Minoritários do BPI preparam ação contra Fernando Ulrich

Pequenos investidores entregaram uma notificação judicial avulsa no tribunal do Porto, visando Fernando Ulrich. Acusam o antigo CEO do BPI de ter agido "com dolo" na gestão do banco na venda do BFA.

Pequenos acionistas do BPI estão a preparar uma ação de responsabilidade civil contra Fernando Ulrich e a anterior administração do banco, a quem acusam de ter “agido com dolo na gestão” da instituição, na sequência da venda de 2% do BFA à angolana Isabel dos Santos em 2016 e que veio desbloquear a oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank no ano seguinte. Isto “resultou em enormes perdas para os acionistas”, lê-se na Notificação Judicial Avulsa que deu entrada no Tribunal da Comarca do Porto no passado sábado e a que o ECO teve acesso.

Esta Notificação Judicial Avulsa foi interposta pela Associação de Pequenos Investidores (ATM), que há longos meses trava um braço de ferro com o BPI por causa da OPA do grupo catalão e que culminou na aquisição potestativa no final do ano passado.

A ação visa interromper eventuais prazos de prescrição das ações de responsabilidade civil relacionadas com a gestão do banco que “a requerente pretende intentar logo que possível”. Ou seja, trata-se de uma espécie de pré-aviso de uma ação judicial em que a vítima quer ser reparada pelos prejuízos que sofreu, permitindo que o tempo seja “congelado” e eventuais crimes não prescrevam.

"Não restam dúvidas que a administração do BPI agiu com dolo na gestão do banco, tendo resultado em enormes perdas para os seus acionistas.”

ATM

Notificação Judicial Avulsa

A ATM argumenta que o BPI não tinha obrigatoriamente de vender 2% do BFA à Santoro (passando de 51% para 49%) para resolver o problema dos grandes riscos da exposição a Angola que tinham sido identificados pelo Banco Central Europeu (BCE). Bastava ceder o controlo da gestão do BFA para ultrapassar as questões apontadas pelo supervisor europeu.

Adianta que foi isso mesmo que Fernando Ulrich e Artur Santos Silva, à data CEO e chairman do BPI, respetivamente, confessaram no testemunho que prestaram em audiência de julgamento realizada nos dias 23 e 24 de janeiro deste ano, no âmbito de outro processo que corre nos tribunais e que tem como objetivo anular as deliberações de uma assembleia geral realizada em setembro de 2016 que veio a desbloquear os estatutos (perante o voto favorável da Santoro) e a permitir que o CaixaBank pudesse lançar a OPA.

“Segundo o conselho de administração do BPI, o BCE terá considerado que, com a perda de controlo do BFA, as posições de risco em face do Estado de Angola e Banco Nacional de Angola seriam ‘desconsolidadas’ do balanço do BPI, que assim passaria a respeitar os limites dos grandes riscos. Ora, já vimos, porque foi confesso pelos seus principais atores, que era apenas necessário a cedência da gestão do BFA e nunca a sua perda do controlo“, expõe a associação de pequenos investidores.

Assim, conclui a ATM, “a perda de controlo do BFA foi única e exclusivamente a moeda de troca para viabilidade a OPA do CaixaBank”. E isto tendo a “administração do BPI, em violação com o seu dever de fidúcia e de garantir um tratamento igualitário entre todos os acionistas, oferecido, sem necessidade, o controlo do BFA a Isabel dos Santos“, que recebeu uma contrapartida superior da parte dos catalães, “muito superior àquela que foi oferecida aos restantes acionistas”.

Esta não é a primeira ação da ATM contra o BPI. Ainda no final do ano passado e início deste ano colocou providências cautelares para travar a saída do banco português da bolsa, depois de o CaixaBank ter lançado uma oferta de aquisição potestativa para ficar com as ações que ainda não tinha comprado. Mas os tribunais não deram seguimento ao pedido.

O BPI, que atualmente é detido a 100% pelo CaixaBank, prepara-se para apresentar contas anuais na próxima sexta-feira. Até setembro, o banco liderado por Pablo Forero registou lucros de 530 milhões de euros, impulsionados pela atividade em Portugal.

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Quem foi o banqueiro mais bem pago em Portugal? E lá fora?

O setor da banca começa a ficar para trás na lista dos gestores que mais ganham, mas dois banqueiros ainda chegaram a um milhão em 2017. O ECO diz-lhe quem são e compara com os salários lá fora.

Na lista dos que ganham mais, os gestores da banca começam a ficar para trás. Se é verdade que António Mexia, à frente da EDP, é o gestor mais bem pago no país — a somar 2,2 milhões em 2017 –, no caso dos banqueiros o salário mais elevado ultrapassa ligeiramente um milhão de euros. O ECO foi saber quanto ganham os gestores dos cinco maiores bancos em Portugal, sendo que a comparação dos salários é muito influenciada pelo pagamento de prémios e remunerações variáveis.

Em 2017, o banqueiro mais bem pago em território nacional foi Fernando Ulrich. Com uma remuneração fixa de 750.000 euros, a que se juntam cerca de 465.500 euros de remuneração variável, respetivos a prémios de 2016 (quando ainda era CEO), o atual chairman do BPI acabou o ano a ganhar 1,2 milhões de euros. Pablo Forero, o novo presidente executivo do banco, ganhou cerca de 390.000 euros, sem registo de remuneração variável. Ulrich assumiu o cargo de presidente não executivo do BPI em fevereiro de 2017, depois da OPA do CaixaBank e de uma mudança na administração.

Em segundo lugar, e ainda na casa dos milhões, aparece António Vieira Monteiro a fechar 2017 com 1,1 milhões de euros. O CEO do Santander levou para casa 568.000 euros de salário fixo mais 585.000 euros por prémios de desempenho, pagos em dinheiro e em ações.

Do BCP — o único banco a constar no PSI-20 –, Nuno Amado (CEO em 2017) contou com um salário bruto anual de 631.000 euros. A esta remuneração não acrescem prémios, mesmo depois de o banco ter conseguido acabar com os cortes salariais em junho, no fim da ajuda estatal. Amado entretanto passou a chairman e Miguel Maya subiu a CEO.

Na Caixa Geral de Depósitos (CGD), Paulo Macedo levou para casa 387.700 euros o ano passado — um valor mais baixo do que o fixado inicialmente, que se deve ao facto de o gestor ter entrado em funções apenas no final de janeiro, já que o vencimento bruto estabelecido era de 423 mil euros. Não houve prémios, embora o modelo remuneratório do banco ofereça essa possibilidade.

António Ramalho, à frente do Novo Banco, acabou 2017 com um salário anual de 329.600 euros, sem registo de remuneração variável. Recentemente, o banco fechou o primeiro trimestre deste ano a registar lucros de 60,9 milhões de euros — uma mudança de paradigma depois de quatro anos a acumular prejuízos. Em entrevista ao ECO, o presidente da instituição afirmou que o ditado que se aplica ao banco é mesmo “o que não nos mata torna-nos mais fortes”.

E lá fora? Quem leva mais para casa?

Por Wall Street, os principais executivos fecharam 2017 em grande, com aumentos anuais nos salários entre 5 a 20%, face a 2016. O CEO da JPMorgan Chase, Jamie Dimon, é quem lidera a corrida dos banqueiros mais bem pagos, a fechar o ano com um salário de cerca de 24 milhões de euros (29,5 milhões de dólares).

A seguir-lhe nos números, vem o CEO da Morgan Stanley, James Gorman, que subiu a fasquia remuneratória para os 22 milhões de euros (27 milhões de dólares).

Logo a seguir, o presidente executivo do Citigroup, Michael Corbat e o líder do Bank of America, Merril Lynch, viram o seu salário subir para perto dos 19 milhões de euros (23 milhões de dólares) em 2017. E, por fim, Lloyd Blankfein, CEO da Goldman Sachs, que levou para casa 18 milhões de euros (22 milhões de dólares).

Em Inglaterra o banqueiro mais bem pago é… português

Em 2017, na lista dos banqueiros mais bem pagos em Inglaterra, o primeiro lugar é de um português. António Horta Osório, CEO do Lloyds Bank, ganhou 7,2 milhões de euros o ano passado (cerca de 6,4 milhões de libras), com prémios e bónus incluídos — a remuneração mais alta entre os gestores dos quatro maiores bancos ingleses. Além de uma subida de salário, Horta Osório fechou ainda o ano com o banco a registar uma melhoria nos lucros de 41% face a 2016.

Recentemente, num artigo de opinião publicado no The Guardian, o banqueiro português falou sobre a importância da saúde mental e como cuidar dela está estritamente relacionado com o crescimento da produtividade das empresas. Horta Osório diz que tornou “a saúde mental um foco particular do banco”, em resultado da sua experiência pessoal.

Quanto custa produzir uma bola de Berlim? Os portugueses bebem muita cerveja? Quanto ganha um motorista da Uber? E um presidente de junta? A quem é que Portugal deve mais dinheiro? 31 dias e 31 perguntas. Durante o verão, o ECO preparou a “Sabia que…”, uma rubrica diária para dar 31 respostas.

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BPI conclui plano de saídas de trabalhadores. Custa 106 milhões de euros

Banco anuncia conclusão do plano de reformas antecipadas e rescisões voluntárias. Saídas custaram de mais de 100 milhões de euros, mas vão permitir poupanças de 36 milhões.

O Banco BPI chegou a acordo com 617 colaboradores com vista à rescisão voluntária ou reforma antecipada, num plano de reestruturação que implicou um custo total de 109 milhões de euros já refletido nas contas do primeiro semestre. Ainda assim, informa o banco liderado por Pablo Forero, há poupanças na ordem dos 36 milhões de euros com estas saídas.

Em comunicado ao mercado, o BPI indica que, do total de 617 trabalhadores, 544 deixarão os quadros do banco ainda este ano, enquanto os restantes 73 abandonam em 2018.

“A comissão executiva do BPI considera que foram adequadamente cumpridos os objetivos estabelecidos, não estando por isso previstos novos programas neste domínio”, diz o banco que foi recentemente adquirido pelos espanhóis do CaixaBank. A gestão liderada por Forero “reafirma o objetivo de sinergias de 120 milhões de euros anunciado para o final de 2019”.

Todos os encargos incorridos com estas saídas já foram incorporados nos resultados que o BPI se prepara para apresentar no próximo dia 25 de junho. No primeiro trimestre, a instituição registou um prejuízo de 122,2 milhões de euros.

Após a aquisição do BPI pelo CaixaBank, em fevereiro, o grupo espanhol anunciou a intenção de acelerar as saídas do banco português para alcançar sinergias em três anos no valor de 120 milhões de euros, estimando que 35 milhões de euros sejam conseguidos com crescimento de receitas e 85 milhões com poupança de custos.

"A comissão executiva do BPI considera que foram adequadamente cumpridos os objetivos estabelecidos, não estando por isso previstos novos programas neste domínio. A comissão executiva do BPI reafirma o objetivo de sinergias de 120 milhões de euros anunciado para o final de 2019.”

Banco BPI

CMVM

Assim, avançou com um plano de saídas adicional a 27 de abril e no qual oferecia 2,5 salários por cada ano de trabalho a quem aceite sair por rescisão amigável, mas sem acesso a subsídio de desemprego, segundo os sindicatos.

O BPI tinha 5.445 trabalhadores em Portugal no final de março.

(Notícia atualizada às 17h49)

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Fernando Ulrich “ultrapassa o discurso politicamente correto”, diz Faria de Oliveira

  • Rita Atalaia
  • 26 Abril 2017

No último dia de Ulrich na presidência executiva do BPI, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos caracteriza o gestor como alguém que "nunca se coíbe de dizer o que pensa".

Faria de Oliveira não poupa nos elogios a Fernando Ulrich. No último dia do gestor na liderança executiva do BPI, que vai agora ser ocupada por Pablo Forero, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) afirma que o presidente do banco português ultrapassou o “discurso politicamente correto”, mantendo-se fiel às suas convicções. Uma posição que, segundo Faria de Oliveira, permitiu um “desempenho bastante positivo” do BPI, mesmo durante o período da crise financeira e soberana.

“Aliando a sua muito forte personalidade e fidelidade às suas convicções com a sua competência e defesa intransigente dos interesses do BPI, nunca se coíbe de dizer o que pensa, ultrapassando o discurso politicamente correto, denunciando e esclarecendo.” É assim que o presidente da APB caracteriza Fernando Ulrich, em declarações ao ECO. Desde “se os sem-abrigo aguentam, porque é que nós não aguentamos?”, até “o dia em que batermos na parede não está muito longe”, muitas foram as frases polémicas ditas por Fernando Ulrich desde que está à frente do BPI.

Aliando a sua muito forte personalidade e fidelidade às suas convicções com a sua competência e defesa intransigente dos interesses do BPI, nunca se coíbe de dizer o que pensa, ultrapassando o discurso politicamente correto, denunciando e esclarecendo.

Fernando Faria de Oliveira

Presidente da Associação Portuguesa de Bancos

Hoje, depois de cerca de 13 anos, o gestor passa a liderança do BPI a Pablo Forero, diretor-geral do CaixaBank. Forero está no banco catalão desde 2009 e este é o cargo mais alto que irá assumir numa instituição bancária. Licenciado em Economia e especializado em macroeconomia pela Universidade Autónoma de Madrid, Forero acumula cargos de liderança desde a década de 80.

Fernando Ulrich soube conduzir e manter a estabilidade, solidez e eficiência da instituição num mandato passado, grosso modo, em ambiente de crise financeira e, mais tarde, de crise soberana. Foram anos que trouxeram uma mudança drástica de paradigma para o setor bancário e de quadro regulatório e de supervisão, obrigando a um forte ajustamento dos modelos de negócio dos bancos“, realça. E é por isso que o “BPI teve, sob a sua liderança, um desempenho bastante positivo“, defende o presidente da APB.

E no futuro? Faria de Oliveira está confiante de que Ulrich continuará a desempenhar um papel importante no setor bancário e “em concreto, no BPI, instituição que sempre quis forte, moderna e de confiança”. Sobre os planos que o novo presidente-executivo tem para o BPI, pouco se sabe. Na conferência de imprensa onde foram apresentados os resultados da Oferta Pública de Aquisição lançada pelo CaixaBank sobre o banco português, Forero falou pouco e disse apenas querer manter o foco comercial do BPI.

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Ulrich deverá receber 465,5 mil euros de remuneração variável no BPI

  • Lusa
  • 23 Abril 2017

Os trabalhadores do BPI já receberam este mês os prémios de desempenho, com valor mínimo de 300 euros. Proposta de remuneração variável para a comissão executiva do banco votada quarta-feira.

O Banco BPI pagou este mês prémios aos trabalhadores, como tem sido prática nos últimos anos, disseram à Lusa funcionários da instituição financeira ainda liderada por Fernando Ulrich. A remuneração variável tem um valor mínimo superior a 300 euros e foi paga a 12 de abril.

A decisão de pagar esta prestação extraordinária foi tomada pela comissão executiva do banco, liderada por Fernando Ulrich, que cessará esta semana as funções de presidente executivo, na sequência da tomada de controlo do BPI pelo grupo espanhol ‘Caixabank.

Os acionistas do BPI reúnem-se esta quarta-feira em assembleia-geral, que servirá para aprovar as contas de 2016 (ano em que teve lucros de 313,2 milhões de euros, mais 32,5% do que em 2015) e a aplicação de resultados, uma reunião que tem ainda um ponto respeitante à remuneração variável a ser paga à comissão executiva que termina mandato.

Segundo a proposta feita pela comissão de remunerações e disponível na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, o maior valor proposto é para Fernando Ulrich, de 465,5 mil euros. António Domingues, que foi vice-presidente do BPI durante parte do ano de 2016, antes de assumir funções como presidente da Caixa Geral de Depósitos (num curto e polémico mandato de quatro meses), receberá 106,7 mil euros.

Aos restantes vogais da comissão executiva, José Pena do Amaral, Maria Celeste Hagatong, Manuel Ferreira da Silva, Pedro Barreto e João Pedro Oliveira e Costa, de acordo com a referida proposta, deverão ser pagos 328,6 mil euros a cada um.

O valor da remuneração variável será pago 50% em dinheiro, de imediato, e os restantes 50% de forma diferida no tempo.

BPI entra quarta-feira numa nova era

A assembleia-geral de quarta-feira implicará a entrada do BPI numa nova era, isto depois de em fevereiro o espanhol Caixabank ter passado a controlar o banco, ao conseguir ficar com quase 85% do capital social na sequência da Oferta Pública de Aquisição (OPA).

Desde logo, na reunião serão deliberados os novos órgãos sociais para o triénio 2017/2019, esperando-se que sejam aprovados sem percalços tendo em conta que o Caixabank tem a grande maioria do capital. O espanhol Pablo Forero será o novo presidente executivo, substituindo Fernando Ulrich, que passará a presidente do Conselho de Administração (‘chairman’) do banco.

Já Artur Santos Silva, fundador do BPI e atual ‘chairman’, ficará como presidente honorário do Banco BPI e presidente de uma nova comissão dedicada à responsabilidade social.

Segundo a proposta definitiva divulgada ao mercado e que irá a votos na assembleia-geral, o novo Conselho de Administração do BPI na ‘era Caixabank’ contará com Fernando Ulrich como presidente (‘chairman’), dois vice-presidentes (Pablo Forero, o presidente executivo, e António Lobo Xavier) e com 16 vogais (Alexandre Lucena e Vale, António Farinha de Morais, Cristina Rios Amorim, Francisco Barbeira, Gonzalo Rotaeche, Ignacio Alvarez-Rendueles, João Oliveira e Costa, José Pena do Amaral, Javier Riera, Juan Alcaraz, Juan Fuertes, Lluís Pi, Pedro Barreto, Tomas Jervell, Vicente Barutel e ainda um representante da seguradora Allianz).

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CaixaBank: “BPI é bem gerido mas tem problema de eficiência”

Administrador financeiro do grupo catalão que comprou o BPI diz que o banco é bem gerido por Fernando Ulrich, apresenta rácios de solvência saudáveis mas tem um problema: falta-lhe eficiência.

O CaixaBank diz estar 100% concentrado no BPI, banco cuja compra foi finalizada em fevereiro deste ano. Para o administrador financeiro do grupo catalão, o banco português é bem gerido por Fernando Ulrich, apresenta bons níveis de solvência mas tem um problema de eficiência.

Questionado pelo jornal elEconomista (acesso livre/conteúdo em espanhol) sobre um eventual interesse no Popular, o CaixaBank considerou que o “foco está colocado no BPI”. “Deram-nos as chaves há apenas dois meses e estamos concentrados em crescer de forma orgânica”, declarou Javier Pano, CFO do CaixaBank, para quem o negócio do banco português funciona muito bem.

“A rede tem uma grande atividade comercial e há um dia-a-dia em que estamos focados. É um banco bem gerido, sem problemas de solvência ou liquidez, que é o principal de uma companhia financeira, mas tem um problema de eficiência“, declarou o responsável.

"A rede tem uma grande atividade comercial e há um dia-a-dia em que estamos focados. É um banco bem gerido, sem problemas de solvência ou liquidez, que é o principal de uma companhia financeira, mas tem um problema de eficiência.”

Javier Pano

Administrador financeiro do CaixaBank

O CaixaBank é dono de quase 85% do BPI desde fevereiro passado, depois de ter lançado uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) obrigatória na qual investiu quase de 650 milhões de euros. Pablo Forero será o próximo presidente executivo do banco português, substituindo Fernando Ulrich que passa a chairman da instituição. Mudanças que deverão ser aprovadas na próxima assembleia geral do BPI, marcada para o próximo dia 26 de abril.

“Portugal está a melhorar em todas as frentes”

Na mesma entrevista, Pano manifestou algum otimismo em relação a Portugal e à recuperação da sua economia. “Está a cumprir com os seus compromissos e está a melhorar em todas as frentes”, disse o administrador.

Ainda assim, não deixou de considerar que o país ainda “tem muito futuro à sua frente” depois de ter “superado adequadamente uma situação complicada”. E salientou que a economia tem vindo a acelerar nos últimos trimestres.

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BPI vai mudar de auditor em 2018. Deloitte sai. PwC entra

Tendo em conta a OPA do CaixaBank sobre o BPI, a CMVM aceitou que a Deloitte permaneça como ROC até à aprovação das contas de 2018. Depois o novo auditor será a PwC que apresentou a melhor proposta.

As novas regras determinam o BPI tem de mudar de auditor, mas como o banco foi alvo de uma OPA por parte do CaixaBank em fevereiro pediu à CMVM uma exceção para reconduzir a Deloitte no cargo. No entanto, a partir de 2018, a PwC vai passar a ser o auditor da instituição, que exerce também essas funções no banco espanhol.

“Atualmente o BPI depara-se com um quadro de excecionalidade”, escreve o banco na proposta do conselho fiscal para o mandato do Revisor Oficial de Contas e que foi alvo de uma correção, e por isso republicada esta quinta-feira na CMVM. O BPI explica que por causa da OPA que introduziu uma “profunda alteração da composição acionista” e das “consequências decorrentes desta alteração” considera “inoportuno o processo de substituição do Revisor Oficial de Contas”, ou seja a Deloitte, por considerar que essa “substituição prejudicaria a qualidade e celeridade dos trabalhos” de alteração na estrutura do banco, nos quais a intervenção do ROC é fundamental.

Assim o BPI pediu à CMVM ara reconduzir “o atual ROC pelo período máximo de um exercício”.

A CMVM deliberou que a Deloitte pode permanecer em funções “até à aprovação das contas do exercício”, ou seja, na assembleia geral do banco em 2018, sem prejuízo de haver um período de transição que assegure “os trabalhos de transição”. Mas para que o período de transição seja mínimo, a CMVM aconselhou a escolha já de um novo ROC.

Feitas as avaliações técnicas e económicas aos convites feitos, o Conselho Fiscal considerou a PwC como a “sociedade mais bem avaliada” e com “uma proposta de honorários próxima da melhor”.a KPMG ficou em segundo lugar nesta avaliação apesar de te uma maior presença no setor financeiro nacional e ter tido a melhor proposta de honorários.

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Fernando Ulrich enviou carta a Carlos Costa para repor “a verdade dos factos”

  • ECO
  • 11 Março 2017

O presidente do BPI enviou uma carta ao governador do Banco de Portugal onde contestou afirmações que Carlos Costa fez, em entrevista ao Público, sobre os alertas de Ulrich para a situação do GES.

O presidente do conselho de administração do BPI, Fernando Ulrich, enviou uma carta ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, para repor “a verdade dos factos” sobre os alertas que fez, em 2013, em relação ao Grupo Espírito Santo (GES), revela este sábado o Público. A ação de Ulrich foi provocada por afirmações de Carlos Costa ao jornal, desvalorizando os alertas que o banqueiro lhe terá feito sobre a fragilidade do GES.

Em entrevista ao Público, o governador do Banco de Portugal desvalorizou o papel de Fernando Ulrich nas chamadas de atenção para o problema do GES. Reconhece que o presidente do BPI lhe entregou um documento, tal como tinha sido revelado pela reportagem da Sic, mas garante que “nesse momento, o Grupo GES já tinha sido identificado como uma das grandes entidades devedoras do sistema.” E diz mesmo: “O BPI entregou um documento que foi devidamente tido em conta, embora não acrescentasse ao que já conhecíamos.”

Sobre o teor do documento, Carlos Costa explicou ao jornal que este tinha sido “produzido num contexto diferente”, que o governador admite “que tenha sido de assessoria num conflito entre partes.”

Foi esta última afirmação que Ulrich contestou na carta enviada agora ao governador. “Esta afirmação não é correta, por isso enviei uma carta ao sr. governador do Banco de Portugal, na qual reponho a verdade dos factos”, conta o presidente do BPI, num email enviado ao Público.

Conforme recorda o jornal, Fernando Ulrich disse na comissão parlamentar de inquérito ao BES que enviou uma carta ao então ministro das Finanças, Vítor Gaspar, alertando para a concentração de dívidas de entidades do GES no Fundo ES Liquidez. Contudo, nesta comissão Ulrich não referiu a carta que terá enviado em agosto a Carlos Costa, com os mesmos avisos. A Sic noticiou que os dados referidos nesta carta ao governador terão sido fundamentados por uma análise de uma equipa de técnicos do BPI, feita com dados do conhecimento público.

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Walking Dead. BPI junta-se ao clube dos mortos vivos na bolsa portuguesa

A lista de mortos vivos na bolsa portuguesa não pára de aumentar. O BPI juntou-se ao clube de zombies depois da OPA do CaixaBank. Euronext assume vontade de regenerar mercado. Mas há interesse?

Não faltam zombies no mercado nacional. (Ilustração de Raquel Martins)Raquel Sá Martins

A sétima temporada de Walking Dead regressa mais logo à antena da Fox. A série norte-americana retrata o instinto de sobrevivência do Homem num mundo dominado por zombies. É mais ou menos esse o sentimento dos investidores na bolsa portuguesa. O BPI juntou-se ao vasto clube de mortos-vivos na praça nacional. É um Walking Dead à portuguesa.

As cotadas são consideradas como zombie quando apresentam uma escassa liquidez e uma baixa dispersão de capital (reduzido free float), o que leva a que centrem menos atenção de investidores e analistas (havendo poucos ou nenhuns a cobrirem essas cotadas). Na bolsa portuguesa, não faltam mortos vivos: Vista Alegre, Luz Saúde, Estoril Sol, Cimpor, Sonaecom, Pharol… um clube ao qual se juntou recentemente o BPI, depois da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank ter deixado apenas cerca de 7% do capital disponível para negociação.

O BPI era um dos títulos que despertava maior interesse por parte dos investidores“, diz a equipa de analistas do Banco BiG. “Não perspetivamos a entrada de novas empresas em bolsa, o que acaba por exponenciar o perfil histórico-cultural relativamente anémico do mercado de capitais português”, acrescenta.

O cenário é um pouco desolador. Além de um menor número de empresas cotadas, que foram saindo da bolsa ora por via de aquisições e fusões, ora por via de falências, muitas das que ainda resistem no mercado de capital apresentam um nível de liquidez pouco interessante do ponto de vista do investidor.

De acordo com os dados compilados pela Bloomberg, um quinto das cotadas nacionais apresenta um free float abaixo de 15%, um nível abaixo do qual um investidor corre o risco de ficar com as ações “estancadas” na sua carteira sem que se vislumbre um potencial comprador durante um bom período de tempo. É esse o limite estabelecido pela Euronext para uma cotada sonhar com a subida ao principal escalão bolsista nacional, o PSI-20.

São zombies que não assustam o BiG: “Ainda há sólidas empresas, em diferentes setores de atividade, que deverão continuar a atrair interesse de investidores nacionais e internacionais”.

"O BPI era um dos títulos que despertava maior interesse por parte dos investidores. Não perspetivamos a entrada de novas empresas em bolsa, o que acaba por exponenciar o perfil histórico-cultural relativamente anémico do mercado de capitais português.”

Banco BiG

É preciso recuar até dezembro de 2014 para chegarmos à última Oferta Pública de Venda (OPV) que levou uma empresa nacional à bolsa. Foram os CTT, depois de um processo de privatização do Governo de Passos Coelho na altura da troika, numa operação que rendeu um total de 909 milhões de euros aos cofres do Estado.

Antes, em fevereiro de 2014, também a Espírito Santo Saúde alcançava o mercado de capitais. Mas da mesma forma como entrou e gerou entusiasmo em torno de um novo capítulo na bolsa portuguesa, em poucos meses foi alvo de uma OPA da Fidelidade, dos chineses da Fosun. Mudou de nome, passou a chamar-se Luz Saúde e hoje em dia é controlada em 98,7% pela seguradora sino-portuguesa.

Apocalipse no PSI-20

A Espírito Santo Saúde era uma das jóias do Grupo Espírito Santo. A queda do império Espírito Santo em 2014 representou o momento apocalíptico para bolsa portuguesa. Criou um cemitério para onde foram BES, Espírito Santo Financial Group e outras sociedades do grupo. O processo arrastou consigo a Portugal Telecom, na sequência de um investimento a “fundo quase perdido” de 900 milhões de euros em papel comercial da Rioforte. Foi divida em duas: a Meo (PT Portugal) foi vendida aos franceses da Altice e a PT SGPS, que ressurgiu com o nome Pharol.

A cotada liderada por Palha da Silva é um dos zombies que vão deambulando num PSI-20 desmembrado. Apesar do vibrante arranque de ano que está a apresentar, não há analista que acompanhe a Pharol. Isto porque a antiga PT SGPS funciona como um “paradeiro” de uma posição de 22% da brasileira Oi. Tal como é a Semapa, a holding de Pedro Queiroz Pereira que detém a Navigator.

Sem uma regeneração da bolsa à vista, tornar o mercado de capitais atrativo para as empresas — e atrair o entusiasmo dos investidores — deverá representar uma das tarefas cruciais do novo presidente do Euronext, Paulo Rodrigues da Silva. Pelo menos foi essa a principal frente de atuação de Maria João Carioca no seu curto mandato à frente da Euronext Lisboa.

Em entrevista ao ECO, logo após ter assumido a presidência da gestora da bolsa de Lisboa, Carioca disse estar a trabalhar no sentido de trazer mais empresas para a bolsa, admitindo preocupação com a pouca profundidade e baixa liquidez do mercado nacional. A bolsa precisa desesperadamente de novas cotadas? “Desesperadamente é uma expressão muito, muito muito forte. Acho que mais do que precisar de mais empresas, a bolsa portuguesa precisa muito de consolidar as histórias de qualquer empresa que esteja no mercado“, sublinhou a gestora que está de saída para a Caixa Geral de Depósitos.

"Acho que mais do que precisar de mais empresas, a bolsa portuguesa precisa muito de consolidar as histórias de qualquer empresa que esteja no mercado.”

Maria João Carioca

Presidente da Euronext Lisboa

Sobre a presença de empresas zombies, Carioca lembrou que algumas assumem esse estatuto por decisão dos próprios acionistas, que preferem manter a porta do mercado de capitais aberta em vez de retirar a cotada definitivamente da bolsa. Reforçou que o mercado tem sempre de ser visto numa perspetiva de longo prazo. “Temos de ser capazes de conviver com estes ciclos deprimidos garantindo que os mecanismos de mercado continuam a funcionar e que não deitamos o bebé fora com a água do banho“, referiu.

Vagueando na bolsa

Um quinto das cotadas nacionais apresenta um free float abaixo de 15%. Cotadas como Pharol e Semapa funcionam como “paradeiros” de participações noutras empresas e estão na principal montra nacional. Conheça alguns zombies que vagueiam na bolsa nacional, um clube ao qual se juntou este mês o BPI.

CaixaBank “seca” BPI

A OPA do CaixaBank secou quase por completo a dispersão do BPI em bolsa. Os espanhóis ficaram com mais de 84,5% do banco português. Só que a Allianz não participou na oferta, deixando o BPI com um free float de cerca de 8%, razão pela qual a Euronext decidiu excluí-lo do PSI-20.

Continuará na bolsa? Sem hipótese de realizar uma OPA potestativa, Gonzalo Górtazar, presidente do grupo catalão, afirmou que a intenção é manter o BPI na bolsa. Mas abriu a porta à saída do mercado de capitais. “Temos de analisar se a liquidez é suficiente”. E “que alternativas temos”, precisou o responsável espanhol.

Pharol vê a luz

O que torna a Pharol num morto vivo não é tanto a baixa dispersão em bolsa. É antes o facto que a empresa existir apenas como um paradeiro de uma participação de 22% na Oi, a operadora brasileira que enfrenta o maior processo de recuperação judicial da história do Brasil.

Apesar da sua condição zombie, as ações têm estado bem vivas desde o início do ano. Apresentam o melhor desempenho em Lisboa — avançam mais de 80% em 2017 — acompanhando a evolução da Oi, que prossegue o seu plano de reestruturação perante o interesse de vários fundos na sua aquisição.

Luz (sem) Saúde na bolsa

Apenas 1,3% da Luz Saúde ainda deve estar disperso em bolsa, depois de a Fidelidade ter reforçado a sua posição ao longo dos últimos meses, na sequência da OPA realizada em 2014. A Fidelidade é detida pelos chineses da Fosun, que estão cada vez mais perto de assumir a totalidade do capital da empresa liderada por Isabel Vaz.

Cimpor deambula desde 2012

Desde que foi alvo de OPA por parte da brasileira Camargo Corrêa, em 2012, a dispersão da Cimpor em bolsa nunca foi suficiente para retirar a cimenteira portuguesa do estado “moribundo” que se apresenta como cotada — enquanto empresa, a Cimpor mantém viva a sua atividade. Menos de 5% do seu capital está disponível para negociação entre os investidores.

Sonaecom perdeu vida com saída da Optimus

Fundiu-se a Optimus com a Zon, nasceu a Nos, mas a Sonaecom perdeu vida. A empresa do universo Sonae ainda forçou uma saída da bolsa depois de uma OPA sobre os minoritários. Mas a operação não foi bem-sucedida. Hoje em dia, restam apenas 7,5% de capital da Sonaecom em bolsa. Está em vista o abandono do mercado de capitais.

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O mundo de Isabel dos Santos está a mudar

Isabel dos Santos abandona o BPI por força da OPA do CaixaBank, mas sai em grande. Fica com a fatia de leão do lucrativo negócio do BFA. E mantém protagonismo na banca portuguesa com BIC e BCP.

Isabel dos Santos pode ter saído do BPI na sequência da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank, mas continua a manter bem vivo o interesse no sistema financeiro nacional. Ao mesmo tempo que vendia a sua posição de 18,5% aos espanhóis, a empresária angolana via a Sonangol (empresa estatal que lidera) reforçar o seu protagonismo no rival BCP. Se a OPA espanhola foi inicialmente encarada como um revés à estratégia de Isabel dos Santos, a própria fez questão de virar o tabuleiro a seu favor no decorrer do processo: a sua Unitel ficou com a maioria do lucrativo negócio do BPI em Angola (o BFA) e abandona agora o capital do BPI, onde entrou em 2009, com um ganho de 80 milhões de euros.

Em Portugal, Isabel dos Santos detém ainda uma participação importante no BIC Portugal — também através da Santoro, com 42,5%. Aliás, o BIC Angola, criado em 2005 por Fernando Teles e que contou também com a participação de Américo Amorim, marcou o início do percurso da filha do presidente angolano na atividade bancária. Mas qual o interesse da empresária no setor financeiro?

“Estes movimentos de ligações financeiras, comerciais, económicas pós-coloniais têm objetivos estratégicos para os angolanos. Com a participação nos bancos em Angola têm acesso ao crédito, e com as conexões financeiras acedem aos circuitos financeiros internacionais através de bancos europeus”, refere o jornalista Filipe S. Fernandes, autor do livro “Isabel dos Santos – Segredos e poder do dinheiro”.

"Estes movimentos de ligações financeiras, comerciais, económicas pós-coloniais têm objetivos estratégicos para os angolanos. Com a participação nos bancos em Angola têm acesso ao crédito, e com as conexões financeiras acedem aos circuitos financeiros internacionais através de bancos europeus.”

Filipe S. Fernandes

Foi em outubro de 2007 que o BIC teve autorização para operar em Portugal. Um negócio que ainda hoje levanta dúvidas aos supervisores. No início deste ano, respondendo a questões colocadas pelos eurodeputados, a Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês) defendeu um maior controlo do Banco de Portugal em relação aos interesses da empresária angolana no sistema financeiro nacional.

Em concreto, a EBA pediu ao supervisor português “a adoção de todas as medidas necessárias para a supervisão específica da instituição de crédito e para assegurar a eficácia das regras adotadas sobre a governança corporativa e a luta contra a lavagem de dinheiro no contexto dos acionistas do banco BIC“. Da instituição liderada por Carlos Costa, a EBA recebeu a garantia de que estava a resolver “algumas deficiências”.

"[Cabe ao Banco de Portugal] a adoção de todas as medidas necessárias para a supervisão específica da instituição de crédito e para assegurar a eficácia das regras adotadas sobre a governança corporativa e a luta contra a lavagem de dinheiro no contexto dos acionistas do banco BIC.”

Autoridade Bancária Europeia

Mais mudanças na vida de Isabel dos Santos deverão acontecer já este ano. Os angolanos vão às urnas e José Eduardo dos Santos não é candidato a prolongar uma presidência que dura há 37 anos. Os analistas acreditam que será a oportunidade de o MPLA retirar poder e influência à família dos Santos. Algo que deverá ter impacto imediato na vida profissional empresária angolana, já que admite antecipar a sua saída da petrolífera Sonangol para se dedicar exclusivamente à sua atividade privada.

Mas, aconteça o que acontecer, o BCP deverá escapar mesmo à gestão direta da Sonangol e da própria Isabel dos Santos. Está em curso uma reestruturação profunda na petrolífera estatal que prevê uma separação dos diferentes negócios da empresa. A participação no maior banco português, que deverá aumentar nos próximos meses, será transferida para uma subholding que passará a responder diretamente ao Estado angolano. E dos Santos e a Sonangol passam a centrar atenções na sua atividade principal: o petróleo.

“Não estávamos a controlar os nossos ativos — os nossos ativos no petróleo — tanto quanto queríamos e, principalmente, faltava-nos visão estratégica. (…) A minha visão é tornar a Sonangol muito rentável”, declarou a angolana ao Financial Times em dezembro passado, a propósito do plano de recuperação que está a empreender na petrolífera estatal.

Isabel dos Santos chegou ao BPI justamente por via do BCP, em dezembro de 2008, quando o Itau vendeu a sua participação ao La Caixa que, depois, alienou uma fatia a Isabel dos Santos. O reforço no BIC é feito via BIC Angola, e faz subir para mais de 20%, mas indiretamente porque parte pertence a Fernando Teles.

No decorrer da OPA do CaixaBank, a empresária angolana chegou a propor uma mega fusão entre o BPI e o BCP, como forma de contrariar o domínio espanhol. A proposta não convenceu, mas Isabel dos Santos não ficou por aqui. Para aprovar a venda do BPI ao grupo catalão, o banco português teria de dar o controlo maioritário a Isabel dos Santos — por esta altura, também o Banco Central Europeu (BCE) pressionava a venda como forma de reduzir a exposição do BPI ao mercado angolano.

A 5 de janeiro deste ano, a Unitel oficializava a compra de 2% do Banco de Fomento de Angola (BFA) ao BPI por 28 milhões de euros, passando assim a controlar 51,9% do capital do banco. Um negócio que muitos consideraram uma “pechincha” — e uma vitória — para Isabel dos Santos em face da rentabilidade do BFA. Percebe-se. O BPI registou em 2016 lucros de 313,2 milhões de euros, com o BFA a dar um contributo de 162,7 milhões, o mais elevado de sempre.

A empresária angolana sai do BPI mas não abandona o protagonismo na banca portuguesa. O mundo da Isabel dos Santos está a mudar.

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Era uma vez um setor financeiro na bolsa portuguesa

A ascensão e queda da banca nacional na bolsa de Lisboa. Iminente saída do BPI deixou mercado praticamente coxo do sistema bancário que dominou no capitalismo popular e caiu com ele.

Era uma vez um setor financeiro que durante anos exerceu domínio na bolsa nacional. Eram bancos que davam expressão à negociação em Lisboa, mas cuja influência no mapa bolsista se foi desvanecendo ao longo do tempo por entre fusões e aquisições, falências e bancarrotas. Apareceram como cogumelos em plena era de “capitalismo popular” nos anos 90. BES, BCP e BPI estavam acompanhados por outros bancos como o Banco Mello, Totta & Açores, Fonsecas & Burnay, Pinto & Sotto Mayor… Mas como apareceram na bolsa, também desapareceram. E hoje é o BCP a assumir protagonismo em Lisboa.

A iminente saída do BPI do mercado acionista, depois do sucesso da Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank ter retirado o banco português do PSI-20, é o último episódio da perda de força bolsista que a banca observou nas últimas décadas. Faz sentido manter o BPI cotado na bolsa? “A intenção é mantê-lo em bolsa… mas temos de analisar se a liquidez é suficiente. E que alternativas temos”, declarou Gonzalo Gortázar, presidente do CaixaBank, abrindo a porta à saída do mercado. Mais uma…

Banco Nacional Ultramarino, em Lisboa.Biblioteca de Arte Fundação Calouste Gulbenkian

“É a consequência da crise financeira internacional, assim como da forte recessão pela qual passou a economia portuguesa. Forçou uma significativa recapitalização do setor“, refere Albino Oliveira, da Patris Investimentos. “A própria aquisição do BPI pelo CaixaBank poderá ser vista como sinal do enfraquecimento do setor bancário português, com o processo de venda de ativos, reforço da base de capital e a melhoria da qualidade do balanço a criar um ambiente propício à realização de fusões e aquisições“, contextualiza.

"A aquisição do BPI pelo CaixaBank poderá ser vista como sinal do enfraquecimento do setor bancário português, com o processo de venda de ativos, reforço da base de capital e a melhoria da qualidade do balanço a criar um ambiente propício à realização de fusões e aquisições”

Albino Oliveira

Patris Investimentos

O Banif foi o último banco a desaparecer do mapa. Foi em dezembro de 2015 que o Banco de Portugal aplicou uma medida de resolução semelhante ao que aplicara ao BES ano e meio antes. Na ocasião, decidiu-se pela venda do banco fundado por Horácio Roque ao Santander Totta, por 150 milhões de euros, depois de o processo de venda voluntária ter falhado.

O Banif havia sido intervencionado no final de 2012 através de uma recapitalização de 1.100 milhões de euros com recurso aos cofres públicos, passando para a esfera pública. Falhou o reembolso da ajuda ao Estado em 2014, situação que levou a que a Direção-Geral da Concorrência Europeia (que avalia as ajudas estatais) a exigir um desfecho para o banco que garantisse o pagamento da dívida. Sem um plano de recapitalização avalizado por Bruxelas, a resolução aplicada ao Banif foi a solução encontrada por Lisboa para proteger os depositantes.

A medida imposta ao Banif seguiu os mesmos moldes da aplicada ao BES, em agosto de 2014, e que culminou no colapso do universo Espírito Santo, incluindo a Espírito Santo Financial Group, que chegou a pertencer ao clube do PSI-20. A resolução do BES implicou a divisão da instituição em duas partes: o banco bom que se passou a chamar Novo Banco e cujo processo de venda se arrasta desde então; e o banco mau, que ficou com os ativos problemáticos do antigo BES e que já entrou em liquidação.

Os loucos anos 90

Mas foi na década de 1990 que a preponderância do setor financeiro na bolsa mais se fez sentir. Após a nacionalização de várias instituições bancárias nacionais no período que se seguiu à revolução do 25 de abril de 1974, a reversão das nacionalizações deu lugar a inúmeras privatizações no setor: Banco Totta & Açores, Banco Português do Atlântico, Banco Espírito Santo e Comercial, Banco Fonsecas & Burnay, Crédito Predial Português, União de Bancos Portugueses, Banco Pinto & Sotto Mayor e Banco de Fomento e Exterior.

A opção bolsa para muitos destas instituições financeiras dá-se também num contexto favorável de incentivos fiscais criados pelo Governo de Cavaco Silva, no âmbito da Lei Sapateiro, o pacote legislativo que resultou no Código de Valores Mobiliários publicado em 1991.

Este processo foi aproveitado sobretudo por parte de BPI, BCP e Caixa Geral de Depósitos para reforçar a sua quota de mercado em Portugal, dando início a uma período de forte concentração do setor em Portugal que se prolongou até à década seguinte:

  • O BCP adquiriu Banco Português do Atlântico, Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco Chemical e Banco Mello (inclui a União de Bancos Portugueses);
  • O BPI adquiriu Banco Fonsecas & Burnay, Banco de Fomento e Exterior e Banco Borges & Irmão;
  • O Santander adquiriu Banco Totta & Açores, o Crédito Predial Português e mais recentemente o Banif;
  • A Caixa Geral de Depósitos adquiriu Banco Nacional Ultramarino.

Albino Oliveira lembra que este período “ficou marcado por um crescimento do crédito bem acima do ritmo de expansão da economia, o que acabou mais tarde por levar o país a atravessar uma forte recessão e solicitar um programa de assistência financeira aos seus parceiros europeus”. Este excesso na concessão de empréstimos “levou a que os últimos anos fossem marcados por um significativo processo redução do endividamento por parte de famílias e empresas, traduzindo-se num ciclo de crédito desfavorável para o setor“.

Foi num cenário de forte quebra da rentabilidade que o setor empreendeu um duro processo de reestruturação nos últimos anos, que passou pela diminuição do negócio através do fecho de agências e despedimentos em larga escala. Instituições como o BPN ou BPP desapareceram. O BES sucumbiu na complexa rede de financiamento a outras sociedades do Grupo Espírito Santo. A banca socorreu-se da ajuda do Estado para se capitalizar.

"Em suma, os últimos anos para o setor bancário em Portugal apresentam semelhanças ao observado não só neste setor em outras crises financeiras de outros países (exemplo, Suécia em 1992), como também noutros setores de atividade (tecnologia em 2000 e imobiliário em 2017, ambos nos EUA).”

Albino Oliveira

Patris Investimentos

“Em suma, os últimos anos para o setor bancário em Portugal apresentam semelhanças ao observado não só neste setor em outras crises financeiras de outros países (exemplo, Suécia em 1992), como também noutros setores de atividade (tecnologia em 2000 e imobiliário em 2017, ambos nos EUA)”, recorda Albino Oliveira. “Em qualquer dos casos, foi observado uma redução no tamanho do setor, como consequência da crise observada após um período de excessos“, frisa.

 

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CaixaBI aplica desconto de 10% ao BPI mas recomenda compra após OPA

CaixaBI baixou avaliação dos títulos do BPI face à reduzida liquidez que o título apresenta. Ainda assim, dá potencial de valorização de 18%, recomendando "comprar" BPI após a oferta espanhola.

O CaixaBI aplicou um desconto de 10% ao preço-alvo que atribui ao BPI BPI 0,00% , recomendando “comprar” títulos do banco mesmo após a Oferta Pública de Aquisição (OPA) do CaixaBank ter deixado a cotada portuguesa com uma reduzida liquidez em bolsa.

A nova avaliação é agora de 1,15 euros face aos 1,30 euros estimados anteriormente, com o banco de investimento a explicar esta redução do preço-alvo com um “desconto de liquidez” aplicado aos títulos após o grupo catalão ter ficado com 84,5% do BPI através de uma oferta que não contou com a participação da acionista Allianz, que detém mais de 8,5% do banco português.

Ou seja, o BPI apresenta um free float entre 6% e 7%, um nível de ações disponíveis para transação baixíssimo que levou a Euronext a retirar o banco português da sua montra principal, o PSI-20, na semana passada. As ações continuam admitidas à negociação na bolsa geral.

Desde o fim de OPA, o BPI desvaloriza cerca de 19%. Está esta sexta-feira a cotar nos 0,945 euros por ação. A nova estimativa do CaixaBI deixa assim uma margem para uma valorização de 18% e é com base neste potencial que o banco de investimento recomenda “comprar” títulos do BPI — baixando a recomendação de “acumular”.

Nota: A informação apresentada tem por base a nota emitida pelo banco de investimento, não constituindo uma qualquer recomendação por parte do ECO. Para efeitos de decisão de investimento, o leitor deve procurar junto do banco de investimento a nota na íntegra e consultar o seu intermediário financeiro.

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