BCP ajuda Fosun a aumentar lucros. Chineses ganham 957 milhões no primeiro semestre

Conglomerado chinês viu as receitas aumentarem 57% na primeira metade do ano. Fosun destaca "forte desempenho" do BCP, onde detém uma posição de 27,25%.

Os lucros do Fosun subiram 10,9% para 7.608,8 milhões de yuan (cerca de 957 milhões de euros) na primeira metade do ano, com os negócios do conglomerado chinês em Portugal a impulsionarem os resultados até junho.

Em Portugal, a Fosun detém a seguradora Fidelidade, o grupo de hospitais Luz Saúde e ainda 27,25% do banco BCP.

As receitas do conglomerado chinês atingiram os 68.475 milhões de yuan (aproximadamente 8.610 milhões de euros) entre janeiro e junho, o que representa um crescimento de 57,4% face ao mesmo período do ano passado. Os cinco principais motores das receitas foram as subsidiárias Fosun Pharma, a Yuyuan, a Fosun Tourism Group, a Fosun Insurance Portugal e a Peak Reinsurance, representando 83% do total do volume de negócios dos chineses, indicou o grupo chinês.

A Fosun divide os seus negócios em três áreas: Saúde (Health), Felicidade (Hapiness) e Fortuna (Wealth) — este último segmento integra os negócios de Seguros, Finanças e Investimento.

Em relação ao negócio de Saúde, os lucros aumentaram 4,4% para 865,1 milhões de yuan (109 milhões de euros). O negócio de Felicidade gerou um lucro de 1.822,3 milhões de yuan (229 milhões de euros), disparando 86% face ao mesmo período do ano passado, à boleia do bom desempenho da empresa de turismo Fosun Tourism Group e dos sucessos desportivos e financeiros do clube inglês que milita na Premier League Wolverhampton.

Quanto à área de negócio Fortuna, a Fosun registou um decréscimo de 2,5% do lucro para 4.921,40 milhões de yuan (619 milhões de euros), com o BCP em destaque.

“Isto tem sobretudo a ver com o declínio nos investimentos no mercado de capitais, com o declínio do lucro da Fosun Insurance Portugal e com uma queda de 6% do lucro no segmento de Investimentos. O segmento Finanças teve, contudo, um forte desempenho com o BCP em Portugal, com um crescimento de 13% do lucro atribuível ao banco para 170 milhões de euros“, refere a Fosun.

A dívida da Fosun ascendia no final de junho a 193,19 mil milhões de yuan (24 mil milhões de euros).

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🎥 Bancos lucram menos 40% no semestre. Ganham 462,9 milhões de euros

Os cinco maiores bancos nacionais apresentaram contas do semestre esta semana. Os resultados são divergentes: Caixa, BCP e Santander aumentaram lucros. O Novo Banco duplicou prejuízos.

Os cinco maiores bancos nacionais registaram lucros de 462,9 milhões de euros no primeiro semestre do ano, menos 40% do que no mesmo período do ano passado. A culpa é o Novo Banco e do BPI. O primeiro banco duplicou prejuízos para 400 milhões de euros. O segundo viu os lucros afundarem 63% para 134,5 milhões. Já a Caixa Geral de Depósitos, BCP e Santander Totta mantiveram uma tendência positiva e engordaram resultados.

Feitas as contas, os principais bancos portugueses lucraram 2,6 milhões de euros por dia entre janeiro e junho. Veja o vídeo com o resumo da semana na banca.

http://videos.sapo.pt/bAkprzcjmSZVBfJAFbsH

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BCP afunda pela oitava sessão. Já anulou todos os ganhos do ano

Banco liderado por Miguel Maya tem sido pressionado esta semana pelas perspetivas de redução na margem financeira. Investimento já passou a linha vermelha no acumulado do ano.

Após fortes ganhos no primeiro semestre do ano, as últimas semanas têm sido de queda acentuada para o banco liderado por Miguel Maya. Com o títulos a negociarem abaixo dos 22,40 cêntimos, a cotada já anulou todos os ganhos do ano. Há nove meses que as ações do BCP não valiam tão pouco.

A recuperação financeira do banco — em especial o regresso aos lucros, o pagamento de dividendos e a limpeza do malparado do balanço — animaram os investidores. A 16 de julho, as ações fechavam a sessão nos 28,89 cêntimos, o valor mais elevado em 2019 e que compara com os 22,95 cêntimos em que tinha fechado o ano anterior.

As perspetivas eram positivas e os bancos de investimento reviam em alta as recomendações. Mas depois chegou Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), e avisou que a desaceleração económica pedia estímulos adicionais. Por toda a Zona Euro, os bancos começaram a antecipar uma descida nas taxas de juro que lhes penalizasse as margens financeiras.

Miguel Maya anunciava, na segunda-feira na apresentação de resultados, esperar que os últimos três meses do ano sejam “desafiantes”, apontando para a evolução das perspetivas da política monetária como um fator com “impacto importante”. No semestre, os lucros aumentaram de 12% para 170 milhões de euros, enquanto a margem financeira subiu 7,6% para 740 milhões de euros.

Mas a melhoria nas contas não chegou para entusiasmar. Todo o setor financeiro está sob pressão (até porque além do BCE, já estava em cheque com uma série de reestruturações na Europa) e a tentar encontrar formas de manter a rentabilidade.

O BCP já está a contactar alguns clientes institucionais, avisando que vai começar a cobrar-lhes uma nova comissão, no valor da taxa a que o banco central remunera os depósitos (-0,40%). O UBS e o Credit Suisse também já anunciaram que vão aplicar taxas negativas nos depósitos dos maiores clientes (o que é proibido em Portugal).

Os investidores parecem, no entanto, querer esperar para ver. Graças ao tombo de 3,56% para 22,22 cêntimos esta sexta-feira (para o valor mais baixo desde 29 de outubro de 2018) e a cair há oito sessões consecutivas, o BCP acumula uma desvalorização de 2,5% no acumulado do ano. O índice europeu que agrega os maiores bancos cai quase 4% este ano, enquanto o PSI-20 ainda está positivo com um ganho superior a 4%.

BCP desvaloriza 22% desde o máximo de julho

Trump afunda bolsas europeias

O BCP não foi, no entanto, a única cotada a cair na sessão. O vermelho predominou por todo o índice PSI-20, que fechou a perder 2,19% para 4.903,80 pontos, em linha com as principais praças europeias. Foi o pior desempenho desde 10 de outubro, igualando o registo dessa sessão. A Galp também afundou 4,03% para 13,45 euros, penalizada pelo tombo, na última sessão, dos preços do petróleo.

As cotadas mais expostas aos mercados internacionais foram as mais penalizadas. No papel, a Altri caiu 3,52% para 5,48 euros, a Navigator desvalorizou 3,59% para 2,89 euros e a Semapa recuou 0,50% para 11,90 euros. A construtora Mota-Engil perdeu 4,77% para 1,73 euros.

Em sentido contrário, a EDP Renováveis escapou às perdas do índice. Depois de a agência Fitch ter feito uma avaliação positiva da execução do plano estratégico de António Mexia até 2022, a eólica somou 0,32% para 9,41 euros.

Lisboa acompanha perdas da Europa

A principal causa para o sentimento negativo a nível global foi a nova subida de tensão na guerra comercial. O presidente norte-americano Donald Trump anunciou no Twitter que vai impor taxas alfandegárias suplementares de 10% sobre um total de 300 mil milhões de dólares de importações oriundas da China, a partir de 1 de setembro.

Com esta decisão, as alfândegas norte-americanas passam a cobrar taxas sobre todos os produtos oriundos da China. Decisão já mereceu críticas de Pequim, mas também a preocupação mundial. Receios de que este clima de tensão tenha um forte impacto no crescimento da economia mundial castigaram o petróleo e as ações.

O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou a cair 2,4%, enquanto o alemão DAX recuou 2,9%, o francês CAC 40 tombou 3,6%, o espanhol IBEX 35 perdeu 1,6%, o italiano FTSE MIB desvalorizou 2,4% e o britânico FTSE 100 cedeu 2,4%.

Em sentido contrário, os receios aumentaram a procura por dívida e, consequentemente, levaram a uma quebra nas yields. Toda a dívida alemã até aos 30 anos entrou, esta sexta-feira, em terreno negativo. O juro da dívida portuguesa a dez anos negociou nos 0,299%, aproximando-se do mínimo histórico de 0,278% tocado a 3 de julho.

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BCP vai cobrar comissão aos grandes clientes por causa dos juros negativos do BCE

O BCP está a contactar alguns clientes institucionais, avisando que vai começar a cobrar a taxa de juro negativa do BCE como comissão.

Apresentação de resultados do 1º semestre do Millennium BCP - 29JUL19
Miguel Maya e a equipa executiva do BCP durante a apresentação de resultados, na passada segunda-feira.Hugo Amaral/ECO

O BCP está a contactar alguns clientes institucionais, nomeadamente empresas financeiras, avisando que vai começar a cobrar-lhes a taxa de juro do Banco Central Europeu (BCE), atualmente em -0,40% e com perspetiva de ser ainda mais negativa, como comissão, numa altura em que os bancos procuram formas de proteger o negócio bancário face ao ambiente de juros cada vez mais baixos e durante mais tempo do que previam.

Vários responsáveis dos bancos portugueses sublinharam esta semana que os próximos tempos vão ser “muito difíceis” e “desafiantes” para o setor, antecipando uma maior pressão na margem financeira — que resulta da diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos –, tendo em conta as perspetivas da evolução da política monetária, que apontam para uma nova baixa dos juros e por um período mais prolongado após o anúncio de Mario Draghi na última reunião do conselho de governadores.

Face a este novo contexto, lá por fora, o banco suíço UBS prepara-se para cobrar uma taxa de juro negativa aos clientes mais abastados, com depósitos superiores a dois milhões de francos suíços (cerca de 1,8 milhões de euros), seguindo o exemplo do rival Credit Suisse, adiantou esta quarta-feira o Financial Times.

Por cá, é proibido aplicar taxas negativas nos depósitos. “Qualquer que seja o modo de determinação da taxa de remuneração de um depósito, esta não pode, em quaisquer circunstâncias, ser negativa”, determina o Banco de Portugal. Ainda assim, há formas de contornar a lei.

Netflix? Spotify? É o BCP

Mas há formas de contornar a lei. Embora não se possa aplicar uma taxa de juro negativa nos depósitos, o que o banco liderado por Miguel Maya se prepara para fazer é cobrar uma comissão no valor da taxa de juro do banco central europeu. E está a fazer mira a clientes institucionais com contas bancárias mais abastadas, mas cujo relacionamento com o banco não compensa, revelou o administrador financeiro, Miguel Bragança, durante a conference call de analistas na terça-feira. Na véspera, o BCP reportou uma subida de 12% do lucro para 170 milhões de euros na primeira metade do ano, com a margem financeira a crescer 7,6% para 740 milhões.

“Em termos de clientes institucionais e corporate, é um pouco mais complexo porque temos clientes institucionais típicos e clientes financeiros que, diria, não qualificam para este tipo de modelo de negócio. Estamos a abordar alguns destes clientes para começar a cobrar comissões quando os seus investimentos no banco, quando as contas correntes são claramente excessivas face à relação que têm connosco. Estamos (…) a dizer-lhes que devemos cobrar a taxa de juro do banco central como uma comissão, se o seu balanço nas contas estiver claramente desequilibrado em termos da relação que temos com eles“, referiu o administrador financeiro, Miguel Bragança, em resposta a um analista internacional que lhe tinha perguntado sobre se o banco ia operar mudanças no modelo de negócio para fazer face aos juros mais negativos.

Ao ECO, já depois da publicação do artigo, o banco disse que “não vai cobrar nenhuma comissão de depósito às empresas não financeiras, ao tecido empresarial português”.

Estamos a falar com alguns dos nossos clientes institucionais, dizendo-lhes que devemos cobrar a taxa de juro do banco central como uma comissão, se o seu balanço nas contas está claramente desequilibrado em termos da relação que temos com eles.

Miguel Bragança

Administrador financeiro do BCP

Na ocasião, o CFO respondeu aos analistas que o BCP tem hoje em dia um modelo “mais baseado em comissões”, o que torna o banco bem preparado para enfrentar os próximos anos. E de seguida deu o exemplo do segmento dos clientes particulares onde pagar uma comissão pelas contas bancárias se tornou um hábito mensal como quem paga por outro tipo de serviços, como o Netflix ou o Spotify.

“Somos um dos bancos na Europa que tem vindo a mudar o seu modelo de negócio há muito tempo. Tem-se tornado, de facto, num modelo mais baseado em comissões. Mesmo no negócio de retalho, temos mais de um milhão de clientes que pagam pelas suas contas, que estão habituados a pagar uma comissão mensal pelas suas contas da mesma forma que pagam pelo Netflix ou Spotify“, referiu Miguel Bragança.

“Penso que o modelo do futuro será um modelo transparente, será um modelo que aumenta a relação com o banco e os clientes sentem a reciprocidade nisso. Em termos do nosso negócio de retalho, estamos mais preparados para este cenário de baixas taxas de juro do que provavelmente a maioria dos bancos na Europa porque já temos um modelo de negócio baseado nas comissões”, acrescentou.

Temos mais de um milhão de clientes que pagam pelas suas contas, que estão habituados a pagar uma comissão mensal pelas suas contas da mesma forma que pagam pelo Netflix ou Spotify.

Miguel Bragança

Administrador financeiro do BCP

Banca à procura de alternativas

Nenhum dos outros bancos quis adiantar ao ECO quais os planos que têm em mente. Mas, consoante cada instituição ia reportando as contas semestrais durante esta semana, foi possível obter um primeiro apontamento para aquilo que poderão ser as estratégias a seguir.

Primeiro foi o BPI a deixar o alerta. “Continuamos a aumentar a margem financeira, mas será muito difícil continuar a aumentar a margem financeira com taxas de juro negativas durante mais tempo e ainda mais negativas do que o previsto”, declarou Pablo Forero na segunda-feira de manhã, na apresentação dos lucros de 135 milhões de euros do banco detido pelo CaixaBank.

“Só temos duas ferramentas para atuar: receitas e custos”, declarou o líder espanhol, mas sem precisar qual a estratégia. “Terá de ser bem planeada”, acrescentou, admitindo que o banco pode rever os seus objetivos financeiros tendo em conta que o contexto financeiro “mudou radicalmente”. “É um assunto que temos de analisar aprofundadamente”, frisou Forero.

Depois foi o BCP. Na tarde de segunda-feira, Miguel Maya falou em “tempos desafiantes” que se avizinham. E adiantou aos jornalistas que o banco ia procurar compensar a redução dos juros com “mais volume de crédito, mas com o mesmo nível de rigor” na concessão, e sendo “mais exigente nos custos”. Mas ao contrário do BPI não vão desistir de implementar o plano estratégico em curso.

Apresentação de resultados do primeiro semestre da CGD.Hugo Amaral/ECO 30 julho, 2019

Na Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo anunciou lucros de 283 milhões de euros. E o tema dos juros negativos não foi esquecido na apresentação das contas do banco do Estado que decorreu na passada terça-feira. Os bancos terão de continuar a “reduzir custos, melhorar eficiência, limpar folha de balanço”, considerou o presidente do banco.

“É isso que a Caixa está a fazer há uns anos e é isso que é necessário continuar a fazer, sem abdicar de aumento de proveitos com aumento comissões, aumento da atividade de crédito, mais em volume do que em preços”, frisou Paulo Macedo.

Na quarta-feira, depois de ter anunciado um lucro de 276 milhões de euros no Santander Totta, Pedro Castro e Almeida falou em “furacão” para classificar o ambiente de mercado que desafiará os bancos nos próximos anos. A baixa de juro vai ter um impacto de 100 milhões de euros no banco do grupo espanhol Santander. “O grande mandato desta comissão executiva é preparar o banco para estes tempos que aí vêm, para ser um banco rentável e estar focado no dia a dia e em servir os nossos clientes”, sublinhou.

Com a banca à procura de alternativas, a primeira reação dos banqueiros aponta para o mesmo caminho: redução dos custos internos e aumento das comissões.

(Notícia atualizada às 9h15)

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BCP afunda 14% em julho. É o pior mês do banco em bolsa desde o aumento de capital

Banco começou o dia a ganhar, mas já inverteu para terreno negativo. BCE dá pior mês ao BCP desde o anúncio do aumento de capital em janeiro de 2017. PSI-20 também fecha julho em baixa.

Qual é o melhor dia para os acionistas do BCP? Talvez o 31 de julho, porque depois entra um novo mês (por sinal, de férias) e podem assim esquecer o péssimo desempenho das ações do banco nas últimas semanas. Os títulos afundam quase 14% este mês. É o pior registo mensal desde que anunciou um aumento de capital de 1.300 milhões de euros e que deu início a uma nova fase da vida do banco.

A culpa desta queda recai sobretudo no Banco Central Europeu (BCE), cuja intenção de fazer baixar os juros de referência na Zona Euro para valores ainda mais negativos e durante mais tempo do que o previsto está a deixar os bancos europeu apreensivos em relação ao impacto que esta situação vai ter no seu negócio.

Miguel Maya, CEO do BCP, revelou esta segunda-feira um aumento os lucros no primeiro semestre, mas alertou que “há um fator que tem a ver com a evolução das perspetivas da política monetária que teve impacto importante” no atividade do banco e acrescentou que os últimos três meses do ano vão ser “desafiantes”. O BPI, que já não está cotado na bolsa, também admitiu que por causa da ação do BCE poderá rever as suas metas.

BCP em queda livre em julho

Esta quarta-feira, último dia do mês de julho, o BCP até evidenciou algum apetite comprador na primeira hora de negociação. Mas depois inverteu para terreno negativo, levando consigo o PSI-20. As ações do banco cediam há momentos 0,72% para 0,2338 euros, naquela que é a sexta sessão a desvalorizar. Já o principal índice português apresenta-se agora em baixa de 0,23% para 5.018,21 pontos.

São 13 as cotadas que pressionam a praça lisboeta nesta sessão. Outros destaques negativos vêm de outros dois pesos pesados nacionais: a EDP cai 0,54% para 3,29 euros e a Jerónimo Martins recua 0,34% para 14,56 euros.

Do lado positivo, salva-se a Galp: as ações avançam 0,72% e travam maiores perdas na bolsa nacional.

Lá por fora há ganhos, mas também estes são comedidos. O CAC 40 de Paris soma ligeiros 0,13%, e o DAX 30 de Frankfurt avança 0,23%. O índice Stoxx 600, referência para a Europa, está em zona flat, sem mostrar grande variação. E o índice da banca europeia Stoxx 600 Banks ganha 0,22%.

Os investidores estão de olhos postos no que vai anunciar a Reserva Federal norte-americana ao final da tarde em Lisboa. Vem aí uma descida de juros na maior economia do mundo, pelo menos é o que esperam os analistas. Será o primeiro corte nas taxas da Fed em dez anos, desde a grande crise financeira.

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Maya e a penhora das obras de Berardo: “Não deixamos nada por fazer para recuperar os créditos”

Instado a comentar a notícia sobre a penhora da coleção Berardo por parte dos bancos, incluindo o BCP, Maya não quis particularizar a questão, mas respondeu que fará tudo para recuperar créditos.

“Não comentamos nada relativamente à relação que temos com os clientes. Apenas reiterar aquilo que já dissemos: não deixamos nada por fazer para recuperar os créditos“, respondeu Miguel Maya, presidente da comissão executiva do BCP, instado a comentar a penhora da coleção Berardo por parte dos bancos.

Foi esta segunda-feira decretado o arresto da coleção de quadros e obras de arte de Joe Berardo, avançou o jornal Público. A providência cautelar decretada sobre a coleção foi acionada judicialmente a pedido dos bancos credores, que decidiram depositar nas mãos do Estado a salvaguarda daquelas obras de arte.

Miguel Maya não quis alongar nos comentários sobre o caso Berardo durante a apresentação dos resultados do banco no primeiro semestre — o BCP registou uma subida de 12% dos lucros para 170 milhões de euros. Ainda assim, sublinhou que BCP fará “todos os caminhos para recuperar os créditos”.

"O BCP sabe de muita coisa, porque acompanhamos os processos de uma forma muita intensa. Mas não comentamos coisa nenhuma. Tudo faremos e fazemos para cobrar as dívidas ao BCP. Quando digo tudo, é tudo, dentro da lei e da ética. Não há nada que fique por fazer.”

Miguel Maya

CEO do BCP

“O BCP sabe de muita coisa, porque acompanhamos os processos de uma forma muita intensa. Mas não comentamos coisa nenhuma. Tudo faremos e fazemos para cobrar as dívidas ao BCP. Quando digo tudo, é tudo, dentro da lei e da ética. Não há nada que fique por fazer”, reforçou Maya.

O CEO do banco acrescentou depois que não vai tomar “iniciativas que podem ser engraçadas do ponto de vista mediático, mas que depois não se traduz em rendibilidade”.

(Notícia atualizada às 18h21)

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BCP lucra 170 milhões na primeira metade do ano. Portugal puxa pelos resultados do banco

O BCP lucrou 170 milhões de euros no primeiro semestre do ano, um resultado que ficou em linha com as estimativas do mercado. Os analistas do BPI/CaixaBank previam lucros de 169 milhões de euros.

O BCP lucrou 170 milhões de euros no primeiro semestre do ano, um resultado que ficou em linha com as estimativas do mercado. Os analistas do BPI/CaixaBank previam lucros de 169 milhões de euros. O banco liderado por Miguel Maya justifica a subida do resultado face ao ano passado (+12%) com a “expansão dos proveitos core e com a redução das imparidades e provisões“. Mas Portugal também puxou por resultados da instituição.

Apesar da subida do lucro, Miguel Maya começou por se referir aos últimos três meses do ano como “desafiantes”. “Não vos vou falar do Brexit ou do enquadramento externo… mas há um fator que tem a ver com a evolução das perspetivas da política monetária que teve impacto importante”, destacou o CEO do banco na apresentação das contas.

Na parte operacional, o banco adianta que subiu o produto bancário em 6,4% para mais de 1.100 milhões de euros. Dentro desta componente, a margem financeira — diferença entre juros pagos nos depósitos e os juros recebidos nos empréstimos — aumentou 7,6% para 740 milhões de euros entre janeiro e junho. E as comissões bancárias mantiveram-se nos 340 milhões de euros. Além dos proveitos core, o banco diz que ganhou 10 milhões de euros com dívida pública. E há outro ganho extraordinário de cerca de 13,5 milhões com a venda do grupo Planfipsa, do empresário ligado ao ramo imobiliário Andre Jordan.

Do outro lado, os custos operacionais excluindo itens não habituais cresceram 6,7% para 525 milhões de euros. Exclui os gastos do BCP com a compensação aos trabalhadores no montante de 12,4 milhões de euros e custos de reestruturação no valor de 10 milhões de euros, que fizeram aumentar os custos no total.

Sobre as imparidades do crédito, que deram outro brilho às contas do semestre, o banco assistiu a uma redução de 9,2% para 200 milhões, enquanto a rubrica outras imparidades e provisões caiu 27% para 43 milhões.

Portugal puxa por lucros

Por regiões, foi a atividade portuguesa a dar força aos lucros. Portugal gerou um lucro de 73 milhões de euros no primeiro semestre, mais 20% em termos homólogos. Desta vez, houve “um menor contributo da atividade internacional face ao semestre homólogo do ano anterior”, acrescentou o BCP, que também está presente na Polónia, Moçambique, entre outros mercados.

Nos negócios internacionais, de resto, o resultado líquido totalizou 83,7 milhões de euros, menos do que os 90 milhões do semestre de 2018, “devido essencialmente ao desempenho das operações na Polónia”, após a aquisição do Euro Bank.

No lado do balanço, o crédito a clientes aumentou 10% para 52 mil milhões de euros, enquanto os depósitos ascendem a mais de 79 mil milhões de euros (crescem 9,3%).

Miguel Maya falou em “trabalho muito consistente e reconhecido pelo mercado” no que toca à redução dos ativos non performing, cujo rácio baixou de 13,2% no final do ano passado para 9,1% em junho. O CEO revelou que houve uma descida de 350 milhões na exposição a estes ativos tóxicos no segundo trimestre.

(Notícia atualizada às 17h37)

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Tribunal permitiu “golpada” de Berardo porque banca violou lei das associações

Alterações que os bancos fizeram em 2008 nos estatutos da Associação Coleção Berardo violaram "disposições imperativas" do regime das associações, defendeu tribunal, na sentença consultada pelo ECO.

Se o caso Berardo fosse um filme, poderíamos estar a falar de um plot twist em que de repente se invertem os papéis dos personagens e se acrescenta suspense até ao desfecho do enredo. Foi mais ou menos isto que aconteceu quando uma decisão do tribunal permitiu que o comendador pudesse retirar poder aos bancos na Associação Coleção Berardo e blindar as obras de arte. Por que razão o tribunal decidiu assim? Porque Caixa Geral de Depósitos (CGD), Novo Banco e BCP fizeram alterações aos estatutos da associação no final de 2008, aquando da tomada em penhor dos títulos de participação da instituição, que violavam a lei das associações.

O ECO teve acesso ao processo que está agora na mira do Ministério Público e que possibilitou que Joe Berardo pudesse ter dado aquilo a que muitos apelidam de “golpada” ao bancos. Mas para chegar até hoje é preciso recuar 11 anos na fita do filme, mais concretamente, ao final de 2008.

Foi em dezembro desse ano que a Associação Coleção Berardo promoveu alterações estatutárias na sequência de uma negociação entre Joe Berardo e os três bancos sobre o contrato de penhor que serviu para o comendador reforçar garantias para dívidas de 1.000 milhões de euros. Com essas mudanças, reconheceu-se que os bancos (como credores pignoratícios) mandavam na associação dona da Coleção Berardo — os bancos ficaram a deter 75% dos títulos de participação, e mais tarde, viriam a ficar com 100% dos títulos.

Mas o poder dos bancos na Associação Coleção Berardo já não será bem assim nos dias de hoje. E aqui entra o tal plot twist.

Audição do Comendador José Manuel Rodrigues Berardo perante a II COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO À RECAPITALIZAÇÃO DA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS E À GESTÃO DO BANCO - 10MAI19
Joe Berardo na comissão parlamentar de inquérito à Caixa.Hugo Amaral/ECO

Banca violou leis “imperativas” das associações

A 18 de outubro de 2013, um anónimo (Augusto Joaquim Vieira de Sousa) deu entrada com uma ação contra a Associação Coleção Berardo no Tribunal da Comarca de Lisboa, pedindo a nulidade dos estatutos alterados em 2008. Três anos depois, a 6 de março de 2016, o tribunal julgou “a ação parcialmente procedente”, isto é, deu razão a este cidadão anónimo em algumas das suas reclamações.

Aparentemente, foi o suficiente para deixar os bancos de pés e mãos atadas na assembleia geral da associação, que tem o poder de decidir o destino a dar às obras de arte avaliadas em mais de 300 milhões de euros.

Na decisão judicial, consultada pelo ECO, o tribunal mandou substituir uma regra que dizia respeito à composição da assembleia geral. Quando os três bancos negociaram o contrato do penhor, há 11 anos, ficou plasmado nos estatutos da Associação Coleção Berardo que “a Assembleia Geral é constituída pelos Associados Instituidores que não renunciaram a essa qualidade e por todos os demais titulares de direitos de voto, incluindo os credores pignoratícios para quem esses direitos tenham sido transmitidos” (número um do artigo 14º).

No entanto, o tribunal deu ordem para que a associação repusesse o artigo original (antes de 2008), que apenas reconhece que “a assembleia é constituída pelos associados instituidores e titulares de títulos de participação com direito de voto”. Sem bancos à mistura.

Não foi a única decisão desfavorável aos bancos. O tribunal também mandou anular o número sete do artigo 11.º, que conferia aos títulos de participação dados como penhor os respetivos direitos de voto nas assembleias gerais. Dizia este número: “No caso de os títulos de participação serem onerados, designadamente através de penhor, é permitido ao respetivo titular conferir, durante o período de vigência do respetivo ónus, o direito de voto ao beneficiário do ónus, que poderá requerer o averbamento desse facto no livro existente na Associação”. Com a decisão do tribunal de anular esta disposição, os títulos penhorados e nas mãos dos bancos deixaram de representar direitos de voto.

Qual foi o argumento utilizado pelo tribunal para decidir anular estes estatutos? “No que tange à participação na Assembleia Geral da associação ora ré e ao exercício de voto, constata-se que o número SETE do artigo Décimo Primeiro e os números UM, e único, QUATRO alínea b) e SEIS do artigo Décimo Quarto dos Estatutos [alterados] estão feridos de nulidade por violarem disposições imperativas do apontado regime legal das associações“, justificou o juiz. Ou seja, os bancos fizeram alterações aos estatutos que em alguns casos vão contra a lei que rege as associações, considerou o tribunal.

Antes, na fundamentação que antecedeu a decisão, o tribunal deixava algumas considerações sobre o que diz o regime legal da associações. Relativamente à possibilidade de os credores pignoratícios exercerem o direito de voto, refere que “apenas os associados podem participar na assembleia geral, exercendo o direito de voto”.

“Acresce que o credor pignoratício é obrigado a não usar a coisa empenhada sem o conhecimento do auto de penhor, exceto se o uso for indispensável à conservação da coisa”, argumentou ainda o juiz.

No que tange à participação na Assembleia Geral da associação ora ré e ao exercício de voto, constata-se que o número SETE do artigo Décimo Primeiro e os números UM, e único, QUATRO alínea b) e SEIS do artigo Décimo Quarto dos Estatutos [alterados] estão feridos de nulidade por violarem disposições imperativas do apontado regime legal das associações.

Juízo Central Cível de Lisboa - Juiz 12

Foi já munido desta decisão do tribunal que, a 6 de maio de 2016, Joe Berardo convocou a assembleia geral da Associação Coleção Berardo para repor a “legalidade” dos estatutos.

Só mais tarde é que os bancos se aperceberam deste volte face. A 4 de outubro de 2016, ainda registaram no cartório os estatutos acordados em 2008. Porém, poucos dias depois, a 17 desse mês, foram repostos e declarados vigentes pelo cartório os estatutos à luz da decisão do tribunal.

Durante este processo, a Associação Coleção Berardo fez “aumentos de capital” que terão diluído a poder dos bancos. Embora os títulos de participação tenham sido recentemente executados pelas instituições financeiras, não se sabe exatamente qual o número de direitos de votos que passaram a deter diretamente, isto é, não se sabe se os bancos continuam ou não em maioria na assembleia geral. O que se sabe é que se os bancos quiserem vender estes títulos terão de ter luz verde da associação.

É no Museu Coleção Berardo onde estão expostos obras da associação.Wikimedia Commons

Associação pode dar lucro ao associado

A decisão judicial favoreceu Joe Berardo na medida em que este passou a controlar novamente a assembleia geral da Associação Coleção Berardo. Mas nem todas as reclamações do autor da ação contra a associação — cuja ligação ao comendador passa pelos advogados de ambos, que são primos — foram colhidas pelo tribunal.

Por exemplo, alegava Joaquim Vieira de Sousa que, com as alterações promovidas pelos bancos, a associação passou a ter um fim económico e os títulos a conferirem direito a proventos. Isto vai contra aquilo que estabelece o regime das associações. É “uma regra de ouro” e uma “ideia basilar”: “Uma associação pode praticar atos lucrativos, mas não visa a obtenção de lucro, nem a distribuição de proventos pelo associados”. E “é uma regra essencial sob pena de, sob uma máscara de associação, uma sociedade atuar encapotada no mercado, beneficiando de um regime que o legislador não previu nem quis este tipo de pessoa coletiva“, insistiu o autor na petição inicial com 27 páginas — o autor tinha como advogado Gonçalo Moreira Rato, primo do advogado de Joe Berardo, André Luiz Gomes.

Este argumento (como todos os outros) foi contestado pela defesa da Associação Coleção Berardo, que coube à sociedade de advogados Cuatrecasas e tinha o próprio André Luiz Gomes como mandatário.

O tribunal também rejeitou aquela tese. “Só existirá violação do princípio de especialidade se a autor se dedicasse com caráter habitual à prática de atos tendentes à obtenção do lucro, visando o benefício económico dos associados”, defendeu o juiz. Deste modo, ao contrário do que pedia o autor, manteve-se o número quatro do artigo 11.º, que abre a porta a que haja distribuição de proventos aos titulares dos títulos: “A titularidade de títulos de participação não confere direito a quaisquer proventos, salva deliberação da assembleia geral em sentido diferente”.

Eram várias as anulações que o autor da ação contra a associação pedia: mais de uma dezena de disposições nos estatutos. O tribunal só deu razão ao autor e mandou anular quatro disposições dos estatutos. No final, decidiu-se pela absolvição da ré Associação Coleção Berardo na parte restante e condenou o autor e a ré no pagamento das custas do processo, pouco mais de 600 euros, na proporção de 30% para o primeiro e 70% para a segunda.

Berardo foi além do que tribunal mandou

À boleia da decisão judicial, que deu parcial razão ao autor da ação, o comendador foi além do que o tribunal mandou anular e alterar nos estatutos. E aqui poderá ter entrado em contradição com o que afirmou no Parlamento no passado dia 10 de maio.

Por partes. Quando, em maio de 2016, Berardo repõe a “legalidade” dos estatutos com base na decisão do tribunal, também modificou a redação do número cinco e seis do artigo 11.º sobre os “Títulos de Participação”. Mas sobre este ponto o juiz nada mandou fazer, embora Augusto Joaquim Vieira de Sousa tenha pedido a nulidade também do número cinco em concreto.

Com a alteração (não pedida pelo tribunal), o empresário madeirense assegurou que os bancos só podem vender dos títulos de participação com o consentimento da assembleia geral — na anterior redação deste número, a transmissão dos títulos era “livre, não dependendo de qualquer dos órgãos sociais”. Assegurou ainda que “os associados instituidores não perdem a respetiva qualidade por transmissão da totalidade dos seus títulos de participação se assim for decidido pelo presidente da associação aquando do conhecimento da transmissão“. A associação tem Berardo como presidente vitalício.

Quando foi ao Parlamento no âmbito da comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da CGD e aos atos de gestão do banco, Joe Berardo explicou que alterou esta regra para se defender dos “fundos abutres”, mas que o fez também por determinação do tribunal. Contradição ou lapso de memória?

Vale a pena recordar a interação do comendador com a deputada do CDS:

Cecília Meireles: “Nesta alteração que fez aos Estatutos, uma das coisas que modificou foi a possibilidade de transmissão dos títulos de participação e da posição de associado. Pode explicar-me porquê?”
Joe Berardo: “Porque estávamos com medo da situação que estava a acontecer nos bancos que vendiam tudo aos fundos…”
Cecília Meireles: Os fundos cobram com mais agilidade do que os bancos. Se calhar é isso, não?
Joe Berardo: Talvez, talvez.
(…)
Joe Berardo:O que estou a dizer é que o tribunal mandou fazer certa coisa, não tenho o direito…
Cecília Meireles:É o tribunal que tem medo dos fundos?
Joe Berardo:Sei lá, eu não sei! Não estou a dizer que seja o tribunal, estou a dizer que nós nos protegemos.
Cecília Meireles:Eu gostava de saber que ação foi essa e precisamente que tribunal foi esse e que data tem.”
Joe Berardo:Não a temos aqui mas podemos mandar amanhã“.

O empresário madeirense e a Associação Coleção Berardo nunca chegaram a enviar aos deputados informação sobre a decisão do tribunal (que agora é revelada pelo ECO) e sobre a “golpada”, o que levou a comissão de inquérito à Caixa a fazer queixa ao Ministério Público, invocando o crime de desobediência.

A sentença do Tribunal da Comarca de Lisboa, que é hoje divulgada pelo ECO, esteve indisponível nas últimas semanas porque foi requisitada pela PGR que está a investigar os contornos da “golpada” de Joe Berardo.

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Banca dá descontos à família para atrair mais clientes. “Borlas” vão das contas aos seguros, até ao crédito da casa

A oferta de descontos a famílias é uma nova estratégia dos bancos para atrair clientes. O crédito à habitação é onde há mais ofertas de descontos, mas as "borlas" vão das contas até aos seguros.

A fidelização de clientes e as comissões tornaram-se elementos chave para os bancos maximizarem receitas e rentabilizarem a sua atividade. Em prol desses objetivos têm-se socorrido de diferentes estratégias. A oferta de descontos a familiares de clientes é uma das mais recentes apostas. A Caixa Geral de Depósitos, o BCP, o Santander, o BPI e o Banco Montepio estão a seguir nesse caminho. O enfoque? O crédito à habitação, mas não só.

Há três bancos a promoverem descontos no crédito à habitação perante a existência de relações familiares. Neste âmbito, a aposta incide na oferta de descontos no spread, com estes a irem de um mínimo de 0,125 pontos percentuais ao máximo de 0,25 pontos, consoante a instituição financeira.

A CGD, que se socorre da frase “Quem tem crédito habitação Caixa tem mais vantagens. E a família também”, para promover o seu produto é a instituição mais generosa. “O valor da redução de spread, comercialmente atribuído, se o cliente reunir condições elegíveis do ponto de vista da aceitação do crédito e confirmar a relação familiar, é de 0,25%“, adiantou ao ECO fonte oficial da CGD. Para ter acesso a esse desconto de spread, o cliente que pretenda recorrer a um financiamento para comprar casa nova tem de fazer prova de ser familiar direto (pai e filhos) de alguém que já disponha de um crédito à habitação Caixa.

Estratégia semelhante está a ser levada a cabo pelo Banco Montepio que no âmbito da comemoração do seu 175 anos lançou uma campanha promocional em que nos contratos de crédito à habitação celebrados até 30 de setembro a fasquia do spread pode baixar até ao mínimo de 1,175%. Mas para chegar a esse valor, é indispensável que o cliente a contratar o empréstimo seja filho de clientes atuais ou novos clientes do Montepio que tenham uma relação ativa com a instituição. Encaixando nesse perfil, há direito a um desconto de 0,125 pontos percentuais no spread a contratar.

Também o BCP se dispõe a “premiar” quem procure financiamento para a compra de casa e tenha ligações familiares com clientes do banco. Encaixando nesse cenário, a instituição financeira liderada por Miguel Maya dispõe-se a abater 0,2 pontos percentuais ao spread a contratar.

O crédito à habitação sobressai no conjunto de vantagens oferecidas às famílias, algo que não será de estranhar sobretudo tendo em conta a disputa com vista à captação de clientes para esse segmento de atividade que se tornou tão relevante para os bancos sobretudo num contexto de juros em mínimos históricos. A descida dos spreads é a ferramenta mais utilizada neste âmbito, a que há cerca de ano e meio também se juntou a estratégia de promoção de uma contratação rápida para o cliente.

Há mais para além de descontos no crédito

A aposta na família não se resume apenas ao crédito à habitação. Também chega a outros produtos financeiros, como as “contas pacote” e os seguros.

O BCP também promove a sua oferta nesse campo. Os clientes do banco que adiram às soluções “cliente Frequente” ou “Mais Portugal” (conta para residentes no estrangeiro) e caso também haja uma conta filha a aderir a uma solução “GO!” (conta destinada aos clientes mais jovens) beneficiam de uma redução na comissão de gestão mensal, passando a pagar 1 euro nos três primeiros meses. O custo mensal base habitual daquelas duas primeiras contas é de 8 euros, valor que baixa para 6 ou 4,5 euros, com a domiciliação de ordenado e consoante for o seu montante respetivo.

Na sua campanha “Vantagem Família”, o banco liderado por Miguel Maya isenta ainda a 12.ª mensalidade no seguro automóvel Móbis, no seguro de saúde Médis ou no seguro multirriscos Homin, ao primeiro titular tanto da “conta pacote” como da “conta filha” associada. Aproveita ainda para promover alguns produtos de poupanças ou a sua oferta de crédito pessoal.

Também o BPI acena às famílias na promoção dos seus produtos. A “Conta Valor”, a “conta pacote” do banco para graúdos e miúdos, e o crédito fazem parte dessa aposta, mas os seguros destacam-se na montra online do banco.

As contratações de seguros que sejam realizadas junto do banco entre 15 de julho e 31 de outubro valem no máximo 450 euros em cartão pré-pago. Ou seja, na contratação do seguros Allianz Auto, Casa e saúde. Cada seguro contratado dá direito a 50 euros de carregamento nesse cartão pré-pago.

Já o Santander Totta oferece 50 euros a quem convide um familiar para ser cliente do banco. Para tal, será necessário que esse familiar abra uma conta Mundo 123 e peça um cartão de débito ou crédito do Santander. A campanha é válida até 15 de outubro.

(Notícia atualizada com campanha do Santander)

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Prova dos 9: Há técnicos do BCE nas reuniões dos bancos portugueses, como diz Marques Mendes?

Marques Mendes diz que hoje em dia a supervisão é tão intrusiva ao ponto de os técnicos do BCE assistirem às reuniões da administração dos bancos. É mesmo assim?

Foi Marques Mendes quem lançou o repto na antena da SIC este domingo. “A supervisão do Banco Central Europeu (BCE) é que é in loco. [Os técnicos] estão lá dentro, podem ir mesmo às reuniões das decisões, até do conselho de crédito. Isto é tão importante porque dá garantias às pessoas. Os órgãos especializados em economia deviam fazer reportagens para mostrar às pessoas como é que é a nova supervisão nestes bancos do BCE para não sermos fatores apenas de maledicência, ou fator de crítica, mas também fator de mostrar o lado positivo, construtivo e de mudança”, disse o comentador.

Marques Mendes falava no seu espaço de comentário semanal na estação de Paço de Arcos e tentava explicar como dificilmente os problemas que se verificaram na Caixa Geral de Depósitos (CGD) nos últimos poderiam repetir hoje em dia. “Poder pode, mas já não é tão provável. É bastante mais difícil”, começou por dizer.

De seguida completou o seu raciocínio: “Vou dizer uma coisa que o grande público talvez não saiba: no futuro não vai ser possível repetir, pelo menos, com tanta probabilidade, situações de promiscuidade, situações de créditos mal concedidos, falta de garantias. Mas porquê: é a sua fé? Não. É por uma razão muito simples, factual: é que mudou a supervisão. Até agora a supervisão era do Banco de Portugal. A partir de agora, Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco, BCP, BPI e Santander, a supervisão dos grandes bancos é do BCE”.

A afirmação

“Até agora a supervisão era do Banco de Portugal. A partir de agora, na Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco, BCP, BPI e Santander, a supervisão dos grandes bancos é do Banco Central Europeu. Não é apenas uma mudança de identidade. É que dantes a supervisão do Banco de Portugal era à distância, muito formal, muito burocrática. Agora, e este é um dado que pouca gente sabe, os colaboradores do BCE estão dentro de cada um dos bancos. Ou seja, é uma supervisão intrusiva, quase que acompanha em tempo real.”

“Veja bem que os colaboradores do BCE que estão dentro dos bancos, na Caixa, no BCP como no Novo Banco, podem ir às reuniões do conselho de administração, podem ir às reuniões da comissão executiva, podem ir às reuniões do conselho de crédito ou de qualquer comissão especializada. Ou seja, acompanham, auditam, fiscalizam quase em tempo real. Isto é uma garantia para as pessoas.”

BCE, liderado por Mario Draghi, é responsável pela supervisão dos grandes bancos da Zona Euro.Flickr BCE

Os factos

A supervisão mudou mesmo nos últimos anos. Sobretudo depois a entrada em vigor do Mecanismo Único de Supervisão (MUS), em novembro de 2014. Este mecanismo é da responsabilidade do BCE. Nem todos os bancos estão na esfera da supervisão do MUS. Faz-se uma distinção entre instituições de crédito significativas (sob a supervisão direta do BCE) e as menos significativas (sob supervisão direta das autoridades de supervisão nacionais).

O que é uma entidade supervisionada significativa? São os grandes bancos, como diz Marques Mendes. Por exemplo, o BCE supervisiona diretamente a Caixa, BCP e Novo Banco (neste caso, a Nani Investments, veículo do Lone Star que controla 75% do banco português). Já o BPI é supervisionado pela autoridade europeia por via do CaixaBank, assim como o Santander Totta o é através do grupo Santander (ambos detidos a 100% pelos espanhóis). O BCE supervisiona diretamente 114 grandes bancos europeus.

Exemplos de bancos portugueses menos significativos e que estão sob a alçada do Banco de Portugal (em cooperação com o BCE): o Montepio ou Crédito Agrícola.

É dentro dos grandes bancos (como a Caixa) onde trabalham as chamadas equipas conjuntas de supervisão. Cada banco significativo é supervisionado por uma destas equipas que reúne técnicos do BCE e das autoridades de supervisão nacionais. O tamanho, a composição geral e a organização de uma equipa conjunta de supervisão varia consoante o tamanho, o modelo de negócios e o perfil de risco do banco que supervisiona. Ou seja, quanto maior o banco e mais arriscado for o seu negócio, maior será a equipa conjunta de supervisão.

Qual a missão destas equipas? Em termos gerais, fazem uma supervisão contínua do grande banco, servindo de ponte de ligação entre os supervisionados e autoridade supervisora. De acordo com o MUS, são quatro as principais tarefas:

  • Realizar o processo de revisão e avaliação de supervisão (SREP);
  • Propor o programa de exame de supervisão, incluindo um plano de inspeções no local;
  • Implementar o programa aprovado de supervisão e quaisquer decisões de supervisão;
  • Assegurar a coordenação com as equipas de inspeção in loco e manter contacto com os supervisores nacionais.

Além das atividades previstas no plano, há outras atividades que não podem ser planeadas antecipadamente, como a avaliação da adequação e idoneidade dos gestores, a gestão de situações de crise ou sempre que um banco compra outra instituição ou há um aumento inesperado do risco.

Cada equipa conjunta de supervisão tem um chefe, que é um coordenador do BCE. Também há um ou dois subcoordenadores das autoridades nacionais competentes (Banco de Portugal) que ajudam o coordenador a supervisionar o banco numa base diária. Os coordenadores são nomeados por um período de três a cinco anos. Os elementos das equipas conjuntas de supervisão têm várias nacionalidades e devem “rodar” regularmente, mas não todos ao mesmo tempo.

Ter estas equipas de supervisão custa dinheiro aos bancos e não ao BCE. Cada banco paga todos os anos uma taxa ao banco central que pode ascender a alguns milhões de euros. Este fee tem duas componentes: uma fixa e igual para todas as instituições significativas e outra variável em função do tamanho do banco supervisionado, medido em termos de ativo e exposição ao risco.

Prova dos 9

Marques Mendes deixou o desafio e o ECO foi à procura de respostas. O comentador falou de um elevado grau de intrusão do supervisor europeu dentro dos maiores bancos nacionais que o “grande público” desconhece. E que isso dá garantias às pessoas de que créditos ruinosos e operações mais duvidosas são hoje em dia mais difíceis de acontecer. Mas há mesmo técnicos do BCE a assistir às reuniões dos conselhos de administração onde se tomam as decisões mais importantes sobre a vida dos bancos? E também estão presente nas reuniões dos conselhos alargados de crédito, que se tornaram famosas na comissão de inquérito à CGD e onde se decidem as grandes operações de financiamento?

Há uma equipa do BCE dedicada ao acompanhamento permanente do Millennium bcp, como em todos os casos de bancos diretamente supervisionados pelo BCE, a qual têm interações de elevada frequência com as Equipas do Banco e com os órgãos de gestão e fiscalização”, confirmou o banco liderado por Miguel Maya ao ECO.

Em fevereiro, Paulo Macedo, presidente da CGD, foi ao Parlamento explicar que muito mudou no banco público também por causa da “regulação sem precedentes e uma supervisão sobre tudo o que se passa na Caixa”. “A CGD foi inspecionada em 2015, 2016, 2017 e 2018 sobre a concessão de crédito, outra sobre os colaterais e outra sobre as concessões às PME. Tudo isto são inspeções que são feitas umas por elementos da Joint Supervisory Team [equipa conjunta de supervisão], outras por um conjunto de auditores contratados fora dos elementos do BCE e do Banco de Portugal”.

Na mesma ocasião, Paulo Macedo deu aos deputados uma visão mais detalhada da forma como trabalham estas equipas conjuntas: “As equipas de supervisão são hoje cerca de 12, 13 pessoas que estão permanentes na Caixa. (…) Ter uma equipa dentro da Caixa, as pessoas estão lá. São equipas mistas entre o Banco de Portugal e o BCE que não têm a ver com outras equipas especializadas do BCE. (…) Os meios que hoje existem do BCE — que somos nós que pagamos e depois posso dizer-vos quanto é que custa a supervisão, são uns milhões de euros que nós pagamos ao BCE por anoo nível de atuação e o timing dessa atuação é totalmente distinto do que era há uns anos. Faz toda a diferença. Depois, o tipo de supervisão de detalhes. Não há supervisão no sentido de dizer ‘a vossa governance está má, ou o vosso sistema de controlo interno tem de melhorar’. Não. Há relatórios com 15 ou 16 recomendações que se desdobram em subalíneas e que depois é feito um follow up e que só aceita que a recomendação foi ultrapassada quando a auditoria interna, a tal terceira linha de defesa do banco reconhece ou quando eles reconhecem. O controlo do tipo de recomendações não tem nada a ver com o que era a supervisão na banca”.

De facto, estas equipas conjuntas de supervisão fazem parte do dia-a-dia das instituições. Os técnicos acompanham muito de perto tudo o que se passa dentro dos bancos, isto é, vão a todo o lado e têm acesso a toda a informação importante dos bancos. Se vão às reuniões onde se sentam os CEO dos bancos ou onde se decidem os grandes créditos? Sim, também é esse o papel destas equipas, como confirmou ao ECO o BCE.

O Mecanismo Único de Supervisão pode participar em reuniões como as dos conselhos de administração dos bancos supervisionados. Isto faz sentido e é coerente com a necessidade de analisar vários elementos dos bancos supervisionados, seja o seu capital, liquidez ou governance. O mesmo se aplica aos documentos dos bancos supervisionados”, disse fonte da autoridade europeia ao ECO. E o que disse Marques Mendes está correto.

(Notícia atualizada no dia 25 de julho com declaração de fonte do BCE no último parágrafo)

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Sonangol de saída do BCP? Petrolífera angolana nega que esteja a vender posição

Petrolífera angolana está prestes a finalizar o plano de desinvestimento no setor financeiro: vai alienar participações em vários bancos angolanos e no BCP. Informação foi desmentida pela Sonangol.

A Sonangol está de saída do BCP BCP 0,66% ? Os jornais em Angola avançaram com a informação de que a petrolífera estatal está prestes a fechar o plano de desinvestimento no setor financeiro, estratégia através da qual vai alienar participações em vários bancos angolanos e também no banco português. Mas fonte oficial da companhia angolana negou ao ECO que esteja em curso qualquer venda da posição no BCP.

“A Sonangol não emitiu recentemente qualquer opinião sobre o tema. A empresa remete para a última vez em que foi questionada sobre o tema e se pronunciou. Qualquer outra interpretação é da responsabilidade exclusiva de quem a faça”, disse fonte da Sonangol ao ECO.

Em dezembro do ano passado, o então presidente da petrolífera Carlos Saturnino disse publicamente que “a participação da Sonangol no Millennium BCP é um investimento estratégico“.

Do lado do BCP, Miguel Maya afirmou que “o plano de desinvestimentos da Sonangol no setor financeiro não é novidade”. “O BCP tem contacto permanente com os representantes do acionista Sonangol e pode confirmar que não há qualquer alteração à posição que oportunamente foi dada a conhecer por fontes oficiais ao mercado”, acrescentou o CEO do banco

A informação inicial foi avançada pelo jornal Expansão, citando fontes da petrolífera estatal angolana. Adiantou que se trata de uma operação complexa uma vez que a estratégia delineada pela Sonangol em relação ao desinvestimento no setor financeiro em Angola e em Portugal será feito por via de parcerias com investidores privados e executada à margem do Programa de Privatizações lançado pelo presidente angolano, João Lourenço.

Não é a primeira vez que o tema da saída da Sonangol do BCP é referenciado nos jornais, embora a informação de que a petrolífera estaria a planear vender a sua posição no banco português tenha sido sempre rejeitada pelo próprio João Lourenço e também pelo BCP.

“Posso dizer que há uma empresa portuguesa que me procurou ontem [sexta-feira], muito preocupada, para saber se a Sonangol ia sair ou não. Em princípio, nós sossegamos essa empresa, para dormir descansada“, assegurou o presidente angolano, no encerramento da visita oficial de três dias a Portugal que decorreu entre 22 e 24 de novembro. Meses mais tarde, em março, João Lourenço reforçou a ideia em entrevista à RTP: “Em relação ao BCP, reitero o que disse na minha visita a Portugal, que é que, em princípio, vamos manter-nos“.

Em maio passado, o presidente da comissão executiva do BCP, Miguel Maya, também afirmou que não esperava mudanças na posição da Sonangol, isto depois do afastamento de Carlos Saturnino da liderança da companhia petrolífera. João Lourenço nomeou para o cargo Sebastião Gaspar Martins.

Estrutura acionista do BCP

Fonte: BCP

A Sonangol encontra-se em reestruturação com vista à concentração da sua atividade no petróleo e gás. E daí que esteja a pensar em alienar posições em áreas não core. A petrolífera tem ações nos bancos angolanos BAI (8,5%), BFA (13% de participação indireta por via da Unitel); Caixa Angola (25%), Banco Económico (31,5%) e no BCP (19,5%). No banco português, a preços atuais de mercado, a posição está avaliada em 831 milhões de euros.

A Sonangol é o segundo maior acionista do BCP, atrás dos chineses da Fosun (27,25%). Atrás dos angolanos seguem a BlackRock e o grupo EDP, com 3,39% e 2,09%, respetivamente. A petrolífera estatal de Angola no capital do banco português em 2008, já depois do verão quente entre os acionistas e que levaram Carlos Santos Ferreira a mudar da Caixa Geral de Depósitos para o BCP.

Este ano, a Sonangol recebeu 5,9 milhões de euros em dividendos do BCP. Foi a primeira remuneração aos acionistas por parte do banco após quase uma década.

O BCP apresenta contas do semestre no próximo dia 29 de julho. Os analistas do BPI/CaixaBank antecipam uma subida de 12% dos lucros para 169 milhões de euros.

(Notícia atualizada às 16h11 com fonte oficial da Sonangol a desmentir informação)

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Juros do BCE podem custar 5,6 mil milhões à banca europeia

Deustche Bank e Monte dei Paschi serão os bancos mais penalizados com quebras de 42% e 37% nos lucros. O BCP não se aproxima destes níveis, mas pode perder 8% dos resultados com taxas mais baixos.

Os lucros da banca deverão sofrer um novo golpe, caso o Banco Central Europeu (BCE) corte ainda mais o juro dos depósitos. O Goldman Sachs antecipa que esse passo seja dado em setembro, retirando, em média, 6% aos lucros de 32 bancos na Zona Euro. O BCP não só é incluído neste grupo como o impacto deverá ser superior ao da média.

“A perspetiva de um corte nas taxas de juro para terreno ainda mais negativo representa uma grande adversidade para os bancos da Zona Euro”, alerta o Goldman Sachs numa nota de research enviada esta quinta-feira. O banco de investimento norte-americano antecipa um corte de 20 pontos base na taxa de juro de depósitos, face aos atuais -0,40%. Ou seja, poderá passar para -0,60%.

Assim, se os bancos já têm de pagar pelo dinheiro que têm depositado junto do BCE, poderão passar a pagar ainda mais. O objetivo é estimular a liquidez na economia, mas os juros têm penalizado fortemente as contas dos bancos e o problema não parece próximo do fim.

Caso a taxa de juro de depósito caia para o novo mínimo histórico de -0,60%, “o impacto para os bancos que cobrimos situar-se-ia em 5,6 mil milhões de euros“, alerta o Goldman Sachs, que estima uma perda de 3% na margem líquida de juros, 6% nos lucros e 0,6 pontos percentuais no rácio de capital próprio.

O alemão Deustche Bank (42%) e o italiano Monte dei Paschi di Siena (37%) são os bancos mais penalizados nos lucros, enquanto o BCP não se aproxima destes níveis, mas fica ainda assim acima da média.

Preços-alvo cortados em 6%

Um corte de 20 pontos base na taxa de depósito poderia limpar 8% dos lucros do banco liderado por Miguel Maya. Face à expectativa média, dos analistas que seguem a ação, de um lucro de 448,3 milhões de euros no final de dezembro, poderia significar uma quebra de 35,8 milhões.

Por um lado, se o BCE decidir aplicar um sistema por níveis (para minimizar o impacto para os bancos), então a redução pode ser de apenas 7%. No caso de o juro afundar até -1,4%, então o lucro do BCP poderá reduzir-se em 39%.

Caso o corte na taxa seja de 100 pontos base (para -1,4%), quatro dos 32 bancos europeus que cobrimos iriam registar perdas, outros quatro iriam atingir o break-even e apenas um quarto do setor estaria em posição de cobrir o seu custo de capital (com rácios de capital próprios acima de 10%)”, explica o Goldman Sachs.

Acrescentou que os bancos cuja rentabilidade está mais em risco agregam dois elementos: um número elevado de clientes de retalho e baixos níveis de rentabilidade.

Face a este risco, o Goldman Sachs reviu em baixa o preço-alvo das ações de quase três dezenas de bancos na Zona Euro, em média em 6%. No caso do BCP, o preço-alvo atual situa-se em 0,30 euros (face ao anterior 0,31 euros), o que representa, ainda assim, um potencial de valorização de 6% em relação à cotação de fecho da última sessão (0,28 euros) na bolsa de Lisboa.

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