Banca corta dez mil empregos numa década. Vem aí nova vaga de saídas
A banca em Portugal perdeu mais de dez mil trabalhadores na última década. Pandemia trouxe uma nova vaga de saídas num setor em contínua reestruturação e consolidação, tanto cá como lá fora.
Os bancos em Portugal eliminaram mais de dez mil postos de trabalho na última década, na sequência da crise financeira mundial de 2008, da crise das dívidas soberanas e resoluções de bancos. Embora o número de bancários tenha estabilizado nos últimos anos, a crise pandémica veio acelerar de novo os planos de redução de pessoal. Vem aí uma nova vaga de saídas na banca. Que não será exclusivo nacional.
Com a pandemia a deteriorar a rentabilidade, os bancos olham para o lado de custos como forma de assegurar o futuro que ainda está encoberto por nuvens. No meio disto, há uma certeza: de que os clientes preferem cada vez mais os canais digitais a ir a um balcão.
É neste cenário que têm surgido com cada vez mais frequência notícias de fecho de balcões e de redução de pessoal. Como o próprio ECO já teve oportunidade de adiantar em primeira mão com o fecho de 20 agências do Novo Banco até final do ano e o plano (ainda sem confirmação oficial) do Banco Montepio para reduzir 800 trabalhadores, já depois de ter anunciado (oficialmente) o encerramento de 31 balcões.
Embora cada um com a sua realidade distinta, os dois bancos explicaram os motivos por detrás do fecho de agências: o salto digital que o mercado bancário deu nos meses em que os portugueses estiveram em casa e fizeram a maioria das operações bancárias através do homebanking ou app do telemóvel.
Outros bancos nacionais também já anunciaram intenções no sentido de ajustar o quadro de pessoal. “Vamos fazê-lo no início do ano”, referiu o presidente executivo do BCP, Miguel Maya, na apresentação de resultados do semestre, período durante o qual os lucros caíram 55%.
Na Caixa Geral de Depósitos (CGD), que continua a cumprir o plano de reestruturação imposto por Bruxelas, também há planos de pré-reformas e de revogações por mútuo acordo. Ainda na sexta-feira passada Paulo Macedo, CEO do banco público, alertou para a magra margem financeira de 1%-2% com que está a trabalhar atualmente.
Banca em Portugal perdeu 10 mil trabalhadores desde 2010
APB
E lá fora?
Um diretor da rede comercial do Deutsche Bank explicava esta terça-feira aos seus trabalhadores, de forma crua, a razão pela qual o banco irá fechar 20% dos balcões na Alemanha. “A agência já não é o único nem o local-chave [hoje em dia] para aconselhamento ao cliente. Assim, vamos otimizar a nossa rede de agência”, comunicou Philipp Gossow, num e-mail citado pelo jornal Financial Times.
O maior banco na Alemanha vai fechar um em cada cinco balcões que tem no país. No final do processo, deixará de ter cerca de uma centena de agências e um número de trabalhadores por determinar. O Deutsche Bank tem como meta reduzir 18 mil postos de trabalho até 2022 no âmbito do seu plano de reestruturação anunciado em meados do ano passado.
O rival Commerzbank também já tinha anunciado no verão que 200 balcões não iria abrir portas depois de terem estado encerrados durante o confinamento.
É com o objetivo de obter poupanças em tempos de pandemia que a Europa assiste a uma onda de fusões entre grandes bancos. Aqui ao lado, o CaixaBank e o Bankia estão em processo de fusão e o Sabadell encontrava-se a estudar uma fusão com o Abanca ou BBVA. No primeiro caso, os sindicatos apontam para saídas de 7.500 trabalhadores, quase 14% daquele que poderá vir a ser o maior banco espanhol.
Na Suíça, os CEO do UBS e Credit Suisse também estão a explorar a viabilidade de uma possível fusão dos seus negócios. A criação do campeão europeu com origem suíça poderá resultar em cortes entre 10% e 20% no número de trabalhadores, ou 15.000 ou mais, em todo o mundo.
Outros grandes bancos mundiais também estão sob pressão para cortar. O britânico HSBC, por exemplo, está a reduzir os quadros em 35 mil trabalhadores.
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