Europeia concluía que esta instituição manteve algumas das más práticas do BES. “As práticas do BES contribuíram para a sua falência. Mas, mesmo depois da fundação do banco de transição e sob o controlo direto do Banco de Portugal, o Novo Banco parece ter feito muito pouco para remediar práticas de crédito problemáticas“, apontou então a Comissão Europeia.

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SIBS não encontrou parceiro estratégico e desiste do processo de venda

Manter o controlo da empresa era uma das condições para a operação de abertura do capital. Apesar de terem ouvido vários interessados, nenhum satisfez o grupo.

O processo de venda da SIBS, que estava em curso desde junho de 2017, foi fechado sem sucesso. Quase dois anos depois, a empresa portuguesa dona da rede Multibanco desistiu da operação por não ter encontrado comprador que cumprisse as condições dos acionistas. A revelação foi feita pela presidente executiva, Madalena Cascais Tomé, em entrevista ao ECO24, um programa realizado em parceria pelo ECO e pela TVI24, que será transmitido esta quarta-feira à noite.

Madalena Tomé, CEO da SIBS, em entrevista ao ECO24 - 06MAR19
Madalena Tomé, CEO da SIBS, em entrevista ao ECO24Hugo Amaral/ECO

“O que se procurava era um parceiro estratégico de caráter industrial, portanto, alguém que tivesse um perfil semelhante à SIBS, (ou seja, que fosse operador de pagamentos), com um conjunto de condições, nomeadamente, que os atuais acionistas mantivessem posição de controlo na SIBS. Não foi recebida nenhuma proposta satisfatória para um conjunto de condições predefinidas e nesse enquadramento os acionistas decidiram terminar o processo“, afirmou a CEO.

A SIBS é controlada pelos bancos do sistema, numa espécie de ‘coopetição’. É líder de mercado e tem apostado na internacionalização, nomeadamente através de aquisições em outros mercados internacionais. No entanto, as mudanças tecnológicas e os novos players na área bancária, bem como a necessidade de dar outra capacidade para um mercado global, levaram os acionistas a tentarem abrir o capital da empresa.

Todos os cenários estavam em cima da mesa — incluindo a venda total ou parcial, a uma empresa internacional do setor ou a um fundo de investimento — com o objetivo de encontrar este parceiro estratégico. A tentativa não foi, no entanto, bem-sucedida, apesar de terem sido “auscultado um conjunto de entidades”, como explicou a CEO.

Com lucros a crescer, grupo quer continuar internacionalização

Questionada se o falhanço da venda de parte do capital do grupo poderá comprometer a estratégia de crescimento, Madalena Cascais Tomé afirmou que esta não era necessária para esse fim pelo que continua empenhada na atividade. “Eu própria, e a comissão executiva que lidero, continuamos a executar a estratégia de crescimento definida não só para o triénio anterior, mas também para o próximo triénio 2018-2020 e que está a ter resultados muito positivos“.

Os lucros da SIBS ascenderam a 9,7 milhões de euros, em 2017 (segundo os últimos dados disponíveis). Em agosto, a empresa revelou que iria encerrar o ano passado com um novo registo histórico de transições e ver o valor atingir os quatro mil milhões dentro de cinco anos através da utilização dos múltiplos canais como a rede Multibanco, a rede ATM Expresso, terminais automáticos de venda, portagens (Via Verde) ou home banking e mobile banking.

Apesar de as contas da SIBS relativas a 2018 ainda não estarem fechadas, adiantou que os resultados são melhores que os de 2017. “Representam um crescimento em todas as linhas: nacional, internacional, novos serviços e serviços mais tradicionais… Também posso adiantar que os indicadores financeiros, sendo muito positivos, provavelmente não são o que nos move. O que nos move são os aumentos da transacionalidade que estamos a verificar. Fechámos 2018 com cerca de 3,4 mil milhões de transações, ou seja, mais 10% que no ano anterior“, acrescentou.

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