BCE tem juro em 0%. Abrandamento da economia pode obrigar a baixar ainda mais a taxa

Pressionado pela desaceleração da economia e riscos externos, Mario Draghi poderá ser obrigado a tomar novas medidas. Há 50% de hipótese de ter de cortar ainda mais os juros.

A taxa de referência do euro está em mínimo histórico desde a crise. E o Banco Central Europeu (BCE) poderá ter perdido a “janela de oportunidade” para a subir. Pressionado por riscos internos e externos, o banco central vai tentar travar a desaceleração com uma nova série de empréstimos a baixos custos à banca, mas um novo corte nos juros, que já estão em 0%, começa a desenhar-se nos mercados financeiros.

O BCE tem um novo economista-chefe que poderá estrear-se nas reuniões de política monetária europeia de tesoura na mão. “Philip Lane é uma adição fantástica à nossa equipa”, disse o presidente do BCE, Mario Draghi, sobre o novo economista-chefe na última reunião do conselho de governadores, em abril. Mas Lane não deverá ter o trabalho facilitado.

O antecessor Peter Praet reviu as projeções para a economia da Zona Euro, em março, para a atual estimativa de crescimento de 1,1%, este ano, 1,6% no próximo e 1,5% em 2021. As projeções para a inflação situam-se em 1,2% este ano, 1,5% em 2020 e 1,6% em 2021. Esta quinta-feira, no primeiro encontro em que participa, o irlandês Lane poderá fazer novo corte ou, pelo menos, sinalizar o aumento dos riscos.

“Apesar de o crescimento da Zona Euro ter ganho impulso no primeiro trimestre de 2019 [com um crescimento de 0,4%], a tendência é de moderação devido à fraqueza prolongada do setor industrial relacionado com fatores estruturais e abrandamento da procura global”, referem o economista Vitor Sun Zou e a economista sénior María Martínez, do BBVA, numa nota de research.

Apesar de não esperarem alterações muito significativas no outlook para este ano, os analistas do BBVA consideram que “a guerra comercial e o aumento da incerteza política poderá levar a uma ligeira revisão em baixa das estimativas no horizonte temporal”, ou seja, para os próximos dois anos.

“O BCE continua impossibilitado de normalizar a sua política monetária após uma deterioração das perspetivas macroeconómicas”, explica Franck Dixmier, global head of fixed income da Allianz Global Investors (GI). “O balanço dos riscos continua a pender para o lado negativo, e esses riscos – em particular, as incertezas persistentes relacionadas com o Brexit, Itália e, acima de tudo, as tensões no comércio global – são difíceis de quantificar”.

Limitado na possibilidade de normalização da política monetária pelo aumento dos riscos, os futuros do mercado monetário indicam 50% de probabilidade de o BCE descer a taxa de referência (em mínimos históricos desde 2015) em 10 pontos base no final deste ano, em linha com as expetativas para a política monetária dos EUA.

Enquanto a Fed tem a taxa entre 2,25% e 2,50%, o BCE não saiu de 0%. Um corte poderá colocar a taxa em “terreno” negativo, como já estão os juros dos depósitos, situação que tem penalizado a banca europeia.

Para já, o BCE irá tentar estimular a economia através do setor financeiro. Draghi deverá ainda apresentar detalhes sobre os termos da terceira ronda de TargetedLonger-TermRefinancingOperations (TLTROIII) que terão início em setembro, sendo que os efeitos serão limitados. Poucos bancos, de poucos países, admitem recorrer a esta nova ronda tendo em conta o abrandamento na procura por crédito por parte das empresas.

Uma das dúvidas que vai ser esclarecida prende-se com a taxa a que serão concedidos esses empréstimos aos bancos. “O BCE tem duas opções: usar a taxa destes empréstimos como ferramenta monetária, por exemplo combinando-a com a taxa de depósitos — uma forma de aliviar bancos cuja rentabilidade está a ser pressionada pelo ‘imposto’ de 40 pontos base sobre o excesso de reservas — ou adotar uma postura mais restritiva, definindo um juro igual à taxa de refinanciamento [0%]”, explicou Dixmier.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Bruxelas avisa que sustentabilidade do sistema de pensões pode estar em risco

Envelhecimento demográfico, aumentos extraordinários das pensões e alterações nas reformas antecipadas podem ameaçar sustentabilidade das pensões, alerta Bruxelas.

A sustentabilidade do sistema de pensões pode estar em risco, se não forem tomadas as medidas adequadas para compensar o peso decorrente do envelhecimento demográfico, dos aumentos extraordinários das pensões e das alterações feitas ao regime de antecipação da reforma. O alerta foi deixado, esta quarta-feira, pela Comissão Europeia, nas suas recomendações específicas para Portugal, no âmbito do semestre europeu.

“Ainda que algumas reformas tenham melhorado a sustentabilidade a longo prazo do sistema de pensões, os aumentos extraordinários das pensões e as reformas do sistema de pensões antecipadas implicaram novos aumentos discricionários de despesa, que se juntaram à tendência de crescimento desses gastos motivada pelo envelhecimento”, explica Bruxelas, concluindo assim que a sustentabilidade do sistema “pode estar em risco se não foram tomadas medidas compensatórias”.

Esta alerta deixado pela Comissão Europeia está em linha com as recomendações feitas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), na sua análise ao sistema de pensões português.

Nesse relatório, a OCDE defendeu o alargamento do fator de sustentabilidade a todas as pensões (e não apenas às antecipadas), bem como o agravamento do corte de 0,5% por cada mês antecipado face à idade legal da reforma, de modo a “assegurar a sustentabilidade financeira” deste sistema, medidas que o Governo rejeitou prontamente. O organismo liderado por José Ángel Gurría sugeriu ainda que o acesso à reforma antecipada com “cortes mais leves” por desempregados de longa duração devia ser travado e considerou ser prudente acabar com os regimes especiais de acesso à reforma antecipada.

O alerta da Comissão Europeia também encontra eco no estudo publicado, em abril, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, sobre a sustentabilidade do sistema de pensões nacional, no qual se concluiu que o aumento considerável do número de pensionistas deverá levar as contas da Segurança Social a défices crónicos já em 2027. Sugeriu-se, nesse âmbito, o adiamento em três anos da idade legal da reforma para atirar o aparecimento desse desequilíbrio para lá de 2070. O Executivo também rejeitou tal hipótese.

Em contrapartida, o Governo tem sublinhado que o colapso do sistema de pensões tem de ser evitado não pelas vias referidas, mas através do reforço do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), que pela primeira vez ultrapassou em março os 18 mil milhões de euros. Ainda que não refira o FEFSS diretamente, a Comissão Europeia recomenda a Portugal que tome mais medidas para evitar o colapso do sistema de pensões, compensando a tendência demográfica de envelhecimento (que deverá levar ao aumento do número de pensionistas), as subidas extra destas prestações sociais e as mudanças nas regras das pensões antecipadas.

É importante referir que, em janeiro de 2019, mudou o regime de antecipação da reforma. Quem tem 63 anos e que aos 60 já tivesse 40 de contribuições passou a não ser alvo do fator de sustentabilidade (um corte de 14,7%), alívio que chega em outubro aos beneficiários com 60 anos e 40 de descontos. No total, esta medida deverá custar 66 milhões de euros aos cofres do Estado.

A essa isenção soma-se aquela iniciada em outubro 2017, que deixou livre do fator de sustentabilidade e do corte mensal os beneficiários com 60 anos e, pelo menos, 48 de contribuições. Desde outubro de 2018, que essa isenção também foi alargada a quem se reforma aos 60 com 46 de descontos, tendo iniciado a carreira com 16 anos ou idade inferior.

Já sobre o aumento extraordinário das pensões, em janeiro, os pensionistas cujas pensões não ultrapassassem os 1,5 Indexante dos Apoios Sociais (653, 64 euros) e cujas pensões não foram atualizadas entre 2011 e 2015 receberam um aumento extraordinário que, somado à atualização normal, refletiu uma subida de dez euros. No caso das pensões que foram atualizadas entre 2011 e 2015, o aumento totalizou os seis euros. Estes aumentos deverão custar 137 milhões de euros ao Estado.

Em 2017 e 2018, estas subidas extraordinárias tinham sido sentidas pelos pensionistas só em agosto. Em 2017, esse aumento chegou a quem auferia um montante global inferior a 631,98 euros e representou um acréscimo de dez euros (ou seis euros, para aqueles que tinham tido as pensões atualizadas entre 2011 e 2015). E em 2018, chegou a quem recebia até 632 euros, refletindo o mesmo aumento já referido.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Exportações de têxtil para Espanha em queda há dois anos. Governo fala em “estabilização das relações”

João Correia Neves nega a existência de "uma situação negativa" na indústria do vestuário, mesmo com as associações a falarem em encerramento de fábricas e perigo de dependência de um só mercado.

As associações do têxtil e do vestuário têm vindo a manifestar preocupação. Falam de encerramento de fábricas, da perda de quota de mercado em Espanha e do perigo da dependência de um só mercado e de um só cliente. Mas, para o secretário de Estado da Economia, João Correia Neves, estes receios não chegam para assombrar o setor. “Não estamos, de todo, com uma situação negativa na área do vestuário e no setor têxtil”, afirma.

A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) denunciou o facto de a Inditex estar a colocar progressivamente menos encomendas em Portugal. Em declarações ao Jornal de Negócios (acesso pago), Paulo Vaz disse que a situação está a “pôr em dificuldades algumas empresas que tinham grande dependência, se não total”.

Confrontado com estas declarações, o secretário de Estado da Economia diz que Portugal tem tido uma “estabilização daquilo que são as relações com Espanha”. “As exportações são muito equilibradas em relação aos anos anteriores e, portanto, não há nenhum decréscimo significativo”, refere João Correia Neves.

As exportações do setor têxtil e vestuário português para Espanha terminaram 2017 com uma quebra de 3,9% (ou 68 milhões de euros), para perto de 1.700 milhões de euros, mas aquele país continua a liderar o ranking dos principais destinos, com uma quota de 31,9% (em 2016 este peso chegou aos 34%). Uma liderança que se manteve no ano seguinte, mas com uma nova quebra. Espanha tinha uma quota de 31,9%, mas registou uma queda de 3,9%, ou seja, menos 68 milhões de euros face ao ano anterior. Ou seja, o mercado espanhol registou dois anos consecutivos de quebra.

Ainda que admita que é preciso ter “prudência” quando se discute temas relacionados com as grandes companhias que compram produtos em Portugal, apontando como exemplo a Inditex, o secretário de Estado diz que “se, eventualmente, há decréscimo de uns compradores, há aumento de outros”.

Sobre o grupo espanhol, João Correia Neves afirma, contudo, que a Inditex é “muito importante” para Portugal “e para as empresas nacionais”. Mas, quando questionado se já houve alguma reunião entre o Governo português e a empresa espanhola, tal como o ministro Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, anunciou perante a Comissão Parlamentar da Economia, para acompanhar esta situação, o secretário de Estado não respondeu.

O objetivo era “perceber quais são os seus planos” e como as empresas se podem “preparar para os próximos tempos”, disse Siza Vieira, na altura, mostrando vontade de se envolver pessoalmente no caso. Apesar das insistências do ECO, o Ministério da Economia não revela se essa reunião já aconteceu.

Dois meses depois da denúncia do problema, em março, Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) colocou água na fervura e frisou, em declarações à Lusa, que “a Inditex não irá abandonar nunca Portugal, porque vai necessitar da produção de proximidade e do conjunto de competências que lhe trazemos, nomeadamente no design, no desenvolvimento de materiais e na rapidez de resposta”. “Mas aquela dimensão e intensidade que tinha no passado vai restringir-se por questões de preço”, disse.

O presidente da Inditex, Pablo Isla, confirmava-o. “Para nós, a produção de proximidade em Portugal, Espanha e Marrocos é importantíssima para a essência do negócio e para a qualidade da confeção, independentemente de qualquer questão ou quebra pontual em determinada campanha”, disse, durante a apresentação dos resultados de 2018 do grupo, na Corunha.

Nuvens a pairar? Secretário de Estado prefere falar de “boas notícias”

No início do ano, o líder do grupo Valérius, José Manuel Vilas Boas Ferreira, referiu, em entrevista ao ECO, que “há uma nuvem a pairar sobre o setor [têxtil]”. “Neste momento não está tudo bem, sabemos que há aqui um problema. Sabemos quais as empresas que estão mais preparadas. Houve clientes que tiraram as encomendas de Portugal, havia empresas que estavam preparadas e os clientes de um momento para o outro retiraram. Não posso dizer nomes, mas os clientes que estão a desmobilizar são muito importantes para a nossa fileira têxtil”, explicava.

João Correia Neves vê, contudo, a situação no setor têxtil com melhores olhos e espera, até, “boas notícias”. “Estamos muito confiantes de que vamos ter capacidade de continuar a crescer em diversos mercados. As empresas estão muito confiantes daquilo que são os resultados para este ano nas exportações. Penso que vamos ter boas notícias do ponto de vista do clima económico do primeiro trimestre”, diz.

Os dados oficiais mostram que, nos primeiros dois meses do ano, as exportações do setor (têxtil e vestuário) cresceram 1,1% face ao período homólogo, com os têxteis a mostrarem maior dinamismo (subida de 3,2%), seguido do vestuário (progressão de 0,4%), com destaque para o vestuário de malha, que cresceu 1,3%.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Governo diz que falta mão-de-obra “em praticamente todos os setores e em todas as regiões”

O secretário de Estado João Correia Neves considera que a falta de mão-de-obra é "transversal". O Tech Visa quer colmatar a escassez de profissionais e, desde janeiro, já há 70 decisões favoráveis.

“Atualmente precisamos de mão-de-obra em praticamente todos os setores e em todas as regiões do país”. O diagnóstico é feito pelo secretário de Estado da Economia, João Correia Neves, em entrevista ao ECO. A necessidade de mão-de-obra que hoje existe em Portugal está a obrigar o mercado de trabalho a ajustar-se, recorrendo a imigrantes ou a portugueses que outrora tiveram de emigrar, acrescenta.

“Temos de procurar mão-de-obra que corresponda às nossas atuais necessidades”, sublinha o responsável.

A necessidade de ir buscar talento lá fora é justificada por João Correia Neves com o contexto económico. “Estamos numa situação muito diferente da que estávamos há uns anos. Fruto da crise económica, tivemos níveis de desemprego muito elevados e níveis de migração de talento também muito altos”, começa por explicar. “Nestes últimos anos, temos tido a capacidade — em função do investimento das empresas — de criar postos de trabalho que fizeram diminuir fortemente a taxa de desemprego“, continua, salientando que os níveis de desemprego se aproximam agora de “níveis naturais“.

Neste cenário, o secretário de Estado da Economia diz que a escassez de mão-de-obra que Portugal enfrenta atualmente não se compara com as necessidades “de há três ou quatro anos, porque o mercado de trabalho, nessa altura, tinha muita gente disponível para trabalhar”. Agora, com menos profissionais disponíveis, a escassez é “transversal” a quase todos os setores e regiões.

No terreno, o problema é identificado em vários quadrantes. Esta quarta-feira, Bruxelas relembrou que os trabalhadores portugueses têm sido um obstáculo ao crescimento do investimento e da produtividade. “A baixa disponibilidade de trabalhadores com competências é um obstáculo importante”, explica a Comissão Europeia nas recomendações específicas para Portugal, no âmbito do semestre europeu.

Bruxelas considera que Portugal precisa de apostar na formação de adultos e de alargar os incentivos públicos atribuídos às pequenas e médias empresas que formem os seus colaboradores, nomeadamente reforçando a literacia digital. “O investimento na educação e na formação, incluindo nas infraestruturas, é uma das chaves para melhorar a empregabilidade e a mobilidade social”, refere, salientando que aumentar o número de licenciados deve ser, também, uma prioridade, particularmente nas áreas da ciência e das tecnologias da informação.

Quem partilha da mesma opinião é a PwC, que, através de um estudo, revelou que a captação de talento é a principal preocupação dos empresários e dos gestores portugueses. Segundo a consultora, a falta de competências essenciais afeta o processo de inovação, tende a aumentar os custos com o pessoal e pode pôr em causa a qualidade ou experiência do cliente.

Para João Correia Neves faltam, sobretudo, profissionais qualificados. Por exemplo, na área da tecnologia, são vários os que são abordados diariamente por empregadores que lhes apresentam novas oportunidades de trabalho.

Tech Visa: “Já há 70 decisões favoráveis”

O programa Tech Visa, que entrou em vigor em janeiro e está inserido no pacote das 19 medidas anunciadas em julho pelo Governo para acelerar o crescimento, foi precisamente criado a pensar na atração e importação de talento. Anunciado por Manuel Caldeira Cabral, ex-ministro da Economia do atual Governo, como sendo um programa dirigido a grandes empresas, especialmente da área da tecnologia, e que possibilitaria a vinda “de quadros altamente qualificados para Portugal de uma forma mais aberta e mais simplificada”, os resultados do Tech Visa têm correspondido às expectativas do Executivo.

“Aquilo que nos levou a fazer este programa parece bater muito certo com aquilo que tem sido a procura. Já há 70 decisões favoráveis em termos de empresas certificadas”, avança o secretário de Estado da Economia. “Temos uma procura para este tipo de programa já muito significativo”, continua, acrescentando que a expectativa é que os números continuem a crescer “de forma significativa”.

Para atenuar o problema de falta de mão-de-obra que o país enfrenta, o Executivo tem recorrido a programas de importação de talento e de qualificação de ativos.

Crescimento esse que poderá ser suportado pela alteração que o programa sofreu no passado mês de abril, no sentido de alargamento daquilo que são as possibilidades de acesso ao Tech Visa. “Antes, o programa estava muito centrado nas empresas mais tecnológicas”, agora foi alargado às empresas de todos os ramos de atividade.

“Estamos, agora, a dar a possibilidade às empresas, independentemente do setor, de irem buscar os recursos, do ponto de vista das qualificações, que necessitam para a sua evolução”, afirma. Ainda assim, a maioria das empresa que concorre ao Tech Visa continua a ser proveniente da área tecnológica. “É normal. O sistema estava muito centrado nas empresas de base tecnológica. [É uma tendência] que se vai manter durante algum tempo”, refere o secretário de Estado, acrescentando que 93% das áreas de formação dos profissionais abrangidos pelo Tech Visa correspondem às ciências informáticas.

E atrair talento para Portugal é, para João Correia Neves, mais fácil do que para outros países. “Temos um sex apeale muito forte”, diz, acrescentando que Portugal tem “condições que outros países não conseguem oferecer: segurança, boa qualidade de vida e uma relação com o ambiente muito favorável”.

Condições essas que o secretário de Estado acredita ultrapassarem mesmo aquilo que são as limitações ao nível fiscal, uma das queixas dos empregadores portugueses que querem recrutar profissionais estrangeiros. João Correia Neves admite que Portugal tem tido “limitações naquilo que são os sistemas normais, como conceção de vistos”, contudo, explica essa barreira com a “dimensão de proteção das comunidades”. “Não podemos ignorar que, em muitos países, há e continua a haver problemas de segurança. Não podemos facilitar aquilo que é a dimensão de segurança e de análise de quem solicita vistos de residência e de trabalho em Portugal”, justifica.

Por outro lado, o secretário de Estado admite que a vinda de pessoas de um país estrangeiro “não é um processo fácil”. “Não é algo que se faça com um estalar de dedos. É importante que haja uma espécie de passar de boca sobre a boa receção que as pessoas têm em Portugal e sobre a boa integração nas empresas”, defende.

Mas, se por um lado, importar talento é uma das formas de colmatar a necessidade de mão-de-obra, por outro lado, qualificar a população portuguesa é, também, uma das prioridades. “Obviamente que gostaríamos de poder atrair pessoas mais qualificadas para as funções que necessitamos”, refere, acrescentando que o Governo tem investido na possibilidade de melhorar as qualificações, “quer das pessoas que ainda estão no início do seu percurso de vida, quer na qualificação de ativos”. Programas como o Qualifica — que visam melhorar os níveis de educação e formação da população portuguesa — são exemplo disso mesmo.

Escassez na construção civil? Sim, mas de qualificações “específicas”

Com a nova vaga de obras públicas que se aproxima, o setor da construção — que nos últimos dez anos perdeu perto de 26 mil trabalhadores e 37 mil empresas — tem reclamado a criação de um ‘visto gold’ para esta área. Mas João Correia Neves nega que o problema da falta de mão-de-obra se concentre neste setor. Ainda assim, o secretário de Estado admite que faltam profissionais na construção civil, mas, sobretudo, profissionais com qualificações “específicas”.

A construção é um setor com “muitos ciclos que resultam de grandes obras”, o que “determina um ajustamento entre a oferta e a procura no mercado de trabalho muito distinta”. “O mercado da construção mudou muito. Durante a crise, o investimento público decresceu de uma forma muito abrupta e, portanto, as empresas ajustaram-se, tanto na procura de mercados alternativos como nos próprios modelos de negócios”, explica.

“Temos vindo a verificar que há novas abordagens do ponto de vista do negócio. A atividade de reconstrução e de reabilitação de obras é, hoje, muito mais importante do que era no passado”, continua. “Em vez de promovermos nova construção, estamos a apostar na reabilitação do edificado que temos e, evidentemente, fazemos a construção em função das novas necessidades que temos”, acrescenta João Correia Neves.

Fator que, para o secretário de Estado, ajuda a explicar a escassez de mão-de-obra na construção. “No passado, para as grandes obras públicas, nós precisávamos de pessoas com características diferentes do que aquelas que precisamos para a necessidade de reabilitação. Podemos dizer que são todos pedreiros, mas as pessoas, do ponto de vista das qualificações, são distintas”, diz.

Do lado das empresas de construção civil, há mais de um ano que têm chegado alertas que dão conta da falta de operários, mesmo de trabalhadores não qualificados. De acordo com o Diário de Notícias (acesso livre), faltam mais de 60 mil operários, entre os quais pedreiros, carpinteiros, trolhas, pintores, chefes de equipa e trabalhadores não qualificados.

Perante a escassez que se vive nesta área, os sindicatos asseguram que há “milhares de reformados a trabalharem clandestinamente” na reabilitação urbana. A desregulação do setor tem sido, precisamente, a principal crítica da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), que considera que leva à proliferação clandestina e ao comprometimento da segurança pública.

Frente ao problema, as empresas consideram que a solução pode estar na criação de um regime excecional de mobilidade transnacional que permitisse às construtoras trazer para Portugal operários que têm noutras geografias, nomeadamente dos PALOP. A par da desregulação, os empresários do setor apontam a incapacidade de atrair jovens para funções na área da construção civil e o envelhecimento da classe de profissionais como outros problemas que o setor enfrenta.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Fiat retira oferta de fusão com a Renault. Ações derrapam

  • ECO e Lusa
  • 6 Junho 2019

A fusão entre o grupo Fiat e a Renault ficou pelo caminho, revela o Wall Street Journal, tudo por causa da falta de apoio da Nissan, parceiro dos franceses, ao negócio.

O grupo construtor automóvel Fiat/Chrysler retirou a proposta de fusão com a Renault, revelou o Wall Street Journal (acesso pago). De acordo com a notícia, o grupo Fiat decidiu retirar a oferta na sequência da falta de apoio da Nissan, parceiro da Renault, ao negócio.

A posição ambígua de dois administradores da Nissan no conselho de administração da Renault à proposta de fusão levou a Fiat a considerar que a aliança que existe hoje e que foi um dos argumentos para avançar com a proposta poderia cair.

“A Fiat retira a sua oferta. Já não existe uma proposta sobre a mesa”, afirmou uma fonte próxima do processo, citada pela France Presse. Uma segunda fonte próxima das discussões em curso indicou que um comunicado da Fiat anunciará oficialmente que a oferta de fusão foi retirada. Em bolsa, a Fiat cai 1,5%, enquanto a Renault está a afundar 6,89% para os 52,29 euros.

O conselho de administração da Renault, reunido quarta-feira pelo décimo dia consecutivo para analisar a proposta de fusão com a Fiat Chrysler, não tomou uma decisão a pedido do Estado francês, anunciou quarta-feira a fabricante francesa.

“O conselho de administração não pode tomar uma decisão devido ao desejo expresso pelos representantes do Estado francês de adiar a votação para uma reunião posterior”, indicou a Renault em comunicado.

O anúncio da fabricante de carros francesa ocorreu depois de uma reunião de seis horas do conselho de administração nos arredores de Paris e um dia depois de uma reunião semelhante também ser inconclusiva, de acordo com a Associated Press (AP).

Antes do final da reunião, uma fonte próxima do processo tinha adiantado que a Fiat Chrysler e o governo francês tinham chegado a um acordo provisório sobre os termos da possível fusão com a Renault.

De acordo com aquela fonte, citada pela AP, que não quis ser identificada porque o conselho de administração da Renault ainda estava reunido, o acordo provisório era um bom sinal para o plano de fusão, mas não seria aprovada qualquer garantia.

Uma fusão iria criar a terceira maior empresa do mundo do setor, depois da Volkswagen e da Toyota, e poderia reformular a indústria automóvel, numa altura em que os fabricantes estão numa corrida para produzir veículos elétricos e autónomos.

A FCA anunciou no passado dia 27 de maio que propôs um plano de fusão à francesa Renault para criar uma empresa no valor de quase 40 mil milhões de dólares (o equivalente a 35,6 mil milhões de euros), que produziria cerca de 8,7 milhões de veículos por ano.

De acordo com a proposta feita pela FCA, o novo grupo seria detido em 50% pelos seus acionistas e em 50% pelos da Renault. E a proposta previa ainda que o grupo fosse cotado nas bolsas de Paris, Nova Iorque e Milão.

(Notícia atualizada às 7h10)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Fridão: Ministro do Ambiente diz que recebeu duas cartas da EDP a manifestar desinteresse

  • Lusa
  • 5 Junho 2019

“Não tenho a mais pequena dúvida que a EDP me enviou duas cartas a dizer que não estava interessada em construir a barragem de Fridão", diz Matos Fernandes.

O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, afirmou esta quarta-feira não ter “qualquer dúvida” que a EDP enviou duas cartas ao Governo a manifestar desinteresse pela construção da barragem de Fridão.

Em declarações aos jornalistas à margem da apresentação de uma linha de crédito para a descarbonização e economia circular, no Ministério da Economia, o governante comentou as declarações do presidente da EDP, António Mexia, que disse ter sido o Governo a decidir não avançar com a construção da barragem.

“Não tenho a mais pequena dúvida que a EDP me enviou duas cartas a dizer que não estava interessada em construir a barragem de Fridão e, depois de o Governo ter acompanhado a decisão da EDP, então sim, a EDP escreveu uma carta a dizer que afinal queria fazer a barragem”, afirmou Matos Fernandes.

Não tenho a mais pequena dúvida que a EDP me enviou duas cartas a dizer que não estava interessada em construir a barragem de Fridão e, depois de o Governo ter acompanhado a decisão da EDP, então sim, a EDP escreveu uma carta a dizer que afinal queria fazer a barragem.

Matos Fernandes

Ministro do Ambiente

“Nunca a EDP disse que prescindia desse mesmo valor. Agora o contrato é claro: quando a EDP desiste de a fazer, não tem direito a essa indemnização. Se, pelo contrário, tivesse sido o Governo a tomar essa decisão, teria que indemnizar a EDP”, acrescentou.

O ministro do Ambiente explicou ainda que na segunda carta enviada ao Governo, a EDP tentou abrir a possibilidade de se fazer um outro empreendimento, “um Fridão mais pequeno”, mas essa possibilidade não chegou a ser tecnicamente avaliada porque foi juridicamente chumbada.

“Como houve um concurso público, não era possível transformar um Fridão maior num Fridão mais pequeno e, por isso e face a essas duas vontades, o Governo concordou com a EDP e disse que, de facto, não fazia sentido fazer a barragem”.

Em resposta à decisão da EDP de recorrer para o Tribunal Arbitral, Matos Fernandes disse apenas que “Portugal é um Estado de Direito” e, como tal, é “a coisa mais normal do mundo que se recorra aos tribunais”.

Em causa está um valor de cerca de 218 milhões de euros, pago pela EDP como contrapartida financeira pela exploração por 75 anos, que a elétrica considera que lhe tem de ser restituído, e o Governo considera que não há direito a qualquer devolução.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Wall Street sobe apoiada na esperança de corte de juros e em acordo EUA/México

As bolsas norte-americanas continuaram em terreno positivo esta terça-feira, ainda beneficiando do otimismo dos investidores face às perspetivas de um corte na taxa de juro por parte da Fed.

Os principais índices norte-americanos valorizaram pelo segundo dia consecutivo, beneficiando das perspetivas que a Reserva Federal regresse a uma política monetária assente em cortes na taxa de juro, mas também de algum otimismo face a uma evolução favorável nas negociações comerciais entre os Estados Unidos e o México.

Esta terça-feira, o Dow Jones ganhou 0,82%, para 25.539,37 pontos, uma evolução idêntica à registada pelo S&P 500, que fechou nos 2.826,13 pontos, depois de ter valorizado também 0,82%. Já o Nasdaq Composite subiu 0,64% para 7.575,48 pontos. Os índices deram assim continuidade à valorização que se iniciou ontem, quando estas bolsas ganharam mais de 2%.

Além de ainda perdurar o sentimento positivo decorrente das declarações de Jerome Powell, os investidores estarão também a reagir às perspetivas de que surja um acordo entre Estados Unidos e México para se evitar a imposição de tarifas sobre produtos importados pela economia norte-americana.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

CTT públicos? Anacom não entra na discussão, mas alerta que “Estado tem de contratualizar bem” o serviço

O presidente da Anacom escusou-se a comentar sobre se o Estado deve ou não entrar no capital dos CTT. Mas reconheceu que o Governo deve ser mais exigente no próximo contrato de concessão.

O líder do regulador das comunicações disse que “não cabe à Anacom” pronunciar-se sobre se o Estado deve ou não estar no capital social dos CTT CTT 2,31% , mas afirmou que, no atual contexto, em que o operador é totalmente privado, o Estado “tem de contratualizar bem” como é que o serviço postal universal é prestado e deve ter forma de “fiscalizar o cumprimento desse contrato”.

João Cadete de Matos, presidente da Anacom, falava numa audição regimental no Parlamento, onde reconheceu, ainda assim, que o atual contrato de concessão com os CTT “não terá acautelado todas as situações que entretanto aconteceram”. O atual contrato terminal em 2020 e é tido como certo que o próximo Governo terá de o renegociar com os CTT, uma vez que não existe outro operador com capacidade e capilaridade para prestar um serviço público desta natureza.

Para exemplificar, o presidente da Anacom disse que o atual contrato “não cria nenhum impedimento a que a empresa subcontrate a terceiros todos os serviços postais, quer os serviços prestados nos estabelecimentos, quer os serviços de distribuição”. “Quanto uma empresa passa a ser exclusivamente privada, o Estado tem de contratualizar bem como é que o serviço é prestado e tem, depois, de fiscalizar o cumprimento desse contrato”, apontou o líder do regulador das comunicações.

O contrato [de concessão] não terá acautelado todas as situações que entretanto aconteceram.

João Cadete de Matos

Presidente da Anacom

Número de concelhos sem estação dos CTT manteve-se em 33. Anacom previa subida

O número de concelhos do país sem uma estação de correio dos CTT manteve-se em 33 no final do primeiro trimestre do ano, de acordo com os últimos dados apurados pela Anacom. Trata-se do mesmo número de concelhos sem esta valência registado pelo regulador no final do quarto trimestre de 2018, apesar de a Anacom ter previsto em janeiro que o número iria subir para 48 “no curto prazo”.

A Anacom adotou uma decisão em janeiro para forçar os CTT a garantirem que exista, em todos os concelhos do país, pelo menos um posto de correio com as mesmas características das estações e que prestem a totalidade dos serviços previstos no contrato de concessão do serviço postal universal. As estações são balcões da marca CTT, enquanto os postos são como serviços de correio noutros estabelecimentos, como em lojas ou papelarias.

Evolução do número de concelhos sem estação dos CTT

O regulador lembrou em janeiro que, entre 2013 e 2017, “apenas existiam dois concelhos sem estações de correios” e denunciou que o número aumentou “exponencialmente” durante o ano de 2018: passou a uma dezena de concelhos no terceiro trimestre de 2018 e para 33 no último trimestre desse ano. Nessa altura, a entidade apontou que, “de acordo com informação recebida dos CTT em novembro último”, seria “expectável que o número de concelhos sem estações de correio” viesse a subir “para 48 no curto prazo”.

Concluído o primeiro trimestre a previsão não se verificou. Entre janeiro e março, mantiveram-se os mesmos 33 concelhos sem estação de correio. Isto porque, ao que o ECO apurou, os restantes concelhos que poderão ficar sem qualquer balcão da marca CTT — ficando apenas com pelo menos um posto de correio, como manda a lei — são aqueles onde se encontram em curso processos na Justiça para travar essas mesmas decisões.

Mapa dos concelhos do país sem estação dos CTT

De recordar que os CTT viram-se obrigados a apresentar uma proposta para terem em todos os concelhos do país pelo menos um posto de correio com a mesma características das estações, isto é, que prestassem todos os serviços previstos no contrato — e com o mesmo grau de exigência. Apresentada uma proposta por parte da empresa, a mesma foi rejeitada pela Anacom, por não responder “às necessidades” identificadas pelo regulador. A proposta rejeitada não chegou a ser tornada pública.

Ao que o ECO apurou, os CTT ainda não apresentaram nova proposta, sendo que o prazo só termina em meados deste mês, no dia 17 de junho. No Parlamento, na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, o presidente dos CTT indicou que, apesar de o contrato de concessão dos CTT não impedir a empresa de fechar balcões e manter apenas os postos, o regulador “determinou que o serviço tinha de ser prestado num conjunto de condições que são exigidas”. Todos os olhos estarão postos, agora, na nova proposta que terá de ser apresentada pela empresa postal.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Caixa não executou património de Berardo para evitar impacto no sistema. “Que ironia”, diz Mariana Mortágua

A Caixa não executou o património da Fundação Berardo para evitar impacto no sistema. "Mas o banco deu crédito com base nesse património. É uma ironia", notou Mariana Mortágua.

No final de 2008, quando entrou em incumprimento com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), a Fundação Berardo tinha investimentos financeiros líquidos avaliados em 1.000 milhões de euros. E porque razão não se procedeu à execução desse património nesse momento, questionou a deputada Mariana Mortágua. “Imagine o efeito que ia causar no sistema financeiro”, justificou esta terça-feira no Parlamento Francisco Bandeira, que foi administrador e vice-presidente do banco público entre 2005 e 2011.

“Mas que ironia”, notou a deputada bloquista. “Todos os administradores argumentam a aprovação dos créditos com o património, mas em nenhum momento se executou esse património que justificou a concessão dos créditos”, afirmou Mariana Mortágua durante a audição a Bandeira, que decorreu na comissão de inquérito à recapitalização da CGD e aos atos de gestão.

“Há sempre uma boa razão para não executar património. A verdade é que nunca se executou enquanto havia património para executar”, reforçou a deputada.

Entre 2006 e 2008, a Caixa concedeu três empréstimos a sociedades de Berardo para comprar ações do BCP. O primeiro financiamento foi à Metalgest no valor de 50 milhões de euros. O segundo foi concedido à Fundação Berardo através de uma conta corrente no valor de 350 milhões de euros (embora só tivessem sido utilizados cerca de 270 milhões). E o terceiro financiamento (que vem no seguimento do segundo), também à Fundação Berardo, teve o valor de 38 milhões.

De acordo com a Ernst & Young, as duas sociedades deviam mais de 300 milhões de euros ao banco público no final de 2015. Contando com as dívidas a outros dois bancos, o BCP e o Novo Banco, o endividamento das sociedades de Berardo superam os 1.000 milhões de euros. A 20 de abril, as três instituições entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar essas dívidas.

Francisco Bandeira explicou que ele próprio aprovou a primeira operação (à Metalgest) em conselho alargado de crédito já que, disse, ficou convencido com o que ouviu na altura. A resposta surgiu depois de ser confrontado pela mesma deputada com o facto de a única forma de a Metalgest honrar esse empréstimo ser através dos “dividendos do BCP ou se as ações fossem vendidas por um valor superior ao valor da compra”.

“Não necessariamente”, retorquiu o ex-administrador, que apontou para outros fatores na análise ao crédito. “A situação financeira do dono da empresa, provavelmente a experiência da capacidade que tinha de gerar resultados extraordinários na bolsa, e provavelmente coisas que não sou capaz de produzir agora. Não foi um negócio que tenha tido conhecimento factual. Dizia-se que o homem tinha dinheiro. Eu não fui lá contar o dinheiro“, acrescentou.

Já sobre a reestruturação do contrato com a Fundação Berardo, feita anos mais tarde e que envolveu os outros dois bancos, Francisco Bandeira disse que foi a melhor solução para a Caixa.

Nesse acordo, o banco público ficou com uma garantia de 40% sobre os títulos da Associação Coleção Berardo (que detém as obras de arte), e não sobre a própria coleção de arte. A Caixa foi enganada? “Eu não sou jurista. Não sequer me passou pela cabeça que quem estava a tratar disso não acautelasse essas situações”, adiantou.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

PS cede à esquerda e admite que, em casos excecionais, famílias possam entregar a casa ao banco para saldar dívidas

O PS cedeu e, depois de ter estado em negociações com a esquerda, admite que as famílias em "situação económica muito difícil" possam entregar a casa ao banco para saldar o empréstimo.

O PS apresentou esta quarta-feira 46 propostas de alteração à Lei de Bases da Habitação, o que levou ao adiamento das votações. Entre as principais propostas apresentadas pelos socialistas destacam-se a entrega da casa ao banco para saldar as dívidas, mas apenas nos casos das famílias que estejam em “situação económica muito difícil”.

Depois de negociações com os partidos de esquerda, os socialistas cederam em certos pontos, alguns que geraram bastante discussão. O Bloco de Esquerda e o PCP defendiam que a dação dos imóveis em cumprimento deveria ser aprovada, mas os socialistas admitiam que isso poderia acontecer caso estivesse inicialmente estipulado no contrato.

“Aos devedores de crédito à habitação que se encontrem em situação económica muito difícil pode ser aplicado um regime legal extraordinário de proteção, que inclua, nomeadamente, a possibilidade de reestruturação da dívida, a dação em cumprimento, ou medidas substitutivas da execução hipotecária“, lê-se no documento de propostas de alteração apresentado pelo PS.

No documento apresentado esta quarta-feira aos partidos, o PS avançou com 46 propostas de alteração ao próprio texto da Lei de Bases da Habitação. Alterações essas que, segundo o deputado socialista João Paulo Correia são resultado de “um diálogo com o PCP e o Bloco de Esquerda, que permitiu pontos de entendimento sobre determinadas matérias”.

O esforço dos socialistas foi no sentido de as propostas serem “o mais convergentes possível”, disse. Entre as principais alterações destacam-se a clarificação de que “o Estado promove o uso efetivo de habitações devolutas de propriedade pública e incentiva o uso efetivo de habitações devolutas de propriedade privada” e que este “procederá prioritariamente à utilização do património edificado público, mobilizável para programas habitacionais destinados ao arrendamento”.

PCP anuncia acordo com Governo

Momentos após o encontro do grupo de trabalho, onde se chegou a um consenso para começar as votações na próxima terça-feira de manhã, o PCP anunciou em conferência de imprensa que chegou a uma “base de entendimento com o Governo” para viabilizar a nova Lei de Bases da Habitação. “O PCP chegou a uma base de entendimento com o Governo que possibilita a aprovação de uma primeira Lei de Bases da Habitação no nosso país”, disse Paula Santos, a deputada comunista presente no grupo de trabalho da habitação.

Paula Santos sublinhou que “desde o primeiro momento”, o partido esforçou-se para adotar uma “perspetiva construtiva que permitisse a aprovação da lei”, algo que foi conseguido através do “exame comum entre PCP e Governo”.

“Não obstante não ser a proposta que o PCP apresentou, pois existem um conjunto de matérias em que não foi possível chegar a uma base de entendimento, queremos salientar o princípio do direito à habitação condigna para todos os cidadãos”, continuou.

A nova proposta da Lei de Bases da Habitação tem definidas como prioridade as carências habitacionais, como a “mobilização prioritária do património habitacional público”, o “Programa Nacional de Habitação e a Carta Municipal de Habitação, que passa a integrar o Plano Diretor Municipal”, e a “valorização da participação dos cidadãos, inquilinos e moradores, através de associações ou cooperativas”.

Apesar disso, para a deputada do PCP era possível ter-se chegado mais longe, nomeadamente com o avanço de “um conjunto de propostas como o direito de preferência em função do valor patrimonial tributário, por exemplo”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

PCP condenado em tribunal a reintegrar funcionário crítico da “geringonça”. Partido vai recorrer

  • Lusa e ECO
  • 5 Junho 2019

O PCP foi condenado pelo Tribunal de Trabalho a reintegrar Miguel Casanova. Comunistas vão recorrer da sentença.

O PCP foi esta quarta-feira condenado pelo Tribunal de Trabalho de Lisboa a reintegrar o funcionário Miguel Casanova, disse à Lusa fonte ligada ao processo judicial. Segundo a mesma fonte, na sentença considera-se “ilícito o despedimento do trabalhador”, por “não ter havido motivo para o despedimento por abandono do posto de trabalho” e “condena-se o réu a reintegrá-lo nas mesmas funções que exercia” antes do conflito laboral. Os dirigentes do PCP dispõem de 30 dias para interpor recurso da decisão junto do Tribunal da Relação de Lisboa, algo que o partido já anunciou que vai fazer.

Miguel Casanova, segundo várias fontes, desempenhava funções políticas de dirigente na Organização Regional de Setúbal do PCP até que, no início de 2018, foi contactado no sentido de mudar de instalações e de tarefas, para o recinto da Festa do Avante!, no vizinho concelho do Seixal.

O então funcionário terá continuado a apresentar-se ao trabalho em Setúbal, onde o seu gabinete, segundo outra fonte próxima do processo, foi desmantelado em março de 2018, falhando assim a presença na Quinta da Atalaia (Seixal), como o PCP requeria, e desejando manter as suas “funções políticas, que cumpria desde 2007”, em vez das novas tarefas “meramente técnicas”, no espaço dedicado ao evento político-cultural anual dos comunistas.

Na versão do aparelho comunista, o funcionário terá recusado a nova colocação e funções, tendo a sua dispensa sido efetivada em maio de 2018. A ação judicial do queixoso contra o PCP só viria a ser interposta em setembro de 2018.

O filho de José Casanova, histórico militante do PCP, antigo dirigente e diretor do jornal “Avante!” entre 1997 e 2014, disse-se vítima de perseguição política por ter “fugido da linha oficial do partido”, desde o final de 2015, ao criticar publicamente, embora em reuniões e órgãos do partido, a atual solução política que viabilizou o Governo socialista, com a posição conjunta entre PS e PCP, a denominada “geringonça”, assente em acordos semelhantes com BE e “Os Verdes”.

O PCP anunciou entretanto que vai recorrer desta decisão judicial, acusando Miguel Casanova de “atacar” o partido, “denegrir a sua imagem e pôr em causa a sua identidade”. Em comunicado, o partido refere que a pessoa em causa provocou as condições objetivas de um conflito laboral para, em torno dele, alcançar o que pretendia: atacar o PCP, denegrir a sua imagem e pôr em causa a sua identidade”.

“A visibilidade que quis dar ao processo e a postura e discurso usada no próprio processo em tribunal indicam um caminho claro assente na deturpação da verdade e na hostilização política, indissociáveis da dimensão política que quis dar ao processo”, lê-se na nota.

“A decisão tomada no plano judicial vai ser objeto de recurso pelo PCP”, lê-se no início do comunicado em que o autor da ação no Tribunal do Trabalho de Lisboa, Miguel Casanova, é tratado por “ex-funcionário”, uma vez que, segundo os comunistas, “não se está perante a relação de um trabalhador com uma empresa, mas sim da rutura por parte de um funcionário do partido com os compromissos assumidos e inscritos nos estatutos que definem a sua natureza e identidade”.

O PCP declara que o tribunal “deu como assente” que “a invocação do abandono do trabalho não estaria completamente provada em razão de a vontade do próprio ser outra” e “essa prova de ‘vontade de continuar’ não foi feita em julgamento pelo interessado, que escolheu o caminho de recusa em prestar trabalho e desempenhar funções, mas querendo ser remunerado como se estivesse no desempenho normal de tarefas”.

“O coletivo partidário não deixará de registar e condenar a atitude de quem premeditadamente afrontou o respeito pelo tratamento igual entre camaradas e rompeu o dever de confiança e a base inicial de lealdade que esteve na génese da sua adesão e vontade em abraçar a atividade partidária a tempo inteiro, com o que significa ser funcionário do PCP”, lê-se ainda na nota.

(Notícia atualizada às 21h45 com posição oficial do PCP)

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Benfica prevê mais 21% de lucros na próxima época, sem contar com futebol profissional

Benfica prevê aumentar resultado líquido para 6,13 milhões de euros em 2019/20, sem contar com SAD. Lucro permitirá reforçar aposta nas modalidades e criar equipa B de futebol feminino.

O Sport Lisboa e Benfica prevê um crescimento de 21% nos lucros na próxima temporada desportiva, segundo a proposta de orçamento que vai a votos pelos sócios esta sexta-feira. Este orçamento diz apenas respeito às perspetivas do Benfica clube (Benfica), não incluindo previsões da SAD do Benfica (Benfica SAD), que é quem tem a responsabilidade sobre a equipa de futebol profissional.

Segundo a proposta de orçamento disponibilizada aos sócios, o Benfica prevê fechar a temporada 2019/2020 com um resultado líquido de 6,135 milhões de euros, valor acima dos cinco milhões de lucro com que o clube estima fechar as contas da corrente época do clube. Na base desta melhoria está o aumento das receitas, com a previsão de um crescimento de 2,4 milhões de euros nos rendimentos, de 43,9 milhões para 46,3 milhões, valor superior à evolução da despesa, que cresce 1,28 milhões, de 38,9 milhões para 40,2 milhões.

Com a expectativa de uma melhoria nos resultados, o Benfica detalha na proposta de orçamento alguns dos vários projetos ou apostas a que se dedicará na próxima temporada, como a manutenção do “reforço contínuo do investimento na competitividade das modalidades” e também na estrutura do futebol feminino, que no próximo ano terá uma equipa B, aponta o documento.

No campo desportivo, aliás, a proposta de orçamento para a próxima temporada é bastante clara: “Reforço do investimento nas principais modalidades de pavilhão (Andebol, Basquetebol, Futsal, Hóquei em Patins e Voleibol) e do Atletismo, para obterem sucesso a nível nacional e internacional”. Este reforço do investimento prevê igualmente uma maior aposta nas estruturas de formação de cada uma das modalidades.

Ainda sobre a formação, no orçamento que irá ser votado pelos sócios esta sexta-feira o Benfica prevê igualmente um aumento das receitas do Futebol de Formação, “consequência da celebração de parcerias no mercado nacional e internacional”, salientando a intenção de avançar com “aberturas de Escola de Futebol” a nível internacional.

Abertura de duas novas lojas e avançam “Casas do Benfica 2.0”

Ao longo do próximo ano, o Benfica vai investir um total de 695 mil euros, a maioria dos quais na sua rede de lojas, mostra o orçamento proposto para 2019/20. Uma fatia de 311 mil euros será aplicada na construção de novas lojas e outra de 231 mil euros em beneficiações dos espaços comerciais já existentes.

“Os investimentos mais relevantes são os relacionados com a abertura de duas novas lojas de venda ao público de merchandising“, aponta o documento. A estas duas lojas, serão somados mais três quiosques permanentes, tudo apostas a ser concretizadas até junho de 2020 e em “zonas comerciais de elevado tráfego e visibilidade”. No campo do merchandising, a proposta de orçamento do Benfica abre ainda a porta à internacionalização destes quiosques ou de corners através de distribuidores internacionais em distintas redes de retalho.

Um outro plano a colocar em marcha, refere o documento, passa pela criação de um novo conceito de “Casa do Benfica”, com o avanço das “Casas do Benfica 2.0”, preparando-se a abertura das duas primeiras em Santarém e Seixal e a “preparação da instalação de mais três”, que só avançarão na época seguinte, de 2020/21.

Sócios financiam modalidades a 110%

Apesar de o Benfica prever um aumento de receitas, este crescimento não será obtido através das quotizações pagas pelos sócios, já que o encaixe global previsto para a próxima temporada com quotas permanece quase inalterado em relação às cobradas na época que agora termina — está previsto um crescimento de 500 mil euros, para 17,18 milhões de euros, mas assente “na consolidação do lançamento da Solução Família e Sócio Sub-23”.

Olhando de forma desagregada para cada um dos segmentos que compõem as contas do Benfica, fica um pouco mais claro o esforço financeiro do clube ao nível das modalidades. Ou antes, o esforço financeiro dos sócios do clube. É que se o orçamento de exploração do departamento de sócios evidencia um resultado antes de impostos de 14 milhões de euros positivos, o orçamento das modalidades apresenta um resultado antes de impostos negativo em 12 milhões de euros.

A aposta nas modalidades é assim financiada na íntegra pelos sócios do clube, com o valor remanescente do departamento de sócios, somado aos ganhos com merchandising — de 2,09 milhões — e aos das áreas de suporte — onde está o grosso dos encaixes ao nível de royalties — a serem os principais contribuintes para as contas do clube encarnado.

Para a próxima época é ainda de referir a expectativa do Benfica em conter o resultado negativo da conta de exploração do Futebol de Formação que, se em 2016/2017 apresentava uma perda de 708 mil euros, no ano seguinte caiu para 416 mil euros. Já para a próxima época, prevê o orçamento, a perda será de apenas 234 mil euros. Esta contenção das perdas dever-se-á essencialmente à quase duplicação do encaixe com royalties pelo Futebol de Formação.

Nota final para dar conta que apesar da previsão de subida dos lucros, o orçamento da próxima temporada parte do pressuposto de uma “taxa de atualização salarial de 0%”.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.