Escolas de gestão. Os rankings são muito mais do que números
A Pessoas falou com os responsáveis das escolas de gestão contempladas no ranking das melhores escolas europeias do Financial Times. Fez-se o balanço do ano que passou e previsões para 2020.
A 9 de dezembro, o Financial Times anunciou os resultados de mais um ranking das 95 melhores escolas de gestão da Europa. Como acontece desde 2007, ano em que se anunciava a estreia de uma escola portuguesa no ranking da revista norte-americana, este ano não foi diferente, com quatro portuguesas entre as melhores da Europa: Nova School of Business and Economics (Nova SBE), Católica Lisbon & Business School, ISCTE Business School e a Porto Business School.
O ranking do Financial Times agrega o conjunto dos resultados das pontuações de outros rankings parcelares que são publicados ao longo do ano, tendo em conta quatro critérios: MBA globais, MBA executivos, formação executiva, mestrados em gestão e o corpo docente da escola. A Pessoas conversou com cada um dos responsáveis das escolas de gestão que integraram o ranking do Financial Times em 2019, para fazer uma retrospetiva do ano que passou e saber dos planos para o futuro. No final, entendemos que os rankings são muito mais do que números.
A Nova SBE, em Carcavelos, é a primeira no grupo das escolas portuguesas classificadas no ranking, em 30.ºlugar, uma posição que mantém desde 2018. “A internacionalização tem sido sempre uma prioridade da escola, quase desde a sua génese, e uma das razões pelas quais nós temos tido algum sucesso neste programa é porque desde o princípio quisemos ser internacionais”, conta à Pessoas o dean da Nova SBE, Daniel Traça.
A escola de gestão de Palma de Cima, em Lisboa, já tem um lugar no ranking do Financial Times desde 2007. É a segunda no grupo das portuguesas e foi a 32.ª a nível europeu. “Tivemos uma vantagem: fomos pioneiros e visionários em entrar nas acreditações internacionais, submeter aos rankings o que era necessário em termos de otimização de processos para estar bem posicionados nos rankings e, como tal, tivemos alguns anos de vantagem em relação a outras escolas”, responde Filipe Santos, dean da Católica Lisbon School & Economics.
O pódio português fica completo com a ISCTE Business School, classificada na 66.ª posição. “O ambiente mais aberto, colaborativo e informal, traduzido num contacto próximo entre professores e alunos e de grande facilidade de acesso destes ao corpo docente, que pratica em geral uma política de porta aberta para os seus estudantes. Em segundo lugar, a significativa participação dos estudantes no dia-a-dia da instituição”, afirma Henrique Monteiro, associate dean da ISCTE Business School.
"Os rankings devem ser um sinal de qualidade do que a escola faz, mas não a demonstração da qualidade”
A Porto Business School, no ranking desde 2011, ficou imediatamente a seguir na lista, em 67.º lugar, completando o grupo das escolas portuguesas no ranking. “Fomos estabelecidos por empresas, para empresas. A maior vantagem é que nos conectamos com a realidade das empresas de uma forma muito interativa, porque temos empresários a partilhar as suas experiências na sala de aula e organizamos muito eventos”, exemplifica Ramon O’Callaghan, dean da Porto Business School.
Particularidades dos rankings
Alguns critérios do ranking do FT vão variando ao longo do tempo, como é o caso dos MBA, que só têm resultados a três anos. Por exemplo, a Porto Business School não teve classificação no critério “Mestrados” por não ter mestrados em gestão, perdendo assim alguma posição no grupo das melhores escolas de gestão da Europa.
“Para nós é frustrante, porque temos sido sempre comparados a todas as outras escolas, mas quando olhamos para a realidade de como os rankings estão compostos, infelizmente estamos em desvantagem devido ao nosso estatuto especial comparando com as outras escolas”, revela o dean da Porto Business School.
ISCTE Business School“Há uma variabilidade que não deve ser lida de forma muito rígida. Quando há uma variação de três, quatro, cinco lugares, faz parte do processo natural. Os rankings devem ser um sinal de qualidade do que a escola faz, mas não a demonstração da qualidade“, sublinha Filipe Santos, dean da Católica Lisbon School.
"Nós fomos os primeiros a lançar as acreditações, a lançar os rankings, as outras escolas sentiram-se desafiadas e seguiram. A Nova conseguiu tomar a dianteira e lançar o novo campus, desafiou as escolas também a melhorarem as suas condições e ambição. Este despique saudável entre organizações que competem e colaboram entre si, que criam um mercado para todos, é bom.”
“Este ano já começámos a sentir melhores resultados, porque esta experiência de vir para Carcavelos mudou muito. Sentimos que os alunos que aqui estão, estão satisfeitos”, frisa o dean da Nova SBE.
Filipe Santos, da Católica, acredita que sem concorrentes não há desafios. “Nós fomos os primeiros a lançar as acreditações, a lançar os rankings. As outras escolas sentiram-se desafiadas e seguiram. A Nova SBE conseguiu tomar a dianteira e lançar o novo campus, desafiou as escolas também a melhorarem as suas condições e ambição. Este despique saudável entre organizações que competem e colaboram entre si, que criam um mercado para todos, é bom”, remata.
Filipe Santos, da Católica, acredita que sem concorrentes não há desafios. “Nós fomos os primeiros a lançar as acreditações, a lançar os rankings. As outras escolas sentiram-se desafiadas e seguiram. A Nova SBE conseguiu tomar a dianteira e lançar o novo campus, desafiou as escolas também a melhorarem as suas condições e ambição. Este despique saudável entre organizações que competem e colaboram entre si, que criam um mercado para todos, é bom“, remata.
A receita de sucesso das melhores escolas de gestão portuguesas
Para Daniel Traça, a internacionalização, a empregabilidade internacional, a infraestrutura e a satisfação dos alunos foram — e são –, os principais impulsionadores para colocar a Nova SBE no 30.º lugar do ranking. Sobre o ano que passou, Daniel Traça destaca a Iniciativa para a Equidade Social, um projeto da Nova SBE em parceria com a fundação espanhola La Caixa, para desenvolver programas de investigação e capacitação para apoiar organizações sociais, impulsionando o setor social nacional. “É muito importante que estes líderes que nós queremos criar conheçam o país real, a realidade de todas as pessoas fora daquilo que é o seu dia-a-dia”, sublinha.
No ISCTE, o lançamento dos programas de ciência de dados em parceria com a Escola de Tecnologias e Arquitetura foi o que marcou 2019. Além disso, a escola acolheu a assembleia geral do Global Responsible Leadership Initiative e a maior feira de emprego das escolas de economia e gestão nacionais, com oportunidades de emprego para pessoas com deficiência, destaca Henrique Monteiro. “Tivemos o orgulho de ser a instituição com maior índice de procura no concurso nacional de acesso ao ensino superior”, sublinha.
A escola de gestão do norte do país tem apostado na formação, através do Centro de Inovação (Centre for Business Inovation), em áreas de conhecimento como a transformação digital, para empresas e para negócios, empreendedorismo, negócios, aceleradores de negócios, inovação corporativa e sustentabilidade. Filipe Santos, da Católica Lisbon School, destaca o Católica Careers Office, o centro que apoia os alunos que querem ter carreiras internacionais e ainda o Centro de Empreendedorismo, que funciona em parceria com a Startup Lisboa.
Internacionalização
Para as quatro escolas de gestão que figuraram no ranking, a forte internacionalização foi um dos fatores que mais influenciou a classificação. A Católica Lisbon School tem 43% de professores internacionais, sendo 21 professores em full time, sendo considerada a “escola mais internacional do país”, com 40% de professores estrangeiros, a que se juntam cerca de 54% de alunos estrangeiros nos mestrados.
A Nova SBE tem seguido os passos pioneiros da Católica e tem feito uma forte aposta em trazer o mundo para dentro da escola. “Não somos uma escola internacional por causa do sucesso dos rankings, mas temos sucesso nos rankings porque somos internacionais“, frisa Daniel Traça.
"Queremos criar um conjunto de centros de excelência em áreas estratégicas para Portugal e para as empresas que, no fundo, nos ajude a passar o conhecimento para a sociedade.”
“A partir do momento em que estamos a atrair alunos internacionais para virem para Portugal, empresas internacionais para fazerem programas em Lisboa, estamos a competir por um mercado global e quanto mais competimos bem uns com os outros mais elevamos todos”, frisa Filipe Santos, dean da Católica Lisbon School.
“No processo de internacionalização da escola há ainda caminho para fazer. No recrutamento de docentes e alunos internacionais e no estabelecimento de parcerias com outras universidades podemos melhorar”, acrescenta Henrique Monteiro sobre o ISCTE Business School.
Planos para 2020: novos espaços e novos cursos
Na Nova SBE, o objetivo é fazer do campus uma “ágora de reflexão”, sublinha Daniel Traça. “Queremos que as pessoas venham visitar-nos pelo que se passa e pelo que podem aprender”, explica. Em 2020, a escola de Carcavelos vai reforçar a aposta na tecnologia, em particular na área de data com uma componente de gestão, e vai lançar um novo mestrado em business analytics e uma pós-graduação em inovação e empreendedorismo. Será ainda lançado o programa Adam’s Choice e o objetivo é chegar aos 4100 alunos em 2023.
Na Nova SBE, o objetivo é fazer do campus uma “ágora de reflexão”, sublinha Daniel Traça. “Queremos que as pessoas venham visitar-nos pelo que se passa e pelo que podem aprender”, explica. Em 2020, a escola de Carcavelos vai reforçar a aposta na tecnologia, em particular na área de data com uma componente de gestão, e vai lançar um novo mestrado em business analytics e uma pós-graduação em inovação e empreendedorismo. Será ainda lançado o programa Adam’s Choice e o objetivo é chegar aos 4100 alunos em 2023.
“Percebemos que estas novas competências não têm só a ver com conhecimento, têm a ver com a capacidade de colaborar, de decidir, de tomar riscos, de gerir ambientes de conflito e organizações multiculturais, e isso é difícil de fazer numa sala de aula”, sublinha Daniel Traça. “Temos que arranjar formas de nos tornarmos mais ágeis e de sermos capazes, no fundo, de entregar este sonho, que foi o sonho que prometemos à sociedade portuguesa”, conclui Daniel Traça.
"Todos os programas novos, e mesmo os que já existiam, estão a ser revistos por uma equipa que é composta por professores da universidades e pessoas que estão nas empresas, e isto permite-nos um alinhamento maior.”
No futuro, a Católica Lisbon School quer triplicar a dimensão. Em novembro de 2019, a Católica anunciou a construção de um novo campus – Campus Veritati –, do arquiteto João Luís Carrilho da Graça, e que deverá estar pronto para inaugurar em 2023. “Claramente precisamos de dar um salto, não só em termos de dimensão física do nossas instalações, como em termos da modernidade das instalações para o ensino mais interativo, mais digital, que vai ser o paradigma para o futuro”, acredita Filipe Santos. “Queremos criar um conjunto de centros de excelência em áreas estratégicas para Portugal e para as empresas que, no fundo, nos ajude a passar o conhecimento para a sociedade”, acrescenta.
No futuro, a escola de gestão do ISCTE quer reforçar a aposta na integração de políticas sustentáveis, na internacionalização e criar um centro na área digital. Para já, está confirmado um novo mestrado na área de ciência de dados.
A norte, a Porto Business School quer apostar na condensação dos programas curriculares e ir ao encontro do estilo de vida dos alunos que os procuram. No novo ano será lançado um MBA em business innovation e o programa Analytics for Better Marketing Decisions. “Todos os programas novos, e mesmo os que já existiam, estão a ser revistos por uma equipa que é composta por professores da universidades e pessoas que estão nas empresas, e isto permite-nos um alinhamento maior”, responde Ramon O’Callaghan.
Para que continue este panorama, é importante que haja um esforço por parte das escolas de gestão, lembra Henrique Monteiro, do ISCTE. “Embora a obtenção de colocações profissionais internacionais seja algo que é promovido pelas próprias escolas de economia e gestão nacionais, é sempre melhor que essa experiência surja a um jovem por vontade própria e com desejo de regressar do que seja forçada por falta de oportunidades no nosso país”, comenta. “Temos de rever, a nível dos indivíduos, das organizações e da sociedade, todos os nossos paradigmas, e ajustá-los a esta nova realidade. E acho que as universidades devem assumir essa liderança”, remata Daniel Traça, da Nova SBE.
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